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REPERCUSSÕES DA GRAVIDEZ NO ORGANISMO MATERNO ADAPTAÇÕES DO ORGANISMO MATERNO À GRAVIDEZ →O organismo feminino sofre mudanças anatômicas e funcionais durante a gravidez, adaptando-se para a presença do feto em desenvolvimento; →Essas alterações se dão nas esferas molecular, bioquímica, hormonal, celular e tecidual dos mais variados órgãos e sistemas. →É importante saber diferenciar aspectos normais da gravidez dos processos patológicos. -Pode ocorrer apenas má adaptação do organismo materno ao feto; -Pode ocorrer manifestações de doenças latentes; -Pode ocorrer intercorrências patológicas ligadas diretamente à gravidez; -Pode ocorrer piora das doenças previamente existentes. →Já no início da gestação, a presença de células trofoblásticas no ambiente intrauterino altera a homeostase local e em seguida, por meio da produção celular de hormônios e outras substâncias, o funcionamento de quase todos os sistemas maternos se adapta à nova condição. →Observam-se alterações essenciais para a adaptação do organismo materno à gravidez, em especial relacionadas aos sistemas circulatório (hematológico e cardiovascular} e endócrino (abrangendo também o metabolismo). SISTEMA CIRCULATÓRIO →Teremos o aumento do volume plasmático, diminuição da resistência vascular periférica, aumento da FC, VE (volume de ejeção) e DC. ADAPTAÇÕES HEMATOLÓGICAS DO ORGANISMO MATERNO →A primeira adaptação é referente a alterações do volume e da constituição do sangue; →O volume sanguíneo materno chega a atingir valores 30 – 50% maiores que os valores pré- gestacionais; →Essas variações com relação ao aumento da volemia se associam a diferenças individuais e à quantidade de tecido trofoblástico, sendo maior em gestações múltiplas e menor em gestações com predisposição a insuficiência placentária; →Observa-se aumento volêmico mais discreto em pacientes que apresentam restrição de crescimento fetal (RCF) e hipertensão arterial sistêmica (HAS); →O papel da hipervolemia no organismo materno está associado ao aumento das necessidades de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, especialmente em território uterino. Além disso, tem função protetora para gestante e feto em relação à redução do retomo venoso, comprometido com as posições supina e ereta, e também para as perdas sanguíneas esperadas no processo de parturição. VOLUME SANGUÍNEO E PLASMÁTICO →O aumento da volemia materna se dá em função do acréscimo de volume plasmático e, em menor proporção, em função da hiperplasia celular. →Esses processos adaptativos se iniciam já no primeiro trimestre de gestação, por volta da sexta semana, com expansão mais acelerada no segundo trimestre para depois reduzir sua velocidade e estabilizar-se nas últimas semanas do período gravídico. →O aumento da massa eritrocitária acompanha as velocidades de acréscimo observadas para o volume plasmático. ERITRÓCITOS →Apesar da hemodiluição fisiológica observada, o volume eritrocitário absoluto apresenta aumento considerável. →Em média, mulheres grávidas possuem 450 mL a mais de eritrócitos, sendo que o maior aumento se dá no terceiro trimestre. →A produção de hemácias está acelerada, provavelmente, em função do aumento dos níveis plasmáticos de eritropoetina, o que se confirma pela discreta elevação do número de reticulócitos apresentado pelas gestantes. →A concentração de hemoglobina se encontra reduzida em função da hemodiluição que ocorre no organismo. →Considerando-se que a produção eritrocitária seja maior no terceiro trimestre, essa redução relativa dos valores de hemoglobina é menor no fim da gravidez. Desse modo, gestantes com hemoglobina menor que 11 g/dL no primeiro e no terceiro trimestres ou 10,5 g/dL no segundo trimestre seriam consideradas anêmicas. Apesar dessa variação ocorrer, é consenso utilizar valores de hemoglobina inferiores a 11 g/dL para a definição de anemia na gestação. LEUCÓCITOS →A leucocitose pode estar presente na gravidez normal, com valores de leucócitos totais entre 5000 e 14000/mm3. →Durante o parto e puerpério imediato, os valores de leucócitos se elevam de modo significativo, podendo chegar a 29000/mm3. →O aumento dos níveis sanguíneo de leucócitos ocorre principalmente à custa de células polimorfonucleares. →As proteínas inflamatórias da fase aguda apresentam aumento em todo o período gestacional. A proteína C reativa apresenta níveis plasmáticos mais elevados no momento próximo ao parto. A velocidade de hemossedimentação, por sua vez, eleva-se por conta do aumento de fibrinogênio e de globulinas no sangue, perdendo seu valor em investigações diagnósticas na gravidez. PLAQUETAS E SISTEMA DE COAGULAÇÃO →Os níveis plaquetários tornam-se levemente reduzidos na gravidez – em parte isso dá por causa da hemodiluição, mas, também se deve ao consumo de plaquetas e ao certo grau de coagulação intravascular no leito uteroplacentário. →O aumento da produção de tromboxano A2 está associado à maior agregação plaquetária e, assim, à redução da contagem plaquetária. Um discreto aumento do baço também pode ser responsável pela queda observada no número de plaquetas na gravidez. Por essa razão, considera-se plaquetopenia na gestação uma contagem inferior ou igual a 100.000/ mm3. →A contagem de plaquetas volta a aumentar logo depois do parto e continua subindo por 3 a 4 semanas até retornar aos valores basais. Praticamente todos os fatores de coagulação apresentam-se elevados na gestação, com exceção dos fatores XI e XIII. Fibrinogênio e dímero D têm seus níveis elevados em até 50º/o com o decorrer da gravidez. →Outras proteínas que possuem função anticoagulante colaboram para o estado de hipercoagulabilidade da gestação. A resistência à proteína Cativada e a diminuição dos níveis plasmáticos de proteína S estão entre os fatores que se somam ao incremento da coagulabilidade do organismo materno. →Acredita-se que essas alterações do mecanismo de coagulação sejam mediadas por processos hormonais relacionados aos altos níveis de estrógeno e progesterona oriundos do tecido placentário. METABOLISMO DO FERRO →As necessidades de ferro durante o ciclo gravídico-puerperal aumentam consideravelmente. →Uma série de eventos contribui para esse estado de deficiência de ferro: consumo pela unidade fetoplacentária, utilização para produção de hemoglobina e de mioglobina para aumento da massa eritrocitária e da musculatura uterina, e depleção por perdas sanguíneas e pelo aleitamento. →A demanda por ferro é maior na segunda metade da gravidez, chegando a uma necessidade de 6 a 7 mg/dia no terceiro trimestre. SISTEMA CARDIOVASCULAR →As adaptações cardiovasculares se instalam logo no início da gestação; →Instauração de um novo equilíbrio circulatório na grávida - gestantes hígidas toleram bem essas alterações; enquanto as portadoras de cardiopatia, hipertensão arterial ou distúrbio hiperdinâmico, como hipertireoidismo, porém, podem apresentar descompensação clínica já no primeiro trimestre diante da sobrecarga hemodinâmica. ADAPTAÇÕES HEMODINÂMICAS →O aumento da frequência cardíaca basal, geralmente em 15 a 20 bpm, e a elevação do volume sistólico determinam aumento do débito cardíaco – o qual chega a ser 50% maior com relação a mulheres não grávidas. →Esse processo se inicia por volta da quinta semana de gravidez, estabiliza-se por volta de 24 semanas e atinge seu ápice no pós-parto imediato, com incremento de 80% no débito cardíaco. Esse aumento final no pós-parto imediato possivelmente ocorre pelo aumento do retomo venoso e, portanto, da pré-carga, após a descompressão dos vasos pélvicos pelo útero, o que ocorre com o nascimento do concepto. →A terceira adaptação circulatória acontece em nívelbioquímico. O aumento relativo da produção de prostaciclina, em comparação à produção de tromboxano A2, ocasiona vasodilatação sistêmica. →Além desses fatores, a produção endotelial de óxido nítrico apresenta aumento no período gestacional e colabora localmente para a vasodilatação periférica. Em adição a essa vasodilatação, o surgimento da circulação uteroplacentária, de baixa resistência, contribui para diminuir a resistência vascular periférica. →A redução da resistência vascular periférica é tão acentuada que é capaz de reduzir a pressão arterial sistêmica, apesar do aumento do débito cardíaco. →O aumento da pressão venosa nos membros inferiores é justificado pela compressão das veias pélvicas pelo útero volumoso. Por essa razão, há maior chance de a gestante apresentar hipotensão, edema, varizes e doença hemorroidária →As adaptações circulatórias se iniciam com 6 semanas de gestação e estão completamente instaladas entre o 6m do primeiro trimestre e o início do segundo. A distribuição do fluxo sanguíneo se modifica durante a gravidez e vai sendo desviada com prioridade para útero, rins, mamas e pele. CORAÇÃO →Com o decorrer da gravidez, o diafragma se eleva alterando a posição cardíaca, o coração então passa a se apresentar desviado para cima e para a esquerda e fica ligeiramente rodado para a face anterior do tórax. →Além desse deslocamento, o volume do órgão está maior como um todo, em função do aumento do volume sistólico e da hipertrofia dos miócitos. →Pequenas alterações do ritmo também são frequentes, em especial as extrassístoles ventriculares e taquicardias paroxísticas supraventriculares. →O sopro cardíaco sistólico é comum em decorrência da redução da viscosidade sanguínea e do aumento do débito cardíaco. →Por razão das modificações anatômicas e funcionais do coração, pode haver alterações eletrocardiográficas fisiológicas nas ondas Te Q, no segmento ST e desvio do eixo cardíaco para a esquerda de 15° a 20°. SISTEMA ENDÓCRINO E METABOLISMO →As adaptações endócrinas e metabólicas do organismo materno visam garantir o aporte nutricional para o desenvolvimento saudável do feto, de termo e com peso adequado. →Uma variedade de transformações funcionais das glândulas maternas coexistirá com um novo órgão que apresenta importante função endócrina: a placenta →A produção placentária de substâncias similares aos hormônios maternos gera um novo equilíbrio dos eixos hipotálamo-hipófise-adrenal, hipotálamo- hipófise-ovário e hipotálamo-hipófise-tireoide. →Da mesma forma, sua produção hormonal própria, como a do hormônio lactogênico placentário, altera o metabolismo da gestante no decorrer da gravidez, adequando-o ao momento de desenvolvimento ou crescimento fetal. →Assim, a gestante depara-se com duas fases distintas: uma primeira etapa de anabolismo materno, que dura pouco mais da metade da gestação; e uma segunda etapa de catabolismo materno e anabolismo fetal, que se inicia ao fim da primeira metade e segue até o término da gravidez. ADAPTAÇÕES ENDÓCRINAS DO ORGANISMO MATERNO HIPOTÁLAMO →Durante a gravidez, as concentrações de diversos hormônios produzidos pelo hipotálamo têm aumento na circulação periférica, apesar de não serem tipicamente detectadas fora do período gestacional. →Isso decorre da produção placentária de variantes idênticas aos hormônios hipotalâmicos, como hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH), AUMENTO DO DÉBITO CARDÍACO = AUMENTO DO VOLUME SISTÓLICO X AUMENTO DA FC PRESSÃO ARTERIAL SISTÊMICA = RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA X DÉBITO CARDÍACO hormônio liberador da corticotrofina (CRH), hormônio hipotalâmico estimulador da tireotrofina (TRH), somatostatina e hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH). HIPÓFISE →Durante a gestação normal, a hipófise aumenta de tamanho à custa de hipertrofia e hiperplasia da sua porção anterior, a adeno-hipófise, especialmente dos lactótrofos, promovidas pela ação estimulante do estrógeno. →Com relação a adeno-hipófise, observa-se grande aumento da produção de prolactina, que chega a atingir níveis 10 vezes maiores. →A produção e a secreção de hormônio do crescimento (GH) permanecem normais no primeiro trimestre, mas, com o aumento da secreção desse hormônio pelo sinciciotrofoblasto, os seus níveis séricos aumentam ao longo da gestação. →A fração alfa da gonadotrofina coriônica humana (hCG), por sua semelhança molecular com a fração alfa do hormônio estimulante da tireoide (TSH), estimula a função tireoidiana, o que, por meio de retroalimentação negativa, reduz a produção e a secreção hipofisária deTSH. →O ACTH é progressivamente aumentado durante a gestação. →Já o LH e FSH são diminuídos por retroalimentação negativa, já que placenta está produzindo estrogênio e progesterona. →Já em relação à neuro-hipófise, a ocitocina permanece normal, aumentando somente no trabalho de parto. →O ADH circulante permanece constante, o que muda é que se estabelece um novo ponto de equilíbrio para sua liberação, ou seja, para que ocorra sua liberação é necessário uma osmolaridade sanguínea menor (o ponto de corte para sua liberação no corpo da gestante é menor que o ponto de corte em uma pessoa não-gestante), fazendo com que ocorra o fenômeno da hemodiluição já citado antes. Juntamente com diminuição do limiar de secreção de ADH o mecanismo da sede também é mais intensificado e desencadeado com “ponto de corte” menor TIREOIDE → O metabolismo materno em relação aos hormônios tireoidianos encontra-se alterado em 3 pontos: 1. Menor nível de iodo sérico (devido aumento da TFG) 2. Menor circulação das frações livres de T3 e T4 e 3. Estimulação direta do beta-hCG sobre a tireóide. →Com isso, ocorre um aumento do volume da tireóide e em 15% das gestantes gera-se bócio, o qual é patológico em 50% dos casos quando aparece - esse bócio é devido aos menores níveis de iodo sérico. →Além disso, como diminui-se fisiologicamente os níveis de T3 e T4 livre (seja porque aumenta-se produção de globulinas transportadoras desses hormônios, seja porque o feto também consome T3 e T4), são necessários novos valores de referência para eles. PARATIREOIDES → A demanda de cálcio pelo corpo da gestante aumenta durante a gravidez, pois o feto consome cálcio para formar os ossos. →Apesar disso, os níveis de PTH diminui na gestação, sendo que o que mantém os níveis de cálcio satisfatórios na gestação é a vitamina D3 (calcitriol, forma ativa da vit. D). →Isso ocorre por ação do estrogênio, que estimula a enzima 1-alfa-hidroxilase a qual é responsável por ativar vit. D em vit. D3. Com isso, maiores níveis de vit. D3 aumentam a absorção de cálcio intestinal. ADRENAIS →Ocorre um aumento da atividade das adrenais, gerando na gestação um hiperaldosteronismo (já citado superiormente) e um hipercostisolismo, o qual ocorre pela menor excreção que cortisol sofre, além de ter sua meia-vida aumentada. →Já em relação aos andrógenos das adrenais, eles estão reduzidos devido ao consumo e transformação em estrógeno placentário. OVÁRIOS →Eles têm importância para a gravidez até a 7 semana de gestação, visto que o corpo lúteo que está dentro deles é o responsável por continuar a produção de progesterona (principalmente) e estrogênio até que a placenta se forme e assume a produção hormonal. ADAPTAÇÕES METABÓLICAS DO ORGANISMO MATERNO →Até as 24-26 semanas de gestação temos a fase do anabolismo materno, em que as kcal ingeridas são destinadas para o organismo materno armazenar energia. →Já a partir da 24º-26º semana até o final temos a fase do catabolismo materno, em que as reservas energéticas e kcal ingeridas são destinadas primordialmente ao feto paraseu crescimento e desenvolvimento. →Geralmente a demanda energética necessária na gestação é de 300 kcal/dia a mais do normal. METABOLISMO DE CARBOIDRATOS E LIPÍDEOS →É completamente alterado. →Durante a fase anabólica da gestação, ocorre estímulo da glicogênese e lipogênese. Por isso, os níveis de glicemia sanguínea se reduzem normalmente (é por isso que o VR de glicemia de jejum é diferente para a gestante e é feito somente até as 28 semanas que é basicamente o período anabólico da gestação). →Quando a gestante entra no período catabólico, começa ocorrer a quebra dos nutrientes armazenados para que sejam oferecidos para o feto. Assim, temos estímulo da glicogenólise, lipólise e gliconeogênese, além de um aumento na resistência periférica da insulina. Desse modo, o corpo da mãe tem preferência por consumir ácidos graxos para deixar a glicose para o feto. Assim, os níveis de glicemia sanguínea aumentam consideravelmente. Por isso que a partir de 28 semanas não se faz mais testes para diagnosticar DMG. METABOLISMO PROTEICO →Ocorre um aumento do balanço nitrogenado pelo corpo materno, gerando um acúmulo de cerca de 1000g de proteínas durante toda a gestação, a qual é destinada para o feto e também para a musculatura uterina. MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS DO ORGANISMO MATERNO →As modificações gravídicas sistêmicas são manifestações da presença da unidade fetoplacentária e das adaptações circulatórias, endócrinas e metabólicas do organismo materno sobre os diversos órgãos e sistemas. →Refletem basicamente alterações que podem ser mecânicas, vasculares ou endócrinas. PELE E ANEXOS →A produção de estrógenos pela placenta leva à proliferação da microvasculatura de todo o tegumento – angiogênese →Em associação ao estado hiperprogestogênico, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo. →Observam-se eventos vasculares da pele e dos anexos, como eritema palmar, telangiectasias, Hipertricose e aumento de secreção sebácea e de sudorese. →Pode ocorrer também alopecia, apesar de ser mais raro. →Os altos níveis de progesterona também levam a hiperpigmentação da pele da gestante – aumento da produção e secreção do hormônio melanotrófico da hipófise – surgimento dos cloasmas (maior incidência: face, fronte, projeção cutânea da linha alba – linha nigra – aréola mamária e região das dobras). →Sinal de Hunter – pigmentação periareolar – formação da aréola secundaria →Surgimento de estrias também é comum (hipercortisolismo) →Outros sintomas: aumento da sudorese; aumento da oleosidade. SISTEMA ESQUELÉTICO →Suas alterações são decorrentes da embebição gravídica, alterações hormonais e das alterações posturais desencadeadas pelo aumento uterino – causa dores e até lesões. →Ocorre o relaxamento das articulações com acúmulo de líquido – embebição gravídica →Nas articulações dos membros inferiores a embebição gravídica pode predispor a gestante a dores crônicas, entorses, luxações e até fraturas. →Durante a gravidez, observa-se que as articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinostoses sacroilíacas) se apresentam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e modificando a postura e a deambulação da gestante, o que prepara a parturição. →Marcha anserina* – desvio anterior do centro de gravidade – pode surgir, em função desse desvio, hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral *(marcha anserina – afastamento dos pés e diminuição da amplitude dos passos durante a deambulação) →Em geral, os ligamentos ficam mais frouxos na gestação e são mais complacentes à movimentação →Essas modificações são imprescindíveis para o fenômeno da expulsão fetal, pois elas permitem o aumento do diâmetro e estreitos da pelve materna. SISTEMA DIGESTÓRIO →Aumento de apetite e sede – pode se dar em função da resistência à ação da leptina e das alterações da secreção de ADH. →Perversão do paladar – desejos de ingerir terra, sabão, carvão – situação denominada pica ou malácia →Náuseas e vômitos, principalmente no primeiro trimestre →Surgimento de sialorreia _ secreção excessiva de saliva _ desencadeada por estímulo neurológico do quinto par craniano (nervo trigêmeo) e do nervo vago, relaciona-se mais à dificuldade de deglutição decorrente das náuseas do que propriamente ao aumento da secreção salivar. →Aumento da sensibilidade gengival – os altos níveis de esteroides sexuais circulantes levam à hipertrofia e hipervascularização gengival, resultando em gengiva edemaciada e que sangra facilmente, dificultando até mesmo a higiene →Ocorre também diminuição do pH salivar, propiciando proliferação bacteriana →A progesterona é um potente relaxante de fibras musculares lisas e o estrógeno, por sua vez, age como indutor dos efeitos progestogênicos no organismo materno, esses efeitos levam ao relaxamento do esfíncter esofágico inferior e redução de seu peristaltismo, consequentemente, tem -se o aumento da incidência de refluxo gastroesofágico – logo, a pirose também é uma queixa comum da gestante →A gestante também pode ter uma diminuição da motilidade da sua vesícula biliar – a hipotonia da vesícula biliar predispõe ao surgimento de litíase biliar, em especial pela associação com o aumento do colesterol total desde o início da gestação. →Aumento dos casos de obstipação em função da redução da contratilidade da musculatura lisa dos intestinos – constipação intestinal →Ocorrem também alterações anatômicas, em função do aumento do volume uterino, como o desvio do estômago e apêndice para cima e para a direita, enquanto que os intestinos se desviam para a esquerda. (diagnóstico de apendicite na gravidez é dificultado). SISTEMA RESPIRATÓRIO →Durante a gravidez tem-se o ingurgitamento e edema da mucosa nasal, que aumentam os casos de obstrução, sangramento e rinite na gestante. →O edema pode atingir também a laringe e a faringe, diminuindo o lúmen dessas vias o que pode representar maior dificuldade para intubação nessas mulheres. →Tem-se também a elevação do diafragma de aproximadamente 4 cm e uma maior capacidade de excursão desse músculo, que aumenta em cerca de 2 cm. →A amplitude de movimento do diafragma se reduz ao longo da gravidez em função do aumento do volume abdominal. →A caixa torácica apresenta aumento de 5 a 7 cm em sua circunferência e 2 cm em seu diâmetro anteroposterior, com consequente ampliação dos ângulos costofrênicos (aumenta até 35º). →Há também um aumento da demanda de oxigênio em 20-30%. →Hiperventilação também é comum devido ao aumento de volume corrente. →Dispneia também é queixa comum entre as gestantes SISTEMA URINÁRIO →Anatomicamente os rins apresentam aumento de cerca de 1cm em seus diâmetros durante a gestação. →Ocorre modificações vasculares das arteríolas renais, como fruto das adaptações circulatórias já descritas. →O aumento da volemia em associação com a redução da resistência vascular periférica provoca elevação do fluxo plasmático glomerular, com consequente aceleração do ritmo de filtração glomerular →A própria relaxina produzida pelo corpo lúteo, a qual antigamente acreditava-se que era responsável por “relaxar” as articulações pélvicas, é responsável por aumentar a T.F.G por agir na osmolaridade plasmática. →Com isso, a função renal é modificada na gestante, necessitando novos valores de referência. →O padrão de excreção urinária é maior a noite em função do repouso em decúbito, com maior mobilização dos fluidos extravasculares e menor capacidade de reabsorção de água livre – queixa de nictúria. →Polaciúria – micção frequente →Incontinência urinária – hipotonia dos esfíncteres SISTEMA NERVOSO →As principais queixas aqui serelacionam a: discretas alterações de memória e de concentração, geralmente no último trimestre; maior sonolência. →Acredita-se que a sonolência esteja associada aos altos níveis de progesterona e à alcalose respiratória causada pela hiperventilação. →A lentificação geral do SNC é comum e progressiva, podendo corresponder a alterações vasculares das artérias cerebrais média e posterior. →As modificações do padrão e da qualidade do sono aumentam a fadiga da grávida e também podem colaborar pra quadros psíquicos de blues puerperal ou até mesmo depressão (pesquisar o que é blues) →A maternidade pode ser acompanhada de inseguranças e dificuldades emocionais – requerendo maior atenção. VISÃO, OLFATO E AUDIÇÃO →Alterações da córnea, como edema localizado e opacificações pigmentares podem levar a diminuição da acuidade visual da gestante. →Como já falado, a mucosa nasal apresenta-se edemaciada e hipervascularizada, sendo a hiposmia uma queixa que também pode ser frequente, além de aumento de epistaxe e rinites. →Pode ocorrer também diminuição da acuidade auditiva. MODIFICAÇÕES LOCAIS DO ORGANISMO MATERNO →São aquelas confinadas ao sistema genital feminino e, portanto, espacialmente mais próximas do produto conceptual, com exceção das mamas. →São mais intensas e conferem ao sistema genital da gestante alterações de suas dimensões, coloração, posição, forma e consistência. →As alterações mais expressivas são no útero, principalmente as relacionadas à circulação uteroplacentária, à hipervascularização local e ao aumento volumétrico do órgão. ÚTERO →Sofre alteração de tamanho, volume, consistência e cor (torna-se mais violáceo) →A retenção hídrica do espaço extravascular torna-o de consistência mais amolecida, em especial na região de implantação ovular, onde as influencias mecânicas e humorais são mais diretas e intensas. →A consistência uterina se modifica na vigência de contração uterina ou aumento do tônus muscular, o que pode ser notado pela palpação abdominal a partir da segunda metade da gravidez. →O endométrio se modifica formando as decíduas basal, capsular e parietal. →O miométrio tem suas fibras alongadas à medida que a gestação avança. → Até as 12 semanas o útero é um órgão intrapélvico com forma assimétrica devido a implantação localizada do embrião (sinal de Piscacek). →A partir de 20 semanas ele assume forma esférica e alcança a região abdominal, fazendo-o também ocupar os fórnices da vagina (fundo de saco vaginal) configurando o sinal de Noble-Budin. →Na segunda metade da gestação o útero muda de forma esférica para cilíndrica com alongamento das fibras musculares. Essas fibras musculares na gestação sofrem 3 modificações: hiperplasia (no início da gestação), hipertrofia (aumenta diâmetro em 10x) e alongamento (na segunda metade da gravidez para acomodar o concepto). →Hipervascularização: O útero é o órgão que mais sofre esse fenômeno, possuindo grande aumento do fluxo sanguíneo e surgimento de novos vasos. As principais artérias que participam da irrigação são as uterinas (ramos da ilíaca interna) e ovarianas (ramos da aorta abdominal). ISTMO E SEGMENTO ANTERIOR →O istmo do útero (parte inferior do corpo, que fica entre corpo e colo uterino) alonga até 12 semanas e com 16 semanas incorpora-se ao corpo uterino, dilatando-se. Assim, ele para de crescer e começa somente a distender conforme o feto cresce, fazendo com que o útero mude de forma esférica para cilíndrica. COLO UTERINO →É a porção inferior do útero, composto por 2 tipos de epitélios e de estrutura formada por tecido conjuntivo denso, com elementos musculares e conjuntivos. →Caracteriza-se por estrutura cilíndrica, cujo interior e ocupado pelo canal cervical com seus respectivos orifícios interno (ou obstétrico) e externo, o qual pode ser visto ao exame especular de rotina. →Endocérvix – epitélio cilíndrico glandular – recobre o canal cervical →Ectocérvix – epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado – porção vaginal do colo →Durante a gravidez ocorre espessamento do epitélio do colo uterino →Possui grande quantidade de fibras colágenas e elásticas →É responsável pela contenção e manutenção do feto e das membranas ovulares no interior da cavidade uterina →O aumento da vascularização durante a gravidez modifica a coloração do colo para uma cor mais violácea →A hipertrofia glandular da endocérvix desencadeia maior produção de muco, espesso e viscoso, denominado rolha de Schröeder. →O muco cervical da gestante é rico em imunoglobulinas e citocinas – proteção contra microorganismos. TUBAS UTERINAS E LIGAMENTOS →As tubas uterinas estiram-se em função do crescimento do útero e são então levadas a ocupar uma posição vertical, paralela ao corpo uterino. →A vascularização local é intensa, alterando a cor das tubas, especialmente das fímbrias. →Os ligamentos largos e redondos do útero se encontram hipertrofiados e congestos. Dependendo da localização placentária, os ligamentos redondos, assim com os anexos, podem ser apresentar estirados na face oposta à da inserção da placenta (sinal de Palm) →Nas inserções placentárias na face anterior do útero, os ligamentos redondos e os anexos estarão voltados para região posterior do órgão. De forma semelhante, nas inserções posteriores, os ligamentos e anexos estarão voltados para diante do corpo uterino, podendo, eventualmente, ser palpados no termo em gestantes magras. VAGINA →A hipervascularização local provoca hiperemia e edema da mucosa vaginal. →A coloração avermelhada se torna arroxeada pela retenção sanguínea nos vasos venosos – denominando-se sinal de Kluge. →O aumento do diâmetro das artérias vaginais permite sentir sua pulsação nos fórnices laterais – Sinal de Osiander →Ocorre: hipertrofia das células musculares e do tecido conjuntivo, fato que juntamente com o acúmulo hídrico, aumentam a espessura e elasticidade da mucosa vaginal → redução da rugosidade mucosa e capacidade de distensão. VULVA →Apresenta as mesmas modificações vasculares e pigmentares que a vagina. →É comum que a pele da raiz das coxas e dos grandes lábios se apresente com manchas hipercrômicas – Sinal de Jacquemier-Chadwick. →A retenção de líquidos no espaço extravascular causa edema do vestíbulo vaginal, que funciona como um coxim protetor no momento do parto. MAMAS →As modificações das glândulas mamárias são evidentes desde o início da gestação. →Tornam-se mais sensíveis →Em função da produção hormonal de estrógeno e progesterona pela placenta e a produção de prolactina pela hipófise materna, tem- se o crescimento e desenvolvimento mamário necessários para o processo de lactação. →O seu aumento volumétrico é observado a partir da 6ª semana →O mamilo se torna mais pigmentado e sensível →A papila se apresenta mais saliente, pois está com maior capacidade erétil →A hiperpigmentação areolar faz com que o mamilo tenha cor acastanhada, com surgimento de coloração externa aos limites originais da aréola mais clara – aréola secundária – sinal de Hunter →Ocorre também hipertrofia das glândulas sebáceas do mamilo, que formam elevações visíveis, os tubérculos de Montgomery →Visualização da rede venosa sob a pele – rede de Haller →A partir da segunda metade da gravidez é possível visualizar saída de colostro pelas papilas à expressão mamária RESUMINDO
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