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Parasitologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Norton Claret Levy Junior Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Protozoários e Helmintos • Doenças Causadas por Protozoários; • Biologia dos Platelmintos; • Doenças Causadas por Platelmintos; • Anexo I. • Entender a importância das condições sanitárias e da higiene na prevenção de doen- ças e no controle de agentes transmissores; • Identifi car alguns protozoários parasitos e seus vetores; • Analisar e compreender os ciclos evolutivos e os mecanismos de transmissão dos principais protozoários parasitos e parasitoses humanas; • Conhecer as principais medidas profi láticas aplicáveis ao controle de endoparasitoses; • Aprender sobre a biologia dos platelmintos; • Defi nir os métodos mais usuais empregados no laboratório para o diagnóstico parasitológico das doenças endêmicas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Protozoários e Helmintos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Protozoários e Helmintos Doenças Causadas por Protozoários Giardíase É uma doença parasitária causada pela Giardia lamblia, atualmente denomina- da Giardia intestinalis, que é encontrada no mundo todo, mas tem maior incidên- cia em regiões tropicais e subtropicais. A incidência aumenta nas crianças, até a puberdade (10 a 12 anos), e cai depois para taxas muito menores. Sua incidência mundial é de 500.000 casos/ano. Quanto melhores as condi- ções socioeconômicas do país, menor a incidência. Além do homem, há parasitas animais domésticos, como cães e gatos, além de diversos animais silvestres, como as aves e os répteis, que são seus reservatórios. Todos são seus reservatórios, mas os cistos presentes nas fezes humanas são mais infectantes do que os provenientes dos animais. Na água também apresentam a forma de cisto e podem conservar sua vitalidade durante dois meses ou mais. A forma reprodutiva nos seres vivos é denominada trofozoíto. Em nosso corpo, costumam habitar as vilosidades do duodeno e jejuno, a vesícu- la biliar e os ductos que a unem ao duodeno e podem impedir a absorção de ácidos graxos e vitaminas A. O ciclo de vida da giardíase é monoxênico. A contaminação do hospedeiro ocorre pela ingestão de cistos em água ou alimentos contaminados ou fômites con- taminados com cistos viáveis. O ácido estomacal inicia o desencistamento, que termina no intestino delgado, onde os trofozoítos sofrem divisão binária e chegam à luz do órgão, ficando livres ou aderidos à mucosa intestinal, por mecanismo de sucção. A formação do cisto ocorre quando o parasita transita o cólon e, nesse estágio, os cistos são encontra- dos nas fezes, de forma infectante. No ambiente, podem sobreviver meses na água fria, por meio de sua espessa camada. A transmissão da Giardia lamblia pode ocorrer pela ingestão de cistos maduros presentes na água contaminada, em verduras cruas e frutas mal lavadas ou alimen- tos contaminados por patas de moscas ou baratas. Também pode ocorrer transmissão de pessoa a pessoa por transferência dos cistos presentes nas fezes de um indivíduo infectado, por meio do mecanismo mão- -boca, em locais de aglomeração humana, como enfermarias pediátricas, creches e orfanatos ou em relação anal sem prevenção e descuidada e, ainda, por contato com animais domésticos infectados. O período de incubação costuma ser de 1 a 3 semanas, mas pode prolongar-se até 6 semanas. 8 9 No diagnóstico clínico da doença são observadas esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas e vômitos, dor abdominal, anorexia e perda de peso. No diagnóstico laboratorial, análise Faust e Hematoxilina férrica, e no diag- nóstico imunológico, são utilizados os testes Elisa, Imunofluorescência indireta e Imunocromatografia de fase sólida. Sintomatologia A Giardíase apresenta maior susceptibilidade em pacientes menores de cinco anos e com deficiência de IgA, sendo, na maioria dos casos, assintomática. Quando sintomática, apresenta desconforto abdominal, cólicas, inflamação do duodeno e diarreia aquosa com odor fétido. Pode causar lesão da mucosa intestinal por atapetamento (Figura 1), levando à síndrome de má absorção de ferro, de vitamina B12, de vitaminas lipossolúveis e de lipídeos, o que leva à diarreia com esteatorreia. Figura 1 – Atapetamento da mucosa do intestino delgado, responsável pela síndrome da má absorção Profilaxia A infecção é prevenida evitando ingerir água ou alimentos que possam estar contaminados com fezes, ampliando os tratamentos de água e esgoto domiciliar, utilizando filtro de água e higienizando os alimentos. O tratamento dos assintomáticos positivos também é muito importante. Tratamento O tratamento deve ser feito, preferencialmente, com metronidazol ou tinidazol, mas outros fármacos como ordidazol, secnidazol e albendazol podem ser adminis- trados. Devido à diarreia, é conveniente a fluidoterapia. 9 UNIDADE Protozoários e Helmintos Amebíase Existem espécies parasitas e outras de vida livre, das quais algumas apresentam fase flagelada. Entre as de vida livre, há espécies que são parasitos oportunistas, podendo, eventualmente, infectar o homem. Na fase trofozoítica, alimentam-se por fagocitose, pinocitose ou transporte através da membrana. Reproduzem-se por divisão simples e, geralmente, for- mam cistos que asseguram a dispersão no meio ou a passagem de um hospedeiro a outros. Existem muitas espécies de Entamoeba, tais como Entamoeba coli, Entamoeba hartmanni, Entamoeba gingivalis e outras. Mas a que causa ame- bíase é a Entamoeba histolytica e a Entamoeba dyspar é a responsável pela amebíase assintomática. A amebíase é um problema mundial, com alta incidência, sendo que alguns casos graves podem até levar ao óbito. Apresentam as formas de trofozoíta e de cisto e são transmitidas pela inges- tão de cistos provenientes de água ou alimentos mal lavados, ou mesmo pelas mãos contaminadas. Os cistos também podem ser veiculados pelas patas de baratas, de moscas e de outros insetos. Os “portadores assintomáticos” que manipulam alimentos são os principais disseminadores dessa protozoose. O seu ciclo de vida é monoxênico, tendo o ser humano como único hospedeiro. Quando o cisto encontrado nas fezes chegaao intestino grosso, cresce, multiplica- -se e se transforma em trofozoíta. Com frequência, a infecção é assintomática, pois muitos desses parasitos ficam apenas na luz do intestino grosso, alimentando-se de bactérias e resíduos alimenta- res das fezes pré-formadas. Denominamos, então, amebíase intestinal não-invasiva causada pelo trofozoíta em sua forma minuta, que realiza o ciclo não-patogênico. Quando os trofozoítas assumem a forma magna (forma invasiva), inicia-se o ci- clo patogênico, quando são produzidas úlceras, sobretudo na mucosa dos cólons. Invadindo a circulação, as amebas podem chegar ao fígado, aos pulmões, ao cérebro e aos outros órgãos, e aí formar abscessos amebianos necróticos (Figura 2). 10 11 Figura 2 – Ciclo patogênico e não patogênico causado, respectivamente, pela magna e minuta do trofozoíto de Entamoeba hitolytica. Note a forma magna invadindo o cólon intestinal O diagnóstico clínico baseia-se na sintomatologia e o laboratorial em exame de três amostras fecais, em dias alternados. Busca de parasitas em fezes formadas (cistos) ou liquefeitas (trofozoítas). Métodos de concentração: Faust (centrífugo-flutuação); Ritchie ou formol éter (centrífugo-sedimentação); Hoffman (sedimentação espontânea) após 24 horas; co- loração por hematoxila férrica, tricrômio ou tionina (para observação de detalhes); análise de exudatos de líquidos aspirados; biópsia de tecido e testes imunológicos, como o ELISA. Sintomatologia A colite não disentérica causada por Entamoeba díspar pode apresentar fezes diarreicas até cinco vezes por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco ou sangue, podendo ser acompanhada de dor abdominal. A Entamoeba histolytica causa colite disentérica com presença de fezes lique- feitas, contendo muco e sangue até dez vezes por dia, com dor abdominal com distensões, tenesmo e flatulência, podendo ou não ter febre. 11 UNIDADE Protozoários e Helmintos E pode causar, ainda, complicações ainda piores no intestino grosso, tais como: perfurações, peritonite, hemorragias e apendicite, e ameboma, que são granulo- mas semelhantes morfologicamente a uma massa tumoral. E temos, ainda, a Amebíase extraintestinal – A necrose amebiana do fíga- do causa febre e dor no lado direito, que aumenta com a inspiração profunda, podendo ocorrer formação de abscessos (abscesso amebiano com presença de “pus chocolate”). No cérebro, pode simular abscessos piogênicos ou completamente inespecíficos e o pulmão pode ser atingido a partir de lesões hepáticas através do diafragma, ocorrendo, então, lesões com aspecto necrótico. Profilaxia • Educação sanitária: lavar as mãos com água e sabão, usar as unhas curtas ou higienizá-las frequentemente e ter cuidado com os hábitos sexuais; • Saneamento ambiental: abastecimento de água abundante (potável e livre de contaminação fecal); existência de instalações sanitárias e rede de esgotos; tratamento de resíduos (60 a 70ºC destrói cistos); • Identificação e tratamento de fontes de infecção: fiscalizar acintosamente manipuladores de alimentos e funcionários de restaurantes e hotéis, realizando exame de fezes periódico. Tratamento • Formas graves: repouso no leito; dieta branda rica em proteínas e vitaminas e pobre em carboidratos e fibras; além de líquidos em abundância; • Amebíase intestinal ação tecidual: derivados imidazólicos, metronidazol, ti- nidazol, ornidazol e nimorazol; • Amebíase intestinal ação luminal: furamida, clefamida, etofamida e teclosan; • Amebíase extra-intestinal: metronidazol. Doença de Chagas Caro(a) aluno(a), esta doença foi descrita em 1909, pelo pesquisador brasileiro Car- los Chagas. Também conhecida como Tripanossomíase americana, é uma doença tropical parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida, prin- cipalmente, pelo inseto barbeiro, um triatomídeo, que é seu hospedeiro intermediário. 12 13 As espécies mais comuns que transmitem esta doença são: Triatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus. Insetos hematófagos da subfamília Triatominae (Figura 3). A transmissão pelo vetor é o que tem maior importância epidemiológica. A infec- ção ocorre pela penetração do agente etioló- gico eliminado nas fezes ou na urina de tria- tomíneos, durante o hematofagismo, e não pelo ato de sugar o sangue. Já aconteceram casos de transmissão oral por alimentos, como caldo de cana e açaí contaminado com fezes ou urina de triatomí- neos infectados, que penetra pela mucosa da boca íntegra ou lesada. Figura 3 – Inseto hematófago da subfamília Triatominae, conhecidos como barbeiro ou chupão, vetor e hospedeiro intermediário da Doença de Chagas Fonte: Wikimedia Commons Também pode ocorrer transmissão por transplante de órgão, transfusão sanguí- nea e acidentes laboratoriais. A doença distribui-se do sul da Argentina ao sul dos Estados Unidos. Cerca de 50% dos casos ocorrem no Brasil, sendo que a doença é considerada um dos maio- res problemas de saúde pública da América Latina. O diagnóstico na fase aguda é feito por microscopia e detecção de tripomasti- gotas flagelados sanguíneos em exame a fresco de sangue de paciente suspeito; sorologia, em que se medem os níveis elevados de IgM (ELISA ou imunofluorescên- cia indireta); hemocultura, após a etapa de multiplicação de epimastigotas (inseto), cultura in vitro e leitura ao final de 30, 60, 120 e 180 dias. Na fase aguda, o diagnóstico é feito por: sorologia, medindo-se níveis elevados de IgG (ELISA ou imunofluorescência indireta); hemocultura e PCR (reação em cadeia da polimerase) que detecta DNA do parasito. Sintomatologia Nos adultos, a fase aguda passa despercebida ou como um mal-estar ou gripe; já em crianças e em imunodeprimidos (Aidéticos), ocorre febre de intensidade va- riável, mal-estar, inflamação dos gânglios e inchaço do fígado e baço, chagoma e sinal de Romaña (Figura 4). 13 UNIDADE Protozoários e Helmintos Esses sintomas desaparecem espontaneamente ou, em casos graves, em crian- ças e aidéticos pode ocorrer morte como consequência de ataque do coração e ao Sistema Nervoso. Figura 4 – Sinal de Romaña é um edema inflamatório palpebral, associado à conjuntivite, dacriadenite e aumento ganglionar pré-auricular, ocorre em 10 a 20% dos casos agudos de doença de Chagas, sendo sinal patognomônico dessa doença. O chagoma é um sinal clássico da fase aguda da Doença de Chagas Fonte: Acervo do Conteudista Na fase crônica, o Trypanosoma cruzi destrói a disposição das fibras muscu- lares do nosso organismo. O mais comprometedor deles é o nosso órgão vital, o coração, cujos batimentos entram em descompasso, causando arritmias que, em certos casos, podem ser fatais, ocasionando perda da capacidade de bombeamen- to, que causam desmaios. O coração aumenta muito de tamanho. A isso damos o nome de cardiomegalia , cuja evolução leva à insuficiência cardíaca congestiva, pode evoluir para a fibrila- ção e causar morte súbita. O Trypanosoma cruzi também pode destruir nervos e atrofiar músculos esofá- gicos, causando a dilatação e a atonia do órgão, transformando-o numa estrutura chamada megaesôfago, que causa dificuldade para deglutição, gerando uma do- ença conhecida como “mal do engasgo”. Esse parasito também pode afetar o intestino grosso e, pelos mesmos motivos do megaesôfago, causar o megacólon, trazendo como consequências constipa- ção, dor abdominal e prisão de ventre. Profilaxia • Combate intensivo ao barbeiro: pulverizar com inseticida (piretroides) toda a residência, os móveis, os quadros e as dependências (porão, forro, galinheiro, paiol, e outras dependências); • Melhorar a habitação, pelo reboco e tamponamento de rachaduras e frestas; 14 15 • Em zonas infestadas, recomenda-se o uso de “cortinados”, telagem de portas e janelas; • Dentro de casa, não permitir animais que possam ajudar a transmitir a doença (cão, gato, macaco e outros); • Evitar montes de lenha, telha ou outros entulhos no interior ou arredores da casa, poissão ótimos abrigos para os barbeiros; • Investir em Educação em Saúde e Ambiental; • Nas transfusões de sangue, realizar exame nos doadores. Tratamento • Na fase aguda, o tratamento se dá com benznidazol ou nifurtimox; • Na fase crônica, a cardiopatia chagásica é tratada como as de outras etiologias . Tanto o megaesôfago como o megacólon são tratados cirurgicamente. Malária A malária é uma das principais doenças infecciosas da atualidade; só é superada em número de mortes pela AIDS. É uma doença da região equatorial, sendo que cerca de 85% dos casos ocorrem nas florestas tropicais da África (Figura 5). Figura 5 – Região de concentração de malária mundial Fonte: OMS, 2004 Em nosso país, está concentrada na região Amazônica, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. 15 UNIDADE Protozoários e Helmintos Nas demais regiões, apesar das poucas notificações, a doença não pode ser negligenciada, pois pode ser observada letalidade mais elevada que na região Ama- zônica (Figura 6). Figura 6 – Região de concentração da malária no Brasil Fonte: Ministério da Saúde, 2015 A malária é uma parasitose transmitida pela picada do mosquito Anophele ssp e, mais raramente, por transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas, acidentes laboratoriais e da mãe para o feto, na gravidez, por transmissão transplacentária. São quatro seus agentes etiológicos. O Plasmodium falciparum causa a febre terçã maligna, que ocorre a cada 36 a 48 horas e é responsável pela maioria dos casos fatais; o Plasmodium vivax, que causa a febre terçã benigna, que ocorre a cada 48 horas e é o mais frequente no Brasil; o Plasmodium malariae, que causa a febre quartã, que ocorre a cada 72 horas e é pouco frequente no Brasil; o Plasmodium ovale, que causa a febre terçã benigna, que ocorre a cada 48 horas e está limitada à África. Possui ciclo evolutivo heteroxênico, sendo o homem o hospedeiro intermediário e o mosquito o hospedeiro definitivo. Com relação à especificidade parasitária é estenoxênico, pois infecta, praticamente , o homem com exceção do Plasmodium malarie, que infecta alguns primatas. No diagnóstico clínico, é analisado se há febres intermitentes, anemia e espleno- megalia. No diagnóstico laboratorial, são usadas técnicas sorológicas de detecção de anticorpos e esfregaço sanguíneo colhido durante ou logo após os acessos febris. 16 17 Sintomatologia Os sintomas mais comuns são os acessos febris, mas algumas enfermidades já foram relatadas, tais como edema pulmonar agudo, insuficiência renal aguda, hi- poglicemia, icterícia e hemoglobinúria. Por se tratar de uma doença sanguínea, promove a destruição dos eritrócitos, causando anemia e esplenomegalia. Altera a estrutura dos eritrócitos, facilitando sua adesão às paredes dos vasos sanguíneos, formando coágulos responsáveis por trombose e embolia. A malária cerebral com diminuição do aporte sanguíneo para o cérebro causa anóxia, com possibilidade de necrose de células nervosas, além de prostração, alte- ração da consciência, dispneia ou hiperventilação, convulsões, hipotensão arterial ou choque e hemorragias, entre outros sinais. Profilaxia Medidas de proteção individual. • Prevenção do contato com o vetor: mosquiteiros, repelentes, telas nas ja- nelas e portas; • Saneamento para o combate às formas aquáticas; • Educação Ambiental e em Saúde; • Medicamentos ou alimentos que promovem sudorese com odor forte, como a tiamina e o alho, são usados para repelir o mosquito; • Medidas de proteção coletiva; • Prevenção do contato com o vetor: escolha de local adequado para constru- ção dos domicílios, de modo a impedir a entrada dos mosquitos; • Combate aos insetos adultos com o uso inseticidas de efeito residual nos domicílios; • Combate às formas aquáticas com saneamento, larvicidas e controle biológico; • Treinamento de agentes comunitários para realizarem Educação Ambiental e em Saúde. Tratamento • Plasmodium falciparum: quinino, mefloquina e doxicilina; • Plasmodium vivax: cloroquina e primaquina; • Plasmodium malariae: cloroquina; • O tratamento profilático é realizado com cloroquina, uma semana antes de ir para áreas endêmicas, e se prolonga por mais 30 dias após ter saído do local; • A cura é possível se a doença for tratada em tempo oportuno e de forma ade- quada; contudo, a malária pode evoluir para forma grave e para óbito. 17 UNIDADE Protozoários e Helmintos Leio o “CADERNO DE ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL TOXOPLASMOSE” da “SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE” e reflita sobre a seguinte pergunta. Quais são os riscos de uma gestante infec- tada com Toxoplasma gondii? Quais são as medidas profiláticas para se evitar a infecção de Toxoplasma gondii? Disponível em: https://goo.gl/G25H1L Ex pl or Leishmaniose Existem alguns tipos de Leishmanioses que são endêmicas em 88 países das Amé- ricas, África, Ásia e Europa, onde há 350 milhões de pessoas sob risco de infecção. Temos mais de 15 milhões de infectados em todo o mundo. Em média, surgem dois milhões de casos novos a cada ano. O agente etiológico das Leishmanioses pertence à mesma família Trypanosoma tidae do agente etiológico da Doença de Chagas, mas ao gênero Leishmania sp. A Leishmania braziliensis causa Leishmaniose Mucocutânea com lesões na pele e nas mucosas; já a Leishmania mexicana e a Leishmania amazonenses causam Leishmaniose tegumentar, com lesões na pele. A Leishmania donovanie a Leishmania chagasi causam Leismaniose Visceral ou Calazar, que comprometem o fígado, o baço, os linfonodos e outros órgãos, possuindo alta letalidade, se não tratada. Os hospedeiros vertebrados incluem grande variedade de mamíferos. Embora as infecções por esses parasitos sejam mais comuns nos roedores e nos canídeos, são conhecidas também entre marsupiais, primatas e, entre eles, o homem. A infecção em aves e anfíbios nunca foi descrita. Como hospedeiros invertebra- dos são identificados, exclusivamente, fêmeas de insetos hematófagos da subfamí- lia Flebotominea, gênero Lutzomya. A transmissão ocorre pela picada de insetos hematófagos pertencentes ao gênero Lutzomyia, conhecidos no Brasil por birigui, mosquito-palha e tatuquira, entre outros. A espécie mais encontrada por aqui é o Lutzomya flavis cutellata (Figura 8A). Ao exercer o hematofagismo, a fêmea do flebotomíneo inocula o parasito pro- veniente do seu trago digestivo que, ao infectar o hospedeiro, invade nossas células fagocitárias, os macrófagos. Trata-se, portanto, de um parasita intracelular. Possui ciclo de vida heteróxeno, tendo como hospedeiros definitivos o homem, o cão e ampla variedade de animais silvestres e como hospedeiro intermediário o flebotomídeos hematófagos, principalmente, do gênero Lutzomyia. 18 19 Visite o site DNDi América Latina de doenças negligenciadas e amplie seus conhecimentos sobre a Leishmaniose. Acesse: https://goo.gl/gWTNvj Ex pl or O diagnóstico da Leishmaniose tegumentar se dá por análise do parasito em microscopia, coletando amostras de lesões tegumentares nas bordas das lesões cutâneas por escarificação, aspiração e biópsia. O diagnóstico da Leishmaniose visceral também se dá por análise do parasito em microscopia, coletando amostras do parasita por punção aspirativa de medula óssea, dos linfonodos, do fígado e do baço, e por sorologia, para a detecção de anticorpos. Sintomatologia • Leishmaniose tegumentar; • Cutânea: uma ou mais lesões cutâneas, que podem causar dor e aumento dos linfonodos próximos à lesão; • Mucosa: lesões de pele se estendem até as membranas mucosas, desfigurando, geralmente, as vias nasais e orais com perfuração de septo nasal e do palato. Figura 7A – Lesão da pele por Leishmaniose tegumentar Fonte: Acervo do Conteudista Figura 7B – Lesão da mucosa palatina por Leishmaniose tegumentar Fonte: VELOZO, D, et. al; 2006 Os sintomas da Leishmaniose Visceral ou Calazar são febre, hepatomegalia e esplenomegalia (hepatoesplenomegalia – Figura 8B), linfadenopatia, emaciaçãoprogressiva, anemia e leucocitopenia. A doença é caracterizada por febre de longa duração e, quando não tratada, evolui para óbito em 1 ou 2 anos após o aparecimento da sintomatologia. 19 UNIDADE Protozoários e Helmintos Figura 8A – Birigui, mosquito-palha e tatuquira Lutzomya flaviscutellata, vetor e hospedeiro intermediário da Leishmaniose Fonte: Jornal sem Fronteira Figura 8B – Paciente com hepatoesplenomegalia devido à Leishmaniose Visceral ou Calazar Fonte: ALMEIDA, F B, et. al; 2015 Consulte o site sugerido e responda às questões: 1) O que é Triconomíase? 2) Quais são as formas de contágio da Triconomíase? 3) Quais são os sintomas da Triconomíase? 4) Qual o tratamento recomendado para a Triconomíase? Acesse: https://goo.gl/T6NZY2 Ex pl or Profilaxia • Redução do contato homem-vetor: repelentes, mosquiteiros e telas de malha fina; • Combate aos insetos: aplicação de inseticida; • Borrifação em todas as casas com casos humanos ou caninos, aplicação de seis em seis meses, por um período mínimo de dois anos; • Controle de reservatórios: eliminação dos cães errantes e domésticos infectados após o diagnóstico em larga escala, nas áreas endêmicas. Os errantes e aqueles clinicamente suspeitos podem ser eliminados sem realização prévia de sorologia; • Notificação e tratamento das fontes de infecção; • Educação Ambiental em Saúde: ações educativas no sentido de que as co- munidades atingidas aprendam a se proteger e participem ativamente das ações de controle da Leishmaniose; • O desmatamento, seja para retirada de madeira, seja para retirar minério, seja para pecuária ou monocultura tende a aumentar o número de doenças infecciosas. Os surtos de Leishmaniose, assim como os de malária, estão in- timamente relacionados ao desmatamento para a instalação de povoados em grandes florestas. Visite o site sugerido e amplie seus conhecimentos sobre “Efeito do desmatamento sobre malária e Leishmaniose na Amazônia”. Acesse: https://goo.gl/GzCWxm Ex pl or 20 21 Tratamento • O diagnóstico precoce da lesão da mucosa é essencial para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e sejam evitadas as sequelas deformantes; • Antimônio pentavalente: inibem enzimas de protozoários, mas devem ser injetadas diariamente, além de não serem facilmente acessíveis e haver efeitos colaterais severos; • Alopurinol: inibe a multiplicação de parasitos; é administrado oralmente e tem poucos efeitos colaterais. Biologia dos Platelmintos Os platelmintos são os representantes mais inferiores dos Helmitos; são achata- dos dorsoventralmente, sem celoma, com ou sem tubo digestivo, sem ânus, apre- sentam simetria bilateral, uma extremidade anterior com órgãos sensitivos e de fixação que auxilia no parasitismo ao hospedeiro, sistema excretor primitivo do tipo protonefrídico (células-flamas), e com tecido conjuntivo enchendo os espaços entre os órgãos. Podem ser de vida livre, habitando lagos, mares, terra úmida, ou ser ecto ou endoparasitas. São os primeiros seres na escala evolutiva a possuírem cefalização, com gânglios cerebroides que atuam como centro de comando e dois cordões nervosos que se prolongam da região anterior (“cabeça”) até a posterior. Algumas espécies são assexuadas e se reproduzem por fragmentação; outras, como a Fasciola hepatica, são hermafroditas, e a maioria é dioica com fecundação interna, postura de ovos e desenvolvimento direto ou indireto. Doenças Causadas por Platelmintos Os Platelmintos estão distribuídos em três classes: Turbellaria,Trematoda, Cestoda, sendo os parasitos humanos de maior relevância encontrados na classe Trematoda e Cestoda. Fazem parte da Cestopoda as espécies Taeniasolium e Teniasaginata causadoras da Cisticercose; Echinococcus vogeli e Echinococcus oligarthrus, causadoras da Hidatidose policística, e Echinococcus granulosus, causadora da Hidatidose cística. Da classe Trematoda fazem parte as espécies Schistosoma mansoni e Fasciola hepática agentes etiológicos, respectivamente, da Esquistossomose e Fasciolíase, ambas veiculadas por caramujos, sendo a fasciolíase mais comum em caprinos e bovinos do que nos seres humanos. 21 UNIDADE Protozoários e Helmintos Anexo I Glossário • Anóxia: Insuficiência de oxigenação dos tecidos. • Atonia: perda do tônus muscular. • Dispneia: dificuldade de respirar. • Emaciação: enfraquecimento e grande debilidade devido à doença. • Eritrócitos: célula sanguínea transportadora dos gases respiratórios. • Escarificação: série de arranhões ou pequenas incisões praticadas sobre uma superfície. • Esplenomegalia: aumento do tamanho do baço. • Esteatorreia: presença excessiva de gordura nas fezes. • Etiologia: é um ramo de estudo destinado a pesquisar a origem e a causa de um determinado fenômeno. • Hematofagismo: ato de sugar sangue. • Hepatomegalia: aumento do tamanho do fígado. • Jejuno: porção medial do intestino delgado. • Leucocitopenia: diminuição da taxa de leucócitos no sangue circulante, abaixo de 5000 por milímetro cúbico. • Linfadenopatia: doenças do sistema linfático. • Marsupiais: grupo de animais no qual se encontra o gambá. • Piogênicos: que produz pus. • Protozoose: doença causada por protozoários. • Tenesmo: sensação de peso no reto, por vezes dolorosa, com desejo contínuo e inútil de evacuar. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Manual das Doenças Transmitidas por Alimentos: Giardíase (CVE) https://goo.gl/93cBYs Amebíase https://goo.gl/KeVwsT Leishmaniose https://goo.gl/jJ3Oz Leishmaniose Mucosa Fatal em Criança https://goo.gl/R9yjDQ Malária https://bit.ly/2MqsIYh Hidatidose Humana https://goo.gl/5dAhgL 23 UNIDADE Protozoários e Helmintos Referências BRENER B. Parasitologia Médica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. DE CARLI, G. A. Parasitologia Clínica: Seleção de Métodos e Técnicas de Labora- tório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2007. FERREIRA, M. U. Parasitologia Contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M.; PARKER, J. Microbiologia de Brock. 10.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. NEVES, D. P. et al. Parasitologia Humana. 13.ed. São Paulo: Atheneu, 2016. PELCZAR JR., Michael J. Microbiologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005. REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. SEHNEM, N. T. Microbiologia e Imunologia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. TRABULSI, L. R. Microbiologia. São Paulo: Atheneu, 2005. 24
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