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NEUROCIÊNCIA DO PROCESSO SENSOPERCEPTIVO Nosso aparato sensorial é formado pelos órgãos sensoriais (olhos, ouvidos, pele, língua, nariz), os nervos (que levam as informações dos órgãos dos sentidos até o SNC) e o córtex cerebral (onde o estímulo será processado em diferentes áreas a depender da modalidade sensorial: visual, tátil etc.). No cérebro, as informações sensoriais se conjugam numa percepção. Segundo Lent (2008), diferentemente de sua definição no senso comum, as percepções para as neurociências cognitivas são aqueles produtos da sensação (ou seja, proveniente dos sentidos). Por esse motivo, está cada vez mais frequente na literatura da área a grafia sensopercepção, já que se trata de um processo intrinsecamente integrado. Quando vemos um objeto (uma bola vermelha, por exemplo), neurônios sensoriais em nossa retina realizam a transdução das ondas luminosas em impulsos nervosos, que seguem pelo nervo óptico até núcleos específicos do tálamo, uma estrutura dupla (ou seja, presente nos dois hemisférios cerebrais), o tálamo, então, encaminha os impulsos visuais até as áreas sensoriais primárias (no exemplo, área visual primária, no córtex occipital). Na área visual primária, haverá apenas o processamento da cor e do formato; e separadamente. Em seguida, o estímulo será encaminhado para processamento nas áreas secundárias (no exemplo, área visual secundária, ainda no córtex occipital) e nas áreas de associação multimodais (junção têmporo-parieto-occipital), onde será formada a percepção do objeto visto como um todo, a fim de ser reconhecido como uma “bola vermelha”. Vale ressaltar que os estímulos sensoriais seguem este padrão: órgão sensorial >> tálamo >> córtices Processamento contralateral Um ponto curioso e relevante sobre a sensopercepção é que ela é processada no córtex contralateral ao estímulo. Isso significa que os estímulos percebidos no lado esquerdo do corpo são processados nas estruturas cerebrais do lado direito e vice-versa. Isso se dá porque as fibras neurais se cruzam no nível da ponte (estrutura componente do tronco cerebral): os prolongamentos do córtex cerebral direito cruzam na ponte e passam a enervar o lado esquerdo do corpo e vice-versa. É importante citar que essas vias são: AFERENTES Levam comandos do SNC até a periferia. Isso é relevante para o comportamento motor (como veremos mais à frente neste tema). EFERENTES Carregam informações sensoriais da periferia até o SNC. Isso é de especial relevância para a sensopercepção. Luria formulou uma compreensão de que o córtex está organizado nas seguintes unidades funcionais: ÁREAS BÁSICAS E UNOMODAIS Como as áreas visuais primárias do córtex occipital e as áreas motoras primárias do giro pré- central do córtex frontal, por exemplo, que lidam apenas com uma modalidade sensorial. Nesse caso, a visual e a auditiva, respectivamente. ÁREAS SECUNDÁRIAS Como as áreas associativas visuais, que nos permitem a compreensão perceptual, com mais sentido, dos estímulos visuais. ÁREAS TERCIÁRIAS Como as áreas de associação multimodais, que integram e processam diversas modalidades sensoriais para criar uma percepção completa do estímulo que ao mesmo tempo seja visual, espacial, auditivo e mnemônico. São exemplos a junção têmporo-parieto-occipital e o córtex pré-frontal (CPF). A atenção A atenção é um dos temas mais intrigantes e populares da Neuropsicologia na atualidade. Diante da enorme quantidade de estímulos que recebemos em nossas mais diversas atividades, manter a atenção por longos períodos e em mais de uma atividade tem sido cada vez mais requerido. As funções cognitivas não são estanques; acontece o mesmo com a sensopercepção e a atenção: ambos os processos funcionam coordenadamente; só podemos perceber ao que estamos atentos, mas, do mesmo modo, um estímulo sensorial de relevância pode capturar nossa atenção. O processo atencional – teorias e funções De acordo com Matlin (2004), pode-se considerar dois aspectos principais da atenção: ALERTA Estado geral de sensibilização, relacionado à vigília e consciência. FOCALIZAÇÃO Quando a atenção está sobre certos estímulos do ambiente interno (neurobiológicos) ou externo do indivíduo. Processos automáticos e controlados Na teoria cognitiva sobre atenção, registra-se a ideia de que os indivíduos possuem uma quantidade de recursos atencionais limitada. De acordo com essa ideia, algumas ações requerem mais recursos atencionais do que outras: ações novas, referentes a novos aprendizados, requerem muita atenção em seu aprendizado e em seu desempenho, mas, com o passar do tempo, demandam cada vez menos recursos atencionais, passando a ser desempenhadas automaticamente. Tal funcionamento faz parte da função adaptativa cerebral que, ao automatizar tarefas, melhora a economia cognitiva, deixando disponíveis recursos atencionais para que o indivíduo possa se engajar em tarefas concomitantemente. Mas deve estar claro que, em nossa mente, a maioria dos processos cognitivos se dá de forma automática. Normalmente, o aprendizado de tarefas novas envolve a utilização de quase todos os recursos atencionais, e o indivíduo não consegue desempenhar mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Esses processos são do tipo controlado (o indivíduo está conscientemente engajado na ação) e requerem um controle cognitivo maior, usando as funções executivas. Conforme a repetição, os processos controlados passam a ser desempenhados como do tipo automático (que se refere a tarefas superaprendidas, que já não requerem quase nenhum recurso atencional). Processos bottom-up e top-down O cérebro é limitado em sua capacidade de processar todos os estímulos sensoriais presentes no mundo físico a qualquer momento e confia no processo cognitivo de atenção para concentrar os recursos neurais de acordo com as contingências do momento. Nesse sentido, a atenção pode ser categorizada, segundo Katsuki e Constantinidis (2013), em duas funções distintas: Atenção bottom-up (de baixo para cima) Referente à orientação puramente por fatores externos direcionados a estímulos destacados por causa de suas propriedades inerentes ao fundo – por exemplo, um barulho muito alto, uma luz que se acende num ambiente de penumbra. Atenção top-down (de cima para baixo) Refere-se a orientações internas de atenção baseadas em conhecimento prévio, planos ou metas atuais – como prestar atenção a uma aula. NEUROCIÊNCIA DA ATENÇÃO Como já vimos, dois aspectos principais (alerta e focalização) formam a atenção. Mecanismos envolvidos na atenção, segundo Brandão (2004) e Fuentes et al. (2008), dependem de uma rede nervosa que inclui porções anteriores e posteriores do sistema nervoso, e lesões nessa rede alteram a capacidade da pessoa em direcionar a atenção para determinados setores do ambiente. Em relação ao estado de alerta, a área mais atuante é o Sistema Atencional Reticular Ascendente (SARA), localizado no tronco encefálico. Em relação ao que se pretende estudar em Neurociência Cognitiva (com ênfase na função cognitiva que ora estudamos), merece destaque a focalização. É o Sistema Atencional Posterior (SAP) que tem por função orientar a atenção; ou seja, é responsável pela atenção focada e seletiva. Já o Sistema Atencional Anterior (SAA) é responsável também pela atenção seletiva; e pela atenção sustentada e dividida. Assim, realiza o recrutamento atencional para detectar estímulos e controlar áreas cerebrais para o desempenho de tarefas cognitivas complexas.
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