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Cuiabá, 2010 Oreste Preti PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO: ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E PEDAGÓGICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Não há vento favorável para quem não sabe a que porto se dirige - Ignoranti quem portum petat, nullus suus ventus - (Lucius Annaeus Seneca - 4 a.C. - 65 d.C., romano, filósofo latino, escritor, político). O texto didático é um texto pretexto para a aprendiza- gem. Em seus fins e objetivos reside o começo da apren- dizagem (PAVIANI apud SANTOS, 2001). Ao acompanharmos a produção de MDI de diferentes institui- ções, observamos certa dificuldade por parte de professores-autores em elaborar objetivos de aprendizagem. Talvez isso ocorra: - porque muitos dos que atuam no ensino superior não tenham tido formação pedagógica ao longo de sua formação profissio- nal, ou - porque o plano de ensino que apresentam à coordenação de seu curso, no início do semestre letivo, seja encarado como cumpri- mento de mera formalidade acadêmica, ou - porque, quando se elabora o MDI, os objetivos são redigidos depois de elaborar o texto escrito e “dependurados” no começo da unidade, para atender “mera” exigência do projeto gráfico, da equipe pedagógica, ou, quem sabe, - porque quem redige os objetivos é o designer educacional e não o autor, pois este não vê necessidade de apresentá-los no texto. Como o designer nem sempre é especialista do conteúdo daque- le MDI, dificilmente consegue traduzir o que o professor pre- tende que o estudante aprenda em determinada unidade. 6 128 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Mas, por que na elaboração do texto didático, no campo da EaD, se insiste na importância da formulação e explicitação dos objetivos para o estudante? Com que finalidade? Quando mencionávamos, em páginas anteriores, o processo de produção do texto didático, acenávamos a que um dos caminhos, em sua elaboração, era iniciar pelos objetivos, em seguida redigir as atividades, para depois produzir o texto-base, lembra? Por que será? Porque, em nosso entender, o referido caminho possibilitaria ao autor focar o que é mais importante no conteúdo, aquilo que se espera possa o estudante aprender, que consiga realizar. Nessa postura, o autor perceberia de imediato, com maior clareza, se os objetivos propostos são pertinentes ou não, se estão bem-formulados. De fato, estudos realizados por diferentes especialistas da EaD (MARTÍN CORDERO, 1999; LANDRY, 1985; ROWNTREE, 1999) indicam que uso de objetivos no texto didático contribui positivamente no processo de ensino-aprendizagem, em diferentes aspectos. Vejamos alguns deles. Em relação a você, autor: A redação dos objetivos é estratégia pedagógica valiosa para: - orientar e dirigir sua ação de ensinar; - selecionar conteúdo; - não desviar do caminho quando está escrevendo (o que interes- sa ou não); - propor atividades didáticas adequadas e redigir “critérios” que auxiliem o estudante a autoavaliar seu desempenho; - dar pistas ao tutor sobre o processo de avaliação das atividades propostas no texto; - poder começar a escrever por um dos objetivos, não necessaria- mente “do começo”. Assim, os objetivos contribuem na organização do conteúdo e das atividades de aprendizagem, por parte do professor-autor. E para o estudante, em que podem contribuir? Em relação ao estudante Os objetivos contribuem em diferentes aspectos da aprendizagem: - permitem que o estudante saiba, desde o início, o que irá fazer, o que deverá alcançar, no percurso e ao final dele; 129Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas - isso possibilita desenvolver sua autoconfiança, pois, ao conhecer o que se espera dele em determinada etapa de estudo, provavelmente obterá sucesso em alcançar o que o objetivo específico demarca. - propõem conhecimentos, habilidades e atitudes, em função do perfil profissional, indicando em que aspec- to/dimensão de sua formação a disciplina irá contribuir; - neles figuram os processos cognitivos que se realizam no estudante e o conteúdo com o qual irá lidar, sobretudo nos momentos de avaliação final; - servem para que avalie o que já alcançou (para autoava- liação; desenvolver sua autoconfiança); - possibilitam que o estudante identifique o que ainda não domina (“tomada de consciência”) e possa, assim, reori- entar suas estratégias de estudo ( ); - permitem verificar as hipóteses que o estudante formula em relação ao conceito estudado, e isto serve como ponto de partida para a mediação pedagógica. Em poucas palavras, indicam ao estudante o que deve aprender, quais os conhecimentos a serem “assimilados”, que competências cons- truir, que habilidades e atitudes desenvolver, sobre o que será avaliado. Isso permite a ele focar a atenção na leitura do material didático e sentir motivação desde o início do estudo. metacognição Competência e habilidade Vamos procurar explicar estes conceitos por meio de um exemplo muito conhecido e utiliza- do. Certamente, você sabe dirigir um carro ou andar de bicicleta. Lembra como aprendeu? E agora, como você dirige? Quando começou aprender a dirigir um carro. Parecia-lhe impos- sível segurar o volante, pisar na embreagem, no freio, no acelerador, olhar o retrovisor, mudar de marcha, etc.. Quantos movimentos ao mesmo tempo; mão esquerda, mão direita, pé esquerdo, pé direito! Nem conseguia olhar bem a paisagem e, menos ainda, conversar com o instrutor ou com quem estivesse a seu lado lhe ensinando a dirigir. 130 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Com o treinamento, após certo tempo, passou a controlar todos estes movimentos, observar a paisagem, ouvir música, conversar com as pessoas no carro, etc. (menos falar no celular, ou fumar dirigindo), tudo de maneira natural e tranquila. Por quê? O que aconteceu? Adquiriu esquemas que lhe permitem, até hoje, dirigir auto- maticamente, sem pensar no que está fazendo: diminui a velocidade, freia, pisa na embreagem, etc. Você desenvolveu habilidades! Porém, cotidianamente, o trânsito lhe apresenta situações novas. Você lida com elas com tranquilidade: freia de repente diante de um obstáculo, ultrapassa.... Às vezes sua vida pode depender de sua mane- ira de responder a estas novas situações, de solucionar o inesperado. Você desenvolveu competências! Mobilizou conhecimentos e esquemas para dar respostas novas, criativas, eficazes. Em resumo. Os objetivos apontam as propostas ou metas valiosas que o autor entende desejáveis e configuram os resultados a serem alcançados pelo estudante. Ajudam a orientá-lo no processo de aprendizagem e sobre o “produ- to” que dele resultará. Assim, permitem que o “produto” da disciplina possa ser avaliado (por ele, pelo tutor, pelo pro- fessor) e “mensurado” (saber onde o estudante se encontra ao longo e ao final da caminhada). Em pinceladas rápidas, os objetivos atuam como estímulos orientadores, dirigindo a aprendizagem do estudante e desen- volvendo sua autoconfiança. O livro Inteligências Múltiplas (Howard Gardner, 1985) utiliza estes conceitos como constituintes da estrutura da inteligência. Ou seja, são considerados mecanismos mentais. 6.1 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS Por que dissociar objetivos gerais e específicos? Qual a diferença? Objetivos Gerais São formulados no início da disciplina, na apresentação, para expressar as intenções do professor-autor, sem especificações precisas do que será realizado. 131Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas São amplos, descritivos e integrais. Não são de alcance imedia- to, mas de um processo mais ou menos longo, derivados do perfil pro- fissional. Sua formulação pode parecer algo abstrato, vago, porém sempre centrada no aprendiz. Como devem ser formulados? - fazer breve descrição dos objetivos a serem alcançados ao final do curso; - frisar até onde se pretende chegar; - utilizar verbos ativos, cujo sujeitoseja o estudante; - usar verbos no infinitivo. Objetivos Específicos São formulados no início de cada unidade e se expressam como manifestações observáveis, mais fáceis de ser verificados, “mensura- dos”, avaliados se foram alcançados ou não. Devem expressar o que o estudante deve fazer, por meio de ver- bos transitivos operativos, não ambíguos. Em sua formulação, deve aparecer pelo menos o nível mínimo a ser alcançado pelo aprendiz e as circunstâncias relevantes. Não esquecer que cada objetivo deve referir-se somente a uma manifestação, a um tipo de resultado. Como devem ser formulados? - descrevê-los detalhadamente; - redigi-los de forma coerente com os objetivos gerais; - usar verbos no infinitivo. 6.2 FORMULAÇÃO O objetivo deve ser bem-formulado para que possa - Informar a quem lê a exata intenção de quem elaborou; - Ser identificado por todos da mesma forma; - Primar pela clareza e precisão; - Ser atraente e motivante; - Estar em sintonia com os requisitos da avaliação; - Estar disposto numa sequência de desenvolvimento progressivo; - Dar ao estudante feedback acerca do que se espera que ele aprenda e faça. 132 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Requisitos para sua boa formulação: - Descrição do comportamento (observável) que o estudante deve apresentar após o processo de ensino-aprendizagem (o estudante faz o quê?). Ex.: Relacionar, enumerar, calcular, nomear, fazer um resumo, um quadro sinótico, realizar a operação X, etc. - Descrição das condições nas quais o estudante deve demonstrar o comportamento (com o quê?); Ex.: Dado um projetor de luz….; dadas cinco frases com desvi- os de língua portuguesa….; dada uma lista com dez nomes….. - Critérios ou padrões de desempenho mínimo aceitável (com qual nível de rendimento?). Ex.: vinte e cinco das trinta questões devem ser respondidas; apresentar no mínimo três causas que expliquem... Equívocos em sua formulação - Descrever o comportamento do professor-autor, do que ele pretende realizar, em vez de dizer aquilo que o estudante deve “dar conta”. Ex.: Nesta unidade, pretendemos descrever o processo de produção. Iremos explicar como funciona um motor ...; - Descrever o processo de aprendizagem, e não o produto da aprendizagem. Ex.: Esperamos que o estudante desenvolva a capacidade de; Levar o estudante a adquirir conhecimento sobre; - Descrever tópicos de assunto. Ex.: Nosso objetivo é discutir o que é educação ambiental, o histórico da educação ambiental; - Descrever dois comportamentos do estudante. Ex.: Ao final da leitura desta unidade, você estará apto a concei- tuar estatística, descrevendo sua origem e utilidade no campo profissional. Evite: - Fazer uma lista por demais extensa; - Utilizar termos que o estudante ainda não conhece; 133Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas - Usar verbos como “conhecer”, “ compreender”, por serem muito vagos e não oferecerem ideia clara ao estudante do que se espera dele. 6.3 VERBOS No momento de redigir os objetivos, paira certa dificuldade na escolha adequada dos verbos. Como saber se aquele verbo traduz bem o que você espera que o estudante dê conta de realizar e/ou se aquele verbo vai ser compreendido de maneira correta pelo estudante? Realmente, há verbos que podem provocar equívocos ou confun- dir o estudante, pois enfeixam diferente interpretação. Outros são mais claros e precisos. Por isso, apresentamos a seguir uma lista destes verbos (PENTEADO et al., 1970, p. 200). Verbos que admitem poucas interpretações: alterar analisar aplicar assinalar avaliar calcular categorizar citar classificar colocar comparar compilar completar conceituar concluir conectar construir contrastar correlacionar corrigir correlacionar corrigir criticar demonstrar descrever definir diagramar diferenciar discriminar discutir distinguir dividir enumerar enunciar escolher escrever explicar exemplificar falar fazer formular generalizar identificar ilustrar indicar Interpretar jogar juntar justificar ler listar localizar manipular marcar multiplicar medir mudar modificar nomear numerar ordenar organizar planejar preparar produzir pintar perguntar preencher projetar reagrupar recitar relacionar relatar reconhecer repetir reproduzir resolver responder reunir revisar selecionar separar solucionar sintetizar somar subtrair sumariar soletrar traduzir transformar tirar usar utilizar 134 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Verbos que admitem muitas interpretações: acreditar adquirir apreciar aperfeiçoar aprender captar comportar-se compreender conhecer conscientizar desenvolver dominar entender Interessar-se julgar melhorar motivar orientar pensar raciocinar relacionar-se saber Na literatura que trata dos objetivos no ensino, você encontrará diferentes classificações, isto é, formas variadas de organizar os objeti- vos de acordo com o campo em que atuam. Vejamos, resumidamente, duas das mais conhecidas classificações. Taxionomia de Bloom Benjamin Bloom liderou um grupo formado pela American Psychological Association para criar uma "classificação de objetivos de processos educacionais" (1956). Classificou os objetivos em três domínios: - cognitivo - afetivo - psicomotor - No nível cognitivo, Bloom apresenta seis categorias principais, de complexidade crescente. Em cada uma, os verbos que podem ser utilizados para explicitá-las. Quadro 5. Funções mentais e verbos que podem ser usados em cada nível de domínio cognitivo CONHECIMENTO Definir Repetir Apontar Inscrever Registrar Marcar Recordar Nomear COMPREENSÃO Traduzir Reafirmar Discutir Descrever Explicar Expressar Identificar Localizar APLICAÇÃO Interpretar Aplicar Usar Empregar Demonstrar Dramatizar Praticar Ilustrar ANÁLISE Distinguir Analisar Diferenciar Calcular Experimentar Provar Comparar Contrastar SÍNTESE Compor Planejar Esquematizar Formular Coordenar Conjugar Reunir Construir AVALIAÇÃO Julgar Avaliar Taxar Validar Selecionar Escolher Valorizar Estimar 135Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Relatar Sublinhar Relacionar Anunciar Conceituar Reconhecer Evocar Listar Mencionar Rotular Transcrever Revisar Narrar Distinguir Analisar Especificar Interpretar Exemplificar Predizer Traduzir Operar Inventariar Esboçar Traçar Relacionar Resolver Usar Descobrir Elaborar Modificar Criticar Investigar Debater Examinar Categorizar Classificar Identificar Selecionar Dividir Separar Criar Erigir Organizar Prestar Sintetizar Imaginar Produzir Medir Comparar Concluir Criticar Ao propor estes objetivos de aprendizagem ao estudante, o que se espera dele, que resultantes? NÍVEL Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação RESULTANTES Rótulos, nomes, fatos, definições, conceitos Argumento, explicação, descrição, resumo Diagrama, ilustração, coleção, mapa, jogo, quebra-cabeça, modelo, relato, fotografia, lição Gráfico, questionário, categoria, levantamento, tabela, delineamento, diagrama, conclusão, lista, plano, resumo Poema, projeto, resumo do projeto, fórmula, invenção, história, solução, máquina, filme, programa, produto Julgamento, recomendação, veredicto, conclusão, avaliação, investigação No primeiro nível, o do conhecimento, o autor espera que o estu- dante ponha em evidência conhecimento de especificidades (como ter- minologias, fatos, sequências, classificações, categorias, metodologias, critérios, etc.) e de universalidades e abstrações (princípios, teorias, etc.). A aprendizagem se dá muito pela memorização, pela reprodução de uma informação dada. O nível da compreensão abarca a tradução, a interpretação e a extrapolação da mensagem contida em um texto. A partir do raciocínio, o estudante traduz seu conhecimento fazendo recurso a seu próprio voca- bulário. É capaz de usar uma informação original e ampliá-la, reduzi-la, representá-la de outra forma, ou prever consequências a partir dela. O nível daaplicação reporta à capacidade de o estudante fazer uso de abstrações em situações particulares e concretas, que lhe sejam novas. Transporta uma informação recebida para situação nova e específica. Os níveis de análise e síntese pretendem desenvolver, no estudan- te, a capacidade de realizar o movimento de identificar as partes de um 136 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas todo, estabelecer relações entre estas partes (análise) para o movimento de formação do todo (síntese), a partir das particularidades, de perceber que este todo constitui um padrão, ou estrutura que antes não estava evidente. Finalmente, em Avaliação, o nível mais complexo, espera-se do estudante a capacidade de julgamento sobre algo, assentado em critérios próprios ou noutros que lhe são fornecidos. - No nível afetivo, espera-se do estudante mudanças de atitudes, de valores, interesses. De um nível em que o estudante se com- porta passivamente, em relação a determinado valor apresenta- do, passando por seu interesse e pela internalização deste valor, o estudante passa a reinterpretar este valor à luz de outros, para, finalmente, vivenciar este valor, externá-lo. - No nível psicomotor, que engloba desde a percepção que o estudante tem de todos os movimentos envolvidos em determi- nada ação até o domínio sobre esses movimentos. Desenvolve habilidades motoras, de atividades que exigem coordenação neuromuscular. Aqui optamos por desenvolver mais a taxionomia de Bloom, por ser a mais conhecida e utilizada. Mas há outras, como a de Robert M. Gagné (1965), que descreve as condições que favorecem a aprendiza- gem de uma capacidade específica. Segundo Gagné, há cinco tipos de resultados de aprendizagem: - Informação verbal e conhecimento: capacidade de verbalizar nomes de objetos, de fatos, trechos de textos e outras informações armazenadas na memória; - Estratégias cognitivas: capacidade de criar ou escolher um processo mental que condu- za à solução de um problema ou ao desempenho de uma tarefa); - Habilidades motoras: capacidade de desempenhar tarefas físicas segundo padrões estabelecidos; - Habilidades intelectuais: capacidade de discriminar classes de coisas diferentes, por suas características físicas e por suas características abstratas; de aplicar uma regra na solução de um problema ou na realização de uma tarefa, de aplicar uma regra de ordem superior. - Atitudes: capacidade de adotar um comportamento específico em concor- dância com valores e crenças adquiridos. 137Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Você pode conhecer outras, ou, no processo de produção, ser orientado a seguir outra. Mas o importante a ser assinalado é que nenhu- ma taxionomia pode ser, por si só, considerada como a melhor, que deve ser seguida obrigatoriamente. Em suma, ela ajuda você a ter clareza do caminho que quer per- correr no processo de ensinar para que o processo de aprender se efetive, propiciando articulação entre o conteúdo (a ser ensinado) e o os objetivos (o que se espera do estudante aprender). No entendimento de Maria Eugênia de Lima e Montes Castanho (1991), o importante é atuar em diferentes níveis de complexida- de, partindo do mais elementar, que é o conhecimento de terminologia, passando pelo conhecimento de fatos e de regras e princípios, e atingindo as habilidades mentais cada vez mais complexas que desembocam na capacida- de crítica e avaliativa (p. 63). É de se perguntar: o que dizem as pesquisas sobre o uso dos obje- tivos de aprendizagem no texto didático? Pesquisas realizadas por instituições tradicionais que atuam na EaD, como a Open University (Inglaterra), a Universidad Nacional de Educación a Distancia (Espanha) e a Télé-université du Québéc (Cana- dá), isto ponderam: - grupos que leram textos com objetivos, apresentaram nível de retenção maior que grupos que leram textos sem objetivos; - por outro lado, a aprendizagem diminui quando se utilizam muitos objetivos no início do texto. Independentemente das controvérsias em relação à eficácia de redigir objetivos ou não, deste jeito ou daquele, a maioria das instituições que atuam na EaD optam pela explicitação dos objetivos no texto didáti- co, pois acreditam que isso beneficia o estudante em sua aprendizagem. Disciplina “Avaliação da Aprendizagem na Educação Superior” Objetivos Gerais: - Reconhecer os aspectos gerais da avaliação e da avalia- ção da aprendizagem no ensino superior; Exemplo 1 138 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas - Compreender os principais aspectos referentes à prática da avaliação da aprendizagem no ensino superior. Objetivos Específicos: - Identificar as principais abordagens da avaliação educa- cional e seus níveis; - Reconhecer o conceito de avaliação da aprendizagem; - Diferenciar as funções da avaliação da aprendizagem; - Refletir criticamente sobre a avaliação da aprendizagem no ensino superior; - Reconhecer a importância do planejamento da avalia- ção e os aspectos que a envolvem; - Diferenciar os tipos de conteúdos e sua implicação na avaliação da aprendizagem; - Debater a questão das competências e das habilidades, e sua importância, para a avaliação da aprendizagem; - Reconhecer a importância dos critérios e padrões de avaliação da aprendizagem; - Elaborar critérios e padrões de avaliação; - Reconhecer os principais instrumentos de avaliação da aprendizagem e sua aplicabilidade no ensino superior. TV na Escola e os Desafios de Hoje Objetivos Gerais: - Capacitar profissionais de instituições públicas de ensino fundamental e médio para o melhor uso, no cotidiano escolar, dos recursos proporcionados pelas tecnologias da informação e da comunicação, com ênfase na linguagem audiovisual. Específicos: - Identificar aspectos teóricos e práticos dos meios de comuni- cação no contexto das novas tecnologias da informação e da Exemplo 2 139Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Mas preocupar-se com os aspectos técnicos e linguísticos na elaboração de objetivos não é suficiente. Há algo a mais, e muito impor- tante a considerar. Dizíamos, na primeira unidade, que o processo de ensinar, para realizar também sua função educativa, necessita envolver o estudante em seu todo (pensar-sentir-agir), propiciando-lhe formação técnico-científica e político-social. comunicação (uso integrado de várias linguagens de comu- nicação: sonora, visuais, audiovisuais, informáticas), desta- cando os mais úteis ao processo de ensino e aprendizagem; - Familiarizar-se com as tecnologias da informação e da comunicação e sua utilização pedagógica; - Compreender as capacidades perceptivas, emocionais, cognitivas e comunicacionais do homem, por meio das contribuições científicas; - Explorar o potencial de recursos da TV Escola no projeto politico-pedagógico da escola, sua gestão no cotidiano esco- lar e sua disponibilidade à comunidade; - Elaborar propostas concretas para utilizar o acervo da TV Escola e de outras emissoras no desenvolvimento de ativida- des curriculares nas diferentes áreas do conhecimento, assim como outras tecnologias da informação e da comunicação. Preocupar-se com verbos permitidos e proibidos, que se refiram ao desempenho do estudante e não do profes- sor, e outras formalidades desse tipo são questiúnculas que muitas vezes deslocam a tônica das grandes ques- tões que se colocam cotidianamente. (CASTANHO, 1991, p. 58). Assim, quando a equipe de professores do curso elaborara o projeto pedagógico, define os fins sociopolíticos do curso, qual a contribuição do curso na formação do futuro profissional. Por meio destes objetivos (tam- bém nomeados de mediatos, abertos, pedagógicos, educativos), põem-se em ênfase as características que se pretende desenvolver no profissional e que, de maneira geral, não podem ser percebidas ou avaliadas de imediato, pois o desempenho do estudante é algonão previsível. Mas, certamente, terão impacto em sua formação acadêmica e profissional. Você, então, ao elaborar os objetivos gerais de sua disciplina não pode se esquecer destes objetivos sociopolíticos! Pois, 140 Produção de Material Didático Impresso: Orientações Técnicas e Pedagógicas Os objetivos em educação não dizem respeito apenas a um fragmento do real a testar, mas a uma compreensão da realidade humana que transcende os limites provinci- ais. Daí que não há como limitar o que de si é ilimitado (CASTANHO, 1991, p. 64). Enfim, a elaboração de objetivos não pode ser encarada como exigência burocrática, nem mesmo para atender a orientação pedagógica na produção de texto didático. Pois vimos, nesta unidade, que os objetivos contribuem, de maneira singular, no processo de ensino- aprendizagem, orientam o autor na seleção de conteúdo e na reda- ção do texto, e ajudam o estudante a focar a leitura no que é mais importante. Lembra do diálogo de Alice (na obra Alice no País das Maravi- lhas, de Lewis Carroll) com o gato de Cheshire quando, perdida no bos- que, queria sair daquele lugar? - Qual o caminho que devo tomar, ela pergunta? - Isso depende muito de para onde você quer ir, responde o gato. - Não me importa muito para onde. - Então, não importa o caminho que você escolher! Se não se sabe aonde ir, qualquer caminho serve, vai-se a lugar nenhum!
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