Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 8 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 Abordagem Endodôntica em dentes traumatizados com rizogênese incompleta : REVASCULARIZAÇÃO PULPAR Termos como ápice imaturo, ápice aberto, ápice incompleto, ápice em bacamarte e dentes jovens são termos utilizados para se referir a dentes com rizogênese incompleta. Todos são sinônimos. Os dentes com ápice aberto são mais encontrados em crianças e adolescentes. Quando presente em um adulto, é provável que a polpa esteja necrosada com lesão periapical, pois toda vez que acontece a necrose durante o desenvolvimento do dente, o processo de rizogênese é interrompido. APICIGÊNESE x APICIFICAÇÃO x REVASCULARIZAÇÃO A apicigênese é o processo de desenvolvimento fisiológico do ápice radicular. A polpa está vital. Não é um tratamento, o que acontece é que o dentista pode intervir em um dente, com o objetivo de que a apicigênese não seja interrompida. Tratamentos conservadores da polpa, como capeamento, curetagem e pulpotomia podem agir com esse objetivo. É necessário trabalhar para que a polpa permaneça vital e a raiz continue seu desenvolvimento para fechamento apical por meio dos tratamentos conservadores. A apicificação refere-se a indução desse fechamento apical. É um tratamento para dentes com ápice aberto, cuja polpa está necrosada, que tem como objetivo unicamente estimular a formação de uma barreira de tecido calcificado no ápice. Não há mudança na espessura e comprimento da raiz, continuando fina e frágil. A revascularização (sinônimo: revitalização pulpar) faz parte da endodontia regenerativa e tem como objetivo, além de promover o fechamento apical por meio da deposição de tecido calcificado, aumentar a espessura da parede radicular e o comprimento da raiz. REVASCULARIZAÇÃO PULPAR REGENERAÇÃO x REVASCULARIZAÇÃO A regeneração refere-se a capacidade dos tecidos de se renovarem ou se recomporem após danos f ísicos consideráveis. A regeneração pulpar seria uma substituição do tecido lesionado por outro idêntico àquele que ocupava o espaço anteriormente, como uma substituição. Na revascularização pulpar o tecido que se forma é um tecido cicatricial/reparador. Não é idêntico ao tecido que foi perdido. A revascularização pulpar só é possível, pois na região periapical de dentes com ápice aberto, existem as células mesenquimais indiferenciadas que vão para dentro do canal e depositam tecido calcificado. Para ocorrer uma revascularização pulpar, são necessários quatro pilares: - presença de células mesenquimais indiferenciadas - moléculas sinalizadoras ou fatores de crescimento que permitem a proliferação e diferenciação das células mesenquimais - canal descontaminado - scaffold tridimensional (arcabouço que permite crescimento, proliferação e diferenciação e é formado a partir do momento que se tem um sangramento e formação do coágulo) CARACTERÍSTICAS DO TECIDO FORMADO O tecido mineralizado que se forma após a revascularização apresenta alguns elementos que lembram o tecido pulpar (como colágeno, tecido conjuntivo, vascularizado etc), mas não é igual. Também encontram-se osteoblastos e cementoblastos que são os grandes responsáveis pela formação do tecido mineralizado no interior do canal. Alguns autores até chamam de tecido cementóide/osteóide. Esse tecido é depositado tanto nas paredes do canal quanto no ápice. INDICAÇÃO Dentes com ápice aberto, necrose pulpar e pacientes jovens. Até pode tentar a revascularização em um paciente adulto, mas é necessário ter conhecimento que a quantidade e disponibilidade de células tronco em pacientes jovens é muito maior do que no paciente adulto. PROTOCOLO O protocolo para revascularização é realizado em duas sessões e pode ser dividido em: - descontaminação passiva do canal radicular - medicação intracanal - formação do coágulo sanguíneo - selamento coronário Descontaminação Passiva do Canal Radicular Existem três substâncias possíveis para realizar uma descontaminação passiva: hipoclorito de sódio em diversas concentrações, clorexidina 0,12% e EDTA 17%. AULA 8 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 A clorexidina não é indicada para descontaminação passiva do canal radicular no processo de revascularização, pois possui efeito citotóxico e por conta de sua substantividade (consegue se ligar aos tecidos mineralizados, sendo liberado lentamente, inibindo a adesão das células mesenquimais indiferenciadas na parede do canal). Seria como uma “competição” entre a clorexidina e as células mesenquimais. O hipoclorito de sódio em altas concentrações também não é bom para a revascularização. Em contrapartida, em menores concentrações, apresentou melhores resultados em relação à capacidade de diferenciação das células mesenquimais. O EDTA 17% possui ação quelante, remove a smear layer e expõe os túbulos dentinários, além de conseguir liberar fatores de crescimento presentes na dentina que favorecem a proliferação e diferenciação de células mesenquimais indiferenciadas. A utilização de hipoclorito de sódio 1,5% + EDTA 17% é a escolha para descontaminação passiva do canal radicular. Medicação Intracanal Bem no início dos estudos de revascularização pulpar, era utilizado uma pasta tripla antibiótica (PTA - ciprofloxacina, metronidazol e minociclina) que caiu em desuso por conta da monoclínica que causa escurecimento coronário. No lugar dessa pasta, hoje se utiliza como melhor opção o hidróxido de cálcio . Além disso, em relação ao efeito da concentração na sobrevivência de células mesenquimais indiferenciadas, altas concentrações de pasta tripla antibiótica atrapalham essa sobrevivência, enquantoo hidróxido contribuiu para a proliferação e diferenciação delas. Coágulo Sanguíneo O coágulo sanguíneo serve como o scaffold tridimensional que seria como um arcabouço necessário para proliferação, diferenciação etc. Para sua formação, é necessário estimular o sangramento apical com uma lima, ultrapassando a abertura apical (1 a 2 mm). O plasma rico em plaquetas e a fibrina rica em plaquetas do próprio paciente também podem servir como scaffold, excluindo a necessidade de provocar um sangramento apical. Para isso, é necessário coletar e centrífuga o sangue, extraindo o plasma e inserindo-o no canal. A diferença é que a liberação dos fatores de crescimento do plasma é mais rápido do que na fibrina (tem liberação mais lenta). Selamento Coronário O selamento é realizado inserindo um material biocerâmico (como o MTA) e, sobre ele, insere um material restaurador. É bem difícil fazer com que o material biocerâmico fique sobre o coágulo sem se misturar. Para facilitar, utiliza-se uma esponja de colágeno que serve como anteparo para o material biocerâmico ficar. Primeira Sessão 1. anestesia 2. isolamento absoluto 3. irrigação abundante com hipoclorito de sódio em baixa concentração de forma bem lenta (20 ml por 5 minutos) e muito cuidado com a altura da agulha (fica 2 mm aquém do ápice para evitar extravasamento) 4. irrigação bem lenta com soro fisiológico ou EDTA 17% (20 ml por 5 minutos) 5. secagem dos canais com ponta de papel absorvente 6. medicação intracanal (hidróxido de cálcio - primeira opção) ou PTA em baixa concentração (1-5 mg/ml) 7. selamento temporário - a MIC permanece de 1 a 4 semanas Segunda Sessão 1. anestesia sem vasoconstritor (pode atrapalhar no processo de sangramento) 2. isolamento absoluto 3. remoção da MIC com irrigação com EDTA (nessa etapa, precisa da atuação dele em especial) 4. estímulo do sangramento apical com lima que ultrapassa abertura apical 5. inserção do material biocerâmico (MTA) 6. selamento com CIV e restauração com resina - o acompanhamento deve ser semestral e nele se observa se o paciente está assintomático, sem aparecimento de f ístula, lesão e reabsorção e se o objetivo da revascularização foi alcançado AULA 8 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 O sucesso da revascularização pulpar pode ser mensurado a partir do primeiro, segundo e terceiro objetivo: 1º - eliminação dos sintomas e evidência de cura óssea 2º - aumento na espessura da parede do canal e/ou aumento no comprimento desse canal 3º - resposta positiva ao teste de vitalidade
Compartilhar