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7 Controle Superior da Atividade Motora Córtex e Tronco Encefálico Pt 3

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Fisiologia – Marcelo 
Controle Superior da Atividade Motora – Córtex e Tronco 
Encefálico Pt.3 
 
Córtex Motor Primário 
 
Vimos anteriormente que os experimentos realizados com macacos Rhesus, onde eram feitos estímulos e registros da 
atividade motora desencadeada, mostrou a função do córtex primário. Hoje sabemos que o estímulo de um único neurônio 
nessa região é capaz de realizar uma atividade muscular específica, ou seja, ativação de uma determinada musculatura e 
a inibição da musculatura antagonista desse movimento. O córtex motor primário é muito importante para a execução 
do movimento, em sua direção, sua velocidade e etc., sendo todas essas ações desenhadas pelo córtex motor primário. 
Esse córtex recebe a aferência de todas aquelas regiões que já falamos, como área suplementar, pré-motora e do córtex 
somatossensorial primário. 
O córtex motor executa um movimento em determinada direção, muito importante para essa função do movimento. 
Sabemos que grande parte dos feixes de fibras da via córtico-espinal partem dessa região do córtex motor. 
Assim, temos um esquema mostrando que a ativação da área motora primária é 
responsável pela execução de um determinado movimento. Vemos também que o 
córtex somatossensorial também é ativada nesse momento de movimento, uma vez 
que o local de movimento é rico em receptores que estão enviando mensagens 
sobre essa função de movimento, além do tato, receptores articulares, tendinosos e 
ligamentares, todos eles enviando informações sensitivas diretamente para o córtex 
somatossensorial e, para execução do movimento, posteriormente para o córtex 
motor. 
Porém, existem outras regiões encefálicas localizadas no lobo frontal que participam 
do planejamento do movimento. Quando pensamos na área motora suplementar, ela 
se faz presente como uma estrutura muito importante para o planejamento do 
movimento, então, quando pensamos em flexão sequencial de determinado dedo, 
precisa-se da utilização de outras regiões encefálicas no córtex motor que serão 
responsáveis pela temporização e pelo planejamento daquele movimento em 
específico. 
Quando apenas pensamos sobre o movimento, a área suplementar ainda será ativada, 
mostrando que o planejamento da sequencia lógica do movimento é idealizado nessa 
área, sendo muito importante para a programação de sequencias motoras. É importante ressaltar, também, que essa 
região, quando ativada, possui um controle bilateral desse movimento, atuando no planejamento de movimentos que 
envolvem os dois hemisférios do corpo. Teremos também a ação da área pré-motora, atuando para estabilizar o 
movimento, uma vez que possui uma ação muito grande na estabilização dos movimentos e da postura do corpo. A área 
pré-motora, como também é uma via de saída para informações de controle postural, possui uma ação muito grande na 
formação reticular e formando a via córtico-retículo-espinal. 
Pensando nesses exemplos, como será que seria o efeito de uma lesão no córtex motor primário? Como seria o efeito 
de uma lesão na área motora suplementar? 
O córtex motor primário é a região do encéfalo responsável pela execução do movimento, então, uma lesão nessa 
região deixará o indivíduo incapaz de realizar os movimentos finos e precisos devido ao fato de que muitas fibras da via 
córtico-espinal lateral são originadas no córtex motor primário e são responsáveis pela inervação dos músculos mais distais 
do corpo. Outro detalhe é que o córtex motor primário recebe informação da área pré-motora e da área suplementar, 
então, quando pensamos em movimento fino, além da movimentação fina precisamos da musculatura estabilizadora para 
que seja feito o movimento de forma adequada. 
As regiões corticais motoras secundárias são responsáveis pelo planejamento e sequencia motora, logo, uma lesão nessa 
região leva a um quadro de incapacidade de organizar e de planejar os movimentos numa sequencia unificada. Essa lesão 
leva a um quadro que chamamos de Apraxia, que é a dificuldade de realizar as tarefas voluntárias corretamente. 
 
Via córtico-espinhal 
 
As lesões na via córtico-espinhal têm, primeiramente, um efeito agudo que é compreendido como uma deficiência severa 
do movimento e, tardiamente, uma fraqueza nos flexores distais e incapacidade de mover os dedos. Lembrando que, no 
caso da via córtico-espinhal lateral, a lesão acomete mais a movimentação distal dos membros. 
Para avaliar as lesões nos tratos laterais precisamos pensar que essa via é responsável por atuar nas partes distais dos 
membros, portanto, a mesma lesão que observamos na área suplementar pode ser observada quando acontece lesão 
nas vias laterais, em que o movimento planejado em uma sequencia fica prejudicado, uma vez que esse movimento, 
quando ainda executado, é realizado de uma maneira muito lenta. Porém, com o tempo, devido à permanência das vias 
mais inferiores provenientes do mesencéfalo, como o trato rubro-espinhal (participante da via lateral), parte do movimento 
pode voltar, podendo reverter a lesão. Entretanto, uma lesão subsequente da Via Rubro-Espinhal reverte a recuperação. 
 
Movimento Voluntário 
 
Usando como exemplo o movimento balístico, quais as estruturas e vias estão relacionadas com o movimento de 
arremesso da bola? 
Sabe-se que o movimento é dividido em três fases, logo, iniciaremos a explicação através da fase 3 de arremesso da 
bola. 
Quando se trata da execução da atividade motora do 
arremesso da bola é necessário que o nosso córtex 
motor primário seja ativado. Então, o córtex motor 
primário é responsável pela liberação dos 
movimentos necessários por meio das vias laterais, 
as vias do trato córtico-espinhal. As vias que estão 
presentes na via medial também participam, o 
sistema vestibular, por exemplo, precisam estar ativos 
para promover os ajustes corporais para que o 
arremessador não caia ao chão. A via reticulo-espinhal 
também é ativada para fazer a manutenção da 
postura, com ajustes de contração de flexores e extensores de tronco estarão sendo ativadas a todo momento. 
Uma outra via que participa muito com esse movimento e tem relação com o olhar e com a posição da cabeça é a via 
tecto-espinhal, ajustando a cabeça em relação aos olhos e àquilo que o arremessador observa com sua visão. Outra via 
que participa também do arremesso da bola é a via rubro-espinhal, participando da via lateral e atuando sobre a execução 
dos movimentos mais distais dos membros. 
Na segunda fase do movimento, a preparação para o disparo, temos presente a atuação da área motora suplementar, 
em que é necessária uma preparação e uma sequência detalhada de movimentos. Além da área motora suplementar é 
necessário que tenhamos a visão, por exemplo, do rebatedor, além de ser necessária uma consciência corporal do 
movimento que estamos realizando naquele momento, sendo uma autoimagem relacionada ao nosso meio gerada no 
córtex frontal, por meio de áreas somatossensoriais. 
Além disso há a participação importante do córtex pré-motor, sendo ativo para estabilizar a movimentação. Em suma, 
todas as regiões citadas são de extrema importância para que seja possível o planejamento da sequencia de movimento 
necessária para o movimento, sendo a principal a área motora suplementar recebendo suas aferências provenientes das 
outras regiões. 
Na primeira fase, em que o arremessador está parado 
observando, há a ação do córtex pré-frontal para a 
idealização do movimento e gerar o conhecimento de todas 
as decisões que serão precisas naquele momento. Essas 
ações podem ter uma determinada consequência, porém, 
considerando o córtex pré-frontal, temos a cognição da 
tomada de decisão para o movimento. 
Para que executemos o movimento balístico voluntário é 
necessário que várias áreas corticais sejam ativas. 
Porém, não só as 
estruturas corticais 
que se fazem 
presente nesse movimento. Temos também a ativação e a participação de 
outras estruturas, como os núcleos da base, atuando naeferência de 
informações para a área suplementar motora, e o cerebelo, atuando nas alças 
de controle sobre os núcleos da base. Outra função importante é a da área pré-
motora, estabilizando a musculatura postural e proximal dos membros e 
possibilitando a execução do movimento, sendo que essa área também recebe 
informações do cerebelo. O cerebelo, obviamente, recebe informações das 
regiões somatossensoriais do nosso corpo e dos receptores de nosso corpo. Além disso, tanto a área pré-motora quanto 
a área suplementar recebem informações da cognição (córtex pré-frontal). 
 
Controle Neural do Movimento 
 
O quadro ilustra bem o que foi falado anteriormente. 
Primeiramente temos a idealização do movimento, realizado 
pela cognição no córtex pré-frontal. A partir disso, os impulsos 
chegam até as áreas de associação motora (área suplementar 
e área pré-motora) e daí o planejamento do movimento é 
enviado aos núcleos da base que, juntamente com o cerebelo, 
irão modular as informações para garantir a execução de 
maneira correta pela área motora primária. A partir do 
momento que o movimento é executado, existem vários 
receptores que estão associados a esse movimento, como 
receptores sensitivos, fusos neuromusculares, órgãos tendinosos de golgi, receptores do tato e do calor. Esses receptores 
enviam alças de feedback ao córtex na área somatossensorial primária e também enviam informações ao cerebelo, 
responsável por enviar informação para o córtex motor e para as áreas associativas. 
 
 
Alças corticais com os núcleos da base e com o cerebelo 
 
Os núcleos da base e o cerebelo possuem importantes funções para que seja executado o movimento. As alças corticais 
com os núcleos da base possuem a importância para a programação do movimento, avaliar os parâmetros motores que 
precisam ser regulados, selecionar as ações que precisam e definir os hábitos e a motivação através da cognição. 
As alças corticais com o cerebelo possuem a função de propriocepção, recebendo informações de todo o corpo (por 
meio de receptores sensoriais); é responsável pelo padrão temporal do movimento e pela correção do erro quando o 
movimento é realizado de forma errônea. 
 
Lesão nas Vias Motoras Descendentes – Síndrome do Neurônio Motor Superior 
 
Na síndrome do neurônio motor superior ou em lesões nas vias motores descendentes existem duas fases, uma aguda 
e uma tardia. Na fase aguda há uma flacidez imediata contralateral (hipotonia), conhecida como choque espinhal e 
caracterizada pela queda das aferências superiores. Nessa fase ainda há a manutenção de certo controle do tronco devido 
ao fato de o controle de tronco ser mais relacionado a vias mais mediais, sendo que algumas são bilaterais. 
Já na fase tardia existe a recuperação de alguns circuitos motores da medula espinhal. Começa a aparecer o sinal de 
Babinski, a espasticidade (rigidez e tônus aumentado) e a perda da habilidade de realizar movimentos finos. 
Portanto, no efeito inicial há o estado de choque espinhal, caracterizado como uma perda temporária de atividade reflexa 
dos neurônios motores inferiores por terem sido privados das aferências corticais repentinamente. Além disso, há a flacidez 
imediata da musculatura afetada, hipotonia e abolição da atividade reflexa. Isso ocorre devido ao fato de que os centros 
motores superiores estão, a todo momento, enviando informações para os motoneurônios presentes na medula espinal, 
logo, no momento em que existe a lesão, essas informações são interrompidas, ocasionando o silenciamento das funções 
medulares até que a medula recupere seu estado de atividade normal. 
Quando o indivíduo sai dessa fase aguda há a fase crônica, em que há a recuperação de várias funções dos circuitos 
medulares. Começamos a observar uma hiperreflexia, sendo possível observar uma atividade grande por meio do Sinal 
de Babinski pois, em uma resposta normal ao passar um objeto pontiagudo na planta e na parte lateral do pé, haveria a 
flexão de todos os dedos. Já no Sinal de Babinski, ao fazer o mesmo movimento, há a abertura anormal dos dedos em 
leque e extensão do dedão. Existe também a perda da habilidade de realizar movimentos finos, relacionada com a via 
córtico-espinal lateral, e também a Espasticidade, com um aumento do tônus muscular (hipertonia) e aumento do reflexo 
miotático hiperativo (hiperreflexia miotática). 
 
 
 
 
 
Perda da habilidade de realizar movimentos finos 
 
A perda da habilidade da realização dos movimentos finos se dá, principalmente, por causa do sistema lateral, que comanda 
a musculatura distal, logo, perde-se o controle do neurônio motor superior sobre o neurônio motor inferior. 
 
Espasticidade 
 
A espasticidade aparece juntamente com o aumento do tônus muscular a e hiperreflexia. Apresenta-se também a situação 
de Clono, em que há uma resposta motora oscilatória aos estiramentos dos músculos. Acredita-se que a espasticidade 
ocorre devido à perda das influencias inibitórias corticais sobre os centros reticulares e vestibulares do tronco encefálico. 
Existe também uma ação direta do núcleo rubro promovendo ações flexoras nos membros e também das ações 
vestibulares, que poderiam gerar uma hiperativação gama. 
 
Decorticação e Decerebração 
 
Decorticação é quando perdemos as influencias corticais mais superiores e geralmente temos a flexão e adução do 
membro superior e no membro inferior há rotação interna e plantiflexão. 
 
Já o padrão de decerebração é um padrão mais grave, em que há perda da influencia das regiões do cérebro, portanto, 
nesse padrão de decerebração há apenas a influencia de estruturas do tronco encefálico abaixo do núcleo rubro. 
 
 Na decerebração, todos os tratos córtico-espinal e rubro-espinal é interrompido. Nesses sistemas há uma ação flexora e 
é por isso que no padrão decorticado há um padrão flexor de membros superiores, devido à perda do controle cortical 
sobre a via rubro-espinal. Sendo assim, na descerebração há a extensão dos quatro membros, uma vez que a via rubro-
espinal não está em funcionamento. A remoção dos controles corticais sobre o tronco facilita ações extensoras dos 
núcleos vestibulares e reticulares. Não há flexão dos membros superiores devido à remoção de influencias rubrais. 
Os núcleos reticulares e vestibulares não possuem mais nenhuma influencia das áreas corticais, portanto, os núcleos 
vestibulares e a formação reticular, principalmente a pontinha, ficam ativas. A formação reticular pontinha se autodespolariza 
e a todo momento ela envia impulsos para a musculatura extensora e postural, juntamente com o sistema vestibular. 
Quem tem influencia para inibir essa formação reticular pontinha é a formação reticular bulbar, porém, para ser ativa, essa 
formação reticular bulbar precisa de influencia da prospecção e influencia do córtex-motor e de núcleos da base. Como 
há um antagonismo entre essas duas vias, perdemos a influencia da formação reticular bulbar sobre a pontina, gerando 
uma ativação contínua da formação reticular pontinha e constante extensão.

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