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ABORDAGEM CULTURAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ASPECTOS CONCEITUAIS • A cultura corporal do movimento, termo utilizado inicialmente pelo Coletivo de autores (1992), instiga a percepção de componentes históricos e sociais, valorizando a liberdade de expressão dos movimentos dentro de um contexto cultural, o que foge da visão restrita a componentes biológicos ou funcionais. Daolio, dentro dessa perspectiva, se ancora na antropologia cultural, partindo dos antropólogos Marcel Mauss e Clifford Geertz, buscando ampliar o olhar para a Educação Física. • A abordagem cultural sugerida por Jocimar Daolio, assim como outras abordagens, tais como desenvolvimentista, construtivista, crítico emancipatória, crítico superadora, surge em crítica à perspectiva biológica que dominava a Educação Física na escola. Essa perspectiva, na visão do autor, acabou por universalizar o corpo, ou seja, se os corpos forem vistos apenas na sua dimensão biológica, todos os alunos possuiriam o mesmo corpo e as mesmas capacidades e, em consequência, uma mesma aula serviria para todos os alunos sempre (DAOLIO, 1995). Daolio discute a Educação Física escolar em uma perspectiva cultural, considerando a área como parte da cultura humana que estuda e atua sobre práticas ligadas ao corpo em movimento, criadas pelo homem ao longo de sua história. Segundo Daolio (1995), o olhar da antropologia nos faz perceber que, mesmo fazendo parte de uma mesma espécie, constituindo a unidade humana, há uma certeza de que os homens se expressam culturalmente de maneiras diversas. Respeitando a diferença entre indivíduos e grupos, a antropologia procura compreender os significados das ações humanas. Jocimar Daolio defende a cultura como a principal categoria para compreender e discutir a Educação Física escolar. Nesse sentido, amplia-se o conceito de ser humano e corpo humano; a ação educacional deixa de agir apenas sobre a dimensão física e passa a considerar o contexto sociocultural; a técnica passa de uma perspectiva de movimento mais correto e econômico, para qualquer gesto reconstruído pelos alunos e dotados de significado (DAOLIO, 2010). O olhar da área a partir da cultura é defendido por vários autores como Betti (2012), Darido e Rangel (2005), Neira (2016). E, considerando que a relação corpo em movimento guarda uma enorme diversidade de significados, que o movimento é entendido como particular e carregado das experiências dos alunos, não cabendo assim excluí-los de nenhuma maneira, esse olhar parece ser suficiente para sanar antigos conflitos da área. Entretanto, o próprio autor apresenta reflexões sobre as tensões e riscos de trabalhar a Educação Física por esse viés. Como base nas ideias trazidas por Daolio, uma aula de Educação Física precisará considerar os seguintes pontos: a) Compreender a Educação Física como uma área que dinamiza um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento, criados pelo homem ao longo de sua história. Então, deve-se dinamizar conhecimentos diversos como jogos e brincadeiras, esportes, lutas, ginásticas, danças, etc.; b) Considerando a diversidade de práticas, promover a vivência, a ressignificação, o aprofundamento e a ampliação do discurso embutido nessas práticas; c) Considerar que nenhuma prática corporal é melhor ou pior, superior ou inferior; todas possuem um espaço significativo dentro da abordagem cultural; d) É importante partir das práticas, da forma como elas acontecem na sociedade, e ir organizando as situações de ensino de maneira que os alunos se apropriem e compreendam os discursos imbricados, possibilitando a reconstrução e ressignificação das mesmas; e) A aula deve atingir a todos, logo, buscar estratégias para compreensão e vivencia das práticas corporais por todos os alunos, valorizando seus saberes e suas “técnicas”; f) Os conhecimentos devem ser sistematizados e reconstruídos pelos alunos; g) A avaliação deve concentrar-se naquilo que os alunos ampliaram de conhecimento em relação ao tema estudado, o que pode ser verificado através de relatórios e registros dos alunos, produção de livros, revistas, colagens, vídeos, trazendo um paralelo sobre o que sabiam antes e o que aprenderam após as aulas. Sequência Didática baseadas nas concepções de Daolio: Discussão sobre o tema contempla questionamentos sobre os saberes que os alunos têm sobre a temática e as relações desta com o cotidiano do aluno. Pesquisa uma forma de ampliar os conhecimentos iniciais Vivência experimentação do conhecimento estudado, privilegiando, nas ações e na resolução das tarefas propostas, a expressividade individual do movimento e não o aprimoramento técnico. Problematização momento em que outras questões podem ser problematizadas, aprofundadas e ressignificadas, estimulando uma reflexão maior sobre estereótipos, ou ideias atreladas ao senso comum. Aprofundamento momento onde os alunos podem ser estimulados a realizar a prática corporal de forma mais autônoma, estabelecer relações com outras práticas corporais ou outros contextos, diferentes da realidade do aluno, e onde o professor poderá promover situações de aprofundamento.. Intervenções possíveis no âmbito da abordagem cultural Lecionar a Educação Física, partindo de uma perspectiva cultural, nos parece adequado, considerando a percepção de educação que comungamos: uma educação ampla, que considere a realidade dos alunos, construindo saberes e desconstruindo preconceitos partindo das diversidades que se apresentem nas situações de ensino. No que tange à prática pedagógica, deve-se considerar a cultura corporal de movimento e seus conteúdos e, partindo deles, praticar, pensar, questionar, criticar e, consequentemente, estimular uma experiência mais autônoma do aluno no usufruto desses conteúdos a partir do seu aprendizado.
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