Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANESTÉSICOS GERAIS INTRODUÇÃO Um anestésico geral induz uma depressão generalizada e reversível do SNC, causando uma perda de todas as sensações (ausência da percepção de sensações), inclusive de alguns reflexos homeostáticos normais. É extremamente importante que se consiga controlar a profundidade da anestesia, de maneira a manter o equilíbrio homeostático normal do organismo, o que pode ser feito com a utilização de fármacos como bloqueadores musculares, sedativos, ansiolíticos e analgésicos. Além disso, é necessário avaliar, por exemplo, a idade do paciente e a farmacocinética do fármaco, entre outros fatores, para escolher qual o anestésico adequado para cada caso. Os anestésicos gerais possuem um baixo índice terapêutico, isso é, a margem de segurança é muito estreita (entre o terapêutico e o tóxico). Estado de anestesia inclui a perda de consciência, amnésia, imobilidade e, nem sempre, implica em analgesia. CLASSIFICAÇÃO AGENTES INALATÓRIOS – indução e manutenção da anestesia Entre os agentes inalatórios existem os agentes voláteis, como o halotano, enflurano e isoflurano, e os anestésicos gasosos, como o xenônio e o óxido nitroso. Suas características podem variar entre eles: alguns podem ser hipnóticos, enquanto outros não, uns com grande efeito analgésico e outros fracos, entre tantas outras. AGENTES INTRAVENOSOS O Propofol é um sedativo e hipnótico de curta ação, tendo pouco acúmulo e curto tempo de recuperação. Existem, também, barbitúricos (indução da anestesia) como o Tiopental, Tiamilal e Metoexital, e as cetaminas, que causam a anestesia dissociativa (paciente anestesiado, com olhos abertos e movimentos ocasionais). Por fim, há o etomidato, com eficaz capacidade hipnótica e com mínimos efeitos cardiorrespiratórios. COMO DEVE SE COMPORTAR O ANESTÉSICO GERAL IDEAL O estado anestésico é uma coleção de alterações do comportamento ou da percepção, podendo englobar amnésia, imobilidade diante a estímulos nocivos, inibição dos reflexos sensoriais e autônomos, analgesia, perda de consciência, que dependem do local anatômico onde o anestésico atua. Geralmente, os efeitos de perda de consciência/amnésicos decorrem de uma atuação supraespinhal, como no córtex, enquanto a imobilidade pode ser devido a uma inibição a nível espinhal. É ideal que o anestésico induza seu efeito e tenha sua recuperação deste de maneira rápida e uniforme. Assim, ele deveria ter uma grande margem de segurança, o que acarretaria efeitos mínimos depressores cardiorrespiratórios, que é um dos grandes problemas tóxicos do fármaco. Isso, no entanto, não é a realidade: esses medicamentos possuem um índice terapêutico muito baixo e, portanto, uma pequena margem terapêutica. O protocolo dos anestésicos gerais inclui uma associação racional de fármacos que compreendem as várias etapas envolvidas na anestesia geral. Uma medicação pré- anestésica, por exemplo, poderia ser utilizada como um ansiolítico, além de antieméticos, que reduzem vômitos. Na indução do estado anestésico podem ser utilizados anestésicos inalatórios ou intravenosos, além de anestésicos locais, relaxantes musculares e fármacos para controle dos reflexos autônomos. ESTÁGIOS DA ANESTESIA Estágio I: analgesia – depende muito do agente administrado; Estágio II: excitação (delírios, comportamentos agressivos) – espera-se que o anestésico ocasione em uma ultrapassagem veloz desse estágio, pois é um estágio indesejado; Estágio III: geralmente a cirurgia é realizada nesse estágio, por se onde tem-se a perda da consciência, além de uma respiração regular; Estágio IV: envolve a depressão bulbar, que compreende a parada respiratória, depressão e parada cardíaca – o anestesista tem que se atentar para impedir a chegada a esse estágio. Para a reversão do efeito da anestesia e volta ao estado de vigília é necessário com que haja metabolismo do anestésico ou a eliminação destes quando inalatórios. FARMACODINÂMICA Geralmente são fármacos muito lipofílicos, por isso nos faz acreditar que tendem a se armazenar no tecido adiposo, mas são bem distribuídos. O principal local de ação é o SNC, tanto que o mecanismo é de uma depressão generalizada e reversível desse sistema. Lembrando que é muito importante controlar a profundidade para evitar a chegada ao estágio IV, mas é muito difícil controlar isso com um agente anestésico inalatório no SNC. Isso, portanto, é feito pela pressão parcial do anestésico no SNC (PSNC). Pgás = fração molar gás x pressão total do sistema (pressão que um determinado gás exerce sobre a pressão total em uma mistura) Ao inalar o gás, ele exerce uma Pi (pressão parcial inspirada). No entanto, por se tratar de um gás, chega ao pulmão e, portanto, aos alvéolos, onde também exercerá uma pressão, chamada Pa (pressão parcial alveolar). Dos alvéolos, vai ser distribuído pelo organismo até chegar ao SNC, onde irá exercer a pressão parcial no SNC (PSNC). Conforme esse gás vai sendo distribuído, ele é guiado por uma diferença de pressão: Pi é maior que Pa, por isso o gás segue paras os alvéolos até que a pressão entre em equilíbrio, isso é, se iguale, e assim em diante. Como o alvo é o SNC e não há como medir essa pressão parcial, mede-se a pressão parcial alveolar, pois o equilíbrio entre essas duas etapas é atingido muito rapidamente. Isso se faz por meio da checagem da pressão parcial no gás expirado. A potência do anestésico pode ser considerada de acordo com a pressão alveolar, existindo um termo chamado CAM (concentração alveolar mínima). Essa CAM é a pressão alveolar que promove a anestesia mais leve possível, portanto, a concentração que extingue uma resposta de movimento à incisão cirúrgica em 50% dos pacientes. Conclui-se, então, que quanto menor a CAM, maior a potência do anestésico. Índice terapêutico: PL50 (concentração letal em 50% dos pacientes)/CAM (concentração terapêutica em 50% dos pacientes) Assim, quanto mais próximas forem essas concentrações, menor a janela terapêutica do fármaco. Obs.: não existem antagonistas de anestésicos gerais capazes de reverter o quadro, por isso é necessário que haja uma monitoração constante. RELAÇÃO ENTRE HIDROFOBICIDADE E POTÊNCIA Antigamente acreditava-se que os AG atuavam por meio de uma modificação das membranas das células e que não havia um receptor em que ele atuasse (hipótese unitária). Foi refutada, pois hoje já se sabe que existem receptores em que os AG atuam. A lipossolubilidade, no entanto, é muito importante. Quanto mais lipossolúvel o anestésico (maior coeficiente de partição óleo/gás), maior é sua potência (menor CAM). Quanto maior a lipossolubilidade (coeficiente de partição óleo/gás), maior acúmulo no tecido adiposo e, portanto, maior atraso na recuperação da anestesia. EFEITOS EM CANAIS IÔNICOS Como ocasionam uma depressão generalizada do SNC, sabe-se que um dos receptores em que os AG atuam é no GABAA (inibitório). Assim, quando atuam, aumentar a sensibilidade do GABAA ao GABA, o que causa um maior influxo de cloreto, uma hiperpolarização neuronal e uma redução da excitabilidade neuronal e do SNC (efeito inibitório). Em resumo, como um dos principais mecanismos de ação dos AG é o aumento da sensibilidade do GABAA, que causa um aumento da transmissão inibitória no SNC, que causa depressão do SNC. Sabe-se que alguns AG (como óxido nitroso e cetamina) atuam, também, em receptores NMDA (receptores de glutamato excitatórios), inibindo-os. FARMACOCINÉTICA ANESTÉSICOS INALATÓRIOS O fármaco é administrado formando uma pressão parcial inalatória (Pi) até chegar aos alvéolos, onde se identifica uma diferença de pressão. O gás entra nos alvéolos até atingir o equilíbrio (Pi = Pa). Após isso, o gás passa para a circulação, difundindo-se devido à diferença de pressão atéatingir o equilíbrio novamente e segue para o SNC para o processo se repetir novamente (PSNC=Pi). Diversos fatores devem ser considerados ao se tratar da velocidade de indução e recuperação desses AG. Como fatores fisiológicos tem-se a taca de respiração. Quanto maior essa taxa, maior a quantidade de gás que é levada aos alvéolos, ou seja, o equilíbrio se atinge rapidamente. Além disso, o débito cardíaco é outro fator muito importante. Como uma propriedade do anestésico, tem-se como importante fator o coeficiente sangue:gás, de forma que quanto menor, menor o tempo para se atingir o equilíbrio Pa e Pi e menor a taxa de remoção do anestésico para o sangue, o que implica em uma indução rápida e recuperação rápida. As gotinhas no contador são o gás inspirado, o potinho é os alvéolos e as gotinhas embaixo corresponde ao sangue. Então novamente: o administrado vai para os alvéolos e assim por diante por diferença de pressão e o objetivo é atingir o equilíbrio entre as pressões parciais. Assim, quanto mais o anestésico se difunde para o sangue, mais tempo demora para o equilíbrio ser atingido (lembrando que PSNC tem que ser igual a Pa, e Pa igual a Pi). “Ah, mas não precisava atingir o equilíbrio entre Pa e pressão parcial no sangue também?” Sim, e ele vai ser atingido. No entanto, se o AG é menos solúvel no sangue, esse equilíbrio é atingido mais rapidamente sem a necessidade da mesma quantidade de fármaco. DÉBITO CARDÍACO Se eu aumento o débito cardíaco, há mais sangue passando pelos alvéolos. Consequentemente, há mais AG sendo retirado dos alvéolos e, portanto, mais tempo demora para se obter o equilíbrio. ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS Normalmente usados para indução da anestesia, pois têm um início de ação muito rápido (produção de inconsciência em cerca de 20 segundos) e geralmente a manutenção da anestesia é feita por um fármaco inalatório (eliminação mais rápida), pois os anestésicos intravenosos tem uma eliminação muito lenda (depende do metabolismo – não são eliminação por ventilação porque não são voláteis). TIOPENTAL: é altamente lipossolúvel, tendo rápido início de ação e redistribuição tecidual. Primeiro se distribuem para tecidos com maior fluxo sanguíneo, como músculos e tecidos com menor fluxo sanguíneo, como tecido adiposo, têm uma captação mais lenta. Efeito de ressaca. PROPOFOL: início de ação rápida, com rápida destruição e recuperação rápida. Tem menor taxa de retorno do tecido adiposo para a circulação, não havendo aumento drástico das concentrações plasmáticas, por isso o efeito de ressaca é menor. Têm como efeitos adversos afetar o fluxo sanguíneo cerebral, a frequência respiratória, causar uma depressão respiratória e cardiovascular, além de reduzir a taxa metabólica cerebral.
Compartilhar