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18 “Eficiência” e “eficácia, que resulta em “efetividade”, todos conceitos advindos da ciência da administração.62 Nossa Constituição Federal, respaldada pela cláusula do acesso à justiça e do devido processo legal garante muito mais do que o direito de acesso à jurisdição, garante o direito a uma tutela justa, que seja adequada ao direito material e efetiva de fato.63 O acesso à jurisdição se faz pelo direito processual, que tem como função instrumentalizar o direito material, através de princípios que disciplinam a solução de conflitos, que é disponibilizado pelo Estado para que os envolvidos na relação de litígio solucionem suas crises.64 Concluindo-se que, “o direito processual é um instrumento a serviço do direito material.” 65 A justiça conciliativa atende às necessidades de funcionalidade e eficiência do aparelho judiciário de modo que diminui a sobrecarga dos tribunais e solucionar as controvérsias que muitas vezes nem precisam ser apreciadas pelo judiciário, basicamente inspiradas em motivações eficientistas.66 Através da percepção eficientista GRINOVER compatibiliza as vias alternativas ao processo com a prestação jurisdicional, concluindo pela prestação da sua função teleológica, conforme: Assim como a jurisdição não tem apenas escopo jurídico (o de atuação do direito objetivo), mas, mas também escopos sociais (como a pacificação) e políticos (como a participação)., assim também outros fundamentos podem ser vistos na adoção das vias conciliativas, alternativas ao processo: até porque a mediação e a conciliação, como visto, se inserem no plano da política judiciária e podem ser enquadradas numa acepção mais ampla de jurisdição vista numa perspectiva funcional teleológica.67 A eficácia é uma busca dos resultados, enquanto eficiência é a utilização da melhor forma pela qual as coisas devem ser executadas, afim de que os recursos sejam mais bem aproveitados. Quando um administrador se preocupa em fazer as 62 Idem. 63 DELLORE, Luis; SOUZA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p.71. 64 Ibidem. p 27. 65 Idem. 66 GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo; LAGRASTA NETO, Caetano. Op. cit.,p. 3. 67 Idem. 19 coisas de forma correta, está preocupado com a eficiência, entretanto, quando utiliza dos meios buscando o alcance de resultados ele está voltado para a eficácia. Aquele que busca auxílio para resolver sua situação conflituosa espera a melhor solução com o emprego de menos recursos possíveis, sem deixar de lado todas as garantias prestacionais, ou seja, espera por um processo eficiente e por uma solução eficaz. Portanto, sendo o direito processual o instrumento a serviço do direito material, deve ser buscada sua eficiência, que seja feito o melhor uso de recursos para atender a finalidade do processo que é a entrega da prestação jurisdicional, para que sua solução seja eficaz ao plano do direito material pleiteado. Dessa forma, muitas vezes o emprego dos meios adequados para a solução do conflito possibilita o emprego da eficiência e eficácia sem renunciar ao devido processo legal. 20 2 MECANISMOS PARA A RESOLUÇÃO DO CONFLITO E O SISTEMA MULTIPORTAS Quanto aos mecanismos de resolução de conflitos temos os jurisdicionais e os não jurisdicionais. CABRAL, os distingue como: Os meios jurisdicionais envolvem a intervenção de tribunais na resolução do litígio e a respectiva decisão tem força de caso julgado, sendo esta modalidade integrada por tribunais judiciais e tribunais arbitrais. Os meios não jurisdicionais não envolvem a intervenção de tribunais e não gozam da estabilidade das sentenças, podendo consistir em negociações diretas, bons ofícios, mediação e conciliação.68 No tocante a terminologia dos mecanismos para resolução de conflitos CABRAL esclarece que Petrônio Calmon sugere a adoção do termo “Meios Adequados de Pacificação Social”, considerando um sistema multiportas, em que a jurisdição estatal é apenas uma das possibilidades para as partes.69 Neste sentido, SALES explica o sistema multiportas como uma das vias para solucionar o conflito, conforme: Pode-se pensar que uma pessoa, diante de um conflito, tem à sua disposição várias alternativas para tentar solucioná-lo. Pode procurar diretamente a outra parte envolvida e tentar negociar o impasse sem a interferência de ninguém. Mas pode também procurar um terceiro e este propor diferentes métodos de solução existentes (mediação, arbitragem, entre outros). Pode ainda procurar um ente estatal que, dependendo do conflito, ainda que não seja o Poder Judiciário, tente intermediar o impasse. Pode, ainda, procurar o Estado-Juiz para ajuizar uma demanda. Cada uma das alternativas corresponde a uma porta que a pessoa se dispõe a abrir, descortinando-se a partir daí um caminho proposto pelo método escolhido. Neste cenário, o envolvimento do Estado é uma eventualidade, pois provocar o Estado-Juiz ou a Administração, é abrir uma das portas. A pessoa disposta a resolver o conflito pode fazer a escolha sem a ajuda de um terceiro, mas pode também procurar um técnico, como é o caso de um advogado, que poderá orientá- -la. O Estado, além de por à disposição uma porta ou várias portas, pode também influir neste cenário disciplinando por lei aspectos básicos desses métodos privados e regras de conduta dos envolvidos (Código de Ética para mediadores, árbitros e terceiros neutros em geral). Uma norma disciplinando a mediação e a arbitragem privada, isto é, aquela que ocorre longe dos olhos do Estado, teria sentido neste cenário, mas com o cuidado de não penetrar ou interferir indevidamente na liberdade das partes. Além de disciplinar pode o Estado também por à disposição pessoas e órgãos da Administração encarregados de orientar sobre as portas existentes, como escolhê-las, além de, como já dito, por à disposição uma porta como caminho que tentará resolver o impasse da vida. 70 68 CABRAL, Marcelo Malizia. Op. cit., p.138 69 Ibidem, p.139. 70 SALES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves. Negociação, mediação e arbitragem: curso básico para programas de graduação em Direito. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. p. 72. 21 Dessa forma SALLES acrescenta que quando uma pessoa, ao bater na porta do judiciário possa se deparar com um leque de opções, seria como se a porta do judiciário levasse a uma antessala em que novas portas estariam à disposição, cada uma representando um método diferente e incluindo a porta do próprio Poder Judiciário que poderá solucionar o conflito através da sentença.71 Os meios consensuais de resolução de conflitos são aqueles que as partes têm maior controle sobre o resultado e termos do processo, o terceiro neutro será aquele que pode auxiliá-las na decisão, mas não terá poderes para proferir uma decisão vinculativa. Funciona como uma alternativa à litigação judicial, que não deixa de ser uma via para a relação conflituosa.72 Para trabalhar o método mais adequado para resolução de conflitos, deve se focar em outra opção que não o litígio judicial, tomando as partes como imprescindíveis para a tomada de decisão.73 Algo que se torna cada vez mais difícil é o fato de que, normalmente as partes quando se encontram em situação de litígio, prontamente buscam a prestação jurisdicional. Conforme DELLORE esclarece: “Apesar dessa pluralidade, quando se fala em forma de solução dos litígios, automaticamente o pensamento converge para a atuação do Poder Judiciário, pelo fato de a via jurisdicional estatal ser vista como a forma natural de solução.” 74 Neste sentido, DELLORE atribui este comportamento ao que seria a cultura da terceirização