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Leishmaniose Tegumentar ou Cutânea VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓG ICA Problema de saúde presente nas Américas, Europa, África e Ásia. Ocorre em ambos os sexos e em todas as faixas etárias, mas predominam os maiores de 10 anos e o sexo masculino. DEFINIÇÃO Doença infecciosa, não contagiosa. Acomete pele e mucosas. Primariamente, é uma infecção zoonótica, afetando outros animais que não o ser humano, envolvido secundariamente. AGENTE ETIOLÓGICO Leishmania, protozoário da família Trypanosomatidae. VETORES Insetos FLEBOTOMÍNEOS. HOSPEDEIROS E RESERVATÓRIOS SILVESTRES: espécies de roedores (figuras 10 a 12), marsupiais, edentados, quirópteros, e canídeos silvestres. DOMÉSTICOS: gatos e cães TRANSMISSÃO Picada de insetos fêmea infectados. Não há transmissão de pessoa para pessoa. PERÍODO DE INCUBAÇÃO Em média de 2 a 3 meses. FISIOPATOGENIA No intestino do inseto vetor, a forma promastigota faz metaciclogênese (processo em que para de reproduzir e se torna infectante) e se torna uma promastigota metacíclica. Nesse processo, elas perdem a capacidade de ficar aderida a parede do intestino do mosquito, se destacam e migram p/ faringe e cavidade bucal, para onde são transmitidas para o hospedeiro na picada. As formas reprodutivas não infectantes (procíclicas) ficam presas à parede do tubo digestivo do inseto vetor. Depois da inoculação, as promastigotas precisam sobreviver aos mecanismos de defesa do hospedeiro. A metaciclogênese dá a essa forma uma resistência maior a lise pelo sistema complemento As prmstgts entram na pele e encontram células do sistema imune (linfócitos T e B, macrófagos residentes, células de Langerhans, mastócitos). O parasito se adere a superfície dos macrófagos e células de Langerhans, passando p/ o meio intracelular por fagocitose, onde se se transforma na forma amastigota, característica do parasitismo nos mamíferos. Os das células de Langerhans vão p/ os linfonodos, infectam essa região e a modificam, possibilitando sua migração. Dentro das células de drenagem, partículas antigênicas do parasito são apresentadas ao sistema imune e essas vão para o sitio de infecção para ajudar na formação do processo inflamatório. Nos macrófagos, os prmstgts ficam em um vacúolo (fagolisossoma) que os separa do citoplasma celular. Esse vacúolo é a fusão da fagocitose dos parasitos com os lisossomas que tem substancias para a destruição de microrganismos. As Leishmanias desenvolvem mecanismos superiores a ação microbicida dos macrófagos, sobrevivendo nesse ambiente, multiplicando-se até a ruptura dessa célula. Quando liberadas, infectam outro macrófago. Esse processo libera partículas antigênicas que são apresentadas ao sistema imune, gerando uma resposta. As prmstgts que não forem internalizadas (meio intracelular), vão ser destruídas no meio extracelular pela resposta inata e as partículas antigênicas produzidas neste processo também poderão ser utilizadas pelas células apresentadoras de antígeno no processo de reconhecimento antigênico. A localização das amastigotas nos macrófagos faz com que o controle da infecção dependa da resposta imune mediada por células. A principal célula da eliminação das amastigotas é o macrófago, após sua ativação por linfócitos T auxiliadores (helper). As células do sistema imune comunicam-se por meio de citocinas, as produzidas pelos linfócitos são chamadas de linfocinas. Os linfT ativam os macrof, fazendo com que destruam amastigotas pela secreção da linfocina interferongama (IFN-γ). Ativados, os macrófagos destroem as amstgts com a síntese de intermediários tóxicos de oxigênio e nitrogênio, como o NO. Na fisiopatogenia das leishmanioses, os macrófagos são ao mesmo tempo células hospedeiras, apresentadoras de antígeno para o sistema imune e efetoras para a destruição do parasito. As células T helper CD4+ tem uma resposta adaptativa a patógenos específicos. De acordo com o tipo de linfocina que for produzida após a estimulação genica, as TCD4 podem se dividir nas Thelpers 1 (TH1) e Thelpers2 (TH2). Na lesão, parece haver um equilíbrio entre uma imunidade celular protetora e uma exacerbadora da doença. Por fim, as células Th 1 predominam e ocorre a cura da lesão, deixando uma cicatriz atrófica no local. Leishmaniose Tegumentar ou Cutânea ASPECTOS CLÍNICOS 1. Infecção inaparente Infecção sem manifestação aparente, ou seja, quando o Teste Intradermico de Montenegro (IDRM) da positivo sem lesão atual ou pregressa. 2. Leishmaniose Cutânea Mácula por 2 dias > pápula que aumenta progressivamente > lesão ulcerada. A forma cutânea representa a manifestação clínica mais frequente. Lesões indolores; tendem a cicatrizar; formato arredondado ou ovalado; base eritematosa infiltrada e de consistência firme; bordas elevadas e bem delimitadas; fundo avermelhado; granulações grosseiras. Geralmente são únicas ou em pequeno número. Pode apresentar dois tipos clínicos: a) Leishmaniose cutânea localizada Acometimento primário da pele; lesão ulcerada, tende a cura espontânea, boa resposta ao tto, única ou múltipla (até 20). b) Leishmaniose cutânea disseminada Forma incomum (2%), múltiplas lesões papulares (centenas), aparência acneiforme, acometem vários segmentos corporais, frequentemente em face e tronco. São ulceras de fundo granuloso e bordas elevadas. O processo de disseminação acontece depois das lesões primarias por disseminação do parasito pelo sangue ou linfa. Há acometimento mucoso em 30% dos pacientes, além de febre, mal-estar geral, dor muscular, emagrecimento e anorexia. c) Forma recidiva cútis Caracteriza-se por ativação da lesão nas bordas, após cicatrização da lesão, mantendo-se o fundo com aspecto cicatricial. A resposta terapêutica costuma ser inferior à da lesão primária d) Forma cutânea difusa Causada pela L. (L.) amazonenses; forma clínica rara e grave; ocorre em pacientes com anergia e deficiência específica na resposta imune celular a antígenos de Leishmania. Início insidioso; lesão única e má resposta ao tratamento; evolui de forma lenta com formação de placas e múltiplas nodulações não ulceradas recobrindo grandes extensões cutâneas. A resposta à terapêutica é pobre ou ausente e a IDRM apresenta-se negativa. 3. Leishmaniose Mucosa Presença de lesões destrutivas localizadas na mucosa, em geral nas vias aéreas superiores. A forma clássica de LM é secundária à lesão cutânea. Em alguns, a lesão mucosa ocorre por extensão de lesão cutânea adjacente (contígua) e há também aqueles em que a lesão se inicia na semimucosa exposta, como o lábio. O início é insidioso; pouca sintomatologia; lesão é indolor; inicia-se no septo nasal anterior, cartilaginoso, próxima ao introito nasal, sendo de fácil visualização. A mucosa nasal é a mais acometida, mas podem haver lesões em orofaringe, palato, lábios, língua, laringe e, excepcionalmente, traqueia e árvore respiratória superior. a) Tardia Forma mais comum; pode surgir anos após cicatrização da cutânea; associada a lesões cutâneas múltiplas ou de longa duração; b) Sem lesão cutânea prévia c) Concomitante Qd a lesão mucosa acontece a distância, porem ao mesmo tempo em que a lesão cutânea ativa. Na tabela, as principais manifestações da LT: FORMA CARACTERÍSTICAS CUTÂNEA Lesões únicas ou múltiplas indolores, com a espécie e resposta imunológica. Começa como pápula eritematosa > nódulo > úlcera. Podem ser úmidas ou secas (com crosta central). Persistem por meses /anos e se curam espontânea- mente. CUTÂNEA DIFUSA Mais rara. Começa com uma pápula que não ulcera, formando múltiplos nódulos na face e extremidade. Progride lentamente e pode persistir por décadas. MUCOSA Pequena % dos infectados por L. braziliensis pode desenvolver. Atinge nariz, boca, faringeou laringe. Geralmente aparece após meses/anos da cicatrização da 1ª ulcera cutânea. As lesões podem destruir septo nasal ou palato. Leishmaniose Tegumentar ou Cutânea d) Contigua Acontece por propagação direta da lesão cutânea localizada próxima a orifícios naturais, para a mucosa das vias aerofigestivas. A cutânea pode estar ativa ou cicatrizada no diagnóstico. e) Primária Ocorre eventualmente pela picada do vetor na mucosa ou semimucosa de lábios genitais. DIAGNÓSTICO A confirmação é por meio da identificação dos amastigotas no tecido ou do crescimento em cultura de promastigotas. Para isto, a análise é feita através de realização de biopsia e aspirado da margem da lesão. Este material é utilizado para analise em lâmina e para cultura. A cultura é feita no meio NNN e é pouco sensível (40%), demora semanas para ficar pronto. A sorologia tem sensibilidade de 75%. TRATAMENTO NOTIFICAÇÃO Doença de notificação compulsória, em que todo caso confirmado deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, por meio da Ficha de Investigação da Leishmaniose Tegumentar Americana do Sinan. MEDIDADAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE PRENVENÇÃO Uso de repelentes Evitar exposição nos horários de atividades do vetor crepúsculo e noite Uso de mosquiteiros, telagem de portas e janelas; Limpeza de quintais e terrenos, Poda de árvores, de modo a aumentar a insolação, para diminuir o sombreamento do solo e evitar condições favoráveis Destino adequado do lixo orgânico, Limpeza periódica dos abrigos de animais Manter animais domésticos distantes do intradomicílio durante a noite CONTROLE As estratégias de controle devem ser flexíveis, distintas e adequadas a cada região ou foco em particular. Para definir as estratégias é necessário: Descrição dos casos segundo idade, sexo, forma clínica, local de transmissão (domiciliar ou extradomiciliar); Distribuição espacial dos casos; Investigação na área de transmissão, para se conhecer e buscar estabelecer determinantes, tais como: Presença de animais, a fim de verificar possíveis fontes alimentares e ecótopo favorável ao estabelecimento do vetor; Presença de lixo, que poderá atrair animais filantrópicos para as proximidades do domicílio; Identificação de condições de moradia que facilitam o acesso do vetor; Delimitação e a caracterização da área de transmissão. CONTROLE QUÍMICO Recomenda-se usar inseticidas como medida de controle vetorial. Serve apenas p/ inseto adulto, com o intuito de reduzir o contato do inseto com o humano e assim o risco de transmissão. O controle químico está recomendado em: a) Áreas com ocorrência de + de 1 caso humano de LT em um período máx. de 6 meses do início dos sintomas em áreas novas ou em surto, associado a evidências de que a transmissão venha ocorrendo no ambiente domiciliar. b) Áreas com ocorrência de casos humanos de LTA na faixa etária inferior a 10 anos, num período máximo de 6 meses do início dos sintomas, entre a ocorrência de um caso e outro, associado a evidências de que a transmissão venha ocorrendo no ambiente domiciliar. A área a ser borrifada tem que ser de um raio de 500m de início, em volta das casas onde ocorreram os casos. Em áreas rurais, qd as casas são muito longe uma das outras, aumentar raio p/ 1km. - Primeira escolha: antimonial pentavalente (Glucantime), 15 mg/kg/dia de antimônio (formas cutâneas puras) ou 20 mg/kg/dia (formas cutaneomucosas), via IM ou IV, por 10-30 dias. - Outras opções: Anfotericina B 25-50 mg/dia, IV, até completar a dose cumulativa de 1.200- 2.000 mg do antibiótico OU Pentamidina 4 mg/kg, IV, a cada dois dias (mais eficaz para a Leishmania guyanensis).
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