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Criança e adolescente_ o ato infracional e as medidas sócio-educativas - Âmbito Jurídico

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03/06/2020 Criança e adolescente: o ato infracional e as medidas sócio-educativas - Âmbito Jurídico
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-99/crianca-e-adolescente-o-ato-infracional-e-as-medidas-socio-educativas/#:~:text=Considera-se at… 1/23
       
Criança e adolescente: o ato infracional e
as medidas sócio-educativas
01/04/2012
Resumo: Trataremos, a seguir, da possibilidade, do adolescente menor de 18 anos, responder pela
prática de crime ou de contravenção penal. Nesse sentido, respeitando, dentre outros princípios gerais
do direito, o do devido processo legal, é perfeitamente cabível a aplicação de sanções a menores de
18 anos de idade que pratiquem crime ou contravenção penal, no caso denominados de ato
infracional, desde que esta aplicação decorra da apreciação judicial e de competência exclusiva do
Juiz (Súmula 108 do STJ), lembrando sempre que, tais medidas, não possuem natureza de pena e sim
de medida socioeducativa.
Palavras-chaves: Estatuto – criança – adolescente.
Abstract: We will treat, to follow, of the possibility, the lesser adolescent of 18 years, to answer for
the practical one of crime or criminal contravention. In this direction, respecting, amongst other
general principles of the right, of due process of law, the application of sanctions is perfectly cabível
the minors of 18 years of age that practise crime or criminal contravention, in the case called of
infracional act, since that this application elapses of the judicial appreciation and exclusive ability of
the Judge (Abridgement 108 of the STJ), remembering whenever, such measures, they do not possess
penalty nature and yes socioeducativa measure.
Keywords: Statute – child – adolescent.
Sumário: Introdução. Das medidas socioeducativas. Jurisprudência. Conclusão. Referência
bibliografias.
https://ambitojuridico.com.br/
03/06/2020 Criança e adolescente: o ato infracional e as medidas sócio-educativas - Âmbito Jurídico
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-99/crianca-e-adolescente-o-ato-infracional-e-as-medidas-socio-educativas/#:~:text=Considera-se at… 2/23
1) Introdução
Trataremos, a seguir, da possibilidade, do adolescente menor de 18 anos, responder pela prática de
crime ou de contravenção penal.
Pois seria negligenciar a verdade e fechar os olhos à realidade não admitir que também os menores
podem ser criminosos. Em casos que a sua segregação se impõe não apenas a mera medida
socioeducativa, mas também e principalmente como proteção da própria comunidade em que vivem
(TJSP, C. Esp. – Ap. 19.845-0 – Rel. Ney Almada – j. 4-8-94).
Para tecermos um raciocínio acerca do assunto trataremos abaixo da qualificação do ato infracional, a
legislação que o abrange, jurisprudência e assuntos correlatos.
O Ato infracional é o ato condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública, aos direitos dos
cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes. Só há ato infracional se àquela
conduta corresponder a uma hipótese legal que determine sanções ao seu autor. No caso de ato
infracional cometido por criança (até 12 anos), aplicam-se as medidas de proteção. Nesse caso, o
órgão responsável pelo atendimento é o Conselho Tutelar. Já o ato infracional cometido por
adolescente deve ser apurado pela Delegacia da Criança e do Adolescente a quem cabe encaminhar o
caso ao Promotor de Justiça que poderá aplicar uma das medidas sócio-educativas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90 (doravante ECA)
(Revista Jurídica Consulex, n° 193, p. 40, 31 de Janeiro/2005).
O ECA trata do ato infracional, conceituando-o em seu artigo 103 senão vejamos: “Art. 103.
Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”.
Segundo o ECA (art. 103) o ato infracional é a conduta da criança e do adolescente que pode ser
descrita como crime ou contravenção penal. Se o infrator for pessoa com mais de 18 anos, o termo
adotado é crime, delito ou contravenção penal.
03/06/2020 Criança e adolescente: o ato infracional e as medidas sócio-educativas - Âmbito Jurídico
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Assim, considera-se ato infracional todo fato típico, descrito como crime ou contravenção penal. A
doutrina se divide segundo qual teoria o ECA teria acolhido. Assim, segundo os Profs. Eduardo
Roberto de Alcântra Del-Campo e Thales César de Oliveira o ECA segue a teoria tripardita do direito
penal que aponta como elementos do delito a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade. Já para o
Prof. Válter Kenji Ishida o ECA adotou a teoria finalista onde o delito é fato típico[1] e
antijurídico[2]. Independentemente da posição prescrita entendemos que este artigo está totalmente
acordado com a Constituição Brasileira quando dispõe que “não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal” (art. 5, XXXIX, da CF).
No caso do art. 103, embora a prática do ato seja descrita como criminosa, o fato de não existir a
culpa, em razão da imputabilidade penal, a qual somente se inicia aos 18 anos, não será aplicada a
pena às crianças e aos adolescentes, mas apenas medidas socioeducativas. Dessa forma, a conduta
delituosa da criança ou adolescente será denominada tecnicamente de ato infracional, abrangendo
tanto o crime como as contravenções penais, as quais constituem um elenco de infrações penais de
menor porte, a critério do legislador e se encontram elencadas na Lei das Contravenções Penais.
A Contravenção Penal é o ato ilícito de menos importância que o crime, e que só acarreta a seu autor
a pena de multa ou prisão simples.
E, o ECA prevê, em seu art. 104, que o menor de 18 anos (dezoito) anos é inimputável porém capaz,
inclusive a criança, de cometer ato infracional, passíveis então de aplicação de medidas sócio-
educativas quais sejam: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços a
comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em
estabelecimento educacional e, por fim, qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI, conforme o
art. 105 do ECA.
Segundo o prof. Luiz Flávio Gomes já não existe a menor dúvida, como se percebe, que o
inimputável no Brasil (assim considerados os menores de dezoito anos, conforme o art. 104 do ECA)
pode praticar crime ou contravenção, observando a data do fato, conforme o art. 4º do Código Penal.
O que se modifica (e cuida-se da mudança puramente formal) é o nome: legalmente tal infração
chama-se ato infracional.
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Assim, a criança (pessoa até 12 anos incompletos), se praticar algum ato infracional, será
encaminhada ao Conselho Tutelar e estará sujeita às medidas de proteção previstas no art. 101; o
adolescente (entre 12 de 18 anos), ao praticar ato infracional, estará sujeito a processo contraditório,
com ampla defesa. Após o devido processo legal, receberá ou não uma “sanção”, denominada medida
socioeducativa, prevista no art. 112, do ECA.
Cabe aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente que complete 18 anos se à data do fato
era menor de 18 anos.
Verificamos então, como acima exposto, a conceituação de ato infracional e, quem é passível de
cometê-lo. Passaremos agora a análise das sanções previstas no ECA.
O art. 112 do Estatudto estabelece as medidas sócio-educativas inerentes, a prática de ato infracional,
senão vejamos: “Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I – advertência; II – obrigação de reparar o dano; III –
prestação de serviços a comunidade; IV – liberdade assistida; V – inserção em regime de semi-
liberdade;VI – internação em estabelecimento educacional; VII – qualquer uma das previstas no art.
101, I a VI. §1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade em cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração. §2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida
a prestação de trabalho forçado. §3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental
receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.”
Nesse sentido, respeitando, dentre outros princípios gerais do direito, o do devido processo legal, é
perfeitamente cabível a aplicação de sanções a menores de 18 anos de idade que pratiquem crime ou
contravenção penal, no caso denominados de ato infracional, desde que esta aplicação decorra da
apreciação judicial e de competência exclusiva do Juiz (Súmula 108 do STJ), lembrando sempre que,
tais medidas, não possuem natureza de pena e sim de medida socioeducativa.
2) Das Medidas Sócio-educativas em Espécie
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As medidas sócio-educativas constituem na resposta estatal, aplicada pela autoridade judiciária, ao
adolescente que cometeu ato infracional. Embora possuam aspectos sancionatórios e coercitivos, não
se trata de penas ou castigos, mas de oportunidades de inserção em processos educativos (não
obstante, compulsórios) que, se bem sucedidos, resultarão na construção ou reconstrução de projetos
de vida desatrelados da prática de atos infracionais e, simultaneamente, na inclusão social plena.
A finalidade do processo penal – que é destinado a adultos – é a aplicação da pena, enquanto que,
nos procedimentos sócio-educativos – que são destinados a adolescentes – a aplicação das medidas
sócio-educativas é o meio para que se chegue ao fim desejado, que é a transformação das condições
objetivas e subjetivas correlacionadas à prática de ato infracional.
Após a comprovação da autoria e materialidade da prática do ato infracional – assegurados o
contraditório e a ampla defesa (CF, artigo 5º, inciso LV) – as medidas sócio-educativas sempre devem
ser aplicadas levando-se em consideração as características do ato infracional cometido
(circunstâncias e gravidade), as peculiaridades do adolescente que o cometeu (inclusive a sua
capacidade de compreender e de cumprir as medidas que lhe serão impostas) e suas necessidades
pedagógicas (nos requisitos mencionados, sobressai a relevância do trabalho da equipe
interprofissional – formada por, minimamente, pedagogo, psicólogo e assistente social – prevista nos
artigos 150 e 151 do ECA que, entre outras atribuições, deve assessorar a Justiça da Infância e da
Juventude nas decisões afetas à aplicação das medidas sócio-educativas, apontando as necessidades
pedagógicas específicas em função das peculiaridades de cada adolescente e sugerindo, a partir
disso, as medidas sócio-educativas e/ou de proteção mais adequadas a cada caso), dando-se
preferência àquelas medidas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários
(ECA, artigos 112 e 113, combinados com o artigo 100). Convém assinalar que a autoridade
judiciária também pode aplicar (cumulativamente ou não) as medidas específicas de proteção que
pertencem ao rol das medidas sócio-educativas (ECA, artigo 112, inciso VII).
A seguir, passaremos a examinar as medidas sócio-educativas em espécie, para melhor entender a sua
aplicação no caso concreto.
a) Advertência
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Talvez seja a medida de maior tradição no Direito do Menor, tendo constado tanto no nosso primeiro
Código de Menores, o Código Mello Mattos, de 1927, no art. 175, como também do Código de
Menores, de 1979, no art. 14, I, figurando entre as chamadas “Medidas de Assistência e Proteção”:
dispõe o art. 115 do ECA, que “A advertência consistirá na admoestação verbal, que será reduzida a
termo e assinada”.
Seu propósito é evidente: alertar o adolescente e seus genitores ou responsáveis para os riscos do
envolvimento no ato infracional.
Essa medida poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade da infração e indícios
suficientes de autoria (art. 114, § único).
Pelo caráter preventivo e pedagógico de que se reveste deveria também se estender aos menores de 12
anos.
b) Reparação de Danos
Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade judiciária poderá aplicar a
medida prevista no art. 116 do ECA, determinando que o adolescente restitua a coisa, promova o
ressarcimento do dano, ou por outra forma compense o prejuízo da vítima. Ocorrendo manifesta
impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra mais adequada, isto se dá para evitar que
não sejam os pais do adolescente os verdadeiros responsáveis pelo seu cumprimento, pois em caso
contrário como aponta os Profs. Eduardo Roberto de Alcântra Del-Campo e Thales César de Oliveira,
“a reprimenda acabaria fugindo da pessoa do infrator, perdendo seu caráter educativo”.
O art. 68 §4º do Código de Menores de 1979, já dispunha, que “são responsáveis pela reparação civil
do dano causado pelo menor os pais ou a pessoa a quem incumbia legalmente a sua vigilância, salvo
se provar que não houve de sua pare culpa ou negligência”.
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Todos sabemos que na esfera civil, os pais são os responsáveis e respondem pelo dano que o filho
tenha provocado.
Tanto o legislador estatutário como do código anterior, procuraram conciliar os interesses das vítimas
dos atos infracionais dos adolescentes, ao assegurar-lhes a possibilidade de obtenção da reparação,
sem a necessidade do abrigo dos arts. 159 e 1521, incisos I e II, do Código Civil, com a proteção dos
próprios adolescentes, uma vez que a composição homologada na Justiça da Infância e da Juventude,
em segredo de justiça, evita a repercussão sempre desfavorável aos interesses dos menores do
processo publicista (RTJ, 62:108).
Segundo a doutrina existem três espécies de reparação do dano: a restituição da coisa; o
ressarcimento do dano; e a compensação do prejuízo por qualquer outra forma (Costa, 2004, p. 233 e
Silva, 1994, p. 179 apud os Profs. Eduardo Roberto de Alcântra Del-Campo e Thales César de
Oliveira)
c) Prestação de Serviços à Comunidade
Cuida-se de uma das inovações do ECA, que veio acolher a medida introduzida na área penal, em
1984, pelas Leis nº 7.209 de 11 de Julho de 1984 e 7.210 de 12 de Julho de 1984, como alternativa à
privação da liberdade.
A medida socioeducativa, prevista no art. 112, III, e disciplinada no art. 117 e seu § único, do ECA,
consiste na prestação de serviços comunitários, por período não excedente a seis meses, junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como programas
comunitários ou governamentais e não governamentais.
O Prof. Wilson Barreira crítica esta medida e advoga a sua supressão total à consideração de que “as
vantagens proporcionadas pelo emprego desta medida, como instrumento pedagógico, ficam muito
aquém dos prováveis prejuízos acarretados pela inadequada aplicação”.
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Todavia, o inegável sucesso da aplicaçãoda medida, pois vem demonstrando que esses receios não
têm qualquer fundamento.
A medida deve ser gratuita e levada a efeito em estabelecimento de serviços públicos ou de relevância
pública, governamentais ou não, federais, estaduais ou municipais.
O Prof. José Barroso Filho dispõe que “O sucesso dessa inovação dependerá muito do apoio que a
própria comunidade der à autoridade judiciária, ensejando oportunidade de trabalho ao sentenciado.
Sabemos que é acentuado o preconceito social contra os convictos, tornando-se necessária uma ampla
campanha de conscientização das empresas e de outras entidades para que esse tipo de pena possa
vingar. Inicialmente, será prudente contar apenas com órgãos e estabelecimentos públicos, tornando
obrigatória a sua adesão a essa forma de punir. E quanto aos particulares seria recomendável, pensar-
se em alguma maneira de estimular o interesse pela colaboração, como seriam os incentivos fiscais ou
preferência em concorrências públicas”. (O Crime e a Pena na Atualidade, p. 170/171).
O prazo de tais medidas deve ser proporcional à gravidade do ato praticado, podendo ser aplicadas
em qualquer dia da semana, não devendo prejudicar a freqüência a escola ou a jornada normal de
trabalho. A jurisprudência neste ponto é unívoca dispondo que a pratica de ato infracional e aplicação
de medida socioeducativa tem como prazo de cumprimento da prestação de serviços à comunidade
fixado em seis meses pelo magistrado (r. Apelação 1.152-2/95 de Catanduvas, TJPR, Rel. Des.
Ângelo Zattar apud Válter Kenji Ishida).
d) Liberdade Assistida
Esta medida destina-se a acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. O caso será acompanhado por
pessoa capacitada, designada pela autoridade. Deverá ser nomeado um orientador, a quem incumbirá
promover socialmente o adolescente e sua família, supervisionar a freqüência escolar, diligenciar a
profissionalização.
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O Prof. José Barroso Filho afirma que “entre as diversas fórmulas e soluções apresentadas pelo ECA,
para o enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil, a medida socioeducativa da Liberdade
Assistida se apresenta como a mais gratificante e importante de todas, conforme unanimemente
apontado pelos especialistas na matéria. Isto porque possibilita ao adolescente o seu cumprimento em
liberdade junto à família, porém sob o controle sistemático do Juizado e da comunidade. A medida
destina-se, em princípio, aos infratores passíveis de recuperação em meio livre, que estão se iniciando
no processo de marginalização. De acordo com o disposto no art. 118 do ECA, será adotada sempre
que se figurar a medida mais adequada, para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente”.
No entanto, a medida na prática vem segundo os Profs. Eduardo Roberto de Alcântra Del-Campo e
Thales César de Oliveira se “mostrando absolutamente inócua em reconduzir o adolescente ao sadio
caminho da convivência social, tem sido apontada como umas das grandes medidas-padrão do ECA,
talvez porque independa de grandes investimentos por parte do Estado”.
Assim, de acordo com o Prof. António Chaves (apud Válter Kenji Ishida) “a liberdade assistida
consiste em submeter o menor, após entregue aos responsáveis, ou após liberação do internato, à
assitência (inclusive vigilância discreta), com o fim de impedir a reincidência e obter a certeza da
reeducação”.
A Liberdade Assistida, fixada pelo ECA, no prazo mínimo de seis meses, com a possibilidade de ser
prorrogada, renovada ou substituída por outra medida (art. 118, §2º), parte do princípio segundo o
Prof. José Barroso Filho “de que em nosso contexto social, não basta vigiar o menor, como se faz em
outros países, sendo necessário, sobretudo, dar-lhe assistência sob vários aspectos, incluindo
psicoterapia de suporte e orientação pedagógica, encaminhando ao trabalho, profissionalização,
saúde, lazer, segurança social do adolescente e promoção social de sua família. Em resumo, é um
programa de vida, que a equipe técnica do Juizado prepara para o adolescente autor do ato
infracional, depois de computados os dados do processo judiciário e feito o levantamento social do
caso junto à família e à comunidade”.
Caso se mostre inadequada ao caso concreto, a medida de liberdade assistida poderá ser substituída
por outra a qualquer tempo (arts. 99 e 113 do ECA).
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A idéia desta medida é manter o infrator no seio familiar de forma que fique integrado na sociedade e
com apoio de seus entes queridos e sobre a supervisão da autoridade judiciária, a quem cabe
determinar o cumprimento e cessação da medida (art. 118, § 2º e 181, § 1º do ECA).
e) Semiliberdade
É admissível como início ou como forma de progressão para o meio aberto. Comporta o exercício de
atividades externas, independentemente de autorização judicial. É obrigatória a escolarização e a
profissionalização. Não comporta prazo determinado, devendo ser aplicadas as disposições a respeito
da internação, no que couber. Deverá ser revista a cada 6 meses (art. 121, § 2º, subsidiariamente).
Com o fito de preservar os vínculos familiares e sociais, o ECA inovou ao permitir a sua aplicação
desde o início do atendimento, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente
de autorização judicial (arts. 112, inciso V, e 120, §§1º e 2º do ECA).
Sendo obrigatória a escolarização e a profissionalização, não comportando prazo determinado,
aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação.
f) Internação
É medida privativa de liberdade, sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. Esta medida é a mais severa de todas as medidas
previstas no ECA, por privar o adolescente de sua liberdade. Deve ser aplicada somente aos casos
mais graves, em caráter excepcional e com a observância do devido processo legal, conforme
prescreve o ditame constitucional e o ECA.
O ECA, visando garantir os direitos do adolescente, contudo, condicionou-a a três princípios básicos:
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1) O da Brevidade onde o adolescente deve ser privado de sua liberdade o menor tempo possível. Por
isso, a medida comporta prazo máximo de 3 anos, com avaliação a cada 6 meses. Atingido o limite de
3 anos o adolescente será colocado em liberdade, e, dependendo do caso, sujeitar-se à medida de
semiliberdade ou liberdade assistida.
Ocorrerá nas seguintes hipóteses: ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça;
reincidência em infrações graves (punidas com reclusão) e descumprimento reiterado e injustificável
de outra medida imposta (máximo de 3 meses). Nesse caso é obrigatório a observância do princípio
do contraditório. Aos 21 anos a liberdade é compulsória.
2) De acordo com o Princípio da Excepcionalidade pois deve ser usado em último recurso (art. 122, §
2º do ECA), apenas quando a gravidade do ato infracional cometido e a ausência de estrutura do
adolescente indicar que a possibilidade de reincidência em meio livre é muito grande. A internacão
somente deve ser admitida em casos excepcionais, quando baldados todos os esforços à reeducação
do adolescente, mediante outras medidas sócioeducativas (TJSP – C. Esp. Ap. 22.716-o – Rel. Yussef
Cahali – j. 2-3-95).
3) O terceiro princípio é apontado pelos Profs. EduardoRoberto de Alcântra Del-Campo e Thales
César de Oliveira acerca do “respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento em razão do
agudo processo de transformação física e psíquica por que passa o ser humano na adolescência e que
reclama atenção redobrada das entidades de atendimento para que possa ocorrer uma efetiva
ressocialização”.
É evidente que uma sociedade organizada deve coibir a violência parta de onde partir, inclusive dos
jovens, não podendo desconsiderar os direitos individuais e sociais indisponíveis, particularmente a
vida e a segurança, freqüentemente ameaçadas também por adolescentes.
Por outro lado, considerando a situação peculiar de pessoa em formação e em desenvolvimento, a
resposta do Estado ao juízo de reprovação social deve ser exercida com moderação e equilíbrio, sem,
no entanto, minimizar as conseqüências decorrentes do ato infracional, de molde a não incutir no
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adolescente infrator a idéia da impunidade.
O Prof. José Barroso Filho dispõe que “ tradicionalmente, como não constitui segredo para ninguém,
os sistemas de Justiça de “menores”, no qual se incluem a repressão e o confinamento, produzem uma
alta cota de sofrimentos reais encobertos por uma falsa terminologia tutelar. (V. Emílio Garcia
Marques, Das Necessidades aos Direitos, Malheiros, SP, 1994). Como assinala Azevedo Marques, “o
sistema não defende a sociedade, não protege o menor, não o recupera, encaminhando-o para a
reincidência, é custoso para o Estado e prepara o delinqüente adulto.” (Marginalização: Menor e
Criminalidade, Ed. MacGraw-Hill, 1976, SP, p. 36)”.
Por estes motivos o ECA considera a Internação como a última ratio do sistema e procura incutir-lhe
um caráter eminentemente socio-educativo, assegurando aos jovens privados de liberdade, cuidados
especiais, como proteção, educação, formação profissional, esporte, lazer, etc., para permitir-lhes um
papel construtivo na sociedade.
No referdo diploma, a internação somente é admitida nas hipóteses previstas no art. 122, incisos I a
III, desde que não haja outra medida mais adequada, ou seja o rol deste artigo é taxativo.
Assim, somente poderá ser aplicada quando: a) tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
ameaça ou violência a pessoa; b) por reiteração no cometimento de outras infrações graves; c) por
descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta, caso em que não poderá
exceder a três meses.
Muito se tem discutido sobre a inteligência do que vem a ser fato grave, entendendo alguns que o ato
infracional de natureza grave é somente aquele cometido mediante violência ou grave ameaça a
pessoa, enquanto outros defendem que todos os atos infracionais análogos aos que cominam pena de
reclusão também são susceptíveis de aplicação da medida extrema, erigidos que foram pelo legislador
ao status de crimes graves (Conceição Mousnier).
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A medida em tela não comporta prazo determinado e não poderá em nenhuma hipótese exceder a três
anos, devendo ser reavaliada a cada seis meses, mediante decisão fundamentada. Atingido o limite de
três anos, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade
assistida (art. 121, § 4º, do ECA). Em razão da reavaliação semestral da medida, que poderá tanto
permitir o reingresso do adolescente no meio familiar e comunitário ou mantê-lo afastado dele, por
mais seis meses, não há que se falar em livramento condicional.
A liberação obrigatória do adolescente somente deverá ocorrer quando o mesmo completar 21 anos
de idade, conforme prevê o art. 121, § 5º do ECA, dispositivo que não foi alterado com do novo CC.
Impõe-se ressaltar que a internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em
local distinto daquele ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição
física e gravidade da infração (art. 123). Exceto quando haja expressa determinação judicial em
contrário, constitui-se direito do adolescente ver deliberado pela equipe técnica da entidade a
possibilidade de realizar atividades externas. Mesmo durante a internação provisória o adolescente
deverá ser submetido a ativadades pedagógicas, assim entendidas as de escolarização,
profissionalização, culturais, desportivas e de lazer.
Finalmente, e ainda que fosse possível ultrapassar-se a barreira da vedação legal, a decisão judicial
pela medida internativa também não encontra amparo na linha da excepcionalidade.
A propósito, o excelente texto de João Batista Costa Saraiva (Compêndio de Direito Penal Juvenil –
Adolescente e Ato Infracional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 172):
“A privação de liberdade é um mal. Mal que até poderá ser necessário diante da incapacidade humana
de desenvolver outra alternativa. Mas sempre um mal, cabendo aqui revisitar Foucault. A opção pela
privação da liberdade resulta muito mais da inexistência de outra alternativa do que da indicação de
ser esta a melhor dentre as alternativas disponíveis. Somente se justifica enquanto mecanismo de
defesa social, pois não há nada mais falacioso do que o imaginário de que a privação de liberdade
poderá representar em si mesma um bem para o adolescente a que se atribui a prática de uma ação
delituosa”.
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Os direitos do adolescente privado da liberdade estão elencados no art. 124. Devendo o Estado zelar
pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção
e segurança.
g) Da Remissão: é uma espécie de perdão concedido pelo Promotor de Justiça ou pelo Juiz de
Direito. Trata-se de ato bilateral, onde o adolescente, juntamente com seus pais troca o processo por
uma medida antecipada.
Espécies:
– Remissão Ministerial: é concedida pelo promotor de justiça como forma de exclusão do processo
(antes de se iniciar o processo sócioeducativo).
– Remissão Judicial: concedida pelo Juiz, após o início do processo. Ela suspende ou extingue o
processo.
Em qualquer caso ela pode ser pura (perdão) ou cumulada com uma medida sócio-educativa.
Existe um entendimento, com base na Súmula 108 do STJ segundo o qual o representante do
Ministério Público somente pode conceder a remissão pura, sendo-lhe vedada a aplicação cumulada
de qualquer medida sócio-educativa.
A remissão não implica em o reconhecimento de culpa.
Nem prevalece para efeitos de antecedentes.
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A remissão depende homologação do Juiz.
Uma questão interessante, analisada a partir da possibilidade de concessão da remissão, é a do
Ministério Público poder incluiu a prestação de serviços à comunidade. Não obstante, admitiu-se que,
ao conceder remissão, pode o Ministério Público incluir aplicação de qualquer das medidas sócio-
educativas previstas na lei, excetuadas as privativas de liberdade (art. 127 do ECA)
Entretanto, tenho que o entendimento até agora predominante na jurisprudência não pode subsistir.
Ocorre que a matéria encontra-se sumulada no STJ, que, no verbete 108, afirma: “A aplicação de
medidas sócio-educativas ao adolescente,pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva
do juiz”.
O Min. José Dantas (RMS 1967-6/SP), em lapidar lição, deixou assentado: “…não se deve negar à
ilustrada sustentação da irresignação do Ministério Público recorrente o acerto da visão doutrinária
quanto a que o ECA inovou a rigidez da jurisdição do Juízo Menorista e da atribuição exclusivamente
promocional do Ministério Público, num plano de modernidade bem exemplificada pelo tratamento
que dispensou ao instituto da remissão. No entanto, a mesma sustentação não merece maior apoio, no
que, a nosso ver, extrapola os conhecidos limites conceituais da remissão, como instituto expressa e
inovadoramente confiado ao Ministério Público, a título de perdão antecipado ao início do
procedimento judicial – art. 126, caput, do ECA. E não merece, porque, como seqüência desse
próprio artigo legal, o seu parágrafo único volta a jurisdicionar a concessão da remissão, na hipótese
ocorrente de instaurar-se aquele procedimento. A partir dessa distinção entre as duas hipóteses de
remissão – a ministerial, na fase pré-processual, e a judicial, no curso do processo, certamente que a
remissão acumulável com a aplicação de medida socioeducativa há de ser apenas a que foi concedida
judicialmente. Deveras, em decorrência mesmo de uma interpretação mais sistemática possível,
necessariamente tem-se que conciliar tal acumulação (art. 127) com as regras de ordenamento da
função jurisdicional e sua distinção literal da função ministerial, assim expresso no texto legal de que
se trata, no que interessa, verbis:
“Art. 146 – A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o Juiz que
exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária local”.
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“Art. 148 – A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I – conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional
atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II – conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo.”
“Art. 180 – Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério
Público poderá:
I – promover o arquivamento dos autos;
II – conceder a remissão;
III- representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.”
Daí porque, quando examinado art. 127, seguinte àquelas duas hipóteses de concessão da remissão
estabelecidas no art. 126 – ministerial (caput) e a judicial (parágrafo) -, preconiza que a remissão
pode incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação
em regime de semiliberdade e a internação, decerto que o faz na linha do sistema codificado: Isto é,
na compreensão da transcrita regra-mestra de competir à Justiça da Infância e da Juventude aplicar as
medidas cabíveis (art. 148, I).
Acentuada essa competência exclusiva, e na mesma linha sistêmica de interpretação, há de conceber-
se que dita previsão do art. 127, a comunicar-se com as atribuições do Ministério Público, o será para
permiti-las acumuláveis pela concomitância da concessão da remissão (art. 180, I) e da representação
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para aplicação de medida socioeducativa (inc. II). Só assim será possível interar-se essa norma
atributiva com a do art . 181, § 1º, segundo a qual, homologada a remissão, a autoridade judiciária
determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida.
Em suma, o aparente conflito de normas secundárias, contido na discriminação dos procedimentos
formais cotejados, reclama solucionar-se pela nitidez das normas primárias, de modo como a lei
delimitou com absoluta clareza o campo jurisdicional, ao lado do campo postulatório. E se este último
consentiu a ministração da remissão, subordinada à homologação judicial, não significa que, por força
apenas das regras de procedimento dessa ministração judicialiforme, tenha consentido imiscuir-se o
Ministério Público no âmago da função jurisdicional traçado pela própria lei, qual de aplicar medidas
coercitivas, de natureza parapenal, como são as chamadas medida sócio-educativas aplicáveis aos
adolescentes infratores.
Ora, na medida em que nos alinhemos ao teor da Súmula 108, do STJ, não podemos escapar da
conclusão que, tendo o MP, ao conceder a remissão, incluído nela medida socioeducativa de qualquer
natureza (mesmo não restritiva de liberdade), nada obsta que o magistrado, a fim de, no mínimo,
assegurar o princípio da mais ampla defesa designe audiência para nova oitiva do menor,
acompanhado de seu representante e de defensor, que não se fez presente à audiência realizada pelo
Ministério Público, onde lhe foi concedida a remissão”.
3) Jurisprudência
1) Correição parcial. ECA. Pedido de homologação de remissão que inclui medida socioeducativa de
prestação de serviços à comunidade. Designação de audiência, pelo magistrado, para oitiva do
adolescente e do responsável, acompanhados de defensor. Possbilidade. Embora caiba ao ministério
público conceder remissão ao adolescente, em fase pré-processual, isso não significa que a lei
também lhe permita a imposição de medida socioeducativa, cuja aplicação reservou ao poder
jurisdicional especificado nos artigos 146 e 148, i, da lei 8.069/90. Daí, no mínimo, o cabimento da
designação, pelo magistrado, de audiência para oitiva do menor e de seu representante legal,
devidamente assistidos por advogado, a fim de assegurar o princípio constitucional da ampla defesa.
Aplicação da súmula 108, do stj. Julgaram improcedente. Outros feitos nº 70004415477, de Santa
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Maria – “prosseguindo no julgamento, votou o 3º vice-presidente desempatando para julgar
improcedente a correição. A decisão fica a seguinte: julgaram improcedente a correição parcial, por
maioria, vencidos os Des. Stangler Pereira, Maria Berenice, Srgio Caves e José Trindade”.
2) Estatuto da Criança e do Adolescente. Ato infracional análogo ao crime previsto no artigo 12, da
lei 6.368/76. Medida sócio-educativa de internação. Constrangimento ilegal evidenciado. Ordem
concedida. O ato infracional equiparado ao tráfico de entorpecentes em associação, previstos nos
artigos 12 e 14 da lei 6.368/76 não configura violência ou grave ameaça à pessoa, estando ausente a
hipótese do inciso I, artigo 122, da lei 8069/90. A medida sócio-educativa de internação só pode ser
aplicada quando presente uma das circunstâncias do rol (taxativo) do artigo 122 do ECA. Ordem
concedida para anular a medida de internação, sem prejuízo de que outra mais branda seja aplicada ao
paciente. Habeas corpus nº 50.582 – sp (2005/0199175-2). Relator: Ministro Paulo Medina.
Impetrante: Flávio Américo Frasseto – procuradoria da assistência judiciária. Impetrado: Tribunal De
Justiça Do Estado De São Paulo. Paciente: M. A. R. J. (internado).
3) Habeas Corpus. Infância E Juventude. ‘Internação. Excesso de prazo. Gravidade do fato. Interesse
social. Interesse do infrator. Paciente com nove passagens pelo J.I.J por furto resulta internado
provisoriamente por porte de arma e ameaça, recolhimento este com mais de 45 dias. A gravidade
fato, autorizador, segundo o ECA, da internação, não está no delito em si, no verbo- tipo, mas na
conduta do infrator que, diante da reiteração de cometimento de infrações, pas5aa ser qualquer uma
grave. A mantença da internação, mesmo com prazo ultrapassado, se impõe, neste caso, consoante
precedentes desta corte. Peculiaridade da casuística, onde o adolescente não tem família, vivendo
abandonado na rua, estando, na internação a ter progressos na conduta, constatados pelos técnicos da
fase. Ordem negada. (Habeas Corpus n° 70005706502, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Des. Ícaro Carvalho de Bem Osório, julgado em 30/01/03).
4) ECA. Furto. Reincidência do adolescente. Internação. Configurada a violação ao artigo 155, caput
do código penal impõe-se aplicação de medida socioeducativa ao infratratando-se de jovem
reincidente, que já cumpriu medidas anteriores sem sucesso, a medida extrema mostra-se a mais
adequada. Apelo improvido, com a inclusão do infrator em programa de tratamento contra droga.
(Apelação Cível n° 70005798970, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça Do Rs, Relator: Des.
José Carlos Teixeira Giorgis, julgado em 09/04/03).
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5) ECA. Ato infracional. Entorpecente. Uso. Furtos. Aplicação de medida. Uso de entorpecente. A
conduta de trazer consigo entorpecente para uso próprio não configura delito, pois ausente a
lesividade. Furtos. O depoimento do representado e a prova oral colhida demonstram a autoria dos
atos infracionais. Aplicação de medida. A internação sem atividades externas mostra-se adequada
diante das condições pessoais do representado – antecedentes, laudo psicológico,situação familiar e
uso de drogas – deram parcial provimento. (segredo de justiça) (8 fls.) (Apelaçãocível N° 700051
60916, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rs, Relator: Des. Rui Portanova, julgado em
07/11/02). 
6) ECA. Medida socioeducativa. A internação é una, não caracterizando regressão de medida a
revogação da autorização para o exercício de atividades externas. Agravo desprovido. Agravo de
instrumento – sétima câmara cível – nº 70003343480 – porto alegre. A. A. J. – agravante. Ministério
público – agravado.
7) ECA. Abandono dos estudos. Infração administrativa. Descabe o apenamento do pai pelo fato de
sua filha não estar freqüentando a escola. Não se visualiza conduta dolosa ou culposa simplesmente
por os pais não saberem o que fazer com a filha que conta 16 anos, possui um corpo avantajado e não
mais os obedece. Apelo provido. Apelação cível – sétima câmara cível. nº 70002785848 –
Sobradinho – j. A. O. E L. O. – Apelantes Ministério Público – apelado.
8) ECA. Habeas Corpus. Regressão de medida. Aplicadas originariamente duas medidas de prestação
de serviços comunitários, uma por 30 e a outra por 60 dias, a sua regressão para internamento por 30
e 60 dias, respectivamente, respeita à proporcionalidade das medidas, não permitindo concluir pela
soma dos períodos. Ordem concedida. Habeas corpus – sétima câmara cível. n° 70003471182 – Porto
Alegre – L. G. F. E H. R. L. O. – Impetrantes. J. O. R. – Paciente. Juiz De Direito Da 3ª Vara da
Infância e da Juventude da Comarca de Porto Alegre – Coator.
9) Habeas Corpus. Estatuto da Criança e do Adolescente (lei n.º 8.069/90). Prática de ato infracional.
Homicídio simples cometido por adolescente. Legítima defesa não configurada. Imposição de medida
sócio-educativa. Internação por prazo indeterminado. 1. Não há como acolher o argumento de
excludente de ilicitude se não caracterizada a ocorrência de agressão atual ou iminente, de modo a
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configurar legítima defesa, conforme dispõe o artigo 25 do código penal. 2. O estatuto da criança e do
adolescente (lei n.º 8.069/90) prevê, em seu artigo 122, inciso I, que a medida de internação só poderá
ser aplicada quando se tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à
pessoa. É a hipótese dos autos em face de ato infracional análogo ao crime previsto no artigo 121 do
código penal (homicídio simples), devendo a medida ser reavaliada a cada 6 meses. 3. Habeas corpus
indeferido. (STF, Habeas Corpus 78.439-1 Goiás, Segunda Turma, Rel. Min. Maurício Corrêa.
4) Conclusão
Tendo acima, em síntese, o conceito, a previsão legal, algumas jurisprudências e assuntos correlatos à
pratica de crime ou contravenção penal que, por serem praticados por menores de 18 (dezoito) anos
passa a se chamar ato infracional e a ser regido pela Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do
Adolescente, verificamos a inteligência do legislador em prever a prática de delitos por pessoas que,
por força de Lei são inimputáveis. Porém devemos salientar que existe uma evolução natural da
sociedade na qual, cada vez mais pessoas se aproveitam da medida socioeducativa aplicada e estes
delitos que se extingue quando o infrator completa 21 anos para, dessa forma acobertar ou até mesmo
praticar diversos crimes coma certeza de que, se condenados, terão brevemente a liberdade e, por tais
medidas não possuírem natureza de pena, terão suas fichas limpas, se beneficiando, dessa forma, para
cometerem outros crimes e não terem antecedentes criminais.
Apesar das diversas formas de tentativa de melhorar estes infratores, a prática mostra que na sua
maioria não é possível. Desta forma faço minhas as palavras proferidas no trabalho do Prof. José
Barroso Filho que afirma que “creio que essa exaustiva explanação vem melhor demonstrar o valor
perseguido pelo aplicador do Direito da Infância e da Juventude, qual seja a reeducação e a
ressocialização do adolescente infrator. Repise-se, procura-se sempre, que a sociedade ganhe um
cidadão e não um marginal, para tanto faz-se necessária a correta escolha da medida sócio-educativa,
nem branda demais, pois inócua, nem severa ao extremo, sob o risco de conduzir à morte civil do
agente, apenas a adequada às peculiaridades de cada caso”.
 
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Bibliografia
BARREIRA, Wilson, Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Editora
Forense. 1991.
BARROSO FILHO, José. Do ato infracional . Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 52, nov. 2001.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2470>. Acesso em: 22 mai. 2006.
CAVALIERI, Alejuino. Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente: 395 objeções. Rio de
Janeiro:Forense, 2000.
MOUSNIER, Conceição. O Ato Infracional. Rio de Janeiro: Liber Júris. 1991.
CURY, Munir (coord). Estatuto da Crinça e do Adolescente comentado. São Paulo: Malheiros, 2003.
DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântra, et. al. Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Atlas Editora, 2005.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 20ª. São Paulo:
Saraiva, 2005.
ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e jurisprudência. 7ª ed.
atualizada de acordo com o Novo Código Civil. São Paulo: Ed. Atlas. 2006.
PEREIRA, Tânia da Silva, et al. Estatuto da Criança e do Adolescente: estudos sócio-jurídicos. Rio
de Janeiro: Renovar, 2001.
 
Notas:
[1] Fato Típico ou Tipicidade é a descrição do fato criminoso pela Lei.
[2] ANTIJURIDICIDADE: Significa que o fato, para ser crime, além de típico, deve também ser
ilícito, contrário ao Direito. Pode ser que exista uma causa que justifique o fato, embora típico, deixa
de ser crime, por não ser antij urídico, como por exemplo, quando alguém pratica um fato típico, mas
em estado de necessidadeou em legítima defesa (ver excludente de ilicitude).
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Informações Sobre o Autor
Leonardo Gomes de Aquino
Advogado. Mestre em Direito. Especialista em Processo Civil e em Direito Empresarial todos pela
Faculdade de Direito da Universidade de Cimbra Portugal. Pos graduado em Docência do Ensino
Superior. Professor Universitário. Autor dos Livros: Direito Empresarial: Teoria geral e Direito
Societário e Legislação aplicável à Engenharia
ECA Revista 99
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