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Microbiologia Microbiota Natural e Bactérias Potencialmente Patogênicas à Pele 2 Gênero Streptococcus São cocos Gram positivos, em cadeias, catalase-negativos (forma de diferenciar o gênero Streptococcus do Staphylococcus). São nutricionalmente exigentes, necessitando de um meio de cultura enriquecido (ágar-sangue ou então caldo nutriente com glicose). São anaeróbios facultativos e ocorrem aos pares ou cadeias curtas, dependendo da espécie. Muitas das espécies dos Streptococcus compõem a microbiota natural, sendo os seus sítios mais comuns vias aéreas superiores, boca e trato intestinal. Esse grupo é muito heterogêneo, portanto, sua classificação de acordo com as características das espécies é divida em grupos A-H e K-V. Essa classificação sorológica foi iniciada por Rebecca Lancefield pelo Instituto Rockfeller, agrupando as espécies de Streptococcus por grupos sorológicos (20 grupos) baseados em variações do carboidrato C presente na parede celular dessas bactérias. Iremos pontuar aquelas espécies com maior importância clínica. Streptococcus pyogenes → beta-hemolítico, podendo compor a microbiota da garganta e da pele. Para sua identificação há alguns testes, como o PYR, sendo o mais comum o de bacitracina e é muito comum na causa de faringites, impetigo, febre reumática e glomerulonefrite Streptococcus agalactiae → beta-hemolítico, podendo estar na microbiota normal do trato genital feminino. Para sua identificação há o teste CAMP e está associado a sepse neonatal e casos de meningite no recém-nascido Enterococcus faecalis → Pouca hemólise ou nenhuma, sendo seu habitat o cólon e na sua identificação há o uso de vários critérios, como crescimento na presença de sais biliares, hidrólise de bile esculina, crescimento em NaCl de 6,5%. Está relacionado a abcessos abdominais, infecções urinárias e endocardites. Estreptococcus viridans → Possui muitas espécies agrupadas, produzindo uma hemólise parcial ou nenhuma, estando presente na microbiota natural da boca, garganta, cólon e trato genital feminino. Para sua identificação usamos o teste da optoquina e dentre suas manifestações químicas está a formação de cáries, endocardites e abcessos. Streptococcus pneumoniae → Produz hemólise parcial em ágar sangue e está presente na microbiota na garganta de pessoas saudáveis. Para sua identificação usa-se o teste de optoquina e causa como manifestações clínicas pneumonia, meningite e endocardites. Streptococcus pyogenes É o principal representante dos Streptococcus beta- hemolíticos do grupo A, além de ter um alto poder de adaptação ao hospedeiro humano. Dentre seus fatores de virulência, há a produção da enzima Estreptoquinase. Inicialmente, a bactéria é recoberta por fibrinas para fugir da resposta imunológica e, dentro desse coágulo, consegue se multiplicar. Posteriormente, será liberada Estreptoquinase que romperá os coágulos, permitindo a disseminação das bactérias, até mesmo na corrente sanguínea. Outro fator de virulência é a produção da enzima Hialuronidase, que permite a quebra de ácido hialurônico (presente em vários tecidos, como o conjuntivo e entre as células) e, a partir da colonização pela bactéria há liberação da enzima, promovendo lesão no tecido, rompendo ligações entre células e degradando matriz de ácido hialurônico visando sua disseminação para tecidos mais profundos. Além dessas duas, essa espécie possui vários fatores de virulência, destruindo material genético das células humanas, produzindo exotocinas, presença de Pilus, a Proteína M (alvo para produção de anticorpos e ajuda na identificação sorológica da infecção, além de possuir cápsula, ficando mais resistente a ação da fagocitose. Uma outra enzima produzida é a Estreptolisina O, auxiliando no diagnóstico. (Há um teste chamado ASNO que é a pesquisa de antígenos da Estreptolisina O, que auxilia na verificação de infecções prévias dessa espécie). Dentre as infecções mais frequentes, destaca-se o desenvolvimento de faringites e amigdalites. Destaca-se também a possibilidade de, na pele, o aparecimento de piodermites, sendo a mais famosa a erisipela (avermelhado na pele, apresentada em maior quantidade na face e membros inferiores). Além dessas duas infecções, o pyogenes também é responsável por Bacteremia, Febre Reumática, Glomerulonefrite e outras infecções. Dentre essas outras infecções, dastaca-se a Fascite Necrosante, que é uma infecção profunda do tecido conjuntivo subcutâneo, se caracterizando pela destruição do tecido muscular e gorduroso pela disseminação da bactéria. Doenças Relacionadas ao Streptococcus pyogenes – Sequelas pós-estreptocócicas Febre reumática → Doença relacionada a várias infecções sucessivas de pyogenes, sendo classificada como sequelas pós infecção estreptocócicas. Sua base contempla lesões inflamatórias, envolvendo o coração, as articulações, os tecidos celulares subcutâneos e sistema nervoso central. Todos os fatores de virulência que a bactéria tem ativam muito a resposta imunológica, com grande produção de anticorpos. Esses anticorpos podem ter reação cruzada com outras células, como células do coração, cartilaginosas, etc. Por isso que essa febre é caracterizada como uma sequela pós-estreptocócica. Essa reação cruzada provoca depósito de imunocomplexos, acabando por não ser removido devido sua alta produção. Glomerulonefrite → Como a febre reumática, é uma doença de natureza imunológica. Caracterizada por uma reação inflamatória, com infiltração leucocitária e proliferação celular dos glomérulos, ou que aparentam ser o resultado de uma lesão glomerular imune. Várias infecções sucessivas por essa bactéria geram uma alta resposta imune, gerando reação cruzada com diferentes células, inclusive as células dos rins. Portanto, há o acúmulo de imunocomplexos nos rins, diminuindo a sua função renal. Streptococcus pneumoniae Conhecido como pneumococo, é uma espécie constituída por cocos gram- positivos que se dispõem aos pares ou em cadeias curtas. São anaeróbios facultativos e são residentes do trato respiratório superior e podem causar pneumonia, sinusite, otite, bronquite, meninge e bacteremia. Assim como o pyogenes, possui vários fatores de virulência, que amplificam suas capacidades de disseminação. Dentre os fatores de virulência, encontramos muitos comuns com a espécie anterior, como a capsula e a hialuronidase. Destaca-se a liberação de IgA protease pois, no nosso trato respiratório, há a presença do anticorpo IgA, que visa evitar proliferação excessiva de bactérias, entretanto, com a liberação dessas proteases, ocorre a lise das IgA. Também se destaca a presença da neuraminidase, que auxilia a bactéria a fugir da ação da resposta imune, fazendo com que essa essa consiga se disseminar para diferentes sítios do corpo. Outra enzima muito importante para a manifestação e instalação da pneumonia é a liberação da pneumolisina, que visa destruir o epitélio para que a bactéria consiga invadir cada vez mais os tecidos, além de diminuir a ação das células ciliadas, permitindo que a bactéria consiga ficar por mais tempo na garganta/traqueia. Sua identificação é feita através do teste de susceptibilidade à optoquina. É feito a semeadura em ágar sangue, com a presença de um disco contendo 5g de optoquina. A placa é incubada a 37°C e o aparecimento de uma zona de inibição presume a presença de Streptococcus pneumoniae Streptococcus viridans e Streptococcus mutans Compõem a maioria da microbiota do trato respiratório, trato genital e boca. Podem causar endocardites por problemas naturais nas válvulas e/ou devido próteses valvulares. Apresentam a enzima Glicosiltransferase, que converte sacarose em glicanos insolúveis, facilitando a adesão na superfície lisa dos dentes, formando as placas dentárias e caries. Essas bactérias podem atingir a corrente sanguínea através de procedimentos dentários. Streptococcus agalactiaeColonizam o trato respiratório superior, trato intestinal baixo e vagina, de modo que 5 a 40% das gestantes podem estar colonizadas, possibilitando infecção em recém nascidos. São inicialmente reconhecidos como causadores de sepse puerperal e infecções neonatais ou perinatais (pneumonias, meningites e bacteremias). Dentre as manifestações clínicas em um recém-nascido, temos a sepse. A sepse ocorre logo após o nascimento devido a colonização e infecção por essa espécie de bactéria. Para sua identificação, é utilizado o teste do fator CAMP. Esse teste é baseado na detecção do fator CAMP produzido pelo agalactiae. Primeiramente há o uso de ágar- sangue e a utilização de uma bactéria de ação beta-hemolítica (Staphylococcus aureus é muito usada). É feita uma linha com o aureus, e posteriormente em linhas perpendiculares há o depósito de amostra em teste. Caso seja o agalactiae com produção de fator CAMP haverá a formação de uma área maior de beta-hemólise a partir da união das duas bactérias. Isso ocorre devido ao fato do fator CAMP intensificar a ação beta-hemolítica da aureus. Enterococcus faecalis A maior parte de amostras do gênero Enterococcus isolada pertencer a E. faecalis. São cocos gram-positivos, isolados ou em cadeias curtas, catalase negativo, menor exigência nutricional e maior resistência a agentes físicos e químicos. Essa bactéria apresenta sensibilidade a Penicilina. Essa bactéria está entre as causas de Bacteremias, Endocardites, Infecções do trato urinário e biliar, Infecções de feridas, Infecções pélvicas e intra-abdominais. A E. faecalis é um dos agentes mais importantes da infecção hospitalar, com o agravante de ter adquirido maior resistência a diversos antibióticos. Dentre seus fatores de virulência, há a presença de substancia agregativa que promove a agregação dessas bactérias durante o processo de conjugação (transferência de plasmídeos, sendo principalmente informações sobre resistências à antibióticos. A E. faecalis conseguem realizar a troca de plasmídeos entre outras espécies de Enterococcus e Streptococcus, mas também com outros gêneros bacterianos, aumentando ainda mais sua resistência). O seu diagnóstico pode ser feito mediante seu adicionamento ao ágar bile esculina e, se ocorrer um enegrecimento na superfície inclinada do meio, a prova é considerada positiva e identifica presuntivamente amostras de Enterococcus e Streptococcus do grupo sorológico D. Posteriormente, há um teste de crescimento em meio de cultura de NaCl em 6,5% e caso ocorrer o crescimento, trata-se de Enterococcus Propionibacterium acnes Essa bactéria é responsável pela formação de acne, principalmente no rosto. A acne tem origem em um processo inflamatório na pele, causando recrutamento leucocitário e formação de lesões com pus. Essas bactérias pertencem à microbiota normal da pele, conhecidos como Difteróides. Sua morfologia compreende Bastonete Gram-Positivos, tendo sua maior proliferação em peles com características oleosas. Em um folículo piloso normal acontece o processo descamação natural da pele, com eliminações de células e recomposição do epitélio. Quando a descamação é um pouco maior do que a considerada normal, os resíduos continuam dentro do folículo e, associado ao sebo, obstruem esse folículo. A obstrução desse folículo forma pontos brancos (comedos) e a projeção através da pele, formando uma massa de ponta escura devido à oxidação dos lipídeos. A partir dessa obstrução pode ocorrer a proliferação do Propionibacterium acnes que, aliado à presença das células descamadas e do folículo obstruído, formam a massa que recruta uma resposta imune, causando a formação de acne inflamatória (presença de nódulos ou cistos). Enterobactérias - Enterobacteriaceae É uma família de bactérias muito importantes que causam diversas doenças e observa-se uma mudança de morfologia e gram. Todas as bactérias pertencentes a esse gênero são bacilos Gram-Negativos. Há 40 gêneros conhecidos de Enterobactérias, totalizando 170 espécies, sendo a sua maioria habitante do intestino de humanos e animais, constituindo a principal causa de infecção intestinal. Seus principais gêneros são: Dentre os fatores de virulência associados a família de enterobactérias, temos a presença de Lipopolissacarídeo (LPS) que está presente na membrana desses bacilos. Esse LPS é reconhecido pelo nosso sistema imunológico e é a principal substancia responsável pela produção de febre nos indivíduos (resposta pirogênica), alterações vasculares e ação direta sobre os mecanismos das reações de hipersensibilidade não específica. A presença de LPS também pode ser identificada por testes sorológicos. Esses bacilos gram-negativos são divididos em dois grandes grupos, os fermentadores de carboidratos e os não fermentadores. Bacilos Gram-negativos não fermentadores Pseudomonas aeruginosa Essas bactérias estão presentes no solo, na água e raramente são isoladas de pacientes imunocompetentes, portanto, é uma bactéria que pode estar causando infecções principalmente em pacientes imunocomprometidos. Sua morfologia é composta por bastonetes gram-negativos móveis a partir da presença de flagelos. As síndromes clínicas associadas a Pseudomonas aeruginosa são variáveis, podendo causar infecções pulmonares (podem variar a traqueobronquite benigna a broncopneumonia necrosante grave). Ela pode causar também infecções na pele principalmente para pacientes vítimas de queimaduras, sendo um risco em ambientes hospitalares. Essas infecções podem gerar pus de coloração azul-esverdeada (produção de pigmento piocianina). Também são relacionadas a infecções do trato urinário e a infecções dos ouvidos. Podem causar infecções oculares a partir de traumatismo inicial da córnea. Dentre os fatores de virulência e associados a esses tipos de bactérias temos a presença de fimbrias (projeções de membrana que ajudam na adesão da bactéria nas células epiteliais), presença do flagelo (mobilidade), cápsula polissacarídica (resistência à fagocitose e auxiliando a formação de biofilme), presença de LPS (Imunoestimlante e responsável pelo choque tóxico), além de liberação de diversas enzimas (Lesões e necrose, destruição de células epiteliais, lise de eritrócitos e leucócitos e indução de morte celular). Micobactérias As micobactérias também são muito importantes no desenvolvimento de doenças e há três espécies muito importantes para estudo. A característica dessas micobactérias é a presença do ácido micólico na sua parede celular. Esse ácido faz com que a bactéria não siga a coloração de gram, sendo necessária a coloração de ziehl neelsen. Primeiramente há a fixação das bactérias na lâmina e coloração com fucsina. A fucsina irá corar as bactérias e depois há a descoloração com álcool-acetona. Os bacilos álcool-acido resistentes irão continuar com a coloração de fucsina e as não resistentes irão se descolorir. Posteriormente iremos adicionar o contracorante azul de metileno, que irá colorir as outras bactérias e células. Mycobacterium tuberculosis Inalação de partículas de aerossol contaminadas com bacilos provenientes da fala, do espirro e principalmente da tosse de indivíduos bacilíferos. É uma doença infectocontagiosa do trato respiratório inferior. Mycobacterium leprae Causadora da Hanseníase e da Lepra. A Lepra é uma doença muito antiga e conhecida por sua deformidade, manchas hipocromadas e falta de sensibilidade. Inicialmente há a exposição ao M. leprae. Algumas pessoas apresentam resistência natural ao leprae e apresentam o clearance, podendo eliminar o bacilo, dependendo da carga bacilífera que o paciente entrou em contato além de seu estado imunológico e nutricional. Porém algumas pessoas acabam desenvolvendo a doença, e, no caso da hanseníase há diversas manifestações clínicas. Há um polo tuberculóide, que é caracterizado pela formação de granulomasfrente à liberação de interleucinas, configurando um padrão de resposta do tipo TH1, que é o padrão celular. O outro polo que temos é o Lepromatoso, caracterizado por padrão de resposta TH2 que configura uma resposta humoral, com produção de anticorpos, essa resposta ocorre em grande liberarão de interleucina 4 e 10. Possuímos também manifestações intermediárias. A partir da multiplicação da leprae, este apresenta tropismo para os nervos periféricos e, a partir da infecção desses nervos e da resposta imunológica, ocorre uma desmielinização dos nervos, gerando uma diminuição da sensibilidade. Há outras hipóteses que consideram que a infecção por leprae pode provocar apoptose dessas células e até mesmo isquemia. Mycobacterium ulcerans Acaba sendo uma doença negligenciada e a úlcera que a bactéria provoca é chamada de Úlcera de Buruli. A sua transmissão para humanos ainda é desconhecida, havendo hipóteses de ser através de água contaminada e outras que levantam a possibilidade de presença de vetores. Dentre seus principais fatores de virulência destaca-se a produção de uma toxina destrutiva (micolactona) que produzirá lesão tecidual e inibição da resposta imune. Em relação à patogênese da doença, é uma doença de progresso lento, com poucos sinais e sintomas precoces graves. Há a formação de uma úlcera profunda que com frequência se torna massiva e seriamente danosa e, se não tratada, pode aumentar sua extensão ao ponto de ser necessário a remoção ou reconstrução do tecido ou até a amputação do membro. A OMS recentemente classificou a doença como um risco global à saúde pública. Para o seu diagnóstico é feito a biópsia da lesão e coloração BAAR
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