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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATUS SENSU EM GÊNERO E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO ESTUDANTES LGBTIQ+ NEGR@S E FRACASSO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SOBRE O ABANDONO E EVASÃO NAS ESCOLAS DA COMUNIDADE DE VERA CRUZ, MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO-BA. Por: EDSON PESCA DE JESUS Orientador: Prof. Dr. Josué Leite dos Santos Teixeira de Freitas - Bahia 2020 EDSON PESCA DE JESUS ESTUDANTES LGBTIQ+ NEGR@S E FRACASSO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SOBRE O ABANDONO E EVASÃO NAS ESCOLAS DA COMUNIDADE DE VERA CRUZ, MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO-BA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia (UFBA), Superintendência de Educação a Distância (SEAD), Curso de Pós-Graduação Latus Sensu em Gênero e Sexualidade na Educação, vinculado ao Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades (NuCuS), pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), Pólo de Teixeira de Freitas, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gênero e Sexualidades na Educação. Orientador: Prof. Dr. Josué Leite dos Santos Teixeira de Freitas - Bahia 2020 EDSON PESCA DE JESUS ESTUDANTES LGBTIQ+ NEGR@S E FRACASSO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SOBRE O ABANDONO E EVASÃO NAS ESCOLAS DA COMUNIDADE DE VERA CRUZ, MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO-BA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia (UFBA), Superintendência de Educação a Distância (SEAD), Curso de Pós-Graduação Latus Sensu em Gênero e Sexualidade na Educação, vinculado ao Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades (NuCuS), pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), Pólo de Teixeira de Freitas, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gênero e Sexualidades na Educação. Aprovado em: 27 de Julho de 2020. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Josue Leite dos Santos - Orientador Professor da UFBA/ FACED. Profa. Ma. Ana Cristina de Araujo. Professora da Educação Básica, Rede Pública de Ensino de Itabuna - BA Profa. Dra. Léa Santana Tutora do Curso de Pós-Graduação em Gênero e Sexualidade na Educação/ UFBA UAB Pólo de Teixeira de Freitas RESUMO O presente Projeto de Intervenção Aplicado (PIA) refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da especialização em Gênero e Sexualidade na Educação, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Superintendência de Educação a Distância (SEAD), vinculado ao Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades (NuCuS), pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), Pólo de Teixeira de Freitas, intitulado “Estudantes LGBTIQ+ Negr@s e Fracasso Escolar: uma reflexão sobre o abandono e a evasão nas escolas da Comunidade de Vera Cruz, Município de Porto Seguro – BA”, cujo objetivo é apresentar e discutir as questões relacionadas às causas e consequências da evasão escolar, refletindo sobre as relações de bulling homofóbico no cotidiano escolar como principal meio fomentador do fenômeno de evasão escolar. Este trabalho se constituiu a partir de diálogo- expositivo no formato de seminários e palestras, discutindo questões de gênero e sexualidades no ambiente escolar. Do ponto de vista teórico-metodológico, a presente proposta de Intervenção Pedagógica orienta-se por meio da pesquisa-ação.Como aporte teórico ele está alicerçado nas perspectivas epistemológicas publicadas por Ferreira (2009) em sua obra “Gênero e sexualidade na Escola”, Louro (2010) em “Sexualidade e educação: Uma perspectiva pós- estruturalista”, além de Meyer e Madureira em suas abordagens em prol da diversidade sexual na escola.A partir desta óptica, estabelecemos uma discussão sobre a temática proposta que nos conduziram aos resultados deste estudo que apontam para o bulling escolar,produto da heteronormatividade, como principal fator que estimula a evasão escolar que consequentemente empurram o negro LGBTTQ para uma vida social de exclusão e baixo estima. Palavras-Chave: Diversidade; Gêneros e Sexualidade; Bulling Homofóbico. SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO. ...................................................................................................6 2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................7 3 OBJETIVOS..............................................................................................................8 3.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................8 3.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS. .............................................................................8 4 REFERENCIAL TEÓRICO. ...................................................................................9 5 METODOLOGIA .....................................................................................................10 5.1 LOCAL DE EXECUÇÃO. .................................................................................11 5.2 PÚBLICO DIRECIONADO. ..............................................................................11 5.3 CRONOGRAMA ..............................................................................................11 6 MODOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA ...............................12 7 AVALIAÇÃO ............................................................................................................15 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................15 APÊNDICE I - Plano de Intervenção. ..........................................................................17 6 1 APRESENTAÇÃO O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) consiste em um Projeto de Intervenção Aplicado (PIA) apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gênero e Sexualidade na Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o qual objetiva, a partir de palestra, discutir as questões relacionadas às causas e consequências do fracasso escolar no contexto dos Estudantes estudantes lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexos e queer (LGBTIQ+) Negr@s. Nosso ponto de partida, se dá no questrionamento que nos inquieta, isto é, qual a contribuição da violência escolar relacionada a LGBTIQ+fobia e racismo para o fracasso escolar de estudantes LGBTIQ+ Negr@s? Refletindo sobre as relações de violência escolar relacionada a LGBTIQ+fobia e racismo no cotidiano escolar consideramos esse tipo de violência como uma das principais causas do fenômeno da evasão e abandono escolar. Ao passo que seguimos a perspectiva do espaço escolar como um lugar de acolhimento às diversidades sexuais, de gênero e étnico- raciais. Igualmente, acreditamos que a escola pode atuar na desconstrução da heteronormatividade, do racismo e das formas de exclusões sociais que identificamos na cotidiano escolar. Semelhantemente, entendemos que o combate à LGBTIQ+fobia e racismo na Escola concorre para a formação de um ambiente escolar mais plural, democrático, de respeito às diversidades e do combate às injustiças. Embora genericamente o fenômeno do fracasso escolar, que é um problema social estrutural que compreende o insucesso dos estudantes no processo de escolarização caracterizado pelo abandono (desistência no ano letivo), reprovação (violação ao direito de aprendizagem – o não aprendizado) e evasão dos procesos educativos (a desistência definitiva do processo de escolarização), pareça atingir a todos os seguimentos da sociedade e ter como causas diversos fatores que se dão dentro e fora da escola percebemos que na realidade o grande percentual de taxas de abandono, reprovação e evasão ocorrem com mais frequência entreos estudantes dissidentes de gênero e sexuais negr@s. Por isso, comprrendemos a importancia de se construir em conjunto com a comunidade escolar, estratégias para combater estas formas de violências sociais estruturadas em práticas e orientações escolares que reforçam o fracasso de estudantes fora da norma e da perspectiva da matriz cultural dominante. Nessa direção, o enfrentamento destas questões da 7 heteronormatividade e do rascimo na escola, somam para a construção de uma sociedade verdadeiramente justa em oportunidades e direitos. E, consequentemente, contribui para a desconstrução do arcabouço dominante alicerçados nos principios da heterossexualidade como norma, do eurocentrismo, do machismo e do racismo. Para tanto, considerando uma melhor comprrensão do conteúdo, este P.I.A foi divido em tópicos que seguiram a seguinte sequência: (2) justificativa, (3) objetivos, (4) referencial teórico, (5) Metodologia, (6) modos de intergração entre teoria e prática e (7) avaliação. 2 JUSTIFICATIVA O proposto projeto fudamenta-se sob duas perspectivas basais. A primeira delas, sustenta-se na minha experiência enquanto estudante e, posteriormente, professor negro de escola pública que vivenciou na pele a dor da exclusão e do preconceito, sendo também, testemunha ocular dos que são considerados ou consideram-se não binário, viado, gay, bicha e preto, que carregam sobre si o peso da violência, da exclusão e da segregação. Como também, foram obrigados a realizarem uma trajetória escolar marcada por desafios assombrosos, vítimas de incursões da heteronormatividade, da homofobia e do racismo, que concorrem por meio devatador para o abandono, a reprovação e a evasão do processo de escolarização. Não cabe a mim, como professor e educador, que carrega também em si mesmo as dores e o peso destas marcas, se eximir ou se posicionar de maneira neutra ou auto- defensiva. Mas, pelo contrário, me imputa a urgência de atuar firmemente em prol da defesa das diferenças, das diversidades sexuais, étnico-raciais e de gênero no interior das escolas para o empoderamento dos sujeitos dissedentes e minorizados. A segunda perspectiva depreede-se de que a escola enquanto importante promotora da igualdade e das diversidades deve ofertar a tod@s estudantes e indivíduos que constituintem a comunidade escolar o contato real de vivências democráticas e práticas respeitosas e inclusivas da diferença. Assim sendo, defendemos a tese de que é necessário fortelecer estas temáticas sobre o gênero, sexualidades e racismo na escola, a fim de erradicar o fracasso escolar e neutralizar os efeitos das violências aos estudantes LGBTIQ+ Negr@s. Além de concorrer outras práticas fundamentadas em valores como autonomia, liberdade que produzem efeitos de tranformação nos sujeitos sociais presentes na escola e na sociedade de maneira geral. Finalmente, este PIA se justifica na relevância da articulação entre pesquisa, ensino e 8 extensão, na promoção de estudantes LGBTIQ+ Negr@s também na universidade em cursos de Pós-graduação, e no fortaleciumento da universidade pública. Igualmente, para compreensão desta temática em diversos contextos além da escolar de forma científica, implicada e humanizada possibilitando a transformação pessoal e, concomitamente, social. 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Refletir acerca das causas do fracasso escolar entre @s estudantes LGBTIQ+ negr@s. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Criar uma roda de conversa com docentes, coordenadores e gestores da comunidade escolar buscando sensibilizá-los através de vídeos frente às consequências das violências aos estudantes LGBTIQ+ Negr@s; Fomentar a discussão sobre gênero, sexualidades e racismo para a constituição de uma espaço escolar mais plural e diverso que opere sob a égide da equidade, igualdade e respeito; Sensiblizar a comunidade escolar para o enfrentamento ao bulling homofóbico e ás demais formar de violência escolar correlatas. 9 4 REFERENCIAL TEÓRICO O presente trabalho orientou-se a partir das postulações teórica em Michel Foucault, de modo especial, na obra “Vigiar e Punir (1987), segundo o autor o pensar é um modo de atividade para compreender, sobretudo, o sujeito que se constituiu ao longo da história inserido nas relações de poder.O autor ao fazer uma análise das relações entre saber e poder no levou a compreensão da escola como uma instituição capaz de articular os poderes com os saberes que se ensina, sejam eles pedagógicos ou específicos disciplinares. A socióloga Miriam Abramovay (2002) em seu livro intitulado: “Escola e violência”, cita que “a preocupação com a violência nas escolas aumentou e tornou-se questionável a idéia de que as origens do fenômeno não estão apenas do lado de fora da instituição” – e a Professora Guacira Lopes Louro (2003), que afirma em em “Corpo, Gênero e Sexualidade” que “a sexualidade permanece como alvo privilegiado da vigilância e do controle das sociedades, se constituiram também referencias importantes para a efetivação deste trabalho de intervenção, principlamente para a compreensão das questões de gênero, sexualidades e violência no espaço escolar. A anotação extraida das informações das leituras destas autoras nos conduziram a compreensão de que a falta de uma educação cidadã na escola estimula (ou, ao menos, não impede) a reprodução de padrões e normatividades sociais de gênero e sexualidades calcados no “apelo à agressão física e subordinação, discriminação contra mulheres e contra o homoerotismo” (ABRAMOVAY, 2005, p. 75). Como escreve Guacira Lopes Louro (2008), “aprendemos a viver o gênero e a sexualidade na cultura, através dos discursos repetidos da mídia, da igreja, da ciência e das leis e também, contemporaneamente, através dos discursos dos movimentos sociais e dos múltiplos dispositivos tecnológicos” LOURO (2008, pág. 22-23). Recorremos também as produções do Professor Miguel Arroyo (2014) em “Outros sujeitos, outras pedagogia”, a fim de pensarmos uma abordagem atual sobre abandono escolar, que veja na pluralidade uma condição fundante para educação nos procesos de escolarização. Sobre a diversidade sexual ancoramos nossas reflexões a partir das idéias defendidas pela Professora Berenice Bento (2017), em sua obra denominada “Transviad@s: Gênero, sexualidade e direitos humanos”, lançado em 2017, onde a pensadora apresenta uma heterogeneidade de discussões, tais como acerca das teorias clássicas da sociologia, as intersecções entre classe, raça e gênero, o feminismo, a transexualidade, a homofobia, a patologização do gênero, além de reflexões sobre Estado, gênero e sexualidade, bem como, às contriuições do Professor Leandro Colling (2013) em “Gênero e sexualiade na atualidade”, 10 escrito em 2013. Por fim, contamos com os subsídios de Laura Moutinho (2006), em “Sexualidade e comportamento sexual no Brasil”, para discurtirmos sobre raça, homossexualidade e desigualdade social no Brasil. E completamos a constituição de nossa lente analítica nas proposituras de Karla Akoti (2018) para discutir intersecsualidade sob a óptica da mulher feminista negra brasileira. 5 METODOLOGIA Do ponto de vista teórico-metodológico a presente proposta de intervenção pedagógica norteou-se por meio da Pesquisa-Ação. Na Pesquisa-Ação os sujeitos, ao pesquisarem sua própria prática, produzem novos conhecimentos e, ao fazê-lo, apropriam e ressignificam sua prática, produzindo novos compromissos, de cunho crítico, com a realidade em que atuam, se constituindo em um novo saber que aponta propostas de solução dos problemas diagnosticados. (THURLER; ZUCCO, 2019). Segundo Thürler e Zucco (2019), infere-se que ao realizar uma atividade de intervenção por meio da Pesquisa-Ação, o propositor, unido aos sujeitos participantes, busca transformaruma dada realidade recomendando a teoria e atividade prática. Nessa direção, a Pesquisa-Ação tem por pressuposto que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns, interessados em solucionar um problema que emerge num dado contexto no qual atuam desempenhando papéis diversos: pesquisadores universitários e professores pesquisadores (professores no caso escolar). Assim, ao identificar um problema, o papel do pesquisador universitário consiste em ajudar o grupo a problematizá- lo, ou seja, situá-lo em um contexto teórico mais amplo e assim possibilitar a ampliação da consciência dos envolvidos, com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos sujeitos e das práticas institucionais (THIOLLENT, 1994 apud THURLER; ZUCCO, 2019). Deste ponto, cabe dizer que a nossa proposta de intervenção teve sua aplicação por meio de uma palestra, cujo o público alvo foi heterogêneo, formado por discentes, docentes, gestores, pais e membros da comunidade local. Cuja culminância ocorreu na semana da Consciência Negra, uma vez que historicamente esta data era aproveitada pelos alunos LGBTIQ dar voz a seus corpos e sensibilizar a comunidade escolar. . Durante as atividades de intervenção ocorreu a exposição de conteúdos sobre a temática proposta, apresentação de material audiovisual como motivação inicial e apresentação dos objetivos. A seguir, aconteceu uma espécie de debate/ roda de conversa 11 com perguntas e respostas, que dinamizou a atividade e motivou a participação do público presente. Durante a atividade surgiram dúvidas, questionamentos, discussão e exposição de situações reais vivênciadas e/ou presenciadas pelo público participante mediada pela nossa condução e ancorada pelas postulações de nosso referencial teórico, o que dinamizou as palestras vindouras. O ponto fulcral da atividade de intervenção foi o desfile da diversidade, coodernado por um ex-aluno trans e protagonizado por alunos heteros e LGBT’s. 5.1 LOCAL DE EXECUÇÃO O presente Projeto de Intervenção Aplicado (PIA) foi desenvolvido no Colégio Estadual Eraldo Tinôco (CEET), situado à Rua Porto Seguro, nº 100, povoado de Vera Cruz, Município de Porto Seguro, Estado da Bahia. 5.2 PÚBLICO DIRECIONADO Estudantes do Ensino Médio (1º ao 3º ano), professores e coordenador pedagógico. 5.3 CRONOGRAMA O período de construção e execução do proposto projeto está compreendido entre agosto de de 2019 a junho de 2020. Obedecendo o seguinte cronograma: 08/2019 - Levantamento bibliográfico que embasou o projeto; 09/ 2019 - Preparação do material utilizado na condução do projeto; 20/11/2019 - Realização da Atividade de Intervenção; 03/2020 – 06/2020 - Ocorreram as orientações que permitiram a construção do TCC/ PIA; 27/07/2020 - Defesa do Projeto de Intervenção Apliacada. 12 6 MODOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA A aplicação do presente projeto se deu em uma escola cuja histórico tem demonstrado um índice considerável de abandono e evasão escolar dentre os estudantes não binários, negros e de baixa renda. Contrariando o que cita Ferreira e Luz (2009) que afirma que, “a instituição escolar deve contribuir para uma educação cidadã e libertadora que contemple a dimensão sexual, a diversidade, os direitos humanos e a multiculturalidade”. (FERREIRA E LUZ, 2009, p. 39) O primeiro passso na execução do projeto foi a externação aos colegas docentes e a coordenação pedagógica da nossa proposta intervencionista. Foi sugerido que a palestra ocorrecesse durante a culminância da Semana da Consciência Negra, uma vez que tem-se na escola um público mais heterogêneo, ou seja, um ambiente mais propenso à discussão sobre diversidade. Considerando também que, nos últimos 3 anos estudantes e professores LGBTIQ+ da escola têm aproveitado a ocasião da data e do evento para usarem seus corpos para mandarem um recado trangressor à comunidade escolar. Momento em que se percebe durante a semana algumas “risadinhas” que revelam um certo grau de rejeição e oposição a abordagem destas temáticas na escola. O dia da consciência negra por si só já é uma afronta aos preconceituosos, ainda mais quando aberto à participação protagonizada por viados, travestis e sapatão. Ferreira e Luz (2009) contribuem às nossas refelxões afirmando que, “a instituição escolar deve contribuir para uma educação cidadã e libertadora que contemple a dimensão sexual, a diversidade, os direitos humanos e a multiculturalidade” (FERREIRA E LUZ, 2009, ), não cabe, portanto, à Escola a função de legitimar das violências aos estudantes LGBTIQ+ Negr@s. Em meio a preparação do material didático que deu suporte a palestra, percebemos que houve um interesse especial da coordenadora pedagógica pela temática e juntos discutimos ações que pudessem colaboarar para o alcance do resultado final do projeto. 13 Nesta ocasião, lembramos de uma estudante transsexual e militante do MST, que há tempos não era vista na escola e que estava suscetível a reprovação por falta. Chamamos ela na escola e a motivamos a retornar mesmo sob a objeção de alguns professores que alegaram desinteresse e irresponsabilidade de sua parte. Tal atitude nos remeteu a tese de Miguel Arroyo (2014) que apontam a escola como responsável pelo sucesso ou fracasso dos estudantes, principalmente daqueles pertencentes às categorias menos favorecidas e conomicamente, explicando teoricamente, a partir das ideias do filosofo marxista Louis Althusser, o caráter reprodutor desta instituição compreendida como Aparelho Ideológico do Estado. A conversa com esta estudante nos possibilitou averiguar que havia na escola muitos outros estudantes que já haviam sido desencorjado a dá continuidade aos estudos e estavam pensando ou anunciando o abandono por causa das violências sofridas na escola por sua condição/ modo de existência. Indubitavelmente, tivemos mais convicção do quanto foi assertivo a escola da temática do Projeto de Intervenção e do quanto seria relevante e necessária para aquela comunidade escolar esta atividade. Junqueira (2009, p. 02) acrescenta as nossas reflexões que, a homofobia compromete a inclusão educacional e a qualidade do ensino. Incide na relação docente - estudante. Produz desinteresse pela escola, dificulta a aprendizagem e conduz à evasão e ao abandono escolar. Afeta a definição das carreiras profissionais e dificulta a inserção no mercado de trabalho. O que os autores acimacolocam. (JUNQUEIRA, 2009, p. 02). É relevante dizer que, para motivar a estudante, a convidamos para coordenar o desfile temático que iria se realizar na Semana. Foi um momento muito recompensante, pois pudemos observar a sua alegria e contentamento por termos oportunizado sua integração às causas que de defende na escola que estudava. Seguindo com a preparação para aplicação do projeto de intervenção, ao solicitarmos da diretora da escola auxlio na aquisição recursos materiais e de apoio, muito discretamente, ela nos confidenciou que não conseguia aceitar a homossexualidade, mas que louvava a nossa iniciativa, mesmo eu sendo cristão. Sobre esta questão Judith Butler (2003) diz que,“ao se afirmar a heterossexualidade como única e legítima forma de exercício do desejo, confere-se inteligibilidade, importância e materialidade ao “sexo” biológico, tomando diferenças de gênero e subordinações culturalmente constituídas como se fossem naturais” (BUTLER, 2003, p.38- 14 48). Ainda de acordo com Butler (2013), a heterossexualidade compulsória - que a base da heteronormativiadade faz com que nasçamos socialmente predefinidos a sermos cisgênero e heterossexuais, de forma que todo sujeito que foge a essa regra ou expectativa é tratado como desviante seja inferiorizado e/ou invisibilizado em relação ao considerado“natural” ou “normal”. (BUTLER, 2003, p.23). Um dos momentos mais tensos em relação aos preparativos para a intervenção surgiu quando a diretora determinou que todos os estudantes no dia da apresentação viessem à escola uniformizados. Retruquei, pois, tal fato cercearia o direito de tod@s de se aprensentar conforme a sua identidade de gênero. Com muita destreza conseguimos fazê-la a mudar de ideia. Iniciou-se a intervenção com a declamação do poema em homenagem aos orixás, de autoria do estudante Mateus da Silva. Sua apresentação causou alguns comportamentos de negação e desrespeitosos. Só para exemplificar, teve pais e funcionário da escola se bezendo durante ação. Ao final da recitação do poema a professora de Língua portuguesa demosntrou grande exultação, por perceber que o seu estudante, que por muitas vezes não era incluido e acolhido nas atividades pedagógicas e raras participação, compôs e recitou de maneira desteminada sua produção. Ao passo que nos pediu para que ela também explanasse acerca da interseccionalidade. Em seguida realizou-se o desfile da diversidade. O público demonstrou reações bem variadas. Houve àqueles que vibravam, pois acreditavam na proposta e estética. Em contraste, tiveram àqueles que demonstraram deboche e fetichezação. Este momento foi imprecindível para preparar o público e gerar expectativas com relação as palestras. Iniciei a palestra aboardando os aspectos da diversidade sexual na escola. Para minha surpresa o tema foi aplaudido pelo público presente. Outra professora também realizou uma explanação acerca da violência às pessoas LGBTIQ+ na escola e foi bastante aplaudida, uma mensagem bastante acolhida e emocionante, a tal ponto de fazer alguns presentes chorarem. Enfim, estas ações realizadas constituiram de forma integrada a nossa intervenção nesta escola e contribuiram para a ampliação do repetório cultural desta comunidade e trouze mais entendimento sobre os males que violência às pessoas LGBTIQ+ negr@s vêem sofrendo na escola e os impactos que estas práticas somam para o fracasso escolar destas estudantes. 15 7 AVALIAÇÃO A realização do PIA foi um momento ímpar, enquanto educador negro de escola pública que crer na pluraridade de direitos e na fraternidade universal . Considera-se positiva a aplicação das atividades e a receptividade dos sujeitos envolvidos. Sendo o momento da produção textual o tarefa mais desafiadora, uma vez que inicia o percurso na produção acadêmica por parte do autor. Assim sendo, o exímio trabalho de orientação foi imprescindível para a sucesso das atividades de intervenção, bem como da própria construção do projeto. O que concorreu para a ressignificação do olhar docente acerca da diversidade sexual na escola e contribuiu de maneira positiva para afirmação daquela comunidade escolar como local de acolhimento e fortalecimento dos sujeitos não binários. Estamos seguros de que esta intervenção integrada de forma organica ao fluxos das atividade da Escola (Semana de Consciência Negra) que é uma data bastante significativa à tod@s pessoas LGBTIQ+ e negr@s se mostrou, mais uma vez, de grande relevância neste espaço escolar. Além de promover fazeres que contribuiram para a promoção de uma educação de respeito às diferenças, que luta pela garantia de direitos e a valorização da pessoa humana. Portanto, nossa avaliação é muito positiva e mais que satisfatória. 8 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Míriam. Escola e violência. Brasília: UNESCO, 2002. AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade?. Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2018. BENTO, Berenice. 2017. Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos. Salvador: , BUTLER, Judith. Críticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida. Sexualidades transgresoras. Una antología de estúdios queer. Barcelona: Icária editorial, 2002, p. 55-80. COLLING, Leandro. Gênero e sexualidade na atualidade. - Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância, 2018. FERREIRA, B. L.; LUZ, N. S. Sexualidade e Gênero na Escola. – Curitiba: UTFPR, 2009. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento das prisões. Tradução Raquel Ramalhete. 35. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2008 HUNGER, Dagmar et al . O dilema extensão universitária. Educ. rev., Belo Horizonte , v. 30, n. 3, p. 335-354, Set. 2014. 16 JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Diversidade sexual e homofobia: a escola tem tudo a ver (2009) p. 13-51. LOURO, Guacira Lopes Gênero, sexualidade e educação. Guacira Lopes Louro - Petrópolis, RJ Uma perspectiva pós-estruturalista / : Vozes, 1997 . Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, Campinas , v. 19, n. 2, p. 17-23, Aug. 2008. MADUREIRA, Ana Flávia do Amaral. Gênero, sexualidade e diversidade sexual na escola: a construção de uma cultura democrática (Tese de doutorado). Brasília: Universidade de Brasília, 2007. n Desigualdades de gênero, raça/etnia e orientação sexual no espaço escolar: conceitos e relações. 2008. MOUTINHO, L. Negociando com a adversidade: reflexões sobre raça, (homos)sexualidade e desigualdade social no Rio de Janeiro. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n.1, p. 103-116, 2006. PEREIRA, G. R.; BAHIA, A. Direito fundamental à educação, diversidade e homofobia na escola: desafios à construção de um ambiente de aprendizado livre, plural e democrático. Educar em Revista, Curitiba, v. 39, p. 51-72, 2011. PINHO, O. A Guerra dos Mundos Homossexuais: resistência e contra-hegemonias de raça e gênero. In: RIOS, L. F. et al. Homossexualidade: produção cultural, cidadania e saúde. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, 2004. SILVA, Manoel Regis da. Causas e Consequências da Evasão Escolar na Escola Estadual Professor Pedro Augusto de Almeida –Babaneiras/PB. Acesso em: 18 de março de 2016. THÜRLER, Djalma; ZUCCO, Caroline. Intervenção pedagógica e interdisciplinaridade. Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância, 2019. THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez,1985. 17 APÊNDICE - Plano de Intervenção PLANO DE INTERVENÇÃO IDENTIFICAÇÃO Proponente: EDSON PESCA DE JESUS Professor orientador: JOSUÉ LEITE DOS SANTOS Local da Intervenção: COLÉGIO ESTADUAL DR. ERALDO TINOCO Data: 20 DE NOVEMBRO DE 2019 Horário: 19:00 hs Duração da Atividade de Intervenção: 2h 30m OBJETIVO(S) I- OBJETIVO GERAL DA ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO: Discutir questões inerentes a diversidade sexual, violência à estudantes LGBTIQ+ e negr@s e abandono escolar. II - OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS PELOS PARTICIPANTES: Senbilização a cerca da necessidade da efetivação da Diversidade Sexual na escola e das consequências do bulling homofóbico; Conhececiemnto do panorama atual das lutas e conquistas dos LBTTTQI negros. III - METAS DESEJADAS: Sensiblizar no mínimo 80% dos discentes e 100% dos docentes presentes à intervenção. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO / SEQUÊNCIA DAS AÇÕES Desfile da diversidade humana – desfile com indumentárias afriacanas no qual @s participantes não se aparesentam sob a égide do gênero; Poema para os Orixás recitados por um aluno LGBTIQ; Palestra sobre Diversidade na escola; Palestra sobre Bulling Homofóbico. 18 RECURSOS NECESSÁRIOS Cenário; Palco; Equipamentos de som e multimídia; AVALIAÇÃO Avaliação contínua- através da observação das impressões dos sujeitos condutores do projeto; REFERÊNCIAS AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade. Coordenação Djamila Ribeiro. Belo Horizonte: Letramento, 2018. ARROIO, miguel G.; Outros sujeitos, outras pedagogias, Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.pg. 25; BENTO, Berenice. 2017. Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos. Salvador: EDUFBA, 329 pp. FERREIRA, Beatriz L.; LUZ, Nanci S. Sexualidade e Gênero na escola. In: LUZ, Nanci S.; CARVALHO, Marilia G.; CASAGRANDE, Lindamir S. (Orgs). Construindo a Igualdade na Diversidade: Gênero e sexualidade na escola. Curitiba: UTFPR, 2009. p. 33‐45. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento das prisões. Tradução Raquel Ramalhete. 35. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2008 JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Diversidade sexual e homofobia: a escola tem tudo a ver comisso. In: LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis, RJ Uma perspectiva pós- estruturalista / : Vozes, 1997. MADUREIRA, A. F. A., & Branco, A. M. C. U. A. (2012b). As raízes histórico-culturais e afetivas do preconceito e a construção de uma cultura democrática na escola. In A. U. Branco & M. C. S. L. Oliveira (Eds.), Diversidade e cultura da paz na escola: Contribuições da perspectiva sociocultural (pp. 125-155). Porto Alegre, RS: Mediação; MOUTINHO, L. Negociando com a adversidade: reflexões sobre raça, (homos)sexualidade e desigualdade social no Rio de Janeiro. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n.1, p. 103- 116, 2006. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1 APRESENTAÇÃO 2 JUSTIFICATIVA 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 4 REFERENCIAL TEÓRICO 5 METODOLOGIA 5.1 LOCAL DE EXECUÇÃO 5.2 PÚBLICO DIRECIONADO 5.3 CRONOGRAMA 6 MODOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA 7 AVALIAÇÃO 8 REFERÊNCIAS
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