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Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR TUTORIA 8 Objetivos: Doenças: Pediculose, Escabiose e Dermatobiose →Estudar os agentes etiológicos, ciclos biológicos e transmissão. →Compreender: fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, profilaxia e epidemiologia. Referências: →Coura – Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias – cap.36 →Guia de Bolso da Doenças Infecciosas e Parasitárias – 8ªEd – cap.22 →Parasitologia Humana – Neves, 13Ed, cap.48 e 50 ECTOPARASITAS →Parasitos externos ao corpo – vivem sobre ou sob a pele humana; →Podem ser transmissores ou disseminadores de diversas doenças; →Dentre elas: pediculose da cabeça, pediculose do corpo, pediculose da região pubiana, escabiose, tungíases e ixodidioses. PEDICULOSE HUMANA →Tem como agentes etiológicos 3 tipos de piolhos. →Esses piolhos encontrados em humanos são sugadores e pertencem a duas famílias diferentes: piolhos que parasitam a cabeça, piolhos que parasitam o corpo e os que parasitam a região pubiana. Sendo que os dois primeiros pertencem à família Pediculidae com gênero Pediculus; →Já os piolhos encontrados parasitando a região pubiana pertencem à família Pthiridae, com gênero Pthirus; PEDICULOSE DO COURO CABELUDO →Atinge preferencialmente crianças entre 3 e 12 anos (fase escolar); →Não deve ser, necessariamente, associada à falta de higiene ou condições socioeconômicas. ETIOPATOGENIA E TRANSMISSÃO →A pediculose do couro cabeludo é uma enfermidade que tem o P. humanus capitis como seu agente etiológico parasitando a cabeça dos indivíduos, daí o nome vulgar "piolho da cabeça'; →O P. humanus capitis é um inseto que possui um aparelho bucal do tipo picador-sugador o qual é retrátil e se localiza na cabeça; →Seu desenvolvimento embrionário, do tipo hemimetabólico, passa por um estágio de ovo (chamado lêndea), 3 estágios de ninfas e o estágio de adultos (machos e fêmeas); →Todas as fases evolutivas, com exceção da lêndea, realizam a hematofagia, isto é, se alimentam do sangue do hospedeiro; →Os P. humanus nunca abandonam seu hospedeiro, pois quando deles se separam, morrem em 3 dias. →Possuem fácil e rápida proliferação e transmissão; →A transmissão pode se dar por meio do contato direto entre os indivíduos infestados, por meio da aproximação de uma cabeça com outra, ou também por meio de fômites, ou seja, compartilhando objetos de uso pessoal, como: pentes, bonés, travesseiros, presilhas, arcos de cabeça etc. → o hábito de colocar os cabelos atrás da orelha ou presos, após lavá-los, facilita a proliferação dos piolhos, uma vez que oferece local quente e úmido, ideal para seu rápido desenvolvimento. CICLO BIOLÓGICO →Completa-se em torno de 3 a 4 semanas, dependendo das condições ambientais e do hospedeiro, tais como: temperatura, umidade, pH etc. →Uma fêmea de P. humanus capitis pode depositar no fio de cabelo cerca de aproximadamente dez ovos por dia, totalizando Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR durante sua vida cerca de trezentos a quatrocentos ovos, em um período de sobrevida que pode variar de 1 a 3 meses. →Os ovos se aderem firmemente aos fios de cabelo devido a presença de uma substância produzida pelas fêmeas. →De cada ovo eclodirá apenas uma ninfa, sendo essa chamada de ninfa de primeiro estágio. (o tempo para eclosão da ninfa é de 6 a 10 dias); →Após a eclosão elas já estão prontas para realizarem hematofagia e, após 3 a 4 dias, realizam a primeira troca do exoesqueleto (ecdise ou muda); →Essas mudas se repetem por mais 3 vezes, até que a ninfa atinja o estágio adulto. →O piolho adulto necessita realizar a hematofagia ~3 vezes ao dia, por cerca de 15 minutos; →Durante a hematofagia, utilizam-se de enzimas digestivas e substâncias anticoagulantes que são secretadas junto com a saliva. QUADRO CLÍNICO →Apresenta, inicialmente, intenso prurido na região da nuca e atrás das orelhas; →Esta coceira no local da picada é explicada pela presença de enzimas anticoagulantes e anestésicas, secretadas na saliva, decorrente da hematofagia do piolho, provocando com isso uma reação imunológica. →Pode-se observar também a presença de linfodenopatia regional; anemia em função da hematofagia e, em certos casos, a presença de larvas de moscas, no local da coceira, levando ao quadro de miíases. →Em função da coceira que provoca e às lesões que o ato de coçar provoca, deixa o organismo susceptível a outras infecções oportunistas; DIAGNÓSTICO →É realizado por meio da inspeção sistemática do couro cabeludo à procura de qualquer fase evolutiva do P. humanus capitis. →Como realizam uma rápida locomoção, a inspeção pode ser auxiliada por meio do uso de um pente fino, que pode retirar tanto as fases de ninfas como as adultas. →As lêndeas são mais facilmente encontradas na região da nunca e atrás das orelhas. PEDICULOSE DO CORPO →Ectoparasitose associada à falta de higiene e às baixas condições socioeconômicas e, por esta razão, talvez a sua prevalência seja subestimada em muitos países desenvolvidos; →Esse piolho do corpo também é vulgarmente chamado de Muquirana. ETIOPATOGENIA/DINÂMICA DA INFESTAÇÃO →O agente etiológico da enfermidade conhecida como pediculose do corpo é o Pediculus humanus humanus; →É vetor de patógenos para o ser humano, dentre os quais se destacam a Rickettsia prowazekii, agente etiológico do tifo exantemático/epidêmico/clássico/tifo por piolho; outra bactéria transmitida por P. humanus humanus é a Bartonella quintana (= Rochalimaea quintana) agente etiológico da enfermidade conhecida como febre das trincheiras. →Forma de transmissão dessas patogenias: após a hematofagia, os piolhos defecam próximo ao local da picada. Ao coçar, devido à reação imunológica provocada pelas enzimas anticoagulantes e anestésicas, que o piolho injeta no ato da hematofagia, o indivíduo carreia para o local da picada (introdução da prosbóscide) fezes, e caso o piolho esteja positivo com algumas destas bactérias, elas serão eliminadas junto com as fezes, penetrando na corrente sanguínea, contaminando assim o indivíduo. →Dependendo do agente o indivíduo pode apresentar diferentes sinais e sintomas: mialgia, meningoencefalites, adenopatia crônica, erupções maculopapulares passageiras, artralgia, cefaleia intensa, febre alta por períodos de 5 a 7 dias acompanhada ou não de delírios, erupções cutâneas hemorrágicas, endocardite e bacteremia. →Outros aspectos clínicos como prurido intenso no corpo, anemia, espessamento na pele, hiperpigmentação com distribuição generalizada e Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR infecções oportunistas também podem ser observados. DIAGNÓSTICO →É feito pela observação de uma das fases evolutivas do P. humanus humanus: ovos (lêndeas), ninfas (1º, 2º e 3º estágios) e adultos: machos e fêmeas. →São encontradas, geralmente, nas dobras ou costuras das roupas; regiões, como proximidade da cintura. CONTROLE →Fazer a higienização correta do corpo, juntamente com troca e lavagem das roupas, as quais devem sofrer aplicação de inseticidas. PEDICULOSE DA REGIÃO PUBIANA →Caracteriza-se como uma doença sexualmente transmissível; →O nome científico binomial para o piolho da região pubiana é Pthirus pubis (Linnaeus, 1758). Atualmente, o gênero apresenta duas espécies (P. pubis e P. gorillae) e é o único gênero da família Pthiridae. ETIOPATOGENIA/DINÂMICA DA INFESTAÇÃO →O agente etiológico da pediculose da região pubiana é o Pthirus púbis; →Também realiza hematofagia;→Também presenta fases evolutivas de ovo (lêndea), ninfas (1 º, 2º, e 3º estágios), adultos (machos e fêmeas); →Diferentemente dos piolhos da cabeça e do corpo o P. pubis raramente se desloca, pois fica agarrado à base dos pelos, com o aparelho bucal injetado na pele, fazendo hematofagia quase que de um modo contínuo. →Vive em torno de 30 dias e a fêmea pode colocar de 2 a 3 ovos por dia. QUADRO CLÍNICO →A presença do P. pubis leva a um quadro conhecido como ftiríase, caracterizado por um prurido intenso provocando irritação cutânea, dermatite e aparecimento de pápulas eritematosas, acompanhadas ou não de escoriações oriundas de infecções oportunistas, além de manchas com áreas azuladas ou acinzentadas localizadas no abdome e face interna das coxas, conhecidas como maculae ceruleae. DIAGNÓSTICO →A observação nas roupas íntimas de gotículas de sangue e vestígios de crosta da pele decorrente das escoriações facilita o diagnóstico. →A realização do diagnóstico diferencial pode ser feita com impetigo, dermatite eczematoide infecciosa, psoríase, dermatite seborreica e dermatite de contato e blefarite nos cílios. TRATAMENTO PARA AS 3 PEDICULOSES →lavagem dos cabelos com shampoos e aplicação de loções específicos para pediculose. →Em alguns casos pode ser necessária a medicação oral, prescrita por médico dermatologista; →Remoção total dos piolhos e lêndeas com pente fino ou manualmente, um por um, pois os medicamentos não matam os ovos do parasita. →É importante que todos que convivam com a pessoa acometida pela pediculose sejam examinados e se necessário tratados, para evitar a reinfestação. →Para a pediculose do corpo, recomenda-se retirar a roupa parasitada e mergulhá-la por 2 horas em água fria contendo formol ou Lysoform. Esta operação deve ser repetida a cada 4 dias e em toda a família. Havendo lesões cutâneas, estas devem ser tratadas com pomadas próprias, à base de corticoide. Caso essas lesões estejam infeccionadas, podem-se usar pomadas à base de antibióticos. →O aquecimento das roupas de corpo e de cama a 70°C, durante uma hora, mata todos os piolhos encontrados. Para P. humanus, o inseticida de escolha é ainda o DDT a 10% polvilhado nas vestes, sendo eficaz naquelas populações de insetos ainda suscetíveis ao inseticida. O malathion e o lindane podem também ser utilizados como alternativos. →No caso de P. capitis, havendo lesões na pele, a aplicação de piolhicidas só deverá ser feita após a Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR remoção dos insetos e o tratamento germicida. O tratamento da pediculose do couro cabeludo deve se iniciar por métodos naturais de controle e, mesmo fazendo-se uso de piolhicidas, devem ser estes empregados simultaneamente com aqueles. (métodos de controle natural: catação manual; penteação ou escovação frequentes; solução salina...) →Uso tópico: benzoato de benzila, butóxido de piperonila, deltametrina, lindane, malation, permetrina e dimeticone → Benzoato de benzila (acarsan, escabiol, miticoçan. pruridol): desaconselhado em caso de infecções secundárias no couro cabeludo, seu mecanismo de ação é desconhecido. →Organoclorados (lindane, hexaclorocicloexano): é o isômero gama do BHC, cuja maior restrição é acumular-se nos tecidos adiposos e circular pelos diversos componentes das cadeias alimentares. Para alguns autores, pode causar ainda irritabilidade, inquietação, nervosismo, insônia, convulsões e apoplexia em crianças. → Produtos usados em tratamentos sistêmicos: a) sulfa- metoxazol-trimetropina, atuando apenas sobre ninfas e adultos, não sendo, todavia, aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para tratamento em humanos; b) ivermectina, altamente efetiva contra os adultos e ninfas, não sendo eficaz contra as lêndeas. Embora este medicamento esteja sendo utilizado em grande escala em pediatria, não é também aprovado pelo FDA para tratamento em humanos. CONTROLE →Os pacientes com ftiríase devem ser orientados a lavar e ferver roupas íntimas e roupas de cama, além de evitar contato sexual até que a infestação seja eliminada. →O uso de preservativo não evita a transmissão entre os indivíduos parasitados. EPIDEMIOLOGIA →Enquanto P. humanus é mais frequente na populaçà adulta, sobretudo aquela com estilo de vida gregário e em caráter de promiscuidade (prostitutas, mendigos, prisioneiros, asilos, manicômios), P. capitis é mais prevalente em crianças e jovens, sendo a principal forma ou espécie que causa pediculose no Brasil e em vários outros países A faixa etária predileta, em quase todo o mundo é de 6 a 13 anos. ESCABIOSE →É uma Ectoparasitose de ampla distribuição geográfica e mundial, prevalecendo em países com problemas socioeconômicos acentuados, portanto ligada a fatores de baixa renda, promiscuidade e higiene inadequada, levando a sérias consequências e problemas de saúde pública. →O agente etiológico é o Sarcoptes scabiei. →Trata-se de um Arthropoda da Classe Arachinida, Ordem Acari, Espécie Sarcoptes scabiei, variedade hominis. →Ou seja, são ácaros da família Sacarcoptidae. →Sinonímias: Sarna, pereba, curuba, pira, quipá. CICLO BIOLÓGICO → Pode durar cerca de 10 a 14 dias. →Os ácaros se alojam sob a pele de seu hospedeiro, formando galerias, onde a fêmea faz a oviposição. →Seus estágios evolutivos compreendem ovo, larvas hexápodes, ninfas octópodes (protoninfas e tritoninfas) e adultos machos e fêmeas. →As larvas hexápodes eclodem dos ovos e depois de 2 dias cavam túneis laterais para migrar na superfície e escondem-se abaixo das escamas epidérmicas, penetrando nos folículos pilosos. →Após o segundo e terceiros dias as larvas dão origem às ninfas octópodes de primeiro estágio e, em seguida, a protoninfa que se transforma em tritoninfa até atingir o último estágio evolutivo dos adultos. →As fêmeas realizam a oviposição na superfície a partir da construção de túneis com aproximadamente 0,5 a 5 mm de profundidade por dia. Os ácaros vivem em média de 2 a 3 meses. ETIOPATOGENIA/ DINÂMICA DA INFESTAÇÃO →Acomete a pele dos indivíduos parasitados, causando a sarna zoonótica em humanos. Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR →A transmissão ocorre pelo contato direto entre os indivíduos, por meio de fômites, pois o parasito pode sobreviver alguns dias fora do corpo do hospedeiro, em roupas, toalhas, lençóis. QUADRO CLÍNICO →As lesões atingem principalmente os espaços interdigitais, a superfície dos punhos, cotovelos, axilas, tornozelos, pés, virilhas, genitálias, seios; →As lesões mais específicas são túneis com minúsculas vesículas localizadas nas mãos, nódulos em órgãos genitais e axilas. → O prurido intenso é causado por reação alérgica a produtos metabólicos do ácaro. DIAGNÓSTICO →O período de incubação é de 3 semanas, porém, em casos de reinfestações, os sintomas podem reaparecer de 1 a 3 dias. A coceira noturna é o principal sintoma. →Baseia-se na sintomatologia, tipo e topografia das lesões e dados epidemiológicos. Pode ser feito também mediante a visualização do ácaro, à microscopia pelo raspado ou biópsia de pele; →O diagnóstico é feito pela técnica da fita gomada que primeiramente é aderida à pele. Logo, após sua retirada, é levado ao microscópio para a observação de fases evolutivas do ácaro: ovos, ninfas, adultos ou fezes dos ácaros. →Deve-se fazer o diagnóstico diferencial de urticárias, impetigo e roséolas sifilíticas. TRATAMENTO →Tratar toda a família; → Ivermectina, dose única, VO, obedecendo a escala depeso corporal (15 a 24kg: 1/2 comprimido; 25 a 35kg: 1 comprimido; 36 a 50kg: 1 1/2 comprimido; 51 a 65kg: 2 comprimidos; 65 a 79kg: 2 1/2 comprimidos; 80 kg ou mais: 3 comprimidos). A dose pode ser repetida após 1 semana. Permetrima a 5% em creme, uma aplicação à noite, por 6 noites, ou Deltametrina, em loções e shampoos, uso diário por 7 a 10 dias. Enxofre a 10% diluído em petrolatum deve ser usado em mulheres grávidas e crianças abaixo de 2 anos. Pode-se usar antihistamínicos sedantes (Dexclorfeniramina, Prometazina), para alívio do prurido. Havendo infecção secundária, utiliza-se antibioticoterapia sistêmica. CONTROLE →Realizar a higiene e limpeza do ambiente, como colchões, colchas, lençóis e peças íntimas que devem ser lavadas e passadas a ferro quente; →As roupas devem ficar livres do contato com o hospedeiro e contactantes por 7 dias. → Investigar a existência de casos na mesma rua, creches e outros ambientes de convivência do paciente é importante para evitar surtos comunitários. →Isolamento: Deve-se afastar o indivíduo da escola ou trabalho até 24 horas após o término do tratamento. Em caso de paciente hospitalizado, recomenda-se o isolamento, a fim de evitar surtos em enfermarias, tanto para outros doentes quanto para os profissionais de saúde, especialmente no caso da sarna norueguesa. O isolamento deve perdurar por 24/48 horas após o início do tratamento. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS →Ocorre em qualquer lugar do mundo e está vinculada a hábitos de higiene. →É frequente em guerras e em aglomerados populacionais. Geralmente, ocorre sob a forma de surtos em comunidades fechadas ou grupos familiares. → Não é doença de notificação compulsória. DERMATOBIOSE → Dermatobia hominis (Díptera: Cuterebridae) é um díptero cujas larvas são parasitos obrigatórios, tendo os bovinos como principais hospedeiros, podendo também parasitar o homem e outros animais domésticos como caninos, suínos, caprinos, ovinos, felinos e raramente equinos. →Suas larvas desenvolvem-se no tecido cutâneo do hospedeiro, determinando uma miíase primária do tipo nodular ou miíase furuncular, conhecida no Brasil como "berne". →Em condições naturais de campo, a mosca D. hominis é totalmente dependente de outros Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR insetos, que funcionam como foréticos ou carreadores de ovos. →A mosca D. hominis possui coloração azul- metálico, é ovípara e, após a cópula, deposita seus ovos no corpo de outros dípteros (foréticos), especialmente moscas ou mosquitos zoófilos que geralmente são encontrados frequentando bovinos e equinos. →A mosca adulta raramente é vista na natureza e tem por habitat locais úmidos, onde os arbustos e árvores apresentam crescimento denso, portanto, geralmente são encontradas em abundância nas margens de matas, florestas-galeria e plantações de Eucalyptus; → Além disso, a sua sobrevivência também é influenciada pela temperatura, sendo significativamente reduzida em temperaturas abaixo de 18 °C ou acima de 30 °C; CICLO BIOLÓGICO →Durante o voo, a Dermatobia captura e imobiliza, com o auxílio das pernas, o inseto forético e então deposita seus ovos, em número variável (cerca de 15 a 20 ovos), na extremidade lateroventral do abdome. Estes permanecem fortemente aderidos por uma substância cimentante que impede que os ovos sejam removidos do abdome dos insetos foréticos; → Os ovos permanecem incubados no abdome do inseto forético e, após aproximadamente sete dias, darão origem a uma larva de primeiro estádio (L1); eles ficam ligados no vetor pela extremidade caudal e em posição inclinada, de modo que extremidade cefálica fique em contato com o hospedeiro quando o vetor pousar; →Após esses 7 dias, quando o vetor pousa no hospedeiro, a larva L1 é estimulada pelo calor do hospedeiro e abandona o ovo através de uma abertura opercular localizada na região anterior do ovo, penetrando, então, ativamente no corpo do hospedeiro e invadindo assim o tecido subcutâneo (a larva mede 1,5 mm e em dez minutos penetra na pele sã ou lesada), onde permanecerá de 35 a 42 dias, em média, período em que cresce, desenvolve e sofre duas mudas para larva de 2º e 3º estágios (L2 e L3); →No mesmo local de penetração da larva, é mantido um pequeno orifício, local por onde esta respira durante o desenvolvimento; → Ao atingir a maturidade, a L3 abandona o hospedeiro, saindo pelo mesmo orifício por onde penetrou, cai no solo, enterra-se e transforma-se em pupa, e esta, após um período de pupação que varia de 34 a 78 dias, dependendo das condições climáticas do ambiente, dará origem à mosca, reiniciando o ciclo; →A L3 madura geralmente abandona o hospedeiro durante a noite ou nas primeiras horas da madrugada, dessa forma evita a ação abrasiva dos raios solares ou a ação de predadores diurnos; →O sucesso biológico da fase de vida livre dependerá da textura do solo (seco ou úmido) e da temperatura que a larva encontrar. O percentual de emergência de pupas que caem em solo seco varia de 1 a 3%, enquanto que em solo úmido este percentual pode atingir 40 a 50%; →Mais de cinquenta espécies de dípteros pertencentes a diversas famílias, tais como Muscidae, Calliphoridae, Sarcophagidae, Fanniidae, Culicidae, Tabanidae, entre outras, foram listados como foréticos; PATOGENIA E QUADRO CLÍNICO →No homem, as larvas causam miíases dérmicas, palpebrais, oftalmomiíases, entre outras; →Ao penetrar no tecido subcutâneo do hospedeiro, o “berne”, como a larva é popularmente conhecida, permanece enquistado no ponto de entrada, mantendo um pequeno orifício pelo qual realiza a respiração, local onde também é observada reação inflamatória com produção de pus e outros exudatos; → Cerca de sete dias após a penetração da larva no tecido subcutâneo, o furúnculo já é notável, apresenta cerca de 1 cm de diâmetro e continua crescendo até o fim do desenvolvimento, medindo de 2 cm a 3 cm de diâmetro quando a L3 completa seu desenvolvimento; → Durante a infestação pelo berne, é observada presença de grande quantidade de eosinófilos, basófilos e mastócitos degranulados, assim como a presença de imunoglobulinas; Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR →E, embora a resposta inflamatória seja intensa, não foi observada a morte das larvas, pois estas apresentam mecanismos de escape que as protegem da resposta imune do hospedeiro; além disso, a própria secreção purulenta no local e a existência do orifício são atrativos para a “mosca bicheira” (Cochliomyia hominivorax) realizar a oviposição, sendo que a associação entre as infestações por tais parasitas é muito comum nos rebanhos bovinos e ovinos; → No geral, a evolução do parasitismo é benigna, mas a dermatobiose seguida de infecção secundária (bacteriana e/ou por outras miíases) pode resultar em morte do hospedeiro, especialmente em animais jovens; CONTROLE E TRATAMENTO → Aplicação de inseticidas, a fim de matar a larva no furúnculo e prevenir a reinfestação; → Entre os antiparasitários mais utilizados e que apresentam alta eficácia para o controle/prevenção da dermatobiose está a ivermectina + abamectina; →Para os animais, existe uma série de produtos fosfora- dos que são neles aplicados preventivamente. As larvas, ao saírem dos ovos transportados pelos insetos veiculadores e entrarem em contato com a pele do animal tratado, morrem rapidamente. →Na espécie humana recomenda-se tirar o berne logo que seja percebido. O berne provoca um prurido intenso e depois dor. O orifício abertopossibilita a entrada de larvas de outras moscas, assim como de várias bactérias que podem complicar o quadro. →A melhor maneira de se retirar o berne é matando-o por asfixia: • raspar os pelos da região (no caso de animais domésticos ou da cabeça em humanos); • colar firmemente um pedaço de esparadrapo (3 cm2 de lado); • deixar por uma hora; • retirar o esparadrapo: o berne deverá estar aderido a ele. Caso não esteja, com ligeira compressão sairá; • tratar a ferida com bacteriostático local. → Colocar um pequeno pedaço de fumo de rolo em água filtrada, ferver durante 15 minutos. Depois de fria, colocar algumas gotas no orifício do berne. A nicotina matará o berne rapidamente, facilitando sua extirpação por compressão manual. O berne, ou os bernes presentes num mesmo orifício, deverão ser retirados íntegros, para facilitar a cicatrização. De outra forma, poderá haver proliferação bacteriana, evoluindo para um abscesso. →OBS: deve-se matar o berne antes de tentar retirá-lo. Estando vivo, mantém os seus espinhos firmemente aderidos aos tecidos do hospedeiro, dificultando sua extirpação. Dependendo da área, só sairá do orifício após ligeira anestesia local, com neotutocaína ou xilocaína, seguida de incisão na pele com bisturi ou tesoura. EPIDEMIOLOGIA →A mosca D. hominis é vulgarmente conhecida como mosca-berneira. Ocorre desde o México até a Argentina. No Brasil, é vista em todos os Estados da federação, com exceção das áreas secas do Nordeste. Prefere áreas úmidas e montanhosas; →É uma espécie endêmica na região Neotropical. →Dermatobia hominis é considerado um dos ectoparasitas mais importantes da América Latina e é responsável por significativas perdas econômicas, principalmente na criação de bovinos, devido à desvalorização do couro e redução na produtividade; →O parasitismo pelo berne é observado durante o ano todo, mas a prevalência é mais elevada durante os meses de primavera e verão, período em que são observados temperaturas e índices pluviométricos elevados →Está associada com regiões que têm temperaturas moderadamente altas durante o dia e relativamente frias durante a noite, precipitação de mediana a abundante, vegetação densa e um número razoável de animais; → O comportamento sexual das moscas, por exemplo, é reduzido em temperaturas abaixo de 23 °C e praticamente não ocorre em temperaturas abaixo de 17 °C. Temperaturas entre 27 °C e 30 °C, assim como a presença de luz forte, foram consideradas ótimas para o acasalamento, pois Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR nessas condições foi observada grande proporção de fêmeas inseminadas.
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