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Revista SÍNTESE Direito Imobiliário Ano VII – nº 39 – MAIo-Jun 2017 ReposItóRIo AutoRIzAdo Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 dIRetoR executIVo Elton José Donato GeRente edItoRIAl Milena Sanches Tayano dos Santos cooRdenAdoR edItoRIAl Cristiano Basaglia edItoRA Simone Costa Saletti Oliveira conselho edItoRIAl Christiano Cassetari, Luciano Lopes Passarelli, Luiz Antonio Scavone Junior, Luiz Henrique Sormani Barbugiani, Marcelo Manhães de Almeida, Rubens Carmo Elias Filho colAboRAdoRes destA edIção Ailton Nossa Mendonça, Alessandro Allef da Silva, Cláudio Oliveira de Carvalho, Eulâmpio Rodrigues Filho, Fernando da Fonseca Gajardoni, Giselle Leite Franklin, Juliana Sales Barket, Mateus Sobrinho, Maurício Barroso Guedes, Raoni Rodrigues, Rodrigo Karpat, Rogério Tadeu Romano, Rosemary Samartino Herran, Sabrina Berardocco ISSN 2236-1553 2011 © SÍNTESE Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE. Publicação bimestral de doutrina, jurisprudência e outros assuntos de Direito Imobiliário. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores. As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores. Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec- tivos tribunais. A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: pesquisa@sage.com (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais). Distribuída em todo o território nacional. Tiragem: 4.000 exemplares Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço: conselho.editorial@sage.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Revista SÍNTESE Direito Imobiliário. – Vol. 1, n. 1 (jan./fev. 2011)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v.; 23 cm. Bimestral. v. 7, n. 39, maio/jun. 2017 ISSN 2236-1553 1. Direito imobiliário. CDU 347.453 CDD 342.1242 Bibliotecária responsável: Nádia Tanaka – CRB 10/855 IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SP www.sage.com Telefones para Contatos Cobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900 Demais localidades 0800.7247900 SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900 Demais localidades 0800.7247900 E-mail: sacsintese@sage.com Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900 Demais localidades 0800.7283888 Carta do Editor Escolhemos o tema “Ações Possessórias – Novo CPC” para tratarmos na edição da Revista SÍNTESE Direito Imobiliário. De acordo com Luiz Rodrigues Wambier, a posse “consiste no poder de fato que o sujeito detém sobre coisa corpórea”. O objetivo das ações possessórias é proteger o possuidor, já que, nos termos do art. 1.210 do Código Civil, “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado”. Luiz Rodrigues Wambier elenca as ações possessórias como típicas, quais sejam: reintegração, manutenção e interdito proibitório. Já as ações que não versam propriamente sobre a posse, como a nunciação de obra nova, não são ações possessórias típicas, pois não possuem o objetivo de tutelar a posse. Para discorrer sobre o assunto, contamos com a brilhante colabora- ção dos ilustres juristas: Fernando da Fonseca Gajardoni, Cláudio Oliveira de Carvalho e Raoni Rodrigues, Eulâmpio Rodrigues Filho, Alessandro Allef da Silva, Ailton Nossa Mendonça e Rosemary Samartino Herran, Mateus Sobrinho e Juliana Sales Barket. Na Parte Geral selecionamos conteúdo, para mantermos a qualidade desta Edição, com relevantes temas e doutrinas de grandes nomes do Direi- to, tais como: Rodrigo Karpat, Sabrina Berardocco, Maurício Barroso Guedes e Giselle Leite Franklin. E, ainda, destacamos na Seção “Com a Palavra, o Procurador”, artigo de Rogério Tadeu Romano intitulado “Princípios e Terminologia do Registro de Imóveis”. É com prazer que a IOB deseja a você uma ótima leitura! Milena Sanches Tayano dos Santos Gerente Editorial Sumário Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7 Assunto Especial Ações PossessóriAs – Novo CPC DoutriNAs 1. Os Conflitos Coletivos pela Posse de Imóveis no Novo CPC Fernando da Fonseca Gajardoni .................................................................9 2. O Novo Código de Processo Civil e as Ações Possessórias – Novas Perspectivas para os Conflitos Fundiários Coletivos? Cláudio Oliveira de Carvalho e Raoni Rodrigues .....................................13 3. A Distorcida Proteção Possessória no Novo CPC Eulâmpio Rodrigues Filho.........................................................................33 4. A Posse e as Ações Possessórias no CPC/2015 Alessandro Allef da Silva ..........................................................................39 5. Das Ações Possessórias – Lei nº 13.105, de 2015 Ailton Nossa Mendonça e Rosemary Samartino Herran ...........................48 6. Ações Possessórias no Novo CPC Mateus Sobrinho ......................................................................................58 7. Comentários Gerais à Sistemática das Ações Possessórias no Novo CPC Juliana Sales Barket ..................................................................................60 Parte Geral DoutriNAs 1. Atividade Comercial Dentro de Condomínios Residenciais Rodrigo Karpat .........................................................................................63 2. A Prescrição e a Ação de Rescisão de Compromisso de Venda e Compra Sabrina Berardocco ..................................................................................66 3. Comprovação do Recolhimento do ITBI: perante o Tabelionato de Notas ou do Registro de Imóveis? Maurício Barroso Guedes .........................................................................84 4. Considerações a Respeito da Alienação Fiduciária Frente à Hipoteca Giselle Leite Franklin ..............................................................................105 JurisPruDêNCiA Acórdãos nA ÍntegrA 1. Superior Tribunal de Justiça....................................................................112 2. Superior Tribunal de Justiça....................................................................119 3. Superior Tribunal de Justiça....................................................................126 4. Tribunal Regional Federal da 2ª Região ..................................................134 5. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios ................................142 6. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais .......................................149 7. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná .................................................155 8. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro ......................................166 9. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul ...............................170 10. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina .....................................184 11. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ............................................191 ementário de JurisprudênciA 1. Ementário de Jurisprudência ...................................................................195 Seção Especial Com A PAlAvrA, o ProCurADor 1. Princípios e Terminologia do Registro de Imóveis Rogério Tadeu Romano ..........................................................................218 Clipping Jurídico ..............................................................................................225 Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................230 Normas Editoriais paraEnvio de Artigos 1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo- cados em sua área temática. 2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi- cações. 3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor. 4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Re- vista para a qual foi enviado ou em outros produtos editoriais da SÍNTESE, desde que com o devido crédito de autoria, fazendo jus o autor a um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, a título de direitos autorais patrimoniais, sem outra remuneração ou contraprestação em dinheiro ou produtos. 5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade. 6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí- dicos da Síntese. 7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário. 8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU- TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões. 9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza- das por ponto. 10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”. 11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi- co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item. 12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri- meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos. 13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT. 15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá- rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito). 16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni- cos conselho.editorial@sage.com Juntamente com o artigo, o autor deverá preencher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastrodeauto- res e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao. 17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail conselho.editorial@sage.com Assunto Especial – Doutrina Ações Possessórias – Novo CPC Os Conflitos Coletivos pela Posse de Imóveis no Novo CPC FERNANDO DA FONSECA GAJARDONI Doutor e Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da USP (FD-USP), Professor Doutor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da USP – Ribeirão Preto (FDRP-USP), Juiz de Direito no Estado de São Paulo. A história recente do País nos dá conta das graves consequências da efe- tivação das decisões judiciais em possessórias derivadas de conflitos coletivos pela posse de imóveis (urbanos e rurais), com famílias inteiras sendo removidas de suas habitações sem amparo estatal; com eventual ocorrência de excessos no cumprimento dos mandados de reintegração e manutenção de posse, inclusive com pessoas sendo lesionadas e mortas no confronto; enfim, com a ausência de tutela do direito social à moradia e à dignidade humana a bem da exclusiva tutela do direito à propriedade/posse. Certamente por isso, nos debates em torno da aprovação do projeto do CPC/2015, havia forte pressão de parlamentares ligados aos movimentos so- ciais para que sempre, em qualquer tipo de possessória derivada de conflitos coletivos pelo imóvel urbano ou rural (procedimento comum ou especial), fosse realizada audiência de conciliação/mediação antes da decisão liminar. Ao que se opunham os parlamentares ligados aos proprietários rurais (bancada ruralis- ta), que viam em tal intento evidente violação ao direito de propriedade, além de incentivo à realização de invasões de imóveis urbanos e rurais (ainda que atendentes de sua função social). Acabou prevalecendo posição intermediária, que reconhece a necessida- de de realização da audiência de conciliação/mediação para ações possessórias de rito comum (força velha), mas não para as possessórias de rito especial (força nova), em que a liminar (tutela da evidência) pode ser apreciada (e deferida) sem a realização de qualquer tentativa de autocomposição prévia. Assim, os arts. 554 e 565, parágrafos, do CPC/2015 estabelecem que no litígio coletivo pela posse ou propriedade de imóvel (urbano ou rural), quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, para qual serão intimados o Ministério Público e a Defensoria Pública (na óbvia 10 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA situação de haver interessados hipossuficientes), podendo ainda dela participar os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, do Estado ou do Distrito Federal e dos Município onde se situe a área objeto do litígio (que serão intimados a se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório). A disposição tem vários objetivos, todos louváveis. Primeiro, pretende evitar – por meio de prévia tentativa de conciliação/ mediação – que conflitos coletivos pela posse do imóvel sejam resolvidos (ad- judicados), exclusivamente, pelo Poder Judiciário, permitindo que as partes em litígio (esbulhadores/turbadores e possuidor/proprietário) possam, de comum acordo, deliberar sobre a eventual desocupação da área, inclusive estabelecen- do calendário de desocupação. E segundo, pois o regramento reconhece que o conflito coletivo pelo imóvel urbano e rural é, antes de mais nada, um conflito social, motivo pelo qual traz para dele participar não só órgãos tutelares do interesse público e social (Ministério Público e Defensoria Pública), como também órgãos do Po- der Executivo federal, estadual, distrital e municipal responsáveis pela política agrária e pela política urbana do Estado. A partir da participação nos processos, tais órgãos podem, eventualmen- te, reconhecer o interesse público ou social na área esbulhada/turbada para fins de desapropriação, assentamento rural ou construção de moradias urbanas, equilibrando o direito de propriedade/posse da área (compensação financeira) com o direito social à moradia e à dignidade humana; ou mesmo para dar suporte aos esbulhadores/turbadores que, uma vez desalojados, precisarão de amparo social na busca de uma nova ocupação ou lugar para ficarem. Todavia, algumas dificuldades são encontradas na interpretação da disci- plina do NCPC a respeito do tema. Não é clara a definição doque seria um “litígio coletivo pela posse do imóvel”. Lamentavelmente, o CPC/2015 não deu parâmetros seguros para a afir- mação, de modo que competirá à doutrina laborar para encontrar algum pa- drão. Padrão, aliás, bastante importante, em vista das nuances procedimentais existentes caso se afirme que de litígio coletivo possessório se trata. Duas posições são sustentáveis. Uma primeira, no sentido de que deve ser compreendida a expressão “litígio coletivo pela posse do imóvel” à luz do regramento atinente aos proces- sos coletivos (arts. 81 e seguintes do CDC), compreendendo tanto os casos de direitos coletivos stricto sensu (sujeitos indeterminados ligados entre si por uma RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������11 relação jurídica base, inclusive com o adverso), quanto os de direitos indivi- duais homogêneos relativos à posse (sujeitos indeterminados ou determináveis ligados entre si por evento de origem comum). Não se deve confundir, assim, litígio coletivo (em que o objeto da ação é coletivo) com casos de invasão prati- cada, individualmente, por várias pessoas (litisconsórcio passivo), caso em que a disciplina do art. 565 do CPC/2015 não precisa ser observada. Outra posição vem no sentido diametralmente oposto, no sentido de que a expressão “litígio coletivo pela posse do imóvel” teria sido utilizada em sen- tido atécnico, não sendo compreendida, pois no regime atinente aos processos coletivos (arts. 81 e seguintes do CDC). A impressão que se tem nesse primeiro momento é que, na verdade, deve a expressão ser compreendida dentro da ótica do art. 554, § 1º, do CPC, isto é, é aplicável o regramento do art. 565 do CPC/2015 para os casos de ações possessórias em que figure no polo passivo grande número de pessoas, independentemente de se tratar de ação coletiva (passiva) ou de litisconsórcio multitudinário. Nesta última situação, o caso concreto (número de litisconsor- tes, impossibilidade de identificação individualizada deles, etc.) é que definirá a natureza coletiva do litígio possessório. Outra questão que não ficou clara no NCPC é sobre a adequada interpre- tação a ser dada ao art. 565, § 1º, do CPC/2015. Sem fazer referência expressa às possessórias de rito comum (como no caput do art. 565), o art. 565, § 1º, do CPC/2015 estabelece que, concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição da ação (e não do deferimento da liminar), caberá ao juiz designar audiência de mediação/conciliação. Prevaleceu o entendimento de que, após um ano de ocupação do imóvel pelos supostos invasores, a situação de fato já estaria estabilizada, o que recomendaria a realização de uma audiência de mediação/conciliação, seja qual for a fase em que o processo se encontre (antes da sentença). A grande dúvida que exsurge da disposição comentada é se ela seria apli- cável, também, às ações possessórias obedientes ao rito especial, considerando que o caput do art. 565 do CPC/2015 só cuida das possessórias de rito comum (esbulho/turbação ocorridos há mais de ano e dia). A lógica imporia que o § 1º do art. 565 estivesse conectado ao caput do dispositivo, de modo que a resposta tecnicamente ideal seria a de que somente no não cumprimento das liminares deferidas em possessórias de rito comum (força velha) seria necessária a designação de nova audiência de conciliação/ mediação. 12 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA Mas isso não faz muito sentido, pois: a) já houve a realização, em vão, de uma audiência de conciliação/mediação logo após a propositura da ação pelo procedimento comum; b) o CPC/2015 é completamente atécnico no tocante à paragrafação de seus dispositivos, sendo comum artigos cujos parágrafos enun- ciam normas autônomas sem vínculo algum com o caput da disposição que as suporta (vide os 19 parágrafos do art. 85 do CPC/2015); e c) não há distinção alguma, para fins de consolidação da situação de fato (e para existência dos mo- tivos que justificam a realização da audiência de conciliação/mediação), entre os litígios coletivos pela posse de imóvel ocorrido há mais ou menos de ano e dia, quando se tratar de não cumprimento da liminar após mais de 1 (um) ano da distribuição da ação. Por isso, em juízo inaugural sobre essa nova questão, acreditamos que o § 1º do art. 565 também é aplicável às possessórias de rito especial, derivadas de conflitos coletivos pelo imóvel (urbano ou rural). Por fim, uma última nota. Considerando que não é o próprio Poder Judiciário que executa a or- dem de reintegração/manutenção deferida, o Poder Executivo (responsável pelo cumprimento da ordem) tem a possibilidade de utilizar o art. 565, § 1º, CPC/2015, por pura conveniência política, para definir o rito a ser seguido na possessória em trâmite. De fato, bastará o Executivo retardar o cumprimento da decisão de rein- tegração/manutenção de posse liminarmente deferida, para impor a realização da audiência de conciliação/mediação pelo Judiciário, expediente que tem o condão de tornar inefetivo o comando judicial e, além disso, desacelerar a mar- cha processual. Urge, portanto, que a sociedade civil fique atenta, a fim de evitar referida manobra, que acabará por tornar regra a realização de uma audiência que, no processo legislativo do NCPC, foi moldada para ter cabimento apenas em situ- ações excepcionais1. 1 O presente texto, com as devidas adaptações, é uma breve resenha do que escrevi sobre o procedimento especial das ações possessórias no recém-lançado Processo de conhecimento e cumprimento de sentença: comentários ao CPC/2015 (São Paulo: Método, 2016), escrito em coautoria com os também autores desta coluna Luiz Dellore, Andre Roque e Zulmar Duarte. Convidamos nossos leitores para conhecer melhor a obra em <http://goo.gl/FHI4wU>. Assunto Especial – Doutrina Ações Possessórias – Novo CPC O Novo Código de Processo Civil e as Ações Possessórias – Novas Perspectivas para os Conflitos Fundiários Coletivos?1 The New Code of Civil Procedure and the Possessory Actions – New Perspectives for the Collectives Land Conflicts? CLáuDIO OLIvEIRA DE CARvALhO Doutor em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Universidade Salvador (2014), Professor assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Integrante do Núcleo de Assesso- ria Jurídica Alternativa – NAJA, PROEX/UESB – Vitória da Conquista/Bahia. RAONI RODRIGuES Especialista em Direito Tributário pela Universidade Candido Mendes, Professor da Faculdade Batista Brasileira – FBB, Bahia. RESUMO: Em 18 de março de 2016, um novo Código de Processo Civil passará a viger no Brasil, tra- zendo diversas inovações normativas, entre as quais se destacam algumas poucas modificações no procedimento das ações possessórias para conflitos fundiários coletivos. As instituições e os movi- mentos sociais ligados à causa da reforma urbana, depois de grande mobilização durante o processo legislativo do novo Código, não conseguiram transformar em leis a maior parte de suas demandas, e vêm o aludido texto legal como fruto de uma vitória conservadora. Resta ao presente estudo analisar as suas principais modificações normativas, avaliando se elas serão realmente capazes de enfrentar o grave problema de habitação que marca a evolução histórica da maioria das cidades brasileiras. Objetiva-se, com isso, enriquecer o debate sobre a efetivação do direito à moradia, seja no âmbito local, seja no internacional, já que 2016 também é o ano da Habitat 3, a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Direito ao urbanístico; direito à moradia; conflitos fundiários urbanos; ações pos- sessórias; novo Código de Processo Civil. 1 CARVALHO, C.; RODRIGUES, R. O novo Código deProcesso Civil e as ações possessórias – Novas perspectivas para os conflitos fundiários coletivos? / The new Code of Civil Procedure and the possessory actions – New perspectives for the collectives land conflicts? Revista de Direito da Cidade, Local de publicação (editar no plugin de tradução o arquivo da citação ABNT), 7 fev. 2016. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj. br/index.php/rdc/article/view/20912>. Acesso em: 31 maio 2017. 14 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ABSTRACT: On March 18, 2016, a new Civil Procedure Code will come into effect in Brazil, bringing several regulatory innovations, among which stand out a few changes in the procedure of possessory action to collective land conflicts. Institutions and social movements linked to the cause of Urban Reform, after massive mobilization during the legislative process of the new Code, failed to turn into laws most of their demands, and come the aforementioned legal text as the result of a conservative victory. It remains to this study to analyze its main legislative changes, assessing whether they will actually be able to address the serious housing problem which marks the historical evolution of most Brazilian cities. The objective is to thereby enrich the debate on the realization of the right to housing, either locally, or in the international since 2016 is also the year of Habitat 3, the Third United Nations Conference on Housing and Sustainable Urban Development. KEYWORDS: Right to urban; right to housing; urban land conflicts; possessory actions; new Civil Procedure Code. INTRODUÇÃO Ao longo do processo de formação e crescimento das cidades brasileiras, a legislação urbanística teve um importante papel de servir aos interesses de uma minoria hegemônica, atuando como instrumento de segregação ou ex- clusão social, e delimitando acessos distintos a elementos urbanos dos mais essenciais. Naturalmente, com o passar do tempo, os movimentos sociais e as instituições ligados à causa da reforma urbana passaram a lutar por uma ela- boração legislativa condizente com os anseios e as necessidades da população urbana. O resultado disso foi significativo, já que resultou na criação de uma nova ordem jurídico urbanística, inaugurada com alguns capítulos da Consti- tuição Federal de 1988 (CF/1988), e mais tarde fortalecida com o advento do Estatuto da Cidade de 2001 (EC). O progressismo que marcou a renovação da legislação urbanística nacional, por outro lado, não tem conseguido lidar com a premissa de que existe uma relação de antagonismo entre lei e realidade social (Castro, 2000, p. 79), um claro distanciamento entre teoria e prática. E a referida premissa não é exclusividade do Direito brasileiro. Em documento preliminar da Habitat 3, a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre moradia e desen- volvimento urbano sustentável, existem evidências de que, independentemente de o direito à moradia ser positivado constitucionalmente em praticamente to- dos os países do mundo, a insegurança jurídica na posse de imóveis urbanos ainda é uma realidade global. Anualmente, milhões de pessoas são expulsas de suas habitações contra a sua vontade, por meio de decisões judiciais facilmente contestáveis, e sem receberem as compensações devidas (ONU, 2015, p. 4). Reconhecendo a necessidade de proteção jurídica da posse como ele- mento essencial à moradia adequada, a Habitat 3 se voltará, entre outras coi- sas, para a criação de novas abordagens teóricas a respeito da posse (ONU, RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������15 2015, p. 9). Para isso, deverão ser discutidos os limites e as possibilidades dos mecanismos legais já existentes, além da possibilidade de desenvolvimento de instrumentos jurídicos que sejam mais efetivos. O aludido debate será deveras salutar para o Brasil, visto que 2016, ano da Habitat 3, é também o ano em que um novo Código de Processo Civil (CPC) entrará em vigor, depois de intenso debate sobre as mudanças nas regras das ações possessórias. O Brasil é um dos países com o maior déficit habitacional do mundo. Mais de seis milhões de famílias não possuem moradia, o que corresponde a cerca de 22 milhões de pessoas vivendo às margens de um dos direitos huma- nos mais fundamentais (Boulos, 2012, p. 14). Por outro lado, a concentração de renda e propriedade imóvel no Brasil exibe números semelhantes, mas opostos. O número de residências vazias é praticamente o mesmo que o correspondente ao déficit habitacional: 6,07 milhões (Amado, 2015, p. 1). A ausência de uma política pública habitacional realmente resolutiva e a existência de uma varie- dade de imóveis urbanos carentes de função social2 são motivos determinantes para a existência de conflitos fundiários urbanos. A ocupação desses imóveis por movimentos sociais acaba revelando para toda a sociedade um grave pro- blema social que produz repercussões significativas na gestão da cidade e na vida de muitos de seus habitantes (Brasil, 2013, p. 11). Pelo exposto, o presente estudo buscará compreender o conteúdo jurí- dico emanado dos conflitos possessórios coletivos. Sabe-se que a ocupação de imóveis gera embates sociais que, na maioria das vezes, são judicializados por meio das ações possessórias3. Desse modo, espera-se avaliar se as modificações trazidas pelo novo CPC irão permitir uma segurança jurídica da posse mais só- lida em favor das ocupações coletivas. O DIREITO À MORADIA E A SUA RELAÇÃO COM A POSSE O direito à moradia é reconhecido internacionalmente como um dos mais básicos para a sobrevivência e a dignificação dos seres humanos. A pró- pria Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em seu artigo XXV, estabelece que “toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, alimentação, vestuário e habitação [...]” (ONU, 2015, p. 1). O Brasil, signatário dos principais documentos de direitos 2 Imóveis carentes de função social são aqueles mantidos vazios pelos proprietários, ou, mesmo que edificados, permanecem inutilizadas ou subutilizadas. O que determinará se um determinado imóvel cumpre o mínimo de requisitos para se considerar “socialmente funcional” são os dispositivos legais elaborados por cada Município, por meio do plano diretor. 3 Cabe frisar que são três as ações ou os interditos possessórios previstos na ordem jurídica brasileira: a ação de reintegração de posse, a de manutenção de posse e o interdito proibitório, cuja pretensão se direciona, respectivamente, para os casos de esbulho, turbação ou ameaça. 16 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA humanos internacionais, internalizou em seu sistema jurídico esse direito fun- damental, dispondo sobre ele na CF/1988 e em uma série de leis esparsas4. É necessário ressaltar que a ideia de moradia não se limita à mera busca por um teto, um abrigo. Principalmente depois do Pacto Internacional de Di- reitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pidesc), de 1966, passou-se a defender a ideia de uma moradia adequada, que seria aquela dotada dos seguintes com- ponentes: 1. Segurança jurídica da posse; 2. Disponibilidade dos serviços, materiais, benefícios e infraestrutura; 3. Gastos suportáveis; 4. Habitabilidade; 5. Acessibilidade; 6. Localização; e 7. Adequação cultural. (ONU, 2014, p. 2) É visível que a segurança jurídica da posse é o primeiro e mais importante dos componentes, pois costuma dar ensejo a todos os outros. A necessidade de proteção à posse é essencial principalmente em países como o Brasil, nos quais a ocupação para fins de moradia não é uma opção. Trata-se, na verdade, da única oportunidadeque parcela considerável da po- pulação possui de ter acesso a uma habitação (Boulos, 2012, p. 46) devido aos preços exorbitantes dos imóveis, motivados pelas práticas especulativas do mercado, e à ausência de políticas habitacionais capazes de atender às deman- das sociais das cidades contemporâneas. Entendendo a posse como fenôme- no inerente do modelo capitalista de desenvolvimento urbano hoje vigente, a ONU, por meio do Comentário Geral nº 4 do Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Desc), orienta que, seja qual for o tipo de ocupação, “[...] todas as pessoas devem possuir um grau de segurança de posse que lhes garanta a proteção legal contra despejo forçado, perturbação e qualquer tipo de outras ameaças” (ONU, 2014, p. 7). É notável que a abordagem da ONU considera as ocupações e a proteção jurídica da posse como sendo partes integrantes do direito à moradia adequada, e como meios de efetivação para o mesmo. Com base nisso, surge a necessida- de de rever o conteúdo do direito à moradia presente nos documentos legais, sobretudo na Constituição brasileira. Sabe-se que ainda hoje existe uma visão 4 A CF/1988 coloca a moradia entre os direitos sociais. O direito à moradia ainda é objeto do Estatuto da Cidade, da Lei nº 11.124, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, além da Lei nº 11.481, que dispõe sobre a regularização fundiária de interesse social em imóveis da União. RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������17 mais conservadora que tende a limitar o direito à moradia a uma condição de norma programática, ou seja, uma exigência a ser cobrada do Estado, assim como a saúde, a segurança pública e a educação. Não poderia ser invocado quando dois particulares se envolvessem em conflitos, e, portanto, não poderia ser oponível aos proprietários de imóveis5. Mas a doutrina jurídica contemporânea já superou a concepção mais limitada do direito à moradia, fazendo referência a um direito “de” moradia. Quando se modifica a locução destacada, o conteúdo desse direito se amplia. Passa a abarcar, por isso, não apenas a prestação de políticas habitacionais por parte do Estado, mas também a possibilidade de ser invocado durante conflitos possessórios entre particulares. Essas previsões não se encontram estruturadas em um conjunto específico de normas jurídicas, mas podem ser facilmente ve- rificáveis como “consequência jurídica da proteção possessória, eventualmente dada ao possuidor de boa-fé, de um imóvel urbano para habitação” (Castro, 2000, p. 93). A despeito das exigências constitucionais relativas ao cumprimento da função social da propriedade e à essencialidade do direito de moradia, as solu- ções judiciais aplicadas aos conflitos fundiários urbanos ainda costumam igno- rar as particularidades públicas desses embates. As origens do litígio dificilmen- te são enfrentadas, o que acaba por gerar ainda mais passivos sociais e jurídicos, sobretudo nas cidades mais populosas (Brasil, 2015, p. 11). Ao promover o despejo forçado dos ocupantes, o Judiciário tende a esti- mular o retorno à condição anterior ao conflito, que se caracteriza pela existên- cia de inúmeros terrenos urbanos carentes de função social, rodeados por po- pulações de sem teto que vêm em tais terrenos a única possibilidade de adquirir moradia. O despejo, por isso, costuma perpetuar a tensão existente entre as duas diferentes partes, e o conflito a qualquer momento retorna ao seio social. Para reduzir a distância existente entre os processos judiciais e a concre- tização do direito à moradia, diversos movimentos sociais e instituições ligados à causa da reforma urbana procuraram levar ao Legislativo nacional orienta- ções para mudanças nas regras processuais das ações possessórias6. Tendo em vista que na época um novo CPC estava sendo elaborado, as aludidas orien- 5 Em estudo que avaliou os acórdãos proferidos por desembargadores do Estado de São Paulo, Núbia Campos (2015) chegou à conclusão de que muitos magistrados tendem a considerar o direito à moradia como norma programática, que depende de efetivação infralegal. Ela demonstra que essa visão de conferir menor eficácia ao direito à moradia ainda é comum no Judiciário brasileiro, apesar de a doutrina costumar apontar para direção inversa. 6 Cabe diferenciar direito material e direito processual. Enquanto o primeiro deles estipula direitos e deveres, o segundo trata das regras procedimentais que serão seguidas em uma ação judicial para a realização dos direitos ou o cumprimento dos deveres, e geralmente são organizados em um Código Processual, como é o caso do próprio CPC. Sem regras processuais que os garantam, os direitos materiais dificilmente alcançam sua efetividade jurídica. Vê-se que os movimentos envolvidos com a luta pela democratização da moradia claramente modificaram suas estratégias legislativas. Deixaram de exigir que o direito à moradia seja repetido 18 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA tações foram incluídas no Projeto de Lei (PL) do novo Código, para que fosse devidamente votada ao longo do processo legislativo. Nesse interim, as forças conservadoras do Congresso Nacional conseguiram se articular para frear parte das demandas que viriam a ser absorvida pelo novo CPC, algo que, como será verificado nos próximos tópicos, acabou por limitar o caráter social das ações possessórias vigentes a partir de 18 de março de 2016. OS CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS Os conflitos fundiários urbanos são inerentes ao modelo capitalista de produção das cidades. A concentração de propriedade e a especulação imobi- liária, somadas à ineficiência das políticas públicas habitacionais, acabam por gerar dois grupos sociais distintos que frequentemente irão colidir seus interes- ses: (a) de um lado, os proprietários de grandes glebas urbanas, que se compor- tam como detentores de um direito de propriedade absoluto, que lhes permite ter bens imóveis sem lhes proporcionar qualquer função social; e (b) no extremo oposto se encontram os grupos de segregados do processo de urbanização, cuja ocupação de imóveis vazios ou inutilizados é a única forma de eles possuírem, pelo menos por algumas noites, um teto sobre suas cabeças. Segundo o art. 3º da Resolução nº 87, emitida pelo Ministério das Cida- des (Brasil, 2013, p. 19), o conflito fundiário urbano é definido como a disputa pela posse ou propriedade de imóvel urbano, bem como impacto de empreendimentos públicos e privados, envolvendo famílias de baixa renda ou grupos sociais vulneráveis que necessitem ou demandem a proteção do Estado na garantia do direito humano à moradia e à cidade. E, adentrando no objeto análise do presente artigo, o que dizer das ações possessórias iniciadas contra a ocupação de imóveis não dotados de sua função social? Na complexidade das relações sociais do mundo contemporâneo, é na- tural que, em alguns casos, dois ou mais sujeitos tenham direitos distintos sobre um mesmo objeto. Quando os limites de exercício desses direitos não estão bem estabelecidos, o conflito surge naturalmente (Castro, 2000, p. 89). No caso das ações possessórias analisadas, vê-se, recorrentemente, o embate entre dois direitos distintos: a propriedade versus o direito de moradia consubstanciado na posse temporária de um imóvel7. Mas, analisando a questão criticamente, esse conflito não é decorrente da técnica jurídica, mas de questões políticas e em inúmeros documentos legais e passaram a exigir modificações nas regras processuais garantidoras de um processo judicial capaz de concretizar o aludido direito. 7 Para a maioria dos juristas a posse não seria um direito em si, mas um fato social que gera repercussões no mundo jurídico. Um breve exemplo: não existe um direito à possede um edifício vazio, mas um direito à moradia. A manutenção na posse depende do exercício de habitá-la, sob pena de esse fato não ser digno de defesa jurídica. RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������19 culturais. Não se pode dizer que existem direitos colidindo. O que ocorre é o choque entre um direito e um privilégio: 1. O acesso à moradia por parte de grupos sociais vulneráveis, e 2. O privilégio de uma minoria que acumula propriedades imóveis urbanas sem lhes dar qualquer função social. Diante da disparidade existente entre os interesses em questão, a ação possessória utilizada por um proprietário de imóvel sem função social contra uma coletividade não poderia ter as mesmas regras processuais de conflitos individuais. A ocupação, como exercício legítimo de posse, é de fundamental interesse público, como veremos a seguir, e precisa ser protegida através de meios processuais eficazes. A QUESTÃO DA ILEGITIMIDADE DA POSSE PROVENIENTE DAS OCUPAÇÕES COLETIVAS A posse proveniente das ocupações coletivas sofre de limitações jurídicas no que se refere a sua legitimidade, que precisam ser devidamente enfrentadas para o bom seguimento do presente estudo. O Direito brasileiro considera que a posse oriunda de ocupações realizadas sem o consentimento do proprietário é injusta. Como regra adicional do sistema jurídico, a posse injusta não pode se converter para justa, o que impediria a defesa possessória dos ocupantes. Desse modo, ao ver seu imóvel ser ocupado contra a sua vontade, o proprie- tário facilmente pode se valer de uma ação possessória alegando que o grupo de pessoas que adentrou em seu bem o fez de forma ilegal. Não resta qualquer dúvida quanto a isso. O problema de aplicação normativa se encontra quando existe irregula- ridade também por parte do proprietário. Sabe-se que irregularidade fundiária não é uma exclusividade dos grupos de baixa renda. As classes mais abasta- das também são violadoras das legislações fundiárias, mas, diferentemente da população mais pobre e carente de alternativas, elas fazem por opção (Brasil, 2010, p. 12). É justamente quando a posse irregular dos ocupantes confronta o exer- cício irregular do direito à propriedade que a defesa possessória deve assumir bases jurídicas mais amplas. No caso das ocupações de imóveis carentes de função social, a manutenção dos ocupantes nos imóveis acaba se tornando mais legítima do que o despejo que acarretará um retorno do bem a um estado de subaproveitamento. É claro que esse entendimento necessita de uma exegese mais ampla, que considere as ações possessórias dentro de um sistema jurídico constitucio- nalizado, que deve prezar pela harmonização das diferentes regras e princípios 20 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA que convivem no sistema. Uma interpretação mais ampla é a forma mais justa e eficaz de resolver conflitos jurídicos como o analisado no momento. Quando os conflitos possessórios envolvem um choque entre uma posse ilegítima e uma propriedade exercida de forma irregular, o direito à moradia e a função social da propriedade devem ser invocados para produzir decisões judiciais condizentes com o ordenamento constitucional brasileiro. Outra questão a ser enfrentada é se a posse oriunda de uma ocupação coletiva pode assumir o estado de realizador de um direito à moradia não con- cretizado por políticas públicas. Existem instrumentos jurídicos próprios para a regularização fundiária, como a regularização fundiária de interesse específico, prevista na Lei nº 11.977, de 2009, que seria um instrumento mais apropriado para a superação dessa problemática. Por outro lado, o art. 8º do Estatuto da Cidade traz o instituto da desapropriação sanção, capaz de absorver os imóveis que não possuem sua função social. Trata-se de uma forma mais direta e apro- priada de limitar o direito de propriedade quando mal exercido. Ocorre que, em um País no qual as políticas públicas e as ações estatais raramente procuram reverter o quadro de segregação socioespacial presente nas suas cidades, a procura por soluções judiciais de curto prazo acaba sendo uma alternativa viável para manter a subsistência e a dignidade de todos aque- les carentes de moradia, mesmo que provisoriamente. A IMPORTÂNCIA DA POSSE E A NECESSIDADE DE SUA DEFESA JURÍDICA Defendendo a superioridade social e econômica da posse sobre a pro- priedade, Valcir Gassen (apud Muniz, 2015, p. 1) afirma que “a posse da terra nasce das relações concretas entre os homens, sendo que, na trajetória da pro- priedade, esta sempre foi o mais importante meio de produção da riqueza”. Essa superioridade ainda é salientada por Albuquerque (2002, p. 194): A posse, em nossa dimensão territorial, é forma de aproveitamento econômico do solo e forma de produção de riqueza para o possuidor e para toda a sociedade. A posse é forma de ocupação primária, corresponde ao fim último de liberdade e de dignidade da pessoa humana, na medida em que possa estar ligada aos di- reitos de moradia, possa implementar a erradicação da pobreza e torne efetiva a igualdade entre todos. Mas essas não são as únicas funções sociais da posse. Quando decorre da ocupação por parte de uma coletividade carente de moradia, a posse assume visível conotação política, já que denuncia tanto as insuficiências de políticas públicas habitacionais aptas à resolução do problema quanto a existência de inúmeros imóveis sem qualquer função social. Deve-se salientar que as terras rurais ou urbanas não podem ser reproduzidas ou ampliadas, diferentemente RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������21 de outros bens. Desse modo, usar os territórios de forma efetiva, eliminando os vazios especulativos, confere mais riqueza e desenvolvimento social a um país. Além da importância marcante na área pública, a proteção da posse tam- bém é essencial para a harmonização das relações privadas. Quando se instaura um conflito no qual dois ou mais sujeitos se dizem proprietários de um mesmo bem, opta-se por manter o referido objeto do conflito sob os cuidados do atual possuidor, até que, em um segundo momento, seja verificada a titularidade do imóvel. Essa regra decorre do princípio da conservação do fático, nascido no Direito romano e difundido por todo o mundo (Rodrigues, 2014, p. 1). A razão de existência da aludida regra é desenvolvida a partir de uma conclusão lógica: se sempre que fosse expulso do seu imóvel o proprietário tivesse que provar sua condição sobre o bem, a prestação jurisdicional tardaria a resolver o conflito social (Muniz, 2015, p. 1). Provar ser o possuidor até a data do conflito é algo mais simples, algo que dará ensejo a uma decisão jurisdicional mais célere. O objetivo de uma ocupação e da defesa da posse subsequente quase nunca é o de adquirir a propriedade do imóvel em questão. O proprietário do bem imóvel ingressará, posteriormente, com uma ação reivindicatória (em regra), que tem por característica o fato de ser mais lenta, já que é baseada na comprovação de titularidade sobre o bem e tem o andamento processual ordi- nário, assim como a grande maioria das milhões de ações que se enfileira no Judiciário. Mas, até isso ocorrer, a garantia de que as ações possessórias não resultarão na remoção imediata dos ocupantes é um importante ganho para a mobilização social em torno da efetivação do direito à moradia. Ao serem mantidos na posse do imóvel até que a propriedade seja ava- liada pelo Judiciário, os ocupantes ganharão semanas ou meses a mais nos imó- veis, resolvendo temporariamente a questão da falta de moradia. Uma ocupa- ção prolongada acaba por revelar ainda mais a ausênciade políticas públicas habitacionais capazes de dar aos habitantes das cidades o bem mais básico que qualquer ser humano deseja possuir: uma casa. Acrescenta-se, ainda, que a permanência dos possuidores serve de denúncia contra o proprietário que se omite de destinar função social ao seu imóvel. O Poder Público, com isso, se sente pressionado em aplicar as sanções cabíveis. Nas palavras de Marcus Dantas (2013, p. 482): Como se indicou, nas ocupações normalmente realizadas o objetivo não é “pas- sar a ser o proprietário do bem”, até mesmo porque o juiz não pode, pura e simplesmente, desapropriar um imóvel e passá-lo para o nome dos ocupantes. Em verdade, a atuação dos movimentos sociais [...] têm o objetivo de chamar a atenção das autoridades públicas para a existência de uma dúvida acerca do cumprimento da função social por parte do proprietário do bem ocupado. 22 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA Independente do forte embasamento jurídico e social que existe na ocu- pação urbana praticada por movimentos sociais, na maioria dos conflitos fun- diários coletivos a defesa possessória não funciona devidamente. E aqui reside uma questão arraigada na cultura brasileira, perpetuada pela mídia e confirma- da pelas decisões dos magistrados: a criminalização dos movimentos de ocupa- ção, que se tornam “caso de polícia”, situações que devem ser extirpadas das cidades em nome da paz social e da defesa da propriedade privada. Resta ao próximo tópico a tarefa de avaliar se as alterações trazidas pelo novo CPC serão capazes de reverter essa lógica, possibilitando que as ocupa- ções coletivas não sejam consideradas menos legítimas do que a manutenção de propriedades imóveis carentes de função social. CONTRAPONTOS ENTRE O CPC DE 1973 E O CPC DE 2016 Contexto soCial e polítiCo O CPC de 1973 foi outorgado durante um regime de exceção, iniciado no Brasil com o golpe militar de 1964. Na época, as demandas sociais eram tidas como opostas à ordem e à segurança nacional, e as ocupações coletivas juridicamente tiveram o mesmo tratamento simplório dado aos conflitos indi- viduais (Viana, 2014, p. 67). Desse modo, as demandas diversas contidas nos aludidos conflitos nunca teriam espaço adequado para ser discutidas ao longo do processo judicial. É claro que a CF/1988 renovou toda a ordem jurídica do País, a ponto de muitos institutos jurídicos passarem a ser reinterpretados com o fim de se alinharem ao sistema. Infelizmente, isso não ocorreu, em termos práticos, com as ações possessórias. Apesar de orientações como as do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que os magistrados se pautem por princípios constitucionais atinentes ao direito à moradia e à função social da propriedade (Dantas, 2013, p. 466), du- rante o julgamento das ações possessórias, as regras processuais civis ainda são aplicadas ou mal aplicadas de acordo com o que for mais conveniente para os proprietários. Ao magistrado é conferida ampla possibilidade de realizar despe- jos de grupos de ocupantes sem considerar a complexidade de direitos funda- mentais envolvidos no caso concreto. A defesa da propriedade costuma ser a única motivação para todas as suas decisões. Nos últimos anos, essa limitação da lei processual para considerar as pe- culiaridades das ocupações coletivas foi questionada pelos movimentos sociais e pelas instituições ligados à causa da reforma urbana. E o momento parecia propenso. Um novo CPC estava sendo elaborado, dessa vez por meio de um processo altamente democrático. O PL que deu vida ao novo Código sofreu mais de novecentas emendas parlamentares durante todo o processo legislativo. RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������23 Mais de trezentas pessoas foram ouvidas em audiências públicas, inclusive os membros de todas as entidades de classe e associações que apresentaram suges- tões (Didier Jr., 2013, p. 1). Mas nem por isso podemos dizer que as demandas progressistas para a modificação nas regras das ações possessórias foram bem atendidas. Durante a elaboração do PL, forças conservadoras se posicionaram contra as demandas progressistas, com base no argumento de que as alterações propostas estimulariam as invasões coletivas, o que agravaria, segundo eles, os conflitos urbanos (Silva, 2015, p. 9). Independente da superficialidade do argu- mento apresentado, as principais alterações processuais pleiteadas pelo movi- mento reformista foram barradas, conforme será demonstrado a partir de agora. AÇÃO DE FORÇA NOVA E DE FORÇA VELhA Um elemento central para as ações possessórias é a questão da força nova e força velha. A lei civil brasileira resolveu conferir uma proteção maior àquele que intenta ação possessória no prazo de ano e dia, contado da data da agressão. As ações iniciadas dentro desse prazo são chamadas de força nova e geram a possibilidade de conferir uma liminar própria para os seus autores. Tal liminar foge da regra geral do sistema jurídico brasileiro, pois não exige os requisitos comuns das demais liminares, mas apenas o disposto no art. 927 do CPC de 1973: I – Demonstrar a posse anterior sobre a coisa; II – A turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III – A data em que a posse foi violada; IV – A preservação da posse, embora turbada em se tratando de ação de manu- tenção e a perda da posse em se tratando de ação de reintegração. A liminar permite ao juiz instituir a remoção dos ocupantes imediata- mente. Caso o prazo transcorra, a ação será de força velha, e a liminar própria a ser apresentada não será mais concedida. Isso não quer dizer que o autor não possa intentar uma liminar comum, mas o que dificulta a sua concessão é o re- quisito periculum in mora8, difícil de ser provado para alguém que permaneceu por mais de um ano sem procurar reaver a posse de seu bem. Houve tentativas de se eliminar essas regras no novo CPC caso o bem imóvel em questão não cumprisse uma função social, ou pelo menos quando se tratasse de ocupações coletivas. 8 Expressão latina que significa “perigo na demora”. Por exigência desse requisito, o autor da ação deve provar que, caso a proteção jurídica que ele demanda tarde a ocorrer, pode haver dano de difícil ou incerta reparação. Isso motivaria a concessão de uma medida liminar, que protegeria seus interesses jurídicos até que a ação seja julgada posteriormente. 24 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA Durante a elaboração do projeto de lei que originou o novo CPC, o De- putado Padre João chegou a encaminhar uma emenda parlamentar que procu- rou acrescentar o cumprimento da função social da propriedade como requisito para a concessão da liminar possessória. Na justificativa para a sua emenda, o aludido deputado redigiu: O requisito do cumprimento da função social para a tutela possessória é con- sequência direta da Constituição, em seus seguintes dispositivos: art. 5º, inci- so XXIII, art. 170, inciso III, art. 182 § 2º, art. 184, art. 185, parágrafo único e art. 186, regulamentados pelas Leis nºs 10.257/2001 e 8.629/1993. Para o Mi- nistro do Superior Tribuna de Justiça Teori Albino Zavascki, a função social da propriedade diz com a utilização dos bens, e não com sua titularidade. Função social da propriedade realiza-se “mediante atos concretos, de parte de quem efe- tivamente tem a disponibilidade física dos bens, ou seja, do possuidor, [...] seja ele detentor ou não de título jurídico a justificar sua posse”. Por isso a função so- cial diz mais respeito ao fenômeno possessório do que ao direito de propriedade. Esta é a importante lição do jurista Luis Edson Fachin, para quem a “função social é mais evidente na posse e muito menos evidentena propriedade”. Não existe sentido, na ordem constitucional vigente, em se proteger posse que não cumpra sua função social. (Siqueira, 2011) A supracitada emenda parlamentar acabou por ser rejeitada pela maioria dos legisladores, impedindo que a função social se tornasse um requisito para a concessão de liminares possessórias. Assim, indivíduos que abusam do seu direito de propriedade, não conferindo função social aos seus bens imóveis, continuam protegidos pela norma civil. DiferenCiação entre posse inDiviDual e Coletiva e a liminar própria Das ações possessórias Enquanto o Código de 1973 não faz qualquer distinção processual nas ações possessórias individuais ou coletivas, o novo CPC apresenta uma tímida diferença processual entre eles. Nas ações que recaírem sobre a posse coletiva, haverá a necessidade da realização de audiência de mediação para que seja concedida medida liminar. Como veremos a seguir, essa alteração será menos utilizada na prática do que se pensa. No momento, cabe elucidar que o novo CPC trata a posse coletiva com praticamente o mesmo cuidado que trata a indi- vidual, apesar de serem manifestações totalmente diferentes do ponto de vista social e político. a Citação A lei processual civil atual permite que a citação em casos de ocupação coletiva seja feita por edital, ou seja, por meio de veículos de comunicação oficial ou não que, espera-se, chegará ao conhecimento dos réus. A ação, com base nisso, é proposta contra todos indistintamente, sem que se identifique cada RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������25 um dos sujeitos envolvidos. Por ser uma citação ficta ou presumida, o processo seguirá mesmo que a coletividade de ocupantes não manifeste defesa. A regra é descrita por processualista Marcus V. Gonçalves (2011, p. 784): “Não sendo possível a citação pessoal, seja porque o local tornou-se inacessí- vel, seja porque não é possível identificar os invasores, o juiz autorizará que seja feita por edital, na forma do art. 231, I e II, do CPC”. Nota-se, por parte dos aplicadores do Direito, uma interpretação legal excludente, que transforma ocupantes em invasores perigosos que devem ser mantidos a distância, mesmo durante um processo judicial. É visível que o Po- der Público, por meio de suas instituições, agrava a cada dia o quadro de se- gregação urbana. Além de destruir, muitas vezes, os modos de subsistência dos grupos sociais mais vulneráveis, estimula a separação de culturas dentro de uma mesma cidade, delimitando que algumas “classes perigosas” (Dabrowski, 2003, p. 175) devem ter acesso restrito ao devido processo legal, em nome da segurança dos agentes do Estado e do proprietário autor da ação. As condições sociais dos ocupantes de imóveis urbanos muitas vezes impedem que eles tenham acesso aos meios de comunicação utilizados para propagar o edital, sendo que, na maioria das vezes, ela é veiculada em publi- cações oficiais do Judiciário, impressas ou virtuais. O resultado evidente disso é a remoção de pessoas que não tiveram a oportunidade de apresentar defesa. Para evitar esse notório atentado à legítima defesa e ao contraditório, o novo CPC dispõe, em seu art. 554, § 1º, que, “[...] no caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais”. Para isso, o oficial de justiça deverá procurar os ocupantes no local um por vez, citando-os individualmente. Apenas os que não forem encontrados após a diligência deverão ser citados por edital. Para ampliar ainda mais a existência da demanda, o § 3º do mesmo art. 554 ainda dispõe que “[...] o juiz deverá determinar que se dê ampla publi- cidade da existência da ação prevista no § 1º [...], podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios”. Dois são os efeitos imediatos desse dispositivo: primeiramente, aumentará a segurança dos ocupantes em conhecerem a exis- tência da ação possessória; e, em segundo lugar, permitirá que toda a sociedade tenha conhecimento do conflito possessório. Assim, tanto as omissões do Estado em prover moradia popular quanto a existência de terrenos urbanos carentes de função social serão levados a público. Para que a defesa dos direitos da coletividade seja ainda mais efetivada, de forma simultânea à citação dos ocupantes ocorrerá a intimação do Ministério Público e da Defensoria Pública (em casos de hipossuficiência econômica). Es- 26 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA pera-se que a participação desses órgãos em todas as ações possessórias coleti- vas reduza o número de violações ao direito da ampla defesa e do contraditório, além do respeito à dignidade dos ocupantes durante todo o processo judicial. a função soCial Da proprieDaDe Como requisito De ConCessão Da liminar Parte da doutrina aponta que, apesar de a função social da proprieda- de não estar entre os requisitos para concessão de liminar especificados no art. 927 do CPC de 1973, uma simples análise sistemática do ordenamento jurídico poderia colocá-lo como tal. Isso decorre do fato de o sujeito que alega que sua posse foi violada injustamente deve provar que está exercendo essa posse dentro dos limites da legalidade, ou seja, deve demonstrar que a sua pos- se é justa. É esse o fundamento maior da ação possessória: coloca que a posse injusta deve deixar de existir, abrindo caminho para o exercício de uma posse justa. Então, se a função social é descumprida, a posse é injusta e, por isso, não merece proteção jurídica. No âmbito das ações possessórias, a função social é tão importante que muitos juízes costumam motivar as remoções com base no fato de o proprie- tário cumprir alguma função social. Analisando julgados do Paraná, Marcus E. Dantas (2013, p. 475) chegou à conclusão de que os magistrados costumam colocar o cumprimento da função social como “[...] mecanismo de qualifica- ção da posse quando tal verificação é benéfica para o autor da ação”. O oposto acontece quando esse fato irá prejudicar o proprietário que ingressou com a ação, oportunidade em que os magistrados frisam que a função social da pro- priedade não é elemento a ser tratado durante a ação possessória, muito menos como fundamento para concessão de liminar. O visível desequilíbrio entre as diferentes partes que compõem as ações possessórias preocupa os setores mais progressistas da sociedade há tempos. Isso motivou que parte das demandas levadas ao Congresso Nacional durante a elaboração do novo CPC fosse justamente relativa à inclusão da função so- cial da propriedade como requisito para concessão de liminar. A análise dessa questão não poderia depender apenas do juízo de valor dos magistrados, mas, pelo contrário, deveria se tornar um arcabouço de regras das quais os juízes não poderiam deixar de seguir. E essa talvez tenha sido a maior derrota da reforma urbana durante a confecção do novo Código: a ausência da função social da propriedade como requisito expresso. a auDiênCia De meDiação A concessão de liminar costuma ser um ato judicial que independe de uma análise mais profunda sobre o caso e de ouvir a versão da parte contrária. RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������27 É uma medida excepcional no sistema jurídico, e é fornecida para casos em que o autor da ação possa apresentar elementos probatórios que permitam ao magistrado ter uma compreensão com relativa precisão, mesmo estando “a dis- tância” do fato social que gerou o conflito jurídico. Há situações, por sua vez, em que o juiz,não conformado apenas com as alegações do autor da ação, pode entender necessária a avaliação mais profunda dos fatos. Duas medidas podem ser adotadas: (a) a inspeção judicial, pela qual o magistrado irá ao lo- cal gerador do conflito para se certificar da existência das circunstâncias que motivem a liminar; ou (b) audiência de justificação prévia, na qual o autor e o seu advogado serão convocados para fornecer mais esclarecimentos, podendo estar presente também o próprio, salvo se o conhecimento deste puder tornar a medida ineficaz. Atente-se para o fato de que é o juiz que determinará, conforme o seu en- tendimento, se esses procedimentos serão ou não necessários. Esse é o motivo para, na prática, serem utilizados muito raramente, principalmente nos conflitos possessórios coletivos. Para reverter essa situação pela qual decisões são emi- tidas pelo Judiciário sem que haja uma análise mais fiel da realidade social, os movimentos sociais e as instituições ligados à causa da reforma urbana defende- ram mudanças processuais que tornem a audiência de justificação prévia uma etapa obrigatória para a concessão das liminares, quando essas recaírem sobre uma ocupação coletiva. Durante os debates sobre o novo CPC, essa audiência foi aperfeiçoada até o ponto de criarem o instituto da audiência de mediação. Segundo o art. 565 do novo CPC, nas ações possessórias de força velha, a liminar só poderá ser concedida após audiência de mediação a ser realizada no prazo de 30 dias. O Ministério Público e a Defensoria Pública serão intimados a comparecer, assim, como órgãos responsáveis pela política agrária ou urbana dos três níveis de governo. Por ser uma audiência de mediação, os réus terão espaço obrigatório nelas. Assim, o juiz deverá ouvir as suas versões e conhecer as suas perspectivas antes de conceder a liminar. A audiência de mediação seria uma grande inovação do novo CPC caso não fosse restrita às ações possessórias de força velha. Possuidores que ocupem imóveis por menos de um ano e dia não poderão se valer desse recurso tão im- portante para a construção política e social do direito à moradia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A dinâmica com que o Judiciário encara as ações possessórias necessita de mudanças capazes de impedir que os juízes decidam sem observar os valo- res contidos nos documentos internacionais de direitos humanos e na CF/1988. Não resta dúvida de que as remoções forçadas são uma ameaça à concretização de uma diversidade de direitos humanos fundamentais. Sabe-se que o acesso à 28 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA moradia adequada é uma pré-condição para “[...] a realização de vários outros direitos humanos, incluindo o direito a trabalho, saúde, segurança social, voto, privacidade, dentre outros” (Brasil, 2013, p. 69), e isso se explica pelo fato de os direitos humanos serem indivisíveis e inter-relacionados, principalmente um direito tão essencial como o de ter um lugar onde habitar. O próprio direito à cidade, enquanto potencialidade para viver a cidade e participar do seu projeto futuro, parte do princípio que o cidadão deve, primeiro, se estabilizar em um local, para que, depois, possa encarar a dinamicidade urbana. Sem a estabilida- de, não se vive o dinâmico. Depois de lutar pela elaboração normativa que enriquecesse o conteúdo do direito à moradia, os movimentos sociais e as instituições ligados à causa da reforma urbana foram assertivos em direcionar seus esforços para modificar as regras processuais que transformam esse direito em decisões judiciais favoráveis às populações segregadas sócio e espacialmente. O problema é que o recente envolvimento com as modificações no CPC não geraram tantos frutos, como pode ser verificado nos tópicos anteriores. Dificilmente as novas regras irão produzir melhorias significativas na concretização do direito à moradia e no respeito a outros direitos humanos. Independentemente de as modificações do novo CPC serem tímidas, elas precisam ser conhecidas e aproveitadas ao máximo. Além disso, as suas limita- ções precisam ser bem delimitadas, para que se tornem fundamentos de futuros debates na arena política. Reconhecendo essas necessidades, o presente estudo apontará, de forma objetiva, para alguns pontos que merecem atenção de to- dos aqueles que se debruçam sobre a temática do direito à cidade e do direito à moradia. Esses mesmos pontos se tornarão experiências interessantes para serem apresentadas, inter-relacionadas e (re)assimiladas pelo Brasil no contexto internacional, sobretudo na conferência da Habitat 3 da ONU. É o momento de mencioná-los: 1. A posse não é uma ameaça ao direito de propriedade. As ações possessórias não podem ensejar a assimilação da propriedade por parte do possuidor. Elas apenas o mantém na posse até que a titu- laridade do imóvel seja avaliada em ação posterior, mantendo a paz social até lá. É, por isso, um instrumento de estabilização social fundamental para a sobrevivência do próprio instituto da proprieda- de privada. A opinião pública, baseada em interpretações midiáti- cas e excludentes, acaba colocando as remoções como alternativa necessária para que o proprietário retome o seu imóvel, o que não passa de uma grande falácia. Nesses casos, a única forma que um sujeito pode perder a sua condição de proprietário perante o bem é a seguinte: a ocupação coletiva pode levantar questionamentos do Poder Público com relação à existência de função social em RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������29 determinado imóvel urbano, o que pode ensejar medidas como a expropriação. Salienta-se que isso não decorre da ocupação em si, mas do cumprimento das normas constitucionais que não permite que imóveis urbanos permaneçam com quem não os dê função so- cial (Marés, 2003, p. 117). 2. Em análise sistemática do atual ordenamento jurídico processual, já existe a possibilidade de a função social da propriedade se inserir no rol de requisitos para a concessão de liminar. O proprietário que não dá destinação social ao seu imóvel urbano, descumprindo preceitos constitucionais, tem apenas a posse injusta sobre o mes- mo e, por isso, não merece a proteção jurídica. O presente estudo abordou a essencialidade que a função social da propriedade tem para a efetivação do direito à moradia. 3. A questão da posse de má-fé por parte dos ocupantes de imóveis urbanos que não cumprem função social deve ser enfrentada com os mesmos argumentos. A posse em ocupações de movimentos so- ciais é tida como injusta pela maioria dos aplicadores do Direito. Mas o fato de o proprietário também não ter a posse justa acaba impedindo que a permanência dos ocupantes no imóvel litigioso seja interrompida por ação possessória. 4. A citação de todos os ocupantes se tornou elemento obrigatório na ação possessória. Caso seja descumprida, a própria decisão judicial poderá ser derrubada posteriormente, por meio de ação rescisória. Talvez seja um mecanismo capaz de reverter mandados de despejo decididos com cerceamento de defesa. 5. As liminares precisam ser medidas judicias excepcionais nos ca- sos de conflitos fundiários coletivos, aliás, elas têm a característica de verdadeiras tutelas antecipadas, já que “[...] a retirada imediata dos ocupantes esvazia completamente o fato social criado com a ocupação, o que dificulta a reversão do resultado posteriormente reconhecido como injusto” (Dantas, 2013, p. 480). 6. A audiência de mediação será um instituto pouco verificado na prática, já que fica restrita às ações de força velha. Mesmo assim, as instituições e os movimentos sociais ligados à causa da reforma urbana devem se aperfeiçoar no sentido de aproveitar ao máximo as oportunidades que possam surgir com a audiência. Um cuida- do, porém,deverá ser tomado: a mediação a ser aplicada nessas audiên cias não deve ser feita com técnicas convencionais de reso- lução de conflito, úteis nos litígios privados, mas prejudiciais em situações que envolvem grande número de pessoas vulneráveis so- 30 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA cialmente. A mediação não pode encarar os dois lados como iguais, pois direitos dos mais fundamentais estão sendo confrontados com privilégios. 7. A evolução dos aspectos processuais que possibilitam a resolução dos conflitos fundiários coletivos também precisa compreender outros institutos jurídicos além da posse. Instrumentos como a usu- capião urbana e a concessão real do direito de uso, por exemplo, poderiam se tornar mais presentes no cotidiano das cidades brasi- leiras caso fossem regidos por regras processuais que considerassem os direitos fundamentais envolvidos nos litígios jurídicos advindos, sobretudo, de ocupações coletivas. 8. Independente dos avanços normativos ocorridos nas últimas déca- das, a cultura do Judiciário precisa ser modificada, no sentido de formar juízes mais aptos a resolver os conflitos fundiários, conside- rando os direitos fundamentais envolvidos e consolidando os dispo- sitivos constitucionais atinente à efetivação do direito à cidade. A própria estrutura do Judiciário deve abrir espaço para a criação de varas próprias para o julgamento de conflitos fundiários urbanos, que agreguem funcionários públicos capazes de captarem as nuan- ces que emanam do referido conflito. As reais consequências que o novo CPC trará aos conflitos fundiários ur- banos ainda são desconhecidas. Deverão ser analisadas com o passar do tempo, para que, depois, possam ser debatidas entre os diversos segmentos da socieda- de. Sabe-se que a mera modificação legislativa muitas vezes não é capaz efeti- var direitos, necessitando de um grande esforço social no sentido de controlar o processo de aplicação das normas jurídicas. E uma real mudança relativa à efetivação de direitos humanos fundamentais não está dissociada do próprio meio como o Direito é apresentado à sociedade. No Brasil, o sistema jurídico ainda é tido mais como uma estrutura de normas a ser imposta à sociedade, e não como um instrumento a serviço dessa sociedade. Pensa-se no direito enquanto formalidade, e não enquanto função. Ensina-se “o que é direito”, mas pouco sobre “para que serve o direito” (Bobbio, 2007, p. 51). Essa mudança de perspectiva, chamada de teoria funcional do di- reito, é proposta por Norberto Bobbio e aponta para outro foco na relação entre a lei e os seres que são regidos por elas. Uma nova teoria sobre o Direito também traria entendimentos mais re- levantes sobre a proteção jurídica da propriedade. Difundir “para que serve o direito de propriedade” seria um grande passo para que a função social da cidade pudesse ser melhor desenvolvida no ordenamento jurídico brasileiro. E, seguindo o ponto de vista de Jacques Távora Alfonsin (2006, p. 175), essa RDI Nº 39 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������31 função da propriedade deve receber status de “social” somente se servir como vetor de desenvolvimento dos direitos sociais, entre os quais o direito à moradia é um dos mais fundamentais. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Ana Rita Vieira. 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