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Nacionalidade 1. Introdução É o vínculo jurídico-civil que liga o indivíduo a um certo e determinado Estado, tornando-o componente de povo e titular de direitos e obrigações. É um direito considerado de 1ª geração ou dimensão. Difere da cidadania, associada ao título de eleitor, aos direitos políticos. Sendo assim, nem todos os nacionais são cidadãos, a exemplo das crianças, mas a regra é que todo cidadão seja antes nacional, sendo vedado o alistamento de estrangeiros conforme o art. 14, §2º, da CRFB/88. O art. 12, §1º traz uma exceção, do português equiparado, estrangeiro que terá direitos e deveres de um brasileiro naturalizado, e se adquirir direitos políticos acabará por configurar o único caso de um cidadão estrangeiro. 2. Nacionalidade Originária e Derivada A nacionalidade originária é adquirida pelo nascimento e será estabelecida por critérios sanguíneos, territoriais ou mistos determinados por cada Estado, de forma soberana. No Brasil, são os brasileiros natos. Já a nacionalidade derivada é aquela adquirida pelo processo de naturalização, ou seja, o indivíduo não atende aos critérios de nacionalidade originária, mas se naturaliza por manifestação de vontade mediante o preenchimento de certos requisitos. Nacionalidade Originária: • Ius Sanguinis É nacional todo o descendente de nacional, independentemente do local de– nascimento, regra na Europa, África e Ásia. Exceção no Brasil, conforme o art. 12, I, b e c, CRFB/88. Art. 14 §2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Art. 12 §1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. • Ius Soli Será nacional todo aquele nascido no território do Estado, independentemente da– nacionalidade de seus ascendentes. É a regra no Brasil, prevista no art. 12, I, a, CRFB/88. • Critério misto Usa parte de ambos, tendo normalmente um deles como predominante.– No Brasil, o Ius Matrimonii não foi utilizado como critério de atribuição/aquisição de nacionalidade originária. Ou seja, casar com um brasileiro não vai garantir ao estrangeiro a nacionalidade brasileira. Em regra, brasileiros natos e naturalizados recebem o mesmo tratamento, salvo nos casos previstos na Constituição, como se conclui do art. 12, §2º c/c art. 19, III, da CF. Ou seja, a legislação infraconstitucional não pode estabelecer a diferença de tratamento entre brasileiros natos e naturalizados, visto que tal papel pertine à Constituição. Hipóteses de diferenciação entre brasileiro nato e naturalizado: • Art. 12, §3º Cargos– • Art. 89, VII Função popular no Conselho da República– • Art. 5º, LI Extradição– • Art. 222 Propriedade de empresa jornalística, de radiodifusão sonora ou de imagens.– Os cargos associados ao Presidente da República Presidente da Câmara, Pres. do Senado,– Ministro do Supremo são privativos de brasileiro nato. Também o são os de Oficial das Forças– Armadas, membro da carreira diplomática e Ministro de Estado da Defesa. Esse rol de cargos é taxativo. O Conselho da República é o órgão de consulta do Presidente e dele participam diversas autoridades, havendo previsão de participação popular direta no Conselho. Tal posição deve ser ocupada por brasileiro nato, mesmo havendo outros conselheiros que podem ser naturalizados. A extradição é o processo de encaminhamento de um indivíduo a outro Estado que é competente para processá-lo e julgá-lo. O brasileiro nato nunca será extraditado, mesmo se tiver mais de uma nacionalidade e o país que a solicita for outro em que é considerado nacional. Já o brasileiro naturalizado poderá ser submetido à extradição se tiver praticado um crime antes da naturalização ou em caso da prática de tráfico de entorpecentes, antes ou após a naturalização. Art. 12 §2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.– Por fim, a propriedade de empresa jornalística, de radiodifusão sonora ou de imagens por brasileiro naturalizado exige que ele tenha pelo menos 10 anos de naturalização, enquanto este prazo não é exigido do brasileiro nato. Preocupa-se com a mídia, grande formadora de opinião. 3. Brasileiros Natos As possibilidades de aquisição da nacionalidade originária expostas no art. 12, I, alíneas a, b e c, são taxativas, não podendo ser ampliadas por legislação infraconstitucional O critério predominante de aquisição de nacionalidade no Brasil é o jus soli, ou seja, quem nasce no Brasil será brasileiro nato. O território nacional é o espaço englobado pelos limites geográficos do nosso país, como as ilhas, rios, espaço aéreo, mar territorial, não é somente a parte continental. Estabelece-se uma ressalva para aquele nascido de pais estrangeiros, ambos, e um deles está a serviço oficial de seu país de origem no Brasil. Disto se conclui que filho de brasileiro (nato ou naturalizando) nascido no país sempre será considerado brasileiro nato. Traz um critério de jus sanguinis associado ao critério funcional, mitigando o territorial. Neste caso, basta que o pai ou a mãe seja brasileiro e esteja a serviço do país Administração pública– direta ou indireta de qualquer das entidades federativas em local estrangeiro.– Art. 12. São brasileiros: I natos:– a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; Art. 12. São brasileiros: I natos:– b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; Art. 12. São brasileiros: I natos:– c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; Trata do jus sanguinis associado ao registro, basta que os pais levem a criança ao consulado para tal. Também existe a possibilidade de o próprio filho manifestar o seu interesse em ser brasileiro nato quando, em qualquer momento após a maioridade, vem a residir no Brasil e opta pela nacionalidade em um processo de jurisdição voluntária perante a justiça federal de 1º grau, na forma do art. 109, X. Esse é um direito público subjetivo, ou seja, preenchidos os requisitos legais, não é possível que a justiça negue a nacionalidade pretendida. Neste último caso, o direito é personalíssimo e somente a própria pessoa, após atingida a maioridade, poderá apresentar a ação. No entanto, se uma criança não registrada no exterior, filha de pai ou mãe brasileira, vem a residir no país, receberá o título de brasileira nata provisória, temporário, e quando atingida a maioridade irá se manifestar perante a justiça federal. Em 1988, havia a possibilidade de registro em consulado, em 1994, tal modalidade deixou de ser possível por conta da Emenda de Revisão nº 3 e, somente com a EC 54/2007, foi que esse registro voltou a ser possível. Por conta disso, esta última emenda inseriu no ADCT uma norma de transição para as crianças nascidas entre 1994 e 2007, o artigo 95. 4. Brasileiros Naturalizados A nacionalidade secundária é adquirida mediante uma manifestação de vontade, sendo tratada no art.12, II, alíneas a e b, e na Lei 13.445/2017, conhecida como Lei de Migração. Não há naturalização tácita ou por decurso de prazo, depende de uma manifestação de vontade. Trata da naturalização ordinária, onde a obtenção da nacionalidade não é um direito público subjetivo, sendo possível que se negue o pedido de naturalizaçãopois ela ocorre por ato discricionário do poder público. Os estrangeiros originários de países de língua portuguesa tiveram a naturalização facilitada, mas os demais estrangeiros precisam cumprir os requisitos da Lei 13.445/2017, contidos nos artigos 65 e 66. Art. 95. Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na República Federativa do Brasil. Art. 12. São brasileiros: II naturalizados:– a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; É a naturalização extraordinária ou quinzenária, estabelecendo que qualquer estrangeiro pode se naturalizar se cumpridos esses requisitos. Neste caso, há direito público subjetivo, ou seja, preenchidos os requisitos, as autoridades brasileiras não podem negar a naturalização, é um ato vinculado. Destaque-se que saídas esporádicas do país são permitidas, desde que não ocorra a quebra do vínculo da residência. Também está presente na lei de migração, no art. 67. Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições: I ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;– II ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;– III comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e– IV não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.– Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo, 1 (um) ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: II ter filho brasileiro;– III ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no – momento de concessão da naturalização; V haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou– VI recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística.– Art. 12. São brasileiros: II naturalizados:– b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes situações: I seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior – Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou II seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil – por mais de 10 (dez) anos ininterruptos. Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;– II comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e– III não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.– A hipótese de naturalização especial está presente somente na lei de migração. A naturalização provisória, hipótese também presente somente na lei de migração, pode ser convertida em naturalização definitiva se o indivíduo manifestar interesse em tal mudança em até 2 anos de sua maioridade. 5. Perda de Nacionalidade As hipóteses de perda de nacionalidade contidas no art. 12, §4º, I e II, são taxativas, não sendo possível ampliá-las por legislação infraconstitucional. Esta atividade é aquela que viola a ordem pública, que põe em risco a segurança do nosso país, e, se detectada, o Ministério Público Federal deve ingressar com uma ação de cancelamento de naturalização perante a justiça federal de 1º grau, na forma do art. 109, X. Tal hipótese de perda de nacionalidade é judicial e os efeitos da sentença dependem de seu trânsito em julgado, surtindo efeitos apenas a partir de então, sendo um caso de perda-sanção. Aplica-se somente ao brasileiro naturalizado. Sua reaquisição só pode ser feita de modo judicial, não de modo administrativo, mediante êxito em ação rescisória. Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal. Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a maioridade. Art. 12. São brasileiros: §4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:– I tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao – interesse nacional; Esta hipótese aplica-se tanto ao brasileiro nato quanto ao naturalizado, sendo chamada de perda-mudança, ao adquirir voluntariamente outra nacionalidade pelo processo de naturalização. Destaque-se que este é o único caso em que o brasileiro nato poderá perder a sua nacionalidade. Se o pedido de nacionalização voluntária for aceito pelo outro país, o indivíduo deverá abrir mão da nacionalidade brasileira por meio de formulário no site do Ministério da Justiça. Ocorre mediante decisão administrativa e, portanto, pode ser readquirida pelo mesmo processo que enfrentou. Segundo o Decreto nº 9.199/2017, art. 254, §7º, o deferimento do requerimento de reaquisição ou a revogação da perda importará, para o brasileiro nato, no reestabelecimento da nacionalidade originária brasileira. Os casos de dupla nacionalidade são aqueles que se encaixam nas alíneas do inciso II. Art. 12. São brasileiros: §4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:– II adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:– a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; Não se pode readquirir a nacionalidade brasileira quando ela está sendo utilizada como um meio de evitar a extradição.
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