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1 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Introdução à Imunologia INTRODUÇÃO O sistema imune é composto por órgãos, células de defesa e moléculas. Esse sistema tem a função de manter a homeostase do organismo, para isso ele reconhece patógenos, reage a eles, responde, regenera, repara, elimina etc. A função do sistema imune não é basicamente “proteger” ou “defender” o organismos. Esse sistema imunológico, além de outras funções, tem a função de controlar alguns componentes que, inclusive, fazem parte do próprio sistema. Porém, a função não é so exclusiva para defesa/agressão de patógenos. Tendo em vista que ele é responsável pela manutenção da homeostase e para isso ele deve controlar componentes próprios (células alteradas/tumorais, por exemplo) e componentes externos, entra a questão de quem são os invasores, que irão desequilibrar o estado de homeostase e induzir o estado de doença? ANTÍGENOS Antígenos são componentes externos ao corpo que não apresentam normalmente reconhecimento dele, são qualquer coisa que pode vir a ser reconhecida, que pode gerar ou não uma resposta imunológica. Podem ser e vir de microrganismos (bactérias, vírus, protozoários etc.) ou até partículas não vivas do ambiente (ex.: pólen, pó da vale). Há coisas que desencadeiam respostas do organismo, porém não são antígenos (Ex.: uma pancada). Existem antígenos próprios, que são reconhecidos pelos sistemas, porém em situações de homeostase não geram resposta. O que gera resposta é o reconhecimento de componentes/antígenos estranhos a minha composição. Além disso, a maior fonte de substâncias estranhas que entramos em contato imediatamente vem da nossa alimentação, porém criamos tolerância durante a vida aos antígenos alimentares, já que eles são apresentados num ambiente anti-inflamatório (trato gastrointestinal), por isso uma resposta a eles é menos comum. Resumindo, o reconhecimento de um antígeno num contexto anti-inflamatório inibe uma resposta. Entretanto, pode ocorrer uma alteração nesse ambiente supressor durante a apresentação de antígenos e essa apresentação das proteínas de alimentos (Ex.: camarão, chocolate) acontecer em um momento sem o ambiente anti-inflamatório, gerando a possibilidade de resposta. Sendo assim, percebe-se que a via de administração é importante para modular o tipo de resposta imunológica. É a partir desse conceito que há a diferenciação entre vacinas subcutâneas, vacinas intramusculares etc. Além da via de administração, a resposta imunológica depende de características genéticas do indivíduo, quantidade de antígeno administrado e a característica mais alergênica/imunogênica do antígeno. Além disso, a exposição antigênica ao longo da vida do indivíduo também interfere na ocorrência ou não de resposta. OBS.: O que é imunologia? “Imuno” = Senado / “Logos” = Estudo. Imunologia é o estudo ou conhecimento de algo que nos deixa protegido (deixa “Intocado”), o sistema imune. OBS.: Para uma resposta antígeno-específica, são necessários 3 componentes: a célula que apresenta o antígeno, o antígeno e a célula que reconhece esse antígeno. Na falta de qualquer um desses 3 componentes, não há resposta antígeno-específica (resposta imunitária dependente de célula T). OBS.: Células imunes associadas ao trato gastrointestinal estão sobre constante permanência de citocinas anti- inflamatórias, duas delas são a Interleucina 10 (IL10) e a TGF, que suprimem a ativação da célula T. CAP. 1 - ABBINHAS / PROF. DANIEL 2 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Resumindo, a exposição à antígenos por via oral, que são apresentados em um ambiente anti-inflamatório, tendem a não induzir respostas imunológicas. HISTÓRICO Embora a imunologia seja uma ciência nova, existem indícios muito antigos dos fenômenos imunológicos. Existe uma escrita, feita pelo historiador Tucídides em 430 a.C durante a Guerra do Peloponeso. Durante essa guerra ocorreu um surto de peste que dizimou uma grande quantidade de soldados, porém Tucídides percebeu que os indivíduos que tomavam conta dos soldados doentes eram indivíduos que já tinham pegado a peste e sobrevivido, então pessoas que pegaram praga uma primeira vez, não desenvolviam uma segunda vez. Nesse relato, Tucídides diz que ninguém adquiriu a doença duas vezes ou, se adquiriu, o segundo ataque nunca foi fatal. Este é o primeiro relato sobre a memória imunológica, o princípio da vacina. A primeira vacina criada foi a da varíola. Edward Jenner, o pai da imunologia, foi quem desenvolveu. Jenner fugiu do surto de varíola indo para o interior, daí ele percebeu que as ordenhadeiras tinham lesões nas mãos muito parecidas com as de varíola. As ordenhadeiras eram as serviçais das fazendas, que também eram colocadas para tratar dos doentes, porém nunca se infectaram. Sendo assim, Jenner utilizou as secreções dos machucados para “vacinar” o filho e a esposa, que desenvolviam uma doença bem parecida com a varíola humana, porém não fatal, e de fato não desenvolveram a varíola humana. A varíola, inclusive, foi explorada no Brasil, em um relato de 1534 por um bandeirante chamado João Ramalho. Ele utilizou da varíola para dizimar as populações indígenas goitacás, do Campo dos Goytacazes, pegando os corpos dos portugueses, que tinham morrido de varíola, perto das tribos indígenas e as dizimava. Esse é um dos primeiros relatos de utilização de arma biológica no mundo. Outro relato importante no histórico da imunologia é a Revolta da Vacina em 1904, onde Oswaldo Cruz foi um dos chefes numa campanha de vacinação forçada. Albert Calmette e Camille Guerin foram imunologistas importantes também nesse histórico, com o desenvolvimento da BCG (Bacilo Calmette-Guérin), que é a vacina utilizada até hoje em crianças para a prevenção de tuberculose. COMPONENTES DO SISTEMA IMUNE As células do sistema imune são dividas em 2 grandes precursores, um precursor linfoide e um precursor mieloide. O precursor linfoide vai dar origem às células linfoides (linfócito B, linfócito T e célula natural killer). O precursor mieloide vai dar origem a todas as demais células (basófilos, monócitos, megacariócitos, eosinófilos etc.). Os linfócitos B e T são células relacionadas à imunidade adaptativa, já a célula natural killer e as células da linhagem mieloide estão associadas à imunidade inata. OBS.: Imunogenicidade é a capacidade do antígeno de gerar uma resposta imunológica. Existem antígenos mais imunogênicos do que outros por causa da sua composição antigênica. OBS.: Imunidade inata é a imunidade que nasce com o indivíduo. Já imunidade adaptativa é a imunidade que se adapta ao contato antigênico, a essa especificação, ela requer exposições para se adaptar a resposta. 3 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ÓRGÃOS LINFOIDES Essas células, seja da imunidade inata ou da adaptativa, vão ter origem nos órgãos linfoides, que podem ser divididos em primários e secundários. Os órgãos linfoides primários estão associados a geração e maturação das células do sistema imune, como por exemplo medula óssea e timo, visto que a medula óssea produz os linfócitos B e T e matura o linfócito B, já o timo é responsável pela maturação do linfócito T. Os órgãos linfoides secundários (pele, baço, linfonodo etc.) são qualquer outro órgão, que gera o reconhecimento antigênico e a resposta imune. Os órgãos linfoides primários são representados pelo timo e pela medula óssea. A medula óssea se encontra principalmente nos ossos chatos e longos (fêmur, costela etc.). Já o timo se encontra no mediastino superior, e é um órgão extremamente importante, principalmente para as respostas de células T. Além disso, o timo possui uma característica importante que é sua involução a medida que envelhecemos, isso está diretamente relacionado a nossa diversidadeclonal, visto que quanto mais velhos ficamos, menos clones de células P e D temos, o que é um limitante importante da imunidade, fazendo com que populações senis sejam mais suscetíveis a processos infecciosos. 4 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Os órgãos linfoides secundários são representados pelos linfonodos e outros órgãos como baço, fígado, entre outros, que são os órgãos onde há o encontro antigênico e a resposta imunológica. CIRCULAÇÃO LINFÁTICA Outro fator importante no sistema imune inato é a circulação linfática, onde vai circular a linfa, num sistema independente ao sistema circulatório sanguíneo. Esse sistema drena os fluidos intersticiais para dentro dos dutos/vasos linfáticos, que são por sua vez conectados a órgãos linfoides secundários, linfonodos principalmente. Portanto, em termos de importância, o baço é um órgão linfoide secundário que está associado principalmente a resposta de antígenos sanguíneos, enquanto os linfonodos são órgãos linfoides que estão associados a antígenos teciduais. Então, quando o antígeno não cai na circulação, preferencialmente ele cai na drenagem linfática e é apresentado em linfonodos, enquanto aqueles que caem na circulação são apresentados no baço.
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