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Dissertacao Elisa de Campos Borges

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Prévia do material em texto

ELISA DE CAMPOS BORGES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PROJETO DA VIA CHILENA AO SOCIALISMO DO PARTIDO COMUNISTA 
CHILENO: “NEM REVISIONISMO, NEM EVOLUCIONISMO, NEM 
REFORMISMO, NEM CÓPIAS MECÂNICAS” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pontifícia Universidade Católica 
São Paulo - 2005 
 
 ii
 
ELISA DE CAMPOS BORGES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PROJETO DA VIA CHILENA AO SOCIALISMO DO PARTIDO 
COMUNISTA CHILENO: “NEM REVISIONISMO, NEM EVOLUCIONISMO, 
NEM REFORMISMO, NEM CÓPIAS MECÂNICAS” 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora 
da Pontifícia Universidade Católica – PUC de 
São Paulo, como exigência parcial para a 
obtenção do título de MESTRE em História 
Social, sob a orientação do Prof. Dr. Antônio 
Rago Filho. 
 
 
 
 
 
 
Pontifícia Universidade Católica 
São Paulo - 2005 
 iii
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 _______________________________________ 
 _______________________________________ 
 _______________________________________ 
 
 
 iv
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, poetisa, guerreira que muito me 
ensinou a lutar pelos meus sonhos. 
 
À memória do meu pai, Dirceu Borges Ramos, 
militante estudantil que chorava quando nos 
contava a luta contra a ditadura brasileira. 
 
À todos aqueles que acreditaram num novo projeto 
e resistiram aos canhões e porões da ditadura 
chilena. 
 
 
 v
AGRADECIMENTOS 
 
 Ao final de cada trabalho parece que temos ainda muito mais a contribuir, a 
pesquisar e a questionar. É com esse sentimento que escrevo esse agradecimento, tendo a 
certeza que este trabalho terá continuidade, quem sabe, num futuro próximo. 
 Gostaria de agradecer inicialmente à CAPES pela bolsa concedida, pois sem ela não 
seria possível a realização dessa pesquisa. 
 Ao Professor Dr. Antonio Rago Filho, meu orientador, por acolher uma 
“estrangeira” e desde o primeiro momento incentivar e apoiar a realização deste trabalho. 
Obrigada pela paciência. 
 À Professora Dra. Vera Lucia Vieira e à Professora Dra. Maria Aparecida de Souza 
Lopes por comporem a Banca de Qualificação, oferecendo sugestões importantes a esta 
pesquisa. 
 A minha mãe, poetisa Heloisa, que foi sempre minha maior incentivadora a 
aprofundar meus estudos. Obrigada pelas correções dos meus textos que sempre chegavam 
muito em cima da hora! 
 Aos meus irmãos Rogério e Carolina. 
Aos amigos do Partido Comunista do Brasil que sempre torceram por mim, com 
destaque para Ricardo Abreu, sempre a me incentivar e ajudar a concretizar a possibilidade 
de me tornar mestra; ao José Reinaldo que fez contato com o PC Chileno; ao professor 
Augusto Buonicori pelas sugestões. 
 À União da Juventude Socialista, que possibilitou minha ida à Santiago. 
 Ao Partido Comunista Chileno e às Juventudes Comunistas do Chile pela forma 
carinhosa que me acolheram neste fantástico país, tão marcado e ferido pela ditadura militar 
e ainda com um povo surpreendentemente lutador! 
 Meus agradecimentos especiais à Marcela Spíndola, Sergio Sepulvida, César, 
Mônica, Cecília e tantos outros. Obrigada por me apresentar à obra de Vitor Jara, Violeta 
Parra, as empanadas Chilenas, pelas discussões no Café Brasil, pelas ajudas nos Arquivos, 
na articulação das entrevistas, nas visitas aos museus, ao Cemitério Central, parques etc. 
Sem vocês, esse trabalho não seria possível e tenho muita consciência disso. 
 Aos dirigentes partidários Luis Corvalan e Eliana Aranivar pela entrevista. 
 vi
 Ao Instituto de Ciências Alejandro Lipschutz, que mesmo tendo sua sede em 
reforma, possibilitou a consulta de parte de seu acervo para minha pesquisa. 
 Às minhas amigas de apartamento, Carla, Daniela, Kathia, Fabiana, que agüentaram 
por dois anos (no mínimo) a minha obsessão pelo Chile, meu mau humor, as angústias, as 
alegrias e tristezas. Obrigada por acreditarem no meu trabalho e me ajudarem a nunca 
desistir. 
 Às amigas de muito tempo Alessandra, Juliana, Luiza e Fabiana Pinto. 
 Agradeço sinceramente aos amigos André (que me cedeu a passagem de ida e volta 
para o Chile, nunca vou me esquecer disso), Wadson, George, Julio, Fernando e Luciano, 
por compreenderem o momento especial que é o de cursar um mestrado com a necessária 
dedicação que ele requer, saibam que vocês também são responsáveis por esse caminhar. 
 A todos aqueles que de forma direta ou indireta tiveram sua contribuição neste 
trabalho, às vezes sem nem saber o quanto estavam ajudando. 
 Àqueles que lutaram ou que ainda lutam pela construção de uma sociedade mais 
justa e não poupam esforços e nem a vida na luta em defesa de um novo projeto, contra a 
ditadura e à punição daqueles que tiraram e tiram a esperança de tanta gente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 vii
RESUMO 
 
 
 Este trabalho tem como proposta conhecer, compreender e acompanhar o esforço 
para a implantação do projeto “via chilena ao socialismo”, idealizado pelo Partido 
Comunista do Chile. Este projeto propunha a passagem do regime capitalista chileno para o 
socialista a partir da manutenção da institucionalidade, sem insurreições ou luta armada. 
Essa formulação teve uma grande repercussão no projeto político da Unidade Popular que 
levou à Presidência da República Salvador Allende em 1970. 
Para realizar essa pesquisa foram utilizadas como fonte uma bibliografia sobre a 
Unidade Popular, sobre o nosso objeto de pesquisa, diversos documentos do PC, assim 
como depoimentos pessoais que se constituem fonte oral para estudos da História. 
 Na introdução, realizamos uma caracterização do PC e do projeto que se desdobrará 
no primeiro e segundo capítulo, assim como uma contextualização do sistema econômico e 
político chileno. No Capítulo I levantamos algumas discussões realizadas sobre a via 
“pacífica” ao socialismo. Também procuramos identificar o desenvolvimento político do 
Partido Comunista através da sua política de alianças e seus fundamentos em diversas 
eleições presidenciais. 
Procuramos no Capítulo II refletir como as questões apontadas no capítulo anterior 
vão influenciar na formulação da Revolução Chilena, sua repercussão entre os partidos de 
esquerda e a consolidação da Unidade Popular para disputar as eleições de 1970. 
 No Capítulo III procuramos então, analisar a partir dos documentos partidários do 
PC escrito entre 1970 e 1973, o comportamento político desse partido no cotidiano do 
governo Allende. 
 
 
 
PALAVRAS CHAVES: Partido Comunista do Chile, Socialismo, Unidade Popular, Via 
chilena ao Socialismo. 
 
 
 
 viii
ABSTRACT 
 
 
 This work have as purpose to know, to comprehend and to attend the effort for the 
introduction of the project “the chilean way to socialism” idealized by the Communist Party 
of Chile. This project has purposed the passage from chilean capitalist regime to socialism 
based on the maintance of the establishment, without insurrections or armed conflicts. Such 
formulation had a great repercussion in the political project of the Popular Unity, wich had 
conducted Salvador Allende to Presidency of the Republic in 1970. 
 To accomplish this research it was made use of a bibliography as source about the 
Popular Unity and about the subject of our research, many documents from the Communist 
Party, and personal witness by the same way, which constitutes oral source for the studies 
in History. 
 In the Introduction, we had made a characterization from the Communist Party and 
from the original project of this research, that will be separated into the first and the second 
chapters, such as a chilean political and economical contextualization. In Chapter I we had 
upraised some argumentsoccurred about the “peaceful” way to socialism. We had tried 
even to identify the political development of the Comunist Party along it’s policy of 
alliances and it’s fundaments in several presidential elections. 
 In Chapter II we looked forward to reflect how the mentioned questions from the 
past Chapter will influence the formulation of The Chilean Revolution, it’s repercussions 
among the left-side parties and the for the Popular Unity consolidation to face the 1970´s 
elections. 
 In Chapter III then we looked forward to analyze, from the Communist Party 
documents written between 1970 and 1973, the political behavior of the Party in the 
Alludes government quotidian. 
 
KEY-WORDS: Communist Party of Chile; Socialism; Popular Unity; Chilean Way to 
Socialism. 
 
 
 ix
SUMÁRIO 
 
Lista de Ilustrações______________________________________________________________x 
Lista de Tabelas ________________________________________________________________xi 
Lista de siglas _________________________________________________________________ xii 
 
INTRODUÇÃO________________________________________________________________16 
 
CAPÍTULO I__________________________________________________________________27 
1.1 - Algumas considerações sobre a história do Chile __________________________________27 
 1.2 - A fundação do Partido Comunista Chileno e suas primeiras dificuldades teóricas e 
práticas________________________________________________________________________38 
 1.3 - O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética e a política da via pacífica. 
______________________________________________________________________________54 
 1.4 - A repercussão do XX Congresso no Partido Comunista Chileno e a formulação teórica da 
Revolução Chilena ______________________________________________________________69 
 
CAPÍTULO II________________________________________________________________ 79 
 2.1 - Algumas reflexões do PC sobre a realidade Chilena para elaboração do programa de 1969 
______________________________________________________________________________79 
 2.2 - O programa político do Partido Comunista Chileno de 1969 ________________________96 
 2.3 - As divergências entre PC e PS quanto ao projeto da via chilena _____________________111 
 2.4 - O programa da Unidade Popular _____________________________________________126 
 
CAPÍTULO III ______________________________________________________________137 
 3.1 – Análise dos documentos do PC (1970-1973) – Breves Considerações _______________137 
 3.2 - Os documentos do PC de 1970 : Unidade, classe operária e mobilização social _______ 142 
 3.3 - Os documentos do PC de 1971: Mudanças econômicas, resistência, Comitês de Produção 
____________________________________________________________________________ 159 
 3.4 - Os documentos do PC de 1972: Crise econômica, Batalha da Produção, Ultra-esquerda _ 173 
 3.5 - Os documentos do PC de 1973: Transição, eleições, crise e golpe militar ____________ 194 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________________ 213 
BIBLIOGRAFIA_____________________________________________________________ 228 
 x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
 
FIGURA 1 –Mapa do Chile _______________________________________________________xiv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xi
LISTA DE TABELAS 
 
 
 
 
TABELA 1 – INVERSÃO E TAXA DE RETORNO DAS COMPANHIAS NORTE 
AMERICANAS MULTINACIONAIS DO COBRE ANACONDA E KENNECOTT – 1945 – 
1965 _________________________________________________________________________ 29 
 
TABELA 2 – QUADRO DE VOTANTES E POPULAÇÃO CHILENA _________________ 33 
 
TABELA 3 – QUADRO DOS RESULTADOS ELEITORAIS PARLAMENTARES 
CHILENAS DURANTE O PERÍODO DE 1912 A 1969______________________________ 34 
 
TABELA 4 – QUADRO DA EVOLUÇÃO DA SINDICALIZAÇÃO NO CHILE: 1932 – 1970 
_____________________________________________________________________________ 99 
 
TABELA 5 – RESULTADO DAS ELEIÇÕES SINDICAIS NACIONAIS DA CUT – 1972 
____________________________________________________________________________ 100 
 
TABELA 6 – PARTICIPAÇÃO ESTRANGEIRA NA ECONOMIA CHILENA ________ 103 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xii
LISTA DE SIGLAS 
 
 
ACHA – Ação Chilena Anticomunista 
API – Ação Popular Independente 
CAP - Companhia de Aço do Pacífico 
CC – Comitê Central 
CEN – Comitê Executivo Nacional 
CORA – Corporação de Reforma Agrária 
CORFO – Corporação de Fomento à Produção 
CUT – Central Única dos Trabalhadores 
DC – Democracia Cristã 
ENAP – Empresa Nacional de Eletricidade 
EUA – Estados Unidos 
FOCH – Federação dos Operários do Chile 
FRAP – Frente de Ação Popular 
FTR – Frente de Trabalhadores Revolucionários 
GMC – Grande Mineração de Cobre 
IANSA – Indústria Açucareira Nacional 
IC – Internacional Comunista 
MAPU – Movimento da Ação Popular Unificado 
MIR- Movimento de Esquerda Revolucionária 
PC – Partido Comunista do Chile 
PCC – Partido Comunista Chinês 
PCR – Partido Comunista Revolucionário 
PCUS- Partido Comunista da União Soviética 
PDC – Partido Democrata Cristão 
PIR – Partido da Esquerda Radical 
POS – Partido Operário Socialista 
PR – Partido Radical 
PS – Partido Socialista 
 xiii
PSP – Partido Socialista Popular 
PSD – Partido Social Democrata 
UP – Unidade Popular 
URSS – União Soviética 
USOPO – União Socialista Popular 
VOP – Vanguarda Organizada do Povo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xiv
 
 
 
Fonte: http://nossochile.vilabol.uol.com.br 
 xv
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Meu povo tem sido o mais atraiçoado deste tempo. Dos desertos do salitre, das 
minas submarinas do carvão, das alturas terríveis onde jaz o cobre e onde as mãos de meu 
povo os extraem com trabalho desumano, surgiu um movimento libertador de importância 
grandiosa. Esse movimento levou à presidência da República do Chile um homem 
chamado Salvador Allende para que realizasse reformas e medidas de justiça inadiáveis, 
para resgatar nossas riquezas nacionais das garras estrangeiras.” 
 Pablo Neruda, Confesso que vivi. 
 
 16
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A presente pesquisa pretende estudar um dos acontecimentos mais intrigantes e 
singulares da história política em “Nuestra América”: o projeto de tornar o Chile um país 
socialista por meio da via institucional, que se concretizou em um programa político 
desenvolvido por alguns partidos chilenos, cuja efetuação foi possível com a vitória de 
Salvador Allende para presidente em 1970. Portanto, a discussão da via chilena ao 
socialismo será apresentada a partir das discussões formuladas pelo Partido Comunista 
Chileno (PC) para depois entender como essa discussão influenciou no programa da 
Unidade Popular (UP) e no governo de Allende. 
A via chilena ao socialismo, era a formulação de como deveria ser a Revolução 
Chilena, entendendo assim, como seria a mudança do sistema capitalista para o socialista, a 
ascensão do proletariado na nova sociedade que se construiria, o rompimento com as velhas 
instituições, a edificação de novas forças produtivas, as novas formas de democracia, etc. 
A América Latina, nos anos 60 e 70, passava por um momento de muita 
efervescência política, principalmente entre os partidos de esquerda, bastante influenciados 
pelo significado da Revolução Cubana e pela difusão da filosofia marxista. 
Por outro lado, havia uma intencional barreira por parte dos Estados Unidos para 
conter a disseminação de idéias socialistas, principalmente a da ascensão de possíveis 
governos de esquerda e movimentos revolucionários. 
Com todas essas peculiaridades, o Chile em 1970 elegia pela coalizão de partidos, a 
Unidade Popular (UP), da qual faziam parte: o Partido Socialista(PS), o Partido Comunista 
(PC), o Partido Radical (PR), o Movimento da Ação Popular Unificado (MAPU), Partido 
Social Democrata (PSD), Ação Popular Independente (API). Em 1971, o Partido de 
Esquerda Radical ingressou na UP permanecendo até 1972 e o Movimento de Esquerda 
Cristã (IC) se incorpora à UP em 1971. Cada um desses partidos tinham uma filosofia 
política e em torno dela se organizavam classes sociais, frações de classe, etc. 
 17
A construção da Unidade Popular e do seu projeto político foi um longo processo 
histórico que envolveu diversos partidos e movimentos sociais chilenos. Foi necessária a 
maturação de ideários políticos dentro principalmente do PC e do PS; a discussão de táticas 
e de estratégias montadas por esses partidos, visando sua consolidação na vida política 
chilena; a tentativa de se estabelecer um bloco de esquerda unificado para a disputa das 
eleições chilenas e uma ação para retirar antigos setores tradicionais do comando do país, 
além do debate de questões colocadas pelo movimento comunista e socialista internacional 
e, ainda, todas as diversas variáveis e ramificações que a essas questões nos remetem. 
A formulação da via não armada ou da “via pacífica” enfrentou muitos obstáculos, 
sobretudo preconceitos por parte de diversos partidos políticos. A apresentação de uma via 
alternativa à via armada, sem perder o seu caráter revolucionário e suas justificativas na 
teoria marxista, foi um desafio grande, porém, defendido entusiasticamente pelo Partido 
Comunista e por parte do Partido Socialista, destacando a figura de Salvador Allende. 
Nesta pesquisa, procuramos remontar a discussão sobre a via pacífica, partindo do 
pensamento do Partido Comunista Chileno, que apontamos como um dos principais 
formuladores do projeto da via não-armada para o Chile incorporado como um dos 
principais pontos no programa político da UP. 
Para tanto, apresentaremos sua história, sua composição social, mas, 
principalmente, o desenvolvimento de sua política para o país, utilizando resoluções 
partidárias, documentos, panfletos, entrevistas e publicações, no sentido de compreender a 
sua formulação e justificativa para achar possível uma via institucional para a 
transformação do Chile em um país socialista por meio do sufrágio universal. 
 Portanto, a questão central deste trabalho é apresentar como a “revolução chilena” 
foi pensada pelo Partido Comunista do Chile e como essa formulação influenciou no 
programa da Unidade Popular e posteriormente no governo de Salvador Allende. 
Foi com bastante surpresa que nos deparamos com justificativas baseadas nas 
interpretações de leituras de Marx e Lênin e com a refutação de que o projeto não estava 
relacionado com as polêmicas revisionistas. Por isso, no texto, procuramos apenas situar 
algumas similaridades dessa discussão. As fontes também nos foram revelando com 
bastante clareza que o PS, enquanto partido (apesar de haver discordâncias internas 
 18
polarizada principalmente por Allende), não acreditava na possibilidade de uma revolução 
sem armas. 
A “via chilena” ou via não-armada foi uma formulação que propunha a passagem do 
regime capitalista chileno para o socialista a partir da manutenção da institucionalidade, 
sem insurreições ou luta armada, contando com a conquista do poder executivo. Daí, 
aconteceriam mudanças no sistema econômico com a nacionalização de setores da 
produção principalmente daquelas ligadas a extração de minérios (cobre, ferro, salitre), 
seria promovida a reforma agrária, o gasto público com saúde, habitação, educação e obras 
públicas seria incrementado; o setor bancário nacionalizado e, também, haveria a 
substituição do parlamento pela Assembléia do Povo como órgão nacional, ao lado do qual 
seriam criadas ainda outras instâncias de participação popular. Como a mudança do sistema 
capitalista para o socialista dar-se ia a partir da transformação do caráter privado da 
economia e da democratização da estrutura de poder na sociedade e no estado, a “via 
chilena” não previa o estabelecimento da ditadura do proletariado a priori, pois afirmava o 
pluripartidarismo. 
Salvador Allende expôs em entrevista à imprensa chilena o objetivo democrático, 
institucional e a tentativa de unir as forças progressistas. Ele pedia a colaboração de todos 
os setores que estavam decididos a conseguir a superação do atraso, da miséria e do 
sofrimento dos chilenos. Reafirmava que seu governo iria se situar dentro das leis vigentes 
até que se pudesse estabelecer novas leis, assegurando ao país um estado de direito. 
Allende assim se pronunciou no discurso da vitória, no dia 04 de setembro de 1970, 
aos partidários da Unidade Popular, na Federação de Estudantes (FECH): 
 
A Vitória não era fácil, difícil será consolidar nosso triunfo e construir a nova 
sociedade, a nova convivência social, a nova moral e a nova pátria. Mas eu sei que 
vocês, que fizeram possível para que o povo seja governo, terão a responsabilidade 
histórica de realizar o que o Chile deseja para converter a nossa pátria em um país 
inserido no progresso, na justiça social, nos direitos de cada homem, de cada 
mulher, de cada jovem da nossa terra. Não basta falar da revolução. ... Juntos com 
o esforço de vocês vamos realizar as mudanças que o Chile reclama e necessita. 
Vamos fazer um governo revolucionário. A revolução não implica destruir, e sim 
 19
construir, não implica arrasar, e sim edificar; o povo do Chile está preparado para 
essa grande tarefa nesta hora transcendente de nossa vida.1
 
O Partido Comunista toma relevância em nossa pesquisa porque me intrigava muito 
a forma como a formulação do projeto da “via pacífica” vinha sendo discutida pela 
historiografia. O projeto da UP era analisado como um projeto repleto de divergências, mas 
elas eram pouco explicitadas ainda no momento de formulação do projeto da UP, ou eram 
utilizadas apenas para justificar os erros do governo. Pouco se falou nas diferenças internas 
do Partido Socialista, e desse partido com o PC enquanto articuladores de uma nova 
transição ao socialismo; pouco se falou na forma em que uma revolução sem armas fazia 
parte da estruturação ideológica de um partido comunista e de outras questões que 
perpassam essa discussão, sobre a maneira como foi construída a tática do PC, ponto que se 
apresentava como uma de suas características fundamentais e que permitiu em 
determinados momentos um caminho para alianças políticas mais amplas e, até mesmo, a 
consolidação da via não armada em seu programa político. 
O historiador Alberto Aggio2 enfatizava, que apesar do conservadorismo do PC em 
relação à ortodoxia marxista-leninista, não se podia dizer que havia um “seguidismo 
automático do PC chileno em relação aos Partido Comunista da União Soviética”, pois 
desde a década de 1950, os comunistas seguiam uma lógica própria em relação à temática 
de sua via nacional revolucionária, e que o XX Congresso do PCUS acabou por validar a 
estratégia das “vias nacionais”. 
Luis Corvalan, então presidente do Partido Comunista, dizia que os comunistas 
foram os primeiros a propiciar no Chile a via chilena, não a retendo apenas na sua mera 
formulação3. O autor Jorge Arrate dizia que a “força política que teve uma visão mais 
próxima do que era o projeto da UP e a postura frente a esse projeto foi o PC”.4
Estas questões me instigaram ao trabalho da pesquisa: poder dialogar com o objeto 
estudado e nele mesmo encontrar as pistas da discussão sobre o desenvolvimento da 
 
1 QUIROGA,P.(orgs). Salvador Allende – Obras Escogidas 1970-1973.Santiago: crítica,1989, p.57-58. 
2AGGIO, A. Democracia e Socialismo: a experiência chilena. São Paulo:Unesp,1993,p.83. 
3 CORVALAN LEPEZ,L. El gobierno de Salvador Allende.Santiago de Chile:Lom,2003,p.124. 
4 ARRATE, J. Protagonistas y Encrucijadas de la Unidad Popular. In: La Unidad Popular treinta años 
después.Santiago de Chile:Lom,2003,p.145 
 20
possibilidade de construção da via chilena, que foi anterior ao processo de 1970 e de sua 
atuação política durante o governo Allende. 
O Chile, em 1970, estava passando por um processo iniciado mais ou menos há 
quinze anos, de desenvolvimento econômico tecnológico extremamente concentrador e 
excludente. A economia crescia de forma desigual. Em determinados setores crescia de 4 a 
5 %, já no setor moderno, o crescimento chegava a 8%. Esse processo acentuava as 
diferenças regionais, interferindo na estratificação social, na composição de classe e no 
aprofundamento de suas diferenças. Era possível distinguir o proletariado industrial 
moderno do outro tradicional, os setores médios ligados à burocracia estatal dos ligados à 
burocracia privada, sem contar com a presença de uma burguesia moderna, ligada a setores 
de maior concentração e dinamismo da economia. O sistema político chileno5, 
pluripartidarista e com representação proporcional desde 1925, era caracterizado pelo 
presidencialismo. Na década de 60, já era possível observar a divisão dos pólos políticos: a 
esquerda, onde se aliavam comunistas e socialistas; a direita que unia liberais e 
conservadores; e o centro geralmente se encontrava dividido em dois pólos, 
respectivamente o Partido Radical com uma trajetória anti-clero e os Democratas Cristãos. 
Uma observação: nenhum desses blocos sozinhos superava um terço do eleitorado. 
No Chile, a política de coalizão perpassa toda a sua história política, não só nas 
disputas governamentais, mas também nos movimentos sociais. Essas coalizões se dão 
principalmente em articulações polarizadas pela esquerda e com forte caráter de discutir 
programa e projeto político. Podemos dar como exemplo a construção da Frente Popular 
em 1936, a Aliança Democrática em 1946, a Frente do Povo em 1951, a FRAP em 1956, a 
UP em 1970. Cada uma dessas coalizões tem um caráter e uma concepção de aliança que 
acabaria por determinar se dela participariam os partidos do centro e da própria esquerda de 
forma unificada. Para o PC, sustentar, desenvolver e vencer, a revolução deveria contar 
com uma correlação de forças que fosse favorável e se basear em uma ampla política de 
alianças que pudesse incluir acordos e compromissos entre os mais vastos setores 
 
5 Segundo reflexão de Manuel Castells, no Chile, o capitalismo dependente (em relação inicialmente à 
Inglaterra e depois das empresas norte americana) não interferiu de forma decisiva na autonomia política do 
país pelo menos até 1970, já que a grande maioria da população chilena não era requisitada para obtenção dos 
recursos minerais. Isso segundo ele, não quer dizer que não houve constantes interferências na política 
chilena, para inclusive manter sua exploração no setor de minérios, mas que em relação a outros países latino 
americanos foi relativamente pequena a interferência. 
 21
partidários do “progresso social”. Essa política de coalizão seria rompida pelo golpe militar 
em 1973, quando da instalação da ditadura militar. 
A expressão eleitoral do PC, assim como sua inserção social, sofria influência do 
desenvolvimento econômico, social e político. Nas zonas mineiras, onde as condições de 
trabalho eram terríveis havia uma elevada politização dos trabalhadores e uma forte 
tradição do Partido Comunista que nasceu fruto desses movimentos, principalmente nas 
zonas de mineração, a sua atuação eleitoral se destacava. Isso também foi fruto da sua 
proposta política que tinha uma profunda conexão com os conflitos e reivindicações de 
classe produzidos nos setores de extração de minérios e na indústria. 
Assim, o Partido Comunista era bastante enraizado entre os trabalhadores de regiões 
mineiras e industriais. Tinha grande destaque eleitoral nas províncias de Tarapacá, 
Concepción, Arauco Antofagasta e Valparaíso, tendo ainda bom aproveitamento em regiões 
como Atacama, Coquimbo, Santiago e Talca. Já em regiões agrárias como Osorno, 
Valdivia, Chiloé, Cutín, Colchagua, Nuble, Maule e Linhares tinha pouca inserção. 
O PC como resultante da sua atuação política, da sua inserção no movimento dos 
trabalhadores, da sua historicidade, do seu desenvolvimento teórico, acreditava na 
possibilidade da via não-armada para se chegar ao socialismo. Assim, quatro questões 
podem ser ressaltadas como de extrema importância para a formulação do PC: a primeira 
está relacionada com o fato de que o movimento dos trabalhadores mais organizados e 
politizados estarem agrupados em torno de dois partidos marxistas: o socialista e o 
comunista e de ser orientado politicamente pela Central Única dos Trabalhadores, 
diferentemente dos sindicatos de camponeses que se constituíram e foram patrocinados 
durante os governos da Democracia Cristã. A segunda seria a sua possibilidade real de 
aproximação com setores médios e a pequena burguesia, especialmente do setor terciário e 
parte da classe média. A terceira, era o papel das Forças Armadas que tinha um histórico de 
respeito à institucionalidade e a quarta, era a estabilidade política no sentido de respeito aos 
resultados eleitorais. Resumidamente, essas questões seriam fundamentais para a 
elaboração de um caminho em que se considerava possível a revolução para o socialismo 
com pluralismo, democracia e liberdade6. 
 
 
6 GARCES, J,Chile: el camino político hacia el socialismo, Barcelona:Ariel,1972,p.11 
 22
Dividimos nossa pesquisa em três capítulos. No primeiro, o objetivo é realizar um 
resgate da história do PC chileno, sua trajetória desde a filiação à Internacional Comunista, 
de como isso influenciou em sua formulação política, tanto nos caminhos articulados para o 
desenvolvimento da revolução chilena, quanto nos campos teórico e prático. 
Procuramos discutir o fato do Partido Comunista ser filiado à IC, e a sua 
composição social bastante expressiva no âmago do proletariado chileno, e de que modo 
estes aspectos ajudaram a delimitar e a forjar um pensamento comunista voltado para a 
realidade chilena. Por mais que o PC procurasse implementar as políticas apresentadas pela 
IC, sempre criticou algumas das orientações em sua análise, como não condizentes com a 
realidade específica do país. Poderíamos citar, para exemplificar, o fato do PC, em diversas 
ocasiões, procurar consolidar uma aliança ampla entre os partidos políticos, incluindo os de 
centro, por entender que essa tática traduziria a composição social chilena. 
Neste primeiro capítulo ainda, levantamos algumas discussões realizadas no 
importante XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, e os seus 
reflexos para a consolidação, no Chile, da discussão de uma saída não armada para a 
Revolução, inclusive do ponto de vista da fundamentação teórica. 
No segundo capítulo, procuramos refletir sobre como todas aquelas discussões 
anteriores, juntamente com a análise da sociedade chilena, foram fundamentais para a 
formulação do programa do PC de 1969. Esse importante documento, talvez um marco na 
história política chilena, propôs concretamente os caminhos a serem percorridos pela 
revolução, assim como os seus limites e possibilidades. 
É um documento ousado, que transgride muitos conceitos e muitos exemplos de 
revoluções. Ele percorre o limiar de um caminho eleitoral, parlamentar e, ao mesmo tempo, 
que contém rupturas e se apresenta como via revolucionária. 
A política de aliança eleitoral do PC para as eleições de 1970, passa a ser 
intermediado pelo documento de 1969. É baseado nele que o PC negocia a sua aliança 
eleitoral para as eleições de 1970. Assim, este documento torna-se também referência para 
uma proposta de um governo popular. 
Apresentamos, então, as diferenças entre o posicionamento do PC e do PS sobre o 
processo revolucionário que deveria ser engendrado no Chile. São nítidas as diferençasde 
algumas das concepções fundamentais do projeto, o que acabaria por dificultar o 
 23
desenvolvimento das ações do governo Allende. As diferenças começavam pela leitura da 
realidade chilena, passavam pela política de alianças, e ainda, tocavam talvez no que fosse 
a questão principal no projeto do PC: não se acreditava na possibilidade de uma via não 
armada para a revolução no Chile. Tentamos entender como, com tantas diferenças, houve 
a formulação de um programa conjunto, defendido, pelo menos inicialmente, pelo PS e pelo 
PC e levado à população como um novo caminho para o país. 
No terceiro capítulo, propusemo-nos a analisar, a partir de documentos partidários 
do PC, escritos entre 1970 e 1973, o seu comportamento político no cotidiano do governo, 
levando em conta toda sua trajetória anterior e seus desafios para se construir a “via” da 
revolução chilena. 
Para constituir a opinião política do PC, utilizamos como fonte bibliográfica obras 
já escritas por historiadores, cientistas sociais, economistas, etc, documentos partidários que 
relatavam as reuniões políticas do partido, entrevistas com o presidente do PC, o senhor 
Luis Corvalan e com a deputada eleita, em 1972, Eliana Aranivar, além disso, 
acrescentamos músicas, poemas de Plabo Neruda etc. 
As fontes utilizadas, como bem lembra Jacques Ozouf7, são opiniões esclarecidas 
que quiseram exprimir-se por escrito e de conhecimento público. A ideologia política, no 
caso do PC, unificava sujeitos, grupos sociais, frações de classe em torno de uma série de 
aspirações, idéias, prática política, conferindo uma identidade a este grupo. Apresentamos o 
ideário político de um partido, construído a partir de seus sujeitos sociais, conferindo ao 
espaço político como um lugar de conflito e de disputas pelo poder. 
A história política aqui em questão, não está restrita à organização partidária ou à 
instituições do estado, mas apresenta-se no seu sentido amplo, na compreensão dos 
conflitos dos seus sujeitos sociais, as diferentes raízes, a relação do ser social com sua 
consciência e identidade, resultando na prática política. A partir do nosso sujeito, o PC, que 
ao mesmo tempo é composto por sujeitos sociais com vivências particulares e coletivas, é 
que vamos analisar os escritos e discuti-los em relação à via chilena. 
Assim, propomos que este trabalho seja visto como a releitura de um determinado 
fato histórico, com a intenção de reconstituir a memória e opiniões de um partido que 
 
7 OZOUF,J. A opinião pública. IN: História: Novos Objetos, Rio de Janeiro: Francisco Alves,1998,pp.186-
198. 
 24
participou dos debates, tensões e decisões da formulação e desenvolvimento da via chilena. 
Cabe grifar: esse partido se apresenta como o primeiro a levantar a possibilidade de uma 
revolução sem armas no país. 
Além dos documentos escritos, também utilizamos como fonte a memória oral, a 
partir da metodologia da história oral. Isso foi feito para se obter, por meio de 
documentação oral, pontos de vista diferentes ou recuperar questões que os documentos 
escritos pudessem estar omitindo ou desprezando. Buscamos resgatar do esquecimento a 
memória de duas pessoas importantes para o processo estudado: Luís Corvalan Lepez, 
secretário geral do PC e Eliana Aranivar, jovem deputada do PC de então. 
Os desafios não foram poucos, mas de inegável significação para a compreensão das 
lutas sociais contemporâneas e o papel da esquerda nos processos revolucionários. 
 
 
 
Trajetória da Pesquisa 
 
 
A paixão pela história latino-americana foi algo despertado pelos professores da 
graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Apesar das dificuldades, 
principalmente o acesso às fontes de estudos em outros países, senti-me mais e mais 
desafiada a estudar a experiência chilena. 
Desta maneira, a aproximação do tema escolhido ocorreu em 2000, por ocasião de 
uma participação em um seminário realizado na Universidade Federal de Goiás. A partir 
daí, iniciou-se a trajetória de pesquisas e leituras que culminou no trabalho de monografia 
para a conclusão do curso de graduação e, posteriormente, nessa dissertação de mestrado. 
No final das minhas leituras ainda no ano de 2000, sentia-me intrigada pela maneira 
de como alguns autores apresentavam a forma como havia sido pensada a “via pacífica”. 
Mostravam-na em suas diferenças somente a partir das crises institucionais, ou seja, depois 
do governo Allende já eleito; ou tratavam-na de modo a dar pouco relevo aos outros 
partidos que não fosse o PS. 
 25
Ficava, por isso, o questionamento de como um Partido Comunista que se dizia não 
revisionista, pudesse se envolver com um projeto tão inusitado e novo para o movimento 
comunista, pois que negava os preceitos de um processo revolucionário de acordo com 
Marx e Lênin. 
Para responder a essas indagações era preciso perpassar por questões e discussões 
levantadas pelos comunistas e, com surpresa, percebi estar diante de um dos principais 
formuladores da possibilidade de desenvolvimento pacífico para a revolução. 
Assim, com o desafio de tentar analisar a via chilena a partir do olhar do PC, 
obstáculos foram surgindo. À princípio, questionamentos sobre o aspecto de que o tema já 
era muito estudado, apesar de que nas pesquisas feitas o PC não recebeu relevância de 
protagonista. Ainda o constante desafio de desvendar as pistas que me levariam às fontes. 
Mas como o historiador tem uma ligação essencial com os arquivos, foram eles, já aqui em 
São Paulo, que me fizeram aproximar dos primeiros documentos. E, então, quanto mais me 
debruçava sobre eles, maior a certeza da riqueza deste tema e da necessidade de ir ao Chile 
para uma visita investigativa. 
 Em oportunidade única, consegui chegar ao destino do meu objeto. Pude ir aos 
Arquivos da Biblioteca Nacional, da Fundação Salvador Allende, às casas de Pablo Neruda, 
ao palácio La Moneda, mas não consultei todo o arquivo do PC, porque estava fechado em 
decorrência de reformas na sede do Instituto de Ciências Alejandro Lipschutz. Mesmo 
assim, alguns comunistas responsáveis pelo acervo puderam me emprestar alguns 
documentos para fotocopiá-los. Entretanto, muitos dos Boletins, Atas, documentos em 
geral foram destruídos pela ditadura militar de Pinochet. 
 Ainda em Santiago, pude conversar e entrevistar Luís Corvalan Lepez, secretário 
geral do PC no período estudado e Eliana Aranivar, jovem deputada eleita pelo PC, no 
governo Allende. 
 Tive contato com livros, pesquisas, músicas, com a realidade da esquerda chilena 
(muito diferente da brasileira), que muito me ajudaram a pensar sobre a peculiaridade dos 
processos políticos latino-americanos. 
 Nos materiais trazidos estão discos, livros de historiadores e sociólogos chilenos e 
sobretudo, documentos do PC. Por meio deles, inteirei-me das discussões apresentadas na 
revista La Izquierda Chilena (cerca de seis volumes) e em parte dos Boletins Informativos, 
 26
datados de 1969 a 1973, cujo volume com o registro das discussões corresponde ao ano de 
1972, ano em que as articulações da direita para derrubar o governo ganharam grandes 
proporções. 
 Essas fontes foram me revelando um lado formulador e conciliador do partido 
enquanto sujeito histórico ainda pouco explorado no Brasil, e que daí em diante tornou-se 
para mim um desafio. 
 Essa pesquisa também se dá num momento importante para história chilena, já que 
o governo dá mostras de que quer apurar as atrocidades cometidas durante o regime militar. 
Segundo o presidente Ricardo Lagos, pedir desculpas em nome do Estado às pessoas 
torturadas e aos familiares daquelas que morreram é pouco. O principal para ele é certificar 
de que esse tipo de coisa nunca mais aconteça no Chile. Uma longa batalha judicial para 
identificação das vítimas, dos métodos de tortura, assim como a punição dos culpados 
(incluindo Pinochet) e indenizaçõesdaqueles que sofreram com a ditadura, está ocorrendo 
no país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 27
 
CAPÍTULO I – O PROJETO DA VIA CHILENA DO PARTIDO COMUNISTA 
CHILENO: “NEM REVISIONISMO, NEM EVOLUCIONISMO, NEM 
REFORMISMO, NEM CÓPIAS MECÂNICAS” 
 
 
 
 1.1 – Algumas considerações sobre a história chilena 
 
O Chile teve proclamada sua independência em 18 de setembro de 1810. Apesar de 
proclamada, os espanhóis contra-atacaram e enviaram tropas para tentar recuperar o 
território chileno. Após inúmeros combates, em 1814, os espanhóis acabaram vitoriosos e, 
por isso contaram com a ajuda de setores conservadores das elites e também de alguns 
grupos indígenas. Somente em 1817, houve uma contra ofensiva que terminou em 1818, 
expulsando definitivamente os espanhóis. O Chile passou, então, pelo que o sociólogo Emir 
Sader8, chama de período de anarquia, até a construção do aparelho de Estado nacional e do 
sistema político do país. 
Neste período, chamava-se de república conservadora, período que se estendeu de 
1830 a 1860 e foi gestada pelo ministro Diego Portales. O direito de voto era limitado aos 
proprietários de terras e a economia caracterizada como agrária de exportação. Sader ainda 
afirma, que os objetivos dos governos conservadores no Chile, foi o de “pacificar” o país e 
ainda desenvolve-lo a partir da atração de capital estrangeiro. 
Os recursos minerais sempre tiveram papel importante na economia chilena, seja na 
conquista e colônia com o ouro e a prata, seja nos séculos XVIII e XIX com o cobre. A 
produção e exportação desses minérios e principalmente de salitre, modificou o caráter da 
economia chilena. 
Segundo Patrício Meller9, a história econômica do Chile sempre foi marcada pela 
exportação de matéria prima sob controle estrangeiro. Entre 1880 e 1930, as exportações de 
salitre eram a principal fonte econômica do país e estava dominada pelo capital britânico. 
 
8 SADER, E.Chile (1818-1990) Da independência à redemocratização. São Paulo:Brasiliense,1991,p.15 
9 MELLER, P. Um siglo de economia política chilena – 1890-1990.Santiago de Chile:Andrés Bello,1998,p.21 
 28
Entre 1940 e 1971, o cobre era o principal produto de exportação e as principais minas 
eram de propriedade norte-americana. 
O ciclo do salitre no Chile durou de 1880 e 1930, tendo suas grandes reservas nas 
províncias de Tarapacá e Antofagasta, que só foram pertencer ao Chile após a Guerra do 
Pacífico (1879-1884). A exploração, em grande escala, estava sob controle majoritário dos 
britânicos. 
O fácil acesso ao mar possibilitou ao Chile tornar-se o maior produtor também de 
nitrato, já que sua grande concentração estava ao norte. Entretanto, o salitre sem dúvida 
alguma era o principal produto exportado, sendo em 1890 o responsável, sozinho, pela 
metade das exportações chilenas até a primeira Guerra Mundial. 
O governo chileno passou a participar da produção salitreira, por meio da tributação 
das exportações, o que possibilitou o gasto público com obras de infraestrutura e 
educação10. 
Foi justamente no período de Guerra Mundial e com a Grande Depressão que as 
exportações caíram substancialmente. A crise afetou a economia chilena, totalmente 
dependente não só do mercado externo, mas de todo o processo da produção, desde técnicas 
específicas como conhecimentos bancários e de comercialização, questões operacionais e 
administrativas etc, dominados por empresários estrangeiros. 
Para o autor Patrício Meller, parece estar claro que para o governo chileno, a 
principal política do governo em relação ao setor de salitre foi o de extrair o excedente 
através da tributação. O auge das exportações possibilitou um grande impulso ao setor 
externo, transformando as estruturas fundamentais da economia inclusive no setor de bens 
de consumo, mas esse desenvolvimento dependia de mercado e tecnologia estrangeira. 
O cobre passa a ser explorado em grande escala, tornando-se um dos principais 
produtos de exportação, a partir de 1920 a 1971. A produção vinha de inúmeras minas 
pequenas, com baixa tecnologia e grande exploração do trabalho humano. As empresas 
norte americanas iniciaram sua exploração, a partir de 1904, na maior mina subterrânea do 
mundo, El Teniente e na maior mina a “céu aberto” do mundo, Chuquicamata. As empresas 
 
10 Para se ter uma idéia, o número de estudantes da escola básica aumentou de 18.000 para 157.000; as 
ferrovias públicas passaram de 1.106km em 1890 para 4.579 km em 1920, diminuindo o percentual em 
relação às ferrovias sob controle estrangeiro: em 1890 chegava a 60% e em 1920 a 44%. Para mais 
informações ver MELLER, 1998. 
 29
estrangeiras detinham tecnologia moderna para a exploração do cobre, e, além disso, capital 
suficiente para esperar a lucratividade da exploração, pois esta não vinha de imediato. Para 
se ter uma idéia do retorno obtido pelas principais companhias norte americanas na 
exploração do cobre, a Anaconda e a Kennecott, apresentamos o quadro abaixo com uma 
comparação entre o retorno para o Chile e para o resto do mundo. Não foi por acaso que 
durante o governo Allende, essas duas empresas patrocinaram os boicotes ao governo 
socialista. 
 
TABELA 1 : Inversão e taxa de retorno das Companhias norte americanas multinacionais 
de cobre – Anaconda e Kennecott, 1945-1965 
 
 Retorno sobre ativos (media anual %) Inversão (total do período US$ milhões) 
 
 Chile Resto do mundo Chile Total Mundial 
1945-50 - - 35 195 
1950-55 19,0 9,0 115 344 
1955-60 25,9 9,5 168 519 
1960-65 14,8 4,8 82 422 
Fonte: Meller, p.39 
 
Foi apenas em 1960, portanto quase quarenta anos após o início do chamado “ciclo 
do cobre”, que o governo chileno começou a utilizar mecanismos para incrementar sua 
participação na produção do cobre. Aumentaram os impostos à produção da Grande 
Mineração de Cobre (GMC), o que possibilitou na captação de 61% das utilidades brutas 
das exportações, aumentando inclusive as negociações entre governo e firmas norte-
americanas. 
A tributação continuou sendo o principal mecanismo de participação do governo na 
produção do cobre realizado pelas empresas estrangeiras, o que tornava cada vez mais 
frágil a economia chilena. Toda técnica de produção era praticamente desconhecida pelos 
chilenos. Mesmo com a criação em 1955 do departamento do cobre, que buscava fiscalizar 
as operações das firmas norte-americanas da GMC, o que acabou gerando um corpo de 
 30
profissionais chilenos como engenheiros, economistas, advogados, contadores, etc, que 
analisavam as informações econômicas, mas tinham pouco acesso às informações vitais da 
produção. 
A crise ocorrida durante as guerras mundiais e a grande depressão ajudou a 
demonstrar como a economia chilena era vulnerável, e seu conjunto de implicações, era 
determinada pela conveniência da economia norte americana. Entretanto, os reflexos da 
crise no Chile, ajudaram o desenvolvimento interno, ou seja, a industrialização interna 
passou a ser o principal fator para o desenvolvimento da economia nacional, baseada no 
crescimento e na substituição de importação. A indústria manufatureira teve grande 
destaque, chegando ao índice de 24% na participação econômica, em 1970. Essa estratégia 
de substituição de importação como instrumento de desenvolvimento nacional foi muito 
criticada nos anos sessenta porque não estava se apresentandocomo alternativa à 
dependência da economia em relação ao setor externo. 
Anterior ao ciclo do salitre, o regime econômico era uma mescla de oligarquia 
latifundiária e mercantilista. A oligarquia agrária controlava o governo e a maior parte da 
população vivia em áreas rurais. Durante a expansão do salitre, a influência econômica da 
agricultura começou a diminuir e os impostos das exportações de salitre aumentaram a 
capacidade e tamanho organizativo do Estado. 
Em 1883, criou-se a Sociedade de Fomento Fabril (SOFOFA), que utilizou desde o 
princípio sua influência política para proteger indústrias nacionais incipientes. Alguns dos 
novos empresários eram estrangeiros (imigrantes) vinculados a bancos estrangeiros. Mas a 
maior parte eram capitalistas nacionais cuja riqueza vinha do minério ou da agricultura e 
mantinham laços estreitos com a oligarquia agrária. O Estado, para Meller11, durante o 
melhor período de produção salitreira, agiu como intermediário entre estrangeiros e a 
sociedade chilena, se utilizando para captar excedentes das exportações e ainda gerar 
empregos executivos para classe média. 
Apenas em 1939, o governo apresentou a proposta de criar a Corporação de 
Fomento da Produção (CORFO) que foi a primeira instituição pública no país que contava 
com recursos para financiar atividades de inversão. Os empresários industriais estavam de 
acordo com o papel mais ativo que o Estado estava tomando em relação a proteção da 
 
11 MELLER, op.cit.,p.56 
 31
produção nacional e estavam de acordo com a maturação de um programa nacional de 
desenvolvimento. Entretanto, eram contra a criação de empresas estatais. As oligarquias 
apoiaram a criação da CORFO, mas sob a promessa de que o governo não pressionaria a 
criação de sindicatos na agricultura. 
A CORFO foi tornando assim, o principal instrumento para promover o crescimento 
através de políticas de desenvolvimento. Foram criadas as principais empresas estatais, 
como a ENDESA (Empresa Nacional de Eletricidade - 1944), CAP (Companhia de Aço do 
Pacífico – 1946), ENAP (Empresa Nacional de Petróleo – 1950), IANSA (Indústria 
Açucareira Nacional – 1952) e durante o período de 1939 a 1973 dominou a vida 
econômica chilena através da inversão direta em suas empresas estatais. Segundo dados 
apresentados por Meller, a CORFO entre 1939 e 1954 controlava 30% da inversão total em 
bens de capital, mais de 25% da inversão pública e 18% da inversão bruta total.12 
Assim, aos poucos, durante os anos de 1940 a 1970, o Estado chileno adquiriu um 
caráter de impulsor do crescimento econômico, aplicando reformas sociais de caráter 
diverso, deixando nítido algumas das grandes contradições do processo de desenvolvimento 
chileno, ou seja, uma grande e rápida evolução política e um lento desenvolvimento 
econômico que refletiria na melhoria das condições de vida de grande parte da população 
chilena. 
Sintetizando, Meller13 define a trajetória do Estado chileno durante os anos de 1940-
1970 inicialmente, como “um Estado – promotor, que proporcionava o crédito para a 
inversão industrial privada; logo Estado-empresário, através das empresas estatais; e 
finalmente Estado-programador, que definia o horizonte de largo prazo do padrão chileno 
de desenvolvimento e especificava aonde devia ir a inversão futura, fosse pública ou 
privada, utilizando incentivos especiais de crédito impostos e subsídios”. 
Durante a maior parte do séc. XIX, a economia chilena é fundamentalmente 
agrícola. Até 1930, a população rural é superior que a urbana. Na agricultura predomina o 
latifúndio que estabelece relações sociais de forma semi-medieval: existe o senhor-patrão 
dono da terra, latifundiário e os inquilinos ou campesinos que produzem as terras do patrão. 
Estão isolados da vida urbana, cultural, educacional e política e ainda possuem um nível de 
 
12 MELLER, op.cit.,p.59 
13 Ibid.,p.59 
 32
vida bastante precário. A estrutura social do Chile se estabeleceu sobre bases agrárias. A 
vida no campo era difícil e organizada para manter o poder dos latifundiários, não tendo os 
trabalhadores direitos, mas apenas deveres. 
O latifúndio dificultava o desenvolvimento econômico, social e político do Chile. 
No econômico, utilizava-se tecnologia primitiva para a exploração da terra. Devido aos 
baixos salários não havia incentivos para a introdução da tecnologia moderna; no social, era 
um regime semipatriarcal e no político, uma reduzida oligarquia latifundista controlava a 
grande massa dos campesinos. Menos de 10% dos proprietários eram donos de 90% da 
terra. 
Segundo Patrício Meller, a questão agrária na metade do século XX podia se 
resumir da seguinte forma: das 400.000 famílias campesinas, 5% eram donas dos grandes 
latifúndios; 3% era minifundista; 30% era proprietária de fundos de tamanho mediano e 
35% não tinham terras. 
O setor agrícola, o que menos crescia no Chile, apresentava uma taxa decrescente de 
geração de emprego, com a produtividade em baixa, sendo necessário importar produtos 
agrícolas. 
Os trabalhadores urbanos também possuíam sérios problemas, pelo crescimento 
acelerado das populações urbanas, gerando problemas habitacionais. Em 1910, 25% da 
população (cerca de 100 mil pessoas) viviam em cortiços. A taxa de mortalidade infantil 
chegava a 30%. Até 1920, as condições de trabalho eram precárias: não havia convênios 
coletivos, todos os acordos eram individuais e verbais; não existia indenização por 
acidentes, nem normas de higiene e segurança nas minas e nas fábricas, não havia jornada 
máxima de trabalho regulamentado, não era obrigado ter o descanso aos domingos, e o 
trabalho infantil representava 8,5% do emprego total em 1908. 
As primeiras greves surgem depois de 1880. Mais tarde, a questão social se 
transforma na bandeira de luta dos partidos de esquerda, não aceitando uma legislação 
reformista como solução definitiva. Alguns acreditavam que a industrialização por si só 
levaria o Chile ao desenvolvimento. De 1830 a 1920, prevalece no Chile o domínio de um 
grupo ligado a terra, conservadora e católica. 
A direita defendia o estabelecimento do que chamavam de voto plural, onde 
algumas pessoas que tinham determinadas condições sociais deveriam ter direito a mais de 
 33
um voto; defendiam a propriedade privada sem limitações; a intervenção do estado na 
economia seria admitido apenas para defender a propriedade privada; e ainda achavam que 
a pobreza era algo inevitável e até natural. 
A partir de 1920, com o investimento do Estado oriundo das taxas de exportação do 
setor de minérios, a classe média vai obtendo maior espaço na vida política do país. Neste 
mesmo ano, começa a gerar um desequilíbrio crescente entre a incorporação de grupos 
sociais ao processo político e o lento melhoramento econômico de parcela da população. 
Há um aumento significativo no número de votantes nas eleições, fruto do lento processo 
de urbanização e da maior pressão exercida por grupos sociais menos privilegiados. 
Considerando a população em idade para votar, o percentual de votantes era igual ou 
inferior aos 9%. O aumento do poder político do centro traz um aumento representativo no 
número de votantes atingindo14 15%, principalmente com sua vitória eleitoral em 1938, do 
centro e com o reconhecimento do voto feminino em 1947, os chilenos se sentem 
estimulados a irem às urnas votarem, diminuindo o poder político da direita, ou daqueles 
latifundiários que costumavam fazer alianças entre si e ainda utilizar atributos familiares 
para escolherem ministros, parlamentares, etc. É neste contexto que se associa o 
desenvolvimento econômico com a expansão dos partidos do centro e da esquerda. 
 
TABELA 2: Quadro de votantes e população chilena (mil pessoas) 
 
Participação relativa de votantes em 
 Pop. total Pop. em idade de votar VotantesPop. total Pop. em idade de votar 
 (1) (2) (3) (%) (%) 
 (4)=(3)/(1) (5)=(3)/(2) 
1870 1.943 919 31 1,6 3,3 
1876 2.116 1.026 80 3,8 7,8 
1885 2.507 1.180 79 3,1 6,7 
1894 2.676 1.304 114 4.3 8,7 
1915 3.530 1.738 150 4,2 8,6 
1920 3.730 1.839 167 4,5 9,1 
1932 4.425 2.287 343 7,8 15,0 
 
14 MELLER, op.cit.p,101. 
 34
1942 5.219 2.666 465 8,9 17,4 
1952 5.933 3.278 954 16,1 29,1 
1958 7.851 3.654 1.236 15,7 33,8 
1964 8.387 4.088 2.512 30,0 61,4 
1970 9.504 5.202 2.923 30,8 56,2 
1989 12.961 8.240 7.142 55,1 86,7 
Fonte: Meller,p.102. 
 
 
TABELA 3: Quadro dos resultados eleitorais parlamentares chilenas durante o período de 
1912 a 1969 (em percentuais) 
 
 Direita Centro Esquerda 
1912 75,6 16,6 0,0 
1918 65,7 24,7 0,3 
1921 54,6 30,4 1,4 
1925 52,2 21,4 0,0 
1932 32,7 18,2 5,7 
1937 42,0 28,1 15,3 
1941 31,2 32,1 28,5 
1945 43,7 27,9 23,0 
1949 42,0 46,7 9,4 
1953 25,3 43,0 14,2 
1957 33,0 44,3 10,7 
1961 30,4 43,7 22,1 
1965 12,5 49,0 29,4 
1969 20,0 36,3 34,6 
 
Fonte: Meller,p.102 
 
 Assim, ainda segundo análise de Meller, a expansão dos partidos do centro e de 
esquerda estão relacionadas com a forma de desenvolvimento e com o papel protagonista 
 35
que o Estado foi adquirindo, principalmente quando nota-se que o setor público vinculado 
ao Estado constitui base importante de apoio para o centro, enquanto os trabalhadores 
mineiros se tornam base de apoio da esquerda, e os latifundiários para a direita. 
 A concentração econômica e de propriedade no Chile continuava atingindo índices 
altíssimo. Em 1965, 2% das propriedades englobavam 55,4% da superfície. No setor 
mineiro, o controle estava sob direção de três companhias estrangeiras que dominavam a 
produção do cobre. Em 1963, 3% dos estabelecimentos industriais controlavam 51% do 
valor agregado, 44% da ocupação e 58% do capital de todo o setor. Das 271 sociedades 
anônimas os dez maiores acionistas controlavam pelo menos 50% da propriedade e em 230 
delas. No setor de comercialização atacadista12 firmas distribuidoras controlavam 44% das 
vendas em 196715. 
 Como resultado das características econômicas chilenas, estava a concentração da 
renda: em 1970, 25% da população encontrava-se em condições de extrema pobreza, sendo 
que dois terços viviam em área urbana. Segundo Bitar, os 10% mais pobres da população 
recebedora de renda receberam em 1967 1,5% da renda total, enquanto que os 10% mais 
ricos obtiveram 40,2%.16 Assim, conclui Bitar, a distribuição desigual da renda reforçava o 
círculo automantido: concentração econômica, concentração da propriedade e concentração 
de renda. 
 Ele destaca ainda que inclusive a industrialização chilena foi moldada pelo padrão 
de industrialização dos Estados Unidos, com a expansão acelerada das grandes corporações 
transnacionais do setor industrial. O predomínio tecnológico e financeiro das empresas 
internacionais possibilitou a imposição de formas de produção e de consumo, o que 
significava que o setor industrial não era um componente com dinâmica própria, mas um 
apêndice do sistema internacional. Esta característica resultou na elaboração e produção de 
produtos de consumo duráveis destinados aos grupos de maiores renda, inserindo assim, 
apenas uma parte pequena da população ao consumo médio de países desenvolvidos. 
 Passando rapidamente por dois governos anteriores ao de Allende, podemos 
destacar a vitória de Jorge Alessandri (1958-1964) com apoio da direita, e com um 
programa que dava prioridade ao controle da inflação e para o crescimento econômico 
 
15 BITAR, S.Transição, Socialismo e Democracia. Chile com Allende.São Paulo: Paz e Terra,1989, p.34 
16 Ibid.,p.35. 
 36
como forma de erradicar a pobreza. O governo de Eduardo Frei (1964-1970), democrata 
cristão, foi eleito com um programa que propunha reformas estruturais básicas, como a 
reforma agrária e a participação chilena na propriedade da GMC. A proposta era crescer 
para redistribuir. Foi em seu governo que houve a compra de 51% das minas de El Teniente 
e Chuquicamata, iniciando o processo que foi chamado pelo governo de “chilenização” da 
GMC. Esse fato gerou muitos protestos por parte da esquerda, já que entendiam que o Chile 
não deveria comprar as minas, mas sim tomar posse das riquezas do país, já que durante 
muitos anos tais empresas tiveram lucros muito altos, o que já compensaria a destituição 
dos territórios no momento. Frei também inicia o processo de reforma agrária, prometendo 
a industrialização da produção no campo e promove a sindicalização dos camponeses. 
 Nesta perspectiva de aprofundamento das contradições entre as classes sociais, da 
organização dos trabalhadores, fortalecimento dos partidos de esquerda e da expansão das 
atividades econômicas do estado, com o aumento da intervenção estatal, mas ao mesmo 
tempo com uma dependência alarmanteem relação aos norte-americanos, houve a tentativa 
de se formar a Unidade Popular em 1970, precedida por três alianças políticas importantes: 
a Frente Popular em 1938, com a coalizão entre os Partidos Radical, Comunista e 
Socialista, atingindo a vitória eleitoral, mas fracassando em seu projeto; a Frente do Povo, 
em 1952, que agrupou o PC parte do PS e o Partido Democrático, que lançaram pela 
primeira vez a candidatura de Allende; e a Frente de Ação Popular (FRAP), criada em 1956 
no qual faziam parte os partidos socialista e comunista, lançando Allende também em 1958 
e 1964. Diferenças à parte de cada uma dessas coalizões, o importante é observar como o 
desenvolvimento econômico, político e social foi gerando características e dinâmicas 
importantes que iriam, aos poucos, desenvolvendo a possibilidade de se pensar um outro 
projeto, que pudesse romper com as características desenvolvidas historicamente, algo 
alternativo ao que as elites apresentavam ao Chile. 
 A avaliação principal que os partidos que se aglomeraram em torno da UP faziam 
era de que a concentração econômica, da propriedade e a penetração estrangeira, deixavam 
o poder em mãos de poucos, principalmente dos centros estratégicos de decisão. A relação 
entre poder econômico e poder político dava origem a um núcleo que reproduzia a situação 
atual do país. O predomínio tecnológico e financeiro das empresas internacionais deram a 
elas o poder para impor formas de produção e de consumo. Era preciso romper com essa 
 37
lógica e, para isso, segundo o PC, somente um novo sistema econômico e político: o 
socialismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 38
1.2 - A fundação do Partido Comunista Chileno e suas primeiras dificuldades teóricas 
e práticas 
 
Neste capítulo, pretendemos abordar a questão do ideário político do Partido 
Comunista Chileno, especificamente como foi formulado e pensado o projeto da via chilena 
ao socialismo, e de que maneira se tornou um projeto da Unidade Popular, levada com 
muita convicção pelo Partido Comunista e também por Salvador Allende durante seu 
governo em 1970. 
O local e as forças sociais que participam desse partido desde a sua criação vão 
estabelecer ou pelo menos delinear seu ideário político, tornando-se, por isso muito 
importante analisar as condições, desde o surgimento do Partido dos Operários, que 
posteriormente, se transformaria no Partido Comunista. É a partir daí, efetivamente, que os 
ideais desse partido vão começar a se traduzir em ação concreta e com um objetivo maior 
do que apenas melhorar as condições de vida dos trabalhadores. 
O Chile, pelo menos de 1891 aos anos seguintes da Primeira Guerra Mundial, é 
marcado por uma economia oligárquica e mono exportadora, sustentada principalmente 
pela exportação do salitre. Sua estrutura social era extremamente polarizada e 
hegemonizada por uma forte oligarquia e excludente dos setores médios e baixos. O Chile 
era “civilizado para consumir e primitivo para produzir”.17
Este modelo econômico no qual o Chile estava inserido, entrou em crise na Primeira 
Guerra Mundial, o que proporcionou um contexto de mudanças na realidade política e 
econômica. Na política, houve a emergência de novos sujeitos sociais como a classe média 
e trabalhadora, o fim do regime parlamentar e das formas tradicionais das oligarquias. Na 
economia, principalmente depois da crise de 29, o Chile passou a desenvolver-se “para 
dentro”, empenhado em um projeto de industrialização, de substituição de importação e da 
implementação de um capitalismo regulado que previa a intervenção do Estado. No social, 
a classe alta foi se modernizando, os setores médios e os trabalhadores passaram a se 
organizarem melhor, o que fortaleceu sua capacidade de negociação dentro do sistema. No 
plano internacional, se configurava sua dependência em relação aos Estados Unidos. 
 
17 PINTO, A. Et al. Chile Hoy. México: Siglo XXI,1970,p.17 
 39
A população rural chilena passa a migrar para as cidades e o fenômeno de 
urbanização e industrialização se acentua. Muitos homens e mulheres abandonam o campo 
e se desligam do regime agrário em busca de melhores expectativas e salários. As grandes 
cidades e centros urbanos aumentam a sua população. Com isso, o proletariado também 
cresce, como resultado da intensificação do comércio, do estabelecimento de novas 
indústrias e do desenvolvimento existente. Esse aumento da classe trabalhadora significa a 
diminuição dos camponeses e o crescimento da classe média18. 
Nesta época, no início do século XX, como no Chile não existia uma legislação 
nacional sobre o trabalho, os empregados se sujeitavam aos abusos e à exploração da sua 
força de trabalho. Foi, então, que eles sentiram a necessidade de se organizarem para 
expressar suas opiniões, para lutarem contra as péssimas condições de trabalho, contra os 
baixos salários, em defesa da criação de uma legislação que favorecesse o trabalhador 
dentre outras reivindicações. 
Essas organizações de trabalhadores e os novos partidos políticos tornaram-se 
referência desta época, como por exemplo, a “Federação Operária de Chile”, FOCH, 
fundada em 1919 e que, em 1922, registrava cem mil filiados. 
Nesse período, pode-se apontar como características da estrutura social chilena: o 
deslocamento demográfico da população para as províncias centrais; aumento da 
imigração, sobretudo, latino-americano; a polarização das classes sociais; a debilidade do 
poder executivo; a penetração do capital inglês e norte-americano na exploração mineira; a 
decadência da produção agropecuária e déficit alimentício; a organização do movimento de 
trabalhadores, etc. 
A nova dinâmica na economia chilena causou reflexos profundos em todos os 
aspectos da sociedade, inclusive o ideológico. Com isso, os trabalhadores passaram cada 
vez mais a se organizarem em sindicatos e partidos para lutarem por melhorias nas 
condições de trabalho e de vida. Foi um período de intensas greves, rebeliões e como 
resposta, o uso da violência por parte dos patrões e dos governos ligados às oligarquias. 
Não havia leis que dessem garantias aos trabalhadores. 
Em 1907 existiam relatos de episódios de violência, profundamente brutais, em 
decorrência de manifestações dos trabalhadores ligados à produção do salitre: 
 
18 CASTELLS, M. La lucha de clases em Chile.Argentina: Siglo XXI,1974, p.10 et seq. 
 40
 
Uma manhã, de imediato, 20.000 grevistas das oficinas de salitre do árido pampa 
desceram pelas dunas amareladas até Iquique e tomaram a cidade. Não havia 
tropas disponíveis para fazer frente à situação. Os cidadãos estavam condenados a 
serem assassinados e se ia incendiar a cidade de forma simultânea, em vários 
lugares diferentes. Neste momento foram enviados mais tropas por um barco 
Iquique, mandadas por um oficial de grande decisão. Os militares anunciaram que 
abririam fogo as 4 horas se não se dispersassem. Deram mais cinco minutos para 
retirarem-se e logo começou o zumbido da metralhadora. Em poucos momentos se 
amontoaram mortos e feridos. Houve 200 mortos e 300 feridos e o resto escapou 
através das dunas.19 
 
 
É neste contexto de lutas sociais e mudanças nas características econômicas do 
Chile que, no mês de junho de 1912, em um lugar conhecido como “El Despertar de los 
Trabajadores” (que era o local onde funcionava um periódico homônimo) reúnem-se mais 
ou menos trinta pessoas encabeçadas pelo líder Luis Emilio Recabarren Serrano20, para 
fundar um partido político da classe trabalhadora, denominado Partido Operário 
Socialista.21. 
 Neste mesmo ano, é publicado o primeiro programa e estatuto desse Partido22 que 
explicitava seu objetivo: 
 
O Partido Operário Socialista expõe que o fim de suas aspirações é a emancipação 
total da humanidade, abolindoas diferenças de classes e convertendo a todos em 
 
19 GODOY, H. Estructura social de Chile.Santiago de Chile:Universitária,1971,p.260. 
20 Luis Emilio Recabarren Serrano era tipógrafo e em 1894 ingressa no Partido Democrata, única organização 
política popular na época. Em 1906 é eleito deputado por Antofagasta, é perseguido politicamente por ser 
dirigente do sindicato Macomunal de Tocopilla e por escrever no periódico “La Democracia”. Vai para 
Argentina e tem contato com o Partido Socialista da Argentina e com o movimento sindical. 
21 Segundo o autor Ivan Ljubetic Vargas, o Chile no seu processo de Independência, em 1810-1818, rompeu 
com a dependência do sistema colonial espanhol. A partir daí, houve uma intensa organização e mudança no 
sistema econômico e social. Aumenta-se a produção para melhorar a exportação com a Europa e os 
trabalhadores, agora livres vão se constituindo enquanto uma nova classe social. Em 1850, são mais ou menos 
trinta mil trabalhadores no Chile. Em 1900, o Chile tinha uma população por volta de 3 milhões de habitantes 
dos quais duzentos e cinqüenta mil eram trabalhadores. Segundo o autor, essas condições fazem com que, já 
em 1900, crie-se a primeira organização sindical: A Mancomunal de Operários do Chile. 
22 VARGAS, I. Breve História Del Partido Comunista de Chile,p.12 
 41
uma só classe de trabalhadores, donos do fruto do seu trabalho, livres, iguais, 
honrados e inteligentes, e a implantação de um regime em que a produção seja um 
fator comum e comum também ao prazer de seus produtos.23
 
 
 Assim, a dura exploração do proletariado mineiro, que segundo Castells24, estavam 
geograficamente e socialmente concentrados e foram influenciados por correntes 
ideológicas revolucionárias, tiveram papel decisivo para a formação do POS e 
posteriormente do PC. Esse proletariado, em seus diversos setores (minas de ferro, carbono, 
prata etc) em algumas regiões do país desenvolveu uma classe trabalhadora diferenciada e 
combativa. Esse movimento se estabeleceu desde o primeiro momento dentro de uma 
acirrada luta de classe e com uma forte luta ideológica entre as diversas tendências 
comunistas, socialistas, anarquistas trotskistas, etc. Esses trabalhadores fizeram numerosas 
greves e foram objeto de muitas repressões por parte do estado, sob o controle da 
oligarquia até 1920. 
 Em março de 1919, é fundada a III Internacional Comunista25 (IC). Em janeiro de 
1922 o POS aceita as condições para participar da IC e modifica seu nome para Partido 
Comunista de Chile26, já que desde a revolução soviética já se mostrava simpatizante 
 
23 VARGAS.,op.cit.,p12. 
24 CASTELS, M., op.cit,p.129. 
25 A III Internacional Comunista foi criada por iniciativa de Lênin, inspirada na práxis de Marx e Engels e na 
necessidade de assegurar e ampliar a Revolução Russa. Ela continuou a projeto da Liga dos Comunistas, em 
especial, e da I Internacional que era chamada de Associação Internacional de trabalhadores durante o período 
de 1864 a 1872 e foi encabeçada principalmente por Marx. A II Internacional que funcionou durante 1889 a 
1914 mas, com a participação de Engels até 1895 o de sua morte, tentou continuar o trabalho de dar coesão 
aos proletários e ampliar a propaganda do marxismo. Sua ruína esteve ligada aos esforços de guerra dos 
diversos países no sentido de colaborarem com a burguesia para recuperação do capitalismo e pela 
degeneração da maioria dos partidos participantes. A III Internacional Comunista criada em 1919 a 1943, 
tinha como objetivo principal intensificar a expressão da crescente internacionalização da luta de classe do 
proletariado nas condições da crise do capitalismo e da divisão do mundo em dois sistemas – o socialista e o 
capitalista e no seu enfrentamento. Como nosso objetivo não é entrar na discussão das Internacionais 
Comunistas, mas apenas apresentar algumas discussões que tiveram influência nos debates do Partido 
Comunista Chileno. 
26 Apesar do Partido Comunista ter sido fundado em 1922 para todo movimento comunista internacional, 
porque é nesta data que ele entra na III IC e modifica o seu nome para Partido Comunista, na Conferência 
Nacional de junho de 1990 em Santiago, tomou-se a decisão de mudar a data de fundação do PC para a data 
de criação do POS em 4 de junho de 1912. A justificativa é de que mesmo mudando o nome, os militantes, os 
dirigentes, programa, estatuto e estrutura continuavam sendo a mesma. Por isso aqui neste trabalho, vamos 
nos referir aos congressos do PC pelas datas em que eles aconteceram e não pelos números porque ainda há 
diferença quanto a compreensão dos números dos Congressos, alguns autores tratam a fundação em 1922 e 
outros em 1912. 
 42
daquele país. A entrada do PC Chileno na internacional comunista provoca uma série de 
mudanças na sua forma de organização, assumindo uma estrutura centralizada e 
hierarquizada e também na sua condução política, que passa a ser orientada de acordo com 
as discussões internacionais. Como coloca Aldo Agosti27, cada partido era produto único de 
um encontro dos dois contextos: o movimento comunista internacional e o sistema político 
nacional. O problema é que isso pouco aconteceu até a Revolução Chinesa, e o que se via 
até então, era uma prática contínua que reduzia o que havia de nacional em cada tática e em 
cada Partido Comunista em algo universal. 
Em 1928, a Internacional Comunista deu uma guinada em suas orientações, 
aprovando o que ficou conhecido como 3º período ou da tática da classe contra classe. 
Nesta fase, negou-se a Frente Única colocando as alianças políticas dos comunistas com 
camponeses e trabalhadores como ponto central. 
Para o historiador Ivan Vargas28, essa linha era adequada para a Rússia ou para a 
Alemanha, mas muito contraditória para a realidade histórica do Chile, pois havia sido 
adotada uma linha ultra-esquerdista, que para ele significava, colocar como objetivo 
imediato a Revolução Socialista. 
 Apesar desse questionamento, o texto sobre as perspectivas e tarefas, aprovado no 
VI Congresso da Internacional Comunista, deixava claro que o desenvolvimento da 
revolução proletária não podia se dar dentro de uma orientação dogmática, nem na 
obrigação de levar a revolução adiante, de forma rígida: 
 
O desenvolvimento da Internacional Comunista na revolução proletária não 
implica na determinação dogmática de uma data determinada no calendário da 
revolução, nem a obrigação de levar a cabo mecanicamente a revolução em uma 
data fixa. A revolução era e segue sendo uma luta de forças vivas sobre bases 
históricas dadas. A destruição do equilíbrio capitalista devido à guerra em escala 
mundial criou condições favoráveis para as forças fundamentais da revolução para 
o proletariado. Todos os esforços da Internacional Comunista estavam e seguem 
estando dirigidos até o aproveitamento total desta situação29. 
 
27 AGOSTI, Aldo. O mundo da III Internacional Comunista: os estados maiores. In: História do Marxismo -
vol.6.São Paulo:Paz e Terra,s/d, pg.114. 
28 VARGAS,I. op.cit,p.16 
29 A Internacional Comunista – vol.II,p.103. 
 43
 
 Entretanto, se de um lado a revolução proletária não podia se dar dentro do 
“dogmatismo”, constantemente eram “sugeridas” as linhas a serem adotado pelos PCs. 
Segundo José de Aricó30, até pelo menos 1926, (a maioria dos partidos que ganham o nome 
de comunista é formada próximo ao ano de 1922), a América Latina teve papel secundária 
na estratégia do Comitern, principalmente porque se conhecia pouco a nossa realidade. E 
isso levava a orientações pouco reais para esses países. Segundo ele, foi a partir de 1929, 
com a I Conferência dos Partidos Comunistas latino-americanos, que houve reais condições 
para um maior desenvolvimento das organizações comunistas, e também em uma 
orientação mais

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