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Agentes anestésicos de ação local e geral 1) Anestésicos locais Os mecanismos nociceptivos recebem estímulos multimodais, podendo ser estimulados por calor excessivo, pressão excessiva, capsaicina, substâncias ácidas, ATP, entre outros, sendo que receptores diferentes ou alteração na forma da fibra de dor podem ser suficientes para levara a uma despolarização. O início da dor é sinalizado por entrada de sódio, com aumento intracelular desse íon em aferentes primários da dor, que desencadeia potencial de ação, levando à despolarização das fibras até o SNC. A ideia dos anestésicos locais é impedir que essa despolarização em aferentes da dor chegue até o SNC, inibindo a interpretação de informações nociceptivas. Desse modo, os anestésicos locais agem precocemente na via da dor, servindo como um isolante elétrico e químico para impedir a propagação do sinal. Alguns anti-inflamatórios também podem inibir a dor ao regular a quantidade de mediadores inflamatórios e opioides por um mecanismo de controle top-down, atuando em vias de analgesia. Assim, o anestésico local não depende de um feito sistêmico, podendo ser administrado localmente no local da lesão/incisão. Mecanismo de ação: agem por bloqueio reversível dos canais de sódio voltagem dependente que se abrem e ajudam a propagar o sinal de nocicepção. Esses canais possuem uma série de conformações diferentes, como conformação fechada (canal inativado) e aberta após sofrerem alterações eletroquímicas a ponto de promoverem uma alteração conformacional. Todavia, tem-se um mecanismo de auto-controle baseado em comportas intracelulares, de modo que podem produzir uma inativação rápida desse canal, mesmo com a conformação aberta em uma resposta de voltagem persistente. Assim, tem-se o estado inativo por fechamento do canal ou por fechamento da comporta, mantendo refratário, retornando posteriormente para seu estado fechado, que é não funcional, mas passivo de uma outra ativação. Os anestésicos locais têm um mecanismo dependente do uso, já que possuem uma afinidade maior pelo canal de sódio no estado inativado (conformação fechada), de modo que se terá a inibição de canais que acabaram de ser ativados. Além disso, terá a inibição seletiva de canais que tem maior frequência de ativação. Desse modo, em caso um estímulo de dor específico localizado sempre nos mesmos canais poderia ser inibido com mais facilidade, sem alterar de modo muito significante a via do tato. Os anestésicos locais são bases fracas, de modo que estarão na fase polar ou apolar conforme o pH do local, tendendo a ter uma faixa de pH alta em que metade dos anestésicos estão na forma apolar e outra metade polar. Eles atuam bloqueando reversivelmente por duas vias específicas nos canais de sódio: hidrofóbica com o anestésico na forma apolar que consegue atravessar a membrana e atuar na face de membrana do canal e hidrofílica entrada do anestésico local e dentro da via intracelular promovendo a ionização dos anestésicos, de modo que esse atua internamente no canal iônico. A via principal é onde tem a entrada do anestésico local e inativação do canal pela face intracelular. Um pH baixo garante quase 100% dos fármacos em sua forma ionizada, que não consegue entrar na célula, não exercendo nenhuma das vias (aprisionamento iônico, não consegue trocar de compartimento). Assim, um indivíduo com local de lesão inflamado (e ácido) terá menor efeito do anestésico por não ativarem os canais de sódio da maneira adequada. A efetividade do bloqueio também varia conforme o calibre da fibra aferente. As fibras motoras são mielinizadas e de alto calibre, enquanto as de dor são desprovidas de isolamento elétrico e mais finas (fibras do tipo C). Desse modo, a propagação do potencial é mais contínua, afetando mais canais de sódio, que precisam ativados em toda a extensão da fibra. Assim, se o bloqueio for feito em um ponto pequeno, qualquer interferência nessa fibra de dor já é suficiente para inibir informações nociceptivas. Em contraposição, devido ao impulso saltatório, o bloqueio das fibras motoras deverá ser feito em uma área maior para promover a perda da propagação do potencial, já que ele é transmitido rapidamente para outro canal. Todavia, um anestésico local pode interagir em outras vias sensoriais que não a dor caso tenha uma dose muito grande ou infusão de anestésico ao longo de um tempo muito grande. Os principais anestésicos locais se diferem quanto a duração de efeitos e potência, mas todos possuem um grupo éster ou amida, esses que são hidrolisados no sangue rapidamente, impossibilitando o uso sistêmico desses fármacos. Benzocaína: é mais lipofílica por possuir um anel benzênico, tendo boa absorção na pele. É usado em preservativos retardantes, já que anestesia sensorialmente, podendo retardar a ejaculação. Tetracaína Lidocaína ou xilocaína Prilocaína: um dos únicos que consegue agir na pele íntegra, sendo utilizado em procedimentos estéticos como sobrancelha definitiva e micropigmentação Bupivacaína: é de longa ação. Perfil de segurança e usos: em geral os anestésicos são associados a vasoconstritores (como adrenalina ou fenileprina) para aumentar o efeito local e reduzir o sangramento. São utilizados em procedimentos locais e periféricos, mas também podem ser utilizados em anestesias regionais como epidurais e peridurais. Podem também ser empregados no bloqueio de nervos, inativando seletivamente e temporariamente uma via específica relacionada a sudorese ou outra função de nervos periféricos. Em contraposição possuem efeitos sistêmicos tóxicos principalmente em relação ao sistema cardiovascular e SNC, alterando tais funções dependendo da dose, de modo que a parada cardíaca é a principal causa de morte por acidentes com anestésicos locais. A tetrodotoxina age como um anestésico local e é encontrada no peixe baiacu, de modo que promove um efeito irreversível dos canais de sódio, gerando efeitos letais e imprevisíveis. Anestésico local Anestésico geral Efeito Efeito local Efeito sistêmico (circulação) Local de ação Ação na periferia, em aferentes primários Ação no SNC 2) Anestésicos gerais Possuem efeito sistêmico com ação focada no SNC, que independe do seu efeito na periferia. Um anestésico geral ideal deveria ter um controle total de indução, manutenção e recuperação da anestesia, uma duração de efeito suficiente para manter o paciente anestesiado e a capacidade do paciente se recuperar rapidamente dos efeitos. Em geral, a duração do efeito do fármaco que permite dizer se ele será utilizado para manutenção, como também permite prever se ele terá ressaca, podendo evitá-la. Busca-se um anestésico com alta potência e ação em múltiplos efeitos desejados, como dor, reflexos motores e autônomos e nocicepção. Em um esquema mono-anestésico, o limite entre a dose para causar os efeitos desejados e a quantidade para promover parada respiratória e morte é muito próximo. Atualmente é feito uma anestesia balanceada ou poli- anestésica, usando dois ou mais anestésicos gerais associados a adjuvantes que potencializam o efeito. Assim, garante-se vários efeitos que um fármaco sozinho não produziria, mas utilizando menores doses de fármacos. Como principais adjuvantes anestésicos tem-se: Sedativos e hipnóticos: barbitúricos e benzodiazepínicos, que causam amnésia caso o paciente recobre a consciência. O tiopental também pode ser utilizado como indutor anestésico. Agente antimuscarínicos: reduzem as secreções e controlam aspectos autonômicos, com a finalidade de evitar oscilações cardiorrespiratórias. Bloqueadores e relaxantes musculares: facilitar a incisão cirúrgica, já que se tem uma contração reflexa da musculatura no momento da incisão. Analgésicos de ação central: como opioides, que causam analgesia durante e depois da cirurgia. Mecanismo de ação: os anestésicos