Buscar

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Existem condutas humanas que causam danos, aparentemente violam direitos, mas não são considerados ilícitos. São as excludentes de ilicitude, comuns, tanto ao direito civil quanto ao direito penal.
Art. 188: “Não constituem atos ilícitos:
I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único: No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.”
Legítima defesa. Código Penal, art. 25: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”
- Caracterizada a legítima defesa, afasta-se a ilicitude do ato e, em regra, a responsabilidade civil.
- Se houver excesso de legítima defesa, volta a existir ilícito e, nessa medida, responsabilidade civil; assim como na especialíssima situação retratada no art. 930, parágrafo único, do Código Civil: “A mesma ação (regressiva) competirá contra aquele em defesa de quem se causa o dano (art. 188, I).” Se, na legítima defesa de outra pessoa, se causa dano a um terceiro (que não é o ofensor), este terá direito de ser indenizado, mas o agente tem ação regressiva contra a pessoa em defesa de quem atuou.
Exercício regular de direito. A noção é doutrinária, porque está referido, mas não definido, no art. 23, III, do Código Penal. O dano causado por um bombeiro ou policial, em sua atuação legítima, não é ilícito. Se houver excesso ou abuso, volta a ser. No âmbito das relações privadas, a construção regular feita pelo vizinho, pode causar danos quanto à paisagem ou insolação de um prédio, mas não é ilícito. Aqui, afastada a ilicitude, afasta-se também o dever de indenizar.
Estado de necessidade. Código Penal, art. 24:“Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” O Código Civil tem definição mais simplificada no art. 188, II.
2 elementos (para caracterizar o estado de necessidade como excludente de ilicitude):
- Uso apenas dos meios necessários (causar o dano apenas inevitável), para remover ou afastar o perigo (parágrafo único do art. 188).
- Proporcionalidade dos bens jurídicos envolvidos. O bem jurídico que se quer preservar deve ser axiologicamente igual ou maior do que aquele que se lesa. Alguma divergência doutrinária.
No estado de necessidade, mesmo afastada a ilicitude, subsiste o dever de indenizar:
Exemplo 1: Arrombamento do portão de uma casa, para fugir da enxurrada na via pública. O dono da casa sofreu dano e não é responsável pela enchente, portanto, deve ser indenizado. Art. 929: “Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.”
Exemplo 2: Arrombamento do portão de uma casa, para fugir do ataque de um cão feroz. Se houver indenização ao dono da casa, pelo prejuízo que sofreu, o agente terá ação regressiva (para reaver aquilo que pagou), contra o dono do cachorro. Art. 930: “No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorreu por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.”
ABUSO DE DIREITO
Art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé, ou pelos bons costumes.”
- Antecedente histórico. Os atos emulativos no Direito Romano.
- A semelhança textual com o art. 334 do Código Civil Português.
- A doutrina francesa de Josserand e Saleilles.
Qualquer direito deve ser exercido pelo titular dentro de padrões de normalidade, considerado o seu contexto social. O exercício extravagante, arbitrário, anormal de um direito, por ser abusivo, pode ser considerado ato ilícito por equiparação. Na expressão de José de Oliveira Ascensão, é o exercício disfuncional de um direito. Em outra perspectiva, o abuso se caracteriza quando o titular não observa a função social que todo direito deve ter ao ser exercido.
Exemplos:
a) Direito de propriedade. Art. 1228 do Código. § 1º: “O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º: São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.”
b) Relações de vizinhança. Art. 1277 do Código: “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.”
c) Direito de greve. Constituição Federal, art. 9º: “É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.”
d) Liberdade de informação e de imprensa. Constituição Federal, art. 5º, IX, e art. 220. A possibilidade de o exercício abusivo de tal direito constitucional, ser ofensivo ao nome e à imagem das pessoas (artigos 17 e 20 do Código).
e) O conceito processual de litigância de má-fé. Código de Processo Civil, artigos 79 e 80.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. INÍCIO
Conceito: Essencialmente, prescrição é a perda da possibilidade de exercer um direito patrimonial; decadência é a extinção de um direito potestativo; em ambos os casos, porque escoado o prazo legal para exercê-los. Tais institutos jurídicos têm por fundamentos a necessidade de segurança jurídica e de apaziguamento dos conflitos sociais, sendo também uma sanção à inércia do titular.
PRESCRIÇÃO
Perda da possibilidade de exercício de um direito subjetivo patrimonial, pelo escoamento do prazo previsto em lei para exercê-lo. O início da prescrição pressupõe, sempre, a violação do direito.
Art. 189: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os artigos 205 e 206.”
Exemplo: um direito de crédito com prazo prescricional de três anos.
 Início da prescrição Consumação da prescrição
 | 3 anos |
-------------°-------------------------°-------------------------------------------°-----------------
 constituição vencimento da final do 
 do crédito dívida. Não prazo
 pagamento
1.Com o não pagamento da dívida, no vencimento, foi violado o direito do credor.
2.Neste momento começa a fluir o prazo prescricional para que ele, credor, cobre a dívida judicialmente.
3.Se, no nosso exemplo, em três anos, o credor não toma medida judicial alguma para cobrar, exercer seu direito, a prescrição se consuma. Depois disso, ele não poderá mais fazê-lo.
4.De atentar que o prazo prescricional flui contra o credor, e beneficia o devedor.
Art. 190: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.”
A palavra “exceção” tem, aí, um sentido processual de matéria de defesa. Se um credor deixou prescrever seu direito (de crédito, por exemplo), perdeu também a possibilidade de arguir seu crédito como matéria de defesa. Porexemplo, para alegar compensação (art. 368 do Código).
Art. 191: “A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.”
- Renúncia à prescrição é ato do devedor que paga dívida já prescrita, que não poderia mais ser compelido a pagar. Ele o faz por descuido, razões morais ou estratégicas. O pagamento vale porque a relação de crédito e débito, a rigor, existia; então o pagamento era devido, embora não pudesse ser mais exigido por causa da prescrição (cumprimento de obrigação natural).
- O devedor não pode renunciar à prescrição (que o beneficia), antecipadamente. Só depois de a prescrição se consumar.
- Pagar dívida já prescrita pode ser fraude contra credores.
- Renúncia tácita são atos preparatórios que indicam a intenção de fazer o pagamento (propor dação em pagamento, negociar parcelamento, pedir prazo ao juiz para depositar o pagamento em cartório etc.). O importante é a renúncia em si: pagar dívida que não mais precisava ser paga.
Art. 192: “Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.” Prazos prescricionais derivam sempre de lei, e lei de ordem pública. Da mesma forma como os indivíduos não podem criar prazos prescricionais, não podem alterar aqueles que estão previstos em lei.
Art. 193: “A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.”
Art. 194: Revogado pela Lei 11.280/2006. O artigo proibia que o juiz reconhecesse de ofício a prescrição (salvo em favor de absolutamente incapaz). Tendo sido revogado o preceito, pela lei vigente o juiz pode, em qualquer circunstância, reconhecer a prescrição de ofício. Se ele pode fazê-lo, o art. 193 anterior, isoladamente, perdeu seu sentido prático. Se o juiz pode reconhecer de ofício a prescrição, claro que pode ser alegada a qualquer tempo, durante o processo, mesmo em instância recursal. De todo modo, fica claro que a prescrição não se sujeita à preclusão. Preclusão é um conceito de direito processual, que significa a perda de um prazo para praticar ato no processo (por exemplo: o prazo de 15 dias para apresentar contestação, art. 335 do CPC).
Art. 195: “Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.” Trata-se, aqui, de indenização devida por ato de negligência no trato de bens e interesses alheios. O artigo não se refere aos absolutamente incapazes porque, contra estes, a prescrição não corre (art. 198, I).
Art. 196: “A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra seu sucessor.”
Se um prazo prescricional começa a fluir e o credor morre durante esse curso, os seus herdeiros só terão o prazo que ainda faltar para exigir judicialmente o cumprimento do direito. Em outras palavras, a morte do credor não suspende nem interrompe a fluência da prescrição.
CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO
Art. 197: Não corre a prescrição:
I – entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II – entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III – entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198: Também não corre a prescrição:
I – contra os incapazes de que trata o art. 3º;
II – contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados, ou dos Municípios;
III – contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199: Não corre igualmente a prescrição:
I – pendendo condição suspensiva;
II – não estando vencido o prazo;
III – pendendo ação de evicção.
CAUSA IMPEDITIVA
Início da prescrição Consumação da prescrição
------------------------------°----------------------------------------------------------°--------------------
	
 Causa impeditiva
CAUSA SUSPENSIVA
Início da prescrição ____________________ Consumação
-----------°---------------- |____________________|-------------------°-----------------------
Causa suspensiva
Explicações:
Exatamente as mesmas causas, descritas nos três artigos (197, 198 e 199), ora são impeditivas, ora são suspensivas, dependendo do momento em que ocorrem.
Se uma dessas causas estiver presente quando, por exemplo, uma dívida se vence e o devedor não paga (violação do direito do credor), a prescrição não começa a fluir, porque existe uma causa impeditiva.
Se uma dívida se vence e o devedor não paga, começa a correr o prazo prescricional. Se, durante o seu curso, sobrevém uma dessas situações, por exemplo, a devedor se casa com a credora, enquanto permanecerem casados, a prescrição se suspende, e só voltará a fluir, pelo tempo que ainda faltar, se a sociedade conjugal for dissolvida.
O artigo 198 contém três situações que beneficiam as pessoas ali mencionadas. Atente-se que a prescrição, conceitualmente, corre contra o credor e favorece o devedor. Então, nestes três casos, se tais pessoas forem credoras, a prescrição não tem curso: o menor absolutamente incapaz (até 16 anos), a pessoa que esteja em serviço público fora do país (a palavra ausência não é empregada, aí, no sentido técnico do art. 22), e os que estejam servindo às forças armadas em tempo de guerra (mesmo que dentro do território nacional). Agora, se tais pessoas forem devedoras da relação jurídica patrimonial, a prescrição flui normalmente, porque as beneficia.
Por sua vez, o art. 199 é, em si, muito criticado pela doutrina, porque traz definições bastante óbvias que não precisavam ser objeto de artigo expresso da lei. Se um negócio jurídico é celebrado com condição suspensiva (art. 125), seus efeitos não se produzem antes de a condição ocorrer. Enquanto o negócio jurídico não produz efeitos, não há como cogitar de “vencimento” de uma obrigação. Não havendo violação do direito do credor, obviamente o prazo prescricional não se inicia. É causa impeditiva. O inciso II é mais redundante ainda: não vencido o prazo que o devedor tem para cumprir a obrigação, não há violação do direito do credor e, portanto, o prazo prescricional não se inicia. Basta analisar o conceito do art. 189.
Já o inciso III do art. 199 alude à uma situação um pouco mais complexa: não corre prescrição pendendo ação de evicção. A evicção é um instituto típico do direito das obrigações, regulado no art. 447 e seguintes do Código Civil. Essencialmente, a evicção se caracteriza quando, nos contratos onerosos, o adquirente vem a perder o bem que adquiriu, em virtude de decisão judicial ou ato administrativo, que reconhece direito de terceiro sobre ele. Nestes casos, o adquirente tem pretensão indenizatória contra o alienante, para reaver o que pagou, mais perdas e danos, por eventuais outros prejuízos que tenha sofrido. Fácil de ver que o prazo para se ajuizar essa ação indenizatória só começa a correr depois de a evicção se consumar. Dito de outra forma: só se pode reclamar a devolução do que se pagou e indenização por perdas e danos, depois de a evicção estar caracterizada e consumada. Pendendo a ação na qual se discute quem tem melhor direito sobre um bem, o adquirente não tem, ainda, ação indenizatória contra quem vendeu o bem a ele. É isso que o texto quer significar.
Dois artigos complementares do tema:
Art. 200.“Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.”
Cuida-se de uma causa impeditiva da prescrição que remete ao art. 935. Este artigo trata da independência relativa entre a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal. O prazo prescricional para se propor uma ação de responsabilidade civil (indenizatória) é de 3 anos (art. 206, § 3º, V). Mas se o evento causador do dano é, em tese, também um crime (como o exemplo do acidente de trânsito com morte), enquanto estiverem curso o processo criminal, não corre a prescrição para se propor a ação civil. Uma vez decidida a questão (definitivamente) na esfera penal, aí começa a correr o prazo para se ajuizar a pretensão indenizatória.
Art. 201. “Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.”
O dispositivo se vincula às noções de solidariedade ativa (art. 267) e de obrigação indivisível (art. 258), novamente conceitos típicos de direito das obrigações. Causas impeditivas e suspensivas da prescrição tem natureza personalíssima. Até na solidariedade ativa, beneficiando um dos credores, não se estendem aos demais credores, salvo se a obrigação for indivisível.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
Os artigos 202 a 204 do Código Civil tratam da interrupção da prescrição. Conceitualmente, interromper prescrição é uma conduta do credor que deixa clara a sua intenção de exigir o cumprimento do seu direito. Excepcionalmente, é uma conduta do devedor que reconhece o direito do credor. A prescrição já está fluindo e, por um desses atos, se interrompe. Isto só pode ocorrer uma única vez e, se a prescrição voltar a fluir, começa do zero, o prazo inteiro, de novo.
Situação padrão:
Art. 202: “A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual.” (Feita a citação, a prescrição se considera interrompida desde o ajuizamento da demanda – art. 240, § 1º, do CPC).
 Curso do processo. Prescrição interrompida
---------°------------°-----------------------------------------------------------------------°-------------
 Início da Citação do Final do
 prescrição devedor processo.
 2 possibilidades
A prescrição começa a fluir com a violação do direito do credor. Por exemplo: no vencimento de uma dívida, o devedor não pagou. Aí começa a fluir o prazo prescricional, para que o credor tome alguma providência no sentido de exigir o cumprimento do seu direito. Imagine-se um prazo de cinco anos. Se, um ano após o vencimento (e não pagamento) da dívida, o credor ajuíza a ação de cobrança, com a citação do réu (devedor), a prescrição que começou a fluir se interrompe. Durante todo o processo (pouco importa se dois ou quinze anos), a prescrição permanece interrompida. Ao final da demanda, são dois os resultados possíveis: 1. O direito do credor foi satisfeito, ou; 2. o direito do credor não foi satisfeito (por exemplo, porque não se encontraram bens penhoráveis no patrimônio do devedor). Somente neste segundo caso, a prescrição, que durante toda a demanda ficou interrompida, recomeça a fluir novamente. O prazo inteiro de cinco anos, de novo. Mas este recomeço do prazo só poderá acontecer uma única vez. Se fosse permitido interromper um mesmo prazo prescricional sucessivas vezes, um direito poderia ficar eternamente pendente e é justamente isso que prazos prescricionais querem evitar.
Quando um credor, com um direito de crédito vencido e não pago pelo devedor, simplesmente o apresenta em um processo de inventário (habilitação de crédito), porque o devedor morreu; ou em um concurso de credores (processo de execução em que o devedor teve sua insolvência decretada e todos os seus credores se habilitam a receber), a lógica é exatamente a mesma (inciso IV). Não importa quanto tempo levará o processo. Quer seja ação de iniciativa do credor, quer seja simplesmente a habilitação do seu crédito em processo já existente, são situações que interrompem a prescrição, e assim permanece durante toda a demanda.
Outras situações:
Nos demais incisos do art. 202, preveem-se as seguintes situações: (interrompe-se a prescrição):
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente; III – por protesto cambial; V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; e VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do direito pelo devedor.
No inciso II, o Código alude a uma medida cautelar que existia na Lei Processual antiga (CPC de 1973). As medidas cautelares eram providências que podiam ser tomadas antes do ajuizamento da ação principal, para evitar, por exemplo, que o devedor alienasse seus bens. No Código de Processo Civil atual, esse mecanismo passou a se chamar, genericamente, de Tutela Provisória (de urgência ou de evidência), regulado nos artigos 294 a 311.
O inciso III refere-se ao protesto cambial. É o serviço notarial de protesto de títulos de crédito, comum no meio empresarial e vulgarmente conhecido como “cartório de protestos”. Títulos como cheques, notas promissórias, duplicatas etc. se não pagas no vencimento, podem ser levadas a protesto. A empresa que tem títulos protestados tem seu bom nome comprometido no mercado, perdendo linhas de crédito, sendo indício de insolvência. O serviço notarial de protesto de títulos está regulado em lei específica (Lei 9492/97).
O inciso V, tratando de qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor, refere-se por exemplo a uma notificação judicial (CPC artigos 726 a 729) e, a rigor, a qualquer liminar, obtida em sede de tutela provisória, que inste o devedor a cumprir sua obrigação e o constitua em mora.
Por fim, o inciso VI alude a uma conduta do devedor que, mesmo extrajudicialmente (por exemplo, correspondência eletrônica enviada ao credor), confessa sua condição de devedor e se propõe a pagar ou negociar.
O que todas essas hipóteses têm em comum? É que elas podem ser atos isolados, aos quais não se segue a instauração de uma demanda, buscando a satisfação do direito do credor (exemplo, ação de cobrança). Tais atos, quando isolados, tem o efeito jurídico de interromper a prescrição mas, faltando o processo subsequente, a prescrição recomeça a correr de novo (o prazo inteiro novamente), a partir da data do próprio ato.
Em termos esquemáticos:
 | reinício do prazo inteiro
-------------°---------------------------------°---------------------------------------------
 início ato interruptivo
 da prescrição isolado
Da comparação entre os dois esquemas apresentados, a situação padrão e as outras situações, fica mais compreensível o texto do parágrafo único do art. 202:
“A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.”
Referência aos dois artigos complementares sobre a interrupção da prescrição:
Art. 203: “A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.”
Não se trata de uma conduta privativa do credor. O seu cônjuge, companheiro, seu representante legal ou convencional, e até seus herdeiros, tem interesse em interromper a prescrição para evitar a perda da pretensão (exigibilidade judicial do direito).
Art. 204: Este dispositivo só deve ser rapidamente referido, neste momento, porque diz respeito tipicamente ao direito das obrigações. Sua compreensão exata demandaria conhecimento mais aprofundado de solidariedade ativa e passiva (artigos 267 e 275). No essencial, deve se entender que, quando há pluralidade de devedores ou credores, a interrupção da prescrição contra um deles ou por um deles, não prejudica ou aproveita aos demais, salvo se existir solidariedade passiva ou ativa, porque, daí, a obrigação é considerada como um todo unitário. Somente o § 3º do art. 204 merece registro: “A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.”
Principais prazos prescricionais:
Art. 205: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”Caráter supletivo do dispositivo.
Art. 206: referência a prazos variados, de 1 a 5 anos, conforme a natureza do direito patrimonial envolvido. Não se trata de uma enumeração taxativa. Existem outros prazos referidos na legislação. CDC, art. 27. 5 anos. Indenização por fato do produto ou do serviço. CTN (Lei 5172/66). 5 anos. Créditos tributários etc.
§ 1º. 1 ano. Seguro
§ 2º. 2 anos. Alimentos
§ 3º 3 anos. Aluguéis
 Responsabilidade civil
§ 5º 5 anos. Dívidas líquidas constantes de instrumentos públicos ou particulares.
DECADÊNCIA
Extinção de direito potestativo pela perda do prazo para o seu exercício, quando o prazo existir.
Distinção: a) Direitos potestativos sem prazo: divórcio, demissão de empregado, saída de sociedade; b) Direitos potestativos com prazo: ações anulatórias (artigos 178, 179, 1560, 1649 etc.
Art. 207: “Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.”
Conceitualmente, prazos decadenciais deveriam ser contínuos. O problema são as exceções. Já o artigo seguinte, o 208, manda aplicar à decadência a causa impeditiva que favorece absolutamente incapazes (art. 198, I). O art. 1649, em outras palavras, dispõe que, durante o casamento, não corre o prazo decadencial para que um dos cônjuges anule negócio jurídico praticado pelo outro e do qual ambos deveriam ter participado, sendo, portanto, uma causa impeditiva do curso da decadência. O art. 26, § 2º, do CDC, dispõe que “obsta a decadência” a reclamação administrativa formulada pelo consumidor, antes da via judicial, caracterizando-se como uma causa impeditiva etc.
Artigos 209 e 210: A decadência, quando legal, não pode ser objeto de renúncia e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz.
Art. 211: “Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.”

Outros materiais