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de risco, como mergulhar de cabeça em piscina rasa ou colocar o dedo na tomada. U4 - Psicologia e desenvolvimento194 Em relação ao enfrentamento da morte na velhice, o modelo de Kübler-Ross descreve os cinco estágios emocionais vivenciados durante o processo de morrer.Este modelo foi desenvolvido a partir de importante pesquisa desenvolvida com cerca de 500 pacientes terminais. A primeira fase do modelo de Kübler-Ross foi denominada negação. Ao saber que é portador de doença terminal o sujeito nega esta condição, assim, sente ter mais tempo para reunir condição emocional para confrontar tal situação. A autora observou que a negação é uma condição temporária que logo é substituída pela aceitação parcial. Kübler-Ross (1996) compreende a negação temporária como um modo saudável de lidar com a intensa dor provocada pela notícia que anunciou a proximidade de sua própria morte. Funciona como um para-choque que possibilita reunir forças para adotar uma postura menos radical diante da realidade. A segunda fase do estágio emocional diante da proximidade da morte é a raiva. Essa fase é caracterizada pelos sentimentos de revolta, fúria, ressentimento e inveja dirigidos a familiares, amigos, Deus e à equipe de saúde. É comum o sujeito perguntar-se “por que eu?”. Nessa fase, hostiliza seus cuidadores, desqualifica o tratamento, o conhecimento e a capacidade de médicos e enfermeiros contudo; quando o paciente é respeitado e compreendido, as agressões diminuem. É importante que os profissionais entendam que as ofensas não são pessoais. Trata-se da reação emocional diante da morte. Assimile De acordo com Kübler-Ross (1996), a raiva se propaga em todas as direções no ambiente onde se encontra o sujeito em estado terminal. Nesse estágio, as visitas dos familiares não melhoram o estado psíquico ou emocional desse sujeito. Ao contrário, as visitas são vivenciadas como um encontro penoso e difícil. O terceiro estágio é a barganha. Trata-se de uma estratégia cujo objetivo é negociar o prolongamento da vida ou de alguns dias sem dor. É comum o sujeito fazer promessas, doar bens, intensificar a ida à igreja buscando adiar o desfecho inevitável. Negocia sua melhora prometendo realizar tarefas, algo semelhante a pagar uma promessa. Mesmo pessoas não apegadas à religião aprofundam suas crenças e voltam-se a Deus. A autora indica esse momento como um período apropriado para elaborar o luto. U4 - Psicologia e desenvolvimento 195 Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/m%C3%A3o-de-mulher-chinesa-antiga-de- ora%C3%A7%C3%A3o-de-de-ter%C3%A7o-gm479235520-67801963>. Acesso em: 8 abr. 2016. Figura 4.5 | Alusão ao estágio da barganha Reflita Arrependimentos por situações concretas ou fantasiosas entendidas como pecados fazem que o adoecimento seja sentido como castigo pelo doente (KUBLER-ROSS, 1985). O quarto estágio é denominado depressão. O sujeito cultiva o silêncio, se retrai, cultiva a desesperança, apresenta perturbações no sono e na alimentação. Tal tristeza está relacionada aos efeitos da doença, às limitações físicas, à redução da autonomia ou, ainda, ao prolongamento da hospitalização, além da iminência da abreviação da vida. A superação dessa fase requer o enfrentamento da dor, do choro da perda de uma condição que não pode ser transformada ou mudada. Nesse estágio, de acordo com Kübler-Ross (1996), o isolamento deve ser assistido e a equipe de saúde deve respeitar os momentos de silêncio. A aceitação é a última fase dos cinco estágios emocionais de Kübler-Ross (1996). Nesse período, observa-se a superação do conflito diante da morte. O sujeito passa a organizar sua vida considerando a proximidade da morte, sem relutar diante desta realidade. Atinge a serenidade diante da morte e do morrer. O modelo de Kübler-Ross, apesar de ser um marco na área da tanatologia, não é uma unanimidade. Diversos autores contestam o cumprimento da sequência das fases emocionais, pois acreditam que U4 - Psicologia e desenvolvimento196 muitas pessoas não experimentam algumas dessas fases. Entendemos que a experiência diante da morte é marcada por oscilações emocionais que determinam um processo dinâmico e subjetivo. Pesquise mais Para saber mais sobre a morte e o processo de luto, leia o artigo intitulado ''Quando a morte não tem mais poder: considerações sobre uma obra de Elisabeth Kübler-Ross'', publicado na Revista Bioética, v. 22, n. 2, 2014. Disponível em: <http://www.revistabioetica.cfm.org.br/index.php/ revista_bioetica/article/view/915/1041>. Acesso em: 1 mar. 2016. Outro aspecto importante diante da morte é a necessidade espiritual e física. A dimensão espiritual compõe a dimensão humana, contudo é muito comum as pessoas se pronunciarem em relação a esse aspecto somente em momentos de crise, como diante da consciência da finitude. A espiritualidade envolve reflexão, busca do sentido da vida e também do morrer. Pode ou não estar acompanhada de uma religião e tem a função de auxiliar no processo de enfrentamento de situações adversas (BRITO et al., 2013). A espiritualidade é um importante recurso na busca de superação do sofrimento existencial e de conflitos internos. Pode restabelecer vínculos afetivos e promover a compreensão da finitude da vida, diminuindo, portanto, o sofrimento psíquico (VASCONCELOS, 2006; SOARES; LIMA, 2005 apud COSTA, 2013). Além disso, o final da vida para o sujeito acometido por alguma enfermidade impõe a necessidade de atenção voltada ao controle da dor, ao alívio dos sintomas e à melhoria da qualidade de vida, o que será obtido quando este indivíduo e sua família receberem suporte nesse sentido. Esses cuidados proporcionados a pacientes que não mais respondem aos tratamentos que visam o restabelecimento da saúde são denominados cuidados paliativos. O controle dos sintomas torna-se prioritário, assim como a participação da família tem importante papel na melhora da qualidade de vida e aumento do conforto do paciente. Contudo, algumas famílias não reagem de modo positivo ao diagnóstico da doença terminal e se fecham para o diálogo (FERREIRA; SOUZA; STUCHI, 2008). Diante da finitude da vida, o sujeito manifesta importante e variada experiência psicossocial. A forma como reage diante dessa situação está diretamente relacionada ao modo como usará o tempo de vida que lhe resta. U4 - Psicologia e desenvolvimento 197 Faça você mesmo Pesquise em sua família os significados atribuídos à morte. Verifique diferenças e semelhanças entre as gerações mais velhas e as mais jovens na forma como vivenciam o processo de luto. Pergunte se adotam algum ritual para enfrentar o luto. Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/foto/acabei-de-ouvir-as-not%C3%ADcias- gm174938736-23154530>. Acesso em: 8 abr. 2016. Figura 4.6 | Cuidados físicos ou paliativos Sem medo de errar Dona Isaura é uma senhora de 87 anos, está lúcida e não tem família. Foi acometida por uma grave doença e encontra-se em estado terminal. Retornou do hospital para a casa de repouso, pois seu tratamento, a partir de agora, é paliativo. Aparentemente reagiu bem ao receber o prognóstico de poucos meses de vida. Contudo, passou a agredir a equipe de saúde e solicita a presença constante de seu cuidador. Não está satisfeita com os cuidados que recebe: diz que os enfermeiros são incompetentes e os médicos são “uns folgados” que nada entendem de seu quadro de saúde. Sempre se definiu como uma mulher de pouca fé, contudo, ultimamente, começou a rezar. Ajude Patrícia a elaborar a compreensão do estado psíquico da interna e indicar o modo de interação mais apropriado. Para ajudá-la, consulte o texto e busque entender o modelo de Kübler-Ross e o papel da religiosidade na última fase da vida. U4 - Psicologia e desenvolvimento198 Atenção A espiritualidade envolve