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centros urbanos, criação de clubes de viagens, convênios, enfim; esta será à base da estrutura turística dos novos tempos. Você consideraria, em quais casos, a compra de um imóvel nas circunstân- cias acima? Ou seria melhor alugar? VII. CONCLUSÃO DA AULA A propriedade é objeto de estudo desde o direito romano, não se poden- do defini-la de forma imutável, alcançando, ainda, diversos ramos do saber, tais como a economia, a ciência política e a sociologia. Contudo, é possível afirmar que a propriedade é o mais amplo direito real que se pode conceder a alguém, conferindo-lhe titularidade sobre um bem. Elenca, por conseguinte, o art. 1228 do Código Civil que o proprietário pode usar, gozar e dispor do bem, bem como possui o direito de reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha. Desta forma, é possível afirmar que a propriedade é sempre a situação buscada pela sociedade. DIREITO DE PROPRIEDADE FGV DIREITO RIO 17 5 TEIZEN JR., Augusto Geraldo. A Função Social no Código Civil. São Paulo: RT, 2004, p. 132. AULA 2: FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: O DONO PODE FAZER TUDO? I. TEMA Função social da propriedade. II. ASSUNTO Análise da função social da propriedade. III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS O objetivo desta aula consiste em apresentar o conceito jurídico indeter- minado “função social” e, em especial a “função social da propriedade”, em seus diversos aspectos e possíveis interpretações. IV. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO 1 Função social O que é dar função social? A propriedade, como a estamos concebendo, é um direito. Entretanto, um direito tão importante não pode ser exercitado sem que sejam delineados limites internos ao seu exercício. Daí a transição dos poderes proprietários para deveres-poderes proprietários, 5 que deverão ser exercidos em consonância dos interesses sociais. Tal questão não escapou ao constituinte. 2 Função social da propriedade Este viés não escapou ao constituinte que definiu a priori um conteúdo constitucional para a propriedade, que orienta todo o conjunto de normas atinentes ao referido direito. Trata-se da função social (art. 5°, XXIII, CRFB). Função porque a propriedade passa, a partir deste momento, a não ser mais um direito vazio, mas uma situação patrimonial apenas passível de proteção na medida em que exercer um dado papel no ordenamento. Este papel é tomando em conta não individualmente, mas socialmente, daí a menção ao termo social. A propriedade de cada um está em termos de titularidade asso- 5. TEIZEN JR., Augusto Geraldo. A Função Social no Código Civil. São Paulo: RT, 2004, p. 132. DIREITO DE PROPRIEDADE FGV DIREITO RIO 18 6 MORAIS, José Diniz de. A Função Social da Propriedade na Constituição Federal de 1988. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 64. ciada a cada um não por conta da utilidade que cada um aufere da coisa (que não é relegada nem desimportante, mas que não serve de parâmetro central para esta regulação), mas tendo em vista a utilidade que a sociedade obtém de benefício a cada titularidade associada. Estes conteúdos podem ganhar várias concreções, a saber: Qual seria a natureza da função social? Para alguns, é princípio da ordem econômica.6 Gustavo Tepedino, todavia, entende que este princípio permeia todo o direito privado, porquanto diante das coloca- ções acima não se possa conceber propriedade sem que haja atendimento a uma série de interesses não-proprietários, que em muitos casos não se ampa- rarão na microconstituição econômica, mas em outros paradigmas perfilados pela Constituição da República (em especial, situações subjetivas existenciais: intimidade, liberdade, integridade, dignidade, etc.). Sendo princípio, ou seja, norma jurídica de redação sintética e de apli- cação e cogência variáveis, poderá a função social da propriedade admitir inúmeras concreções, cada uma com sua característica distintiva. O próprio Código Civil, no art. 1228, §1°, traz-nos algumas ideias que especificam o conteúdo da função social: meio ambiente, proteção do patrimônio históri- co, etc., além das previstas no próprio texto constitucional (CRFB, art. 182, §2°, sobre o atendimento ao plano diretor, art.170, sobre os princípios da ordem econômica, e art. 186 — sobre a propriedade rural: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores). A função social comporta-se, portanto, como concei- to jurídico indeterminado, a ser preenchido pelo intérprete. Além disso, a própria jurisprudência se incumbe de delinear outras hipóteses nas quais se atenderá à função social, conforme se observará no item a seguir. 3 Jurisprudência: Conforme dito anteriormente, a jurisprudência delineia diversas hipóteses nas quais se verá a função social: Direito de internar e assistir seus pacientes. Cod. de ética medica aprovado pela resolução CFM n. 1.246/88, art. 25. Direito de propriedade. Cod. Civil, art. 524. Decisão que reconheceu o direito do médico, consubstanciado na resolução, de ‘internar e assistir seus pacientes em hospitais privados com ou sem caráter filantrópico, ainda que não faça parte do seu corpo clinico, res- peitados as normas técnicas da instituição’, não ofendeu o direito de proprie- dade, estabelecido o art. 524 do Cód. Civil. Função social da propriedade, ou direito do proprietário sujeito a limitações. Constituição, art. 5. —XXIII. 6. MORAIS, José Diniz de. A Fun- ção Social da Propriedade na Constituição Federal de 1988. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 64. DIREITO DE PROPRIEDADE FGV DIREITO RIO 19 2. E livre o exercício de qual trabalho. A saúde é direito de todos. Consti- tuição art. 5. —XXIII e 196. 3. Recurso especial não conhecido. (STJ. REsp 27.039. Rel. Min. Nilson Naves. Terceira Turma. J. 08/11/1993. DJ. 07/02/1994) Ou, ainda, confirmando o caráter de cláusula geral, como na Apelação Cível 2006.001.44440, julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro: Apelação. Ordinária. Concessão real de uso de bem público. Municipali- dade que não deu função social à propriedade dominical sua e pretende desa- lijar família de baixa renda, que ocupou imóvel abandonado. Sentença de im- procedência. Apelação do Município arguindo preliminares de apreciação de agravo retido e de inconstitucionalidade da Medida Provisória nº2220/2001. No mérito, requer a reforma da sentença alegando que:1 — não cumpriu a apelada os pressupostos da MP2220/2001; 2 — inexiste direito de retenção por benfeitorias;3 — a recorrida é devedora de perdas e danos, na qualidade de lucros cessantes, tendo em vista que habitou bem público por anos, sem qualquer pagamento. Desprovimento do agravo retido e do recurso principal. Correta a concessão de tutela antecipatória, uma vez que a decisão não é teratológica, contrária à lei ou à prova dos autos, aplicação do verbete sumular nº 59 deste Tribunal. Não merece acolhida a arguição de inconstitucionalida- de da Medida Provisória 2220/2001, tendo em vista que o Poder Executivo Federal nada mais fez do que disciplinar matéria constitucional e legalmente prevista, através do ato administrativo normativo. Vale observar que não seria necessária Medida Provisória para s fazer respeitar o princípio constitucional da função social da propriedade (art. 5º, XXIII e 170, III da CRFB/88) que, na hipótese, se materializa pelo abandono do bem pela municipalidade e pela comprovação de sua utilização pela apelada e sua família, de acordo com o que se extrai do acervo probatório colacionado aos autos. No mérito, vê-se que há prova suficiente de que a apelada é possuidora do imóvel há mais de vinte anos, realizando, portanto, o comando insculpido no artigo 1º da MP nº2220/2001.