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5 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 6 7 Profª. Marisa Pascarelli Agrello Profª. Nila Mara Cunha Carvalho PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 2ª Edição 2017 8 9 Sumário Palavra do Professor-autor Ambientação Trocando ideias com os autores Problematizando 1.Unidade de Estudo: Construção da Aprendizagem 1.1Reflexões sobre o ato de ensinar/aprender 1.2 A Educação como processo de formação 1.3 Operações do pensamento 1.3.1 Comparação 1.3.2 Observação 1.3.3 Classificação 1.3.4 Interpretação 2. Unidade de Estudo: Conceituação de Aprendizagem 2.1 Aprendizagens: conceitos e reflexões 2.2. Aprendizagem e o ciclo vital 2.3 Pensando sobre a infância 2.4 Ações do professor na formação de vínculos 2.5. Alguns princípios norteadores 3. Unidade de Estudo: Teorias da Aprendizagem 3.1 - Teoria do condicionamento ou comportamento 3.2 - Teoria da Gestalt 3.3 - Teoria de campo 3.4 - Teoria cognitiva 3.5 - Teoria Fenomenológica 10 3.5.1 Fenomenologia e Aprendizagem 4.Unidade de Estudo: A motivação na Aprendizagem 4.1. Conceito de Motivação da Aprendizagem 4.2. Motivo e Incentivo 4.3. Aspectos da motivação na aprendizagem 4.3.1Fatores Positivos 4.3.2 Motivação- Positiva e Negativa 5.Unidade de Estudo: Inteligências 5.1 Inteligência ou Inteligências 6. Unidade de Estudo: Sociedade e cultural 6.1 Conhecimento 6.2 Educação 6.3 Escola 6.4 Ensino/ Aprendizagem 6.5 Professor /aluno Explicando melhor com a pesquisa Leitura Obrigatória Pesquisando na Internet Saiba mais Vendo com os olhos de ver Bibliografia Bibliografia web Vídeos 11 Palavra do Professor-Autor Olá! A psicologia da Aprendizagem traz uma abordagem técnica de assuntos pertinentes à psicologia na área educacional. Dimensão esta, voltada para a educação a fim de favorecer aos acadêmicos de licenciatura a construção de saberes. Caracterizando conceitos da aprendizagem humana, bem como o desenvolvimento e suas teorias, compondo um cenário repleto de conhecimentos para utilizar de forma propicia em seu crescimento intelectual, valendo-se dos ciclos de aprendizagem. Nessa perspectiva, ressaltamos que o estudo dessa disciplina far-se-á de modo criativo com leituras voltadas à área, trocas de ideias com autores consagrados na pedagogia, testes e exercício para que o acadêmico sinta-se envolvido com a disciplina na modalidade a distância. As autoras. 12 Ambientação Olá, sejam bem vindos à disciplina de Psicologia da Aprendizagem! A aprendizagem é o processo do qual o indivíduo necessita de interação com outros. Desde cedo o indivíduo vai aumentando as formas de lidar com o mundo estruturando significados para as suas ações, com o uso da linguagem ganham maior abrangência. A sociedade continua evoluindo e o sistema escolar é sacudido por novas demandas de transformações. Os desafios são novos, embora os ideais sejam os mesmos. Nossa responsabilidade é avançar na construção de uma dinâmica libertadora dentro de sistemas educacionais, como reformadores de uma prática que devemos reconstruir, participando das ideias e dos ideais que continuam sendo transformados. Esse mundo não se esgota nos saberes acerca da Educação (o que se pensa). E no saber fazer (o domínio das habilidades para desenvolver a prática). Fazem parte dele as intencionalidades (pretensões, motivações, ilusões, projetos, entre outros), abrindo caminhos, movendo-nos e nos dando razões para desejar e buscar realidades melhores. Os saberes acerca de saber fazer e intencionalidades configuram o acervo cultural da Educação, sobre o que é e o que significa educar, da qual participamos e sobre a qual tomamos posições, de maneiras diferentes. Educar consiste em imprimir uma determinada direção à cultura, à sociedade e ao mercado e ao modo de ser dos homens, respeitando as diferenças individuais. Nessa perspectiva sugerimos a você a leitura do livro Psicologia e educação: o significado do aprender. Aprofunde nesta leitura, pois irá levá-lo a descobertas incríveis no mundo do aprender, esclarecendo o processo de aprendizagem. 13 ROSA, Jorge de La. Psicologia e educação: o significado do aprender. 7. Ed. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 14 Trocando ideias com os autores Agora vamos trocar ideias com os autores das obras indicadas Para aprofundamento do conteúdo, sugerimos a leitura do livro Psicologia e Educação: professor, ensino e aprendizagem, o qual lhe ajudará a compreender melhor a psicologia no âmbito escolar. A obra enfoca assuntos relevantes da Psicologia e Educação destacando professores e alunos no contexto no processo ensino aprendizagem. WITTER, Geraldina Porto. Psicologia e Educação: professor, ensino e aprendizagem. Editora: Alínea. 2004. Para mergulhar no mundo de Piaget, indicamos o Livro Piaget para principiantes. Você vai se deliciar com uma aprendizagem através de metáforas que faz correlação com as teorias do referido autor. 15 Para um olhar mais direcionado à Psicologia é importante a leitura dessa obra, Psicologia do desenvolvimento: teorias e temas contemporâneos. Essa leitura será de extrema importância, pois trata de temas atuais NUNES, A. I. B. L.; XAVIER, A. S. et all. Psicologia do Desenvolvimento: teorias e temas contemporâneos. Brasília: Liber Livro, 2009. Após a leitura das obras, escolha uma delas e faça uma resenha crítica e comente com seus colegas. 16 Problematizando Reflita sobre o texto abaixo A sala é linda! Mas de que adianta se não se pode apreciá-la de perto? O professor se esmerou em organizar tudo. Mas de que vale se deixou que a tarefa não fosse agradável? Tenho que aprender tudo isso? Acho que vou gostar. Parece tão chato! Ih! ... Desanimei! Acho que eles não gostaram de nada. Parecem até que estão com sono! E aquele capetinha ali? Já vi que vai dar trabalho! Reflita e responda a cada uma das colocações e relate a que conclusões você chegou referente ao texto. Um professor passou horas elaborando um planejamento dentro do que ditava as normas da Didática e os padrões determinados pela escola, visando atingir determinados objetivos propostos pela Instituição. Enquanto trabalhava, solitariamente, na sua fantasia, pensava na formação do estudante. Elaborou materiais, enfeitou a escola, a sala de aula... Em nenhum momento dessa pequena história o professor se deu conta de que a questão do vínculo é fundamental. Não houve oportunidade para que se formassem vínculos positivos com os objetos presentes no contexto “sala de aula”. Pelo contrário, os vínculos estabelecidos neste primeiro encontro foram o pontapé inicial num jogo de vínculos mal-sucedidos e com internalização plena de “objetos maus”, que significa que os vínculos formados não foram introjetados de forma positiva pelo aluno. (KLEIN apud SEGAL,1975,p.109).17 18 CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM 1 Conhecimento Compreender as dimensões da aprendizagem humana. Habilidade Identificar as dimensões da aprendizagem humana no cotidiano. Atitude 19 20 Estabelecer um parâmetro de aprendizagem articulando a teoria e a prática profissional. 1.1 Reflexões sobre o ato de ensinar/aprender Educar alguém é uma das missões mais complexas e mais belas do ser humano, pois ela envolve muitas dimensões do desenvolvimento, variáveis sociais, além de proporcionar, mais que formação, a “trans-formação” do ser. A educação se dá em uma realidade que sofre alterações constantes com relação à tecnologia, ideologia, comportamento e, principalmente, em relação a valores. Vale ressaltar que uma das características que têm preocupado as pessoas que atuam na formação de crianças e jovens é a velocidade vertiginosa com que essas alterações estão acontecendo neste momento da história da humanidade. É preciso, talvez, nos determos na base constituinte da vida humana e compreender nossas potencialidades para que possamos saber agir, com mais simplicidade e muita criatividade. Estamos nos referindo a nossa constituição biofisiológica. Um aspecto que não muda, e acreditamos que é nele que deva se apoiar grande parte da ação educativa é o potencial exploratório de toda criança, ou seja, sua curiosidade natural. É essa força instintiva que faz a criança, em seus primeiros contatos com o contexto, colocar toda sua energia para manter seus níveis de equilíbrio e de satisfação de suas necessidades. Quando tem poucos dias de vida, o choro é seu instrumento mais usado pela criança; sua boca é usada para explorar tudo, até que possa usar os dedos quando quiser conhecer algo novo. Mais tarde, ela adquire outras habilidades para seguir explorando o mundo. O impulso para satisfazer as necessidades, para sentir prazer e para conhecer, já vem com a criança, o trabalho dos pais, cuidadores e educadores é saber como intervir para estimular este potencial e oferecer-lhes conteúdos que possam lhes orientar em seu caminho de socialização. 21 Rubem Alves (1933-2014) foi um dos educadores que mais escreveu sobre a simplicidade do ato de ensinar, apostando no aspecto biológico e natural da aprendizagem. Segundo ele, o ato de ensinar se assemelha ao ato de cozinhar porque está implícito que quando existe fome todo o organismo se empenha na ação de saciá-la e o faz da melhor forma possível. Ele trata esse tema, especificamente, em seu livro Estórias de quem gosta de ensinar (1993). Para ele, aprender carrega em si um prazer semelhante ao ato de cozinhar e ao ato de comer. Em seu livro Ao professor com o meu carinho, ele faz a seguinte referência: Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: “Não quero faca nem queijo: quero é fome.” O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome, é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar queijo... Sugeri, faz muitos anos, que, para entrarem numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. (ALVES, 2004, p.51). Em outras palavras, ensinar, ação constituinte do ato de aprender, requer a habilidade de despertar a fome, ou melhor, a curiosidade do aprendiz. É saber dar-lhe o estímulo para aprender e não simplesmente dar-lhe o conteúdo pronto. Afinal, isto não é aprendizagem, é transferência e repetição. Porque a Educação é vista como um processo de formação? 1.2 A Educação como processo de formação O pensamento está ligado diretamente à ação do ser humano no mundo globalizado não se limitando ao campo cognitivo abrangendo a criatividade, imaginação, expressão corporal, verbal, atitudes, sentimentos, sonhos e valores. Os estudos da Psicologia da Aprendizagem permitem conhecer e compreender o desenvolvimento e comportamento humano auxiliando os 22 futuros professores a propiciarem meios facilitadores para a construção da aprendizagem de crianças e adolescentes. O pensamento está, portanto, ligado a reflexões, ou seja, a perguntas e decisões por meio de experiências vivenciadas no cotidiano e obviamente a qualidade dessas experiências entre o adulto e seu aprendiz. Cabe ao educador propiciar oportunidades para a criança pensar, levantar hipóteses e assim construir e modificar seu pensamento sobre o mundo que a rodeia. O que muitas vezes cria obstáculos à construção do pensamento da criança é o modelo de educação que o adulto recebeu em dizer à criança tudo o que ele deve fazer, ou que ela precisa, impedindo muitas vezes a criatividade e a percepção de mundo fazendo a criança aprender somente o que o professor deseja e não o que ela necessita de acordo com a fase de desenvolvimento que se encontra. A partir dessa primeira reflexão o professor rompendo com paradigmas e perguntando a si mesmo se está aberto a mudanças, sentir-se-á mais satisfeito com a possibilidade de apresentar oportunidades para a verdadeira construção do ensino – aprendizagem e por consequência do seu pensamento e do pensamento da criança que estiver em interrelação com ele. Você sabe qual a missão da escola em relação ao ensino aprendizagem? A escola tem a missão de propiciar além da socialização um espaço para construção de novos saberes, troca de ideias, invenções, novos sonhos, brincadeiras, onde cabe ao professor propiciar este espaço de construção. Com esta nova visão sobre educação estaremos contribuindo para a construção de uma sociedade realmente democrática onde o respeito pela opinião, ideia, palavra, voz, disposição em compartilhar com o outro sem receio da crítica, utilizando suas capacidades, habilidades e competências. Sabe-se que pensar é uma forma de aprender, pois, se tem um objetivo diante dos objetos de conhecimento como nos propõe Piaget (1980) e assim ao nos apropriarmos destes objetos pela experiência, pela exploração e 23 participação ativa os mesmos terão significado para quem aprende, pois terão aplicabilidade na vida. É o que Raths (2000, p.15) chama de “aprendizagem intencional”, pois a criança está amadurecendo ao se apropriar do que é novo, inédito transformando-se em aprendizagem por meio do brincar, do lúdico que é a linguagem da criança. Uma criança diante do inédito, pela exploração concentra-se na atividade levantando inúmeras hipóteses próprias antes de decidir qual a melhor alternativa. Cabe ao educador acompanhar a evolução do raciocínio da criança e não interromper a construção de seu pensamento porque as alternativas demandam tempo. Esse tempo é o da criança e como somos seres únicos e singulares, cada um tem seu próprio ritmo e a interferência na sequência do raciocínio pode causar obstáculos na construção do pensamento e por consequência na aprendizagem. 1.3 Operações do pensamento Todo conteúdo contém uma lógica interna para assimilação, para isso utilizamos os processos mentais ou operações do pensamento. Vamos entender as operações do pensamento. 1.3.1 Comparação Quando a criança compara os objetos brincando está ocorrendo a construção do pensamento. Examina dois ou mais brinquedos com a intenção de observar as relações entre eles procurando os pontos em comum ou de discordância. Dessa maneirase apropria das estruturas fundamentais para operações matemáticas. É por meio das comparações concretas desde a Educação Infantil tão importante que se chegará a complexidade das abstrações. 1.3.2 Observação 24 A criança é uma grande observadora, desde o nascimento à fase inicial do ingresso na escola, (Educação Infantil e Ensino Fundamental) manifesta um comportamento heterônomo, em que as regras de conduta são ditadas por outras pessoas que não ela mesma. O adulto é seu referencial maior, portanto além de participar ativamente, observa cuidadosamente tudo ao seu redor. Animais que brincam, a mãe que faz um bolo, a letra da professora para tentar copiar igual, a maneira do pai se expressar, o corte de cabelo do jogador de futebol de sua preferência, entre outras coisas. As observações provocam na criança mudança de comportamento e aprendizagem estabelecendo comparações, classificações e adaptações orientadas por objetivos a serem atingidos. 1.3.3 Classificação Quando a criança classifica ou separa as coisas com as quais está brincando está colocando em grupo possibilitando a categorização, portanto, está construindo seu pensamento. A classificação proporciona a análise e síntese, componentes fundamentais à construção e interpretação de textos, pois análise é a mensagem que se encontra em cada parágrafo lido ou escrito e síntese é a mensagem principal de um texto. 1.3.4 Interpretação “Interpretar é um processo que o ser humano utiliza para atribuir sentido às suas experiências”. Para melhor compreensão da afirmação o ser humano desde pequeno se apropria do mundo através de suas percepções, sensações, movimentos e atitudes, experimentando, vendo, tocando, sentindo, ouvindo, estabelecendo a diferença de peso, tamanho, forma, cor, textura, entre outros. Interpretar para o Jean Piaget é o que a criança faz ao assimilar uma informação nova. A interpretação ou a assimilação consiste em trazer para si 25 alguns aspectos mais significativos de determinada informação, em detrimento de outros. Observe como muitos alunos universitários têm dificuldade em fazer resenhas críticas, ou em construir seus próprios textos. Em sua história escolar, a maioria não vivenciou a possibilidade de criar conhecimento. Muitos não foram estimulados a pensar sobre o que estavam ouvindo, ou vendo, ou a dar significados, opiniões e muito menos de discordar do professor. A maioria foi orientada a reproduzir o pensamento de seus “mestres”. Você está disposto a romper com modelos pragmáticos de educação e propiciar que crianças se tornem construtoras de seus conhecimentos mediados por você? Para que você possa responder de modo substancial a esta questão é preciso conhecer e estudar alguns autores que são referências quando tratamos da psicologia da aprendizagem. Destacamos Jean Piaget (1896- 1980), Levi Vigotsky (1896-1934) e Paulo Freire (1921-1997). As categorias destacadas neste tópico apontam para a teoria de J. Piaget, chamada de epistemologia genética, que explica sua principal questão sobre como o ser humano constrói o conhecimento. Observando crianças, especialmente seus próprios filhos, Piaget percebeu que, para que haja determinado tipo de aprendizagem, a criança deve estar em um estágio de desenvolvimento motor e psíquico apropriado. Além disso, observou que estes estágios são progressivos e subsequentes. Portanto, não há como acontecerem de modo regressivo ou alternado. Com base em La Taille (1992), destacamos algumas noções basilares em Piaget. Os estágios do desenvolvimento piagetianos são: sensório-motor (crianças de 0-2 anos); pré-operatório (de 2-7 anos) e operatório (de 7 anos - em diante). O estágio operatório se divide em operatório concreto (de 7-11) e operatório formal (de 11 em diante). A aprendizagem infantil envolve o amadurecimento das funções motoras, o desenvolvimento da compreensão do 26 objeto permanente e da capacidade de realizar operações mentais interiorizadas. Assim, enquanto a criança interage com o contexto, constrói o conhecimento, por isso essa teoria é considerada interacionista. Os conceitos de assimilação, acomodação e equilibração são fundamentais para orientar a prática pedagógica. Os três processos acontecem em sintonia e tem como culminância o aprendizado. EQUILIBRAÇÃO Buscar o equilíbrio perdido durante a acomodação. ACOMODAÇÃO Modificar a organização mental para receber os elementos novos. ASSIMILAÇÃO Escolher elementos do contexto e trazê-los para si. 27 28 29 CONCEITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 Conhecimento Compreender o conceito de aprendizagem e conhecer o ciclo vital. Habilidade Identificar as mudanças de comportamento da criança. Atitude 30 31 Estabelecer um parâmetro de aprendizagem; Fornecer aos estudantes a base da Psicologia na aprendizagem humana. 2.1 Aprendizagem: conceitos e reflexões Aprendizagem é tema central na atividade do professor. Pode-se dizer que todo trabalho do professor se resume na questão do ensino/aprendizagem, que se constituem mutuamente. Podemos inclusive dizer que se não houve aprendizagem não houve ensino, assim como, no comércio, se o freguês não chegou a comprar o comerciante não pode dizer que vendeu. Costuma-se definir a aprendizagem dizendo que se trata de uma mudança de comportamento, e aqui precisamos entender comportamento no sentido mais amplo que esta palavra pode ter. Realmente, a criança que, entra na classe de alfabetização sem conseguir fazer leitura e depois de um período passa a ler um pequeno texto apresenta uma modificação. Quem não resolvia uma operação aritmética e passa a resolver, apresenta uma modificação. Os exemplos podem multiplicar-se. Aprendeu: quem adquire a habilidade de nadar, de preparar certo prato culinário, quem adquire novas informações ou quem passa a nutrir certo sentimento por determinada pessoa. É importante conhecer o pensamento de alguns autores sobre o tema. Cavaco et al. (2009, p. 3) destacam que Tolman traz a perspectiva de intencionalidade da aprendizagem afirmando que esta requer o foco em um objetivo. Ou seja, se o aprendiz tem a intenção de aprender o conteúdo poderá ser assimilado mais facilmente. Sprinthall A. N. e Sprinthall C. R. tratam do fato de que há momentos propícios e momentos não propícios para que a criança aprenda. Portanto, a aprendizagem poderá ser facilitada ou dificultada ou até ser prejudicial ao desenvolvimento da criança. J. Piaget, biólogo e epistemólogo suíço e maior referência sobre como se dá a construção do conhecimento, afirma que 32 “[...] o desenvolvimento cognitivo infantil faz-se por estádios [estágios] de desenvolvimento, ou seja, a natureza e a forma das aprendizagens mudam ao longo do tempo mostrando que cada nova aprendizagem advém da maturação de uma estrutura anterior e da “abertura” de uma nova estrutura” (CAVACO et al., 2009, p. 3). Vale ressaltar que o termo, ‘mudança de comportamento’, não se aplica somente às aprendizagens cognitivasou referentes a conteúdos teóricos, geralmente avaliados através de provas. Aprendizagem é fenômeno do dia-a-dia, que ocorre do início ao fim da vida. Não é qualquer mudança comportamental, no entanto, que será considerada aprendizagem. É importante excluir, entre outros casos: As mudanças decorrentes de maturação, por exemplo: a criança que passa a mexer em certos objetos simplesmente porque agora já anda ou alcança o lugar onde estão; As mudanças que têm curta duração e que advêm de eventuais alterações fisiológicas e motivacionais, por exemplo: a pessoa que, cansada após um dia de trabalho, não consegue concentrar-se numa atividade; ou que manifesta reações de comportamento ocasionadas por determinados medicamentos, como por exemplo, ficar sonolenta; ou ainda, a pessoa que manifesta euforia pelo recebimento de notícia muito boa. Cavaco et al. (2009, p. 2), cita que Feldman S. R. reserva o termo aprendizagem àquelas mudanças provenientes de algum tipo de treinamento, como o que ocorre nas aprendizagens escolares. Treinamento supõe repetições, exercícios e prática. Em certos casos, porém, uma única ocorrência parece ser suficiente para modificar o comportamento do indivíduo. Após um acidente automobilístico, é possível que uma pessoa não consiga nem mesmo entrar em um automóvel, por conta do sofrimento vivido. 33 A aprendizagem também acontece por observação. Mesmo não vivenciando propriamente a experiência, a criança aprende com o adulto só por observá-lo atentamente! Para completar a definição, resta mencionar um aspecto. Quem aprende está sujeito a esquecer. Entretanto, um esquecimento rápido demais pode indicar excessiva fragilidade da aprendizagem, ou, para ser mais incisivo, pode indicar simplesmente que não chegou a haver aprendizagem. Se houve atenção no momento do contato com a informação nova, em geral há a retenção da informação, ou seja, a função memória é ativada e o conteúdo poderá ser resgatado quando necessário. Lembrar é uma forma de demonstrar que houve aprendizado. 2.2. Aprendizagem e o ciclo vital Quando pensamos em aprendizagem, tendemos a pensar em crianças ou em situações de formação escolar/educacional. Porém, ela ultrapassa fases de crescimento e pode acontecer em todas as situações do cotidiano. A aprendizagem está muito vinculada ao desenvolvimento, uma não acontece sem a outra. A forma como esses processos vão acontecendo recebe influência direta da fase da vida em que o sujeito se encontra. Erik Erikson (1902-1994), psicanalista alemão, em sua teoria conhecida como Ciclo Vital afirma que o desenvolvimento é algo contínuo. Como esclarece Papalia et al., (2006), o ser humano se desenvolve de modo vitalício, multidirecional e sob condições sócio-históricas. A teoria eriksoniana trata do ser humano em sua totalidade orgânica e existencial identificando fases e destacando em cada uma, sua crise específica. O desenvolvimento humano é descrito por Erik Erikson 1972 como momentos de conflitos internos e externos, que ele designa como 34 “crises”, que o sujeito tem de suportar para ressurgir de cada etapa com um sentimento cada vez maior de unidade interior, ou seja, com sua estrutura egóica mais fortalecida. (BOSSI; SANTOS; ARDANS - BONIFACINO, 2010, p. 2). Na infância é notória a celeridade, qualidade e variedade de ambos os processos (aprendizagem e desenvolvimento). Por isso é tão importante que dediquemos a esta fase cuidados especiais, como presença de profissionais da educação competentes, materiais pedagógicos de qualidade e diversidade de conteúdos de acordo com a idade das crianças. A adolescência, mal compreendida pela maioria das pessoas, traz em si um turbilhão de alterações que são impulsionadas pela produção hormonal que nesta fase se diversifica e aumenta substancialmente. Os sujeitos passam por transformações estruturais de modo rápido e profundo nas dimensões físicas, fisiológicas, psicológicas e, consequentemente, sociais. A fase adulta se caracteriza pela tendência a estabilidade e a necessidade de realização pessoal e profissional, aplicação de conhecimentos, e de produção que possam lhe garantir reconhecimento e condições de sustento individual e familiar. Na velhice a dimensão biológica do desenvolvimento perde qualidade, mas a dimensão psicológica e a sabedoria podem ganhar muito. Erikson (1972, apud BOSSI, SANTOS e ARDANS-BONIFACINO, 2010) organiza e caracteriza seu o ciclo vital da seguinte forma: 1-Confiança básica versus desconfiança básica- corresponde ao momento em que a criança é separada da mãe no nascimento, ao mesmo tempo em que depende totalmente da função materna para viver. 2- Autonomia versus vergonha e dúvida- fase em que a criança passa a controlar os esfíncteres e se sente mais autônoma. Todavia, se há controle exagerado da pessoa que faz a função materna a criança se sentirá envergonhada e insegura. 35 3- Iniciativa versus culpa- fase na qual a criança tem mais habilidade com a linguagem, tem mais mobilidade e curiosidade, especialmente, sobre as diferenças sexuais. As manifestações de curiosidade geralmente são reprimidas e algumas mal entendidas pelos adultos o que gera sentimentos de inadequação e culpa. 4- Diligência (ou Produtividade) versus inferioridade - corresponde a idade escolar, momento em que o aumento de atividades e exigências solicitadas a criança, pode gerar o sentimento de incapacidade para apresentar os resultados esperados pelos adultos. 5- Identidade versus confusão de identidade – Corresponde à adolescência: auto descoberta, singularidade, definição de espaço. Atributos que podem ser conquistados de modo contestador e/ou agressivo. Busca da diferenciação dos adultos. 6- Intimidade versus isolamento – corresponde ao adulto jovem: realizações mais íntimas como o amor, paternidade, maternidade e realização de sonhos. O sujeito busca em si a força para vencer. 7- Generatividade versus estagnação – corresponde ao adulto maduro: momento em que ainda não sendo idoso, já criaram os filhos, muitas vezes não trabalham mais e tendem a proteger os mais jovens, os orientando em suas vidas. 8- Integridade versus desespero- corresponde à velhice, momento em que as realizações existenciais já foram efetivadas (ou não) e que a pessoa se sentindo realizada ou não, visualiza com mais frequência o fim de sua vida. A cada etapa da vida, o sujeito apresenta características biopsicossociais diferenciadas, todavia, em todas há aprendizado e desenvolvimento. Sem dúvida, conhecer como funciona o aspecto mental e psicológico das pessoas nos permite agir com efetividade nas atividades de ensino. 36 2.3 Pensando sobre a infância Algumas pessoas que pensam em trabalhar com crianças e desejam ter boas condições de trabalho para atendê-las da melhor forma possível, certamente ficariam surpresas se soubessem que em outros lugares, em outros tempos, a infância nem existia. Vamos explicar: Entender o que é a infância implica em fazer um breve resgate histórico sobre o tema. Há algum tempo atrás as crianças, na cultura ocidental, eram considerados seres inferiores, pois, não tendo a mesma força dos adultos, não podiam ajudar nos trabalhos na agricultura e pecuária. Logo que ganhavam um pouco mais de peso e estatura passavam a ter responsabilidades em casa e a fazer as mesmas tarefas dos adultos na lida. No período pós-revolução industrial também eram incluídas em tarefas nas fábricas na companhia dos pais ou dos irmãos mais velhos. Suas roupas eram cópias em miniaturas das roupas dos adultos echegavam a frequentar os mesmos ambientes, como bares e até prostíbulos, tendo assim seu desenvolvimento biopsicossocial comprometido. Na verdade, apesar de serem crianças, socialmente eram tratadas como adultos. E assim, com a infância roubada aprendiam antes da hora a ser adultos. Em outro momento da história, a infância passou a ser considerada uma fase de preparação para a vida adulta. A família, a igreja e as instituições de ensino passaram a protegê-la com o intuito de organizar a vida social. Mas hoje como será que a infância é considerada? Mais recentemente, a infância passou a ser considerado um forte grupo de consumo. A sociedade capitalista investe maciçamente em produtos de todas as áreas para todas as idades da infância. Por um lado, essa estratégia fortalece a ideologia capitalista, mas, por outro, garante mais atenção à infância. 37 Além disso, leis, estudos, programas e projetos voltados inteiramente para a proteção às crianças foram criados e são efetivados em muitos lugares do mundo, muito embora existam muitos países em que o tempo parou e a infância continua desprotegida. É através da educação que poderemos garantir o direito das crianças de serem crianças, dando-lhes liberdade e limite, respeitando sua individualidade e o tempo de cada uma crescer em seu próprio ritmo até a vida adulta. Só há aprendizagem quando a criança é o sujeito de sua ação confrontando a realidade do mundo que a rodeia dando significado aos objetos que se apropriou pela experiência e participação ativa com aplicabilidade na vida. A aprendizagem é que permite à criança exprimir e desenvolver suas competências reais, implicando na compreensão do que faz e do motivo porque faz. Significa: aprender para si mesmo; fazer seu; assimilar, portanto, é um processo ativo que modifica ou transforma o comportamento do ser humano de forma duradoura dando oportunidade da livre expressão por meio de inúmeras linguagens. No entanto, conhecendo a realidade da criança, o professor pode compreendê-la melhor e a partir desse conhecimento organizar melhor seu trabalho, valorizar as suas diversas formas de expressão, quer escrita (desde as garatujas até a escrita formal), como também a linguagem corporal, musical, dentre outras que auxiliarão e enriquecerão a construção do saber sobre a leitura e a escrita. A aprendizagem está, portanto, diretamente relacionada à conduta, pois é aprendendo que se reformula a maneira de atuar no mundo e sobre ele. 2.4 Ação do professor na formação de vínculos A relação professor-estudante é fundamental que nos faz voltar ao passado e analisar o que vivemos constatando a intensidade de emoções que 38 passamos. Essa relação é tema discutido em diversos Cursos de Pedagogia, porém sua discussão restringe-se a dissertar e refletir, mas a prática continua a mesma. Só refletir um pouco auxilia o professor a compreender a dinâmica das relações estabelecidas em sala de aula das influências sociais. Há necessidade de propiciar vivências que comprovem as influências nas relações das dimensões sociais que reproduzem na escola um modelo social vigente. No entanto, a escola é parte do sistema social e, portanto, professor, estudante, família e comunidade com suas histórias, cultura, valores, crenças, sonhos e desejos precisam se conhecer para compreender saberes e valorizar habilidades e competências estabelecendo-se assim o verdadeiro vínculo que autoriza a aprendizagem. Entende-se por professor e estudante os papéis sociais que ambos podem desempenhar em sala de aula, proporcionando um espaço de construção do saber. Na sala de aula, a educação resulta da convivência social entre estudante e professor. Segundo Paulo Freire (1991, p.68) o educador já não é o que apenas educa, mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. O diálogo estabelece o relacionamento entre pessoas que ensinam e aprendem, podendo, atuar criticamente para transformar a realidade. Para “ser no mundo”, é necessário estar no mundo com possibilidade de liberdade e não contra ela. A interação professor e estudante é dinâmica. Muitos vínculos são formados, extintos e reestruturados num processo que afeta os dois sujeitos envolvidos de maneira significativa. Um dos aspectos mais importantes neste tema é a formação de vínculos afetivos entre professores e estudantes. 39 2.5. Alguns princípios norteadores Um dos maiores educadores brasileiros, Paulo Freire (1921-1997), usou de extrema sensibilidade e competência para nos despertar e nos instigar a sermos verdadeiros educadores. Para ele ser educador é antes de tudo amar as pessoas e amar o mundo. Educar é proporcionar ao ser humano o reencontro com sua humanidade perdida. Em essência ensinar/aprender é um ato natural, simples (complexo, no sentido de rico) e prazeroso. Entre tantos ensinamentos construídos, Freire (2004) fala em seu livro Pedagogia da Autonomia que não há docência (ensino) sem discência (aprendiz) e que ensinar não é transferir conhecimento, é uma especificidade humana. Estudaremos no nosso curso esse autor e suas ideias transformadoras, mas, por enquanto, veremos alguns cuidados mais gerais que o educador deve ter em sua prática educativa. 1) Despertar a atenção do aluno: A atenção está, diretamente, ligada ao interesse. Despertar a atenção requer, do educador, a capacidade de, conhecendo bem seus alunos, saber quais seus interesses e saber como (metodologia) associar os conteúdos que deverão ser trabalhados a estes interesses. Essa dica serve para aprendizes de qualquer idade, mas pode ser mais necessário com crianças e adolescentes. É preciso explorar recursos variados como, atividades práticas coletivas, pesquisas, sites recomendados, notícias para debate, letras e melodias de músicas, filmes, vídeos e outras formas de arte. Nunca usar apenas “saliva e giz”. 40 Vejamos uma situação que mostra o que um professor não deve fazer: (Harpper, Babette e outros. Cuidado, escola! 8ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1982. p.63) 2) Facilitar, para cada estudante, o estabelecimento e o alcance de seus objetivos de aprendizagem: Como dissemos inicialmente, a criança vive a heteronomia, os outros lhe dizem o que devem fazer e querer. O educador precisa relativizar esse conceito e, aos poucos, estimular-lhe a autonomia. Devemos considerar os planos de educação e os planejamentos pedagógicos, mas podemos incentivar nossos alunos a descobrir o que eles querem aprender dentro do conteúdo proposto. Se as crianças e jovens são diferentes, seus interesses também poderão ser. Ao estudar ciência, por exemplo, alunos podem ter objetivos “Tocou a sineta. O professor de História entrou na sala, mas a discussão entre os alunos continuou, intensa e apaixonada... Dois alunos dessa sala do Colégio de Genebra são espanhóis. Na noite anterior, general Franco havia ordenado a execução de três bascos oposicionistas, o que provocou reações no mundo inteiro. Os alunos viram-se para o professor e pedem sua opinião, sua ajuda para compreenderem o que se passava: “Agora silêncio, calem a boca que está na hora de começar a aula de História...” 41 diferentes para satisfazer sua curiosidade, uns podem querer entender a origem da vida, uns podem desejar conhecer melhor a vida animal e outros como funciona o corpo humano. Respeitados os objetivos do aluno, não acontecerá o que Romain Rolland denuncia: “(...) afinalde contas, não entender nada já é um hábito. Três quartas partes do que se diz e do que me fazem escrever na escola: a gramática, ciências, a moral e mais um terço das palavras que leio, que me ditam, que eu mesmo emprego – eu não sei o que elas querem dizer. Já observei que nas minhas redações as que eu menos compreendo são as que levam mais chance de serem classificadas em primeiro lugar. (Apud: Harper, Babette e outros. Op. Cit., p. 51) 3) Avaliar de forma constante e recíproca: A avaliação também é ação de aprendizagem. E não se restringe a um momento estanque de prova, seminário, etc. A cada aula é possível se verificar o nível de compreensão dos alunos. A avaliação não deve ser feita unilateralmente, os alunos também podem e devem expressar suas avaliações sobre o professor e a aula. A autoavaliação da aprendizagem também deve ser estimulada. Em uma sala de aula todos são aprendizes, inclusive o professor e a avaliação é a condição basilar para ajustes, melhoramentos e avanços na aprendizagem. Pesquisas mostram que alunos que receberam comentários pertinentes em suas provas sobre seus desempenhos aumentaram o interesse pela matéria, passaram a confiar mais no professor e, consequentemente, melhoraram a aprendizagem. 4) Estimular discussões e debates: Criar atividades como roda de conversas, júris, círculo de cultura onde os alunos possam dizer o que pensam e perguntar o que gostariam de saber. Qualquer tema a ser estudado poderá ser adaptado a estes métodos de aprendizagem, cabe ao professor usar sua criatividade ou buscar orientação. A participação estimula o interesse pelo assunto. Veja este exemplo: 42 (Fonvieille, R. apud: Harper, Babette e outros. op. cit., p. 47) “Em classe, fizemos a lista de ações que o aprendizado da língua exige. Com relação à língua falada, andei perguntando a meus alunos o que é que a escola fez para ensiná-los a falar. A resposta de Alan foi espontânea: Mandaram a gente calar a boca”. 43 44 45 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 3 Conhecimento Compreender as teorias da aprendizagem. Habilidade Distinguir e diferenciar as teorias da aprendizagem. 46 47 Atitude Desenvolver estas teorias de forma prática. Acreditamos que a aprendizagem tem um aspecto volitivo, todavia isso não é por si um determinante. É possível que alguém aprenda algo porque é sua vontade aprender. Em sendo a vontade a essência do interesse, da atenção e da motivação, o aprendiz tende a ter sucesso no aprendizado. Portanto, quando se quer é possível aprender. Mas nem sempre é assim, e nem sempre é assim com todas as pessoas. Há pessoas que querem aprender, mas não conseguem. Os motivos podem ser variados, desde problemas de visão, falta de interesse no assunto, problemas com a didática e até dificuldades relacionais. Também não basta que a pessoa que ensina queira que a pessoa a ser ensinada aprenda. Há ainda pessoas que demonstram mais facilidade do que outras em aprender sobre qualquer assunto. Essa diversidade de situações é uma das características que torna esse tema tão rico e instigante e, muitas vezes, o que gera tantos insucessos escolares. Agora você vai conhecer os elementos que interagem entre si no processo de aprendizagem. É fácil verificar que nesse processo há três elementos que interagem entre si: o objeto do aprendizado, a pessoa que aprende e a aprendizagem. Objeto do aprendizado Pessoa que aprende (motivação e estímulo) Aprendizagem (Resultado) 48 Partindo de diferentes bases epistemológicas e concepções teóricas, muitos estudiosos do comportamento humano se detiveram na observação e pesquisa do tema e chegaram a conclusões diferentes sobre o que é fundamental para compreender o processo de aprendizagem. É necessário esclarecer que todas as teorias têm formas diferentes de compreender e explicar o sujeito e o processo de aprendizagem, não encerrando em nenhuma delas a verdade absoluta. Cabe, portanto, àquele que estuda o tema ter a habilidade de utilizá-las de acordo com afinidades conceituais e aplicá-las da melhor forma em seu contexto. Aqui apresentaremos cinco dessas teorias: teoria do condicionamento ou comportamental, teoria da Gestalt, teoria de campo, teoria cognitiva e teoria fenomenológica. 3.1 - Teoria do condicionamento ou comportamento A teoria comportamental também conhecida como Behaviorismo, tem como base a teoria evolucionista de Charles Darwin, e entre seus grandes estudiosos estão I. P. Pavlov (1849-1936), John B. Watson (1878-1958), e B. F. Skinner (1904-1990). Você vai entender os dois tipos de comportamentos. Essa teoria compreende o comportamento humano como ação estimulada pelo contexto ou ação que modifica o contexto. Dessa forma, as repostas ou comportamentos podem ser de dois tipos: comportamento reflexo ou respondente e comportamento operante. 49 Comportamento Reflexo: É inato, já nascemos sabendo manifestá-lo e não envolve um processo de aprendizagem. No comportamento reflexo, o estímulo pode ser entendido como todo e qualquer fator que gere uma resposta na pessoa. Portanto, estímulo (S) sempre implica uma resposta (R), ou seja, S R. O comportamento reflexo é uma forma natural, podemos até dizer biológica do corpo se comportar para poder proteger-se e, sobretudo, sobreviver. Quando o recém-nascido entra em contato com o seio da mãe (estímulo) sua ação imediata é sugar (resposta). O comportamento “sugar” não foi ensinado, a criança já sabia. Outro exemplo de comportamento reflexo é quando puxamos nosso braço rapidamente ao levarmos um choque na mão. Não pensamos ou aprendemos isso, apenas fazemos como uma reação natural do corpo para se defender do perigo. Comportamento Operante: “comportamento que produz alterações no ambiente e é afetado por essas alterações” (MOREIRA & MEDEIROS, 2007, p. 86). O sujeito age e gera uma mudança no seu contexto, que por sua vez lhe influencia. Um comportamento emitido ou resposta (R) gera uma alteração no contexto, ou seja, uma consequência (C). Então, podemos dizer que R.........C. Se o comportamento tem uma consequência, as pessoas podem controlar suas ações para se beneficiar ou não se prejudicar por causa delas. Por exemplo: se estudar regularmente e com dedicação (resposta), o aluno aprenderá e receberá boas notas (consequências). Ou o aluno poderá tentar se beneficiar de uma forma menos ética, como nos quadrinhos abaixo: 50 http://scienceblogs.com.br/psicologico/tag/quadrinhos/ Seja reflexo ou operante, ambos os comportamentos podem ser condicionados, ou seja, podem ser produzidos de acordo com o interesse de quem os está controlando. O condicionamento reflexo, mas conhecido como condicionamento plavioano, consiste em fazer um emparelhamento entre dois estímulos até que um seja substituído pelo outro. Por exemplo, um estimulo que provoca a salivação em um cachorro faminto é a visualização de pedaço suculento de carne. Mas, se ao mesmo tempo (emparelhamento) for apresentado o alimento e emitido o som de uma sirene, e se isso for feito várias vezes seguidas, com o passar do tempo, mesmo não sendo mostradoo pedaço de carne, e sendo apresentado só o som da sirene, o cachorro salivará. O condicionamento operante é utilizado em várias situações e contextos, mas as escolas e os pais de um modo geral o utilizam, frequentemente, para alcançar seus objetivos com as crianças. Condicionar é dar condição para que determinada ação aconteça ou que deixe de acontecer. Vejamos dois exemplos: Quando na escola, os alunos recebem um prêmio pelas boas notas alcançadas. O prêmio é considerado um reforço, os alunos estão sendo condicionados, através do reforço, a estudar; Quando uma criança é proibida de brincar no “pula, pula” porque bateu no irmãozinho, está recebendo uma punição que o fará evitar bater no irmão para não perder sua diversão preferida. Reforço e punição são formas de condicionamento do comportamento, também conhecida como aprendizagem pelas consequências, que permite que as pessoas aprendam aquilo que outras querem. Pois farão aquilo que lhe trouxer consequências agradáveis e não farão aquilo que tenha consequências desagradáveis. 51 Skinner realizou suas pesquisas sobre sua teoria do condicionamento, em parte, através de experiências em laboratório com ratos. Dessa forma sustentou que quando são oferecidos retornos agradáveis o comportamento desejado pode ser repetido e quando os retornos oferecidos são desagradáveis o comportamento indesejado pode ser extinto. Dentro de uma Caixa de Skinner um rato de laboratório aprendeu por condicionamento operante a pressionar uma barra para obter alimento. Sempre que a luz vermelha acendia, o animal, que estava sem alimentação há dias, pressionava a barra e logo recebia uma porção de alimento. Assim ele manteve o comportamento de pressionar a barra, aprendido por condicionamento. Essa teoria pode gerar resultados imediatos, mas até que ponto a aprendizagem por condicionamento é duradoura ou satisfatória? E quando o ratinho tiver saciado sua forme, continuará a pressionar a barra? A situação da sala de aula é muito diferente e nem sempre é possível ou conveniente transferir para seres humanos as descobertas realizadas em laboratórios, com animais. Ao tratarmos de seres humanos a complexidade aumenta muito: somos seres de desejos, emoções, valores e não só seres de necessidades fisiológicas. É fato que alguns alunos se saem bem, mas outros mais autônomos e criativos não se saem bem em programas de instrução programada, ou seja, aquelas com base no condicionamento. 3.2 - Teoria da Gestalt A teoria da Gestalt, ou Teoria da Forma, segundo Ginger (1995, p.17) desenvolve uma perspectiva unificadora do ser humano, integrando ao mesmo tempo as dimensões sensoriais, afetivas, intelectuais, sociais e espirituais. Seus principais estudiosos, ainda conforme Ginger (1995, p. 34), foram Köhler, Koffka, Goldstein, Ehrenfels e Wertheimer. 52 Gestalt é um termo alemão que não encontra tradução exata na língua portuguesa, por isso a utilizamos em sua língua original para designar a ação “de dar forma, dar uma estrutura significante” (GINGER, 1995, p.13). Para você, o desenho ao lado pode ser descrito como um círculo? Na verdade, os pontos não estão ligados, a imagem em sua descrição mais exata não é um círculo, mas você provavelmente respondeu sim à indagação. O motivo de percebermos a imagem como um círculo é que nossa mente tem uma tendência natural a buscar a totalidade harmônica das situações. Se você ver um desenho de um rosto sem o nariz, qual será a sua reação? A percepção é a principal noção dessa teoria. Ao vermos o desenho de um rosto sem o nariz nos incomodamos porque a imagem está incompleta e nossa percepção fica confusa. É natural que a mente humana busque informações que tenham significado, que façam sentido e que nos dê a percepção harmônica da totalidade, por isso muitas vezes fazemos uso da identificação das informações por semelhanças, como na brincadeira de ver imagens nas nuvens. A teoria da Gestalt entende que a totalidade é sempre maior que a soma de suas partes. Em termos de aprendizagem significa que um conteúdo específico só será mesmo entendido quando houver a organização da informação em relação a outras informações. Podemos também dizer que o professor precisa estar atento ao conteúdo apresentado e ao seu contexto, para que a compreensão se dê de forma plena e coerente. A todo instante, nas diversas situações do cotidiano nossa mente seleciona focos de atenção e desprezam outros. O que está em foco denominamos de figura, e o que compõe o entorno do foco chamamos de 53 fundo. Esses dois conceitos são importantes, mas o que nos interessa é a relação entre ambos, já que há um revezamento de posições entre eles. Veja a imagem do lado (Vaso de Rubin). O que você vê? Dois perfis ou um jarro? Se você vê os perfis, esta será a figura e o jarro, o fundo. Se ao contrário, você vê o jarro, esta é sua figura e os perfis, o fundo. Na aprendizagem o mais importante é a relação entre a figura e o fundo, é na transição constante de foco que as percepções, descobertas e avanços acontecem. Podemos dizer que os aspectos principais da teoria da Gestalt aplicáveis à aprendizagem são: a percepção; a totalidade harmônica; o todo é sempre maior que a soma das partes; existência de uma relação dinâmica e constante entre figura e fundo, o aqui-e-agora. Baseada nas categorias citadas, quando aplicada na educação a teoria da Gestalt, que pode ser identificada com o nome de Gestalt pedagogia, tem os seguintes objetivos para que o sujeito aprenda de modo satisfatório: “(...) autoencontro, autorrealização/autossatisfação, recuperação das partes perdidas e reprimidas da pessoa, crescimento pessoal, desenvolvimento potencial humano como um todo, autorresponsabilidade, estímulo da consciência e concentração sobre o aqui- e – agora. (SCHERPP, 1981, p 107). Para os psicólogos gestaltistas, a aprendizagem ocorre, principalmente, por insight. E o que é insight? Segundo Scherpp (1981, p 259), “é iluminação, ou tomada de consciência súbita, a partir de uma experiência 54 interna forte”. É um conceito muito simples e facilmente reconhecido no dia-a- dia das pessoas. O insight é uma espécie de ‘dar-se conta inesperado’. De repente, descobrimos a solução de um problema, lembramo-nos de algo perdido ou esquecido, ou compreendemos uma situação ou uma informação. Esse ‘estalo’ pode acontecer quando estamos buscando respostas ou quando menos esperamos, em momentos em que a mente está descansada e não estamos concentrados na informação em questão. Um exemplo: você está tentando resolver um problema de matemática há horas, e acaba por deixá-lo de lado. Repentinamente, você descobre a solução. Outro exemplo: você tem um trabalho da faculdade para fazer, não sabe como começar, pensa em mil maneiras, mas nenhuma é do seu agrado. Passado algum tempo, surge uma ideia maravilhosa. Os exemplos anteriores mostram algumas das características da aprendizagem por insight: Tudo o que foi vivido anteriormente é subsídio. Há uma contínua organização e elaboração das vivências. A percepção da totalidade da situação deixa claro quais são os dados mais significativos e a resposta, ou o aprendizado aparece quando as informações se conectam e fazem sentido. Em relação ao contexto escolar, a Gestalt amplia a aprendizagem, estimula outras dimensões do ser humano que, sendo uma totalidade complexa, não pode restringir seu potencial apenas à dimensão cognitiva. Para entendermos a visão holística e humanista dessa teoria é preciso saber queela “(...) é uma forma de devolver ao homem toda sua dignidade, seu direito ao respeito em todas as suas dimensões: direito de valorizar seu corpo e suas sensações, satisfazer suas necessidades vitais fundamentais, expressar suas emoções, direito de construir sua unicidade, respeitando a especificidade de cada um (...); direito de desenvolver-se e realizar-se, sem limitar-se ao ter e ao fazer, de criar 55 seus próprios fins (...), de elaborar seus próprios valores individuais, sociais e espirituais”. (GINGER, 1995, p. 97) Como podemos perceber a aprendizagem, nesta perspectiva teórica, exige uma postura diferenciada do professor, da escola, dos pais, e das políticas públicas de educação. Portanto, é preciso refletir se essas dimensões estão incluídas em nossos objetivos educacionais e como fazer para lhes darmos espaço. 3.3 - Teoria de campo A teoria de campo tem forte relação com a teoria da Gestalt, foi formulada por Kurt Lewin (1892-1947), psicólogo alemão – americano, e é umas das bases teóricas dos estudos sobre processos grupais. Como na maioria das culturas, a aprendizagem escolar em nosso país se dá em salas composta por várias pessoas, ou seja, em grupo. Conhecer melhor essa teoria poderá ser útil na atuação dos educadores. Para começar precisamos compreender o que é grupo: “Ele é o resultado de uma integração íntima e de certa forma fusão de individualidades em um todo comum, de tal modo que a meta e a finalidade do grupo são a vida em comum, objetivos comuns e um sentimento de pertencimento, com um sentimento de simpatia e identidade.” (RIBEIRO, 1994, p.33). A teoria de campo entende que no grupo a realidade está em constante movimento, sendo influenciada por subsistemas (indivíduos que fazem parte do grupo) que também se influenciam mutuamente. Além disso, o campo possui três aspectos interligados a serem observados. Ainda segundo Ribeiro (1994, p. 63), o aspecto geográfico é a realidade em si, o psicológico se refere à significação que determinada realidade tem para os sujeitos, e o comportamental tem relação com os dois 56 anteriores, o que equivale dizer que os modos de ser e de estar das pessoas dependem da realidade onde estão inseridas e dos sentimentos e afetos envolvidos. Em termos de aprendizagem faz-se necessária a compreensão, por parte do professor, que o comportamento de determinado aluno nunca é isolado e, ao mesmo tempo, revela significações psicológicas subjetivas. É preciso acolher o indivíduo, tentando entender seu comportamento sem perder de vista a relação comportamento individual - campo. São essas inter-relações que vão afetar a qualidade da aprendizagem. Lindgren (op. cit., p. 42) apresenta o seguinte exemplo: "Simone estava aflita e infeliz no primeiro dia de aula no Jardim de Infância. Ela havia imaginado a escola como uma experiência agradável e excitante, mas, ao invés disso, estava confusa, deprimida e ansiosa. Durante os primeiros dias, ficou grudada à professora, recusou-se a participar dos jogos e atividades e ficou a maior parte do tempo chupando o dedo, coisa que não fazia desde os três anos. No começo da segunda semana, entretanto, ela começou a corresponder às sugestões da professora de que poderia gostar de brincar de casinha com outras meninas, e, depois de alguns dias, estava gostando do Jardim de Infância como qualquer outra criança". Inicialmente, Simone percebeu a escola como uma situação ameaçadora, cheia de perigos desconhecidos, e manteve-se ansiosa, junto à professora, como teria permanecido junto à mãe. Quando conseguiu organizar um quadro da nova situação, desenvolvendo o conceito de si mesma como aluna de Jardim da Infância, passou a comportar-se mais de acordo com essa realidade e sentiu-se mais segura. Agiu de maneira correta a professora, que não fez muita pressão para que Simone participasse intensamente das atividades junto com outras crianças, pois entendeu que o comportamento de Simone era normal nos primeiros dias de escola. A conclusão de Lindgren é a seguinte: "O fato é que o comportamento da criança é determinado por sua percepção de si própria e do mundo que a 57 rodeia. Se esta percepção se modifica, muda também seu comportamento. Por mais que o desejam, os professores não podem transmitir conceitos diretamente às crianças, insistindo, por exemplo, para que se tornem mais maduras e realistas em suas atitudes. Usualmente, essas sugestões diretas servem apenas para fortalecer as atitudes imaturas que estão interferindo no desenvolvimento de conceitos mais realistas e consequentes comportamentos". Dar atenção ao campo em uma sala de aula significa ampliar e ao mesmo tempo focar a visão para perceber todas as variáveis que influenciam a aprendizagem de todos os aprendizes e de cada um deles, especificamente. 3.4 - Teoria cognitiva A teoria cognitiva, elaborada inicialmente por John Dewey e depois por Jerome Bruner concebe a aprendizagem como solução de problemas. É por meio da solução dos problemas do dia-a-dia que os indivíduos se ajustam a seu ambiente. Da mesma forma deve proceder a escola, no sentido de desenvolver os processos de pensamento do aluno e melhorar sua capacidade para resolver problemas do cotidiano. Como a escola pode fazer isso? É Dewey quem responde: "A criança não consegue adquirir capacidade de julgamento, exceto quando é continuamente treinada a formar e a verificar julgamentos. Ela precisa ter oportunidade de escolher por si própria e, então, tentar pôr em execução suas próprias decisões, para submetê-las ao teste final, o da ação" (Apud: Lindgren, H. C. Op. cit., p. 253). Dewey foi um professor preocupado com os problemas práticos do ensino e defendia o ponto de vista de que a aprendizagem deveria aproximar- se o mais possível da vida prática dos alunos. Isto é, se a escola quer preparar seus alunos para a vida democrática, para a participação social, deve praticar a democracia dentro dela, dando preferência à aprendizagem por descoberta. 58 Vamos observar seis passos característicos do pensamento científico: apontados por Dewey: 1.º Tornar-se ciente de um problema. Para que um problema comece a ser resolvido, é preciso que seja transformado numa questão individual, numa necessidade sentida pelo indivíduo. O que é problema para uma pessoa pode não ser para outra. Daí a importância da motivação. Na escola, um problema só será real para o aluno quando sua falta de resolução constituir fator de perturbação para ele. 2.º Esclarecimento do problema. Este passo consiste na coleta de dados e informações sobre tudo o que já se conhece a respeito do problema. É uma etapa importante, que permite selecionar a melhor forma de atacar o problema, e que pode ser desenvolvida com auxílio de fichas, resumos, etc., obtidos de leituras e conversas sobre o assunto. 3.º Aparecimento das hipóteses. Uma hipótese é a suposição da provável solução de um problema. As hipóteses costumam surgir após um longo período de reflexão sobre o problema e suas implicações, a partir dos dados coletados na etapa anterior. 4.º Seleção da hipótese mais provável. Depois de formulada, a hipótese deve ser confrontada com o que já se conhece como verdadeiro sobre o problema. Rejeitada uma hipótese, o indivíduo deve partir para outra. Assim, por exemplo, se o carro não dá partida, posso levantar as seguintes hipóteses: a bateria está descarregada, falta gasolina, há problemas no platinado, etc. Essas hipóteses podem ser descartadas, à medida em que o motorista lembrar-se de que a bateria foi verificada, de que colocougasolina, de que o platinado está relativamente novo, etc. 5.º Verificação da hipótese. A verdadeira prova da hipótese considerada a mais provável só se fará na prática, na ação. Isto é: se a hipótese final do motorista atribuía o problema do carro ao platinado, o passo seguinte será verificar o estado da peça. Se o carro não der partida após a troca do platinado gasto, o indivíduo vai formular nova hipótese e poderá 59 chegar a redefinir seu problema, pois a solução de problemas ocorre em movimento contínuo, que percorre seguidamente uma série de etapas. 6.º Generalização. Em situações posteriores semelhantes, uma solução já encontrada poderá contribuir para a formulação de hipótese mais realista. A capacidade de generalizar consiste em saber transferir soluções de uma situação para outra. Da teoria cognitiva emergem algumas considerações importantes. Vejamos: Convém estimular o aluno à solução de problemas que o ensino da sala de aula seja o mais aproximado possível da realidade em que vive o aluno, a fim de que ele aprenda na prática e aprenda a refletir sobre a sua própria ação. Sobre isso, Lindgren relata um exemplo interessante: "Uma pessoa que visitava uma turma de quarto ano perguntou às crianças”: - O que vocês fazem quando, ao andar pelo corredor, veem um pedaço de papel no chão? Todas as crianças sabiam a resposta: - A gente o apanha e põe no cesto do lixo. “Alguns minutos mais tarde, soou o sinal de recreio e as crianças saíram depressa para brincar, passando pelo corredor que levava ao pátio. O corredor estava cheio de papel picado (posto pelo visitante). Havia um cesto de lixo por perto. Nenhuma criança parou para pegar o papel". (Op. cit.,p. 219) Convém que o professor estimule a criança a não ficar na dependência dos livros, do professor, das respostas dos outros. Convém educá-la para que ela mesma encontre suas respostas. Para o futuro, é muito mais educativa uma solução de um problema real, à qual a criança 60 chegou por conta própria, do que a memorização de dez soluções apresentadas pelo professor. No entanto, a fim de que o aluno desenvolva seu raciocínio, convém que seja motivado para isso, que tenha oportunidade de raciocinar. Contribui nesse sentido a apresentação da matéria em forma de problemas a serem resolvidos e não em forma de respostas a serem memorizadas. Outra contribuição que o professor pode dar para desenvolver o espírito científico consiste na utilização de uma linguagem acessível ao estudante, próxima de sua linguagem habitual. Isso é necessário para que o aluno entenda o problema, saiba do que se trata. Veja o seguinte exemplo: Esse exemplo mostra que metade dos alunos havia memorizado a resposta, mas, aparentemente, ninguém havia entendido seu significado. O trabalho em grupo favorece o desenvolvimento da capacidade para solucionar problemas, pois permite a apresentação de hipóteses mais variadas e em maior número. "Uma amiga, ao visitar uma escola, recebeu um convite para examinar os alunos de geografia. Depois de olhar um pouco o livro, perguntou: - Suponha que você abra um buraco no chão e chegue a uma grande profundidade. Como seria o fundo do buraco? Seria mais quente ou mais frio que a superfície? Como ninguém na classe respondeu, a professora disse: - Eu estou certa de que eles sabem, mas você não perguntou corretamente. Vou experimentar. Pegou então o livro e perguntou: - Em que condição está o interior do globo? Recebeu a imediata resposta de metade da classe: - O interior do globo está numa condição de fusão ígnea”. (James, W. Apud: Mouly, G. J. Op. cit., p. 310). 61 A direção autoritária da classe, em que o professor manda e os alunos só obedecem, prejudica o desenvolvimento do raciocínio: se os alunos não participam da formulação do problema, é natural que tendam a atribuir ao professor a responsabilidade pela solução. Os alunos tornam-se, nesta situação, dependentes das respostas do professor, ao invés de desenvolverem sua criatividade. ________________ Fonte texto sobre Psicologia Cognitiva: Psicologia da Educação. Curso de Educação Física na FAEFM http://www.ebah.com.br/content/ABAAAesZcAG/psicologia-educacao?part=5 3.5 - Teoria Fenomenológica Para entendermos melhor como esta teoria se aplica à aprendizagem, vejamos este pequeno texto que oferece uma síntese da base filosófica da fenomenologia. Fenomenologia Antes de falar em fenomenologia, é importante entendermos que a ciência do século XIX foi influenciada pelas ciências naturais, especialmente, no que se refere à utilização do método objetivo e experimental. Pensar em objetividade na ciência implica em uma separação clara entre sujeito e o mundo, entre aquele que faz ciência (sujeito) e seu objeto de estudo (mundo). Esta certeza quando se trata de ciências humanas, especialmente, da psicologia, assim como da educação significa que o ser humano passa a ser considerado um objeto. Mas, como tratar o ser humano apartado de sua humanidade? A única forma seria pensar um ser humano desapropriado de sua subjetividade, o que parece ser uma grande incoerência. Esta dicotomia sujeito x objeto nega a existência da interdependência entre objetividade e subjetividade. Trazendo para a educação e, mais 62 especificamente, para a aprendizagem, o sujeito estaria separado do seu objeto de aprendizagem. O filósofo Edmund Husserl (1859- 1938) não só discordou da ideia de que sujeito e objeto sejam puros um em relação ao outro, como propõe a Fenomenologia como método a ser utilizado pelas ciências humanas. Neste método, o distanciamento desaparece e há o reconhecimento de um imbricamento entre ambos. Husserl usa os conceitos de consciência e de intencionalidade para deixar clara esta relação de imbricamento. A intencionalidade se refere ao fato de que a consciência está voltada para algo, que para ela, é dotado de um sentido. “O homem é um ser consciente e que a consciência é sempre intencional” (HUSSERL, 1901 apud FORGHIERI, 1984, p.15), ou seja, a consciência (sujeito) é sempre a consciência de algo (objeto), não há como separar. Husserl (1901, apud FORGHIERI, 1984) diz que o fenômeno pode ser conhecido em sua essência de forma objetiva e categorial. A forma objetiva é a que atende às necessidades e características das ciências naturais. Nesta forma, é possível haver um distanciamento entre sujeito e objeto, a reflexão é o instrumento que norteia a investigação da verdade. Podemos dizer que esta forma corresponde ao método experimental. Por forma categorial entendemos como sendo a percepção do próprio instante vivido em sua imediaticidade e potência. Instante em que não se pensa sobre o que se vive..., apenas se vive. É o que acontece antes de se pensar, é a pré-reflexão. Quando não há cultura, não há passado, nem futuro. Há um presente que é ‘totalidade’, onde o lugar é a imensidão do espaço de uma existência. “A vivência é o instante vivido de um mundo vivido” (DILTHEY, 1978, apud GÓIS 1995, p.69). Esta forma corresponde ao método fenomenológico. O filósofo Merleau-Ponty (1908-1961) tem um pensamento semelhante ao de Husserl, no sentido de se contrapor ao pensamento dualista na relação sujeito x mundo, mas discorda dele no que se refere ao método da redução fenomenológica. A redução é a suspensão de julgamento, ou distanciamento entre a pessoa e o objeto com a qual ela entra em contato. 63 Embora seu conceito esteja na direção dos conceitos de Husserlpara M. Ponty sujeito e mundo estão mais que interligados e representam juntos, mais do que um ser-no-mundo. Sua percepção se aprofunda: é como se sujeito e mundo fossem constituídos um pelo outro e vice versa, de uma forma tão irredutível que podemos dizer que o “ser é mundo” ou, usando o termo que ele mesmo usa, o ser é “mundano”. A ideia de Merleau-Ponty sobre o ser mundano radicaliza o conceito de homem e de mundo e da relação entre eles. Como nos diz Leitão (1990) é um pensamento que vê o ser humano entrelaçado ao mundo e este naquele a ponto de transcender a pura individualidade. É como nas pinturas de Cézanne (1939-1906), onde não há contornos limitando as formas e as cores, o que há é movimento. Para ele a redução completa é algo improvável, pois temos uma existência permeável ao mundo, não sabemos ao certo onde começa o ser, onde começa o mundo. Somos visíveis e vemos. Somos constituídos em fusão, somos uma sustância única, mas podemos usar nossa capacidade de privilegiar o mundo ou o sujeito de acordo com a situação, como é caso de uma relação psicoterapêutica ou de aprendizagem. _______________ 1 Dahlias - Cézanne. Disponível em http://www.mestresdapintura.com.br/loja/posimpressionismo-paul-cezanne-c-96_98.html. Acesso em 18/07/2014 às 18:09hs. Obra de Cézanne. Dahlias1 Portanto, aplicando esta teoria à aprendizagem podemos entender que aprendiz e aprendizagem tanto estão juntos como se constituem mutuamente. Não há uma incorporação ou inclusão de conteúdos na mente do aprendiz, mas uma mistura de limites em que o sujeito é o conteúdo que aprende e o aprendido forma a identidade do sujeito. 64 3.5.1 Fenomenologia e Aprendizagem Podemos usar a lente da fenomenologia e entender a aprendizagem da seguinte forma: 1- O aprendiz não está separado do seu objeto de aprendizado (relação consciência e intencionalidade). A partir do momento que tomamos consciência (sabemos da existência) de algo, esse algo passa a existir. Isso implica que o ser está aberto para o mundo, o aprendiz está aberto para aprender. 2- O momento da aprendizagem é vivencial. O sujeito mais do que pensa sente que aprendeu. O conteúdo é incorporado e não pensado. Alguém que está envolvido em descobrir algo apresenta mudanças no ânimo na fisionomia, e pode apresentar alterações fisiológicas, como diminuição do sono e da fome. 3- O sujeito que aprende não é tão somente alguém que vive no mundo. O mundo o constitui e ele constitui o mundo. Não há um distanciamento, como alguns métodos educacionais nos fazem acreditar. Todo o conteúdo a ser aprendido faz parte de sua humanidade e não há uma linha clara que separe o aprendiz das coisas do mundo que ele precisa aprender. Os conteúdos já estão em contato com o aprendiz basta que o professor o ajude a reconhecê-los e entendê-los melhor. Então, o que é possível fazer para facilitar aprendizagem, a partir da própria experiência da criança? Snygg e Combs, representantes da teoria fenomenológica, apresentam algumas sugestões (apud: LINDGREN. op. cit., p. 254 e 259): Proporcionar aos estudantes oportunidades de pensar por si próprios, por meio da criação de um clima democrático na sala de aula, de maneira que os alunos sejam encorajados a expressar suas opiniões e a participar das atividades do grupo. 65 Dar a cada estudante a oportunidade de desenvolver os estudos de acordo com seu ritmo pessoal. O êxito e a aprovação devem ser baseados nas realizações de cada um. A escola deve considerar o impulso universal de todos os seres humanos no sentido de concretizar suas próprias potencialidades, e não reprimir tal impulso, prendendo-o à competição artificial e ao sistema rígido de notas. 66 67 A MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM 4 Conhecimento Conhecer o conceito e a função da motivação Habilidade Identificar o que motiva a aprendizagem das pessoas. Atitude 68 69 Agir motivado em sua prática como estudante e futuro educador. 4.1. Conceito de Motivação da Aprendizagem Você sabe o que significa motivação da aprendizagem? Motivação da aprendizagem significa causar ou produzir aprendizagem estimulando a criança despertando o interesse ou entusiasmo pela mesma. A psicologia estuda a motivação com o intuito de conhecer o porquê das ações que são causadas por dois tipos de forças: fisiológicas e as sociais. Exemplo de forças fisiológicas que levam ao comportamento do ser humano: fome, sono, doença, entre outros. Há também forças sociais que levam os seres humanos a agir como, por exemplo: O desejo de agradar as pessoas com as quais a criança convive. Usa-se, portanto, a palavra “motivo” na psicologia quando se refere ao comportamento humano. Mas, afinal você sabe o que é motivar? 4.2. Motivo e Incentivo MOTIVAÇÃO MOTIVO CAUSA 70 Motivar é uma ação interna. É o indivíduo que busca em seus desejos, sonhos, habilidades o que o mobiliza para a ação. A motivação é uma força pessoal que poderá e/ou deverá ser incentivada por ações do mundo externo (estímulo), como professores, salas de aula, materiais, equipamentos, colegas, família, dentre outros, para potencializar a ação. Incentivar ou estimular é qualquer ação externa ao sujeito que poderá ajudá-lo a desenvolver uma ação. Todavia a grande função do incentivo é fazer que o sujeito faça contato com aquilo que realmente o mobiliza. O sujeito assim percebe o que o motiva e age em uma função dessa força que o impele a agir. Muitas vezes, as pessoas incentivam, estimulam, mas o sujeito não consegue alcançar o objetivo esperado. Se o incentivo não fizer o sujeito entrar em contato com o seu motivo para a ação (motivação), de nada adiantará. No nosso caso, a ação é aprender. Portanto, cada pessoa precisa identificar o que deseja aprender, saber o que lhe mobiliza, o que quer descobrir ou resolver para que assim obtenha sucesso. O termo ‘motivação’, segundo SOUSA (1988), designa o estudo físico- psicológico interior do estudante; estado de tensão energética resultante em sua consciência de fortes motivos que o impele a agir, a estudar, a cumprir com suas tarefas e dedicação. O professor, portanto, deve conhecer a realidade da criança, suas aspirações, sua realidade social, seu comportamento, sua história de vida, todos os aspectos que a envolvem, a fim de criar meios que facilitem sua aprendizagem, tornando-a significativa e prazerosa. Motivos: é toda condição intrínseca que determina uma atividade. Exemplos de motivos: fome, sede. Incentivo: é toda condição extrínseca que estimula uma atividade. Exemplos de incentivo: prêmio, castigo. 71 Portanto, o motivo é força interna, pertence ao desejo. O incentivo é força externa capaz de despertar o motivo. Elogio, censura, punição, prêmios, notas, castigos, entre outros são exemplos de incentivos. 4.4. Aspectos da motivação na aprendizagem 4.3.1 Fatores Positivos: Curiosidade (instinto exploratório): a criança saudável possui uma força que a leva a procurar os sons, as imagens, os objetos em movimento. Ela busca naturalmente descobrir e interagir com o mundo. Desejo de atingir
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