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INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DEFINIÇÃO Incapacidade miocárdica de suprir demanda tecidual ou, quando consegue, necessita de aumentar a pressão de enchimento ventricular. Com o desenvolvimento da doença ocorre extravasamento de líquido para o interstício gerando congestão e aumento de pressão hidrostáticas nos capilares → insuficiência cardíaca congestiva (ICC) A função sistólica em pacientes com IC é avaliada a partir da fração de ejeção (FE), que pode ser: EPIDEMIOLOGIA Alta morbimortalidade mundial atualmente Sua incidência e prevalência aumentam junto com o envelhecimento da população Apesar de divergências literárias, a ICFEp parece ter uma menor taxa de mortalidade quando comparada com a ICFEr por conta da função sistólica preservada FATORES DE RISCO HAS (RR) de 1,4 Tabagismo DM (RR) de 1,9 Obesidade (RR) de 1,3 Sedentarismo Hereditariedade DAC (RR) de 8 RR = risco relativo DAC → fator individual com maior aumento de risco e, também, principal etiologia de IC. *HAS e DM são fatores de risco para desenvolvimento de DAC → etiologia importante da IC ETIOLOGIA Doenças crônicas que alteram a função cardíaca Doença intrínseca – cardiomiopatia No Brasil, as principais são: Cardiopatia isquêmica Cardiopatia hipertensiva Cardiopatia secundária a valvopatias Cardiopatia dilatadora Cardiopatia alcóolica Doença de Chagas (endêmica, ocorre principalmente no Nordeste e em Minas Gerais) Doença valvar reumática Muitas vezes vai ocorrer uma sobreposição de etiologias para a IC do paciente, fazendo com que a identificação exata da causa não seja tão fácil assim. Porém, se uma pessoa com IC não possuir doença arterial coronariana, valvopatias, HAS, pensar em cardiopatia dilatadora (CMD) CMD na maior parte dos casos é idiopática, mas estudos demonstram que as principais causas são: idiopática, miocardite, doenças coronarianas e outras. FISIOPATOLOGIA DAC – perfusão coronariana sofre uma queda → morte dos cardiomiócitos → altera função diastólica ventricular *Essa redução de perfusão pode gerar hipocinesia ou acinesia das paredes mal perfundidas do coração gerando disfunção sistólica, principalmente após IAM HAS = aumento da resistência vascular → aumento da pós-carga → sobrecarrega o coração → precisa fazer sístole com mais força para vencer a resistência dos vasos → aumento do volume sistólico final → distensão dos cardiomiócitos *Aqui entra o mecanismo de Frank-Starling, ou seja, quanto maior a distensão das células do miocárdio, maior será a força de contração ventricular. Resumindo: quanto maior for o retorno venoso, maior será o volume sistólico bombeado, mas essa capacidade de adaptação dos miócitos é limitada, quando essa distensão é muito grande acaba resultando em uma redução da eficácia da sístole MECANISMOS ADAPTATIVOS Com a redução do débito cardíaco, os barorreceptores tentam compensar, principalmente ativando sistema simpático, aumentando o inotropismo e cronotropismo cardíacos Ativação do sistema simpático → libera adrenalina e noradrenalina Renal = diminuição de quantidade de sódio filtrado → ativa sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA) → rins passam a reter água e sódio → aumenta a volemia e pré-carga (retorno venoso) Inicialmente, essas alterações adaptativas vão conseguir manter o débito cardíaco e perfusão tecidual. Porém, com o passar do tempo de doença e manutenção desses mecanismos ocorre o remodelamento cardíaco e hipertrofia que pode ser concêntrica (aumento de parede ventricular sem aumento da cavidade ventricular, principalmente associado a HAS) ou excêntrico (aumento da parede e cavidade ventricular) *Um coração aumentado tem maior risco de ter uma função diastólica prejudicada e mais vulnerável a isquemias e arritmias QUADRO CLÍNICO Dividida didaticamente em: IC direita e esquerda - IC esquerda: ocorre falência do VE = aumento de pressão de enchimento, isso diminui a passagem de sangue pelo átrio esquerdo para o VE e isso dificulta a volta do sangue da circulação pulmonar para o AE gerando os sintomas do quadro abaixo - IC direita: ocorre falência no VD = congestão pela dificuldade de retorno da circulação sistêmica para o átrio direito, ocorrendo congestão nesses pacientes e os sintomas abaixo IC ESQUERDA IC DIREITA DISPNEIA HEPATO/ ESPLENOMEGALIA CIANOSE ASCITE FADIGA ESTASE JUGULAR TAQUICARDIA TOSSE SECA OU COM SECREÇÃO ROSÁCEA CREPITAÇÕES PULMONARES DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA REFLUXO HEPATOJUGULAR ORTOPNEIA EDEMA AGUDO DE PULMÃO EDEMA DE MEMBROS INFERIORES *OBS: A PRINCIPAL CAUSA DE IC DIREITA É UMA IC ESQUERDA PRÉVIA - Em casos extremos de IC, como um IAM extenso, pode cursar conjuntamente com choque cardiogênico (CASO COM ALTA MORTALIDADE): Hipoperfusão tecidual PAM ≤ 65 mmHg Não responde à ressuscitação volêmica, exigindo drogas vasoativas APRESENTAÇÕES DA IC Perfil A: paciente bem perfundido e sem congestão → alvo terapêutico. Perfil B → paciente bem perfundido e congesto (mais comum em pacientes hospitalizados). Perfil L → paciente com hipoperfusão tecidual e sem congestão (perfil mais incomum). Perfil C → paciente com hipoperfusão e congestão (maior mortalidade da IC). CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DA NEW YORK HEART ASSOCIATION (NYHA) Classificação de acordo com a limitação do paciente ESCALA DE ESTÁGIO DA ICC DA AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) DIAGNÓSTICO Guiado primariamente pela clínica do paciente - Critérios de Framingham: Para o diagnóstico são necessários 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores A partir da suspeita clínica, tem-se que dar continuidade para a confirmação do diagnóstico e possível etiologia, os principais exames complementares são: Hemograma Bioquímica com função renal e eletrólitos BNP e NT-proBNP – dilatação das cavidades cardíacas → liberação de BNP e ANP → aumentar a excreção de sódio e água → redução de pré-carga. São uteis na avaliação de diagnósticos diferenciais, porque o valor negativo (pequenas quantidades) do exame indica grandes chances da dispneia e tosse seca desse paciente ser proveniente de outra causa. VR BNP = 35-50ng/ml VR NT-proBNP = 125ng/ml Em pacientes agudos: BNP IC improvável = <100 IC possível = 100-400 IC muito provável = >400 NT-próBNP IC improvável = <300 IC muito provável = >900 >1800 se mais de 75anos Eletrocardiograma – pode ajudar na detecção de sinais de sobrecarga das câmeras, bloqueio ou atraso de condução, alterações de repolarização e arritmias cardíacas. Radiografia de tórax – pode identificar um critério maior de Framingham (cardiomegalia → índice cardiotorácico > 50%), além de ser barato e rápido. Avaliação de congestão pulmonar e sua gravidade e derrames pleurais. Ecocardiograma transtorácico: um dos melhores exames para complementação diagnóstica, permite avaliação da dimensão das câmeras cardíacas, valvopatias, diferenciar ICFEp e ICFEr. *Ecocardiograma é padrão-ouro para avaliação ventricular e valvar - Dentre as principais etiologias dessa doença no Brasil, segue esse quadro para ajudar na elucidação do diagnóstico: - Em casos de IC aguda, importante verificar qual fator está descompensando esse paciente TRATAMENTO - MEDIDAS NÃO-FARMACOLÓGICAS: **INDICADAS PARA TODOS OS PACIENTES COM IC, INDEPENDENTE DA FE Dieta com redução de sódio (menos de 5g de NaCl/dia) Restrição hídrica Parar com tabagismo e etilismo Reabilitação cardíaca: exercícios físicos e perda de peso Vacinação para pneumococos e influenza (alta morbimortalidade) - AUMENTO DE SOBREVIDA: A maioria desses medicamentos inibem a desregulaçãodo SRAA e do sistema simpático. IECA – uso em pacientes sem contraindicações BRA – normalmente, destinados aos pacientes que possuem alguma contraindicação ou intolerância ao uso de IECA (como tosse, principal efeito colateral) Valsartana + sacubitril: indicado em pacientes com ICFEp que permanecem sintomáticos pós tratamento com BRA, IECA, beta-bloqueadores e antagonistas de aldosterona. São prescritos no lugar de IECA ou BRA em dose inicial de 49/57 mg em pacientes com pressão sistólica > 100 mmHg e em pacientes com pressão inferior a dose inicial será 24/26 mmHg *Ficar atento com a possibilidade de angioedema *Necessário suspensão do IECA 36 horas antes da troca Valsartana = antagonista do receptor de angiotensina Sacubitril = inibidor de neprisilina Betabloqueadores: carvedilol, nebivolol, metoprolol, bisoprolol Beta-bloqueadores – indicado em todos os pacientes com IC de disfunção sistólica, desde que não haja contraindicações. Reduzem remodelamento e necessidade de O2 pelo musculo cardíaco. Antagonistas de aldosterona – pacientes com IC com disfunção em classe lll e lV de NYHA, reduzem a pré-carga. Preocupar com a possível ocorrência de hipercalemia e, nesses casos, esse medicamente deve ser suspenso. Associação hidralazina + nitrato – reduz mortalidade em pacientes negros em classe ll e lV de NYHA, as evidências maiores são para os fármacos citados no início e por isso não ocorre substituição e sim associação desses com eles caso seja necessário. Inibidores de SGLT-2 – medicamentos anti- diabéticos que inibem a reabsorção de glicose nos túbulos proximais, apresentando redução de mortalidade e internações por causas cardiovasculares. É uma classe promissora para pacientes diabéticos e tomar cuidado com maior ocorrência de cetoacidose diabética. - ALÍVIO DOS SINTOMAS: Diurético de alça: furosemida – pacientes com IC descompensada classificados em perfil B ou C, necessário avaliar a função renal dessas pessoas principalmente daqueles que já apresentaram DRC. Diuréticos tiazídicos – menos eficazes que os anteriores, mas podem ser usados em associação para pacientes que já fazem o uso de furosemida em altas doses. *Importante prestar atenção no uso desses dois diuréticos quanto a hipocalemia, hiponatremia e outros distúrbios hidroeletrolíticos. Digoxina – usada na intenção de aumentar inotropismo através do bloqueio de Na+/K+ ATPase e indiretamente aumentando o cálcio no citoplasma, pertencente a classe dos digitálicos. Porém, essa classe de medicamentos possui grande incidência de arritmias e a ação anticolinérgica reduz a excitabilidade do nó sinoatrial além de uma janela terapêutica estreita. É considerada uma alternativa em pacientes com IC sintomática que não otimizaram a clínica apesar das terapias de redução de mortalidade. Drogas vasoativa – medicamentos como dobutamina e noradrenalina serão usados em pacientes muito graves, como choque cardiogênico. Anticoagulantes – histórico pessoal ou familiar de primeiro grau é avaliado o uso desses medicamentos, antagonista de vitamina K ou novos anticoagulantes. O uso de heparina e enoxaparina não são indicados para prevenção de trombose venosa profunda em pacientes com IC internados e mobilidade reduzida. Dispositivos – pacientes refratários ao tratamento com FE ≤ 35% e bloqueio de ramo completo (QR-S ≥ 120ms) é indicado o uso do marcapasso ressincronizador biventricular. Pacientes com IC que possuem maior risco de morte súbita por causas cardiovasculares podem usar o cardiodesfibrilador implantável (CDI) como prevenção primaria. Pacientes com ICFEr estágio D de AHA pode-se usar dispositivos de assistência ventricular que aumenta a qualidade de vida e diminui os sintomas desses pacientes. Transplante é indicado somente em pacientes com indicações especificas. REFERÊNCIAS Bocchi EA, Braga FGM, Ferreira SMA, Rohde LEP, Oliveira WA, Almeida DR et al. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2009; 93 (1 Suppl 1): 3-70. Magalhaes CC, Serrano Jr CV, Consolim- Colombo FM, Nobre F, Fonseca FAH, Ferreira JFM. Tratado de Cardiologia da SOCESP. 3a edição. Manole, 2015.
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