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1 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2 UNIDADE 2 – ALFABETIZAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS ......................................... 8 UNIDADE 3 – A FALA, A LEITURA E A ESCRITA ................................................. 23 UNIDADE 4 – A LEITURA NA ESCOLA: PRÁTICAS E COMPETÊNCIAS ............ 27 UNIDADE 5 – OS GÊNEROS LITERÁRIOS ............................................................ 38 UNIDADE 6 – INTRODUÇÃO ÀS DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA ....... 52 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 2 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A Educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental aqui entendido como 0 a 5 anos (creche, pré-escola) e 1º ao 5º ano é fundamentada no desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo, ético e estético dos pequenos discentes que ali se encontram e, igualmente, a formação dos docentes que vão trabalhar com esses sujeitos precisa ser ampla. Por acreditarmos, assim como vários autores que serão utilizados ao longo desta apostila, que a integração entre a teoria e a prática é de elevada importância para o sucesso no cotidiano do seu trabalho, formando no professor uma consciência crítico-social, vamos ao longo das apostilas do curso utilizar em abundância das metodologias de ensino, não esquecendo é claro, das teorias que embasam cada uma delas. O planejamento conjunto e interdisciplinar das aulas, a definição dos objetivos, o modo como caminhar (apresentação dos conteúdos) de maneira agradável, com alegria, com riqueza e motivar os alunos rumo ao conhecimento, considerando o contexto onde estão inseridos são pontos que o professor deve levar sempre em consideração. A Constituição Federal Brasileira de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/96), o Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 10.172/01), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Pedagogia, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e outros documentos afins serão os balizadores dos nossos estudos, como podemos constatar nas redações abaixo: De acordo com a Constituição Brasileira, o ensino fundamental é obrigatório e gratuito. O art. 208 preconiza a garantia de sua oferta, inclusive para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. É básico na formação do cidadão, pois de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 32, o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo constituem meios para o desenvolvimento da capacidade de aprender e de se relacionar no meio social e político. É prioridade oferecê-lo a toda população brasileira. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 A educação infantil é um direito de toda criança e uma obrigação do Estado (art. 208, IV da Constituição Federal). A criança não está obrigada a frequentar uma instituição de educação infantil, mas sempre que sua família deseje ou necessite, o Poder Público tem o dever de atendê-la. Em vista daquele direito e dos efeitos positivos da educação infantil sobre o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, já constatado por muitas pesquisas, o atendimento de qualquer criança num estabelecimento de educação infantil é uma das mais sábias estratégias de desenvolvimento humano, de formação da inteligência e da personalidade, com reflexos positivos sobre todo o processo de aprendizagem posterior. Por isso, no mundo inteiro, esse segmento da educação vem crescendo significativamente e vem sendo recomendado por organismos e conferências internacionais. A educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica. Ela estabelece as bases da personalidade humana, da inteligência, da vida emocional, da socialização. As primeiras experiências da vida são as que marcam mais profundamente a pessoa. Quando positivas, tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade, responsabilidade. As ciências que se debruçaram sobre a criança nos últimos cinquenta anos, investigando como se processa o seu desenvolvimento, coincidem em afirmar a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento e aprendizagem posteriores. E têm oferecido grande suporte para a educação formular seus propósitos e atuação a partir do nascimento. A pedagogia mesma vem acumulando considerável experiência e reflexão sobre sua prática nesse campo e definindo os procedimentos mais adequados para oferecer às crianças interessantes, desafiantes e enriquecedoras oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem. A educação infantil inaugura a educação da pessoa (PNE/01). A formação dos profissionais da educação infantil merecerá uma atenção especial, dada a relevância de sua atuação como mediadores no processo de desenvolvimento e aprendizagem. A qualificação específica para atuar na faixa de zero a seis anos inclui o conhecimento das bases científicas do desenvolvimento da criança, da produção de aprendizagens e a habilidade de reflexão sobre a prática, de sorte que esta se torne, cada vez mais, fonte de novos conhecimentos e habilidades na educação das crianças. Além da formação acadêmica prévia, requer- Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 se a formação permanente, inserida no trabalho pedagógico, nutrindo-se dele e renovando-o constantemente. Para orientar uma prática pedagógica condizente com os dados das ciências e mais respeitosa possível do processo unitário de desenvolvimento da criança, constitui diretriz importante a superação das dicotomias creche/pré-escola, assistência ou assistencialismo/educação, atendimento a carentes/educação para classe média e outras, que orientações políticas e práticas sociais equivocadas foram produzindo ao longo da história. Educação e cuidados constituem um todo indivisível para crianças indivisíveis, num processo de desenvolvimento marcado por etapas ou estágios em que as rupturas são bases e possibilidades para a sequência (PNE/01). Segundo a Câmara de Educação Básica (BRASIL, 1998), as Diretrizes Curriculares Nacionais são o conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica, expressas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no desenvolvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas. Para orientar as práticaseducacionais em nosso país, respeitando as variedades curriculares já existentes em Estados e Municípios, ou em processo de elaboração, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação estabelece as seguintes Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental: I - As escolas deverão estabelecer, como norteadores de suas ações pedagógicas: a) os Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b) os Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do exercício da Criticidade e do respeito à Ordem Democrática; c) os Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, e da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 Estes princípios deverão fundamentar as práticas pedagógicas das escolas, pois será através da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum, que a Ética fará parte da vida cidadã dos alunos. Da mesma forma os Direitos e Deveres de Cidadania e o Respeito à Ordem Democrática, ao orientarem as práticas pedagógicas, introduzirão cada aluno na vida em sociedade, que busca a justiça, a igualdade, a equidade e a felicidade para o indivíduo e para todos. O exercício da Criticidade estimulará a dúvida construtiva, a análise de padrões em que direitos e deveres devam ser considerados, na formulação de julgamentos. Viver na sociedade brasileira é fundamentar as práticas pedagógicas, a partir dos Princípios Estéticos da Sensibilidade, que reconhece nuances e variações no comportamento humano. Assim como da Criatividade, que estimula a curiosidade, o espírito inventivo, a disciplina para a pesquisa e o registro de experiências e descobertas. E, também, da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais, reconhecendo a imensa riqueza da nação brasileira em seus modos próprios de ser, agir e expressar-se (PARECER CEB 4/98). Os PCNs (BRASIL, 1998) vem corroborar com as intenções e metas expostas anteriormente! A importância dada aos conteúdos revela um compromisso da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem como instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de refutar ou reformular as deformações dos conhecimentos, as imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto, estar em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico. Isso requer que a escola seja um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e universais. A prática escolar distingue-se de outras práticas educativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social, por constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e continuada para crianças e jovens durante um período contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. Para tanto, ainda é necessário que a instituição escolar garanta um conjunto de práticas planejadas com o propósito de contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição social com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos. Essa função socializadora remete a dois aspectos: o desenvolvimento individual e o contexto social e cultural. É nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas um conjunto de saberes e formas de conhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que individualmente se puder incorporar. Não há desenvolvimento individual possível à margem da sociedade, da cultura. Os processos de diferenciação na construção de uma identidade pessoal e os processos de socialização que conduzem a padrões de identidade coletiva constituem, na verdade, as duas faces de um mesmo processo. Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, promover a realização de aprendizagens com o maior grau de significado possível, uma vez que esta nunca é absoluta — sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que se pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão e informação que o sujeito já possui. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno constrói uma representação de si mesmo como alguém capaz. Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em medo, para o qual a defesa possível é a manifestação de desinteresse (BRASIL, 1997). Eis nosso convite: adquirir novos conhecimentos, aprofundar aqueles já existentes, entregar-se comprometidamente à sua missão de educador e lembrar que a educação infantil e as séries iniciais são a base para o sucesso de cada sujeito/cidadão, portanto, dentro das suas condições, grande é a responsabilidade de cada um de vocês! Esperamos que apreciem o material e busquem nas referências anotadas ao final da apostila subsídios para sanar possíveis lacunas que venham surgir ao longo dos estudos. Ressaltamos que, embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperaçãode dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 UNIDADE 2 – ALFABETIZAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS Introduções teóricas ao processo de alfabetização A alfabetização é um processo inicial de aquisição das capacidades básicas de leitura e escrita, que busca o domínio da linguagem escrita e suas transformações, essa é a definição básica oferecida por Soares (2004, p. 20). Conta com as seguintes fases: Fase da garatuja; Pré-silábica; Silábica; Silábica-alfabética; Alfabética-ortográfica. A alfabetização não incide na casualidade, pela simples agregação das formas aos sons e aos símbolos, mas começa pela letramento, ou seja, através dos conhecimentos diários, que acontecem muitas vezes por meio de ensaios e erros. Tudo isso acontece através da comunicação, onde existe o emissor – receptor – emissor de informações ou de conhecimentos. Portanto, a construção do aprendizado passa pela alfabetização, letramento, leitura do mundo, pela mídia, pela globalização e meios tecnológicos de ensino-aprendizagem. Numa visão simplista, alfabetizada é a pessoa que aprende a ler e a escrever. Já o analfabeto, claramente é definido como aquele que não sabe ler nem escrever. De acordo com as considerações de Soares (2004), na fase 1, início dessa construção, as tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços básicos da escrita com que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção, pois, embora o traçado seja semelhante, cada um “lê” em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Dessa maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se referindo. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 Na fase 2, a hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir. Nesta fase, ao tentar escrever, a criança respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a variedade entre elas (não podem ser repetidas). Na fase 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigidas para que a escrita possa ser lida. A criança, neste nível, trabalhando com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas ideias iniciais de que são necessários, pelo menos três caracteres. Este conflito a faz caminhar para outra fase. Na fase 4 ocorre, então, a transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu – entre uma exigência interna da própria criança (o número mínimo de grafias) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções. Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente. Na fase 5, finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita correspondem valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto, dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser escrita e a existência de uma regra produtiva que lhe permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado (ZACHARIAS, 2006). A criança tem a sua frente uma estrada longa, até chegar à leitura e a escrita da maneira que nós, adultos, a concebemos, percebendo que a cada som corresponde uma determinada forma; que há grupos de letras separadas por Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 espaços em branco, grupos estes que correspondem a cada uma das palavras escritas. Segundo as fases expostas acima, para que alguma coisa sirva para ler é preciso que contenha certo número de letras, variável entre dois e quatro. Afinal, letra sozinha não representa nada escrito. De nada servem, também, conjuntos com letras repetidas, pois elas entendem que só podem ser lidas palavras que contenham letras diferentes. Uma explicação para tal seria que, em seu dia a dia, observam que o comum é encontrar palavras formadas por uma variedade de letras. Os métodos de alfabetização Segundo Meireles (2001), os métodos de alfabetização não são a melhor coisa do mundo. Mas não há nada melhor para alfabetizar um grupo de pessoas, do que usar-se um método de alfabetização. É raro encontrar uma sala de aula onde se possa ver um método “puro”. Via de regra, o professor segue um método e lança mão de recursos de outro. Quando esta mistura é intencional e sistematizada, chama-se método misto ou eclético. Este método era o mais encontrado há 10 anos atrás. Temos abaixo uma síntese dos métodos de alfabetização mais utilizados e suas diferenças: Fônico – Enfatiza as relações símbolo-som. Há duas “correntes”. Na sintética, o aluno conhece os sons representados pelas letras e combina esses sons para pronunciar palavras. Na analítica, o aluno aprende primeiro uma série de palavras e depois parte para a associação entre o som e as partes das palavras. Pode utilizar cartilhas. Linguagem total (“whole language”) – Defende que os sistemas linguísticos estão interligados, e que a segmentação em imagens ou sons deve ser evitada. Os estudantes são apresentados a textos inteiros, já que se acredita que “se aprende lendo”. Em sala de aula, o professor lê textos para os alunos, que acompanham a leitura com o mesmo texto, assim se “familiarizando” com a linguagem escrita. A partir dessa familiarização, vão aprendendo palavras e, depois, as sílabas e as letras. Não utiliza cartilhas. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 Orientação dos PCN’s – Diagnóstico prévio do aluno antes de optar por qualquer método. Algumas crianças entram na primeira série sabendo ler. O professor lê textos em voz alta e é acompanhado pela classe, que tem em mãos os mesmos textos. Os alunos são estimulados a copiar textos com base em uma situação social pré-existente: por exemplo, eles ouvem poesias e compõem, por cópia ou colagem, seus cadernos de poemas favoritos. A leitura em voz alta por parte dos estudantes é substituída por encenações de situações que foram lidas, desenhos que ilustram os trechos lidos etc. As crianças aprendem a escrever em letra de forma; a consciência fônica é uma consequência. Não utiliza cartilhas. Alfabético – Os alunos primeiro identificam as letras pelosseus nomes, depois soletram as sílabas e, em seguida, as palavras antes de lerem sentenças curtas e, finalmente, histórias. Quando os alunos encontram palavras desconhecidas, as soletram até decodificá-las. Pode utilizar cartilhas. Analítico – Também conhecido como método “olhar-e-dizer”, começa com unidades completas de linguagem e mais tarde as divide em partes. Exemplo: as sentenças são divididas em palavras, e as palavras, em sons. O “Orbis Sensualium Pictus” é considerado o primeiro livro escolar importante. Abaixo das gravuras estavam os nomes impressos para que os estudantes memorizassem as palavras, sem associá-las a letras e sons. Pode utilizar cartilhas. Sintético – Começa a ensinar por partes ou elementos das palavras, tais como letras, sons ou sílabas, para depois combiná-los em palavras. A ênfase é a correspondência som-símbolo. Pode utilizar cartilhas (MENEZES, 2006). Algumas considerações de Magda Soares1 Na ótica de Soares (2005) existem muitas pesquisas sobre o aprendizado da escrita, principalmente se observarmos a extensão e diversidade do Brasil, e para 1 Magda Becker Soares é Professora Titular Emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG - Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita - CEALE - da Faculdade de Educação da UFMG. Graduada em Letras, doutora e livre-docente em Educação. É autora de diversos livros. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 ela, infelizmente, é impossível dizer que os melhores métodos e resultados chegam a todos. Para Soares (2005), até os anos 1980, as pesquisas na área de alfabetização eram de certa forma, restritas, porque se voltavam apenas para a questão metodológica. A discussão se limitava à eficácia ou não do método. Mas a partir dessa década, sobretudo pela influência de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as pesquisas sobre o aprendizado da língua escrita pela criança, aumentaram. O foco passou mais para o processo da criança na construção de conceitos sobre a língua escrita. Ele muda do “como ensinar” para o “como a criança aprende”. Depois, mais no fim dos anos 80, surgem as pesquisar linguísticas: foi o momento em que os linguistas finalmente se deram conta de que alfabetização era problema deles também. Ainda segundo Soares (2005), falta para fins pedagógicos, uma integração dos resultados das diferentes pesquisas que possibilite a tradução deles numa atuação didática, docente, capaz de orientar a criança no seu aprendizado, o que ela entende ser a origem das dificuldades que ainda se encontra na alfabetização. Analisando o construtivismo, ela o encara não como um método, porque se afirmou como uma teoria psicológica, e não como teoria pedagógica, mostrando como a criança aprende e não se voltando explicitamente para a questão de como o professor deve ensinar. Os cursos que proliferaram no país com o intuito de ensinar aos professores o Construtivismo, ensinava a eles exatamente isso: como a criança aprendia e não como alfabetizar a criança. Nossa autora encara que os professores alfabetizadores, antes do construtivismo tinham um método e nenhuma teoria, ensinando pelo global, pelo silábico, pelo fônico, mas as teorias que fundamentavam esses métodos não eram discutidas. Assim, o construtivismo veio negar esses métodos, mas não propôs outros que os substituíssem, somente trouxe uma teoria sobre a aprendizagem da língua escrita, e ela vai além, entende que para o construtivismo adotar qualquer método para alfabetizar se tornou um pecado mortal, como se fosse possível ensinar qualquer coisa sem ter método. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 Em relação aos professores acharem que retomar algum método do passado seria a solução, Soares (2005) explica que tanto antigamente quanto hoje, o fracasso escolar tem altos índices, mas com a grande diferença que os alunos eram retidos na primeira série enquanto não fossem alfabetizados e hoje encontra-se aluno que chega ao final até mesmo do ensino fundamental sem estar alfabetizado. Assim, o argumento de que o método fônico, usado, sobretudo nos anos 70, dava certo e, portanto, deva ser retomado, não se sustenta. Isso porque havia reprovação e não aprendizagem com o método fônico, como havia também com outros métodos. Não tem sentido uma volta ao passado esquecendo ou abandonando as contribuições fundamentais do Construtivismo e das ciências linguísticas para a compreensão do processo de aprendizagem da língua escrita. Um exemplo: antes, o menino escrevia silabicamente e as professoras diziam: “ele está engolindo letra, é disléxico, é preciso encaminhar para um psicólogo;” hoje, a teoria construtivista e os princípios linguísticos evidenciam que escrever silabicamente é uma etapa normal do processo de descoberta do sistema de escrita. Fica claro como o avanço do conhecimento sobre a aprendizagem da língua escrita torna sem sentido propostas de volta ao que se fazia antigamente. Sobre a criança aprender pelo método fônico, Soares (2005) entende como o mais adequado, pedagogicamente e até psicologicamente, é que a criança aprenda simultaneamente todas as competências e habilidades envolvidas na aquisição da língua escrita: aprenda a decodificar e codificar, isto é, aprenda as relações entre os “sons” e as letras ou grafemas, ao mesmo tempo em que aprenda a compreender textos, a construir sentido para os textos, e ainda aprenda as funções da escrita, os diferentes gêneros de textos. Se o professor ensina sequencialmente, sistematicamente, as relações fonema/grafema, como faz o método fônico, a criança acaba, sim, aprendendo a escrever e a ler, como codificação e decodificação, mas, a compreensão, a construção de sentido, o entendimento das funções da escrita, o envolvimento em práticas sociais de leitura e escrita, acabam ficando adiados “para depois”; a criança aprende só a tecnologia da escrita, desligada de seus usos sociais, o que tira todo o sentido da tecnologia. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 Quando se reconhecem as várias facetas da escrita, não se pode aceitar que a criança aprenda com aquele tipo de texto “O bebê baba”, “Eva viu a uva”, textos que não circulam na sociedade, não fazem o menor sentido, não são um conto, uma poesia, uma parlenda, são artificialmente construídos com o único objetivo de ensinar a codificar e decodificar. Soares (2005) ainda analisa que com estes textos a criança não construirá o uso de sua língua. A criança deve aprender a ler e a escrever interagindo com textos reais, com os diversos gêneros e portadores de texto que circulam na sociedade. Assim ela vai aprender não só as relações fonema/grafema, mas, simultaneamente, o sentido e função que tem a escrita. Deste modo, considerando que cada uma das facetas da aprendizagem da língua escrita supõe um processo cognitivoespecífico, não se aprendendo uma convenção (a relação fonema/grafema) da mesma forma que se aprende a construir sentido de um texto, a interpretar, a compreender, aprender os diferentes usos e funções da escrita e os diferentes gêneros de texto, também demanda processos cognitivos diferenciados. A consequência é que, no estado atual dos conhecimentos sobre a língua escrita e sua aprendizagem, não se pode falar de um método de alfabetização, mas de métodos de alfabetização, no plural. Assim: ler histórias ou poemas ou textos informativos para as crianças, levá-las a interpretar esses diferentes textos supõe determinados procedimentos didáticos, enquanto que tomar palavras-chave de um texto lido e trabalhá-las para, com base nelas, desenvolver a aprendizagem das relações fonema/grafema supõe outros procedimentos. São diferentes métodos, diferentes procedimentos, porque são diferentes objetos de conhecimento e, portanto, diferentes processos de aprendizagem. Por isso, hoje é preciso ter métodos de alfabetização, não um único método de alfabetização. O papel do professor como mediador da construção do processo de alfabetização É evidente que determinadas informações sobre a correspondência letra/som serão fornecidas pelos adultos aos que se iniciam no processo de alfabetização, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 mas o processo em si, de entender como se estrutura a língua escrita, sob aspectos já vistos, terá sido construído pela criança, a partir das informações e estímulos que o meio, o convívio com material escrito e com outras pessoas lhe tiver oferecido. Deve-se levar em conta, porém, que tal construção não é uma apropriação puramente individual, mas um compartilhar social, importando, e muito, as condições sociais em que a criança vive; o modo como a palavra é escrita, interpretada e valorizada em seu meio; as oportunidades que tem para lidar com ela; o significado que lhe é dado, o que se pensa a respeito de como e para que se lê e escreve. É claro que também é importante o modo como o aluno aprendiz é visto pelo professor; as relações de respeito ou descrédito que se estabelecem sobre suas potencialidades. Neste caso, seria preciso levar em conta as condições sócio-históricas em que a atividade de leitura se produz, analisando não apenas o indivíduo como construtor autônomo do conhecimento, mas também a função de mediação exercida pelo professor, colocando em evidência, portanto, a dinâmica das relações interpessoais que atuam na elaboração do conhecimento da leitura/escrita, visto que o modo como se estabelece a interação professor/aluno pode facilitar, dificultar e até mesmo bloquear esta construção. Dependendo das intervenções mediacionais, sobretudo do professor, as experiências do alfabetizando com a língua escrita poderá ser o início de um rico processo de aquisições ou o término de uma vida escolar pautada no insucesso, cujas marcas indeléveis passarão a agir como um estigma ou um chamariz para outros sucessivos fracassos. Segundo Saviani (1991, p.16), o saber é o objeto específico do trabalho escolar. Em se tratando da alfabetização, esse saber adquire uma especificidade ainda maior, tanto no ensinar como no aprender, exigindo que o professor domine e articule uma gama de saberes – os saberes docentes – para que possa mediar, com sucesso, tal aquisição. E, principalmente, para as crianças das classes populares, a escola é o local por excelência para essa apropriação. Ali é bastante significativa a interação/cooperação da criança com os seus pares, nas suas aquisições, visto que Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 a alfabetização não é simplesmente adquirida, mas co-construída no processo de escolarização (COOK-GUMPERZ, 1991). A alfabetização é, pois, uma aquisição social/individual e, nesse processo, exercem papéis relevantes, tanto o contexto intra como o extraescolar, favorecendo ou não as mediações. Segundo Gauthier et al (1998), o bom ensino, entre outras condições, requer que a formação do professor contemple o domínio de saberes diversos, catalogados numa tipologia constituída pelos saberes disciplinares, curriculares, das ciências da educação, da tradição pedagógica, experienciais, da ação pedagógica. Tardif, Lessar e Lahaye (1991) apontam a necessidade de uma sólida formação do professor, enfatizada na prática e no discurso dos professores da Escola e dentre estes saberes que fazem parte de sua formação, é importante ao menos lembrarmos os saberes disciplinares e a sua inter-relação com os saberes das Ciências da Educação. Vale lembrar as concepções de Vygotsky (1991), partindo do princípio que os sujeitos se encontram numa rede de relações com o mundo, que lhes possibilita adquirir uma forma peculiar de existência, constituindo assim seu campo simbólico de significações. Esta capacidade simbólica do homem, que se expressa através da linguagem e se materializa no texto oral ou escrito, relaciona-se diretamente com sua prática social global. A linguagem é vista como um processo de constituição dos sujeitos, onde criamos e organizamos nossas experiências. Assumir a noção de constitutividade do sujeito pela linguagem (Franchi, 1992) significa assumir que não se trata pois de explicitar um externo ou um interno na relação do sujeito com a linguagem, mas admitir que ambos se constituem à medida que interagem. Uma constituição que se dá pela internalização (Vygotsky,1991) dos signos que circulam nessas interações. Explicitar esta noção é fundamental, pois é na sua dependência que se estabelece uma concepção de língua e de seu ensino. Desta forma, a língua não é algo pronto, acabado, onde os sujeitos dela primeiro se apropriam para depois usá- la. É durante os processos interativos que os sujeitos vão construindo e reconstruindo a própria língua (GERALDI, 1991). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 Portanto, quando pensamos no ensino da língua devemos considerar que o sujeito vai construir e reconstruir seu conhecimento e a si mesmo, nas especificidades das interlocuções que se darão na produção de textos, tanto orais quanto escritos. A partir das concepções de linguagem e língua apresentadas, devemos considerar que quando entramos para a sala de aula estamos todos – professor e alunos e os alunos entre si – em diferentes níveis no que diz respeito ao nosso objeto de conhecimento, isto é, a escrita. Ainda focando o trabalho do professor, para que este vislumbre sucesso precisa conhecer primeiramente, as contribuições mais recentes da ciência da linguagem e sua transposição didática. Seguidamente, deve ele próprio, ser um usuário da linguagem, principalmente, em sua modalidade escrita, já que os conteúdos selecionados inscrevem-se no eixo do uso e da reflexão, tanto da linguagem oral como da escrita. Se se aprende a ler, lendo e a escrever, escrevendo, um professor que leia regularmentee que tenha intimidade com a escrita, seguramente terá mais chances de compreender os processos vividos pelas crianças, interferindo de modo pertinente. Igualmente importante, é sua conscientização da importância da leitura propriamente dita e de sua influência perante o aluno, no processo de construção da criança e no seu incentivo à leitura. Desse modo, é fundamental que as atividades desenvolvidas em todas as disciplinas que venham compor o currículo privilegiem a leitura e a produção de textos do futuro professor. Pode-se assim cobrar do educador: familiarizar-se com a leitura de uma grande variedade de gêneros, inserindo-se na comunidade dos leitores, aprendendo a selecionar informações pertinentes em diferentes suportes, compreendendo a perspectiva enunciativa com que os textos foram produzidos e posicionando-se criticamente; Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 estudar os principais mecanismos de textualização – a coesão nominal responsável pela continuidade temática, a coesão verbal e as conexões temporais ou lógicas responsáveis por marcar as articulações da progressão temática; conhecer algumas das contribuições da psicolinguística para a compreensão do processo de leitura na construção do sentido; envolver-se em uma intensa e variada prática de produção de textos, produzindo fichas, resumos ou resenhas de textos lidos para as diversas disciplinas, elaborando relatórios de experimentos ou de estudos do meio realizados, produzindo um diário de leitura para registrar impressões a respeito dos textos que for lendo, ao longo do curso, elaborando planos e registros de sua prática docente, etc; explorar o estudo dos mecanismos de textualização como ferramenta para a análise da própria produção textual e da produção de textos infantis, estudando a interface entre a gramática e o texto, nos processos de refazer e de rever textos; conhecer uma série de gêneros que a prática social projeta como adequados à criança, explorando as possibilidades de tratamento didático desses gêneros na escola; conhecer a história da escrita, para compreender melhor a relação com a evolução conceitual da criança na construção da base alfabética; conhecer a relação do sistema fonológico com o sistema gráfico da língua para interpretar as soluções que as crianças apresentam para as convenções ortográficas; estudar o fenômeno da variação linguística, para desfazer o mito da unidade linguística, desenvolvendo instrumentos para descrever a variedade falada pelos alunos e sua influência na escrita, combatendo o preconceito linguístico; estudar, à luz das recentes contribuições da linguística, a gramática da língua, principalmente em relação a assuntos relacionados aos padrões impostos pela escrita nos diversos gêneros em circulação social. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 O planejamento e a organização do trabalho em torno da alfabetização As dimensões e os conteúdos pertinentes à alfabetização passaram por ampliações progressivas, cada vez mais complexas, como se vem enfatizando ao longo dessas reflexões. Trata-se, hoje, de um campo que recebe contribuições de diversas ciências e de linhas de pesquisa cada vez mais valorizadas do ponto de vista político e pedagógico. Por isso mesmo, tal processo não pode ser conduzido de forma aleatória e assistemática, limitado a vivências espontâneas dos alunos ou a práticas solitárias dos professores. Ferreiro e Teberosky (1985) salientam neste sentido que emerge a importância do planejamento da organização das classes de alfabetização e do trabalho didático a ser desenvolvido. O planejamento é o instrumento, por excelência, capaz de assegurar o diagnóstico das capacidades e conhecimentos prévios dos alunos, as metas e meios para a sistematização de aprendizagens e práticas de ensino, os instrumentos de avaliação do processo e a elaboração de novas estratégias para a solução de problemas detectados. Exige não só esforço docente individual como também trabalho coletivo e compartilhado; assim, o planejamento estabelece princípios de reciprocidade de cada profissional com seus pares, possibilitando a consolidação da autonomia dos professores e a progressiva reconstrução do projeto pedagógico da própria escola. Alguns requisitos são fundamentais em um planejamento efetivamente voltado para a sistematização do trabalho em torno da alfabetização: Criar condições e tempos escolares destinados ao planejamento, ao diagnóstico, à avaliação e à reelaboração de propostas, buscando-se a progressiva institucionalização de espaços coletivos, tais como seminários ou semanas de planejamento, de integração com a comunidade, de escolha de livros didáticos, entre outras possibilidades; Estabelecer e compartilhar metas e objetivos, envolvendo professores, alunos e pais, nos processos de sua avaliação e de sua reorientação; Definir meios para alcançar objetivos, organizar o processo, registrar e socializar atividades realizadas. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 Além da definição de objetivos e metas, é necessário investir nos meios para sua implementação. A organização das atividades em torno da alfabetização deverá levar em conta: A progressão de níveis do trabalho pedagógico, em função dos níveis de aprendizagem dos alunos e da natureza das atividades, envolvendo conceitos e procedimentos pertinentes aos diversos componentes do aprendizado da língua escrita: a compreensão e a valorização da cultura escrita, a apropriação do sistema de escrita, a oralidade, a leitura e a produção de textos escritos. Dependendo do nível atingido pela classe, por grupos ou duplas de alunos, todo o planejamento poderá ser reorientado, em busca de outras alternativas de métodos, de materiais didáticos e de reagrupamento de alunos, sempre tendo como meta mais ampla sua progressiva autonomia em relação aos usos da língua escrita. A criação de um ambiente alfabetizador, ou de um contexto de cultura escrita oferecido pelas formas de organização da sala e de toda a escola, capaz de disponibilizar aos alunos a familiarização com a escrita e a interação com diferentes tipos, gêneros, portadores e suportes, nas mais diversas formas de circulação social de textos. A exposição de livros, dicionários, revistas, rótulos, publicidade, notícias do ambiente escolar e de periódicos da comunidade ou do município, cartazes, relatórios, registros de eleições e muitas outras possibilidades permitem a inserção dos alunos em práticas sociais de letramento, ultrapassando formas artificiais de etiquetagem ou de treinamento da escrita em contextos estritamente escolares. O estabelecimento de rotinas diárias e semanais, capazes de oferecer ao professor um princípio organizador de seu trabalho, desde que atenda a dois critérios essenciais: a variedade e a sistematização. Uma rotina necessita, em primeirolugar, propiciar diversificação de experiências e ampliação de contextos de aplicação. Em segundo lugar, precisa oferecer um contexto de previsibilidade de atividades, para que os próprios alunos se organizem, consolidem aprendizagens e avancem em seus espaços de autonomia (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 Nesse sentido, pode ser bastante produtiva a previsão diária e semanal de atividades voltadas para os eixos da leitura, da escrita, da oralidade, das atividades lúdicas e especializadas, levando em conta o melhor momento de sua inserção (início, meio ou final do turno) e a melhor configuração grupal para sua realização (grupos que se familiarizam com determinados conteúdos ou grupos que já se encontram em patamares mais consolidados de aprendizagem). Essa flexibilidade pode conferir maior potencial à proposição de rotinas, como elementos que ajudam o professor a melhor conhecer seus alunos e a monitorar as modificações necessárias para que o planejamento inicial não se desencaminhe das metas mais relevantes inicialmente projetadas. Alfabetização para formar cidadãos críticos A leitura e a escrita são práticas complementares que se modificam mutuamente no processo do letramento. Ao se formar, o leitor – competente –, ou seja, o leitor capaz de selecionar, compreender o que se lê e usar adequadamente estratégias de leitura, é importante conhecer o significado da alfabetização e letramento, já que os dois processos devem ser desenvolvidos simultaneamente. Quando a alfabetização é sinônimo de aprendizagem do código da escrita, é evidenciada apenas uma parte do processo e o aluno precisa de mais para poder agir em sociedade. O professor alfabetizador tem um importantíssimo papel na formação do aluno – alfabetizado – leitor. O letramento, nesta perspectiva, é um complemento que irá contribuir para o aluno atender às suas necessidades. Tanto quanto a alfabetização, o letramento é fundamental para a conquista da cidadania. O ato de ler deve ser considerado como uma prática social e, para que ela possa ser desenvolvida, é necessário a influência de elementos fundamentais como a família e a escola, onde a relação família – escola – leitura é um combustível insubstituível para a possível formação de uma sociedade mais justa e igualitária. O processo de aquisição da cultura está intimamente ligado ao material escrito, pois o patrimônio histórico, cultural e científico da humanidade se encontra em livros. A escola neste âmbito tem o importante papel de desenvolver no Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 educando o hábito da leitura. Para isso, a escola deve ter seus objetivos bem traçados e dizer não à mecanização da leitura. No período escolar, é preciso desenvolver estratégias que estimulem adequadamente a habilidade de ler, atendendo aos objetivos e necessidades dos alunos. A população apresenta grande dificuldade em dominar a leitura, por isso, a necessidade de compreender o que é ler, qual a sua verdadeira importância na sociedade e como estimular este hábito e gosto nos alunos. A aprendizagem da leitura transforma-se em prática social pelo fato de possibilitar à criança a assimilação dos valores que fazem parte da sociedade em que está inserida. A criança que lê pode ser levada às ideologias dominantes por ser ingênua e estar no início do seu processo de formação como cidadã. Cabe a leitura levar a criança a refletir sobre os valores da sociedade. Por isso, o professor deve ter cuidado ao selecionar os textos que irá apresentar aos seus alunos. Como nos mostra Ezequiel Theodoro da Silva (1986) em seu livro “Leitura e Realidade Brasileira”, a leitura não pode ser examinada isoladamente e sim no interior de um todo que compõe a sociedade. Enfim, esperamos que até o momento tenham percebido a necessidade de usar a seletividade e a criticidade sobre a leitura, para que esta não seja vista como um ato individualista e passe a ser encarada como parte fundamental na formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, enfim, da sociedade em si. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 UNIDADE 3 – A FALA, A LEITURA E A ESCRITA Cagliari (2008) em seu livro “Alfabetização e Linguística” lança alguns questionamentos que são pertinentes neste momento. Ele pondera sobre a questão mais fundamental do ensino de português ser a seguinte: o que é ensinar português para pessoas que já sabem falar o português? Embora seja nossa língua nativa, enquanto pequenos cidadãos que estão começando seu processo de formação escolar, as crianças das séries iniciais sabem algumas coisas dentro da língua portuguesa, mas não sabe outras. Mas há muita coisa a se fazer de novo e interessante no ensino da língua materna e isso não se restringe à alfabetização, apesar de este período ser, na verdade, muito especial. O objetivo mais geral do ensino de português para todas as séries da escola é mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o português; quais os usos que tem, e como os alunos devem fazer para estenderem ao máximo, ou abrangendo metas específicas, esses usos nas suas modalidades escrita e oral, em diferentes situações de vida. Em outras palavras, o professor de português deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos linguísticos, nas mais variadas situações de suas vidas. Ao aluno não se ensina adequadamente como ele fala, qual o valor funcional dos segmentos fônicos de sua língua, como se compõe a morfologia desta, a sintaxe, a semântica, etc. O aluno fez centenas de redações e não sabe o que está realmente fazendo, como deve elaborar um texto escrito ou dizer um texto oral em situações diferentes. A criança que se inicia na alfabetização já é um falante capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão nas circunstâncias de sua vida em que precisa usar a linguagem. Mas não sabe escrever nem ler. Esses são usos novos da linguagem para ela e é, sobretudo, isso o que ela espera da escola. Em muitos caos, há ainda o interesse em aprender uma variedade do português de maior prestígio. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 Essa criança não só sabe falar o português, como sabe também refletir sobre a sua própria língua. De fato, as crianças se divertem manipulando a linguagem: compõem palavras novas, a partir da análise dos processos de formação de palavras, às vezes criando formas surpreendentes;adoram traduzir a sua própria língua em códigos como a língua do P, e falar invertendo sílabas, substituindo certos segmentos por outros, com uma destreza que o adulto dificilmente consegue acompanhar. As respostas que as crianças dão às perguntas que lhes são feitas revelam a incrível capacidade que têm de manipular fatos semânticos de alta complexidade, como a pressuposição, a argumentação lógica, sem contar com a expressão de metáforas e o poder de abstração e generalização claramente revelados numa análise de seu comportamento linguístico Além disso, elas contam ainda com uma capacidade enorme de análise da linguagem oral que irão perder logo que entrarem na escola, sufocadas pelo modo como se ensina português, tomando-se a escrita ortográfica como base para tudo. Na análise de muitos erros encontrados em provas e nas avaliações feitas na alfabetização, é fácil observar que, em muitos casos, a criança revela um apego às formas fonéticas da língua em lugar das formas ortográficas, não raro deixando o professor perplexo com sua “burrice” devido sua incapacidade de analisar a fala com a mesma competência que a criança apresenta. Quanto a leitura, a atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos é ela. É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, podemos pensar que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. Se, porém, outro aluno tiver notas excelentes em tudo, mas não se tornar um bom leitor, sua formação será profundamente defeituosa e ele terá menos chances no futuro do que aquele que, apesar das reprovações, se tornou um bom leitor (CAGLIARI, 2008). A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 A grande maioria dos problemas que os alunos encontram ao longo dos anos de estudo, chegando até a pós-graduação, é decorrente de problemas de leitura. O aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque não saiba matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema. Ele sabe somar, dividir, etc., mas ao ler um problema não sabe o que fazer com os números e a relação destes com as realidades a que se referem. Não adianta dizer que o aluno não sabe nem sequer somar ou dividir números que não apresentam dificuldades, que ele não entende matemática (CAGLIARI, 2008). Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi treinado para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática. O professor de português não ensina isso porque diz que é obrigação do professor de matemática e o professor de matemática ou não desconfia do problema ou, quando muito, acha que ler e compreender um texto é um problema que o professor de português deve resolver na educação das crianças. Estão todos errados. A alfabetização é missão de todos os professores. Ler é uma atividade extremamente complexa e envolve problemas não só semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas até fonéticos. Podemos ler sequências de números de maneiras diferentes, dependendo daquilo a que eles se referem. Alguns alunos têm dificuldades na matemática porque não sabem ler os números corretamente. Os números não são feitos só de algarismos. A combinação de algarismos expressa por si, no todo, realidades matemáticas que têm propriedades específicas. Por exemplo, nos números fracionários (dois quintos), o denominador é lido com numerais ordinais, mas a ordem característica típica desses numerais na linguagem comum não tem nada a ver com a relação fracionária. Não basta ensinar só as relações matemáticas: é preciso ensinar também o português que a matemática usa. Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver. A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem escreve, escreve para ser lido. O objetivo da escrita é a leitura. Como vimos, o mundo da escrita já é complicado e caótico no seu aspecto gráfico, quanto mais se juntarmos a isso o mundo dos significados carregados pela escrita. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 A leitura vai operar justamente nesse universo. Às vezes, ler é um processo de descoberta, como a busca do saber científico. Outras vezes requer um trabalho paciente, perseverante, desafiador, semelhante à pesquisa laboratorial. A leitura pode também ser superficial, sem grandes pretensões, uma atividade lúdica, como um jogo de bola em que os participantes jamais se preocupam com a lei da gravidade, a cinética e a balística, mas nem por isso deixam de jogar bola com gosto e perfeição (CAGLIARI, 2008). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 UNIDADE 4 – A LEITURA NA ESCOLA: PRÁTICAS E COMPETÊNCIAS Escrever e ler são duas atividades da alfabetização conduzidas mais ou menos paralelamente. Muitas vezes ensina-se a ler e escrever letras, famílias silábicas, palavras, frases, textos. Na prática, dá-se mais ênfase à escrita. Talvez o privilégio da escrita sobre a leitura se deve à maior facilidade de avaliação escolar. É preciso repensar esses procedimentos em relação à escrita e à leitura na escola, dando um lugar de maior prestígio à leitura, desde o início do processo de alfabetização, pois é como diz Vigotsky (1991, p. 282): “Uma vez que as crianças aprendem a usar definitivamente a leitura, seu campo psicológico muda radicalmente”. Assim, já durante a alfabetização, várias situações de leitura precisam ocorrer na escola, dentro do contexto com o trabalho da escrita. Algumas habilidades cognitivas são fundamentais e devem ser desenvolvidas: Hipóteses sobre o conteúdo do texto pela análise do título, ilustração e formato; Reconhecimento da relação grafema/fonema, percepção imediata de palavras e expressões familiares, coerência do título com o conteúdo do texto; Depois da leitura, comentários apreciativos do texto e sua relação com outros textos lidos. Aos professores, não é recomendável subestimar a predisposição dos alunos à leitura e delegar essa competência a outras séries subsequentes. O início da construção desse legado não deve ser adiado; prática de leitura é uma atividade devida desde o ingresso do aluno à escola. A meta principal do trabalho com leitura na alfabetização e em todo ensino fundamental, é que os alunos leiam e compreendam textos variados com finalidades diversas, como ressalta Cagliari (2008, p.168): “Um aluno que não lê aprenderá o Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzidaou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 resto com dificuldades, e pode passar a ter uma relação delicada com a escrita, não entendendo bem o que esta é e nem como funciona”. A leitura na sala de aula A leitura deve ocupar um lugar de destaque na sala de aula contribuindo para a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores capazes. A leitura é a maior herança que uma escola pode deixar aos seus alunos, uma vez que ela é fonte perene de educação estando sempre presente na vida das pessoas que no seu dia-a-dia leem muito mais do que escrevem. Portanto, vimos neste momento alertar sobre o quanto é necessário que se dê prioridade absoluta à leitura no ensino de português. Para que isso aconteça, nós professores temos que fazer da sala de aula um espaço onde os alunos possam vivenciar uma prática textual intensa e múltipla para que sejam cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com os quais se defrontam. É importante e necessária uma prática de leitura que desperte e cultive o desejo de ler para que se torne uma prática pedagógica eficiente. Para que se operem transformações na relação ensino-aprendizagem, é preciso que sejam feitas mudanças na forma de trabalhar a leitura na sala de aula, a qual não pode ser uma atividade secundária na escola ou na vida e sim uma atividade prioritária no ensino de português porque a leitura está sempre educando e sendo o prolongamento da escola na vida das pessoas. É necessário fazer da sala de aula um espaço onde os alunos possam vivenciar e interpretar uma variedade de textos porque o processo de aquisição da leitura tem um objetivo maior que é o de orientar os alunos para o exercício de uma cidadania consciente. De acordo com Franco (1997), lê-se para: Sentir o texto, dialogar com seu autor ou, simplesmente, para usufruí-lo sem perguntas e sem questionamentos. É a leitura – prazer. Buscar informações, coletar dados. É a leitura – pesquisa. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 Ampliação dos conhecimentos apossando-se do que já foi construído pela humanidade. Esclarecer dúvidas, buscar respostas. Pergunta-se ao texto. Estudar o texto. Saber o quê e como o autor pensa e posiciona-se frente a determinado assunto. Ao se escolher um livro, por exemplo, uma crônica, uma reportagem ou qualquer outro tipo de texto, o leitor tem uma determinada expectativa, um determinado objetivo que procura satisfazer e/ou alcançar durante a leitura. A leitura é um aprendizado, essencialmente significativo, ativo, com objetivos claros e relacionados ao conhecimento anterior e às expectativas do leitor. Não há leitura sem um “porquê se lê”. Assim sendo, ela é antecipatória – o leitor sabe o que busca. Portanto, não se surpreende com o que encontra nas páginas que lê; antecipa palavras, frases inteiras. É baseada na compreensão, e a previsão é a mola impulsora. Geraldi (1997) põe em evidência quatro objetivos para a leitura: Aquele em que o leitor faz perguntas ao texto – a leitura que busca informações; Aquele em que o leitor “escuta” o “texto” – o estudo de texto; Aquele em que o leitor pretende usar o texto para algum fim – a leitura- pretexto; Aquele em que o leitor deseja fruir o texto – leitura de fruição. Segundo Cagliari (2008), a leitura tem os objetivos de ensinar e treinar a pronúncia dos alunos no dialeto padrão e em outros; de ajudar os alunos a aprender o que é escrever e qual a forma ortográfica das palavras. Para conseguir esses objetivos da leitura é preciso planejar as atividades de tal modo que se possa realizar o que se pretende. Como a leitura é uma atividade cooperativa, o leitor lê para tirar do texto o que o texto não diz, mas pressupõe, promete, implica ou implicita, a preencher espaços Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 vazios, a ligar o que existe num texto com o resto da intertextualidade, de onde ele nasce e onde irá se fundir (MAINGUENEAU, 1996). De acordo com Evaristo (1997), o objetivo do ato de ler é formar um leitor crítico, capaz de se assumir plenamente enquanto cidadão. A formação/constituição desse sujeito-leitor é um trabalho reflexivo que precisa ser assumido pelo ensino da língua materna. No dizer de Freire (1988), o leitor lê para reescrever o que está lendo, para descobrir a conexão entre o texto e o contexto do texto, e também para vincular o texto/contexto com o seu contexto de leitor. Lê-se para fazer da leitura não uma mera decodificação de uma mensagem, mas sim para fazer dela uma atividade interativa entre leitor-autor-texto-contexto (AZAMBUJA E SOUZA,1997). Kleiman (1989), ao citar Orlandi (1984) diz que ao ler, o leitor é levado através da leitura a questionar, a confrontar, a levantar-testar-hipóteses, a buscar significados e descobrir, enfim, que o texto pode oferecer “múltiplos sentidos”. Como motivar o aluno para a leitura? Segundo Azambuja e Souza (1997), antes de qualquer estudo de texto, é preciso preparar o aluno para a leitura porque grande parte do sucesso desse estudo está nessa fase de predisposição para a leitura, na qual o professor motivará o aluno despertando nele o interesse pelo texto a ser estudado. Motivando esse aluno ele terá a sua curiosidade aguçada e o seu conhecimento ativado. É importante que o texto não seja entregue, “secamente” ao aluno e que haja uma preparação prévia, partindo-se de experiências já vivenciadas pelo mesmo até se chegar ao texto propriamente dito. Para isso, o conhecimento prévio do aluno, quer seja linguístico – conhecimento dos recursos que a língua oferece – quer seja extraliguístico – tudo que não se enquadra às exigências gramaticais – deve ser ativado pelo professor, para que possa haver um engajamento entre o leitor e o texto a ser estudado. Podemos, portanto, a partir das experiências reveladas pelo leitor desencadear uma série de atividade, quais sejam: observação, discussão, relato, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 debate sobre filmes, pesquisa bibliográfica e de campo, etc, que propiciarão enriquecimento e suscitarão interesse para as etapas posteriores do estudo do texto. Segundo Orlandi (1984), o primeiro contato com o texto é muito importante que seja feito individualmente para que o aluno, de acordo com o seu ritmo próprio de leitura, busque o significado global do mesmo, relacionando suas “histórias de leituras” com o texto em questão. Esse relacionamento de histórias de leituras leva o aluno a criar uma atitude de expectativa prévia com relação ao conteúdo do texto lido e o leva também, a fazer previsão e a utilizar múltiplas fontes de conhecimento na busca de uma maior compreensão, pois a leitura é uma atividade essencialmente preditivade formulação de hipóteses, para a qual o leitor precisa utilizar seu conhecimento linguístico conceitual, e sua experiência (KLEIMAN, 1984). Ainda segundo Kleiman (1989), antes de se fazer um estudo analítico do texto, é necessário que o aluno leia-o, pois a materialização da mensagem, por intermédio de recursos linguísticos e/ou gráficos é eficazmente percebida quando se desenvolvem atividades de leitura. Tais atividades podem ser feitas individual ou coletivamente, oral ou silenciosamente. Que considerações importantes devemos ter com a leitura e a interpretação de textos na sala de aula? Segunda Cagliari (1997), uma das piores atitudes da escola atual em relação à leitura é a maneira como faz interpretação de textos com os alunos apenas à base de questionários. Quando uma criança ouve histórias, assiste à televisão, é perfeitamente capaz de entender o que ouve. É evidente que sua compreensão não é igual a de um adulto, mas, quando não entende algo que julga importante saber, a criança pergunta. Esse procedimento de interpretação de textos através de perguntas “óbvias” não só induz o aluno a pensar que interpretar texto é saber o sujeito de uma oração ou o objeto direto, etc; como ainda tira todo o sabor da leitura, substituindo-o por um gosto chato de questionários. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 Uma atividade possível com a leitura de textos é a discussão do assunto com os alunos, não só do conteúdo mas até mesmo da forma. Pode-se pedir aos alunos que contem a mesma história com as próprias palavras (sem roteiro). Isto é fazer uma interpretação criativa, não – repetitiva, do texto. Às vezes, uma simples leitura basta. Nem tudo o que se lê precisa ser discutido, comentado ou interpretado. Esse é outro erro que se vê eventualmente em livros didáticos. A leitura às vezes é como uma música que se quer ouvir e não dançar. A interpretação de um texto nada mais é que compreendê-lo, não ter dúvidas ao final da leitura, é falar sobre ele, criticá-lo, analisá-lo, apreciá-lo. Por isso é de suma importância a previsão que é a utilização de todo conhecimento prévio possuído pelo sujeito, permitindo-lhe compreender, experimentar e apreciar o que lê. Esses conhecimentos trazem significados para os textos, reduzem a ambiguidade e eliminam alternativas irrelevantes. Sendo a leitura uma atividade que exige grande interação, o estabelecimento de relações entre toda a experiência vivida, entre os conhecimentos já construídos e o que o escritor propõe, ela requer um pensar que se estabelece antes, durante e após o ato de ler (FRANCO, 1997). Kleiman (1989) trata da compreensão de textos escritos destacando a importância do conhecimento prévio do leitor na compreensão de textos; a necessidade de estabelecimento de objetivos e formulação de hipóteses na compreensão destes textos, visando torná-los mais acessíveis; o processo inconsciente utilizado pelo leitor para compreender o texto escrito através de suas marcas formais. O contato com o texto para compreendê-lo pode ocorrer por intermédio de uma leitura ascendente, levando o leitor a partir de unidades menores, de detalhes que o texto oferece, para se chegar ao significado global do mesmo. Por outro lado, a compreensão do texto pode também ocorrer em um processo descendente pelo qual parte-se de uma visão global, isto é: o leitor direciona-se das partes maiores para as partes menores, sempre numa tentativa de buscar o significado levantando hipóteses por meio de pistas oferecidas pelo texto. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 Ainda de acordo com Franco (1997), viver em sociedade exige conhecer e utilizar-se de diferentes materiais impressos2 que circulam ou que atropelam, visualmente, as pessoas como outdoor, propagandas, cartazes, panfletos, jornais, revistas, receituário médico, placas, anúncios, bilhetes, catálogo telefônico, circulares, ofícios, requerimentos, cheques e muitos outros. Permitir a exploração destes materiais significa partir da realidade dos educandos, isto é, do que é cotidiano; significa, ainda, propiciar-lhes oportunidade de ampliar e aprimorar a sua competência linguística, de se adaptarem à sociedade. A leitura de textos funcionais, científicos e literários, a partir do conhecimento e do domínio das propriedades específicas de cada um são alguns pontos a serem construídos juntamente com os alunos. Deste modo, o texto técnico/informativo exige escritor e leitor interessados em determinado tema. Permite o crescimento do indivíduo enquanto ser social e de cultura. Os textos científicos/informativos possibilitam novas formas de pensamento; trazem novos conhecimentos, permitem avanços científicos e a busca de soluções alternativas. São textos relacionados com o conhecimento sistematizado já produzido pelo homem nos diferentes campos da ciência. Permite acrescentar coisas ao que se sabe. Conforme afirmam Azambuja e Souza (1997), o aluno não pode fazer uma leitura superficial de um texto porque leva a uma atitude passiva e consequentemente, a um desinteresse total pela leitura. Ao estudar um texto para compreendê-lo pode-se voltar a novas leituras tantas vezes quantas forem necessárias, de modo parcelado, facilitando assim a análise do mesmo. Essa etapa pode ser feita oralmente, em grupos menores de alunos ou mesmo com todos eles. A posição do professor, como estimulante, deve ser aquela que direciona, sem imposição, por intermédio de atividades sugestivas – questionadoras, a fim de que os alunos atinjam os objetivos propostos para o estudo do texto, chegando a um aprofundamento do mesmo. É exatamente nesse momento que a compreensão 2 Sobre os diversos tipos de material falaremos na próxima unidade. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 deixa de ser superficial, à medida que o aluno levanta hipóteses, para testá-las, confirmá-las ou refutá-las. Estudar um texto é perceber não só o que está explícito, mas também descobrir o que se apresenta de modo mais sutil. O estudo do texto não pode ser visto como uma técnica em que se pode oferecer roteiros rígidos: cada texto poderá ter um tipo de abordagem; cada turma de aluno poderá determinar a abordagem do texto, finalmente, cada professor, de acordo com o seu grau de sensibilidade e de criatividade criará condições diferentes para a abordagem do texto. Ao se estudar um texto, quando se faz uma leitura ascendente, a compreensão de vocabulário é imprescindível pois colabora para o aprofundamento e a ampliação do conhecimento. Por isso, o trabalho com o vocabulário do texto deve ser feito no início do estudo de texto e que seja retomado no decorrer do mesmo. Um outro ponto importante quando se trabalha com o vocabulário de um texto é o fato de esse trabalho não se limitar, apenas, a uma pesquisa no dicionário, mas é imprescindível a volta ao texto
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