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1 2 https://pindorama.org.br/cursos-online/ https://pindorama.org.br/agenda/ https://pindorama.org.br/cadastro 3 Sobre o autor Nilson Dias é gerente de projetos e sócio fundador do Instituto Pindorama. Analista de sistemas com MBA em gestão de projetos pela FGV e graduado em arquitetura. Permacultor com foco em bioconstrução com bambu e solo, uso de energias alternativas e biogás. Dedica-se à pesquisa e ao desenvolvimento de projetos que aliam tecnologias de ponta a recursos renováveis. É considerado referência nas áreas de permacultura, sustentabilidade e transição de vida, tendo realizado diversas palestras e cursos pelo Brasil e na sede do Instituto Pindorama em Nova Friburgo, onde reside e trabalha. 4 Produção e conteúdo: Nilson Dias – Instituto Pindorama Nativa Comunicação Estratégica & Consultoria Capa, projeto gráfico, ilustrações e diagramação: Nativa Comunicação Estratégica & Consultoria www.nativacom.com.br Este é um material gratuito do Instituto Pindorama. Portanto, é permitida e incentivada a distribuição deste livro em canais de comunicação, desde que sejam atribuídos os devidos créditos ao Instituto. 5 Índice Prefácio...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Como transformei um sítio abandonado...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Transição da cidade para o campo....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Breve introdução à permacultura...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Escolhendo um sítio para compra...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Identificando a aptidão da terra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Identificando a aptidão do empreendedor...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30 Escolhendo a melhor forma de se institucionalizar...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 O que são empreendimentos sustentáveis?...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Ferramentas para desenvolvimento do seu empreendimento...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 Criando uma presença online para seu empreendimento...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Implementando os modelos de negócio...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40 Uma forma diferente de atrair e remunerar colaboradores...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 Cuidados para o sítio não virar um ralo de dinheiro...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Considerações finais...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 6 Prefácio É engraçado olhar para trás e me lembrar das pessoas, livros e experiências que me trouxeram até aqui. Nasci em uma família de produtores rurais bem estabelecida no comércio de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Brinquei com terra, bolinha de gude, carrinho de rolimã e plantas. Ao mesmo tempo, tive acesso a videogames e computadores. E, ainda pequeno, descobri que tinha dom para vendas e me interessei por marketing. Aos quatro anos, montei uma venda de caquis orgânicos na porta de casa. Cresci tendo a cartilha de pequenos negócios do Sebrae como minha revista favorita. Adorava assistir ao Pequenas Empresas, Grandes Negócios. Meus super-heróis eram de carne e osso: Hans Donner, um dos mestres da computação gráfica da época; e Washington Olivetto, da W Brasil, que apresentava os melhores comerciais do mundo no programa “Intervalo”. Esse impulso me transformou em quem sou hoje. Me fez abandonar um cargo de gerência em uma multinacional, aos 23 anos, por estar infeliz com a vida na cidade grande. Me trouxe de volta para o sítio da família, buscando um lugar que me possibilitasse produzir meu próprio alimento e imergir em práticas espirituais. Quando me dei conta, estava resgatando técnicas do meu avô e descobri que isso tinha um nome e uma metodologia: permacultura. Isso transformou meu olhar para o sítio e para o que, hoje, chamo de empreendimentos sustentáveis. Este livro é dedicado a todos que sonham em reativar um pedaço de terra ou se mudar para o campo, descontentes com a complexidade dos grandes centros urbanos. Não é só para sonhadores. É para quem deseja gerir a terra e transformá-la, seja em um terreno próprio ou em um arrendamento. Quero mostrar tudo que é preciso para assumir um desafio como este e ter mais chances de sucesso. 7 Como transformei um sítio abandonado Capítulo 1 O Pindorama surgiu da junção de pequenos sítios comprados pelo meu avô, Nelson Dias, a partir de 1940. Os 27 alqueires – ou 50 hectares (500.000 m²) – já viram a produção de café, gado leiteiro e de flores. Meu avô, inclusive, foi um dos pioneiros no cultivo de rosas coloridas no Rio de Janeiro, com mudas importadas da França e reconhecimento do então presidente Getúlio Vargas em um concurso de cultivo de orquídeas. 8 Meu pai nasceu no sítio, em 1942. Depois de 25 anos, eles se mudaram para uma linda casa, projetada por um renomado arquiteto, graças ao sucesso do plantio de flores. Em 1967, foi criada a Floricultura Nelson – e está em funcionamento até hoje. Em uma cidade pequena como Friburgo, o negócio foi uma mina de ouro. Com poucas opções para presentear mães e esposas, filas se formavam para comprar buquês. Três vezes por semana, meus parentes iam ao sítio para colher flores e cuidar dos plantios. Mas o acesso barato a outros produtores e a concorrência com São Paulo fizeram com que o sítio entrasse em decadência. Em 2011, um evento climático destruiu as últimas estufas de cultivo, encerrando o ciclo de flores de corte no Pindorama. 9 Antes disso, porém, cheguei lá para construir minha primeira casa. Em 2008, tinha acabado de me aprofundar nos estudos da arquitetura védica, baseada em escrituras sagradas da Índia, e desenhei uma planta respeitando os preceitos conhecidos como Vastu Shastra. Como primeira obra de um leigo, tivemos erros e acertos. Mas, desde o início, uma ideia de sustentabilidade norteou o projeto. A casa contava com um sistema de iluminação com lâmpadas de LED, que está lá até hoje. Conectado a um sistema fotovoltaico de energia solar, ele foi essencial nos três meses após o evento climático de 2011. A casa também contava com um boiler, conectado ao fogão à lenha, que posteriormente foi unido ao sistema de aquecimento solar de água. No segundo andar, utilizamos madeira de pinus para o assoalho. 10 Depois foi a vez de trabalharmos na centenária casa em que meu pai nasceu. Duas paredes já tinham colapsado, o telhado cerâmico apresentava goteiras e o espaço era usado como depósito de ferramentas, entulhos e lixo. Foram dois anos, entre 2014 e 2016, para transformá- la em dormitório para alunos dos nossoscursos, com mutirões e palestras que ajudaram a viabilizar a compra de materiais. Dessa mesma forma surgiram edículas para nossas salas de aula, escritório e banheiros, que tornaram a casa autossuficiente. Atualmente, ela possui uma usina fotovoltaica – conectada a um banco de baterias, a um sistema híbrido e à rede da concessionária de energia. O gás da cozinha é gerado pelos dejetos dos banheiros e a água filtrada pelo teto verde é reutilizada. 11 Como foi o financiamento? Quando fui morar no sítio, um amigo do meu irmão identificou que o bambu gigante existente na propriedade podia ser usado como material de construção. A princípio, não botei fé, mas construímos um tanque de alvenaria para tratar o material e a primeira leva foi utilizada para construção de nossa bambuzeria escola. O sucesso foi tão grande que, em 2009, tivemos quatro turmas no curso de Construção com Bambu, ministrado pelo engenheiro Bruno Salles – o amigo do meu irmão – e viabilizadas por anúncios no Google. Da construção, passamos para o mobiliário. Alguns anos depois, tínhamos duas turmas por ano no curso Design com Permacultura. E essas aulas foram fundamentais para viabilizar nossas construções. 12 Transição da cidade para o campo Capítulo 2 Em 2012, a população urbana mundial ultrapassou a rural pela primeira vez. O aumento da densidade demográfica, somado às políticas econômicas baseadas na indústria do petróleo, têm tornando as cidades insuportáveis. Poluição, engarrafamentos e alto custo de vida são apenas alguns desses fatores que impactaram a minha decisão e de muitos outros que conheci nesse caminho. Quando fui chamado para trabalhar na IBM, em São Paulo, decidi agarrar a oportunidade. Internamente, porém, me questionava sobre o mercado corporativo e a vida nas grandes cidades. Quando me permitiram o home office, voltei para Nova Friburgo e me aproximei da busca por uma vida mais simples. Cerca de um ano depois, minha avó faleceu e herdamos o sítio. Não consegui ficar mais tempo na IBM e trouxe pouco menos de R$ 50 mil para investir. Minha história não é incomum. Muitos têm ido na contramão das tendências e saem rumo ao interior. Para isso, porém, é preciso se planejar. O tempo que levei entre sair da IBM e começar meu sonho foi importante para amadurecer a ideia. Não vou entrar no tópico de educação financeira nesse livro, pois existem diversos conteúdos na internet sobre isso. Mas para quem busca fazer a transição, ter um pé de meia é fundamental. Era algo que eu queria ter feito quando comecei, inclusive. Eu poderia ter ficado mais alguns anos no mercado corporativo antes de começar o Instituto, mas perderia a oportunidade de ser um pioneiro no Rio de Janeiro. Uma das pessoas para qual dou mentoria, porém, está no mercado e possui liberdade para trabalhar via home office. Ela juntou R$ 1 milhão para aplicar no Instituto de Permacultura que está abrindo e, certamente, a curva de ação dele será mais acentuada do que a minha. Sem reservas, você pode acabar não tendo fôlego para se aventurar nos primeiros anos e pode acabar com dívidas. É preciso pensar bem antes de tomar a decisão. 13 Quando fazer a transição? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Conheci mais de mil pessoas em transição, com diversas histórias. Jovens com pais em boa situação financeira para manter as atividades. Jovens sem dinheiro, que viajam por fazendas orgânicas mundo afora. Profissionais próximos da aposentadoria, que pretendem usar as terras para alguma atividade. Pessoas de meia idade que chutaram o balde. Desempregados, que não tiveram escolha após anos tentando se recolocar no mercado. Enfim, é algo muito pessoal. Muitas vezes a vida não permite seguir um roteiro, mas podemos traçar metas para que a transição seja menos conturbada. 1. Leve uma vida mais simples Se pretende ir para o campo, entenda que as facilidades da cidade grande não estarão mais na esquina. Comece a cortar gastos desnecessários, ande mais a pé, se livre do carro e more em um lugar mais simples. Prepare suas refeições e evite o delivery. Frequente feiras livres, busque produtores orgânicos e aproveite para se alimentar melhor e gastando menos. 2. Aplique bem seu dinheiro Parece hipocrisia falar de viver fora do sistema e, ao mesmo tempo, indicar que se aplique o capital. Mas não podemos tratar o dinheiro com desprezo ou excesso de apego, devemos é cuidar para que ele trabalhe para você. Não posso indicar o melhor caminho porque cada pessoa tem um perfil de investimento, então é preciso estudar. Ter um dinheiro aplicado ajuda a lidar com gastos inesperados e com oportunidades imperdíveis. 3. Capacite-se e socialize Mesmo que você tenha uma rede de contatos ligada ao seu ramo de atuação, é preciso construir novas conexões para essa fase que se inicia. A participação em coletivos, mutirões e movimentos locais contribui para criar laços. Lembro-me de como aproveitava meu tempo quando morava em São Paulo, pois era praticamente impossível me encontrar em casa nos finais de semana com tanta coisa interessante acontecendo. É preciso usar bem seu tempo. 4. Obtenha rendimentos extras Mesmo sendo econômico, o orçamento pode ficar apertado durante a transição. Nesse caso, desenvolva uma fonte de renda extra. Alguns fazem pães ou geleias, outros preferem ebooks e infoprodutos. Horas extras ou um segundo trabalho também são opções. É preciso ver o que melhor se adapta à sua realidade e se preparar. Mas investir em um negócio próprio não é a única forma de fazer a transição. Alguns optam por cortar ao máximo os vínculos com posses e dinheiro. Alguns utilizam seus dons culinários, de plantio ou de construção para serem disputados por grandes ecovilas, ganhando um passaporte para ter casa, alimentação e um grupo de pessoas que irão amar te receber. Desde que você consiga se organizar, são muitas opções possíveis. 14 Breve introdução à permacultura Capítulo 3 O conceito de permacultura foi desenvolvido pelo cientista australiano Bill Mollison, em parceria com o aluno David Holmgren, no final da década de 1970. As práticas foram estudadas em uma tese acadêmica, testada e vivenciada por ambos, e baseada em sistemas produtivos organicamente integrados. O nome faz referência à “cultura permanente”, termo inspirado por povos que viviam dessa maneira ao redor do mundo. Os pesquisadores começaram a sistematizar e associar tais práticas ancestrais às tecnologias mais modernas, de modo a projetar, estabelecer e manter assentamentos sustentáveis. Ou seja, o projeto permacultural se tornou uma integração harmoniosa entre pessoas e paisagem, provendo alimentação, energia e habitação de forma orgânica e ética. Muitas organizações e propriedades rurais têm incorporado a permacultura para criar espaços em que as práticas de cuidado com o planeta sejam tão corriqueiras quanto limpar o banheiro. Algumas hipóteses levantadas no livro Permacultura Um, de Bill Mollison, são consideradas fundamentais nesse processo: • O homem está sujeito às mesmas leis científicas que governam o mundo material. • A extração de combustíveis fósseis é considerada a raiz do crescimento populacional e tecnológico, bem como das características da sociedade de consumo. • A crise ambiental é real e sem precedentes para nossa sociedade, colocando em risco a qualidade de vida e a sobrevivência da espécie humana. • Os impactos da sociedade industrial e do crescimento populacional impactam mais a biodiversidade do planeta do que tudo o que foi feito nos séculos anteriores. • O esgotamento inevitável dos recursos naturais dentro de algumas gerações culminará em um retorno gradual a práticas pré-industriais, baseadas em recursos e energias renováveis. A permacultura apenas se antecipa à progressiva redução do consumo de energia fóssil e de recursos finitos. E tudo é fundamentado conceitual e cientificamente por diversasfontes, como o trabalho do ecologista norte-americano Howard Odum, usado por Mollison como inspiração para o estudo. 15 Princípios éticos Os três princípios éticos que governam a permacultura são um freio para instintos egoístas de indivíduo ou de grupos (organização, cidade, nação etc.), proporcionando uma visão de longo prazo das consequências de nossas ações: • Cuidado com a Terra: solos, florestas, água, ar, animais e meio ambiente. • Cuidado com as pessoas: consigo mesmo, com a família e com a comunidade. • Partilha justa: estabelecer limites para o consumo e distribuir os excedentes. Princípios de design Levar em consideração a visão sistêmica dos assentamentos humanos e do planeta, baseando-se na ecologia de sistemas, de Odum. Assim podem ser caracterizados os princípios de design na permacultura, nos convidando a consolidar um pensamento sistêmico. Isso, claro, a partir do estudo do mundo natural e das sociedades sustentáveis pré-industriais, observando o que pode ser adotado tanto em contextos de abundância ecológica quanto na escassez. 1. Observe e interaja A natureza fornece insumos para desenhar soluções adequadas à cada situação. Intervenções humanas no ambiente – sejam elas físicas ou socioeconômicas – devem ser baseadas em observações cuidadosas, com base científica e usando a intuição. Ao construir uma habitação, por exemplo, é ideal acampar no terreno por alguns dias, em cada estação do ano, para observar os fatores que podem influenciar o projeto, como sentido do vento, posição do sol etc. 2. Capture e armazene energia O sol envia 47 bilhões de kW por segundo à Terra, uma energia que foi capaz de manter a vida em todas as civilizações anteriores à nossa. E se o modo de vida atual não pode ser mantido dessa forma, algo precisa ser revisto. Na permacultura, a energia é vista como parte de um sistema. Construir uma composteira próxima à cozinha e uma horta pouco mais adiante, por exemplo, é uma opção para se gastar menos energia – seja de combustível para transporte dos resíduos, seja de calorias e tempo de trabalho humano. Além disso, as energias alternativas no Brasil começam a ficar mais acessíveis ao consumidor final, mesmo com as flutuações do câmbio. Coletores solares podem abolir chuveiros elétricos e aerogeradores, microturbinas hidráulicas e placas fotovoltaicas podem até mesmo zerar a conta de energia. 3. Obtenha rendimento Os designs devem ser planejados para assegurar rendimentos a todos os impactados. Em Sistemas Agroflorestais (SAF), por exemplo, esses rendimentos são aproveitados por humanos, animais e pelas próprias plantas. E, por menor que seja nossa intervenção, os impactos podem ser expandidos e ganhar em escala. Uma ação simples de compostagem em casa pode ser levada para o condomínio e gerar toneladas de resíduos orgânicos para adubar os alimentos de todos. 4. Pratique autorregulação e aceite feedback Sem a prática da autorregulação ou do consumo consciente, estamos fadados à extinção. O pensamento linearista, no qual se extrai um recurso natural para processá-lo, vendê-lo, utilizá-lo e descartá-lo em aterros 16 sanitários, não mais se sustenta. Devemos agir com consciência e refletir antes de adquirir um bem ou serviço, destinar nossos resíduos de forma adequada e atuar junto aos conselhos municipais, Ministério Público e Justiça para que as políticas sanitárias sejam cumpridas. Outro ponto importante é aceitar o feedback e as críticas positivas. Realizar um autoexame quando formos criticados por alguém ou por um sistema novo, como a permacultura. Assim podemos crescer como indivíduos. Afinal, o planeta não deve ser uma preocupação imediata. Ocupe-se da sua casa e do seu bairro. Se cada um fizer isso, o todo se harmonizará. 5. Utilize e prefira recursos e serviços renováveis Tire o melhor proveito da natureza para eliminar o consumismo e a dependência de recursos não renováveis. Por mais que pareça infinito, o petróleo atingiu seu pico de produção há algumas décadas. Precisamos buscar fontes alternativas, como polímeros de origem vegetal – base de mamona, mandioca e até mesmo de cannabis. Para os automóveis também já existem opções, como veículos elétricos ou a hidrogênio. A lógica do permacultor admite o uso moderado de recursos não renováveis (como ferro, alumínio e petróleo), e incrementa o uso de recursos renováveis, como bambu, fibras naturais, energia eólica e solar e meios de transporte sustentáveis. Tudo para manter um equilíbrio entre as ações. 6. Evite o desperdício A palavra “lixo” não existe. Também não existe “fora”. Logo, não é possível “jogar o lixo fora”. Tudo pode ser reciclado ou reaproveitado. O consumo consciente, somado a uma análise criteriosa dos sistemas, proporciona uma drástica diminuição do desperdício de recursos renováveis e não renováveis. Analisar o fluxo de entrada e saída dos elementos, aliás, é um dos exercícios na concepção de um desenho permacultural. Assim é possível determinar o caminho percorrido e evitar o desperdício, além de obter rendimentos para a manutenção do sítio. 7. Parta dos padrões para chegar aos detalhes Os padrões da natureza e da sociedade constituem a espinha dorsal de nossos projetos. A sabedoria de milhões de anos vinda do meio ambiente nos apresenta padrões como espirais, fractais e mandalas. As teias de aranha, com suas linhas radiais e concêntricas, são um bom exemplo disso. O padrão serviu de inspiração para planejar zonas e setores e para a montagem da espiral de ervas. E essas inspirações são estudadas há séculos, em uma área chamada biomimetismo. 8. Integrar ao invés de segregar Colocar cada elemento no local adequado, para que um coopere com o outro. O permacultor deve desenvolver uma visão ampla para inter-relacionar elementos e fazer com que o projeto seja o mais funcional e demande menor recursos externos. Quando se desenvolve essa visão holística do sistema, o profissional chega às seguintes conclusões: • Cada elemento deve exercer mais de uma função. 17 • Uma função importante deve ser suportada por mais de um elemento. Um exemplo é o fogão a lenha na sede do Instituto Pindorama. Ele exerce várias funções: cozinhar alimentos em panelas ou forno, aquecer o ambiente e a água do boiler para mais de 15 pessoas por dia. Com um só elemento é possível substituir uma lareira, um fogão e uma resistência elétrica. Isso sem contar o entretenimento de se sentar em frente a ele. Além disso, funções importantes devem ser suportadas por mais de um elemento. Uma instituição de ensino que necessita de energia elétrica para funcionar precisa ter mais de uma fonte, como a fotovoltaica e a proveniente da concessionária. Assim não há desabastecimento e ninguém é prejudicado. Isso também pode ser visto pelo aspecto das relações humanas. Ao invés de nos segregarmos por dogmas, status social, dieta e outras aparentes diferenças, devemos encontrar formas de nos integrar, com foco em um benefício mútuo. 1. Utilize soluções pequenas e graduais Respostas amplas e rápidas costumam ser acompanhadas por um impacto ambiental, não raro irreversível. Manter um sistema pequeno e lento contribui para o uso adequado dos recursos locais, preservando o espaço. Ao adubar um plantio com esterco, farinha de ossos e pó de rocha – que não degrada o solo –, seguimos esse princípio. Da mesma forma, quando usamos mudas de semente ou estaquia em nosso sistema agroflorestal, as pequenas soluções são benéficas a todos da cadeia. 2. Utilize e valorize a diversidade Incentivar a biodiversidade reduz a gama de ameaças, permitindo aproveitar melhor todas as características do habitat. Na monocultura, há maior suscetibilidade a doenças e pragas, além do uso de fertilizantes químicos e pesticidas. Em um cultivo diverso, com muitas espécies sendo valorizadas ao mesmo tempo, há maior soberania alimentar, com mais chances de prosperar perantevariações climáticas e ataque de pragas. Além disso, precisamos pensar em substituições. Nossa cultura alimentar importou muitos hábitos europeus. Cultivamos hortaliças que exigem aporte de fertilizantes, como é o caso do brócolis e da couve-flor, enquanto temos plantas alimentícias espontâneas (beldroega, ora- pro-nóbis e urtiga) que são mais nutritivas e não requerem irrigação nem adubação. 3. Aproveite as bordas e valorize elementos marginais Os eventos mais interativos e interessantes ocorrem nas margens. É onde estão os elementos mais valiosos, diversificados e produtivos de um sistema – como na junção de dois biomas. A interseção entre o Cerrado e a Mata Atlântica, por exemplo, tem uma enorme diversidade de espécies. Se cai uma árvore, o espaço entre a tora e o solo torna-se um local rico, com fungos e insetos. Nosso solo é uma camada borbulhante de vida, com aproximadamente 20 milhões de fungos e bactérias por cm³. Aumentar essa área é sinal de produtividade. 4. Responda criativamente às mudanças Este princípio é definido pela resiliência. Se observamos com atenção e intervirmos nos 18 momentos certos, é possível termos impactos positivos. O filme A revolução dos cocos ilustra isso de forma fantástica, mostrando como o embargo de Papua Nova Guiné à Ilha de Bougainville aumentou a resiliência e a criatividade de um povo massacrado por atrocidades da maior empresa de mineração do mundo. Capacidade semelhante pode ser observada em O poder da comunidade: como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo. O filme conta como os cubanos responderam à escassez de petróleo no embargo imposto pelos Estados Unidos, somado à queda da União Soviética. 5. Planejamento por zonas e setores A observação minuciosa do ambiente nos leva a avaliar como as energias externas podem impactar o sistema e o design proposto. Isso é levado em consideração em um planejamento por setores. Podemos direcionar o vento a um aerogerador ou bloqueá-lo com um pomar, por exemplo. E isso também pode ser feito com outras fontes, como luz solar, chuvas, correntes de água, fogo, ruídos ambientais, maresia etc. Já o planejamento por zonas pressupõe a alocação dos elementos de acordo com a frequência de interação, garantindo a menor perda energética. Onde a atividade humana é mais intensa, como em uma casa ou escritório, convenciona-se chamar de Zona 0. Imaginando-se anéis concêntricos, teremos as Zonas 1, 2, 3, 4 e 5. Esta última é onde não há mais intervenção humana, normalmente em áreas de proteção ambiental, tanto na cidade quanto no campo. Zoneamento O zoneamento é definido conforme o número de vezes que você visita cada elemento (planta, animal, estufa) e a necessidade de acompanhamento e manutenção. Ou seja, é uma forma abstrata de lidar com as distâncias, criando conexões de acesso e de abastecimento de insumos. A meta é assegurar que cada elemento sirva a mais de um centro de atividades de forma orgânica. Em alguns casos, a topografia e o acesso podem significar que a área menos utilizada (Zona 5) se situe próximo à área mais usada (Zona 1). É o caso, por exemplo, de uma encosta íngreme de floresta imediatamente atrás da casa. Isso precisa ser bem trabalhado no planejamento, mas pensar nisso é o que tornará o projeto mais funcional e resiliente. Zona 0 – Centro de atividades É onde as principais ações ocorrem, como casas e galpões. A Zona 0 é ajustada de acordo com as necessidades dos ocupantes e planejada para conservar energia. Não é por acaso, inclusive, que muitas ferramentas apresentadas neste livro são dedicadas às Zonas 0 e 1, pois são as que exigem um maior investimento. Quando o zoneamento é aplicado ao meio urbano, geralmente se usa apenas as Zonas 0 e 1. Em aplicações rurais, há espaço para as Zonas 2, 3, 4 e 5. Mas isso não é regra e seu design não precisa incluir todas. Zona 1 – Autossuficiência doméstica Perto da casa, na zona mais acessada e gerenciada. Nela não há animais de grande porte soltos ou árvores maiores. 19 Árvores pequenas e que sejam visitadas frequentemente, como frutíferas, podem ser colocadas nesta zona. Além disso, temos: • Jardins aromáticos e paisagísticos. • Oficinas e casas de ferramentas. • Sementeiras, estufas e viveiros. • Pequenos animais. • Combustíveis para a casa (gás, madeira, composto). • Varal para roupas e locais para secagem de grãos. • Tanques para coleta de água de chuva e poço. • Pilha de toras para cultivo de shitake. Zona 2 – Pequenos animais e pomares Esta é uma zona que ainda é mantida intensivamente, com disponibilidade de água apenas para as plantas. É preciso criar bebedouros para os animais, como gado, ovelhas e pássaros. Também se encontram nessa área: • Arbustos maiores, pomares mistos e pequenas frutas para quebra-ventos. • Árvores maiores, com uma camada de ervas e plantas baixas, especialmente as de pequenas frutas. • Plantas e animais que requeiram cuidado, com água reticulada – irrigação por gotejamento. • Galinhas e outras aves domésticas. • Galpões, galinheiros, tanques no solo e controle de fogo. • Animais em lactação que requeiram lida diária – aqui ou na Zona 1. Zona 3 – Frutas e animais maiores • Pomares. • Quebra-ventos, moitas e arvoredos. • Árvores maiores, como carvalhos e nogueiras. • Pastagens para animais maiores. • Armazenamento de água em solo e açudes. • Armazém de forragem. • Abrigo de campo. Zona 4 – Extrativismo, floresta e ecoturismo Espaço que mescla o manejo controlado e a vida selvagem. • Coleta de alimentos resistentes, como pinhão, castanhas e açaí. • Árvores não podadas. • Manejo de vida selvagem. • Floresta e trilhas ecológicas. • Madeira de corte. • Animais de caça para obtenção de carne, onde é permitido – como o javali-do-mato e outras espécies invasoras. • Coleta de plantas selvagens e fitoterápicas. Zona 5 – Contemplação Sistemas não manejados e selvagens, com áreas de preservação permanente. É onde termina o projetado e o design. Um espaço para observar e aprender, ideal para meditação, no qual somos visitantes e não gerentes. Setores Compreendem as fontes de energia não controláveis – como luz solar, vento, chuva, fogo e fluxo de água (inclusive enchentes) – oriundas de fora do sistema e que passam por ele. Os setores são baseados em um diagrama, feito de acordo com a realidade concreta 20 do sítio e a partir do centro de atividades. Alguns dos critérios que podem ser usados: • Setor de perigo relacionado a fogo. • Ventos frios e danosos. • Ventos quentes, que levantam pó ou sal. • Ângulo do sol no verão e no inverno. • Análise a partir de açudes. • Áreas sujeitas a enchentes. Em cada setor, posicionamos espécies de plantas e estruturas apropriadas para: • Bloquear ou reduzir a entrada de energia ou uma vista distante. • Canalizar a energia para usos especiais. • Abrir o setor a determinada energia. A inclinação e a declividade também devem ser observadas. Fazer essa análise permite determinar o posicionamento de açudes, tanques de água ou vertentes; planejar estradas de acesso, drenos, desvio de enchentes ou de correnteza; e posicionar unidades de efluentes ou biogás, de modo a posicionar elementos do design e manejar energias em nosso benefício. Resumo Os elementos são posicionados de acordo com a intensidade de uso (zonas), a incidência de energias externas (setores) e o fluxo efetivo de energia (declividade e outros fatores geodinâmicos). 21 Escolhendo um sítio para compra Capítulo 4 “Sítio dá duas alegrias: a primeira quando você compra e a segunda quando você vende.” Essa máxima é muito conhecida e carrega consigo as dúvidas que cercam alguém que pensa em adquirir uma propriedade. Tendo acompanhado vários casos assim, minha primeira dica é: não compre. Tente alugar ou arrendar. Sim, exatamente isso. Há muitas pessoas buscando parcerias para terras em desuso e esse pode ser um excelente ponto departida para ganhar intimidade com a vida rural sem assumir o compromisso da compra. Mas se você deseja adquirir uma propriedade, use as folgas do trabalho para participar de experiências locais e realizar visitas. Se entrose com a comunidade e viva aquele espaço. Não é preciso mencionar com ninguém que você está interessado em viver ali, apenas deixe fluir. Tente alugar por temporada ou fazer parcerias para sentir a vibração da região. Certa vez me foi ofertada uma terra na Bahia e decidi visitar. O sítio era maravilhoso, com água e muitas árvores frutíferas, mas arcar com a viagem em si não cabia naquele meu momento de vida. Tenho pais idosos e precisava estar em um local com boa logística para o sudeste. Em outra ocasião, recebi a visita de um voluntário no Instituto, por insistência da esposa. O cidadão não aguentou dois dias. Tudo incomodava: mosquitos, sol, carregar pesos, fazer esforço físico. O casal até repensou sobre o sonho de morar no campo depois da experiência. Se mesmo após tudo isso você ainda está decidido a comprar, vamos listar algumas dicas: • Escolha uma região com a qual você possua alguma identidade, mesmo que ela tenha sido construída em férias ou visitações. • Ao buscar uma propriedade, não use um carro muito chamativo. • Converse com os vizinhos, descubra detalhes sobre o histórico a as características do local. Levante tudo o que for possível. • Verifique a distância até o centro urbano mais próximo, as condições das estradas de acesso e se existe conexão com a concessionária de energia. • Se ainda não sabe qual atividade desenvolver, busque uma terra que possua mais de uma aptidão. Evite aquelas com características determinantes para apenas uma ou duas atividades principais. 22 • Espere o melhor momento para comprar. Acompanho preços de sítios há alguns anos e o sobe e desce é constante. Pesquise, faça ofertas e não coloque a mão onde não alcança. Lembre-se que é preciso sobrar dinheiro para investir no empreendimento. • A terra deve possuir fontes próprias de água, mas não é o fim do mundo se o acesso for na nascente do vizinho. O acesso a água é um direito adquirido e existem formas de captação de água da chuva. • Eu não compraria uma terra que fosse 100% pasto nem uma que fosse 100% floresta, sem áreas degradadas para ocupar de forma sustentável. Deve haver uma mescla para facilitar a implementação das atividades produtivas. • Verifique se a terra possui o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que auxilia a Administração Pública na regularização ambiental. É um registro eletrônico, obrigatório para os imóveis rurais e que integra informações referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente, das áreas de Reserva Legal, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito (pantanais e planícies pantaneiras) e das áreas consolidadas. O que é uma Área de Proteção Permanente (APP)? É uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar recursos hídricos, paisagem, estabilidade geológica e biodiversidade, além de facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. O Código Florestal atual, no art. 4º, estabelece que elas são: I – As faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; II – As áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; III – As áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento; IV – As áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; V – As encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive; 23 VI – As restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII – Os manguezais, em toda a sua extensão; VIII – As bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; IX – No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação; X – As áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação; XI – Em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado. O que é a área de Reserva Legal? De acordo com a Lei 12.651/2012, a título de Reserva Legal, todo imóvel rural deve manter uma área com cobertura de vegetação nativa para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da flora nativa. Sua dimensão mínima, em termos percentuais relativos à área do imóvel, depende da localização, conforme abaixo: Imóvel situado na Amazônia Legal Obs.: Imóveis que realizaram desmatamentos na Amazônia entre 1989 e 1996, obedecendo o percentual mínimo da época de 50%, estão desobrigados a recompor suas áreas a 80%. No caso da Amazônia Legal, o poder público estadual, ouvindo o Conselho Estadual do Meio Ambiente, poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% nos seguintes casos: • Se o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado estiver aprovado e mais de 65% do território for ocupado por unidades de conservação de domínio público, devidamente regularizadas, ou por terras indígenas homologadas. • Quando o município tiver mais de 50% da área ocupada por unidades de conservação de domínio público ou por terras indígenas homologadas. 24 Imóvel localizado nas demais regiões Aspectos legais Existem algumas certidões importantes que você deve exigir do vendedor para garantir a legalidade da compra do imóvel: • Certidões negativas: do cartório distribuidor de Protesto de Títulos; do cartório distribuidor Cível; da Justiça Federal; da Receita Federal; da Justiça do Trabalho; e do INEA; além de ônus e da Prefeitura – ambas do imóvel em questão. • Certidão de inteiro teor da matrícula, solicitada no cartório de Registro de Imóveis. • Declaração de quitação de “Condomínio”, assinada pelo responsável com firma reconhecida e ata que comprove estar habilitado a assinar tal documento. • Fotocópia autenticada do CPF, da Identidade Civil (RG), da certidão de casamento ou de nascimento e de um comprovante de residência; • Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR). • Os cinco últimos INCRA/ITR ou a certidão relativa ao imóvel junto àReceita Federal. Certidão negativa do INEA Obs.: Todas as certidões exigidas devem estar dentro do prazo de validade quando da concretização do processo de contemplação. 25 Identificando a aptidão da terra Capítulo 5 Na época de nossos avós, era caro fazer um aterro ou corte de barranco com maquinário. Manualmente, então, era extremamente demorado. As novas tecnologias, porém, mudaram esse cenário, permitindo uma maior amplitude de atividades nos imóveis rurais. Um dos princípios da permacultura é a chamada Leitura da Paisagem. Ela consiste em um estudo contemplativo do local, com a observação do caminho do sol, das características do solo e da cobertura, dos caminhos da água. Enfim, de tudo que dá as características do local. A partir dessa análise detalhada é possível definir quais atividades poderão ser realizadas. Algumas se adaptam a qualquer tipo de solo. Outras demandam melhorias. E ainda há aquelas voltadas para um tipo específico de clima ou topografia. Nossa intenção neste livro não é aprofundar nos sistemas de cultivo, mas sim mostrar quais existem para que você possa buscar maior conhecimento no futuro. Agricultura orgânica em cultivo protegido Seja pelos índices de chuva ou pela umidade relativa do ar, em algumas regiões é impossível produzir orgânicos sem o auxílio de estufas. Elas ajudam a manter pragas e fungos fora do cultivo, poupando a aplicação de defensivos orgânicos e encurtando o tempo de maturação das verduras, legumes e frutos. Existem estufas de vários tipos, inclusive algumas resistentes e de baixo custo, como as de bambu. A construção ideal ocorre em espaços planos, mas também encontramos algumas em declividades de até 35 graus. Até mesmo porque áreas com topografia mais desafiante – como a que temos em Nova Friburgo –, são adequadas para o plantio de rizomas e roças de inhames, bananeiras, mandioca, milho e agroflorestas, deixando as baixadas para verduras, legumes e frutíferas de menor porte na estufa. Esses espaços precisam de um sistema de irrigação semiautomático ou 100% automatizado. Os mais usados são os da Hunter e da Rainbird, mas também existem sistemas de código aberto, que podem ser controlados pelo smartphone, como é o caso do OpenSprinkler, que tem como base o Arduino. O importante, porém, é que o sítio possua boa captação de água para dar vazão a uma produção comercial. 26 Para economizar água, a irrigação por gotejamento é a mais recomendada. Em cultivos sazonais, como verduras e legumes, uma fita ou mangueira gotejadora com furos contra entupimento a cada 20, 30 ou 50 cm, é a opção mais adequada. Já para frutíferas e culturas perenes, o gotejador instalado no cano ou mangueira é mais durador. Além disso, a irrigação por aspersores também pode ser usada, embora os mais comuns sejam os microaspersores, que cobrem uma área menor. A irrigação também pode ser uma forma de introduzir nutrientes, diluindo adubos na caixa d’água – em um processo conhecido como fertirrigação. Mas se você tiver alguma dúvida, nas lojas de materiais agrícolas geralmente há um vendedor para indicar o melhor sistema para o seu caso. Além disso, é sempre possível consultar os órgãos de extensão rural da sua região. Sistema agrossilvipastoril É uma forma de integrar lavouras, espécies florestais, pastagens e espaços para os animais, levando em consideração aspectos paisagísticos e energéticos. É um sistema que se adapta a vários tipos de topografia, solo e clima, mas ainda é muito pouco falado. Deve-se atentar apenas para o que se deseja criar, pois cada espécie se adapta melhor a um ambiente. Por se tratar de uma policultura, a rotação de piquetes degrada menos o solo, garantindo maior usabilidade da área ao longo das décadas. Além disso, também gera sombra para os animais, aumentando o conforto e produtividade. Nesse sentido, consórcios de madeira de corte, com animais e culturas anuais – como milho, mandioca, feijão, inhame – garantem maior rentabilidade por hectare e trazem segurança pela diversificação da renda e os cultivos de ciclo mais curto. Caso seja necessário isolar uma área de plantio da destinada aos animais, as cercas elétricas são uma opção eficiente, pois causam menor sofrimento do que o arame farpado. Isso sem falar que sistemas autônomos podem ser facilmente montados para proteger cultivos em áreas remotas e sem energia. Sistema Agroflorestal (SAF) Atualmente é o sistema mais sustentável, rebatizado de “Agricultura Sintrópica” pelo seu principal expoente, Ernest Gostch. No SAF, a produção de alimentos imita o funcionamento de uma floresta, podendo ser utilizado até mesmo em áreas degradadas para que se tornem produtivas em cerca de um a três anos. É possível adaptá-lo a qualquer contexto, desde áreas de pasto até capoeiras ou floresta, embora a prática mais comum seja em áreas limpas ou com pouca vegetação, como uma forma de agricultura regenerativa. Também é atrativo para visitação e renda extra, já que muitos buscam estudar sistemas em diferentes estágios de implantação. Apicultura Áreas mais ricas em vegetação arbustiva e arbórea, com menos pasto, possuem uma aptidão natural para a apicultura. Até mesmo porque abelhas sem ferrão e nativas estão em alta, com mel e própolis sendo disputados por seu alto valor medicinal e comercial. Além disso, alguns sitiantes geram renda extra agregando valor aos produtos, produzindo cremes com própolis, sabonetes, pães de 27 mel e diversos produtos que elevam seus rendimentos. Isso pode se tornar a atividade principal ou complementar do seu sítio, mas de qualquer forma é preciso pensar na logística de produção e distribuição. Se não houver um entreposto de mel na cidade, é preciso investir em um. Caso as vendas sejam locais, como um produto artesanal, o investimento inicial será menor e com menos exigências burocráticas. Ecoturismo e Hotelaria Existem locais tão exuberantes que tiram nosso fôlego. E se nós apreciamos estar ali, por que outras pessoas também não gostariam? Há muito potencial no segmento de turismo e hotelaria, mas também muito investimento envolvido. Caso a terra pretendida possua edificações para esse fim, avalie o estado para não ter gastos extras com reformas. Também é preciso ter cuidado com o excesso de otimismo. Criar fluxo turístico em um local sem essa tradição é difícil, embora tenhamos muitos casos de sucesso no Brasil. Visitas Ecopedagógicas Chácaras e sítios próximos a grandes cidades podem explorar um mercado em ascensão: as visitas ecopedagógicas. Se o espaço for bem preparado para receber crianças, com edificações bonitas e feitas com materiais de baixo impacto, composteiras e hortas- mandala, é possível desenvolver um trabalho educacional e transformar as visitas em um negócio lucrativo. Ele também pode ser explorado junto a outras frentes, sendo uma fonte de renda extra. Agroindústria Alguns sítios possuem uma infraestrutura montada para agroindústrias, com casa de farinha, laticínios, galpões etc. Muitos segmentos podem ser explorados nesse sentido, desde o processamento de alimentos até a manufatura de peças estruturais e tratamento de bambu e eucalipto para construção civil. Alguns modelos são viáveis com pouco investimento, outros exigem mais infraestrutura. É preciso ficar atento ao quanto você deseja investir. Nesse caso, evite apenas imóveis mais distantes dos centros urbanos e que não apresentam boas condições de trafegabilidade. A ligação com energia trifásica também deve ser verificada, uma vez que solicitar esse tipo de ligação tem custos elevados, a depender da distância. Centro Holístico Há locais que chamam atenção pela “energia” ou vibração de cura e paz. Por isso, algumas pessoas compram sítios para estabelecer locais de cura e terapias holísticas. Se o local tem fácil acesso e está próximo do centro urbano, pacotes de day spa podem ser explorados, com um custo de operaçãobem menor por não necessitar da infraestrutura de hotelaria. Caso sua intenção seja com experiências imersivas, os mesmos cuidados do modelo de negócio de hotelaria devem ser observados. Ecovila Alguns empreendedores têm obtido sucesso com a compra de grandes áreas para desenvolver projetos de ecovilas, condomínios ecológicos, comunidades ou até mesmo smart cities. São projetos complexos, ambiciosos e 28 que demandam dedicação exclusiva, além de muito investimento. Caso você julgue que a terra em que está possui essa aptidão, estude o modelo de negócios com muita cautela, pois ele possui grandes riscos inerentes. Produção de Sementes Você sabia que é possível gerar mais de 9 mil reais em apenas 3m² produzindo sementes? Não estamos falando de nada ilegal, mas de um segmento muito pouco explorado por pequenos produtores. É possível aprender o manejo em campo, colheita, beneficiamento e tratamento de sementes, conforme a legislação vigente no Brasil e, com isso, fornecer sementes orgânicas de alface, rúcula, espinafre, brócolis e diversas outras espécies. Também existe a possibilidade de colheita de sementes florestais - algumas valem uma verdadeira fortuna e são muito requisitadas por viveiros de produção de mudas de árvores nativas. 29 Identificando a aptidão do empreendedor Capítulo 6 Uma vez identificada a aptidão da terra, deve-se avaliar se ela é compatível com a equipe que gerenciará a operação. Se você está fazendo a transição para uma nova vida, fique atento para não cair em ciladas e acabar trabalhando com algo que não lhe dá prazer. Afinal, uma pessoa sem paciência com crianças não seria indicada para trabalhar com visitas ecopedagógicas, por exemplo. Cada modelo de negócio exige habilidades natas ou que devem ser desenvolvidas. Quem gosta de trabalhar com o corpo pode se beneficiar dos modelos de produção de alimentos. Como diz um amigo produtor rural, “roça não tem calendário. Não existe domingo ou terça. Existe pulgão, chuva, umidade e a necessidade de agir na hora certa”. É, sem dúvidas, um trabalho que necessita de muito comprometimento. Já quem é comunicativo e sabe lidar com público pode se aventurar por modelos que exigem essas habilidades, como ecohostel, visitas ecopegógicas e estação de permacultura. Para quem gosta de cuidar do próximo, possui dons com cura, nutrição e terapias holísticas, os modelos de day spa ou centros holísticos podem ser uma boa saída. Mas se você não possui as habilidades compatíveis com as aptidões da sua terra, é preciso ser bem criterioso ao montar a equipe de apoio. Colaboradores que faltam ou não desempenham bem suas obrigações deixarão lacunas que você terá que preencher, mesmo sem saber como. 30 Escolhendo a melhor forma de se institucionalizar Capítulo 7 Cada modelo de negócio exige uma formalização diferente. É importante conhecê- las para tomar uma decisão consciente na hora de sair da informalidade: Produtor Rural de Agricultura Familiar A principal vantagem de se enquadrar como agricultor familiar é estar apto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que concede empréstimos a taxas de juro baixas. Além disso, existem políticas estaduais de repasses à fundo perdido, como o caso da Rio Rural, que beneficia agricultores e associações com quantias entre R$ 9 mil e R$ 150 mil. Porém, existem algumas restrições para você conseguir se enquadrar nessa categoria: • A terra não pode ter mais do que quatro módulos fiscais. Lembrando que um módulo equivale a 10 hectares no estado do Rio de Janeiro. • Pelo menos 50% dos seus rendimentos devem vir da agricultura familiar, podendo levar em consideração o ecoturismo. • O CPF não pode estar vinculado à nenhuma empresa, seja como MEI ou empresário. • Você não pode ter carteira de trabalho assinada. Organização sem fins lucrativos Quando há um grupo de pessoas engajadas no projeto, vale a pena se institucionalizar como uma ONG. As vantagens são, principalmente, o acesso a editais de empresas e do governo. Escrevendo um bom projeto você pode conseguir recursos suficientes para viabilizar sua ideia. Alguns editais que indicamos: • Itaú Ecomudança. • Fundação Banco do Brasil. • Petrobrás. • Fundo de Amparo à Pesquisa do seu estado (Ex. FAPERJ, FAPESP etc.). Outra vantagem é a não incidência de imposto de renda sobre as receitas. E caso consiga o título de utilidade pública, existe um processo que pode habilitar seu projeto a receber doações de empresas, que podem descontar dos valores do IR. Além disso, compor a diretoria de uma ONG não te impede de ser agricultor familiar, pelo menos na maioria dos estados. Consulte a Emater ou órgão emissor do Documento de Aptidão (DAP) de sua cidade para mais informações sobre isso. Criar uma ONG, porém, tem suas dificuldades e custos. Gastos com contabilidade, cartório e outros devem ser avaliados junto a um 31 advogado ou contador de sua confiança antes de tomar a decisão. Produtor Rural Indo até a Secretaria de Agricultura do seu município é possível se informar sobre o processo para criar um CNPJ e ter o talão de notas de produtor rural. Este caso é utilizado para quem está fora das regras do agricultor familiar e pode envolver custos extras, que devem ser levados em consideração antes da decisão. Microempreendedor Individual (MEI) O registro como MEI é rápido e simples. Ao mesmo tempo em que você regulariza seu negócio, contribui com tempo de serviço para aposentadoria e fica assegurado pelo INSS no caso de invalidez ou doença. Não se institucionalizar Se você quer ficar 100% fora do sistema, também é possível trabalhar apenas na informalidade. Há diversos poréns nesse sentido, mas caso funcione para você e para o seu contexto atual, não há nenhum problema. 32 O que são empreendimentos sustentáveis? Capítulo 8 No Instituto Pindorama, chamamos de empreendimentos sustentáveis a soma de um ou mais modelos de negócio alinhados à ética e à metodologia de design da permacultura. Todos os modelos sugeridos neste livro trabalham o cuidado com as pessoas e com o planeta, de forma a partilhar os excedentes – princípios básicos para um crescimento sustentável. Muitas startups inovadoras também estão adotando esses ideais, mas deve-se cuidar para que a falta de um olhar cuidadoso não torne o empreendimento apenas mais do mesmo. A Uber, por exemplo, revolucionou a mobilidade urbana, porém já foi alvo de processos pelo descaso com os motoristas. Mesmo que eles contribuam para a queda de emissões de CO2 na atmosfera – e deve haver algum estudo sobre isso –, falta um equilíbrio para manter o negócio rodando com respeito à natureza e aos colaboradores. 33 Ferramentas para desenvolvimento do seu empreendimento Capítulo 9 Nos cursos e consultorias do Instituto Pindorama, utilizamos o Canvas para modelagem de negócios. Essa metodologia surgiu no início dos anos 2000, a partir dos estudos de Alexander Osterwalder sobre modelos de negócios. Mais de 470 colaboradores, de cerca de 45 países, ajudaram na pesquisa, transformada no livro Business Model Generation. Você encontra muito material na internet sobre esta metodologia, mas a principal vantagem é a rapidez para fazer um “plano de negócios”. Com o Canvas, em menos de três horas é possível prever as áreas do desenvolvimento para chegar a um Produto Viável Mínimo (MVP, na sigla em inglês), um protótipo do produto ou serviço para “validar” se tem aceitação no mercado. Você pode testar seu produto em uma feira ou evento, por exemplo, sem precisar abrir uma empresa. Assim você testa a aceitação do produto, recebe o feedback e faz os ajustes até ter segurança de formalizar seu negócio. 34 Iniciando um negócio do zero Capítulo 10 Observar o mundo é a melhor forma de ter ideias. Ao interagir com produtos e serviços, você acumula experiências, desenha sugestões de como melhorá-los em suacabeça e, a partir daí, passa a idealizar um negócio próprio. Nesse início, muitos planos parecem inviáveis, mas não os descarte. É bom assumir que, a princípio, nada é impossível, criando um estoque de ideais para que você possa avaliar a viabilidade. Se estiver produzindo em grupo, é bom estabelecer a regra de que é proibido censurar ideias, sendo todas bem-vindas. Classificar a ideia Deve-se avaliar o tipo de ideia, o potencial negócio e os limites geográficos de atuação. Ao final dessa etapa, você precisará saber como o negócio vai gerar lucro. As ideias podem ser: • Aperfeiçoamento de um negócio já existente. • Nova abordagem ou combinação de negócios já existentes. • Necessidade específica de um nicho. • Demandas de negócios tradicionais que ainda possuem pouca/nenhuma oferta. • Produto ou negócio inovador. Estudo É o momento de avaliar a viabilidade do negócio. Ao final dessa etapa, você precisa ter certeza de que conhece quais são os fatores- chave para o sucesso. Veja o que precisa ser levado em consideração: • Buscar informações detalhadas sobre a operação. • Identificar os principais canais de vendas. • Mapear concorrentes diretos e indiretos. • Identificar formadores de opinião, entidades de classe e órgãos reguladores. • Avaliar qual o conhecimento necessário para exercer bem essa atividade. Teste É quando serão realizadas pesquisas detalhadas junto ao público do negócio. Ao final dessa etapa, tenha certeza de que existe demanda, considerando o posicionamento definido nas etapas anteriores. • Identificar fornecedores. • Observar o comportamento do mercado: funcionários, clientes, concorrentes. • Conversar com os jogadores e formadores de opinião. 35 • Elaborar e testar protótipos de produtos (se necessário). • Operar temporariamente o negócio (pop-up). Análise Aqui será necessário definir quais as metas e prazos, visando a lucratividade, a estabilidade e a expansão do negócio. Ao final, é preciso saber quanto será necessário vender para que a ideia se torne lucrativa. • Verificar as condições de sustentabilidade do negócio (ponto de equilíbrio). • Calcular as necessidades de capital. • Identificar fontes de recursos/financiamento (se necessário). • Elaborar projeções de resultados (24 meses). • Utilizar ferramentas como plano de negócios, Canvas, PMI etc. (se necessário). Matriz F.O.F.A Este é um instrumento de análise simples e valioso. O objetivo é detectar quais os pontos fortes e fracos, além de corrigir as deficiências para tornar a empresa eficiente e competitiva. F.O.F.A. é um acróstico para: Forças / Oportunidades / Fraquezas / Ameaças. Forças Características internas da empresa ou dos donos, que representam vantagem competitiva sobre os concorrentes ou facilidade para atingir os objetivos propostos. Exemplos: boa rede de contato, conhecimento sobre a área de atuação. Oportunidades Situações positivas vindas do ambiente externo que permitem à empresa alcançar seus objetivos ou melhorar a posição no mercado. Exemplos: existência de linhas de financiamento e de poucos concorrentes na região. Fraquezas Fatores internos que deixam a empresa em situação de desvantagem frente à concorrência ou que prejudicam a atuação no ramo escolhido. Exemplos: falta de experiência e ausência de recursos financeiros. Ameaças Situações externas, das quais se têm pouco controle, que impõem dificuldades para a empresa, ocasionando perda de mercado ou redução da lucratividade. Exemplos: escassez de mão de obra qualificada e violência na região. 36 Matriz de Risco É uma ferramenta para mensurar, avaliar e ordenar os eventos de riscos que podem afetar o empreendimento. Basicamente, a Matriz de Risco apresenta as escalas de probabilidade de ocorrência e impacto no negócio. 37 Pesquisas de Mercado Tendências de consumo sustentável 38 Marca e propósito É o que dá sentido para nossas vidas e nos move adiante. É aquilo que nos motiva a trabalhar – não apenas porque estamos ganhando dinheiro, mas porque sentimos que fazemos diferença no mundo. As marcas também precisam trabalhar isso. Convido a todos a construir negócios que lucrem por meio da paixão e de um propósito maior. Descubra o propósito atrelado ao seu empreendimento. Internalize o seu propósito: “de dentro pra fora”. Comunique com transparência e gere engajamento. O que o mundo perderia sem a minha empresa? O meu propósito dá um significado maior à existência do meu empreendimento? Sou coerente com o que comunico? Qual mensagem quero passar? 68% 80% 48% Solicitam que mais empresas se envolvam em ações com causas. Estão dispostos a mudar de marca para aquelas que têm uma causa. Já mudaram de marca ou experimentaram novos produtos. 39 Criando uma presença online para seu empreendimento Capítulo 11 Se seu empreendimento não está no Instagram, Facebook, WhatsApp, YouTube e Google, você não terá penetração no mercado. Existem diversas formas de utilização destas ferramentas, dependendo do formato do seu empreendimento, podendo alcançar plataformas como AirBnB, Booking e podcasts. Se todos estes nomes soam estranhos para você, é melhor buscar na internet informações para se aprofundar em cada um. Você não precisa usar todas, porém vai descobrir que pelo menos uma ou duas podem ser importantes canais de comunicação com seu público. 40 Implementando os modelos de negócio Capítulo 12 Agora que você já fez o canvas e trabalhou a presença online do seu empreendimento, é hora de executar o plano e implementar seu modelo de negócio. Seja realista nas estimativas de receita e tente criar um Produto Mínimo Viável. Antes de investir, faça pequenos testes. Opere temporariamente em uma feira para testar a saída do seu produto, por exemplo, e invista em um crescimento com os pés no chão. Aliás, tome bastante cuidado para não se deslumbrar e investir errado. É comum que pessoas sem experiência quebrem com menos de três anos de empreendimentos rurais. Cuidado para não entrar no que chamamos “risco da ruína”, que é investir suas fichas em um único modelo de negócio. Caso ele falhe, você irá à bancarrota. Soluções pequenas e lentas, não se esqueça disso. Depois de validar seu modelo, produto ou serviço com total segurança, aumente seus investimentos e a área de atuação. 41 Uma forma diferente de atrair e remunerar colaboradores Capítulo 13 A economia colaborativa traz diversas formas de parcerias. No Instituto Pindorama, muitas vezes trocamos a execução de serviços por cursos, por exemplo. Mas também existem redes para anúncio de vagas para voluntários. Dois bem conhecidas são o site World Packers e o World-Wide Opportunities on Organic Farms (WOOF). Este último reúne organizações nacionais que promovem trabalho voluntário em sítios e fazendas orgânicas de todo o mundo, trocando hospedagem e alimentação por quatro horas de trabalho diário. Há prós e contras em se trabalhar com voluntários, mas aos poucos é possível tornar a parceria justa para ambos os lados. Um cuidado que temos é a assinatura de um termo de trabalho voluntário, cujo objetivo é nos resguardar de ações trabalhistas de pessoas de má fé e isentar da responsabilidade em caso de acidentes que surjam de má conduta, como não utilizar EPIs ou realizar trabalhos sem a devida supervisão. 42 Cuidados para o sítio não virar um ralo de dinheiro Capítulo 14 O sonho pode se tornar um pesadelo, ainda mais se você se expor frequentemente a riscos. Veja algumas dicas para evitar desperdício de recursos: • Soluções pequenas e lentas! Planeje, reflita, espere e depois aja. • Faça croquis das benfeitorias e plantios, com estimativa de gastos. Coloque ordem de prioridade e não abra muitas frentes simultâneas para não perder fôlego. • Tente construir um fundo de reserva com o equivalente a seis meses de gastos e mantenha guardado. • Cuidado com aventureiros. Muitaspessoas darão mil ideias para seu espaço, irão embora e, caso você tenha embarcado no sonho alheio, você terá que dar conta. • Criações de animais podem representar um custo elevado com cuidadores, ração e logística. • Busque apoio técnico da Embrapa ou de pessoas experientes em seus empreendimentos. • Antes de pedir um empréstimo, tente outras vias. Algum familiar ou amigo que queira ser investidor anjo, financiamento coletivo ou editais são melhores opções do que pegar dinheiro em banco. Isso só deve ser feito depois que o modelo estiver muito bem planejado e validado. 43 Considerações finais Capítulo 15 Uma vida mais simples no interior é algo sem preço. Para alguns será mais fácil, para outros mais desafiante, mas é uma experiência inesquecível. Não há dinheiro que pague a bênção de se banhar, de beber e de cozinhar com água não-tratada, de acessar o alimento direto da terra, de ter segurança e qualidade de vida e de estar mais integrado com a natureza. Desejamos que você tenha sucesso em ser um praticante e multiplicador da permacultura, seja na cidade ou no campo, e que desenvolva seu lado empreendedor para materializar soluções para os problemas socioambientais de nosso país. É uma jornada desafiante, porém recompensadora! Àqueles que desejam se aprofundar de verdade e aumentar suas chances de sucesso, recomendo que se inscreva em nossa lista de e-mails e fique atento ao lançamento do próximo Workshop Viver fora do Sistema. Mãos à horta =) Caso não tenha conseguido acessar a nossa página de cadastro clicando no botão, copie e cole a URL a seguir em seu navegador: https://pindorama.org.br/cadastro Cadastre-se em nossa lista https://pindorama.org.br/cadastro 44
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