Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB IMUNIDADE TUMORAL. VISÃO GERAL DA IMUNIDADE TUMORAL Macfarlane Burnet (1950): vigilância imune - uma função fisiológica do sistema imune é de reconhecer e destruir clones de células transformadas antes que se transformem em tumores e de eliminar tumores depois de formados; -Atualmente está claro que o sistema imune inato e adaptativo reage contra diversos tumores; -Tumores estimulam respostas imunes adaptativas específicas: embora as células tumorais sejam derivadas das células do hospedeiro, os tumores provocam respostas imunes a resposta mais eficaz contra tumores surge naturalmente e parece ser mediada principalmente pelos linfócitos T; -As respostas imunes frequentemente falham em evitar o crescimento de tumores: (1) muitos tumores conseguem evadir à resposta imune; (2) células tumorais são derivadas das células do hospedeiro e assemelham‑se; (3) o crescimento rápido e a disseminação de um tumor pode superar a capacidade do sistema imune de controlar eficazmente o tumor; -O sistema imune pode ser ativado para eliminar eficazmente as células tumorais e erradicar tumores; ANTÍGENOS TUMORAIS A existência de uma imunidade antitumoral específica indica que tumores devem expressar antígenos reconhecidos como estranhos pelo hospedeiro. Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB -Antígenos específicos do tumor: expressos em células tumorais, mas não em células normais; -Antígenos associados ao tumor: também são expressos em células normais (constituintes celulares normais cuja expressão é desregulada ou aberrante); Produtos de Genes Mutados -Os oncogenes e genes supressores de tumores mutados produzem proteínas diferentes das proteínas celulares normais e, portanto, podem induzir respostas imunes; -Produtos de muitos destes oncogenes mutados e genes supressores de tumores são proteínas nucleares e citossólicas que são degradadas no proteassoma e podem ser apresentadas às moléculas do MHC de classe I nas células tumorais; -Como os genes alterados não estão presentes nas células normais, os peptídios codificados por eles não induzem a autotolerância e podem estimular respostas das células T no hospedeiro; -Antígenos tumorais podem ser produzidos por genes mutados aleatoriamente cujos produtos não estão relacionados ao fenótipo maligno; -Esses antígenos são extremamente diversos porque os agentes carcinogênicos que induzem os tumores podem mutar aleatoriamente qualquer gene do hospedeiro; Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB Proteínas Celulares não Mutadas mas Anormalmente Expressadas -Alguns antígenos tumorais são proteínas não mutadas produzidas em níveis baixos nas células normais e superexpressas nas células tumorais; -Um desses antígenos é a tirosinase, uma enzima envolvida na biossíntese da melanina expressa nos melanócitos normais e nos melanomas; -Antígenos de câncer/testículos são proteínas expressas nos gametas e trofoblastos e em muitos tipos de cânceres, mas não nos tecidos somáticos normais; -Proteínas MAGE: são silenciosas na maioria dos tecidos normais, exceto nos testículos ou trofoblastos na placenta, mas são expressos em vários tumores malignos; Antígenos de Vírus Oncogênicos -Vírus de DNA estão envolvidos no desenvolvimento de uma variedade de tumores em humanos (ex: vírus Epstein‑Barr (EBV); Papilomavírus humano (HPV); Herpes‑vírus associado ao sarcoma de Kaposi); -Proteínas virais sintetizadas endogenamente podem ser processadas e apresentadas por moléculas do MHC na superfície da célula tumoral; Antígenos Oncofetais -São proteínas expressas em níveis elevados nas células cancerosas e em condições normais de desenvolvimento de tecidos fetais, mas não em adultos; -Genes que codificam estas proteínas são silenciados durante o desenvolvimento e são reativados na transformação maligna; -Os dois antígenos oncofetais mais bem caracterizados são o antígeno carcinoembrionário (CEA) e a α‑fetoproteína (AFP). -CEA: -Proteína de membrana altamente glicosilada que é um membro da superfamília de imunoglobulinas (Ig) e funciona como uma molécula de adesão intercelular; -Expressão restrita às células do intestino, pâncreas, fígado e durante os dois primeiros trimestres da gravidez, e uma expressão reduzida é observada na mucosa de colo do intestino normal no adulto e na mama durante a lactação. -AFP: -Glicoproteína circulante normalmente sintetizada e secretada na vida fetal pelo saco vitelino e pelo fígado; -Na vida adulta, a proteína é substituída pela albumina, e apenas níveis baixos estão presentes no plasma; -Níveis séricos da AFP podem estar significativamente elevados em pacientes com carcinoma hepatocelular, tumores Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB de células germinativas, e, ocasionalmente, cânceres gástrico e pancreático. Antígenos Glicolipídicos e Glicoproteicos Alterados -Formas anormais de glicoproteínas e glicolipídios de superfície (incluem gangliosídeos, antígenos do grupo sanguíneo e mucinas); -Aspectos do fenótipo maligno dos tumores, incluindo a invasão tecidual e o comportamento metastático, podem refletir propriedades alteradas da superfície celular, resultantes da síntese de glicolipídios e glicoproteínas anormais; Antígenos de Diferenciação Tecido-Específicos -Tumores podem expressar moléculas que são normalmente expressas apenas nas células de origem do tumor e não nas células de outros tecidos antígenos de diferenciação; -Diagnóstico de tumores derivados de células B (CD10, CD20); RESPOSTAS IMUNES AOS TUMORES -Respostas imunes inata e adaptativa podem ser detectadas e diversos mecanismos imunes podem eliminar células tumorais in vitro; Linfócitos T -O principal mecanismo de proteção imune adaptativa contra tumores está na eliminação das células tumorais por CTL CD8+. -Função de vigilância por reconhecer e destruir células potencialmente malignas; -As respostas de células T CD8+ específicas para antígenos tumorais podem exigir apresentação cruzada dos antígenos tumorais pelas células dendríticas; -Uma vez sendo gerados os CTL efetores, eles são capazes de reconhecer e destruir as células tumorais sem a necessidade de haver uma coestimulação; -Células CD4+ podem desempenhar um papel nas respostas imunes antitumorais, proporcionando citocinas para a diferenciação de células T CD8+ naive e de memória em CTL efetores; -Células T auxiliares específicas para antígenos tumorais são capazes de secretar citocinas, como TNF e IFN‑γ, que podem aumentar expressão do MHC de classe I pelas células tumorais e a sensibilidade à lise por CTLs; -IFN‑γ também pode ativar macrófagos para eliminar células tumorais. Anticorpos -Hospedeiros portadores de tumores podem produzir anticorpos contra vários antígenos tumorais; -Anticorpos podem destruir as células tumorais através da ativação do complemento ou por citotoxicidade dependente de anticorpos; Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB Células Natural Killer (NK) (Assassinas Naturais) -Células NK eliminam muitos tipos de células tumorais, especialmente células que apresentam expressão diminuída do MHC de classe I e expressam ligantes para receptores de ativação da célula NK; -Alguns tumores também expressam MIC‑A, MIC‑B, e ULB, que são ligantes de ativação do receptor NKG2D nas células NK; -Acapacidade tumoricida das células NK é aumentada pelas citocinas, incluindo o IFN‑γ, IL‑15 e IL‑12; -Células NK ativadas por IL‑2, chamadas de células assassinas ativadas por linfocina (LAK) são as assassinas mais potentes de tumores do que as células NK não ativadas; Macrófagos -Macrófagos são capazes tanto de inibir como de promover o crescimento e a propagação de cânceres, dependendo do seu estado de ativação. -Classicamente, os macrófagos M1 ativados, podem destruir muitas células tumorais (mecanismos que eles também usam para matar organismos infecciosos. Ex: produção de NO); -Há evidências de que macrófagos M2 contribuem para a progressão tumoral (secretam fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), fator transformador do crescimento β (TGF‑β), e outros fatores solúveis que promovem a angiogênese tumoral); EVASÃO TUMORAL DAS RESPOSTAS IMUNES Mecanismos de evasão podem ser divididos entre aqueles que são intrínsecos às células tumorais e aqueles que são mediados por outras células; Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB Escape do Reconhecimento Imune por Perda da Expressão de Antígeno -Imunoedição tumoral: tumores que se desenvolveram na configuração de um sistema imune normal, se tornam menos imunogênicos ao longo do tempo, o que é consistente com a seleção de células variantes menos imunogênicas. -A expressão do MHC de classe I pode estar regulada negativamente nas células tumorais de modo que não pode ser reconhecida pelos CTLs; Inibição Ativa das Respostas Imunes -Tumores podem envolver mecanismos inibitórios que suprimem as respostas imunes (envolvimento de CTLA‑4 ou PD‑1, duas das vias inibitórias mais bem definidas nas células T); -Produtos secretados pelas células tumorais podem suprimir as respostas imunes antitumorais (TGF‑β - inibe a proliferação e as funções efetoras dos linfócitos e macrófagos); -As células T regulatórias podem suprimir a resposta antitumoral das células T (número de células T regulatórias está elevado em indivíduos portadores de tumores); -Macrófagos associados a tumores podem promover o crescimento tumoral e invasão por alterar o microambiente do tecido e por supressão de respostas das células T (apresentam um fenótipo M2 secretam mediadores, como IL‑10 e prostaglandina E2, que prejudicam as funções ativadoras e efetoras das células T; Além disso, também secretam fatores que promovem a angiogênese, como TGF‑β e VEGF, que podem favorecer o crescimento do tumor); -Células supressoras mieloide‑derivadas (MDSCs) são precursores mieloides imaturos recrutados a partir da medula óssea e que se acumulam nos tecidos linfoides, sangue ou tumores de animais portadores de tumores e pacientes com câncer e suprimem as respostas das células T e inatas antitumorais O recrutamento das MDSCs da medula óssea para linfonodos e outros tecidos é induzido por vários mediadores pró‑inflamatórios (prostaglandina E2, IL‑6, VEGF e fragmento C5a) produzidos pelos tumores MDSCs suprimem as respostas imunes inatas por meio da secreção de IL‑10 geram radicais livres que inibem a ativação das células T, como peroxinitrito, e produzem indolamina 2,3‑disoxigenase, que cataboliza o triptofano necessário para a proliferação das células T. IMUNOTERAPIA PARA TUMORES -A imunoterapia apresenta o potencial para ser o tratamento mais específico que pode ser concebido contra os tumores; -Tem como objetivo aumentar a resposta imunológica fraca do hospedeiro contra os tumores (imunização ativa) ou para administrar anticorpos ou células T específicos contra tumores, uma forma de imunidade passiva. Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB Estimulação das Respostas Imunes Ativas do Hospedeiro contra Tumores -Vacinas compostas de células tumorais mortas, antígenos tumorais ou células dendríticas incubadas com antígenos tumorais; Vacinação com Antígenos Tumorais -Adjuvantes incluem ligantes de TLR, tal como o RNAds, DNA CpG, BCG e citocinas, como CSF‑GM e IL‑12; -Vacinas de DNA e vetores virais que codificam antígenos tumorais; -A maioria das vacinas contra tumores são vacinas terapêuticas; elas devem ser administradas após o tumor ser encontrado no hospedeiro; Bloqueio de Vias Inibitórias para Promover Imunidade Tumoral -Bloqueio de moléculas inibidoras de células T melhorar efetivamente as respostas imunes dos pacientes contra os tumores; -Bloqueio dos pontos de verificação: estimulação das respostas imunes através da remoção de inibição (anticorpo específico para o CTLA‑4; anticorpo que bloqueia PD-1); Aumento da Imunidade do Hospedeiro contra Tumores com Citocinas -Citocinas que estimulam a proliferação e diferenciação de linfócitos T e células NK; -Altas doses de IL‑2 administradas via intravenosa, eficaz na indução de resposta mensurável de regressão tumoral (não pode muito porque a IL-2 estimula a produção de quantidades tóxicas de citocinas pró‑inflamatórias, como TNF e IFN‑γ); -IFN‑α (tratamento do melanoma maligno, combinado à quimioterapia, e tumores carcinoides) O IFN‑α realiza inibição da proliferação das células tumorais, aumento da atividade citotóxica das células NK e aumento da expressão do MHC de classe I nas células tumorais; -GM‑CSF e G‑CSF, são utilizados em protocolos de tratamento de câncer para encurtar os períodos de neutropenia e trombocitopenia; Estimulação Inespecífica do Sistema Imune -Administração local de substâncias inflamatórias ou por tratamento sistêmico com agentes que funcionem como ativadores policlonais de linfócitos; -Bactéria BCG (bacilo de Calmette-Guérin morto) usada para o tratamento do câncer de bexiga urinária; Imunoterapia Passiva para Tumores com Células T e Anticorpos -Transferência de efetores imunológicos, incluindo células T e anticorpos específicos para os tumores; Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB -É rápida, mas não leva à imunidade de longa duração; Terapia Celular Adaptativa -Transferência de células imunes em cultura que tenham reatividade antitumoral para um hospedeiro portador de tumor; -Receptores de antígeno quiméricos recombinantes (CARs): são receptores construídos geneticamente com locais de ligação específicos para antígenos tumorais codificados por genes Ig‑variáveis e caudas citoplasmáticas contendo domínios de sinalização tanto de receptores de antígenos como de moléculas de coestimulatórias por engenharia genética; -As células T transferidas sofrem uma proliferação mais intensa no paciente, em resposta ao reconhecimento do antígeno tumoral pelo CAR. -Produzir células LAK a partir de cultura de leucócitos do sangue periférico de pacientes com tumor em altas concentrações de IL‑2 e injetar as células LAK de volta nos pacientes; Efeito Enxerto-Versus-Leucemia -Em pacientes com leucemia, a administração de células T e células NK juntamente com células‑tronco hematopoéticas de um doador alogênico pode contribuir para a erradicação do tumor; Imunologia Básica e Clínica Thomás R. Campos | Medicina - UFOB -Células NK doadoras respondem às células tumorais porque os tumores podem expressar baixos níveis de moléculas do MHC de classe I, que normalmente inibem a ativação das células NK; Terapia com Anticorpos Antitumorais -Anticorpos monoclonais específicos do tumor podem ser úteis para a imunoterapia específica contra tumores; -Anticorpos antitumorais podem erradicar tumores pelos mesmos mecanismos efetores que são utilizados para eliminar os microrganismos,incluindo opsonização e fagocitose, ativação do sistema de complemento, e citotoxicidade celular dependente de anticorpos; -Anticorpos específicos para tumor podem ser acoplados a moléculas tóxicas, radioisótopos e fármacos antitumorais a fim de promover a liberação destes agentes citotóxicos especificamente para o tumor; O PAPEL DA IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA NA PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO TUMORAL -O sistema imune também pode contribuir para o desenvolvimento de alguns tumores sólidos; -Inflamação crônica tem sido reconhecida como um fator de risco para o desenvolvimento de tumores em muitos diferentes tecidos; -Macrófagos do fenótipo alternativamente ativado (M2) associados a tumores, assim como outras células são fontes de VEGF, o que promove a angiogênese, e de metaloproteinases de matriz, que modificam o tecido extracelular; -Células imunes inatas também podem contribuir para a transformação maligna celular através da geração de radicais livres que causam danos no DNA e desencadeiam mutações em genes supressores de tumor e oncogenes; -Mastócitos, neutrófilos e macrófagos, secretam fatores solúveis que promovem a progressão do ciclo celular e a sobrevivência das células tumorais; -O fator de transcrição NF‑κB, que é um importante mediador da resposta imune inata, pode desempenhar um papel importante na progressão do câncer associado à inflamação.
Compartilhar