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BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO Processo Legislativo INTRODUÇÃO O processo legislativo é um conjunto de atos ordenados entre si que visam a elaboração de normas primárias (encontram diretamente na Constituição o seu fundamento de validade). Nele quem tem a primazia é o Poder Legislativo, com exceção da possibilidade do Presidente da República de exercer uma função atípica de legislativo. Art. 59 CF: O processo legislativo compreende a elaboração de: I. emendas à Constituição; II. leis complementares; III. leis ordinárias; IV. leis delegadas; V. medidas provisórias; VI. decretos legislativos; VII. resoluções. Caso aja um descumprimento da observância/violação desses atos que compõem o processo legislativo ocorre uma inconstitucionalidade formal. Esse controle de constitucionalidade pode ser preventivo ou repressivo, o primeiro ataca diretamente ao projeto de uma dessas espécies e é exercido pelos três poderes (Legislativo por meio das condições e voto em plenário, Executivo por meio do veto jurídico, Judiciário por meio do direito função dos parlamentares), e não sendo suficiente tem-se o segundo, tanto difuso quanto concentrado, tendo como parâmetro normas constitucionais de natureza formal. LEI ORDINÁRIA O processo ordinário é mais amplo, geral, e é dividido em três momentos: introdutório, constitutivo e complementar. São legitimados: Art. 61 CF: A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. A iniciativa pode ser parlamentar ou extraparlamentar, esta atribuída a todos os não parlamentares (Presidente, STF e etc.). A primazia é que os processos de lei ordinárias sejam do Poder Legislativo. A iniciativa ainda pode ser de competência vinculada, na qual a Constituição expressamente indica o BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO legitimado, a forma e o prazo em que se deve propor o projeto de lei. O titular não pode aquilatar a oportunidade de oferecer o projeto, mas tem o dever de fazê-lo em determinado prazo ou oportunidade. Exemplo o projeto orçamentário presente no art. 35 §2º III do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que deve ser enviado ao Congresso Nacional até quatro meses antes do final do exercício financeiro. Pode ser também concorrente (comum ou geral) quando órgãos e integrantes do Poder Legislativo concorrem simultaneamente na iniciativa de lei, todos podem propor o projeto de lei, ou reservada (exclusiva ou privativa) quando a constituição indica, define expressamente que tal matéria é destinada a iniciativa de uma única autoridade ou órgão. Um exemplo deste é o art. 61 §1º que expressa “São de iniciativa privativa”. O momento constitutivo é composto por três atos: discussão, votação e deliberação executiva. As discussões ocorrerem em duas sedes, nas comissões permanentes e no plenário. As comissões podem ser temáticas ou de Constituição e Justiça (CCJ), examinam o projeto no seu aspecto material e formal e dão um parecer opinativo quanto a esse. O parecer não é terminativo, é possível que aja recurso interno por parte dos parlamentares afastando esse. Perante a comissão teremos a possibilidade de emendas para alterar o projeto. Já o Plenário analisa o projeto quanto ao conteúdo e interesse público. O Poder Legislativo no Brasil segue a regra do bicameralismo federativo, Congresso Nacional formado por duas Casas, Câmara dos Deputados e Senado Federal. A Casa iniciadora (via de regra a Câmara dos Deputados) é a que executa a deliberação primária, e a revisora (Senado) executa a deliberação revisional. O projeto de lei é aprovado quando é discutido e votado em ambas as Casas. Se a proposta de projeto for de um Senador ou da mesa do Senado haverá exceção, a Casa iniciadora será o Senado, e não a Câmara. A votação se dá em Plenário, reúne-se todos os parlamentares, obedecendo dois quóruns. O primeiro, quórum de instalação, precisa ser respeitado para que seja instalada uma seção de votação. Ele é de maioria absoluta (metade mais 1 dos pertencentes) da Casa, se tratando do Senado que possui 81 Senadores a maioria absoluta é 41, e da Câmara que possui 513 é 257. O segundo, quórum de aprovação, é de maioria simples (metade mais 1 dos presentes) por parte dos Parlamentares. Como se trata de lei ordinária tem-se um único turno, caso rejeite é arquivado o projeto, caso aprovado é enviado para a Casa revisora. Vigora no processo legislativo o princípio da irrepetibilidade que visa preservar o parlamento de ter que novamente rever posicionamentos já tomados em votações durante o processo legislativo. Não pode apresentar o mesmo projeto novamente na mesma seção legislativa (ano). Na Casa revisora é analisado se o projeto aprovado com alterações vai necessitar retornar a Casa iniciadora para uma alteração substancial que mude o objeto. A Casa iniciadora pode aprovar com as emendas ou afastar as emendas e aprovar o projeto originário que já foi aprovado. Não haverá necessidade de retornar a Casa Revisora, será encaminhado ao Presidente que dará a sanção ou veto jurídico. BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO O Presidente da República recebe o projeto da Casa e tem 15 dias uteis para deliberação, podendo sancionar ou vetar. A sanção pode ser expressa, quando o Presidente expressamente manifesta, assina autorizando o projeto, ou tácita quando ele se omite durante o prazo (ocorre dessa forma para evitar o engavetamento de projetos). Quanto ao veto, pode se dar por dois motivos, jurídico quando for inconstitucional e político quando for contrário aos interesses públicos. Ele pode ser parcial quando abrange texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alinha. A promulgação dessa lei se dá pelo Chefe do Executivo, Presidente da República, e a partir daí a lei passa a integrar o ordenamento jurídico. O Presidente do Executivo pode se escusar, principalmente quando seu veto é derrubado, atribuindo ao Presidente do Senado a promulgação, que também pode se escusar, passando ao Vice Presidente do Senado sob pena de crime de responsabilidade. Quando recebido pelo Presidente da República ou do Senado, estes têm um prazo de 48 horas para promulgar, e quanto ao vice a lei não atribui nenhum prazo, mas a doutrina diz que deve ser imediato. A publicação dá conhecimento ao público da existência do ato normativo. OUTRAS ESPÉCIES NORMATIVAS A Lei delegada é um ato normativo primário que da possibilidade ao Executivo de solicitar ao Legislativo delegação para legislar sobre determinados assuntos. Só ocorre quando o Presidente pede (externa corporis). O instrumento da delegação (autorização do Presidente de legislar) é a resolução (espécie de lei) que autoriza e fixa os seus limites. O art. 68 da CF aborda uma série de limites por ser função atípica. Devido as suas proibições, não é qualquer matéria que pode ser objeto de delegação, por isso optam pela medida provisória. O instrumento pelo qual o Presidente fala é o decreto executivo, e que o Poder Legislativo fala são resolução e decreto legislativo. A apreciação significa submeter a votação para aprovar ou não um projeto. Se o Congresso Nacional quiser, poderá pedir para apreciar o projeto, o que ocorrerá em votação única. Caso o Presidente da República venha ultrapassar os limites da resolução, o Congresso poderá sustar os atos que excederem tal limite. Art. 49 CF: É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. A delegação deve ser solicitada pelo Presidente. O Presidente é o autor, portanto dispensa sanção ou veto,já que o mesmo não iria discordar de um projeto elaborado por ele mesmo. O Congresso Nacional aprova a transferência de poderes por intermédio de resolução, que especificará o conteúdo e os termos do seu exercício. Caso a resolução fixe o prazo, o Presidente poderá durante este legislar sobre o tema. O decreto legislativo é uma espécie normativa, competência exclusiva do Congresso. Ele internaliza/copia os tratados e os transformam em lei (decreto BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO legislativo). Não apresenta sanção ou veto pois o Presidente não participa, e é promulgada pelo Presidente do Senado. Quando exercente de competência concreta, atos de efeitos concretos (para apenas um caso) ele não poderá ser atacado pelo controle direto de constitucionalidade, apenas quando se tornar lei no Brasil e atacar a todos. Ocorrerá quanto a edição do decreto legislativo sobre as competências fixadas nos incisos VII e VIII art. 49, por exemplo, já que no caso haverá edição de norma com características de generalidade e abstração. O decreto legislativo tradicional é aprovado por maioria simples sem procedimento especial. A emenda nº 45/2004 trouxe a hipótese de um decreto legislativo especial, que ratifica tratado ou Convenção Internacional de Direito Humanos, que deve ser aprovado em processo assemelhado ao da emenda constitucional (dois turnos de votação e quórum de 3/5 de cada Casa). Este sofrerá disciplina mais severa, necessitando da ratificação do Presidente. Resolução é um tipo de lei feita pelo Congresso Nacional que dispensa participação do Presidente e, portanto, não está sujeita a sanção e veto. Trata- se de matéria privativa, ora do Senado, ora do Congresso (art. 51 e 52 CF). A promulgação é feita na Casa legislativa que a editou, quando for ato do Congresso Nacional será promulgada pela Mesa do Senado Federal. Quando for para uma pessoa apenas não tem controle de constitucionalidade, e quando dotada de generalidade e abstração tem controle e constitucionalidade. Sua votação é por maioria simples. PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL (PEC) A Constituição necessita de atualização e ser alterada constantemente para acompanhar as inovações da sociedade. O processo legislativo de emenda à Constituição constitui o Poder Constituinte Derivado, que tem a possibilidade de alterar o que o Poder Constituinte Originário criou. Nossa Constituição é rígida e possui um rito especialíssimo comparado ao do processo legislativo ordinário. A primeira fase do processo legislativo da PEC é a iniciativa, que diz respeito a quem tem a possibilidade de apresentar um projeto. Ela é de 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (processo mais difícil), do Presidente da República e de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, por maioria absoluta de seus membros. É vedada a iniciativa popular, diferente da lei ordinária. O processo de modificação de Constituição costuma ser chamado de processo de revisão, presente no art. 3º das Disposições Constitucionais Transitórias. As emendas constitucionais são espécies normativas que possuem por finalidade alterar o texto constitucional, acrescentando-lhe ou suprimindo dispositivos, tendo então os seus dispositivos essenciais a ele incorporados, transformando- BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO se em normas constitucionais. O art. 60 da Constituição utiliza o termo emenda de revisão. Art. 3º ADCT: A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. Seção unicameral reúne a Câmara dos Deputados e dos Senadores. Alterar a Constituição requer alguns cuidados, é condicionado e limitado. A iniciativa vai para votação, necessitando de dois turnos, com o quórum de 3/5 dos votos das Casas. São vedadas as emendas constitucionais tendentes a discutir as cláusulas pétreas, as matérias elencadas no art. 60 § 4º da Constituição. Art. 60 § 4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado (Art. 1º); II. o voto direto, secreto, universal e periódico (14º); III. a separação dos Poderes (2º); IV. os direitos e garantias individuais. Nosso Bill of Rights é meramente exemplificativo. Admite haver outros direitos fundamentais além dos enumerados no art. 5º, direitos estes implícitos espalhados pelo texto da Lei Maior e também nos tratados, como evidencia o art. 5º § 2º. Há ainda cláusulas pétreas implícitas que necessitam de uma interpretação constitucional. Elas não estão previstas no art. 60, mas também não podem ser objeto de alteração pois o § 4º prevê, portanto o art. 60 é cláusula pétrea. Outra questão é a titularidade de poder, que dentro da democracia é o povo, portanto este também é cláusula pétrea. O art. 2º do ADCT apresenta que o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma e o sistema de governo que devem vigorar no País, portanto essa consulta pública prévia estabelece a República como Forma de Governo e cláusula pétrea. As PECs possuem duas naturezas, inicialmente norma infraconstitucional e depois de aprovadas tem natureza de constituição. As Emendas têm a mesma natureza e a mesma força hierárquica das normas constitucionais, mas por serem produto do Congresso e não do Poder Constituinte, sofrem limitações de natureza substancial, formal e temporal, previstas na Constituição. Existem também as vedações/limitações circunstanciais que não permitem a emenda constitucional em momentos de perturbação, quais sejam estado de sítio (art. 34 e 36), estado de defesa e intervenção federal (art. 136 e 137). Se estiver no processo, seja na Casa iniciadora ou outra, para. Pela vedação BIANCA MARINELLI – TEORIA GERAL DO ESTADO 2º TERMO procedimental, a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, não pode ser objeto de deliberação na mesma sessão legislativa (ano). Introdução Lei ordinária Outras Espécies Normativas Proposta de Emenda Constitucional (pec)
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