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Ficha de Leitura - Quem merece o quê - Aristóteles - 15 05 20

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO –UNOESC
MESTRADO EM DIREITO
(Minter Unoesc-Faipe, 2020-2022)
FILOSOFIA DA JUSTIÇA
Prof. Dr. Robison Tramontina
Nome do mestrando: Adriano Garcia da Costa
FICHA DE LEITURA
OBJETO 
SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. Capítulo 8. Quem merece o quê / Aristóteles. p.180-201.
	Capítulo 8 – QUEM MERECE O QUÊ / ARISTÓTELES
	CASO CALLIE SMARTT
	
	O texto é iniciado contando a história de Callie, aluna do primeiro ano do ensino médio, que possui paralisia cerebral e utiliza cadeiras de rodas, mas que devido a este fato foi impedida de participar da torcida organizada da escola, pois sua condição física não permitia a ela praticar os treinamentos igualmente dados às outras meninas da torcida, levantando questões de equidade (princípio da não discriminação) e indignação (glória e ressentimento). Para determinar os critérios para a participação na torcida organizada dentro de um princípio de justiça, precisamos determinar sua natureza e seu propósito. Como esse episódio mostra, as práticas sociais têm propósitos instrumental (incentivar a equipe) e honorífico ou exemplar (celebrar determinadas excelências e virtudes). (p. 181)
	JUSTIÇA, TÉLOS E HONRA
	
	As duas concepções centrais da filosofia política (teoria de justiça) de Aristóteles estão presentes no caso de Callie: a primeira, justiça teleológica, diz que para definir os direitos de uma pessoa é preciso saber qual o télos (propósito, finalidade ou objetivo) da prática social em questão; e a segunda, justiça honorífica, fala que compreender o télos de uma prática significa, pelo menos em parte, compreender ou discutir as virtudes que ela deve honrar e recompensar. A chave para compreender a ética e a política de Aristóteles é a definição da força dessas duas concepções e a relação existente entre elas. Ultrapassando a consideração utilitarista, Aristóteles acredita que justiça seja dar a cada um o que lhe é devido e, para descobrir o que as pessoas precisamente merecem, é necessário pensar no que está sendo distribuído. Em uma distribuição de flautas, por exemplo, as melhores flautas devem ser cedidas necessariamente aos melhores flautistas, pois o télos – a finalidade do instrumento – é, sobretudo, ser bem tocado. (p. 183)
	O PENSAMENTO TELEOLÓGICO: QUADRAS DE TÊNIS E O URSINHO POOH
	
	Apesar de parecer uma forma estranha de pensar sobre justiça, o raciocínio teleológico é de certa forma plausível. Vejamos o caso em que os melhores atletas podem fazer melhor uso das melhores quadras de tênis; ou, um violino Stradivarius merece ser tocado, não ser leiloado e exposto para ser admirado. Na antiguidade, o raciocínio teleológico era mais comum que nos dias atuais. Com o advento da ciência moderna, a natureza deixou de ser vista como uma ordem significativa (propósito, finalidade), ao contrário passou a ser compreendida pelas leis da física. Ao rejeitarmos o raciocínio teleológico na ciência, também somos levados a rejeitá-lo na política e na moral. Todavia, ainda somos tentados a ver o mundo como algo dotado de um significado essencial, especialmente no que tange às instituições sociais e às práticas políticas. Essa noção ainda subsiste, especialmente nas crianças, como por exemplo, a história do ursinho Pooh, onde este pensa que a abelha faz mel com a finalidade de alimentá-lo (raciocínio teleológico). (p. 184)
	QUAL É O TÉLOS DE UMA UNIVERSIDADE
	
	Na discussão sobre a ação afirmativa, para descobrir quem merece ingressar em uma universidade, é preciso, por premissa, identificar a finalidade dessa instituição. Como ocorre com frequência, todavia, o télos não é óbvio, mas contestável. Os que acham que a universidade existe para recompensar a excelência acadêmica, por exemplo, são contra as ações afirmativas. Por outro lado, os que creem que o objetivo da instituição seja promover determinados ideais cívicos certamente possuem um posicionamento mais favorável. Aristóteles legitimava essa discussão sobre a finalidade dos órgãos sociais, não se limitando ao que foi determinado pelas autoridades competentes. (p. 186)
	QUAL O PROPÓSITO DA POLÍTICA?
	
	Para Aristóteles, a justiça distributiva não se referia essencialmente a dinheiro, mas a cargos e honrarias. Para saber quem deve ter o direito de governar é antes necessário questionar o propósito, ou télos, da política, de forma que tenhamos aquele que melhor se adequa à sua finalidade. Todavia, comunidades diferentes preocupam-se com questões distintas – até por isso existem as eleições, para que a população possa escolher os propósitos que queira atingir coletivamente. Nos dias atuais, existe uma preocupação em atribuir um determinado télos à política, pois se teme perder a liberdade individual, uma vez que há o risco de impor valores que nem todos compartilham. Entretanto, não segundo Aristóteles. Para ele, a política não deve ser neutra, mas sim obrigatoriamente formar bons cidadãos e cultivar o bom caráter, ao permitir que as pessoas desenvolvam suas capacidades humanas para deliberar sobre o bem comum. Aristóteles critica aqueles que considera os dois principais postulantes da autoridade política – os oligarcas (alegam que eles, os abastados, deveriam comandar) e os democratas (o propósito da política é satisfazer as preferências da maioria). Ambos negligenciam a maior finalidade da associação política, que, para Aristóteles, é cultivar a virtude dos cidadãos. Para Aristóteles, política tem um significado mais elevado que é aprender a viver uma vida boa. O propósito da política é nada menos do que permitir que as pessoas desenvolvam suas capacidades e virtudes humanas peculiares para deliberar sobre o bem comum. Torna-se possível, então, determinar quais as implicações para a distribuição de cargos, segundo Aristóteles: aqueles que mais contribuem e se destacam na virtude cívica são os que merecem honrarias. Mais uma vez vemos como os aspectos teleológico e honorífico caminham juntos. (p. 187)
	VOCÊ PODE SER UMA BOA PESSOA SEM PARTICIPAR DA POLÍTICA?
	
	Atualmente, a política é vista pela população em geral como um mal necessário, pois atrelada a ela tem-se a corrupção, os interesses, as concessões mútuas, etc. É, claramente, uma interpretação que distingue da visão romantizada de Aristóteles que crê que participar da política é essencial para alcançar uma vida boa. Isso porque, para o filósofo, o ser humano não é autossuficiente quando está isolado, pois precisa desenvolver a sua capacidade de deliberação moral por meio de sua linguagem – e a política é um instrumento para tal. (p. 190)
	APRENDENDO COM A PRÁTICA
	
	A política e a moral estão diretamente correlacionadas para Aristóteles, o que o difere dos utilitaristas (para este grupo a vida moral tem como finalidade a felicidade). Aristóteles discorda desse conceito, pois para ele um indivíduo virtuoso é aquele que sente dor e prazer com as coiss certas. Essa virtude moral, segundo Aristóteles, aprende-se com a prática, algo similar ao que acontece com outras habilidades, como cozinhar, tocar um instrumento, contar piadas. Nesse sentido, devemos de alguma forma, desenvolver primeiro os hábitos corretos. O fato de valorizar a importância do hábito não significa que Aristóteles considere a virtude moral uma forma de comportamento padronizado. A virtude moral requer um tipo de conhecimento que Aristóteles denomina “sabedoria prática”, a qual define como um estado racional e verdadeiro de capacidade de agir em relação ao bem humano. Nesse contexto, o homem exerce sua cidadania ao assumir a responsabilidade por sua comunidade, por meio de deliberações e discussões, governando e sendo governado - uma realidade muito próxima da pólis grega, por sinal. (p. 191)
	POLÍTICA E VIDA BOA
	
	A ideia de cidadania de Aristóteles é abrangente, considera uma oportunidade para expandirmos nossas faculdades humanas, um aspecto essencial da vida boa. (p. 193)
	A defesa da escravidão por Aristóteles
	No caso da escravidão, Aristóteles nãoapenas a aceitava como também a justificava filosoficamente. Segundo ele, teoricamente, as naturezas das mulheres e dos negros não os faziam adequados à cidadania. Ressalta o texto que as teorias políticas modernas, em especial as teorias liberais de justiça de Kant e Rawls, não aceitam muito bem a noção de adequação, pois temem que as concepções teleológicas se conflitem com a noção de justiça. Nesse ponto, o posicionamento de Aristóteles torna-se perigoso, pois legitima a escravidão, já que aqueles que detêm o poder concluem que um grupo esteja adequado a um papel subalterno, coagindo-os a realizar aquela função que eles não escolheram. Nesse sentido, a teoria política liberal argumenta que os papéis sociais devem ser frutos de escolha, e não de adequação. (p. 194)
	O CARRINHO DE GOLFE DE CASEY MARTIN
	
	O capítulo chega ao fim contando o caso de Casey Martin, um jogador profissional de golfe que possuía problemas circulatórios. Temendo uma fratura ou hemorragia, Martin pediu permissão à PGA (Associação Profissional de Golfe) para usar um carrinho durante os campeonatos, sendo negado o seu pedido, citando o regulamento que proibia carrinhos em campeonatos profissionais. O caso foi levado à justiça, ocasião em que foi levantada uma questão de justiça nos moldes da teoria de justiça de Aristóteles, ao deliberar se andar pelo campo é essencial à prática do esporte em questão ou meramente incidental. Para a PGA, permitir que Martin usasse o carrinho seria dar-lhe vantagem; para ele, o instrumento apenas lhe nivelaria com os demais jogadores. A Suprema Corte dos EUA decidiu que Martin tinha direito a usar um carrinho de golfe, concluindo que o uso de carrinhos não interferiria no caráter fundamental do jogo ou o colocaria em uma posição injusta de vantagem. (p. 196)

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