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VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT Mutação Referência: livro Genética Médica Thompson, 2015, cap 7. • Tendo em vista que a replicação do DNA não é perfeita e que erros bioquímicos podem ocorrer sem que sejam reparados pelas enzimas de reparo, tem-se a mutação. Logo, MUTAÇÕES = alterações genéticas hereditárias, as quais podem ocorrer tanto no genoma nuclear quanto no DNA de organelas e ainda por acometer células somáticas ou germinativas. • Seria melhor que nenhuma nova mutação ocorresse ou que eliminássemos todas as existentes? Não, pois o ambiente em que estamos inseridos não é constante e a todo momento somos expostos a desafios biológicos. Foi a diversidade genética proporcionada pelas mutações que permitiu a sobrevivência da espécie a longo prazo. É claro, porém, que o benefício para a população está associado a um baixo nível de variação genética. Deixando de lado esse lado positivo das mutações, daremos foco nas mutações prejudiciais. • Na breve história da prática médica, entretanto, relativamente poucas mutações benéficas foram relatadas. Uma deleção de 32 pares de base no gene do receptor de quimiocina tipo 5 (chemokine receptor type 5, CCR5) confere resistência à infecção por HIV em homozigotos e atrasa a progressão de uma infecção por HIV para AIDS em heterozigotos. • Mutação & variabilidade genética: a mutação, pelo menos na produção de pequenas variações alélicas ou quantitativas, também é um contribuinte fundamental para os mecanismos de desenvolvimento e, ainda que seus efeitos geralmente são tristes para os indivíduos, nós, como espécie, não podemos viver sem ela estando inseridos em um ambiente cíclico mutante. • Importante lembrar que a taxa de mutação observada em um indivíduo não é uma constante matemática e, portanto, pode mudar. Isso está relacionado com o fato de que a eficiência dos nossos próprios sistemas de reparo também pode ser alterada. • Frequência de mutação e Taxa de mutação não são sinônimos. Frequência de mutação se refere à proporção de um tipo de alelos em um conjunto gênico, ou melhor, a frequência com que um traço é observado em uma população, sendo uma medida da diversidade genética. Taxa de mutação é a taxa com que novos alelos mutantes são formados. Esse conceito parece simples, mas envolve três níveis diferentes até então: taxa de dano genético (relacionada ao erros durante a replicação do DNA, sendo que a maioria é reparado), taxa de evento mutacional (relacionada aos erros não reparados da replicação) e taxa de mutação (alterações que entram para o conjunto gênico). A taxa de mutação pode ainda ser influenciada por hotspots de mutação, que são áreas de atividade mutacional aumentada. Para se referir às taxas de mutação podem ser utilizados vários parâmetros: tx de mutação por nucleotídeo, por gene, por geração, por gameta... Ex. de taxas de mutação: acondroplasia, 4,2 a 14,3 x IO'5; taxa para o gene da distrofina, que está mutado nas distrofias musculares de Duchenne e Becker, é tão alta quanto 1 x 10ª. A estimativa das taxas de mutações é complexa, pois vários fatores a influenciam como a penetrância (proporção daqueles que transportam uma mutação que terão o traço, síndrome ou doença), diferenças de gênero (estudos criteriosos da região pseudoautossômica compartilhada pelos cromossomos humanos X e Y mostram que a VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT taxa de mutação pode ser maior em homens do que em mulheres), diversidade genética pré-existente. Por isso, a maior parte dos estudos são realizados em organismos-modelo e sistemas experimentais. • Polimorfismo = para a genética de populações, um polimorfismo ocorre quando o alelo mais comum tem uma frequência menor do que 99%; para a área clínica, “polimorfísmo” pode se referir a qualquer gene ou nucleotídeo para o qual mais de uma forma é encontrada na população, focando mais nos pacientes individuais e não no conjunto gênico da população. Clinicamente, uma alteração genética distinguível da sequência-padrão aceita será definida como um “polimorfismo benigno” sem significado clínico, uma “mutação” ou uma “alteração de significado clínico desconhecido”. É importante conhecer esse conceito, pois primeiramente ele foi usado para descrever a diversidade genética nas populações. Na genética médica, se refere à existência de múltiplas formas de um gene. • Reparo do DNA: o DNA é uma das únicas moléculas que sofre rotineiramente o processo de reparo em vez de ser simplesmente substituída, sendo que nesse processo atuam centenas de genes. Existem diferentes tipos de reparo para corrigir diferentes tipos de danos: (1) reparo por excisão, em que há correção de bases ausentes ou alteradas através de alterações em apenas uma das fitas; (2) reparo de malpareamento, que corrige a situação em que ambas as bases são “normais”, mas a combinação das duas não é; (3) reparo de quebras de dupla-fita, necessários quando ambas as fitas estão danificadas. No reparo por excisão de base ocorre a remoção da base incorreta e sua substituição. Isso ocorre quando a enzima N-glicosilase remove a base incorreta e, em seguida, a enzima endonuclease AP reconhece o sítio anormal e faz um corte no lado 5’ em um processo chamado de tradução de cadeias com quebras (nick translation). Após isso, a DNA-polimerase remove o sítio e o substitui por um novo nucleotídeo enquanto a enzima Ligase completa a ligação. • Os primeiros indícios da existência desses mecanismos de reparo foram encontrados em um grupo de síndromes genéticas raras, das quais fazem parte Síndrome de Lynch (reparo de malpareamento defeituoso envolvendo genes MLH1 e 3, MSH 2 e 6, PMS 1 e 2, TGFB3) e Xeroderma Pigmentoso (defeitos no reparo por excisão envolvendo genes XPA-XPG e ERCC 2, 3, 4 e 5). Essas síndromes raras, apesar de diferentes, tem em comum características como predisposição ao câncer, erupções cutâneas ou sensibilidade à luz solar, imunodeficiências, e envelhecimento precoce, sugerindo anormalidades no reparo do DNA. • Alguns elementos da estrutura do genoma podem afetar a estabilidade genética. Alguns são: (1) elementos móveis no genoma que são conhecidos como elementos transponíveis / transposons / genes saltadores e que influenciam na organização do genoma, sendo que transposons ativos são fatores importantes na geração de mutações; (2) repetições de trinucleotídeos, que estão associadas a muitas doenças como doença de Huntington (repetição CAG, mais de cerca de 27 vezes) e síndrome do X frágil (repetições CGG ou GCC, mais de cerca de 200 vezes). Isso é explicado porque, em alguns casos, a sequência repetida aumenta o número de glutaminas na proteína traduzida, o que faz com que estas proteínas se acumulem. Em outros casos, a metilação das ilhas pode levar a reduções na transcrição. • As mutações novas não estão uniformemente distribuídas ao longo do genoma. Alguns loci podem possuir uma taxa de mutação menor que a média ou podem VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT ainda existir distintos hotspots de mutação, que são áreas do genoma que apresentam uma taxa de mutação maior do que a taxa basal observada. Algumas explicações para isso incluem o fato de genes maiores terem uma taxa de mutação maior devido à hipótese de que se há mais nucleotídeos, haverá maior chance de que uma alteração ocorra em um deles; envolvimento de sequência-específicas, sendo que uma determinada sequência pode estar próxima a um transposon, ser um sítio de reconhecimento para incorporação viral ou estar propensa a alças de recombinação. • Tipos de Mutação: (1) mutações de estrutura cromossômica ou aberrações cromossômicas, que nada mais são do que alterações na estrutura do cromossomo. Elas ocorrem quando a ligação dos genes nos cromossomos entre eles é alterada, o que acontece principalmente por quebras que não são corretamente reparadas durante a replicação. Podem afetar apenas um cromossomoindividualmente, podendo ser do tipo deleção ou deficiência, quando ocorre a perda de um segmento do cromossomo (ex: se duas quebras forem reparadas de maneira que o segmento entre elas seja descatado); duplicação, quando há inserção de um segmento no cromossomo de maneira que duas cópias de cada gene afetado estejam presentes; inversão, quando dois pontos de quebra são reconectados em extremidades alternativas. Podem ainda afetar mais de um cromossomo ao mesmo tempo, podendo ser do tipo translocação simples, quando uma porção de um cromossomo é religada a um cromossomo de um grupo de ligação diferente, havendo movimento da porção de um para o outro; translocação recíproca, quando há troca complementar de segmentos entre dois cromossomos não homólogos. Há ainda as (2) mutações de ponto, que são alterações ao nível dos pares de bases em um gene ou em suas regiões regulatórias/codificadoras. Os tipos mutações de ponto são classificados quanto ao tipo de alteração nucleotídica e quanto às consequências dessas alterações para a codificação. Essas alterações nucleotídicas podem ser do tipo transição, quando uma purina é substituída por outra purina ou uma pirimidina é substituída por outra pirimidina; transversão, quando uma purina é substituída por uma pirimidina ou vice-versa; deleção de base, quando há perda de um ou mais nucleotídeos; adição de base, quando há ganho de uma ou mais nucleotídeos; substituição de base (?). Quanto às variações das consequências geradas pelas mutações de ponto, podem ainda ocorrer: mutação silenciosa, quando ocorre uma alteração de base, porém ela não produz nenhum efeito no aminoácido a ser produzido devido ao processo de degeneração do código genético; mutação missence/ de sentido trocado, quando uma mutação de ponto gera alteração no aminoácido, mudando a informação a ser codificada; e mutação nonsence/ sem sentido, quando uma alteração de base gera um códon de parada (UAA, UAG ou UGA); mutação de alteração do quadro de leitura/ frameshift, quando a alteração de base não envolve um ou mais códons completos, fazendo com que a leitura dos trios seja alterada para o restante da tradução do gene e isso pode alterar dramaticamente a composição de aminoácidos da proteína; mutação neutra, quando a alteração de base afeta um aminoácido, mas o impacto para a função da proteína não é relevante nem há prejuízo no desenvolvimento, mas essa expressão pode ser condicional de acordo com as condições encontradas; mutação deletéria, quando a alteração genética induz alterações crítica na função biológica e representam significado médico; mutação letal, quando há alterações que afetam tão criticamente as funções biológicas ao ponto de ser incompatível com a vida. Existem ainda as mutações supressoras, que não são consequência das mutações de ponto, mas são importantes por constituírem uma segunda mutação que pode VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT “equilibrar” a pré-existente, de maneira compensatória. Lembrando que essas mutações podem ser observadas em associação (ex: Junto à uma mutação frameshift pode haver uma mutação nonsence), e que a combinação de alterações em potencial é quase infinita. • Existe ainda uma outra classificação para as mutações: Mutação germinativa x somática. A própria definição de mutação como “alterações hereditárias” pode fazer com que haja uma tendência em pensarmos apenas nas mutações germinativas, que são aquelas que acometem a linhagem germinativa e são transmitidas nos óvulos e espermatozoides para um descendente. Mas ainda há as mutações somáticas, as quais acometem células do corpo após o nascimento e que, mesmo afetando uma pequena porção de células, podem gerar grandes consequências. Pode ser difícil distinguir uma mutação germinativa de uma somática, pois no caso de uma mutação somática ocorrer logo no início do desenvolvimento embrionário, poderá haver acometimento de todo o tecido da linhagem germinativa e, logo, transmissão para os descendentes. • Outro aspecto importante das mutações em células somáticas é que elas podem se acumular em tais células e, logo, seu conteúdo genético pode mudar ao longo dos anos. A idade paterna é uma evidência disso, pois pode haver um acúmulo de mutações nas células da linhagem pré-meiótica do tecido germinativo masculino, o que não ocorre na linhagem germinativa feminina, pois suas células ficam estagnadas em prófase I durante o desenvolvimento fetal. Outro efeito da idade paterna é que a semelhança fenotípica entre pais e descendentes pode, na verdade, aumentar em função da idade paterna. Isso pode ser indiretamente devido à redução do desenvolvimento da homeostase, pois à medida que os mecanismos compensatórios da homeostase são degradados por essas novas mutações, um genótipo extremo pode ser expresso de maneira mais precisa. Sem a compensação fenotípica efetiva da homeostase, esses descendentes tardios podem expressar fenótipos extremos compartilhados com seu pai. Causas das mutações: • Mutação espontânea = alterações genéticas por mecanismos químicos aparentemente espontâneos, equívocos aleatórios sem estar relacionados a agentes mutagênicos. (1) Depurinação, em que uma base adenina ou guanina é removida de um nucleotídeo, deixando o arcabouço de açúcar-fosfato intacto e o par nucleotídico temporariamente despareado. Quando o DNA se replica depois de uma mudança como essa, qualquer nucleotídeo pode ser inserido no lado oposto à posição vaga e apenas em um quarto das vezes será incorporado o nucleotídeo correto; assim, a depurinação pode levar a uma mutação do tipo substituição em 75% das vezes. (2) Desaminação, em que há remoção de um grupo amino (NH2) da citosina, produzindo uracila. Geralmente, a presença de uracila no DNA será reconhecida como um erro e será corrigida por enzimas de reparo. Se não for reparada, no entanto, uma substituição de par de base será produzida. (3) Mudanças tautoméricas, que são alterações reversíveis no hidrogênio que modifica a base nucleotídica para um isômero diferente, ou seja, alteram a forma comum da base de um nucleotídeo para uma forma rara. Isso pode gerar pareamentos atípicos (T com G, C com A) já que haverá ali uma base em sua forma tautomérica rara e, logo, pode gerar mutações de substituições após um ciclo completo de replicação. • Mutações induzidas = alterações geradas por agentes sabidamente mutagênicos. Esses agentes tem o efeito de elevar a taxa de mutação acima da linha basal VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT que normalmente resultaria em eventos químicos normais, podendo também ser carcinógenos potentes (uma mutação nem sempre resulta em um câncer, já um câncer sempre estará associado a uma mutação, além de outros fatores para sua expressão). Podem ser físicos (raios eletromagnéticos como luz ultravioleta, raios X e raios gama), químicos (mostarda nitrogenada, estresse oxidativos), agentes virais (vírus de DNA dupla fita) ou elementos de transposição (?). Esses agentes promovem a alteração genética de várias formas. (1) Modificação da base nucleotídica, causando um malpareamento de bases. Ex: Ácido Nitroso, que remove o grupo amino da adenina ou da citosina (Fig. 7- 8) causando seu pareamento incorreto durante a replicação; 5-bromouracila (5BU), um análogo de base que podem ser incorporadas na nova fita de DNA, mas que sofrem mudança tautomérica resultando em malpareamento . (2) Adições ou deleções, em que a substância se insere em uma fita e distorce o pareamento normal entre as bases. Ex: Corantes Acridina. (3) Formação de dímeros de timina, o que ocorre quando duas timinas adjacentes absorvem energia aumentada da luz ultravioleta e se ligam uma à outra, em vez de se ligar às adeninas na fita complementar, fazendo com que estas não pareiam com novos nucleotídeos na replicação e, assim, a nova fita terá duas bases a menos, alterando assim o quadro de leitura.• Mutagênicos (agentes que podem induzir ou aumentar a taxa geral de novas mutações) x carcinogênicos (agente que pode induzir ou aumentar o risco de câncer) x teratogênicos (agentes externos que podem causar anomalias congênitas se um feto em desenvolvimento receber uma exposição significativa). • Para a genética médica, o foco está nas consequências clínicas das mutações, isso se elas existirem. Lembrando que tais consequências vão estar relacionadas com o fenótipo, o qual se refere às características visíveis, porém o “visível” atinge diferentes níveis como uma medida bioquímica, um estado fisiológico, a presença de um antígeno ou uma característica física. Assim, um fenótipo anormal é qualquer desvio daquele que costuma ser observado na população geral. Quando alterações genéticas produzem alterações fenotípicas pela mudança de função do gene, ocorrem as mutações patológicas. • Caso não ocorram efeitos clinicamente observáveis, as mutações são chamadas de variantes benignas. Porque algumas alterações genéticas não produzem efeitos clínicos discerníveis? Isso ocorre porque (1) algumas modificações nucleotídicas não alterarão a sequência de aminoácidos na proteína traduzida por causa da natureza degenerada do código genético; (2) Alterações na sequência do DNA podem ocorrer em uma região não codificadora do gene, isto é, dentro de um íntron; (3) pode haver alteração na função do gene, mas não o suficiente para exceder o limiar biológico necessário para gerar problemas clinicamente aparentes; (4) um problema pode não estar prontamente aparente em um determinado período e ser identificado mais tarde como um transtorno de “início tardio”. • O diagnóstico de alterações genéticas utiliza de ferramentas como o exame dismorfológico (exame físico específico baseado na procura de determinadas características físicas a ser associadas com determinada alteração da sequência genômica) e, cada vez mais, os testes genéticos baseados em técnicas moleculares. Quando uma variante na sequência gênica for identificada, os laboratórios podem relatá-las como sequência normal ou variante presente, a qual pode ser classificada como mutação patogênica, variante benigna ou variante de significado desconhecido/incerto. VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT • Considerando que há vários tipos de mutações, a genética médica utiliza de convenções de nomenclatura para descrever as alterações genéticas. Um exemplo é quando se define qual substância química está sendo descrita e uma única letra é usada para indicar o composto envolvido na alteração: “c.” para uma sequência de DNA codificadora; “m.” ou “mt.” para uma sequência mitocondrial; “r.” para uma sequência de RNA; “p.” para uma sequência de proteína; “g.” para uma sequência genômica. Outro exemplo é quando se faz referência a alterações no DNA, podendo se referir ao nucleotídeo alterado (A, G, T ou C), à posição ou localização no gene (esta é numerada começando pelo primeiro nucleotídeo na extremidade 5’), ou ao tipo de alteração (“>” para uma substituição ou “A” para uma deleção). Assim, por exemplo, c.74A> T descrevería uma substituição de nucleotídeo na qual a adenina da posição 76 é substituída por uma timina no cDNA, o que é lido como “setenta e seis A para T”. Porém, quando se trata de uma alteração a nível de proteínas, uma letra é atribuída para cada aminoácido, há numeração da posição referido iniciado com “metionina” e símbolos para os tipos de alterações (> para substituição; Del ou para deleção; Dup para duplicação; Ins para inserção). Por exemplo: mutação mais comum observada na fibrose cística é uma deleção de três nucleotídeos que resulta na ausência de uma fenilalanina na posição do aminoácido 508. Isso seria designado como p.AF508. Site sobre detalhes das regras para a nomenclatura de variantes de sequência. • Impacto das mutações: “A razão entre benefícios e danos da alteração genética em populações versus indivíduos não é a mesma.” Isso quer dizer que a ausência completa de mutação provavelmente seria um prejuízo para a saúde e o bem-estar de uma população a longo prazo, porém os impactos individuais para uma pessoa acometida por uma mutação maléfica são enormes. Afeta parâmetros-padrão de doença, perda de produtividade e qualidade de vida e muito além disso... é uma doença, uma síndrome que afeta profundamente a vida de um paciente e da família. • Considerações finais: Mutações são alterações hereditárias somáticas ou germinativas na sequência genômica de um indivíduo e produzem variações da sequência “normal”; A ocorrência de mutações não significa necessariamente uma anormalidade como resultado e, na teoria evolutiva, elas precisam ocorrer; É de extrema importância que os médicos tenham conhecimento sobre mutações e os aspectos que as envolvem; Conhecer o tipo de mutação e o mecanismo pelo qual ela exerce seus efeitos é crítico para o desenvolvimento de potenciais terapias e intervenções.; SÍNDROME DE BLOOM: Síndrome de instabilidade cromossômica rara, transmitida por herança autossômica recessiva. Também chamada de Eritema Telangectásico Congênito. Sua frequência é desconhecida na população em geral, mas sabe-se que sua ocorrência é maior em judeus de origem Ashkenazi e seus descendentes. Foi descrita inicialmente por David Bloom em 1954, teve um registro mundial de pacientes criado na década de 1960, o Bloom’s Syndrome Registry, que conta com um total de 255 casos, sendo 16 originários do Brasil. Está associada a mutações do gene BLM, um supressor de recombinação homóloga no braço longo do cromossomo 15 e responsável por codificar a proteína BLM (RecQL3), VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT que pertence ao grupo das helicases RecQ. Ela participa do desenrolar da dupla-fita de DNA durante a RH, além de ser fator anti crossing over e organizar a migração das estruturas intermediárias de DNA geradas durante a RH. Esse mecanismo de reparo por recombinação homóloga é um mecanismo de reparo de quebras na dupla fita de DNA (DSBs) que, quando não reparadas, geram rearranjos genômicos e, logo, instabilidade genômica. Envolve o uso de sequências de DNA homólogas como modelo para ressíntese, como as cromátides irmãs. Variações no gene BLM afetam o sistema de reparo por RH, levando a alterações cromossômicas como quebras cromossômicas (fase S) ou cromatídicas (fase G2), aumento na ocorrência de recombinações homólogas (crossing overs) e rearranjos estruturais. Uma característica diferencial da SB é o aumento de trocas entre cromátides irmãs (TCIs), cuja taxa está elevado de 50 a 100 vezes nesses pacientes. Essas TCIs são trocas recíprocas que ocorrem em uma frequência baixa em pessoas normais e nas quais as cromátides irmãs sofrem quebras com subsequente reunião e troca recíproca dos segmentos homólogos. Aspectos clínicos: anormalidade do crescimento (estatura final média é de 145cm para meninos e 130cm para meninas); face marcada principalmente por microcefalia, face estreita com hipoplasia malar e nariz proeminente, timbre vocal estridente em alguns pacientes; Eritema telangectásico com erupções nas regiões malar, nariz e lábios na forma de “asas de borboleta” e que podem ser substituídos por atrofia e hipocromia. Manchas café com leite e fotossensibilidade; Graus variados de imunodeficiência celular e humoral (maior exposição a infecções e diarréias); Infertilidade nos homens e fertilidade reduzida nas mulheres, que relatam menarca tardia e menopausa precoce; Mais sujeitos ao desenvolvimento diabetes mellitus tipo 2, doenças pulmonares crônicas e neoplasias (principal causa de morte), principalmente. Outros achados menos frequentes são hipodontia, cardiopatia congênita, fístula traqueoesofágica, polidactilia, pé torto congênito, etc. Diagnóstico: a suspeita é feita pela observação de retardo no crescimento intrauterino de causa desconhecida e/ou algum dos aspectosclínicos relatados. A partir disso deve ser feito estudo citogenético para observação do aumento de intercâmbio entre cromátides irmãs. O ideal é o diagnóstico precoce diante da grande predisposição a neoplasias. O manejo inclui orientações para reduzir exposições solares, aplicação regular de filtro solar, acompanhar regularmente as [] de imunoglobulinas plasmáticas, tratamento profiláticos com antibióticos rotineiros em casos de infecções como otites de repetição. No tratamento de neoplasias, esses pacientes costumam ser mais sensíveis a quimioterapia, sendo feita revisão das doses e da duração do tratamento.
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