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Lei de Diretrizes e Bases da Educação Naciona1

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Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Definição - Apresentação das diferentes Constituições brasileiras e suas formas de abordagem da Educação ao longo da história, destacando a Constituição Cidadã de 1988 e a Lei 9394/96 (LDB), que estabelece os princípios, as normas e as recomendações para a estrutura e o funcionamento da educação nacional. Análise da educação laica e do ensino religioso no Brasil, da formação geral e profissional, suas contradições históricas e possibilidades.
Propósito - Reconhecer a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas normas e recomendações a respeito dos níveis e modalidades de ensino, compreendendo sua importância para a educação nacional e seu papel estruturante e organizador no Sistema Nacional de Educação com base nos princípios emanados da Constituição Federal.
Preparação - Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos um exemplar (físico ou digital) da Constituição Federal de 1988 e do texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) devidamente atualizada.
Objetivos
Módulo 1 - Analisar as Constituições brasileiras, com destaque para a de 1988, e suas relações com a Educação
Módulo 2 - Identificar os princípios da Educação, seus níveis e suas modalidades na LDB (Lei 9394/96)
Módulo 3 - Reconhecer, na LDB, os temas mais relevantes do cenário educacional brasileiro historicamente
Introdução - É correto afirmar que o tema Educação está presente em todas as Constituições brasileiras apresentadas a seguir. A cada uma dessas Constituições correspondeu uma perspectiva diferente de percepção e de abordagem da Educação, situadas não só localmente no cenário nacional como também na sociedade em cada período histórico.
Para tratarmos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), precisamos recuar às Constituições, às perspectivas políticas mais ou menos democráticas que a inspiraram e a como isso foi feito, tanto por questões políticas locais quanto por compreensões sociais mais amplas do papel da Educação no desenvolvimento da nação e de seus sujeitos.
Assim sendo, trabalharemos o tema da atual LDB e dos princípios e normas que a integram a partir das concepções de nação e de Educação que habitaram nossas leis maiores desde a Independência.
Logo - Analisar as Constituições brasileiras, com destaque para a de 1988, e suas relações com a Educação
Apresentação das Constituições - Historicamente, o país contou com sete Constituições, a saber: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Alguns historiadores consideram a Emenda n. 1 à Constituição Federal de 1967 como a Constituição de 1969, outorgada pela Junta Militar.
1824 - Constituição Política do Império do Brasil
Vigorou por 65 anos. Foi elaborada por um Conselho de Estado e outorgada em 1824 por D. Pedro I (1798-1834).
1891 - Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
Promulgada em 24 de fevereiro de 1891, criou a República Federalista, com a autonomia dos estados. Tem como fonte influenciadora a Constituição norte-americana, presidencialista com federalismo.
1934 - Constituição de 1934
Promulgada pelo Congresso Nacional eleito após a Revolução de 1930, reafirmou o compromisso com a República e com os princípios federativos. Estabelecia que “todos os poderes emanam do povo e em nome dele são exercidos”. Essa Constituição durou apenas três anos.
1937 - Constituição do Estado Novo
Suprimiu direito e garantias e foi inspirada nos regimes totalitários em ascensão na Europa no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Foi outorgada por Getúlio Vargas (1882-1954).
1946 - Constitucionalista
Promulgada pelo Congresso Nacional no início do governo de Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). De caráter democrático, retomou os preceitos da Carta Liberal de 1934, além de restabelecer os direitos individuais, a independência dos poderes da República e a harmonia entre eles, a autonomia dos estados e municípios, a pluralidade partidária, os direitos trabalhistas e a instituição de eleição direta para presidente da República.
1967 - Consolidação do Regime Militar
Após a instalação do Regime Militar, em 1964, foi mantido, simbolicamente, o funcionamento do Congresso Nacional com poderes e prerrogativas limitados “em nome da segurança nacional”. Apesar de parecer promulgado, essa Constituição consolidou o autoritarismo e a reversão dos princípios democráticos, ao concentrar os poderes na União, além de adotar a eleição indireta para a escolha do presidente da República.
Em 1968, foi editado o famoso Ato Institucional n. 5, no dia 13 de dezembro, que levou ao fechamento do Congresso Nacional, à supressão de direitos e garantias dos cidadãos, à proibição de reuniões, à imposição da censura aos meios de comunicação e às expressões artísticas, à suspensão do habeas corpus para os chamados crimes políticos, à autorização para intervenção federal em estados e municípios e decretação de estado de sítio.
Essa outorga de todos os poderes ao governo federal trouxe tantas mudanças à Constituição que os historiadores consideram a Emenda n. 1 à Constituição de 1967 como a “Constituição de 1969”.
1988 - Constituição Cidadã
Essa Constituição, em vigor atualmente, foi promulgada em 5 de outubro de 1988 pela Assembléia Nacional Constituinte. É considerada uma das mais modernas do mundo, uma vez que reafirma os direitos individuais e coletivos, além de consagrar a proteção ao meio ambiente, à família, aos direitos humanos, à cultura, à educação e à saúde. Além disso, essa Constituição reafirma a separação dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), confirma o regime federativo e os direitos individuais, restabelecendo o voto direto, secreto, universal e periódico.
A Educação nas Constituições
Juramento de Sua Majestade o Imperador D. Pedro I à Constituição do Império. Fonte: Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
A Constituição do Império (1824) - Outorgada por D. Pedro I, sem qualquer participação da nação, era curta e dedicava somente um artigo e dois incisos para a Educação, conforme reproduzido a seguir:
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, são garantidos pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:
XXXII. A Instrução primária, e gratuita a todos os Cidadãos.
XXXIII. Colégios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das ciências, Belas Letras, e Artes.
Constituição Republicana do Brasil (1891)
A escravidão, nesse período, era comum no país, sendo a noção de cidadania ainda muito restrita; portanto, quando a Constituição estabelecia “para todos os cidadãos”, tratava-se de um grupo muito limitado de pessoas, com inúmeras exclusões. Logo após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, foi criada a primeira Constituição Republicana do Brasil , em 1891, elaborada por Rui Barbosa (1849-1923) e com a participação do Congresso Constituinte. Essa Constituição trouxe uma abordagem indireta da Educação, especificamente no título IV, referente aos cidadãos brasileiros, e inserida na Seção II, que dispõe sobre as declarações de direitos.
O art. 72, § 6º dessa Carta consagrou o princípio da liberdade e da laicidade do ensino ministrado nos estabelecimentos públicos, mas, em contrapartida, não abordou a questão da gratuidade destes. Sob o influxo da Revolução de 1930, a Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 representou um processo de modernização do Estado, trazendo, pela primeira vez, o conceito de educação como um direito de todos, cabendo sua responsabilidade às famílias e aos poderes públicos. Além disso, manteve a gratuidade do ensino primário, propondo sua extensão a outros níveis de ensino.
Constituição promulgada em 16 de julho de 1934
Art 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolvanum espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana.
Juramento da Constituição, c. 1891. Promulgada a 1ª Constituição Republicana, assumem o poder os marechais Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892) e Floriano Peixoto (1839-1895). Fonte: Wikimedia
.
Capa da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1937. Fonte: Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
Constituição de 1937
Foi a segunda Carta brasileira outorgada, nesse caso, pelo Estado Novo, em decorrência das condições políticas e ideológicas observadas no período, tanto interna quanto externamente. Houve uma mudança clara a respeito de a quem competia a responsabilidade da educação, cabendo à família o ônus maior. Observa-se que o art. 130 manteve o ensino primário como obrigatório e gratuito, porém com uma responsabilidade subsidiária do Estado. 
Art 130. O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar
Constituição Federal de 1946
Promulgada em 18 de setembro de 1946, manteve o nome de Estados Unidos do Brasil, com regime representativo, a Federação e a República, e o princípio de que “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”.
Depois do ato repressor, passou-se a pregar a liberdade com o objetivo de permitir uma maior participação popular na vida social e econômica do país. A educação passou a ser vista como um direito público subjetivo, cabendo também à família o dever de educar seus filhos. Contudo, no que se refere ao direito à educação (art. 166), as ideias contidas nessa Constituição assemelham-se às da Carta de 1934.
Constituição Federal de 1946 Art 166.
A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.
Os incisos I e II do art. 168 do capítulo II definem a obrigatoriedade e a gratuidade ao ensino primário oficial, no entanto, reforça a subsidiariedade do Estado no provimento do ensino oficial posterior para aqueles que provarem a falta ou a insuficiência de recursos. Faz parte deste pacote a Lei 4.024/1961 (Lei de Diretrizes e Bases – LDB), sendo a primeira lei geral de educação que, posteriormente, foi substituída pela Lei 9.394/1996.
Art. 168 do capítulo II
Constituição Federal de 1946 Art. 168.
A legislação do ensino adotará os seguintes princípios:
I. O ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;
II. O ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos. (...)
Assembleia Constituinte de 1946. Fonte: Tribunal Superior Eleitoral
Constituição brasileira de 1967 | Fonte: Arquivo Nacional
art. 168
A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§ 1º O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.
§ 2º Respeitadas às disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bolsas de estudo.
§ 3º A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
I. o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;
II. o ensino dos sete aos quatorze anos é obrigatório para todos e gratuito nos estabelecimentos primários oficiais;
III. o ensino oficial ulterior ao primário será, igualmente, gratuito para quantos, demonstrando efetivo aproveitamento, provarem falta ou insuficiência de recursos. Sempre que possível, o Poder Público substituirá o regime de gratuidade pelo de concessão de bolsas de estudo, exigido o posterior reembolso no caso de ensino de grau superior;
Constituição de 1967
De inspiração militar, foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional. O direito à educação foi previsto no art. 168, que tratou especificamente da família, da educação e da cultura. Manteve, ainda, alguns princípios gerais da educação, como o direito de todos, a liberdade de ensino, a igualdade de oportunidades e a limitação da gratuidade, mas, ao mesmo tempo, inaugurou o regime de bolsas de estudos restituíveis no ensino superior.
Emenda Constitucional n. 1 de 1969
É considerada por muitos historiadores como uma nova Constituição, com características mais ditatoriais do que sua antecessora, cassando muitos dos princípios fundamentais. Todavia, manteve a educação como um direito de todos e dever do Estado, com responsabilidade tanto deste quanto da família.
Educação
Art 176. A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na escola.
§ 1º O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.
§ 2º Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à Iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bolsas de estudo.
§ 3º A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
I. o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;
I. o ensino primário é obrigatório para todos dos sete aos quatorze anos e gratuito nos estabelecimentos primários oficiais;
II. o ensino público será igualmente gratuito para quantos, no nível médio e superior, demonstrarem efetivo aproveitamento e provarem falta ou insuficiência de recursos.
III. O Poder Público substituirá, gradativamente, o regime de gratuidade no ensino médio e no superior pelo sistema de concessão de bolsas de estudo, mediante restituição, que a lei regulará.Marechal Artur da Costa e Silva (1899-1969), presidente do Brasil entre 1967 e 1969. Fonte: Wikimedia
Constituição de 1988 fortaleceu a cidadania do trabalhador. Fonte: Agência Senado
Constituição de 1988
Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a atual “Constituição Cidadã”, em que o direito à educação passou a ser considerado um direito social (art. 205), tendo, inclusive, uma redação dedicada a ela.
Art. 205
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A obrigatoriedade da família continua expressa, mas o seu art. 227 a estende para a sociedade e o Estado, assegurando à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, entre outros, o direito à educação.
Art. 227
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.Nos termos do art. 195, caput, a educação é essencial para o desenvolvimento humano integral, tornando-se necessário garantir a igualdade de condições de acesso e permanência na escola.
Art. 195
A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...)
A Constituição Federal de 1988 e a Educação
A Constituição de 1988 é considerada o marco da Nova República – período a partir da redemocratização e que nos marca até os dias atuais. Suas proposições são ricas em debates sobre questões fundamentais para uma nação democrática, destacando-se a presunção clara e indiscutível da educação como um bem nacional, um objeto de política pública de primeira ordem e, por isso, reafirmada em seus princípios.
No preâmbulo da ConstituiçãoFederal de 1988, já surge como garantia:
“(...) um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias (...)
(BRASIL, 1988)
Estão presentes na Constituição de 1988 os seguintes temas:
Forma de governo
O artigo primeiro da CF/88 define a forma de governo a partir de então (República), constituída pela federação indissolúvel da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, todos com governo próprio e certa autonomia. O Brasil possui, atualmente, vinte e seis estados e o Distrito Federal, além de mais de cinco mil municípios. Cada estado tem sua própria Constituição, e cada município tem sua Lei Orgânica, que devem estar, todas elas, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição Federal.* Lei Orgânica - O conjunto de legislações para funcionamento das prefeituras, chamado de Lei Orgânica, é regido por duas Constituições, a nacional e a estadual, e não pode se sobrepor a elas.
Democracia - O artigo primeiro da CF/88 também dispõe que somos um Estado Democrático de Direito, isto é, adotamos a democracia como forma de governo. Assim, o parágrafo único do art. 1º estabelece que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. Desse modo, a Constituição e as demais leis valem, sem exceção, para todos os cidadãos, que devem respeitar e ter respeitados os direitos humanos e as garantias fundamentais.
Cidadania - A cidadania também é um dos fundamentos da Carta Magna de 1988. Isso significa que o cidadão brasileiro possui direitos e deveres para que possa participar da vida em sociedade. Cabe lembrar que a primeira Carta Constitucional Brasileira data de 1824, tendo sido feita, portanto, ainda no tempo do Brasil Império. De lá para cá, tivemos sete Constituições, culminando com a atual Constituição Federal de 1988, fruto de um longo caminho de lutas e de conquistas.
A parte denominada “A Ordem Social” (título VIII), mais especificamente no Capítulo III, é toda voltada para a Educação (arts. 205 a 214). Logo no art. 205, a Constituição Federal dispõe que a educação é um direito de todos e um de dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
Desse artigo, podem-se deduzir alguns conceitos básicos envolvendo a educação:
É um direito de todos;
É um dever do Estado;
É um dever da família;
Deve ser fomentada pela sociedade.
Também se pode inferir que os objetivos gerais da educação passam por:
Pleno desenvolvimento da pessoa;
Preparo para o exercício da cidadania;
Qualificação para o trabalho.
O princípio de educação como direito de todos já fora expresso nas Constituições de 1934 e 1946. Contudo, o que distingue a Constituição de 1988 das demais é o enquadramento da Educação como direito social (art. 6º), ao mesmo tempo em que se torna um elemento da construção da dignidade da pessoa humana e, portanto, da criação de um cidadão consciente, bem como um instrumento para a erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
A Constituição Cidadã de 1988 é uma profunda guinada para a Educação como um direito social (art. 6º), sendo, portanto, um dever do Estado (art. 204). Pela primeira vez na história da educação brasileira, foi oficialmente e universalmente consagrada pela Constituição Federal a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais (art. 206, IV).
No art. 204, a Educação é garantida como direito de todos. O art. 5º da CF/88 dispõe sobre o princípio constitucional da igualdade, segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Nos diferentes incisos desse artigo, encontram-se afirmações acerca de formas e princípios de igualdade. Todavia, a fim de garantir essa igualdade, o princípio estabelece que pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual para minimizar as disparidades, entendendo-se que dar tratamento isonômico aos diferentes cidadãos significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.
É nesse princípio que se baseia o direito à diferença na educação no que concerne às populações historicamente discriminadas, como negros, indígenas e pessoas com deficiência e, ainda, no que se refere ao direito à educação de populações de todos os grandes ciclos etários da vida.
Saiba mais - O princípio da igualdade na Constituição Federal de 1988 encontra-se expresso no art. 5º, que afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”.
Entendendo a relação entre a política pública e a Educação
Antes de nos aprofundarmos mais nesta temática, responda:
A Constituição Federal de 1988 é chamada de Constituição Cidadã. O que é uma Constituição Cidadã? Como ela pode ser caraterizada? Qual a relação entre sua caracterização cidadã e o modo como expressa o tema da Educação?
A Constituição de 1988 restabeleceu a inviolabilidade de direitos e liberdades básicas e instituiu uma vastidão de preceitos progressistas, como a igualdade de gêneros, a criminalização do racismo, a proibição da tortura e os direitos sociais, como educação, trabalho e saúde para todos. Além disso, reinstituiu o direito à livre manifestação de pensamento (vedado o anonimato) e a liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação (fim da censura), e garantiu a todo cidadão o acesso a qualquer dado a seu respeito em arquivos do governo. Ela também restabeleceu o voto universal e direto, sem distinção de classe ou gênero.
A Educação ganhou forma de direito fundamental na Constituição de 1988, devendo ser garantida, e faz parte da própria constituição e da base do Estado Democrático. Entendida como garantidora para evitar novos arroubos antidemocráticos, a Constituição constrói seu texto de forma a estruturar a Educação como um interesse nacional.
Sessão solene do Congresso Nacional em que foi promulgada a atual Constituição da República Federativa do Brasil, no dia 5 de outubro de 1988. Fonte: Agência Senado
O que é um Estado Democrático de Direito? Como podemos pensar o tema da educação pública a partir dessa noção?
Trata-se de uma junção de dois conceitos anteriores de Estado: um Estado social de Direito somado ao Estado de bem-estar social. Compreende uma série de medidas que devem ser atendidas pelo Estado soberano e democrático, buscando garantir os elementos básicos a fim de promover uma vida digna a todos os cidadãos e todas as cidadãs.
Saiba mais - O Estado de Direito surgiu nos séculos XVII e XVIII no âmbito das revoluções inglesa e francesa, em contraposição aos governos autoritários e absolutistas.
O direito à Educação aparece como meio de formação dos cidadãos das nações que vinham se constituindo democraticamente. As Constituições foram o fundamento desse processo; a ideia de que ninguém estaria acima das leis (ícone do modelo estamental do Antigo Regime) garantia um princípio de isonomia – lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade –, realizando o princípio de que todos deveriam ser entendidos como cidadãos de direitos.
Vencendo velhos traços que eram marcados pela exploração violenta, como a escravidão, o Direito dos Homens, os Direitos Humanos, os Direitos da Crianças e os tratados do pós-guerra mundial transformaram o ideal democrático em um valor, e a usurpação foi entendida como algo a ser combatido. Aindaque os regimes mais ditatoriais se submetessem formalmente às Constituições e aos princípios que, embora de forma disfarçada, tinham relevo constante no mundo dos séculos XX e XXI.
Neste vídeo, com o professor Rodrigo Rainha, especialistas respondem a perguntas sobre as diferentes políticas educacionais implementadas no Brasil ao longo de suas sete Constituições.
Verificando o aprendizado
1. Considerando a Constituição de 1988, nota-se que a Educação é considerada como instrumento fundamental para um Estado Democrático. Logo, ela precisa ser organizada, definindo quem são seus responsáveis. Nesse sentido, a quem compete a obrigatoriedade da Educação?
Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui dever tanto do Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
A obrigatoriedade é exclusiva da família, como expressa no art. 227, mas essa obrigatoriedade é também da sociedade e do Estado de forma indireta.
De acordo com o art. 227, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência; apesar de não tratar diretamente da Educação, aborda seus aspectos de entorno.
A Constituição Cidadã é tributária da Declaração do Direito das Crianças da UNESCO; nesse sentido, determina no art. 205 da Constituição Federal de 1988 que é obrigação exclusiva do Estado, devendo fazer parte de sua política pública a organização, a manutenção e a continuidade da Educação.
Comentário - "A" está correta.
Segundo a Constituição de 1988, a Educação é uma obrigação compartilhada da família, da sociedade e do Estado, e o governo deve cuidar para que esta seja exercida, mantida e regulada.
2. As Cartas Magnas, independentemente do período, fornecem as bases fundamentais da política de um Estado Nação e são fundamentais na organização de Estados efetivamente democráticos. Segundo esse princípio, entendendo que o Brasil se constitui como um Estado Democrático de Direito e a Constituição é sua garantidora, podemos afirmar que ela preconiza as seguintes alternativas, exceto:
Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui dever tanto do Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
De acordo com o art. 205 da Constituição Brasileira, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; definição das mais corretas e modernas concepções pedagógicas; respeito à liberdade e valorização da identidade nacional.
Na Constituição de 1891, o art. 72 já consagrava o princípio da liberdade e da laicidade do ensino ministrado nos estabelecimentos públicos, ainda que não fosse gratuito, e apontava para importância desse processo.
Na Constituição de 1937, o art. 130 manteve o ensino primário como obrigatório e gratuito, porém com uma responsabilidade subsidiária do Estado. Esse é um movimento importante pois, pela primeira vez, dava ordenamento financeiro para que todos os entes federativos constituíssem sistemas de ensino.
Comentário - "C" está correta.
Alguns princípios constitucionais foram constantemente repetidos: a percepção de que o Estado faz parte do compromisso da Educação, seja como estimulador, mantenedor, estabelecedor de regras e normas que permitam seu amplo desenvolvimento. A questão visa ao seu entendimento de que esses princípios aparecem mesmo em documentos diferentes. Assim, a alternativa B torna-se equivocada pela ausência da valorização da pluralidade no olhar da Constituição de 1988.
Módulo 2 - Identificar os princípios da Educação, seus níveis e suas modalidades na LDB (Lei 9394/96)
Estrutura e propostas da Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
Na trajetória constitucional brasileira, o tema Educação foi tratado com maior ou menor ênfase em função de diferentes fatores, mas o tema da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional não foi sempre abordado. É isso que veremos a seguir.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
A primeira Constituição Brasileira a cogitar uma lei de diretrizes para a Educação foi a de 1934, que, no seu art. 5º, atribuía à União a responsabilidade para traçar as diretrizes da educação nacional e de fixar o Plano Nacional de Educação. Em seguida, a Constituição de 1937 traria diretrizes diferentes, e o projeto para uma ampla lei educacional foi adiada.
Prevista na Constituição de 1946 e discutida política e academicamente no país por quinze anos, somente em 1961 foi publicada a Lei n. 4.024/61, oficialmente a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dez anos depois, foi alterada tão profundamente pela Lei n. 5692/71, que esta foi considerada por muitos uma nova LDB. A Lei n. 5692/71 durou até 1996, quando foi promulgada a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
As principais razões da demora na aprovação da Lei n. 9.394/96, prevista na Constituição de 1988 e discutida ao longo dos oito anos que as separam, foram os intensos debates, a preocupação democrática da tramitação e as questões políticas do país (em efervescência no período).
A LDB de 1996 reafirma o direito à Educação, definindo-a como dever da família e do Estado, inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, buscando o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 2º), seguindo o princípio constitucional da educação como direito social (CF, art. 5º, caput).
O art. 22, XXIV, da Constituição Federal, determina que compete privativamente à União legislar sobre os deveres do Estado, as diretrizes e as bases da educação nacional, estabelecendo que a Educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
Competências políticas da Educação
Em linhas gerais, o texto da Lei 9.394/96 está dividido em nove temáticas:
Temática 1 - A primeira define os limites da educação escolar (art. 1º).
Temática 2 - No título II, são definidos os princípios e os fins da educação nacional, estabelecendo a Educação como dever da família e do Estado (arts. 2º e 3º).
Temática 3 - No título III, que aborda o direito à Educação e o dever de educar, encontramos a obrigatoriedade e a gratuidade da educação básica, atualmente dos quatro aos dezessete anos de idade.
Temática 4 - No título IV, a LDB aborda a organização da educação nacional, estabelecendo o regime de colaboração entre a União, os estados e os municípios.
Temática 5 - No título V, a educação brasileira é dividida em dois níveis: a educação básica e o ensino superior e conta com diferentes modalidades de ensino e os modos possíveis de organização dos sistemas de ensino e das propostas pedagógicas, preconizando a pluralidade de concepções pedagógicas como um dos princípios da educação nacional. É proposta a gestão democrática da educação pública, com progressiva autonomia pedagógica e administrativa, e a gestão financeira das unidades escolares.
Temática 6 - O título VI é dedicado aos profissionais da educação (arts. 61 a 67), estabelecendo que sua formação seja feita em curso superior de Pedagogia ou pós-graduação (art. 64), admitindo,para atuar na educação básica, educação infantil e nas quatro primeiras séries do fundamental, formação em curso Normal do ensino médio (art. 62).
Temática 7 - O título VII é dedicado aos recursos financeiros, estabelecendo as fontes dos recursos destinados à Educação e que a União deve gastar, no mínimo, 18% e os estados e municípios, no mínimo, 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e no desenvolvimento do ensino público (art. 69);
Temática 8 e 9 - O título VII é dedicado aos recursos financeiros, estabelecendo as fontes dos recursos destinados à Educação e que a União deve gastar, no mínimo, 18% e os estados e municípios, no mínimo, 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e no desenvolvimento do ensino público (art. 69);
A LDB apresenta no título II,em seu artigo 3º
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV. Respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V. coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII. Valorização do profissional da educação escolar;
VIII. Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX. Garantia de padrão de qualidade;
X. Valorização da experiência extraescolar;
XI. Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
O conjunto de onze princípios, dispostos no art. 3º da LDB (Lei 9394/96), indica a exigência de respeito a princípios republicanos e constitucionais. Cabe analisá-los, então, nessa perspectiva, de princípios educacionais que seguem a compreensão da Constituição Federal sobre os direitos dos cidadãos de uma república democrática. Assim, trata-se de respeito à igualdade e à liberdade em diferentes formas e instâncias e, também, de respeito a exigências democráticas mais amplas, relacionadas aos modos de gestão no sistema público de educação, com a gestão democrática prevista no princípio VII, fortemente mutilado em relação à sua versão anterior no projeto de lei substituído pelo de Darcy Ribeiro, que deu origem a esta LDB.
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, educador e político brasileiro. Criador do projeto de educação integral no Rio de Janeiro. Destacou-se como senador pela articulação para aprovação da LDB, não acidentalmente chamada de Lei Darcy Ribeiro.
No caso da igualdade, trata-se de uma igualdade almejada entre diferentes – daí o princípio da presença de pluralismo de ideias e concepções pedagógicas no sistema educacional e de respeito à liberdade e apreço à tolerância, princípios que se articulam, também, ao tema da liberdade, já que a liberdade cidadã tem como corolário o direito de acessar conhecimentos e informações plurais e isso precisa se fazer presente no sistema educacional.
A efetivação desse princípio exige a liberdade de cátedra para o acesso a conhecimentos plurais e perspectivas igualmente plurais para compreensão deles, conforme elencado com precisão no princípio II, que trata da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar. Ainda nesse sentido, os princípios X e XI dispõem a perspectiva de uma democracia na relação entre diferentes conhecimentos no sistema educacional. Ao prever a valorização da experiência extraescolar (X) e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais (XI), a LDB assume que a garantia da democracia no acesso, na permanência e no direito de aprender, subliminar à ideia da qualidade, só pode ser efetiva se (e quando) os estudantes tiverem seus conhecimentos presentes no processo pedagógico pela valorização daquilo que trazem para a escola e possam, por meio das aprendizagens escolares, potencializar sua inserção no meio profissional e no exercício da cidadania plena, desenvolvendo e compreendendo mais amplamente as práticas sociais.
Fachada do Ministério da Educação (MEC) em Brasília. Fonte: Wikimedia
No que se refere à igualdade específica de acesso e à permanência do primeiro princípio, entendemos que o princípio da gratuidade (VI) lhe é complementar. E considerando o princípio V, da coexistência de instituições públicas e privadas, torna-se indispensável sua complementação pelo princípio IX, da garantia de padrão de qualidade.
No que se refere à igualdade específica de acesso e à permanência do primeiro princípio, entendemos que o princípio da gratuidade (VI) lhe é complementar. E considerando o princípio V, da coexistência de instituições públicas e privadas, torna-se indispensável sua complementação pelo princípio IX, da garantia de padrão de qualidade.
Atenção - É condição sine qua non da igualdade assegurar que todos, em instituições públicas ou privadas, tenham acesso a ensino de qualidade. No mesmo sentido, podemos entender o princípio da valorização do profissional de educação, que só assim pode atuar com qualidade, já que uma forma de valorização do profissional é assegurar a ele condições materiais e intelectuais de atuação. Essa valorização, portanto, embora também diga respeito a questões de remuneração, não se limita a isso.
Níveis e modalidades de ensino
Dimensão de forte relevância na LDB; em seu título V (arts. 21 a 60) encontramos a seguinte descrição dos níveis e das modalidades de ensino:
A educação básica, composta de três níveis:
Educação infantil – creches (de 0 a 3 anos) e pré-escolas (de 4 e 5 anos)
É gratuita, mas não obrigatória até os 3 anos, sendo exigida a partir dos 4 anos de idade, desde a aprovação da Lei n. 12.796/2013, que atende ao aprovado pela Emenda Constitucional n. 59 de 2009. É de competência dos municípios (arts. 29 a 31).
Ensino fundamental – anos iniciais (do 1º ao 5º ano) e anos finais (do 6º ao 9º ano)
É obrigatório e gratuito. Desde 1971, com a aprovação da Lei n. 5692/1971, contava com oito anos de escolaridade. Desde 2006 (Lei n. 11.274/2006), tem a duração de nove anos. A LDB estabelece que, gradativamente, os municípios serão os responsáveis por todo o ensino fundamental. Na prática, os municípios estão atendendo aos anos iniciais e os estados, aos anos finais (arts. 32 a 34) dessa etapa da educação básica.
Ensino médio
O antigo 2º grau na Lei n. 5692/1971 (do 1º ao 3º ano) foi renomeado como ensino médio na LDB. É de responsabilidade dos estados. Pode ser técnico profissionalizante, ou propedêutico (arts. 35 e 36). Não obrigatório quando da aprovação da LDB. Passou a sê-lo, para pessoas até 17 anos, a partir de 2013, quando da aprovação da Lei n. 12.796/2013.
Saiba mais - O ensino superior é de competência da União, podendo ser oferecido por estados e municípios, desde que eles já tenham atendido aos níveis pelos quais são responsáveis em sua totalidade. Cabe à União autorizar e fiscalizar as instituições privadas de ensino superior (arts. 43 a 57).
A educação brasileira conta ainda com algumas modalidades de educação que perpassam todos os níveis da educação nacional. São elas
Educação especial 
Atende aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.
Educação a distância
Atende aos estudantes em tempos e espaços diversos, com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação (arts. 58 a 60).
Educação profissional e tecnológica
Visa preparar os estudantes a exercerem atividades produtivas, atualizando e aperfeiçoando conhecimentos tecnológicos e científicos (arts. 39 a 42).
Educação de jovens e adultos
Atende às pessoas que não tiveram acesso à Educação na idade apropriada (arts. 37 e 38).
Educação indígena
Atende às comunidades indígenas, respeitando a cultura e a língua materna de cada tribo.
Essa estrutura prevista, organizada em níveis e modalidades de educação, traz novidades em relação às anteriores, tanto em sua nomenclatura quanto em relação aos significados que pretende expressar. Resumindo compreensivamente os itens elencados, podemosdizer que o ensino fundamental não sofre grandes alterações na primeira versão da lei, já que herda o perfil do anterior ensino de 1º grau (Lei n. 5692/1971).
Modificações no ensino fundamental - Atualmente modificado, o ensino fundamental tem a duração de nove anos, não oito como inicialmente previsto, e tem ao seu lado como obrigatórios a educação infantil, a partir dos 4 anos de idade, e o ensino médio, até 17 anos de idade.
Reforma do ensino médio - O ensino médio sofreu reforma recente (Lei n. 13.415/2017), tendo modificada sua estrutura, que previa a oferta para todos os alunos do conhecimento de todas as áreas, para um modelo de itinerários formativos, que supostamente devem ser escolhidos pelo estudante, mas oficialmente dependem da oferta local de itinerários possíveis. Trata-se de levar o estudante a, desde os 15 anos, estudarem apenas os conhecimentos de uma área, ou o ensino profissionalizante, de acordo com o itinerário escolhido, perspectiva que retoma o previsto na LDB 4.024/1961 e compromete a integralidade da formação. A intenção das modalidades previstas na LDB era assegurar a universalização do acesso à educação básica, viabilizando uma estrutura do sistema educacional que permitisse a todos os cidadãos exercerem seu direito constitucional à Educação, respeitando suas trajetórias sociais, pertencimentos culturais, necessidades de formação específica em função de deficiências diversas, necessidades de profissionalização ou de acesso ao ensino não presencial.
É possível perceber – na LDB e na legislação complementar que a regulamenta e vem atualizando – a vontade política de atendimento aos preceitos da Constituição Cidadã de 1988 no que se refere ao direito subjetivo de todos à Educação, explicitando compromissos que articulam esse direito ao dever do Estado e da família em oferecê-lo. Dessa articulação, deriva a obrigatoriedade de oferta e frequência aos estudantes da educação básica.
Nota-se, na LDB, o respeito aos princípios republicanos da igualdade, da liberdade e da fraternidade no estudo do seu artigo 3º, particularmente bem-sucedido no tratamento das necessidades não óbvias ligadas a esses princípios quando se refere à importância dos conhecimentos não escolares e à necessidade de valorização docente.
Finalmente, a estrutura em grade – vertical e horizontal – do sistema traz para a legislação a possibilidade da efetiva universalização do exercício do direito à Educação ao buscar assegurar às populações marginalizadas ou esquecidas pelo sistema regular formal de ensino, o acesso a modalidades específicas de educação destinadas ao atendimento de suas necessidades peculiares.
Verificando o aprendizado
1. Considerando os aspectos fundamentais estabelecidos pela LDB, a Educação é uma função partilhada entre vários grupos existentes na sociedade. Sobre a questão de a quem compete a obrigatoriedade da Educação, analise as assertivas abaixo:
I - Nos termos do art. 205 da Constituição Federal de 1988, a Educação, que é um direito de todos, constitui dever tanto do Estado quanto da família, devendo ser promovida e incentivada por ambos e em colaboração com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
II - A obrigatoriedade da família continua expressa no art. 227, mas essa obrigatoriedade é também da sociedade e do Estado. Ainda de acordo com o art. 227, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III – A LDB trabalha com a perspectiva de a educação formar a identidade nacional brasileira e, nesse sentido, veda a possibilidade de fórmulas segregadoras, como a educação inclusiva separada da educação regular, a educação de grupos étnicos – como índios e negros que têm o direito e o dever de serem inclusos no sistema de ensino regular.
Assinale a alternativa correta:
Somente I está correta.
Somente I e II estão corretas.
Somente I e III estão corretas.
Somente II e III estão corretas.
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
As assertivas constituem elementos importantes da LDB, no entanto, em seu princípio de tolerância e reconhecimento da multiplicidade de formação, rompe com a ideia de amalgamar uma identidade nacional, reconhecendo o direito à individualidade e a sua garantia. A título de exemplo, podemos falar da questão da entrada na educação infantil e, ainda, para os grupos que não desejam integração, permite fundamentos e organização próprios em uma modalidade de ensino, como o da educação do campo ou da educação indígena.
2. A LDB foi organizada diante de importantes debates intelectuais de educadores brasileiros. De fato, ela é uma demanda prevista e organizada a partir da Constituição. Partindo desses diálogos, ela tem alguns princípios básicos. As assertivas abaixo apresentam alguns desses princípios:
I - Nos termos do art. 2º da LDB, a Educação, dever da família e do Estado (art. 205 da CF/88), inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
II - De acordo com o art. 3º da LDB, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância.
III – De acordo com os princípios V, VI e IX, a Educação passa a ser entendida como um bem público, logo, as instituições privadas de ensino – não gratuitas – não devem possuir fins lucrativos. Essa perspectiva visa garantir a igualdade para todos os sujeitos.
Assinale a alternativa correta:
Somente a I está correta.
Somente a II está correta.
Somente I e II estão corretas.
Somente II e III estão corretas.
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
O princípio de igualdade – previsto na assertiva III – está correto, no entanto, o seu fundamento não é a garantia de uma educação gratuita para todos, mas a responsabilidade de assegurar a gratuidade aos que dela precisarem e o acesso à educação privada aos que por ela se interessarem.
Módulo 3 - Reconhecer, na LDB, os temas mais relevantes do cenário educacional brasileiro historicamente
Reconhecendo a LDB como um instrumento de política pública
Abordaremos alguns temas específicos que vêm se constituindo como focos de grandes debates entre campos políticos distintos há muito tempo. São questões polêmicas que atravessam o tempo, e os debates em torno da educação nacional, sua estrutura e características desembocam sobre problemas mais globais que envolvem:
· A própria identidade nacional – como é o caso do ensino religioso;
· Os princípios regentes da questão da coisa pública – como a gestão e o financiamento da Educação;
· Os princípios e as necessidades da formação docente;
· O embate entre a unificação e o respeito à pluralidade nacional, tanto no que se refere a propostas curriculares quanto no que diz respeito às modalidades de ensino, com especial destaque ao problema da profissionalização e do acesso ao ensino superior.
Esses diferentes temas perpassam nossa história e estão presentes no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, como veremos a seguir.
Os temas deste módulo se relacionam aos princípios para a educação pública preconizados pelo Manifesto dos Pioneiros de 1932: laicidade, gratuidade e obrigatoriedade da escola básica – de 7 a 15 anos de idade – além da chamada coeducação, ou seja, a não separação de meninas e meninos na escola pública.
No documento, propunham seus signatários
A laicidade, gratuidade,obrigatoriedade e coeducação são outros tantos princípios em que assenta a escola unificada e os quais decorrem tanto da subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do direito biológico que cada ser humano tem à educação. A laicidade, a qual coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio a todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola quando utilizada como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas. A gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um princípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus, acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo gratuito.
A questão do ensino religioso
O ensino religioso está presente nos embates educacionais brasileiros desde antes da Independência. Ainda no século XVIII, um conflito entre a coroa portuguesa e os jesuítas levou à expulsão destes pelo Marquês de Pombal, tanto de Portugal quanto de suas colônias.
Educação jesuítica - Conforme Almeida (2014), a educação jesuítica no Brasil teve início em 1549, com a Companhia de Jesus, representante da Igreja Católica, fundada por Inácio de Loyola, em um contexto de reação da Igreja Católica à Reforma Protestante, sendo a protagonista do início de nossa história educacional, com hegemonia do ensino brasileiro até 1759, quando os padres jesuítas foram expulsos de Portugal e de suas colônias pelo Marquês de Pombal.
Embora houvesse outras entidades educadoras no país, era a educação jesuítica, e a catequese a ela associada, que prevalecia no território nacional. A meta dessa educação era efetivamente mais a de recrutar fiéis e servidores para uma Igreja Católica enfraquecida pela Reforma Luterana.
Assim, missões em comunidades indígenas e escolas foram criadas e atendiam a “curumins” e filhos de colonos que trabalhavam nas missões e nas regiões nas quais elas se instalavam, dando lugar, posteriormente, a uma educação destinada à formação das elites nacionais, excluindo as mulheres. Era um ensino desvinculado das características da sociedade brasileira, sem praticidade na formação e sem compromisso com qualquer tipo de qualificação profissional, desnecessária em um cenário agrícola e escravocrata.
De acordo com Almeida (2014), pode-se dizer que o ensino jesuítico contribuiu para a sistematização da educação na colônia, educando as elites, excluindo, portanto, os menos afortunados, como mulheres, negros e pobres. A expulsão dos jesuítas, no entanto, não provocou grandes mudanças nas propostas e práticas educacionais do país, embora estivesse influenciada pela adesão do Marquês ao ideário do enciclopedismo europeu.
Jogar Capoëra - Danse de la guerre por Johann Moritz Rugendas. Fonte: Wikimedia
Esse momento marca, talvez, a primeira ruptura de uma série, que se manifestaria de múltiplas formas e prossegue até os dias atuais, entre a Igreja e o Estado, o qual assumiu naquele momento, pela primeira vez, a responsabilidade pela oferta da Educação no Brasil.
Desde então, o embate entre perspectivas de educação centradas em valores da Igreja ou em perspectivas sociais capitaneadas pelo Estado laico permanece. Entre crises, acordos e oposições entre a visão da Igreja e do Estado em relação à Educação, um tema turbulento em todo debate educacional legal e político no Brasil, expresso desde o início do período republicano no papel a ser atribuído ao ensino religioso pela legislação e os modos de sua efetivação num país que tem como princípio a laicidade do Estado e da Educação.
Desde a proclamação da República, o embate vem se expressando em documentos e discussões, ora mais explicitamente, ora incorporado a temáticas mais amplas, como no caso do Manifesto dos Pioneiros. Na LDB de 1996, muitas mudanças em relação à oferta do ensino religioso já ocorreram, bem como foi polêmica sua inclusão na BNCC do ensino fundamental em 2017. Essas variações se relacionam com conflitos presentes na sociedade entre grupos políticos mais progressistas e mais conservadores, ao mesmo tempo em que refletem a posição das instituições religiosas e igrejas em diferentes momentos da política nacional.
Antigo Colégio dos Jesuítas em Salvador, Bahia. Fonte: Wikimedia
Entre a força dos jesuítas e a educação ligada à catequese que efetivavam a governos populares mais apartados das pressões religiosas os quais privilegiavam aspectos da formação cidadã na perspectiva da laicidade, muitas foram as formas por meio das quais a legislação retratou o momento político. Observemos as três versões da LDB: a Lei n. 4.024/1961, a Lei n. 5.692/1971 e, finalmente e de modo mais atento, as diferentes versões da Lei n. 9394/1996 para dar consistência ao nosso debate.
Conforme a LDB, embora de oferta obrigatória, o ensino religioso não é financiado pelo Estado e tampouco os docentes são ligados às escolas. Caberia, nessa perspectiva, às diferentes instituições religiosas indicar – e fica subentendido – e remunerar os docentes, cabendo à escola pública apenas o papel de recebê-los. Já na reformulação operada na Lei n. 5.692/1971, o ensino religioso parece perder espaço, sendo enunciado como parágrafo único do artigo 7º, em apenas duas linhas.
No entanto, a ideia de que o ônus não cabe ao Estado desaparece, bem como a responsabilidade das instituições religiosas pela indicação de docentes e o respeito às diferentes crenças. A primeira impressão de perda de espaço é, portanto, ilusória. Percebe-se, a partir dessa nova redação, que o Estado se ocupará mais efetivamente dessa oferta, sem abrir espaço para diferentes crenças, apenas assegurando a liberdade ao aluno de não frequentar as aulas.
Já a Lei n. 9.394/1996, quando da sua aprovação, não previa o ônus do Estado pela oferta, nos moldes da Lei n. 4.024/1961. No entanto, a forte pressão de grupos religiosos logo fez com que o artigo 33 fosse alterado e a obrigatoriedade da oferta do ensino religioso nas escolas públicas passou a ser financiada pelo Estado a partir da redação dada pela Lei n. 9.475/1997.
Lei n. 4.024/1961
Na Lei 4.024/61 lê-se que: Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acôrdo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por êle, se fôr capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável. § 1º A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo de alunos. § 2º O registro dos professôres de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva.
Embora a liberdade do aluno em cursar ou não o ensino religioso tenha permanecido e a ideia da pluralidade de crenças esteja na lei, o crescimento da influência de religiões cristãs sobre o Estado nos últimos anos vem produzindo efeitos sobre as escolas que, cada vez mais, inserem orações cristãs em suas práticas cotidianas, sem que aos alunos seja efetivamente facultada a possibilidade de não as frequentar.
Saiba mais - Lei n. 4.024/1961
Na Lei 4.024/61 lê-se que: Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acôrdo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por êle, se fôr capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável. § 1º A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo de alunos. § 2º O 
registro dos professores de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva.
“Na maioria das escolas públicas brasileiras, para passar de ano, os alunos têm que rezar. Literalmente. Levantamento feito pelo portal QEdu, a partir de dados do questionário da Prova Brasil 2011, do Ministério da Educação, mostra queem 51% dos colégios há o costume de se fazer orações ou cantar músicas religiosas. Apesar de contrariar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), segundo a qual o ensino religioso é facultativo, 49% dos diretores entrevistados admitiram que a presença nas aulas dessa disciplina é obrigatória. Para completar, em 79% das escolas não há atividades alternativas para estudantes que não queiram assistir às aulas”. Fonte: Fábio Campana.
Leia o artigo completo Contra a lei, ensino religioso é obrigatório em 49% de escolas públicas, de Fábio Campana, indicado no Explore Mais.
Acerca do que falamos sobre o ensino religioso, propomos a seguinte reflexão:
O debate em torno do ensino religioso e do direito dos alunos a não o frequentarem vem ganhando contornos cada vez mais vivos e polêmicos no cenário social e político. Lendo a notícia abaixo e considerando o que prevê a legislação, como você se posicionaria diante do fato?
A., de 13 anos, estuda numa escola municipal em São João de Meriti em que o ensino religioso é confessional e a presença nas aulas, obrigatória. Praticante de candomblé, ela diz sofrer discriminação por parte de três professoras evangélicas, que tentam convertê-la. Com medo de retaliações, a menina pede que nem seu nome nem o de seu colégio sejam identificados. Segundo seu relato, é obrigada não só a frequentar as aulas, como também a fazer orações.
A aluna não poderia, nos termos do artigo 33 da LDB, ser obrigada a frequentar a aula de religião, já que a matrícula nessa disciplina é facultativa. No entanto, sozinha em um ambiente que não assegura seu direito de crença e, com isso, o de não se matricular no ensino religioso, previsto na Constituição e assegurado na LDB, ela se vê discriminada em função de suas crenças e obrigada a obedecer à norma local, em confronto com a legislação oficial. A atitude da escola fere a Constituição e a LDB, mas a inexistência de mecanismos eficientes de proteção ao direito da aluna a obriga a seguir fazendo o que lhe dizem ser obrigatório.
O país tem leis que diz que a laicidade é direito de todos os cidadãos brasileiro.
O papel do Estado e da família na educação nacional e a legislação pertinente
Outra temática, também presente no Manifesto dos Pioneiros e em embates históricos em torno da educação nacional, se relaciona com os princípios regentes da questão da coisa pública e as obrigações do Estado perante os cidadãos.
Os temas da gratuidade e da obrigatoriedade da Educação e as questões relacionadas ao financiamento e à gestão da educação pública são, possivelmente, os principais aspectos debatidos nesse embate dos limites e das possibilidades de o Estado contemplar devidamente sua obrigação de oferta de educação pública de qualidade para todos, financiando-a sem que entidades privadas se beneficiem dessa verba destinada à Educação.
A preocupação explícita no Manifesto dos Pioneiros com a autonomia financeira do sistema educacional preconizava que:
A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um "fundo especial ou escolar" que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional pelos próprios órgãos do ensino incumbidos de sua direção.
(AZEVEDO et al., 2006)
Apesar desse alerta já em 1932, apenas na Constituição Federal de 1988 ficou explicitado o modo como a educação pública deveria ser financiada pelo Estado, assegurando menos instabilidade financeira ao Sistema Público de Educação, já que a CF previu a garantia de verbas para a Educação, entendendo como mínimo necessário 18% do valor arrecadado para a União e 25% para estados e municípios. O cálculo desses valores se faz com base na receita resultante dos impostos e das transferências constitucionais, conforme assinalado no artigo 212 da Constituição. O objetivo oficial dessa normatização é assegurar que municípios e estados mais pobres não sejam prejudicados em sua capacidade de garantir a oferta de educação de qualidade por falta de verbas.
Constituição
Além disso, no artigo 211, § 1º, da Constituição Federal de 1988 está escrito:
A União organizará o sistema federal de ensino e financiará as instituições de ensino públicas, federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
Posteriormente à LDB, ainda em 1996, foi criado o Fundo Nacional de Financiamento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), ampliado a partir de 2007 ao restante da educação básica, passando a se chamar Fundo Nacional de Financiamento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). De acordo com informe elaborado por Cleo Manhães (2019), do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), esses fundos representam uma tentativa de racionalização do gasto com a educação.
Em relação ao problema do subfinanciamento, um dos motivos apontados pela analista é o fato de a União subdimensionar o custo-aluno para não ser obrigada a repassar os valores não atingidos por estados e municípios, como previsto na normatização do FUNDEB.
Saiba mais - A transição do FUNDEF para o FUNDEB significou o aumento da complementação da União aos fundos estaduais, de R$492 milhões, em 2006, para cerca de R$14 bilhões, em 2019. [...]
Como sempre houve um subfinanciamento da Educação, ao FUNDEB foram acrescidos novos recursos, como os oriundos do IPVA, por exemplo, ampliando o financiamento e o número de alunos atendidos, mas não equacionando, ainda, a questão do subfinanciamento (MANHÃES, 2019).
O debate em torno da destinação das verbas públicas é tão antigo quanto o próprio debate em torno da educação pública. E, no que se refere à legislação e aos debates públicos, tão oscilante quanto os demais debates tratados neste módulo.
Em diferentes momentos e normatizações, houve impossibilidade de acordo em relação ao tema e aos embates entre grupos que defendiam a exclusividade de verbas públicas para a educação pública e os que aceitam e defendem o financiamento de instituições privadas, alegando a prestação de serviço por parte delas, considerado público, devendo, portanto, receber parte da verba destinada à Educação. O termo foi seguidamente usado em leis e normas para defender, sem garantir, a destinação das verbas ao sistema público, sendo defendido por uns e criticado por outros a cada momento.
Em nota recente, o Grupo de Trabalho Estado e Política Educacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (GT 5 – ANPEd) assume claramente a defesa da exclusividade das verbas públicas para a educação pública.
A ANPEd, por meio da atividade de pesquisadores(as) vinculados(as) ao GT 5 – Estado e Política Educacional, tem desenvolvido inúmeros estudos sobre a relação entre o investimento público em Educação e a diminuição das desigualdades educacionais, estabelecida como condição para a viabilização do direito humano à Educação. Tal relação nos levou, historicamente, à defesa não apenas da ampliação do montante de recursos públicos, mas também de sua destinação exclusiva à escola pública, entendida segundo o art. 19 da LDB.
A transferência de recursos públicos para escolas privadas é uma nódoa histórica do Estado brasileiro que acentua as desigualdades escolares, efetivando-se tradicionalmente de forma indiscriminada ou clientelista. Apesar de mantida, com restrições pela Constituição Federal de 1988, fato inédito em nossa legislação, a temática do repasse de recursos públicos para o setor privado arrefece nos anos seguintes à aprovação da CF/88, mas reaparece sob novas formas, 
Impulsionada por alterações constitucionais levadas a cabo a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso e estimulada pela aprovação da EC-95/2016 que fixa um teto para o investimento governamental em despesas primárias.
Na legislação atual, conforme prevê o artigo 213 da Constituição, os recursospúblicos podem ser destinados também a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, desde que comprovem não terem fins lucrativos e se comprometam a aplicar excedentes financeiros em Educação. De acordo com o referido artigo, inciso II, ainda é necessário que, em caso de encerramento de atividades, destinem seu próprio patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional – ou ao poder público.
Longe de concluída, como se vê nos debates atuais e nas tantas idas e vindas legais e políticas do tema, a questão do financiamento da Educação segue mobilizando defensores de diferentes posições, que vão desde a exclusividade de verbas públicas para a Educação e a escola pública até a defesa do financiamento de escolas e sistemas privados com fins lucrativos.
Saiba mais - Em texto esclarecedor sobre essa questão financeira e a relação entre público e privado na educação nacional, Martins (2005) afirma que:
No plano da legislação ordinária, o artigo 20 da LDB, ao categorizar as chamadas instituições privadas de ensino, entende que as particulares são definidos, em sentido estrito, como as escolas instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, sem as características das demais escolas privadas, isto é, comunitárias, confessionais e filantrópicas.
São entendidas como confessionais, segundo a LDB, no inciso III do referido artigo, as escolas instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem à orientação confessional e ideologia específicas. As escolas filantrópicas são regidas por lei própria.
As escolas comunitárias, a partir da Lei 11.183, que dá uma nova redação ao inciso II do caput do art. 20 da Lei n. 9.394/96, são consideradas as instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade.
A questão do dualismo na Educação e na sociedade
O confronto entre a unificação da oferta e o respeito à pluralidade nacional representou, em diferentes momentos de formulação e implementação de políticas educacionais e legislação que a fundamenta, um sério embate político. Essa discussão aparece e se expressa no que se refere a:
· Programas de inclusão;
· Modos de organização do sistema;
· Termos de normas nacionais em relação aos currículos escolares em diferentes níveis e modalidades;
· Direitos de diferentes segmentos populacionais ao acesso e à permanência no sistema escolar.
Poderíamos tratar de aspectos diversos, como o financiamento público para a educação privada. De um lado busca-se a excelência em gestão de recursos, atendendo a um púbico mais amplo do que o das instituições públicas, com regras e burocracias que as deixam menos dinâmicas. De outro lado, essas mesmas instituições alegam não atingir a modernização necessária por falta de investimento público. O dualismo se materializa em contradição entre a ação necessária da política pública para atender aos anseios sociais e a necessidade de cumprir o orçamento e as demandas do capital, os quais fazem parte do Estado e de suas necessidades.
O dualismo permeia a história da educação brasileira. Veja a seguir:
A profissionalização
O exemplo mais flagrante do dualismo na educação brasileira envolve a questão da profissionalização. Já no texto da Reforma Capanema, de 1937, fica claro que a escola para as elites deve preparar para o prosseguimento de estudos até níveis superiores e a escola para as populações menos afortunadas deve se limitar a ensinar o necessário para a profissionalização rápida e o ingresso no mercado de trabalho. A chamada Reforma Capanema reformulou a estrutura da escolarização e criou o ensino colegial, que dava acesso às universidades, paralelamente ao ramo secundário técnico/profissional, com caráter de terminalidade.
** Estrutura da escolarização
O estudioso Saviani (2008) esclarece: o conjunto das reformas tinha caráter centralista, fortemente burocratizado: dualista, separando o ensino secundário, destinado às elites condutoras, do ensino profissional, destinado ao povo e concedendo apenas ao ramo secundário a prerrogativa de acesso a qualquer carreira de nível superior; corporativista, pois vinculava estreitamente cada ramo ou tipo de ensino às profissões e aos ofícios requeridos pela organização social.
A normatização do dualismo
A LDB 4.024/61 manteve uma normatização dualista a qual não previa – para alunos que frequentaram o ensino técnico, voltado à formação profissional – a possibilidade de ingresso no ensino superior, especificamente referido como possibilidade aos concluintes do colegial (atual ensino médio). Talvez surpreendentemente, a Lei n. 5.692/1971 rompe com esse dualismo em sua estrutura ao prever a unificação, no que passou a ser chamado de segundo grau, entre a formação propedêutica destinada ao ingresso no nível superior e a formação profissional. Segundo a lei, todos os estabelecimentos de ensino, públicos e/ou privados, deveriam oferecer simultaneamente formação geral e profissional.
A tentativa de superação do dualismo
A nova legislação, a partir da fusão entre sistemas antes separados de formação técnica profissional e formação propedêutica, assume como intenção a superação do dualismo que vigorava na norma anterior. No entanto, ao contrário do que esperavam os legisladores, a norma foi um fracasso e retirada da lei em 1982, quando foi aprovada a Lei n. 7.044/1982, que desobrigava as instituições de ensino a formar profissionais e a preparar estudantes para o acesso ao ensino superior simultaneamente.
Concretamente, percebe-se que a lei produziu e aprofundou a legitimação da exclusão dos estudantes que frequentavam escolas reconhecidas pela qualidade da sua formação profissional, já que essas nunca conseguiram oferecer, em condições ideais, a formação geral necessária para o ingresso no nível superior.
Os alunos que frequentavam o segundo grau técnico continuaram a ter dificuldade de ingressar nas faculdades e universidades, porque não obtinham notas suficientemente altas para alcançar as vagas pretendidas, as quais continuaram sendo ocupadas pelos estudantes provenientes das escolas de excelência em formação geral. Essas, por sua vez, jamais conseguiram formar dignamente profissionais de nível médio, mas isso não era um problema, considerando que a meta das elites era o ingresso na universidade. A partir de 1982, então, voltamos a ter o mesmo problema antes observado, de um dualismo, que se não era mais oficial, permanecia ativo e produzindo a exclusão das classes trabalhadoras do nível superior.
**Neste vídeo, com o professor Rodrigo Rainha, especialista respondem a perguntas sobre polêmicas e dualidades da educação brasileira: ensino religioso, financiamento da educação pública e privada e propostas curriculares.
Reformas da LDB
Investimento em modelos técnicos - A partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), manteve-se um foco sobre a necessidade do investimento em modelos técnicos, como política pública relativa à exclusão e à necessidade de entrada rápida no mercado de trabalho, mas sem reduzir o estudante ao seu ofício, segregação clássica e já experimentada nos modelos tecnicistas.
As fórmulas mantiveram o dualismo: o primeiro criava centros estaduais e estimulava seu fomento pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, mas também abria linhas de investimentos para o ensino privado criar condições de graduações “rápidas” e cursos tecnólogos que permitissem a entrada no mercado de trabalho.
Os Institutos Federais - O governo Luís Inácio mudou isso, com a criação de Institutos Federais – substituindo e ampliando a antiga rede herdada de períodos da ditadura civil-militar –, mas também utilizou a rede privada para a criação de programas como o PRONATEC, entendendo a dificuldade de promover o número de formações necessárias. Não viveu o dualismo de separar os estudantes entre profissionais e intelectuais, masmanteve a contradição em relação a investimento público em espaços privados.
A reforma do ensino médio - Sem ter logrado grande sucesso, já que o ensino médio continuou sendo um problema relevante na educação brasileira, por diferentes motivos e dificuldades de constituição de uma identidade formadora, voltada pra terminalidade ou para a continuidade dos estudos, em 2017 – após discussão feita ao longo do governo Dilma Rousseff (2011-2016) – foi aprovada uma ampla reforma do ensino médio, promovendo muitas mudanças na LDB, expressa em detalhes na Lei n. 13.415/2017.
O governo Michel Temer e suas alterações - Em 2018 a LDB foi alterada pelo presidente Michel Temer, que, com a Lei n. 13.632, apresentou a ideia de Educação ao longo da vida e a educação especial ofertada ainda na educação infantil.
As atualizações de 2019 - Em 2019, o presidente Jair Messias Bolsonaro alterou a LDB sancionando quatro leis que versam sobre:
A escusa de consciência, prestações alternativas à aplicação de provas e à frequência a aulas realizadas em dia de guarda religiosa com a Lei n. 13.796, de 3 de janeiro de 2019;
A notificação obrigatória de faltas escolares ao Conselho Tutelar quando superiores a 30% (trinta por cento) do percentual permitido com a Lei n. 13.803, de 10 de janeiro de 2019;
A divulgação do resultado de processo seletivo de acesso a cursos superiores de graduação com a Lei n. 13.826, de 13 de maio de 2019;
A inclusão de disposições relativas às universidades comunitárias com a Lei n. 13.868, de 3 de setembro de 2019.
A reforma do ensino médio recriou o dualismo no nosso sistema educacional de uma forma particularmente perversa ao preconizar a formação de nível médio por meio de itinerários formativos que subtraíam dos currículos obrigatórios um sem número de conhecimentos necessários ao ingresso no ensino superior. Definia-se a profissionalização como um desses itinerários, a serem supostamente escolhidos pelos alunos, mas definidos pelos sistemas de ensino de acordo com as suas possibilidades de oferta, levando o estudante, com apenas 15 anos de idade, a escolher se estudaria ciências exatas, humanas, ou naturais.
Desobrigando os sistemas de ensino de assegurarem a oferta das diferentes disciplinas excluídas dos itinerários oferecidos, a reforma do ensino médio cria e reforça a exclusão de todos aqueles que não podem pagar por uma escola a qual disponha do conjunto completo de conteúdos. Ou seja, promoveu a exclusão social e a ampliação das desigualdades já existentes no país.
Saiba mais
Não deixe de conferir as leis n. 13.415/2017, n. 13.632/2018, n. 13.796/2019, n. 13.803/2019, n. 13.826/2019, n. 13.868/2019 indicadas no Explore Mais ao final deste tema.
Aspectos da inclusão na LDB - Ainda é necessário citar, no que se refere a esse dualismo na educação brasileira, o problema que envolve a educação de jovens e adultos e a educação inclusiva. Essas duas modalidades vêm buscando assegurar o direito à educação plena aos seus alunos, lutando desde tempos imemoriais para garantir àqueles que precisam frequentá-las o direito de acesso e de permanência no sistema de ensino com o devido alcance aos conhecimentos aos quais têm direito.
Seja para o prosseguimento dos estudos ou para uma formação mais completa, o direito de aprender dentro dos seus ritmos e das suas possibilidades não vem sendo respeitado, já que, com frequência, não lhes são oferecidas as condições mínimas para seguir. Nesses casos, não se trata mais de mero dualismo, mas de um processo de reprodução ad infinitum de uma exclusão vivida, no caso da EJA, pelo não acesso ou não respeito aos ritmos de aprendizagem dos estudantes que a procuram e dela necessitam, e no caso da educação inclusiva, pela exclusão social de deficientes, independentemente das suas possibilidades, capacidades e necessidades de aprendizagem.
Nem a LDB, nem a legislação complementar têm sido capazes de superar esses problemas, incrustados em nossa sociedade e, por isso, difíceis de enfrentar.
Relembrando...
Vimos, primeiramente, com o tema do ensino religioso, o quanto a sociedade brasileira é marcada pela influência da Igreja no Estado e, portanto, no sistema educacional. Assim, vivenciam-se no país dificuldades e problemas na implantação de uma educação laica, apesar de ela estar prevista na Constituição e na própria LDB. Um dos problemas enfrentados atualmente em relação ao tema é o da crescente influência de religiões conservadoras e excludentes no país, as quais vêm conseguindo impor seus valores e mesmo suas práticas de oração ao sistema educacional. Com isso, imensas camadas sociais praticantes de outras religiões, desqualificadas, desvalorizadas e mesmo não reconhecidas como legítimas, ou ainda famílias que optam por não oferecer aos seus membros educação vinculada a qualquer tipo de religiosidade, são desrespeitadas nos seus direitos à educação laica, pública e gratuita de qualidade.
Vimos, também, o embate que envolve a problemática do financiamento da Educação e mais uma vez percebemos a impossibilidade do Estado brasileiro de assumir em sua plenitude a sua obrigação de oferecer educação pública para todos, financiando o sistema público sem privilegiar segmentos sociais mais abastados ou mesmo investidores em Educação que buscam, muitas vezes de forma velada, valorizar o seu capital e gerar lucro por meio de oferta educacional. Mesmo nos casos de filantropia, são pontos de vista parciais e situados em interesses de determinados grupos sociais, resultando no recebimento de verbas que deviam ser destinadas às escolas as quais buscam o interesse público mais amplo, como é o caso da escola pública.
Finalmente, o polêmico tema da Educação para todos, do direito de todos à Educação e à aprendizagem foi discutido na última parte do módulo quando tratamos do dualismo existente, desde o Império, na oferta da educação brasileira para ricos e pobres.
Verificando o aprendizado
1. Como podemos analisar o embate entre público e privado existente no quesito financiamento da Educação em relação às dificuldades que o Estado brasileiro enfrenta no cumprimento de seu dever de assegurar a universalização do acesso à educação pública, gratuita e de qualidade?
O uso de verbas públicas para instituições privadas, mesmo limitado a instituições sem fins lucrativos, compromete o financiamento da educação pública e a necessária ampliação da oferta até que se possa ter 100% das crianças e adolescentes do país em escolas.
A coexistência de instituições públicas e privadas, que contribui para assegurar a pluralidade pedagógica e amplia o direito de escolha das famílias, não pode servir de argumento para a precarização ou redução da oferta da educação pública e gratuita de qualidade.
A escola pública é para todos e sua complementação por oferta de educação privada deve ser tão somente uma opção para os que a desejam. Assim, o uso de verbas públicas para a educação privada só deveria ser considerado depois que o Estado tiver assegurado, em todos os níveis e modalidades, o acesso de todos à educação pública e gratuita de qualidade, conforme preconizado na Constituição e na LDB.
Do ponto de vista da política pública, o uso de verbas da Educação para a iniciativa privada é o Estado terceirizar suas obrigações, passando-a a instituições privadas, oferecendo vagas que as instituições públicas não conseguiriam.
Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A possibilidade de o Estado intervir financeiramente nas instituições educacionais, enquanto as instituições públicas apresentam dificuldades de manutenção, ao mesmo tempo que visa à ampliação do número de vagas e ao controle de custos dessas instituições, enfraquece a possibilidade de investimento em instituições públicas, as quais indicam não ter mais vagas por sucateamento.
2. São questões importantes, mas consideradas controversas na LDB 1996, as temáticas a seguir:
I. A isonomia, em uma proposta de educação igualitária e que permita a todos os que estejam em uma escola ter o mesmo nível de informação e profundidade.
II. A gratuidade,

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