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Educação em Direitos Humanos

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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
Complementação Pedagógica 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
DISCIPLINA 
 
EDUCAÇÃO EM DIREITOS 
HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 2 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................... 5 
Teoria dos direitos fundamentais ............................................................................... 5 
As declarações universais dos direitos e os tratados internacionais .......................... 8 
As dimensões/gerações dos direitos fundamentais .................................................. 13 
Direitos a prestações materiais ................................................................................ 18 
Direitos fundamentais de participação ..................................................................... 21 
Dimensões dos Direitos Fundamentais .................................................................... 21 
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS E O REGIME JURÍDICO 
DOS MILITARES ..................................................................................................... 23 
OS MILITARES NA SOCIEDADE – TRATAMENTO DIFERENCIADO .................... 27 
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A SEGURANÇA PÚBLICA................ 38 
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (PNEDH) ............ 44 
PRINCÍPIOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS .......... 50 
Na Educação Básica ................................................................................................ 51 
METODOLOGIAS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS .............................. 57 
EIXOS TEMÁTICOS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ................................. 60 
OS DIREITOS DAS MINORIAS ÉTNICAS E RACIAIS ............................................ 66 
POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO/AÇÕES AFIRMATIVAS ............................... 69 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 79 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
INTRODUÇÃO 
 
Em 1997, Arendt já ponderava que globalização, políticas neoliberais, 
segurança global, eram realidades que estavam acentuando a exclusão, em suas 
diferentes formas e manifestações. Evidentemente não afetam, igualmente, a todos 
os grupos sociais e culturais, nem a todos os países e, dentro de cada país, às 
diferentes regiões e pessoas. São os considerados “diferentes”, aqueles que, por suas 
características sociais e/ou étnicas, por serem pessoas com “necessidades 
especiais”, por não se adequarem a uma sociedade cada vez mais marcada pela 
competitividade e pela lógica do mercado, os “perdedores”, os “descartáveis”, que 
vêm, a cada dia, negado o seu “direito a ter direitos”. 
Entretanto, bem antes, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
da Organização das Nações Unidas (ONU) já havia desencadeado um processo de 
mudança no comportamento social e a produção de instrumentos e mecanismos 
internacionais de direitos humanos que foram incorporados ao ordenamento jurídico 
dos países signatários. Esse processo resultou na base dos atuais sistemas global e 
regionais de produção dos direitos humanos (PNEDH, 2007). 
Concordamos com Candau (2007) ao inferir que a Educação em Direitos 
Humanos ainda é um desafio fundamental, principalmente no sentido de avançar em 
sintonia com sua paixão fundante: seu compromisso histórico com uma mudança 
estrutural que viabilize uma sociedade inclusiva e a centralidade dos setores 
populares nesta busca. Estas opções constituíram – e acreditamos que continuam 
sendo – a fonte de sua energia ética e política. 
Este módulo que busca refletir, discutir, analisar, conhecer os objetivos da 
Educação em Direitos Humanos tem suas bases teóricas no Plano Nacional de 
Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e em três dimensões que são 
indispensáveis para o desenvolvimento dessa educação e para a cidadania 
democrática, a saber: 
• a dimensão intelectual e a informação, pois o início da formação do 
cidadão começa por informá-lo e introduzi-lo nas diferentes áreas do conhecimento. 
A falta ou insuficiência de informações reforça as desigualdades, fomenta injustiças e 
pode levar a uma verdadeira segregação. No Brasil, aqueles que não têm acesso ao 
ensino, à informação e às diversas expressões da cultura “lato sensu”, são, 
justamente, os mais marginalizados e “excluídos”; 
 
 
 
 4 
• a dimensão ética, vinculada a uma didática dos valores republicanos e 
democráticos, que não se aprendem intelectualmente apenas, mas especialmente 
através da consciência ética, formada tanto por sentimentos quanto pela razão; fruto 
da conquista de corações e mentes; 
• a dimensão política, desde a escola de educação infantil e ensino 
fundamental, no sentido de enraizar hábitos de tolerância diante do diferente ou 
divergente, assim como o aprendizado da cooperação ativa e da subordinação do 
interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral, ao bem comum. 
Pois bem, nosso caminho passa necessariamente por uma introdução aos 
direitos fundamentais, a evolução das declarações e dos tratados internacionais, as 
dimensões/gerações desses direitos. 
Num segundo momento, veremos justamente o PNEDH, seus objetivos, os 
princípios norteadores e discorreremos sobre metodologias de Educação em Direitos 
Humanos. 
Não poderíamos deixar de fora os eixos que sustentam a cidadania, quais 
sejam, a ética, a convivência democrática e a própria cidadania; nem mesmo discorrer 
sobre os direitos das minorias étnicas e raciais, bem como ressaltar a importância das 
políticas de reconhecimento e ações afirmativas. 
Não só para aqueles que enveredam pela seara da educação, mas 
principalmente eles, é preciso sempre buscar caminhos que afirmem uma cultura de 
direitos humanos, que penetre todas as práticas sociais e seja capaz de favorecer 
processos de democratização, de articular a afirmação dos direitos fundamentais de 
cada pessoa e grupo sociocultural, de modo especial os direitos sociais e econômicos, 
com o reconhecimento dos direitos à diferença. 
Antes de iniciarmos nossas reflexões vamos a duas observações que se fazem 
necessárias: 
Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser 
científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicas. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das 
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se 
tratando, portanto, de uma redação original. 
 
 
 
 5 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para 
sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
 
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Teoria dos direitos fundamentais 
Definir conceitos e esclarecer confusões que se fazem entre os direitos 
fundamentais e os direitos humanos é o primeiro passo para a construção do nosso 
pensamento que pretende chegar à Educação em Direitos Humanos e aos direitos 
das minorias étnico-raciais. 
Grosso modo, os direitos do homem são os direitos naturais, intrínsecos ao 
homem e reconhecidos em documentos internacionais, já os direitos fundamentais 
tem a marca da positivação, isto é, é um direito reconhecido pelo sistema.Bulos (s.d. apud ABREU, 2010) afirma que os direitos humanos além de 
fundamentais são inatos, absolutos, invioláveis, intransferíveis, irrenunciáveis e 
imprescritíveis, porque participam de um contexto histórico, perfeitamente delimitado. 
Não surgiram à margem da história, porém, em decorrência dela, ou melhor, em 
decorrência dos reclamos da igualdade, fraternidade e liberdade entre os homens. 
Homens não no sentido de sexo masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os 
direitos fundamentais do homem, nascem, morrem e extinguem-se. Não são obra da 
natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender 
do influxo do fato social cambiante. 
A expressão “direitos fundamentais” é empregada principalmente pelos autores 
alemães, na esteira da Constituição de Bonn, que dedicava o capítulo inicial aos 
Grundrechte, ou seja, exatamente direitos fundamentais (TORRES, 2006). 
Até a Emenda Constitucional nº 1/1969, o Brasil adotada a expressão 
“direitos individuais”, conforme se infere do seu artigo 153 (Capítulo IV – Dos 
Direitos e Garantias Individuais), como sinônimo da moderna denominação de 
“direitos fundamentais”. Naquela época vingava a influência dos albores do 
liberalismo, e a sua visão eminentemente individualista, que não distinguia as 
liberdades coletivas e não conhecia a definição de pessoa. 
Lorenzetti (1998, p. 151) afirma que a expressão “direitos fundamentais” é a 
mais apropriada porque não exclui outros sujeitos que não sejam o homem e também 
 
 
 
 6 
porque se refere àqueles direitos que são fundantes do ordenamento jurídico e evita 
uma generalização prejudicial. 
Sarlet (2007, p. 36) apresenta um traço de distinção, ainda que de cunho 
predominantemente didático, entre as expressões “direitos do homem”, “direitos 
humanos” e “direitos fundamentais”, sendo a primeira de cunho jusnaturalista, ainda 
não positivados; a segunda relacionado à positivação no direito internacional; e, a 
terceira, como direitos reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo direito 
constitucional interno de cada Estado. 
Segundo o doutrinador Pérez-Luño (1998 apud BELLINHO, 2010), os direitos 
fundamentais e os direitos humanos não se diferem apenas pelas suas abrangências 
geográficas, mas também pelo grau de concretização positiva que possuem, ou seja, 
pelo grau de concretização normativa. 
Os direitos fundamentais estão duplamente positivados, pois atuam no âmbito 
interno e no âmbito externo, possuindo maior grau de concretização positiva, 
enquanto que os direitos humanos estão positivados apenas no âmbito externo, 
caracterizando um menor grau de concretização positiva. 
Minardi (2008) afirma que o direito fundamental decorre de um processo 
legislativo interno de um determinado país, que eleva à positivação, sendo então um 
direito outorgado e/ou reconhecido. Já os direitos humanos possuem caráter 
supralegal, desvinculados a qualquer legislação escrita ou tratado internacional, pois 
preexiste a eles. 
Guerra (2007, p. 265) explica que a partir da Declaração dos Direitos Humanos, 
adotada em 10 de dezembro de 1948, confirmou-se a ideia de que os direitos 
humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, invalidando o recurso abusivo 
ao conceito de soberania para encobrir violações, ou seja, os direitos humanos não 
são mais matéria exclusiva das jurisdições nacionais. 
Assim sendo, a positivação dos direitos humanos, dando origem aos direitos 
fundamentais, é a nítida amostra da consciência de um determinado povo de que 
certos direitos do homem são de tal relevância que o seu desrespeito inviabilizaria a 
sua própria existência do Estado. Aliás, ninguém mais nega, hoje, que a vigência de 
direitos humanos independe do seu reconhecimento constitucional, ou seja, de sua 
consagração no direito positivo estatal como direitos fundamentais (COMPARATO, 
2003, p. 136). 
 
 
 
 7 
No Brasil, os direitos fundamentais estão preconizados no Título II da CRFB/88, 
sendo que o constituinte considerou ilegítima qualquer proposta tendente a aboli-los, 
artigo 60, § 4º, IV da Constituição (as chamadas cláusulas pétreas) (MINARDI, 2008). 
Os direitos fundamentais se aplicam tanto às pessoas físicas quanto as 
pessoas jurídicas. Na primeira situação são titulares: 
a) brasileiros natos; 
b) brasileiros naturalizados; 
c) estrangeiros residentes no Brasil; 
d) estrangeiros em trânsito pelo território nacional; 
e) qualquer pessoa que seja alcançada pela lei brasileira (pelo 
ordenamento jurídico brasileiro). 
É preciso, porém, fazer uma ressalva: existem determinados direitos 
fundamentais cuja titularidade é restringida pelo próprio Poder Constituinte. Por 
exemplo: 
 existem direitos que se direcionam apenas a quem esteja pelo menos 
em trânsito pelo território nacional (garantias contra a prisão arbitrária); 
 outros direcionam-se apenas aos brasileiros, sejam natos ou 
naturalizados (direito à nacionalidade, direitos políticos); e, 
 outros são destinados apenas aos brasileiros natos (direito à não 
extradição, direito de ocupar determinados cargos públicos). 
Pode-se dizer que existe, então, uma verdadeira gradação na ordem 
enumerada anteriormente: os brasileiros natos possuem mais direitos que os 
brasileiros naturalizados que possuem mais direitos que os estrangeiros residentes, 
entre outros. (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas (inclusive as 
de Direito Público), desde que sejam compatíveis com a natureza delas. Por exemplo, 
pessoas jurídicas têm direito ao devido processo legal, mas não à liberdade de 
locomoção, ou à integridade física. 
A doutrina reluta em atribuir às pessoas jurídicas (empresas, associações, 
entre outras) direito à vida; com razão, prefere-se falar em “direito à existência”. 
Todavia, em concursos públicos, o CESPE / UnB (ver STJ / Técnico Judiciário / Área 
Administrativa / 2004) já deu como correta questão que afirmava terem as pessoas 
jurídicas direito à vida. 
 
 
 
 8 
Por outro lado, é pacífico que pessoas jurídicas não possuem direito à liberdade 
de locomoção. Justamente por isso é que em favor delas não se pode impetrar habeas 
corpus (pois esse é um remédio constitucional que protege apenas a liberdade de 
locomoção: art. 5º, LXVIII) (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
A jurisprudência considera que as pessoas jurídicas 
 (empresas, associações, partidos políticos, entre outros) podem pleitear 
indenização por danos morais: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (STJ, 
Súmula nº 227). 
Concordamos que as nuances jurídicas fogem um pouco ao propósito do curso, 
mas conhecimento sempre é bem vindo, por isso justificamos essa alocação de 
questões pertinentes ao ramo do Direito. 
 
As declarações universais dos direitos e os tratados internacionais 
Segundo Campos (2008), os direitos humanos nasceram da necessidade dos 
cidadãos em serem titulares de certos direitos em relação a seu Estado soberano e, 
posteriormente, em relação à sociedade internacional. Desenvolveramse sempre com 
as necessidades impostas pelos indivíduos em determinadas épocas com o intuito de 
resguarda a dignidade humana, concebida como fundamento dos direitos humanos. 
Existe uma gama de autores (como Fábio Konder Comparato, João Baptista 
Herkenhoff, dentre outros defensores de que o fato de não existirem freios ao Poder, 
não quer dizer que não existiram as ideias) que sustentam que os direitos 
fundamentais perfazem um longo caminho histórico, tendo posições que acreditam 
ser de meados de 2000 a.C., as primeiras manifestações, no direito da Babilônia, 
outras posições os reconhecem na Grécia Antiga e naRoma Republicana. Estas 
opiniões carecem de fundamentos históricos. 
Sarlet (2007, p. 33) entende como pacífico que os direitos fundamentais não 
surgiram na antiguidade, porém é notória a influência do mundo antigo nos direitos 
fundamentais por meio da religião e da filosofia, que colaboraram na concepção 
jusnaturalista de que o ser humano, pelo simples fato de existir, já é detentor de 
direitos fundamentais; esta fase costuma ser denominada pela doutrina como 
“préhistória” dos direitos fundamentais. 
O Código de Hamurabi, primeiro que se têm notícias, defendia a vida e o direito 
de propriedade, e contemplava a honra, a dignidade, a família e a supremacia das leis 
em relação aos governantes. Esse código contém dispositivos que continuam aceitos 
 
 
 
 9 
até hoje, tais como a Teoria da Imprevisão, que fundava-se no princípio de talião: olho 
por olho, dente por dente. Depois deste primeiro código, instituições sociais (religião 
e a democracia) contribuíram para humanizar os sistemas legais (SILVA, 2006). 
Loewenstein (s.d apud CAVALCANTE FILHO, 2010) considera que a primeira 
Constituição teria surgido ainda na sociedade hebraica, com a instituição da “Lei de 
Deus” (Torah). O autor alemão aponta que, já naquele Estado Teocrático, a 
“Lei de Deus” limitava o poder dos governantes (chamados, naquela época, de 
“Juízes”). 
Igual posição é entendida por Tavares (2010, p. 5) ao inferir que “na 
antiguidade, os hebreus já possuíam um Estado teocrático limitado pela Torah. Os 
Juízes (como eram chamados os governantes) tinham que seguir as disposições da 
Torah (Lei de Deus). É nesse sentido que o autor alemão vê, nesse caso, um prelúdio 
do Constitucionalismo”. 
Na Grécia, já se fazia a distinção entre as normas fundamentais da sociedade 
(nomoi) e as meras regras (psefismata). Naquela civilização, a modificação de 
psefismata poderia ser feita de forma mais simples do que a alteração das normas 
fundamentais (nomos). Guardadas as devidas proporções, seriam institutos parecidos 
com a lei ordinária e as emendas constitucionais, atualmente. 
Também podemos citar, na Antiguidade, a Lei das XII Tábuas, aprovada em 
Roma, assegurando direitos conquistados pelos plebeus, fixados em leis escritas. 
Pérez Luño (1995 apud SARLET, 2007) chama de antecedentes dos direitos 
fundamentais, os documentos que, de alguma forma, colaboraram para a elaboração 
das primeiras ideias dos direitos humanos presentes nas declarações do século XVIII, 
talvez o principal documento a ser referenciado seja a Magna Charta Libertatum, 
assinada na Inglaterra, em 1215, pelo Rei João Sem-Terra. Cabe ressaltar que esse 
pacto não passou de mero referencial para as futuras elaborações dos direitos 
humanos, pois, neste pacto, apenas os nobres receberam prerrogativas, deixando a 
população em segundo plano, ou seja, na verdade, foi um documento imposto ao Rei 
pelos barões feudais ingleses. 
Já Carl Schmitt (1928 apud CAVALCANTE FILHO, 2010) defende que a Magna 
Charta não pode ser considerada a primeira Constituição, pois não era direcionada 
para todos, mas apenas para a elite formada por barões feudais. Dessa forma, a 
primeira Constituição propriamente dita seria o Bill of Rights (Inglaterra, 1688/1689), 
que previa direitos para todos os cidadãos, e não apenas uma classe deles. 
 
 
 
 10 
Assim, em pleno século XVIII, que se pode encontrar a primeira aparição de 
reais direitos fundamentais, apesar do dissídio levantado Sarlet (2007) diante da 
“paternidade” dos direitos fundamentais, que seria disputada entre a 
Declaração de Direitos do povo da Virgínea, de 1776, a Constituição Americana de 
1787 (primeira constituição escrita) e a Declaração Francesa, de 1789, estas 
declarações seriam os primeiros documentos a representar os direitos fundamentais. 
Já para Bonavides (2007), é neste sentido que a Revolução Francesa, fixando 
direitos civis e políticos para que gradativamente fossem alcançados os princípios 
universais do lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, fora a grande precursora dos 
direitos fundamentais caracterizados através da posição de resistência ou de oposição 
frente ao Estado. 
Para Nicolao (2010), não tem sustentação defender a existência de direitos 
fundamentais antes mesmo da existência de um estado social. Percebe-se que 
apenas com a promulgação das declarações, pode-se identificar a presença do que 
seria o início dos direitos fundamentais. 
Cavalcante Filho (2010) também entende que há várias correntes que 
divergem, sobre quando teria se manifestado pela primeira vez a limitação do poder 
do Estado por meio de uma Constituição ou de algo a ela assemelhado. 
Atualmente, o movimento constitucionalista passou a lutar por vários outros 
objetivos (democracia efetiva, desenvolvimento econômico e ambiental, entre outros). 
Mas, mesmo assim, não perdeu de vista a defesa dos direitos fundamentais, que 
continua sendo uma de suas matérias básicas. 
Para refletirmos a respeito da incorporação dos tratados internacionais de 
proteção dos direitos humanos no ordenamento brasileiro, à luz da Constituição 
Federal de 1988 e após a Emenda Constitucional nº 45/04, vamos entender o 
significado de um tratado. 
Rezek (1996, p. 14) define tratado como “[...] todo acordo formal concluído entre 
sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos 
jurídicos”. 
Siqueira Júnior (2003, p. 9) diz que há uma variedade de denominações para 
os tratados: convenção, ato, protocolo, convênio, ajuste e acordo. Tratados e 
Convenções são expressões sinônimas. Acordo, convênio, ajuste, arranjo são atos 
internacionais de maior ou menor alcance, tanto de caráter bilateral, como de caráter 
multilateral. 
 
 
 
 11 
Os tratados internacionais, na definição de Bastos (1994, p. 216) [...] são 
acordos formais, eis que, à moda do que acontece com os contratos no direito interno, 
demandam eles uma concordância de vontades, o que os distingue do ato jurídico 
unilateral. 
O tratado internacional é um instrumento formal, não é admitida a oralidade, 
assim consta da Convenção de Havana sobre Tratados, de 1928, em seu artigo 2º, 
que “É condição essencial nos tratados a forma escrita”. 
A Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, concluída em maio de 
1969, considerada a “Lei dos Tratados”, pois se constitui em importante instrumento 
no caminho da codificação do direito internacional público, mas que só entrou em vigor 
em 27 de janeiro de 1980, também mantêm a exigência da forma escrita para os 
tratados – ao dizer em seu artigo 2º, 1, 
a) que: [...] Tratado designa um acordo internacional concluído por escrito entre 
Estados e regido pelo direito internacional, quer esteja consignado num instrumento 
único, quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer que seja a sua 
denominação particular (LEITE, 2005). 
Pois bem, vamos então ao alcance do § 2º do art. 5º da nossa Constituição 
Federal de 1988, ou seja, vamos discorrer sobre as várias classificações dos direitos 
fundamentais inseridos neste artigo. 
Siqueira Júnior (2003) classifica os direitos fundamentais em dois grupos 
distintos: 
a) Direitos imediatos – são os direitos e garantias expressos de forma direta 
na Constituição (art. 5º, I a LXXVII); são explícitos na medida em que estão claramente 
enumerados no texto constitucional. 
b) Direitos mediatos – são os direitos e garantias decorrentes do regime e 
dos princípios constitucionais, direitos implícitos, e os expressos em tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isto é, são 
implícitos na medida em que não estão enumerados no texto constitucional; comoo 
próprio nome designa surgem de forma mediata, pois decorrem do regime e dos 
princípios da República Federativa do Brasil, bem como dos direitos expressos nos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Nesse sentido concorda Araújo (2009) ao dizer que existem Direitos 
Fundamentais previstos na Constituição Federal, direitos materialmente fundamentais 
que estão fora daquele elenco. A fundamentalidade decorre da sua referência a 
 
 
 
 12 
posições jurídicas ligadas ao valor da dignidade humana e, em vista da sua 
importância, não podem ser deixadas à disposição discricionária do legislador 
ordinário. 
É possível, a partir do próprio catálogo dos direitos fundamentais e de seus 
princípios elementares constantes do texto constitucional, deduzir a existência de 
outros, a exemplo do que ocorreu com a redação do § 36 do art. 153 da Carta de 
1969. 
Todavia, para Mello (1999), o § 2º do art. 5º da Constituição Federal não apenas 
empresta hierarquia constitucional aos tratados de proteção dos direitos humanos, 
mas, além disso, faz com que a norma internacional prevaleça sobre a norma 
constitucional, mesmo naquele caso em que uma Constituição posterior tente revogar 
uma norma internacional constitucionalizada, cuja grande vantagem é a de evitar que 
o Supremo Tribunal Federal venha a julgar a constitucionalidade dos tratados 
internacionais. Essa é, segundo Leite (2005), uma visão extremamente radical. Os 
partidários dessa teoria defendem a supremacia do tratado internacional frente à 
Constituição, é a teoria da internacionalização do direito constitucional. Essa não é a 
corrente majoritária. 
Ferreira Filho (1993), referindo-se ao § 2º, do artigo 5º, da Constituição, afirma 
que esse dispositivo significa simplesmente que a Constituição brasileira, ao enumerar 
os direitos fundamentais, não pretende ser exaustiva. Por isso, além desses direitos 
explicitamente reconhecidos, admite existirem outros, decorrentes dos regimes e dos 
princípios que ela adota, os quais implicitamente reconhece. 
A técnica da cláusula aberta em relação aos Direitos Fundamentais deriva da 
IX Emenda da Carta Norte-americana, que diz que a enumeração de alguns direitos 
na Constituição Federal não pode ser interpretada no sentido de excluir ou 
enfraquecer outros direitos que o povo tenha. Parte da doutrina inclusive argumenta 
que o § 2º do art. 5º da Carta de 1988 confere status constitucional aos tratados sobre 
direitos humanos. 
Em relação ao § 1º do art. 5º, que estabelece que as normas definidoras dos 
direitos e garantias fundamentais são autoaplicáveis, diz-se, obviamente, que elas são 
aplicáveis até onde possam, até o limite em que as instituições e os institutos 
propiciem condições para o seu atendimento. O judiciário, sendo chamado para 
resolver pretensão concreta nelas garantida, não pode deixar simplesmente de aplicá-
 
 
 
 13 
las ou de levá-las em linha de consideração em sua fundamentação e argumentação, 
mas segundo o direito posto existente (ARAÚJO, 2009). 
Outra cláusula de suma importância no art. 5º da CF é aquela visível no preceito 
do § 2º segundo a qual os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adorados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Tal preceito revela a conhecida “norma de encerramento”, que institui as 
liberdades residuais, inominadas, implícitas ou decorrentes, as quais, a despeito de 
não enunciadas ou específicas na Carta, resultam do regime e dos princípios que ela 
adota. O rol é apenas exemplificativo, não se admitindo no plano dos direitos 
fundamentais qualquer exegese que suprima, restrinja ou neutralize outros direitos e 
garantias que, embora não especificados, são titularizados pelo ser humano. O 
objetivo da cláusula constitucional é inibir ações, atentados ou abusos do Estado 
contra as liberdades públicas (ARAÚJO, 2009). 
Por fim, a EC nº 45, acrescentou o § 3º ao art. 5º, da CF/88. Esse dispositivo 
estabelece a possibilidade de os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos, terem status de emenda constitucional, desde que obedecidos dois 
requisitos: o conteúdo do tratado ou convenção ser sobre direitos humanos e a sua 
deliberação parlamentar obedeça aos limites formais estabelecidos para a edição das 
emendas constitucionais, quais sejam, deliberação em cada casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos de votação, só sendo aprovado se obtiver três quintos dos 
votos dos respectivos membros parlamentares. 
Essa Emenda veio por fim à discussão doutrinária interminável sobre a 
hierarquia dos tratados de direitos humanos no ordenamento pátrio, pois agora, 
efetivamente, poderá os tratados sobre direitos humanos virem a ter status 
constitucional, mas somente se preenchidos os requisitos do § 3º, do art. 5º (LEITE, 
2005). 
As dimensões/gerações dos direitos fundamentais 
A multiplicidade de funções dos Direitos Fundamentais leva a que a sua própria 
estrutura não seja unívoca e propicie algumas classificações úteis para a 
compreensão do conteúdo e da eficácia de cada um deles. 
Uma sistematização clássica é a dos quatro status (Jellinek), bem como a que 
classifica os Direitos Fundamentais em direitos de defesa e direitos à prestação. Sob 
 
 
 
 14 
outro ângulo, no estudo das funções dos Direitos Fundamentais devem ser analisadas 
suas dimensões subjetiva e objetiva. 
Souza (2006) e Araújo (2009) são alguns dos estudiosos que trabalharam sobre 
a teoria de Jellinek, a qual pressupõe que o indivíduo pode encontrar-se de quatro 
modos, diante do Estado, disso derivando direitos e deveres diferenciados. 
O status subjectionis ou status passivo revela a posição de subordinação, onde 
o indivíduo se obriga em face do Estado, tendo este competência para vincular 
comportamentos por meio de mandamentos e proibições (ARAÚJO, 2009). 
O status passivo é a posição de subordinação aos poderes públicos, 
caracterizando-se como detentor de deveres para com o Estado, tendo competência 
para vincular o indivíduo, através de mandamentos e proibições (SOUZA, 2006). 
Ocorre o status negativo quando o ter personalidade exige o desfrute de um 
espaço de liberdade com relação às ingerências do Poder Público. O homem deve 
gozar de algum âmbito de ação desvencilhado do império do Estado, posto que a 
autoridade é exercida sobre homens livres (ARAÚJO, 2009). 
[...] faz-se necessário que o Estado não se intrometa na autodeterminação do 
indivíduo (SOUZA, 2006). 
Verifica-se o status civitatis no direito de exigir do Estado uma atuação positiva, 
preordenada à realização de uma prestação. Aqui, o indivíduo se vê com a capacidade 
de pretender que o Estado atue em seu favor (ARAÚJO, 2009; SOUZA, 2006). 
Por fim, no status ativo, o indivíduo desfruta de competência para influir sobre 
a formação da vontade do Estado (ex.: voto), como nos direitos políticos. 
Tomando como base a teoria dos quatro status, depuram-se os três grupos de 
Direitos Fundamentais mais destacados, quais sejam, os direitos de defesa (direitos 
de liberdade), os direitos a prestações (direitos cívicos) e os direitos de participação 
(observe que o status subjectionis identifica deveres do indivíduo). 
Quando a dimensão subjetiva dos Direitos Fundamentais está mais ligada a 
suas origens históricas e às suas finalidades mais elementares e corresponde a uma 
pretensão a que se adote um dado comportamento ou no poder de produzir efeitos 
sobre certas relações jurídicas. 
Nessa perspectiva, os Direitos Fundamentais correspondem à exigência de 
uma ação negativa(ex.: liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem. Do mesmo 
modo, correspondem à competência, isto é, ao poder de modificar determinadas 
posições jurídicas. 
 
 
 
 15 
A dimensão objetiva resulta do significado dos Direitos Fundamentais como 
princípios básicos da ordem constitucional. Os Direitos Fundamentais participam da 
essência do Estado democrático de direito, operando como limite do poder, bem como 
diretriz para sua ação. As Constituições de feição democrática assumem um sistema 
de valores que os Direitos Fundamentais revelam e positivam. Tal fenômeno faz com 
que eles influam sobre todo ordenamento jurídico (ARAÚJO, 2009). 
Tal dimensão faz com que os direitos fundamentais transcendam à perspectiva 
da garantia de posições individuais para atingir a estatura de normas que traduzem 
os valores básicos da sociedade política, fazendo sua expansão para todo o direito 
positivo. 
Constituindo, dessa forma, a base do ordenamento jurídico do Estado 
democrático, é possível afirmar que a dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais 
transporta-os para além da perspectiva individualista, como um valor em si, a ser 
preservado e fomentado. 
A perspectiva objetiva legitima inclusive restrições aos Direitos Subjetivos 
individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos Direitos Fundamentais em benefício 
de seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos. 
Mais uma consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais está 
em atrair um dever de proteção pelo Estado contra agressões dos próprios poderes 
públicos, de particulares ou de outros Estados (dever de proteção), cobrando adoção 
de providências materiais ou jurídicas, de resguardo dos bens protegidos, 
corroborando a assertiva segundo a qual a dimensão objetiva interfere na dimensão 
subjetiva, atribuindo-lhe reforço de efetividade. 
O propósito de reforço de posições jurídicas fundamentais pode exigir a 
elaboração de regulamentações restritivas de liberdades. 
Respeita-se a liberdade de conformação do legislador, a quem se reconhece 
certo grau de discricionariedade na opção normativa tida como mais oportuna para a 
proteção dos direitos fundamentais. 
Caberá, então, aos órgãos políticos, indicar qual a medida a ser adotada para 
proteger os bens jurídicos abrigados pelas normas definidoras dos direitos 
fundamentais. 
A dimensão objetiva cria um direito à prestação associado ao direito de defesa 
e esse direito à prestação há de se sujeitar à liberdade de conformação dos órgãos 
políticos e aos limites da reserva do possível (ARAÚJO, 2009). 
 
 
 
 16 
Parte da doutrina alude à necessidade de o Estado agir em defesa dos Direitos 
Fundamentais com um mínimo de eficácia, não se podendo exigir afastamento 
absoluto da ameaça que se procura prevenir. 
Se é possível visualizar um dever de agir do Estado, não é razoável impor-lhe 
o como agir. Uma pretensão individual somente poderá ser acolhida nos casos em 
que o espaço de discricionariedade estiver reduzido a zero. 
Assim, o aspecto objetivo dos Direitos Fundamentais comunica-lhes uma 
eficácia irradiante, o que os converte em uma diretriz para a interpretação e aplicação 
das normas dos diversos ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja, ainda, a 
discussão sobre a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, eficácia destes 
direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares (ARAÚJO, 2009). 
 
Guarde... 
Os Direitos Fundamentais visam assegurar a todos uma existência digna, livre 
e igual, criando condições à plena realização das potencialidades do ser humano 
(BIANCO, 2006). 
Os Direitos Fundamentais são um conjunto institucionalizado de direitos e 
garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, 
por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de 
condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana (MORAES, 
2002). 
Por serem indispensáveis à existência das pessoas, possuem as seguintes 
características: são intransferíveis e inegociáveis, portanto inalienáveis; não deixam 
de ser exigíveis em razão do não uso, portanto, são imprescritíveis; nenhum ser 
humano pode abrir mão da existência desses direitos, ou seja, são irrenunciáveis; 
devem ser respeitados e reconhecidos no mundo todo, o que representa a sua 
universalidade e, por fim, não são absolutos, podem ser limitados sempre que houver 
uma hipótese de colisão de direitos fundamentais que significa a sua limitabilidade. 
É importante salientar que esses direitos são variáveis, modificando-se ao 
longo da história de acordo com as necessidades e interesses do homem. 
Segundo Cavalcante Filho (2010), existe uma classificação que leva em conta 
a cronologia em que os direitos foram paulatinamente conquistados pela humanidade 
e a natureza de que se revestem. Importante ressaltar que uma geração não substitui 
 
 
 
 17 
a outra, antes se acrescenta a ela, por isso a doutrina prefere a denominação 
“dimensões”. 
a) Os direitos da primeira geração ou primeira dimensão foram inspirados 
nas doutrinas iluministas e jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII (individuais ou 
negativos): seriam os Direitos da Liberdade, liberdades estas religiosas, políticas, civis 
clássicas como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal 
(perante a lei), as liberdades de expressão coletiva, entre outros. São os primeiros 
direitos a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis 
e políticos. Os direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, traduzem-se como 
faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais 
característico, sendo, portanto, os direitos de resistência ou de oposição perante o 
Estado, ou seja, limitam a ação do Estado. 
b) Segunda geração ou segunda dimensão: seriam os Direitos da 
Igualdade, no qual estão à proteção do trabalho contra o desemprego, direito à 
educação contra o analfabetismo, direito à saúde, cultura, entre outros. Essa geração 
dominou o século XX, são os direitos sociais, culturais, econômicos e os direitos 
coletivos. São direitos objetivos, pois conduzem os indivíduos sem condições de 
ascender aos conteúdos dos direitos através de mecanismos e da intervenção do 
Estado. Pedem a igualdade material, através da intervenção positiva do Estado, para 
sua concretização. Vinculam-se às chamadas “liberdades positivas”, exigindo uma 
conduta positiva do Estado, pela busca do bem-estar social (MORAES, 2002; 
BONAVIDES, 2007). 
c) Terceira geração ou terceira dimensão (difusos e coletivos); foram 
desenvolvidos no século XX: seriam os Direitos da Fraternidade, no qual está o direito 
a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, entre 
outros. Essa geração é dotada de um alto teor de humanismo e universalidade, pois 
não se destinavam somente à proteção dos interesses dos indivíduos, de um grupo 
ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, 
ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade 
(BONAVIDES, 2007). 
d) Quarta geração ou quarta dimensão, que surgiu dentro da última década, 
por causa do avançado grau de desenvolvimento tecnológico: seriam os 
Direitos da Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à 
democracia, à informação, à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida 
 
 
 
 18 
defendida pela bioética, direitos difusos, direito ao pluralismo, entre outros. A 
globalização política na esfera da normatividadejurídica foi quem introduziu os direitos 
desta quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do 
Estado social. Está ligada à pesquisa genética, com a necessidade de impor um 
controle na manipulação do genótipo dos seres, especialmente o homem. 
As três gerações que exprimem os ideais de Liberdade (direitos individuais e 
políticos), Igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais) e Fraternidade (direitos 
da solidariedade internacional), compõem atualmente os Direitos Fundamentais. 
 
Direitos à prestação jurídica 
 
Existem direitos fundamentais cujo objeto se esgota na satisfação, pelo Estado, 
de uma prestação de natureza jurídica. O objeto do direito será a normação 
(regulamentação) pelo Estado do bem jurídico protegido como direito fundamental. 
Essa prestação jurídica pode consistir na emissão de normas jurídicas penais ou de 
normas de organização e de procedimento. 
A Constituição, por vezes, estabelece diretamente ao Estado a obrigação de 
legislar para coibir práticas atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais (art. 
5º, LXLI), o racismo (art. 52, XLII) ou a tortura e o terrorismo (art. 5º, XLIII). 
Para além disso, há Direitos Fundamentais que dependem, essencialmente, de 
normas infraconstitucionais para ganhar pleno sentido. Há direitos que se 
condicionam a outras normas que definirão o modo do seu exercício e até mesmo o 
alcance do seu significado. 
Existem, portanto, direitos fundamentais que necessitam de criação por via de 
lei de estruturas organizacionais (ex.: Defensoria Pública), para que se tornem 
efetivos. Tais direitos podem reivindicar a adoção de medidas normativas que 
permitam aos indivíduos o desfrute efetivo da organização e a participação nos 
procedimentos estabelecidos (ARAÚJO, 2009). 
 
Direitos a prestações materiais 
 
Os direitos à prestação material são tidos como os direitos sociais por 
excelência – concebidos para atenuar desigualdades de fato na sociedade e para 
ensejar que a libertação das necessidades aproveite ao gozo da liberdade efetiva por 
 
 
 
 19 
um maior número de indivíduos. O seu objeto consiste numa utilidade concreta (bem 
ou serviço) (SOUZA, 2006). São exemplos de tais direitos à prestação material 
aqueles enumerados no art. 6º da Constituição Federal (direitos sociais) e que são 
devidos pelo Estado, embora, nesse caso, os particulares também estejam 
vinculados, como ocorre com os descritos no art. 7º da Carta Magna (direitos do 
trabalhador). 
No que concerne à estrutura dos preceitos que veiculam normas que 
consagram os direitos à prestação, podemos destacar algumas peculiaridades: 
• possuem alta densidade normativa; 
• não carecem de interposição do legislador para a aplicação sobre as 
relações jurídicas (direitos originais à prestação); 
• exigem, no entanto, legislação para a produção de efeitos plenos, em 
sua maior parte. 
Como já ressaltado, os direitos à prestação material visam atenuar 
desigualdades fáticas de oportunidades, distribuindo riqueza no âmbito da sociedade. 
Não é menos certo, porém, que tais direitos têm sua efetivação sujeita às condições 
em cada momento da riqueza nacional, sendo satisfeitos segundo as conjunturas 
econômicas e orçamentárias. Diz-se que estão submetidos à reserva do possível 
(ARAÚJO, 2009). 
Nosso texto constitucional não oferece comando indeclinável para as opções 
de alocação de recursos, salvo em casos excepcionais (ex.: arts. 198 e 212 da CF/88); 
tais decisões devem ficar a cargo de decisão política, com a legitimação da 
representação popular competente para delinear as balizas da política financeira, 
social e monetária. 
Essa legitimação popular é importante porque a realização de direitos sociais 
importa em privilegiar um bem jurídico em prejuízo de outro. A efetivação de tais 
direitos implica em favorecer determinados segmentos da população e necessitam da 
legitimação democrática do Parlamento, como sede natural dessas deliberações e, 
em segundo lugar, do Poder Executivo. 
Não cabe, assim, ao Judiciário, salvo em casos excepcionalíssimos, extrair 
direitos subjetivos das normas constitucionais que tratam de direitos não originários a 
prestação. O direito subjetivo pressupõe que as prestações materiais já tenham sido 
suficientemente delineadas (ARAÚJO, 2009). 
 
 
 
 20 
É tarefa do órgão legislativo e não do Poder judiciário. Exemplo bastante 
esclarecedor é o direito ao trabalho (arts. 6º e 170, VIII, da Constituição Federal), onde 
o desempregado não tem direito subjetivo a que o Estado lhe proporcione um posto 
de trabalho. 
Assim, os direitos sociais fundamentais (identificados com os de prestação 
material) não justificam pretensões invocáveis de forma direta. Em princípio não 
podem ensejar direitos subjetivos individuais, já que se denominam direitos na medida 
da Lei. Esses direitos, como se vê, não podem ser determinados pelos juízes quanto 
aos seus pressupostos, bem como à extensão do seu conteúdo. Para que se 
determine seu conteúdo é necessária a atuação legislativa que o defina 
concretamente, fazendo uma opção dentro de um quadro de possibilidades e 
prioridades a que obrigam a escassez de recursos, o caráter limitado da intervenção 
do Estado na vida em sociedade e, em geral, o próprio princípio democrático. 
Com isso, os direitos à prestação material se aproximam dos direitos à 
prestação normativa. Em se tratando de direito à prestação, o dever imediato que toca 
o Estado é, em primeiro lugar, o de legislar, já que a elaboração das leis é tarefa 
devida (no caso dos direitos a prestações jurídicas) como condição organizativa 
necessária (no caso dos direitos a prestações materiais) – caso exemplar do art. 215 
da Constituição Federal (cultura). 
Nesse diapasão, os direitos à prestação material e à prestação jurídica recaem 
na esfera de liberdade de conformação do legislador, tanto a soluções normativas, 
quanto ao modelo de organização e ritmo de concretização. 
A eficácia constitucional dessas normas é a de servir de parâmetro de controle 
de constitucionalidade de medidas restritivas desses direitos e revogam normas 
anteriores incompatíveis com os programas de ação que entronizam. Servirão, ainda, 
como modelo interpretativo das demais normas do ordenamento jurídico, sob pena de 
quebra da harmonia do sistema e de invalidade da norma (ARAÚJO, 2009). 
É preciso advertir para o perigo que corre a força normativa da Constituição 
quando é tencionada com promessas demagógicas e excessivas que redundam em 
frustração de justas expectativas. A teoria do grau mínimo de efetividade dos direitos 
à prestação material, procura uma garantia, um mínimo social dos direitos à 
prestação, sem o que fica configurada indesejável omissão legislativa. 
Em mais de uma oportunidade o Supremo Tribunal Federal adotou a referida 
teoria, ao garantir um grau mínimo social do direito à saúde (art. 201, § 5º, da CF/88), 
 
 
 
 21 
no caso de fornecimento de medicamentos para portadores de AlDS, e o acesso à 
pré-escola (art, 208, IV da CRFB/88). 
 
Direitos fundamentais de participação 
 
Os direitos de participação constituiriam uma categoria mista, reunindo 
elementos dos direitos de defesa e dos direitos a prestações; garantiriam a 
participação dos cidadãos na formação da vontade do país, por via dos direitos 
políticos. 
 
Dimensões dos Direitos Fundamentais 
 
A dimensão subjetiva dos Direitos Fundamentais está mais ligada a suas 
origens históricas e às suas finalidades mais elementares e corresponde a uma 
pretensão a que se adote um dado comportamento ou no poder de produzir efeitos 
sobre certas relações jurídicas.Nessa perspectiva, os Direitos Fundamentais correspondem à exigência de 
uma ação negativa (ex.: liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem. Do mesmo 
modo, correspondem à competência, isto é, ao poder de modificar determinadas 
posições jurídicas. 
A dimensão objetiva resulta do significado dos Direitos Fundamentais como 
princípios básicos da ordem constitucional. Os Direitos Fundamentais participam da 
essência do Estado democrático de direito, operando como limite do poder, bem como 
diretriz para sua ação. As Constituições de feição democrática assumem um sistema 
de valores que os Direitos Fundamentais revelam e positivam. Tal fenômeno faz com 
que eles influam sobre todo ordenamento jurídico (ARAÚJO, 2009). 
Tal dimensão faz com que os direitos fundamentais transcendam à perspectiva 
da garantia de posições individuais para atingir a estatura de normas que traduzem 
os valores básicos da sociedade política, fazendo sua expansão para todo o direito 
positivo. 
Constituindo, dessa forma, a base do ordenamento jurídico do Estado 
democrático, é possível afirmar que a dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais 
transporta-os para além da perspectiva individualista, como um valor em si, a ser 
preservado e fomentado. 
 
 
 
 22 
A perspectiva objetiva legitima inclusive restrições aos Direitos Subjetivos 
individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos Direitos Fundamentais em benefício 
de seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos. 
Mais uma consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais está 
em atrair um dever de proteção pelo Estado contra agressões dos próprios poderes 
públicos, de particulares ou de outros Estados (dever de proteção), cobrando adoção 
de providências materiais ou jurídicas, de resguardo dos bens protegidos, 
corroborando a assertiva segundo a qual a dimensão objetiva interfere na dimensão 
subjetiva, atribuindo-lhe reforço de efetividade. 
O propósito de reforço de posições jurídicas fundamentais pode exigir a 
elaboração de regulamentações restritivas de liberdades. 
Respeita-se a liberdade de conformação do legislador, a quem se reconhece 
certo grau de discricionariedade na opção normativa tida como mais oportuna para a 
proteção dos direitos fundamentais. 
Caberá, então, aos órgãos políticos, indicar qual a medida a ser adotada para 
proteger os bens jurídicos abrigados pelas normas definidoras dos direitos 
fundamentais. 
A dimensão objetiva cria um direito à prestação associado ao direito de defesa 
e esse direito à prestação há de se sujeitar à liberdade de conformação dos órgãos 
políticos e aos limites da reserva do possível (ARAÚJO, 2009). 
Parte da doutrina alude à necessidade de o Estado agir em defesa dos Direitos 
Fundamentais com um mínimo de eficácia, não se podendo exigir afastamento 
absoluto da ameaça que se procura prevenir. 
Se é possível visualizar um dever de agir do Estado, não é razoável imporlhe o 
como agir. Uma pretensão individual somente poderá ser acolhida nos casos em que 
o espaço de discricionariedade estiver reduzido a zero. 
Assim, o aspecto objetivo dos Direitos Fundamentais comunica-lhes uma 
eficácia irradiante, o que os converte em uma diretriz para a interpretação e aplicação 
das normas dos diversos ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja, ainda, a 
discussão sobre a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, eficácia destes 
direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares (ARAÚJO, 2009). 
 
 
 
 23 
 
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS E O REGIME 
JURÍDICO DOS MILITARES 
 
Direitos e garantias individuais e coletivos dos militares 
Os direitos e garantias individuais e coletivos são aquele conjunto de preceitos 
jurídicos que, por sua natureza mesma, são inalienáveis ao homem como tal, 
fundamentados em seu sentimento de justiça; são manifestações de um resguardar-
se frente à Organização Política e aos quais só se conhece, como limites, os mesmos 
direitos pertencentes a outro indivíduo, tal como no imperativo Kantiano: o direito de 
um determina onde começa o direito do outro (DANTAS, 2007, p. 94). 
PEDRO LENZA (2009) ressalta que estes direitos e garantias, enquanto 
direitos fundamentais, caracterizam-se pela universalidade, ou seja, destinam-se, de 
modo indiscriminado, a todos os seres humanos. 
O art. 5° da Constituição Federal de 1988 assegura aos brasileiros – 
inclusive aos militares - e aos estrangeiros direitos e garantias individuais. 
Por outro lado, o art. 142 da CRFB/88 dispõe serem as Forças Armadas 
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, princípios essenciais e 
indispensáveis à própria existência de tais instituições. Logo, os militares, 
obrigatoriamente, devem se sujeitar à rigorosa disciplina e ao estrito acatamento à 
hierarquia militar, sob pena de responsabilização na esfera disciplinar ou penal, como 
preceitua a própria Constituição (art. 5°, LXI). 
JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2010) questiona e ele mesmo dá a 
solução sobre como, então, conciliar o exercício de direitos e garantias individuais e 
coletivos com a sujeição hierárquico-disciplinar quando, aparentemente, se 
conflitarem. 
Pois bem, a solução do impasse está na ponderação de valores ou ponderação 
de interesses. Como ensina LUÍS ROBERTO BARROSO (2001), tratase de técnica 
pela qual se procura estabelecer o peso relativo de cada um dos princípios 
contrapostos. Como não existe um critério abstrato que imponha a supremacia de um 
sobre o outro, deve-se, à vista do caso concreto, fazer concessões recíprocas, de 
modo a produzir um resultado socialmente desejável, sacrificando o mínimo de cada 
um dos princípios ou direitos fundamentais em oposição. O legislador não pode, 
arbitrariamente, escolher um dos interesses em jogo e anular o outro, sob pena de 
 
 
 
 24 
violar o texto constitucional. Seus balizamentos devem ser o princípio da razoabilidade 
e a preservação, tanto quanto possível, do núcleo mínimo do valor que esteja cedendo 
passo. Não há, aqui, Superioridade formal de nenhum dos princípios em tensão, mas 
a simples determinação da solução que melhor atende ao ideário constitucional na 
situação apreciada. 
Desse modo, os direitos e garantias individuais consagrados na Constituição 
Federal não podem servir de blindagem, de escudo, para a prática de atos que 
atentem contra a hierarquia e a disciplina militar. Em contrapartida, estas não podem 
servir de pretexto para excluírem aqueles. Consequentemente, o militar, no exercício 
de um direito ou garantia individual e coletiva, deve se abster de praticar ato 
atentatório à hierarquia e à disciplina castrense, sob pena de ser responsabilizado na 
esfera disciplinar ou penal, conforme dispuser a legislação de regência. É o que se 
passa, por exemplo, com um militar da ativa que, punido disciplinarmente com pena 
privativa de liberdade, por autoridade incompetente, de próprio punho, impetra habeas 
corpus, referindo-se à aludida autoridade de forma desrespeitosa. Neste caso, o 
militar deverá ser responsabilizado pela ofensa ao dever militar – respeito à hierarquia 
e disciplina, ainda que lhe seja concedida a ordem no writ (ABREU, 2010). 
Por fim, em razão das peculiaridades da carreira militar, a Carta Política, 
expressamente, vedou – ou ao menos limitou em parte – aos militares o gozo de 
alguns dos direitos e garantias individuais descritos no aludido art. 5°. Como 
exemplos, citamos: 
a) o habeas corpus em relação ao mérito das punições disciplinares, por 
força do art. 142, § 2°, da CRFB/88; 
b) o direito à liberdade de associação para fins lícitos e à criação de 
associações, dianteda proibição de sindicalização prevista no art. 142, § 3°, IV, 
da 
CRFB/88; 
c) o direito ao livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, em 
razão do caráter compulsório do serviço militar inicial (art. 143 da CRFB/88); 
d) o direito à livre manifestação do pensamento, por força dos princípios da 
hierarquia e da disciplina (art. 142 da CRFB/88), motivo pelo qual o subordinado 
não pode censurar ou criticar ato de superior hierárquico, sob pena de incorrer em 
prática de transgressão disciplinar (Art. 10, nº 23, RDAer, por exemplo) ou, até 
mesmo, de crime militar (art. 199 do CPM), etc. 
 
 
 
 25 
 
O regime jurídico dos militares 
Os servidores públicos civis da União, excetuando-se os sujeitos ao regime 
celetista, e os militares estão submetidos a regime jurídico estatutário, instituído por 
lei de iniciativa privativa do Presidente da República. Aqueles têm a base de seu 
regime jurídico disciplinado, minuciosamente, pela Constituição Federal, ao passo que 
estes não. Isto se dá em razão das inúmeras peculiaridades da carreira militar, o que, 
de fato, inviabilizaria um disciplinamento analítico do tema, nos moldes realizados 
para os servidores civis. 
Ademais, como destaca IVAN BARBOSA RIGOLIN (2006, p. 211), não seria 
razoável a Constituição, além de enfeixar um grande universo de institutos civis como 
faz, também pretender abarcar o todo particular e diverso mundo dos militares; tal não 
é papel para a Constituição, mas efetivamente para a lei e para os regulamentos 
infralegais, que de resto existem em volume nada desprezível. Portanto, agiu bem a 
Carta Política ao remeter à lei o disciplinamento do regime jurídico dos militares (art. 
142, § 3°, X, da CRFB/88). 
Cumpre salientar que a atuação do legislador infraconstitucional na elaboração 
do regime jurídico dos militares está condicionada à observância das diretrizes 
mínimas fixadas no Texto Fundamental, a exemplo das contidas no art. 142, que 
confere e impõe, respectivamente, direitos, prerrogativas e deveres aos militares 
(ABREU, 2010). 
Por estas razões, o regime jurídico dos militares, necessariamente, deverá 
contemplar os direitos sociais descritos no inciso VIII, § 3°, do art. 142 da CRFB/88, a 
saber: 
a) décimo terceiro salário; 
b) salário-família; 
c) férias anuais remuneradas com pelo menos um terço a mais do que o 
salário normal; 
d) licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com duração 
de 120 (cento e vinte) dias; 
e) licença-paternidade; 
F) assistência gratuita aos filhos e dependentes, desde o nascimento até cinco 
anos de idade, em creches e pré-escolas. 
 
 
 
 26 
Há de se esclarecer, ainda, que o rol de direitos sociais, definido no inciso VIII, 
§ 3°, do art. 142, é taxativo, não cabendo ao intérprete ampliá-lo. Contudo, nada 
impede que o legislador infraconstitucional, no exercício da atribuição a ele outorgada 
pelo art. 142, § 3°, X, confira aos militares outros direitos sociais não abrangidos pelo 
mencionado inciso VIII, como, aliás, o tem feito. A título de exemplo, cita-se o direito 
ao salário-mínimo na forma descrita no art. 7°, IV e VII, da CRFB/88. Tem-se 
entendido que este direito social não foi estendido aos militares, pois o art. 142, § 3°, 
VIII, da Carta Maior, a ele não faz alusão (Ver Súmula Vinculante 6 do STF). 
Todavia, o legislador infraconstitucional conferiu-lhes este direito, excluindo, 
apenas, as praças prestadoras de serviço militar inicial e as praças especiais, salvo o 
guarda-marinha e o aspirante a oficial (art. 18, caput, e parágrafo 2º da MP nº 2.215-
10/01). 
Da mesma forma, o art. 142, § 3°, VIII, da CRFB/88 é silencioso em relação ao 
adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou perigosas, previsto 
no art. 7°, XXIII, razão pela qual os militares a ele não fariam jus. Contudo, o legislador 
assegurou-Ihes o direito em questão, na forma de adicional de compensação 
orgânica, parcela remuneratória mensal devida ao militar para compensação de 
desgaste orgânico resultante do desempenho continuado de determinadas atividades 
especiais (Art. 1º, II, d, da MP nº 2.215-10/01). O mesmo ocorre nas polícias militares 
e corpos de bombeiros militares, que, em regra, instituem, em lei, gratificações de 
risco ou de periculosidade. 
O regime jurídico dos militares deverá conter, também, as proibições e 
garantias descritas no art. 37, XI, XIII, XIV e XV, da CRFB/88, em razão do art. 142, § 
3°, VIII. Importante ressaltar que o legislador infraconstitucional não poderá isentar os 
militares das vedações nem excluí-los das garantias descritas nos incisos XI, XIII, XIV 
e XV do art. 37, sob pena de afronta à Constituição (ABREU, 2010). 
Convém destacar, ainda, que, como ensina CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE 
MELLO (2006), no liame de função pública, composto sob a égide estatutária, o 
Estado, ressalvadas as pertinentes disposições constitucionais impeditivas, deterá o 
poder de alterar legislativamente o regime jurídico de seus servidores, inexistindo a 
garantia de que continuarão sempre disciplinados pelas disposições vigentes quando 
de seu ingresso. Então, benefícios e vantagens, dantes previstos, podem ser 
ulteriormente suprimidos. Bem por isto, os direitos que deles derivem não se 
incorporam integralmente, de imediato, ao patrimônio jurídico do servidor (firmandose 
 
 
 
 27 
como direitos adquiridos), do mesmo modo que nele se integrariam se a relação fosse 
contratual. 
Assim, exempli gratia, se o adicional por tempo de serviço a que os servidores 
públicos federais faziam jus, de 1% por ano de tempo de serviço, por força do art. 67 
da Lei nº 8.112, viesse a ser extinto, como o foi pela inconstitucional Medida Provisória 
1.909-15, de 29/06/1999, hoje 2.225-45, de 4/09/2001, os que já houvessem 
completado este período continuariam a perceber os acréscimos aos vencimentos que 
deles houvessem resultado, por já haver perfazido o necessário à aquisição do direito 
quanto às sobreditas parcelas; contudo, a partir da lei extintiva não mais receberiam 
novos acréscimos que lhes adviriam dos anuênios sucessivamente completados 
(MELLO, 2006, p. 243-4). Em sendo estatutário o liame que une os militares à União, 
poderá ser alterado por lei, sempre que necessário, vez que inexiste direito adquirido 
a regime jurídico estatutário. 
As considerações feitas também são empregáveis aos militares estaduais, já 
que a eles se aplica o art. 142, §§ 1º e 2°, da CRFB/88, por força do art. 42, § 1º. 
 
OS MILITARES NA SOCIEDADE – TRATAMENTO DIFERENCIADO 
 
Vimos em outro momento do curso que a nossa última Constituição Federal, 
analítica, em vários de seus dispositivos referiu-se aos militares brasileiros, tratandoos 
de forma específica e diferenciando-os do cidadão comum. Veremos agora seus 
direitos políticos, a questão da nacionalidade, a efetivação dos direitos sociais e 
explicaremos a objeção da consciência. 
 
Os direitos políticos – breve comparação 
O art. 14 da Constituição da República estabeleceu que a soberania popular 
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para 
todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
Dirigindo-se aos militares, seu § 2° impede o alistamento como eleitor tão 
somente dos conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório. Inicialmente, 
segundo JORGE CÉSAR DE ASSIS (2012), chegou-se a pensar que tal norma seria 
 
 
 
 28 
inócua, já que a Constituição Cidadã trouxe, como novidade em termos de direitospolíticos, a faculdade de os adolescentes maiores de 16 e menores de 18 anos 
alistarem-se eleitores, se assim o quiserem. 
E, graças ao amadurecimento político de nossa juventude, o alistamento 
eleitoral nessa faixa de idade é maciço, vale dizer, via de regra, o conscrito já será um 
eleitor. 
Todavia, a posição do Tribunal Superior Eleitoral- TSE, é pela prevalência da 
norma constitucional restritiva. Na Resolução nº 20.165, de 07.04.1998, baixada em 
decorrência do Processo Administrativo 16.337 – Classe 19 – Goiás/GO, o TSE 
decidiu, com base no voto do relator o Ministro Nilson Naves, o seguinte: 
Alistamento eleitoral. Impossibilidade de ser efetivado por aqueles que prestam 
o serviço militar obrigatório – Manutenção do impedimento ao exercício do voto pelos 
concritos (aluno do órgão de formação de reserva) anteriormente alistados perante a 
Justiça eleitoral, durante o período da conscrição. 
 
A bem da verdade, esta amplitude do direito de voto aos militares ocorreu em 
1988. Até então, cabos e soldados de uma forma geral, estavam excluídos do 
alistamento eleitoral – o que representava, a toda evidência, um capitis diminutio em 
sua cidadania. 
Situação restritiva ao direito de votar dos militares persiste ainda na República 
Dominicana, onde o voto é obrigatório para todos os cidadãos, pessoal, livre e secreto, 
mas não podem exercitá-lo os integrantes das Forças Armadas e Corpos de Polícia 
(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOMINICANA, proclamada em 25 de julho de 
2002, em Santo Domingo-RD, art.88, nº 2). 
ANTONIO MILLÁN GARRIDO (2005) lembra que a Polícia Nacional 
dominicana nasceu no seio das Forças Armadas, conservando sua estrutura militar 
até a vigência da Lei nº 96/04, de 22.12.2003, que a declarou sendo uma organização 
civil, a serviço da cidadania, com competência especializada e âmbito nacional (art. 
3°). 
Na Guatemala os integrantes do Exército em serviço ativo não podem exercer 
o direito de sufrágio (CONSTITUÇÃO DA GUATEMALA, art. 248). 
Vale lembrar que o § 2° do art. 142 da Constituição brasileira de 1969 garantia 
o alistamento eleitoral apenas aos oficiais, aspirantes a oficial, guardasmarinha, 
 
 
 
 29 
subtenentes ou suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino 
superior para a formação de oficiais. 
A Carta Política brasileira de 1969 repetia proibições constitucionais anteriores, 
desde a época do Império. Em termos de direito ao exercício do voto, os cabos e 
soldados somente tornaram-se cidadãos plenos a partir da CRFB/88. 
Quanto ao direito de votar e ser votado, o § 8° do art. 14 asseverou que o militar 
alistável é elegível, desde que atendidas as seguintes condições: 
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da 
atividade; 
II - se contar mais de dez anos, será agregado pela autoridade superior e, 
se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. 
Em relação ao inc. I do art. 14, começam os primeiros confrontos entre os 
interesses do militar que pretende alistar-se candidato e os de sua Corporação, já que 
o texto constitucional é vago, não esclarecendo de que forma deverá ocorrer o 
afastamento da atividade (ASSIS, 2012). 
O Tribunal Superior Eleitoral, apreciando Consulta formulada, concluiu que o 
afastamento do militar, de sua atividade, previsto no art. 14, § 8°, inc. I, da CRFB/88, 
deverá se processar mediante demissão ou licenciamento ex officio, na forma da 
legislação que trata do servidor militar e dos Regulamentos específicos de cada Força 
Armada (TSE, Consulta 571/DF, Rel Min. Walter Ramos da Costa Porto, j. em 
13.04.2000). 
É uma posição que parece, com a devida vênia, contraditória já que, se a 
Constituição Federal assegura ao militar alistável o direito de ser elegível, fica difícil 
aceitar-se que o exercício desse direito implique em prejuízo funcional traduzindo-se 
em perda do emprego. 
Em relação ao inc. II - caso do militar da ativa com mais de 10 anos, a norma é 
clara, ao alistar-se candidato (efetivação do registro da candidatura pelo Partido 
Político) será naturalmente agregado, que é a situação na qual deixa de ocupar vaga 
na escala hierárquica de seu Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, nela permanecendo 
sem número (art. 80 do Estatuto dos Militares). 
O Estatuto dos Militares trata da agregação por afastamento temporário, qual 
seja, por ter se candidatado a cargo eletivo, desde que conte com 5 (cinco) anos ou 
mais de serviço, contada a partir da data do registro como candidato até sua 
diplomação ou regresso à Força Armada a que pertence, se não houver sido eleito 
 
 
 
 30 
(art. 82, XIV), estando tal norma legal em sintonia com o art. 98, incs. I, II e III, da Lei 
nº 4.737, de 15.07.1965 – Código eleitoral, mas não necessariamente em sintonia com 
a atual Constituição, que deu novo tratamento à matéria. 
A regra do art. 98 do Código Eleitoral (militar com menos de 05 anos de serviço 
será, ao se candidatar a cargo eletivo, excluído do serviço ativo: militar com 05 anos 
ou mais, ao se candidatar a cargo eletivo será afastado temporariamente do serviço 
ativo; como agregado) remonta à Constituição de 1946 (art. 138, parágrafo único), 
repetindo-se na de 1967 (art. 145, parágrafo único) e na de 1969 (art. 150, § 1°). 
A regra constitucional, hoje, é outra, mais rígida, prevendo o lapso temporal 
anterior de 10 anos, como requisito para o militar que pretender alistar-se candidato 
para cargo eleitoral. Desta forma, pode-se afirmar que o dispositivo constitucional do 
§ 8° do art. 14, recepcionou o inc. IV do art. 5° do Estatuto dos Militares (que assegura 
a estabilidade às praças com 10 anos ou mais) de efetivo serviço e revogou o inc. XIV 
do art. 82 do mesmo Estatuto (que previa a agregação do militar candidato que 
contasse com 5 ou mais anos de serviço e, na mesma linha de raciocínio, o art. 98 do 
Código Eleitoral) (ASSIS, 2012; VIEIRA, 2009). 
A questão, todavia, foi superada no Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 
face do julgamento, em data de 16.03.2011, do Recurso Extraordinário 279.469/RS. 
Trata-se, na espécie, de recurso extraordinário interposto pelo Estado do Rio Grande 
do Sul, contra acórdão do seu Tribunal de Justiça, que reconhecera a ex-servidor 
militar – que fora demitido ex officio, com base no citado artigo, por ter pedido 
afastamento para candidatar-se ao cargo de vereador quando contava com menos de 
10 anos de serviço – o direito à reintegração no serviço ativo, com ressarcimento das 
vantagens devidas. 
Após acirrado debate, por maioria, vencido o Ministro Relator, o Tribunal 
decidiu que o afastamento dos militares que possuírem menos de 10 (dez) anos de 
serviço ao se candidatar é definitivo, ou seja, mediante exclusão ou demissão ex 
officio. 
A ementa ficou assim vasada: 
Servidor Público. Militar alistável. Elegibilidade. Policial da Brigada Militar do 
Rio Grande do Sul, com menos de 10 anos de serviço. Candidatura a mandato eletivo. 
Demissão oficial por conveniência do serviço. Necessidade de afastamento definitivo, 
ou exclusão do serviço ativo. Pretensão de reintegração no posto que foi exonerado. 
 
 
 
 31 
Inadmissibilidade. Situação diversa daquela ostentada por militar com mais de 10 
(dez) anos de efetivo exercício. Mandado de segurança indeferido. 
Recurso extraordinário provido para esse fim. Interpretação das disposições do 
art. 14, § 8°, incs. I e II, da CRFB/88. Voto vencido. Diversamente do que sucede ao 
militar com mais de dez anos de serviço, deve afastar-se definitivamente da atividade 
o servidor militar que, contando menos de dez anos de serviço, pretenda candidatar-
se a cargo eletivo (STF – Pleno –Rec. Ext. 279.469/RS – Rel. Min. Maurício Correa – 
Relator para o acórdão Min. Cezar Peluso – j. em 16.03.2011 – Dje 20.06.2011). 
O Chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército Brasileiro editou a 
Portaria 043-DGP, de 16.08.2000, em que estabeleceu orientações para a 
Administração do Pessoal quanto à situação do militar candidato a cargo efetivo de 
natureza política, estabelecendo procedimentos a serem adotados nos seguintes 
casos: militar com menos de 10 anos de serviço; militar com mais de 10 anos de 
serviço; militar com mais de 10 anos de serviço, eleito; e, militar com mais de 10 anos 
de serviço, não eleito. 
 
Direito à nacionalidade 
No Direito Constitucional brasileiro vigente, os termos nacionalidade e 
cidadania, ou nacional e cidadão, têm sentido distinto. Nacional é o brasileiro nato ou 
naturalizado, ou seja, aquele que se vincula, por nascimento ou naturalização, ao 
território brasileiro. Cidadão qualifica o nacional no gozo dos direitos políticos e os 
participantes da vida do Estado (arts. 1°, II e, 14) (SILVA, 1998, p. 320). 
É de se perceber que o § 2° do art. 12, da Constituição, assegura que a lei não 
poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo os casos 
em que ela mesma prevê, como, por exemplo, o subsequente § 3°, quando 
estabeleceu os cargos que são de preenchimento obrigatório por brasileiros natos e, 
dentre eles, no inc. VI, o de Oficial das Forças Armadas. 
A garantia nesse caso, é muito mais do dignificante cargo (Oficial das Forças 
Armadas) do que de cada brasileiro nato de um modo geral, já que o oficialato 
pressupõe o cumprimento de uma série de requisitos estabelecidos pela lei, por parte 
dos interessados (ASSIS, 2012). 
Advirta-se, entretanto, que, impedido de tornar-se Oficial das Forças Armadas, 
o brasileiro naturalizado pode, a toda evidência, tornar-se Oficial das Polícias Militares 
e dos Corpos de Bombeiros Militares, sendo claramente inconstitucional, qualquer 
 
 
 
 32 
restrição nesse sentido: onde a Constituição não distingue, não cabe ao intérprete ou 
ao legislador infraconstitucional fazê-lo. 
 
Efetivação dos direitos sociais 
Os direitos sociais estão previstos entre os arts. 6° e 11, da Constituição 
Federal. Para José Afonso da Silva (1998, p. 290) pode-se classificar os direitos 
sociais do homem como produtor e como consumidor. 
Entram na categoria de direitos sociais do homem produtor, previstos nos arts. 
7º ao 11, os seguintes: 
 a liberdade de instituição sindical (instrumento de ação coletiva); 
 o direito de greve; 
 o direito de o trabalhador determinar as condições de seu trabalho 
(contrato coletivo de trabalho); 
 o direito de cooperar na gestão da empresa (co-gestão ou auto gestão ); 
e, 
 o direito de obter um emprego. 
Na categoria dos direitos sociais do homem consumidor entram: 
 os direitos à saúde e à segurança social (segurança material); 
 os direitos ao desenvolvimento intelectual; 
 o direito ao igual acesso das crianças e adultos à instrução, à formação 
profissional e à cultura; e, 
 garantia ao desenvolvimento da família, que são, como se nota, os 
indicados no art. 6° e desenvolvidos a partir do art. 193. 
Seguindo sua linha de orientação com relação aos militares brasileiros, a 
Constituição Federal resolveu especificar, no art. 142, § 3°, inc. VIII, quais seriam os 
direitos sociais assegurados no art. 7°, aplicados aos integrantes das Forças Armadas 
e Forças Auxiliares: 13° salário (inc. VII); salário-família (inc. XII); férias anuais 
remuneradas com um terço a mais que o salário normal (inc. XVII); licença 
maternidade de 120 dias (inc. XVIII); licença paternidade de 05 dias (inc. XIX); e 
assistência gratuita aos filhos e dependentes até 06 anos em creches e pré-escola 
(inc. XXV). 
O rol é taxativo e não admite interpretação extensiva como já visto. Taxativa 
também é a proibição, dirigida aos militares brasileiros, de alguns direitos que são 
assegurados ao trabalhador brasileiro em geral: o direito à sindicalização, o direito à 
 
 
 
 33 
greve e, o direito de filiação a partidos políticos enquanto no serviço ativo (art. 142, § 
30, IV e V). 
Esse tipo de proibição é comum aos militares, podendo ser encontrado na 
Constituição da República de Cabo Verde, onde os membros das Forças Armadas em 
situação de atividade estão proibidos de filiar-se em qualquer sindicato, partido ou 
associação política, nem exercer atividades político-partidárias de qualquer natureza 
(art. 243, item 3). Disposição semelhante se encontra na Constituição do Peru (art. 
42) quando ao reconhecer os direitos de sindicalização e de greve dos funcionários 
públicos, ressalva os funcionários do Estado com poder de decisão e os que 
desempenham cargos de confiança ou direção, assim como os membros das Forças 
Armadas e da Polícia Nacional (ASSIS, 2012). 
Adverte LAURENTINO DE ANDRADE FILOCRE (2004, p. 155), referindo-se 
ao que denomina de fatores interferentes externos (encravados na Constituição 
Federal de 1988) que a plena liberdade de associação, independente de autorização, 
vedada a interferência estatal em seu funcionamento, somente dissolúvel por decisão 
judicial com trânsito em julgado, favoreceu a criação de associações de oficiais e 
praças que, com essas garantias, passaram a ter poder de enfrentamento das 
autoridades. 
E, em que pesem as vedações expressas na Constituição Federal de 
sindicalização e de greve para os militares, as associações passaram a atuar, de fato, 
como sindicatos e a usar a greve, ostensiva e armada, como instrumento de imposição 
de vontade e de interesses. 
Para o autor acima, hoje os comandantes se veem contingenciados a 
“administrar” a convivência com essas entidades, uma forma de evitar 
confrontos mesmo que com o comprometimento da autoridade, o que, convenhamos, 
conforme Assis (2012), é inaceitável no Estado Democrático de Direito, que 
pressupõe, antes de qualquer coisa, o respeito à lei e às instituições que formam o 
país. A margem da lei, ou contra ela, não existe ordem, nem progresso, muito menos 
democracia. 
Analisando a disciplina sob o enfoque da busca da harmonia entre direitos e 
deveres, pondera JOÃO RODRIGUES ARRUDA (2007, p. 19) que, aproveitando a 
normalidade jurídica estabelecida pela Constituição brasileira de 1988, as praças das 
Forças Armadas começaram a se organizar em associações para a defesa dos 
interesses da categoria e que os movimentos ganharam mais intensidade na Marinha 
 
 
 
 34 
e no Exército. A partir de 2003, por iniciativa individual ou através dessas associações, 
as praças passaram a bater às portas do Judiciário com mais frequência para 
reivindicar, principalmente, proteção contra as punições disciplinares. 
Como não são poucas as liminares e mesmo sentenças de mérito concedidas 
nesses casos, conclui o autor que as decisões da Justiça, em grande parte contrárias 
aos pontos de vista dos chefes militares, são encaradas por eles como um fator de 
desestabilização da hierarquia e da disciplina. 
Ainda o autor acima, questiona a quem interessa mais a manutenção da 
disciplina, já que esta é uma pergunta que não pode ficar no ar. E conclui dizendo que 
ela interessa mais ao Estado, mas poderia interessar mais ao soldado individualmente 
considerado, já que a exata observância da disciplina daria ao soldado a certeza de 
que, todos cumprindo seus deveres, a justiça e a imparcialidade se farão sentir com 
todo seu vigor. Do mesmo modo, exigido o cumprimento dos deveres não será privado 
de nenhum dos direitos. 
Existe uma desigualdade injustificável de tratamento entre oficiais e praças. 
Isso se

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