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Copyright © 2015 André Luis Fernandes Limeira, Carlos Alberto dos Santos Silva, Carlos Vieira, Raimundo Nonato Souza Silva Direitos desta edição reservados à EDITORA FGV Rua Jornalista Orlando Dantas, 37 22231-010 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil Tels.: 0800-021-7777 — (21) 3799-4427 Fax: (21) 3799-4430 e-mail: editora@fgv.br — pedidoseditora@fgv.br web site: www.fgv.br/editora Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei no 9.610/98). Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores. 1a edição, 2012. 1a edição revista, 2014. 2a edição, 2015. Revisão de originais: Sandra Frank Editoração eletrônica: FA Studio Revisão: Aleidis de Beltran e Fatima Caroni Capa: aspecto:design Ilustração de capa: Fesouza Conversão para eBook: Freitas Bastos Limeira, André Luis Fernandes Gestão contábil financeira / André Luis Fernandes Limeira... [et al.]. – 2. ed. – Rio de Janeiro : Editora FGV, 2015. 196 p. - (Gestão empresarial (FGV Management)) Em colaboração com Carlos Alberto dos Santos Silva, Carlos Vieira, Raimundo Nonato Souza Silva. Publicações FGV Management. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-225-1649-0 1. Contabilidade gerencial. 2. Análise econômico-financeira. I. Silva, Carlos Alberto dos Santos, 1947- . II. Vieira, Carlos. III. Silva, Raimundo Nonato Souza. IV. FGV Management. V. Fundação Getulio Vargas. VI. Título. VII. Série. CDD – 657.7 Aos nossos alunos e aos nossos colegas docentes, que nos levam a pensar e repensar nossas práticas. Sumário Capa Folha de Rosto Créditos Dedicatória Apresentação Introdução 1 | A contabilidade e o sistema de informação contábil Fundamentos da contabilidade Usuários das informações contábeis A informação contábil Objetivos da contabilidade Conceitos básicos da contabilidade Limitações da contabilidade A contabilidade financeira e a contabilidade gerencial Estrutura conceitual para apresentação das demonstrações contábeis Limitações na relevância e na confiabilidade das informações 2 | Estrutura das demonstrações contábeis Informação e demonstrações contábeis Balanço patrimonial Avaliação dos ativos Avaliação do passivo Procedimentos necessários para elaboração do balanço patrimonial Apresentação analítica do balanço patrimonial Demonstração do resultado do exercício (DRE) Demonstração do resultado abrangente total Demonstração dos fluxos de caixa Método indireto Método direto Demonstração das mutações do patrimônio líquido Demonstração do valor adicionado Notas explicativas Relatório da administração Relatório dos auditores independentes 3 | Elaboração das demonstrações contábeis e composição do patrimônio líquido Critérios de elaboração das demonstrações contábeis Patrimônio líquido e sua composição Capital social Reservas de capital Reservas de lucros Reserva legal Reservas estatutárias Reserva para contingências Reserva de lucros a realizar Reservas de lucros para expansão (retenção de lucros) Reserva de Incentivos fiscais Reserva especial para dividendo obrigatório não distribuído Lucros e prejuízos acumulados Fatores que modificam o patrimônio líquido Ajustes de avaliação patrimonial 4 | Análise econômico-financeira Objetivos da análise econômico-financeira e principais usuários Preparação do balanço patrimonial para a análise dinâmica Composição do capital circulante líquido (CCL) Necessidade de capital de giro (NCG) Saldo em tesouraria (ST) Efeito tesoura (ET) Critérios de análise econômico-financeira Análise vertical Análise horizontal Indicadores econômico-financeiros Índices de estrutura de capital Índices de liquidez Índices de lucratividade e rentabilidade Índices de prazos médios Conclusão Referências Os autores André Luis Fernandes Limeira Carlos Alberto dos Santos Silva Carlos Vieira Raimundo Nonato Souza Silva Apresentação Este livro compõe as Publicações FGV Management, programa de educação continuada da Fundação Getulio Vargas (FGV). A FGV é uma instituição de direito privado, com mais de meio século de existência, gerando conhecimento por meio da pesquisa, transmitindo informações e formando habilidades por meio da educação, prestando assistência técnica às organizações e contribuindo para um Brasil sustentável e competitivo no cenário internacional. A estrutura acadêmica da FGV é composta por nove escolas e institutos, a saber: Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), dirigida pelo professor Flavio Carvalho de Vasconcelos; Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp), dirigida pela professora Maria Tereza Leme Fleury; Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE), dirigida pelo professor Rubens Penha Cysne; Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), dirigido pelo professor Celso Castro; Escola de Direito de São Paulo (Direito GV), dirigida pelo professor Oscar Vilhena Vieira; Escola de Direito do Rio de Janeiro (Direito Rio), dirigida pelo professor Joaquim Falcão; Escola de Economia de São Paulo (Eesp), dirigida pelo professor Yoshiaki Nakano; Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), dirigido pelo professor Luiz Guilherme Schymura de Oliveira; e Escola de Matemática Aplicada (Emap), dirigida pela professora Maria Izabel Tavares Gramacho. São diversas unidades com a marca FGV, trabalhando com a mesma filosofia: gerar e disseminar o conhecimento pelo país. Dentro de suas áreas específicas de conhecimento, cada escola é responsável pela criação e elaboração dos cursos oferecidos pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), criado em 2003, com o objetivo de coordenar e gerenciar uma rede de distribuição única para os produtos e serviços educacionais produzidos pela FGV, por meio de suas escolas. Dirigido pelo professor Rubens Mario Alberto Wachholz, o IDE conta com a Direção de Gestão Acadêmica pela professora Maria Alice da Justa Lemos, com a Direção da Rede Management pelo professor Mário Couto Soares Pinto, com a Direção dos Cursos Corporativos pelo professor Luiz Ernesto Migliora, com a Direção dos Núcleos MGM Brasília e Rio de Janeiro pelo professor Silvio Roberto Badenes de Gouvea, com a Direção do Núcleo MGM São Paulo pelo professor Paulo Mattos de Lemos, com a Direção das Soluções Educacionais pela professora Mary Kimiko Magalhães Guimarães Murashima e com a Direção dos Serviços Compartilhados pelo professor Gerson Lachtermacher. O IDE engloba o programa FGV Management e sua rede conveniada, distribuída em todo o país e, por meio de seus programas, desenvolve soluções em educação presencial e a distância e em treinamento corporativo customizado, prestando apoio efetivo à rede FGV, de acordo com os padrões de excelência da instituição. Este livro representa mais um esforço da FGV em socializar seu aprendizado e suas conquistas. Ele é escrito por professores do FGV Management, profissionais de reconhecida competência acadêmica e prática, o que torna possível atender às demandas do mercado, tendo como suporte sólida fundamentação teórica. A FGV espera, com mais essa iniciativa, oferecer a estudantes, gestores, técnicos e a todos aqueles que têm internalizado o conceito de educação continuada, tão relevante na era do conhecimento na qual se vive, insumos que, agregados às suas práticas, possam contribuir para sua especialização, atualização e aperfeiçoamento. Rubens Mario Alberto Wachholz Diretor do Instituto de Desenvolvimento Educacional Sylvia Constant Vergara Coordenadora das Publicações FGV Management Introdução O mundo dos negócios evolui rapidamente em meio a um período que pode ser considerado a nova economia, amparado pelo avanço tecnológico constante. Paradigmas têm sido constantemente quebrados a uma velocidade ímpar, pois são completamente novas as determinantes de valor que movem o competitivoambiente empresarial. Nessa contínua mudança, percebe-se o crescimento de diversos ambientes de negócios, até mesmo em função da redução de outros, movidos pela percepção de valor, aspecto de grande importância para os consumidores de forma geral. Como consequência, nota-se também o nascimento de múltiplos segmentos, que até pouco tempo permaneciam de certa forma inexplorados. O nascimento ou crescimento de um ambiente de negócios pressupõe a existência de uma organização que, sustentada pelo investimento inicial e pela contínua geração de lucros, garante não só a geração de rendimentos para seus acionistas como, principalmente, a geração de empregos e a consequente movimentação da economia. Diante dos desafios de uma eficiente gestão baseada em resultados, os executivos necessitam tomar decisões rápidas e eficientes, de forma a alavancar negócios. Esses momentos resultam na avaliação de diversas hipóteses que apresentam cenários com características distintas, como: fusão, aquisição ou incorporação de empresas; redução ou incremento de portfólio de produtos; novos investimentos; novos projetos de inovação. Qualquer uma dessas decisões implicará investimentos, que trarão crescimento na onerosidade em função dos recursos contratados, recursos esses necessários para o processo de crescimento contínuo. A decisão de contratação ou não de novas fontes de recursos ocorrerá com base em números captados diretamente de um eficiente sistema de informações. Nesse momento entram os conceitos de contabilidade, regidos pela ciência contábil e que representam a base principal para qualquer sistema de informações confiável e de ampla utilização. Por isso, afirmamos que nada existiria sem o advento dessa ciência que, a cada dia, se moderniza e se reveste de características irrestritas. A utilização da contabilidade torna-se cada dia mais ampla, principalmente devido à atual necessidade de transparência na divulgação dos resultados das empresas como fator preponderante para a fidelização dos acionistas, clientes e até mesmo dos empregados. Este livro objetiva apresentar a importância da contabilidade no meio empresarial como ferramenta fundamental para o processo decisório. Nossa intenção é demonstrar o volume de informações geradas pela contabilidade através da interpretação dos relatórios que compõem as demonstrações contábeis. Tais relatórios possuem informações de grande utilidade para tomada de decisões em diversas linhas de avaliação do negócio. Você perceberá, ao longo da leitura, como extrair as informações das demonstrações contábeis, qual o critério adotado universalmente para avaliação dos investimentos societários e que indicadores de desempenho mapeiam a situação econômica, financeira e operacional da empresa. Gestão contábil financeira apresenta um conteúdo dividido em quatro capítulos, nos quais propomos a discussão ampla do tema, numa sequência lógica e interligada, que possibilitará o contato com a temática contábil, tão importante para as organizações em um ambiente de permanentes mudanças. Vejamos, então, como estão divididos os temas. O primeiro capítulo tem a finalidade de apresentar as funções básicas da contabilidade. No processo contábil, verificaremos como os fatos contábeis se transformam em demonstrações contábeis e quais usuários utilizam essas informações para suas decisões, que têm finalidades múltiplas. Veremos, também, os conceitos básicos que movem o sistema contábil, divididos pelas respectivas demonstrações contábeis. Todos os conceitos são seguidos de exemplos ilustrativos. Encerramos o capítulo apresentando a nova estrutura conceitual básica da contabilidade (framework), devidamente aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Tal estrutura é apresentada por meio de pronunciamentos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que criam as regras para o entendimento da ciência contábil, bem como apresentam as características qualitativas das demonstrações contábeis e suas limitações. O segundo capítulo tem como finalidade apresentar e discutir as cinco demonstrações contábeis exigidas pela Lei das Sociedades por Ações (Lei no 6.404/1976 alterada pela Lei no 11.638/2007) utilizadas como base de informação. As demonstrações serão analiticamente apresentadas, evidenciando cada uma das contas contábeis que as compõem, bem como sua finalidade e utilização. Discutiremos amplamente as seguintes demonstrações contábeis: balanço patrimonial; demonstração de resultados do exercício; demonstração do resultado abrangente; demonstração dos fluxos de caixa; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração do valor adicionado; notas explicativas. Ao final do capítulo discutiremos os relatórios contábeis que complementam as informações a serem divulgadas pelas empresas e que observam as instruções da referida lei, quais sejam: relatório da administração; parecer dos auditores independentes; parecer do conselho fiscal. O terceiro capítulo tem como finalidade apresentar uma metodologia prática para elaboração das demonstrações contábeis e discutir o patrimônio líquido e sua composição. Desenvolvemos o modelo de registro das transações por meio da tabela “simulação patrimonial”, com o intuito de substituir os razonetes, bem como a linguagem do “débito” e “crédito”, pela avaliação das origens e aplicações de recursos por meio da soma e/ou diminuição de cada conta. O quarto capítulo promoverá uma discussão de análise econômico-financeira a ser preparada considerando os índices específicos para cada uma das demonstrações contábeis. Os índices ou indicadores serão apresentados em quatro blocos, de forma a permitir uma visão da performance das organizações a partir dos conceitos que cada um apresenta: índices de estrutura de capital; índices de liquidez; índices de lucratividade e rentabilidade; índices de prazos médios. Além disso, estudaremos a importância da aplicação das análises vertical e horizontal na avaliação da situação econômica e financeira das empresas. Optamos por apresentar o exemplo de uma empresa fictícia denominada Estrela Solitária S/A, permitindo a você observar e estudar o impacto dos diversos índices citados, considerando dois períodos simultaneamente. Desejamos a você uma excelente sessão de estudos. Utilize os conceitos apresentados na gestão da sua empresa. Não se esqueça de que o conceito de continuidade da sua e de todas as organizações está fortemente ligado aos conceitos de um sistema de informações contábeis que, sendo criteriosamente divulgado e analisado, permite uma eficiente e rápida tomada de decisões. Boa leitura! 1 A contabilidade e o sistema de informação contábil Neste primeiro capítulo, mostraremos a você os fundamentos da contabilidade, sua evolução ao longo do tempo, assim como a importância e a contribuição que ela concede aos gestores na atualidade. Mostraremos, também, que é a contabilidade uma das ciências mais completas existentes, única capaz de promover registros de todos os fatos mensuráveis nas organizações. Fundamentos da contabilidade A contabilidade, cujo principal objetivo é gerar informações acerca da situação econômica, patrimonial e financeira da entidade, representa uma atividade de extrema importância no processo de gestão das organizações. As informações são geradas por meio das demonstrações contábeis, cujos dois principais relatórios são o balanço patrimonial e a demonstração de resultado. O conceito de balanço, cujo formato se parece com uma balança, que é uma palavra de origem latina, surgiu há alguns séculos, originado da necessidade de criação de maiores controles por parte das empresas.Agrupando os itens de forma adequada, chegou-se à conclusão de que eles deveriam ser colocados nos lados da balança da seguinte forma: do lado esquerdo, os itens que geravam as atividades; do lado direito, as origens dos recursos obtidos para serem aplicados no lado esquerdo. Como primeiro exercício, pequenos demonstrativos foram preparados, conforme o quadro 1 permite visualizar. Quadro 1 DEMONSTRAÇÃO Item Valor Item Valor Caixa 3.000 Valores a pagar 3.000 Valores a receber 4.500 Patrimônio líquido 12.500 Imóveis 8.000 Total 15.500 Total 15.500 A ideia principal da demonstração era evidenciar a situação patrimonial da empresa naquele momento. Em seguida, surgiu a necessidade de um ajuste no formulário criado, pois haviam sido recebidas receitas oriundas de aluguel de algumas salas do imóvel que se encontravam disponíveis. Tal fato alterou o formulário significativamente, pois o caixa aumentou, o que deveria ser também demonstrado do outro lado e, como não se tratava de valores a pagar, foram considerados patrimônio líquido. O formulário passou a apresentar a situação demonstrada no quadro 2. Quadro 2 DEMONSTRAÇÃO – SEGUNDA VERSÃO Item Valor Item Valor Caixa 3.500 Valores a pagar 3.000 Valores a receber 4.500 Patrimônio líquido 13.000 Imóveis 8.000 Total 16.000 Total 16.000 Nesse momento percebeu-se a necessidade de anotar um registro que demonstrasse os valores recebidos e que alteraram o caixa, porém somente mais tarde surgiu uma forma eficiente para essas anotações, que se tornaram a base para a demonstração de resultados do exercício. Dessa forma, surgiu o conceito de ativo (o lado esquerdo) e de passivo (o lado direito) e, por consequência, o objetivo da demonstração, que passou a se chamar balanço patrimonial. Assim como as demais demonstrações, que serão estudadas com detalhe no próximo capítulo, o balanço patrimonial é resultado da aplicação do método de partidas dobradas, que preza o conceito de duplo registro, a saber: a indicação de onde estão aplicados os recursos, ou as aplicações; a indicação da origem desses recursos. Em outras palavras, o método de partidas dobradas diz que para todo crédito (ou origem) existe um débito (ou aplicação) correspondente, balanceando a situação. Como exemplo de um lançamento contábil observando o método de partidas dobradas, citamos uma aquisição de estoques, com pagamento a ser efetuado no prazo de 30 dias, no valor de R$ 20.000,00. Dessa forma, teremos o seguinte: Ativo Passivo Estoques R$ 20.000,00 Fornecedores R$ 20.000,00 A simplicidade da informação gerada foi aperfeiçoada e aprofundada ao longo dos séculos. Entretanto, não perdeu o objetivo principal, que sempre foi o de mostrar a situação patrimonial das organizações, bem como a apuração periódica de seus resultados econômicos, a saber, lucros ou prejuízos. Nos tempos atuais, a informação contábil é de extrema importância para a segurança dos processos decisórios, sejam eles envolvendo compra de ativos, até fusões, incorporações e/ou aquisições de outras organizações. Podemos afirmar que, sem a utilização do sistema de informação contábil, as decisões a serem tomadas pelas organizações diariamente demandariam muito mais tempo dos executivos. Define-se a contabilidade como “um sistema de informações e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira e de produtividade com relação à entidade objeto de contabilização” (Perez Junior e Begalli, 1999:67). Iudícibus e Marion (1999:17) citam que: A função fundamental da Contabilidade [...] tem permanecido inalterada desde os primórdios. Sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que os ajudarão a tomar decisões. Sem dúvida, tem havido mudanças substanciais nos tipos de usuários e nas formas de informação que têm procurado. Todavia, esta função dos demonstrativos financeiros é fundamental e profunda. O objetivo básico dos demonstrativos financeiros é prover informação útil para a tomada de decisões econômicas. É interessante observar a forma contábil e compará-la à forma de um sistema de informação. A tecnologia da informação nos indica a transformação dos dados em informações, como a figura 1 permite visualizar. Figura 1 SISTEMA DE INFORMAÇÃO Se verificarmos a forma como o sistema contábil se compõe, concluiremos que existe uma transformação de fatos contábeis em demonstrações contábeis, da mesma forma como num sistema de informação, que apresenta as características mostradas na figura 2. Figura 2 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL O sistema de informação contábil pode ser explicitado como se segue. Fatos contábeis correspondem a transações diversas ocorridas em uma organização. Como exemplos podemos citar, entre outros: compra e venda de mercadorias; pagamento de salários; recebimentos de vendas efetuadas; aquisições de imobilizado; contratação e pagamento de empréstimos; despesas incorridas; impostos pagos ou a pagar. Tais fatos contábeis são, portanto, eventos que podem ser mensurados de forma econômica e financeira, trazendo com eles os seguintes conceitos: regime de caixa, que se refere aos eventos financeiros e, basicamente, aos registros de caixa. No caso, a receita só é reconhecida contabilmente quando ocorre a entrada de dinheiro, e o mesmo acontece com a despesa. O regime de caixa talvez tenha tido muita utilidade há algumas décadas, mas não atualmente, pois não capta a realidade das operações empresariais em que ocorrem múltiplas situações de compras e vendas a prazo; regime de competência, que se refere aos eventos econômicos, ou seja, promove o registro de todos os fatos na ocasião de seu fato gerador, independentemente de terem ou não sido pagos e/ou recebidos. O regime de competência veio trazer uma clareza maior para as demonstrações contábeis, pois não induz a erros de interpretação em função do registro de todos os eventos ocorridos na empresa. Podemos afirmar que os eventos econômicos transformam-se em eventos financeiros, a não ser que inadimplências ocorram no percurso. Como exemplo, citamos vendas efetuadas a prazo que, após o vencimento, não foram pagas pelo cliente, gerando, dessa forma, uma perda devidamente contabilizada após o necessário instrumento de protesto ocorrido. Os fatos contábeis são divididos em duas categorias, a saber: fatos permutativos, que não alteram a situação patrimonial das empresas. Como exemplos, podemos citar uma compra de estoques a prazo e o pagamento de um empréstimo contratado. Ambos os exemplos envolvem somente eventos patrimoniais, sem alteração em lucros e/ou prejuízos; fatos modificativos, que alteram a situação patrimonial das empresas. Como exemplo citamos a venda de produtos além dos custos incorridos na operação, o que gera uma alteração patrimonial com apuração do lucro, que alterará o patrimônio líquido. Esses fatos contábeis necessitam ser registrados. Registro corresponde à utilização dos livros contábeis obrigatórios, como o diário e o razão, onde os fatos são registrados, sempre de forma diferenciada, como (Perez Junior e Begalli, 1999): no livro diário as transações são registradas de forma cronológica; no livro razão as transações são registradas analítica e separadamente por tipo de evento. Deve ser mencionado que o registro dos fatos contábeis nos livros obrigatórios é feito mediante a utilização de uma codificação chamada de “contas contábeis”. O conjunto de contas contábeis, organizadas de forma racional e planificada, constitui o “plano de contas” de uma empresa, objeto de estudo do próximo capítulo. O plano de contas de uma empresa deve ser dimensionado de forma coerente com o tamanho da mesmae com a quantidade de lançamentos contábeis efetuados nos períodos, evitando-se uma quantidade de contas contábeis maior do que a necessária. Demonstrações contábeis constituem os retratos da situação econômica e financeira das empresas perante a sociedade. Segundo a Lei das Sociedades por Ações (Lei no 6.404/1976 e suas recentes alterações pela Lei no 11.638/2007), as demonstrações contábeis são: balanço patrimonial; demonstração de resultado do exercício; demonstração do fluxo de caixa; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração do valor adicionado; demonstração do resultado abrangente; notas explicativas. As demonstrações contábeis apresentam informações úteis aos usuários e são interligadas. Na seção que trata da informação contábil, mostraremos a interligação dos dois primeiros demonstrativos contábeis; a interligação completa entre todos os demonstrativos citados acima será mostrada no próximo capítulo deste livro. Como falamos, o registro dos fatos contábeis ocorre em função do fluxo de recursos das empresas, explicitado na figura 3. Figura 3 FLUXO DE RECURSOS DAS EMPRESAS As origens são consideradas os créditos das empresas. Nas demonstrações contábeis, podemos observar, por exemplo, que: no balanço patrimonial, representam o passivo e o patrimônio líquido; no demonstrativo de resultados do exercício, representam as receitas e o lucro. As aplicações são consideradas os débitos das empresas. Nas demonstrações contábeis podemos observar, por exemplo, que: no balanço patrimonial, representam o ativo; no demonstrativo de resultados do exercício, representam as despesas e os custos. Se verificarmos que os recursos das empresas são obtidos com os sócios ou com bancos, fornecedores e outros, chegaremos aos conceitos de capital próprio (recursos dos sócios) e capital de terceiros (recursos de outros, externos à empresa). Em paralelo, observemos que as aplicações podem ser feitas para o giro contínuo, como: estoques; contas a receber; aplicações de curto prazo; caixa ou disponível; ou em imobilizado, como: máquinas; veículos; prédios, entre outros. Chegamos, assim, aos conceitos de capital de giro e capital fixo. Este último representa o imobilizado. Veja, na figura 4, o fluxo de recursos das empresas, agora separado em itens de origens e itens de aplicações, conforme citado acima. Figura 4 ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS Uma vez compreendido o fluxo de recursos das empresas, torna-se necessário entender quem são os usuários das informações contábeis. Usuários das informações contábeis De acordo com estudo da Fipecafi (1995:59), define-se usuário como toda pessoa física ou jurídica que tenha interesse na avaliação da situação e do progresso de determinada entidade, seja tal entidade empresa, ente de finalidades não lucrativas, ou mesmo patrimônio familiar. Os usuários das informações contábeis podem ser: internos, que são os proprietários, diretores, gerentes e supervisores das empresas; externos, que são os acionistas, governo, fornecedores, clientes, entidades financeiras, entre outros. Cada usuário está interessado em um determinado tipo de informação, conforme ilustra o quadro 3. Quadro 3 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL E A INFORMAÇÃO DESEJADA Usuário Natureza Informação desejada Alta e média administração Interno Análise de forma geral Empregos em geral Interno Medição de desempenho Acionistas Externo Fluxo de dividendos Governo Externo Recolhimento de tributos Fornecedores Externo Análise para concessão de crédito Clientes Externo Pós-venda dos bens adquiridos Entidades financeiras Externo Análise para concessão de crédito Como você observou, a necessidade de informações varia segundo o tipo de usuário, razão pela qual a contabilidade as organiza de forma a atender a todos. A informação contábil As demonstrações contábeis serão amplamente estudadas no próximo capítulo; assim, indicaremos aqui apenas o conceito principal de cada uma. Observe o seguinte: o balanço patrimonial indica a situação econômica e financeira de uma empresa em certo momento, ou seja, o resultado das transações que envolvem seus bens, direitos e obrigações; a demonstração de resultado do exercício indica o resultado do confronto entre receitas, custos e despesas; a demonstração do fluxo de caixa indica informações sobre a movimentação e o saldo de caixa e equivalentes de caixa; a demonstração das mutações do patrimônio líquido indica as variações ocorridas no patrimônio líquido das empresas, bem como a causa delas e o efeito que tiveram sobre esse patrimônio; a demonstração do valor adicionado, exigida para empresas de capital aberto, indica o valor da riqueza gerada pela organização e sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza; a demonstração de resultados abrangentes indica mudanças no patrimônio líquido, resultado de outras transações. As demonstrações contábeis resumem informações diversas, que observam os objetivos da contabilidade. Objetivos da contabilidade A informação contábil explicitada destina-se a duas finalidades: controle, que é o processo pelo qual a empresa se certifica que está agindo de acordo com os planos traçados; planejamento, que é o processo pelo qual se decidem as ações a serem empreendidas no futuro. Tais finalidades são complementares, já que o controle das atividades atuais é a base de dados para o planejamento futuro. Da mesma forma, como controle admite-se que a informação contábil será resultado do registro e acompanhamento de todo o ciclo operacional das empresas, que se resume nas atividades citadas na figura 5. Figura 5 CICLO OPERACIONAL DAS EMPRESAS Fonte: Perez Junior e Begalli (1999:80). No capítulo 4 deste livro, veremos em detalhes como mensurar o ciclo operacional em dias e em moeda, além de como otimizá-lo. Conceitos básicos da contabilidade Para melhor entendimento das demonstrações contábeis, torna-se necessário o conhecimento dos conceitos que se seguem. Dividiremos os conceitos pelos demonstrativos contábeis (Marion, 2005). Na demonstração de resultados do exercício, temos os gastos, que se apresentam da forma como na figura 6. Figura 6 GASTOS Gastos são todos os consumos de bens e serviços, adquiridos à vista ou a prazo, efetuados pelas empresas. Conforme suas características podem dividir-se em custos, despesas, perdas e investimentos. Em princípio, todo gasto, em algum momento, gera um desembolso. Desembolso deve ser conceituado como a saída de recursos financeiros para aquisição de bens e serviços ou pagamento de obrigações assumidas anteriormente. Vejamos exemplos para os itens citados: custos são os gastos (consumo de bens e serviços) efetuados com o objetivo de gerar bens ou prestação de serviços. Podemos exemplificar como: matérias-primas, mão de obra, custos indiretos etc.; insumos utilizados na produção de bens e serviços e demais insumos, como energia elétrica, depreciações e outros podem ser classificados em estoques, investimentos ou imobilizado; estoques: bens adquiridos ou produtos destinados a revenda; despesas representam o consumo de bens e serviços, adquiridos à vista ou a prazo, com o objetivo de gerar receitas. Como exemplos, citamos: despesas de vendas, tais como fretes, comissões, propaganda, entre outras; despesas administrativas, tais como salários e encargos do pessoal administrativo, aluguéis; despesas financeiras, tais como juros e encargos; despesas tributárias, tais como imposto de renda e contribuição social; perdas correspondem aos gastos anormais ou involuntários efetuados pelas empresas que não geram novos bens ou serviços e tampouco receitas. Podem ser citadas a inadimplência de clientes, a perda total de veículos avariados etc.;investimentos correspondem à aquisição de bens que serão ativados. Como exemplos, podemos citar: bens destinados à geração de renda, tal como aluguéis; imobilizado: bens destinados ao uso nas atividades produtivas (máquinas e equipamentos) ou administrativas e comerciais (móveis e utensílios). Assim, afirma-se que os custos e as despesas são considerados itens referentes a operações continuadas das empresas; as perdas são consideradas operações não continuadas ou descontinuadas. Por outro lado, as receitas representam os valores que uma empresa recebe ou tem direito a receber, provenientes de suas operações de vendas, de prestação de serviços ou de aplicações financeiras. Como exemplos de receitas, podemos citar: receita de vendas de produtos; receita de vendas de serviços; receitas de aluguéis; receitas financeiras. O encontro das receitas com as despesas e os custos gera lucro ou prejuízo, conforme explicitado na demonstração de resultados do exercício. Esse resultado representa a riqueza gerada pela empresa em certo período e irá incorporar o patrimônio líquido, no balanço patrimonial. O balanço patrimonial indica uma equação em que o ativo equivale ao passivo, que é resultado do somatório de passivo e patrimônio líquido, como o quadro 4 permite visualizar. Quadro 4 EQUAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL Ativo Passivo Patrimônio líquido Como ativo entende-se a aplicação de recursos, que as empresas utilizarão para geração de benefícios econômicos e financeiros futuros. Dessa forma, o ativo representa os bens e os direitos da entidade. Como exemplo de bens, citamos os estoques; como exemplo de direitos, as duplicatas a receber. Como veremos no próximo capítulo, o ativo terá seus valores alterados cada vez que ocorrer o reconhecimento contábil de uma receita, bem como pela obtenção de recursos com terceiros (capital de terceiros) ou com os acionistas da empresa (capital próprio). Como passivo entendem-se as origens de recursos que são financiados por terceiros e que representarão desembolsos futuros. Citamos, como exemplos, os empréstimos, os pagamentos a fornecedores, os impostos a pagar, os salários a pagar, entre outros. São entendidos como patrimônio líquido os recursos financiados pelos acionistas. Ele representa, de forma estática, as obrigações das empresas para com seus sócios. A figura 7 indica com clareza a geração de riqueza apurada pela demonstração de resultados do exercício por meio do lucro, que é incorporado ao patrimônio líquido logo em seguida. Deve ser também observado o fato de que os estoques transformaram-se em custos de produtos vendidos após a devida baixa pelas vendas dos produtos. Figura 7 INTERLIGAÇÃO ENTRE O BALANÇO PATRIMONIAL E A DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO Podemos então deduzir que ambas as demonstrações estão interligadas pela geração de lucros obtidos no período. Entretanto, muitas vezes há ocorrências qualitativas, não mensuráveis, que acabam por evidenciar certas limitações da contabilidade. Limitações da contabilidade O método da contabilidade a torna capaz de registrar fatos que são mensurados monetariamente com muita clareza, conforme exposto. Dessa forma, pode ocorrer que algumas decisões tomadas pelos usuários das informações contábeis sejam influenciadas por aspectos qualitativos que normalmente escapam do alcance da contabilidade. Estamos aqui nos referindo a variáveis como investimentos sociais, custo de oportunidade e agregação de valor para os clientes, entre outras, que não conseguem ser mensuradas pela contabilidade Tais limitações, no entanto, não invalidam o método contábil; apenas indicam ao usuário que as informações devem ser utilizadas levando-se em conta as limitações do método que as gerou. A contabilidade financeira e a contabilidade gerencial Como vimos até aqui, a contabilidade financeira apura e prepara a elaboração das informações econômicas e financeiras das empresas, divulgando-as a uma vasta clientela denominada usuários externos, entre os quais citamos: bancos, fornecedores, clientes, governo e entidades reguladoras. Como consequência, observa-se que é a contabilidade financeira direcionada por regras e normas, citadas anteriormente, e pelos postulados contábeis que serão citados a seguir. No entanto, os empresários necessitam utilizar uma informação contábil mais gerencial e mais detalhada, que será a base de dados para o processo decisório diário. Tais decisões são reações aos efeitos que as variáveis do macroambiente causam nos negócios e englobam informações que incluem, entre outros: clientes e mercados; inovações em produtos e serviços; qualidade total, tempo de processamento e custo dos processos internos críticos; capacidade dos funcionários e dos sistemas das empresas. As decisões têm reflexos diretos na lucratividade das organizações e garantem sua continuidade, por meio da geração contínua de novos recursos. Percebe-se claramente que a contabilidade gerencial está dimensionada para atender a duas funções fundamentais: o controle e a decisão. Como auxílio ao controle, a contabilidade gerencial contribui mediante o fornecimento de informações para o estabelecimento de padrões, orçamentos e outros tipos de previsões. Como auxílio às tomadas de decisões, contribui por meio de alimentação de informações relevantes, que dizem respeito às consequências de curto e longo prazos sobre medidas de eliminação de portfólio de produtos e de departamentos, ampliação de atividades, terceirização etc. As principais diferenças entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial estão apresentadas no quadro 5. Quadro 5 DIFERENÇAS ENTRE A CONTABILIDADE FINANCEIRA E A CONTABILIDADE GERENCIAL Fatores Contabilidade financeira Contabilidade gerencial Principais usuários Investidores e credores. Administradores de vários níveis da organização. Liberdade de escolha Postulados e pressupostos contábeis. Nenhuma restrição além do custo x benefício. Enfoque no tempo Avaliação histórica. Visão do passado. Orientação para o futuro. Orçamentos e registros históricos. Relatórios Resumidos. Preocupação com a empresa como um todo. Detalhados. Preocupação com partes da empresa. Objetivos dos relatórios Análise financeira. Planejamento, controle, avaliação de desempenho. Prazos Menos flexíveis Mais flexíveis Bases de mensuração Moeda corrente. Várias bases correntes. Índices. Visão da empresa Empresa como um todo. Interesse nas partes. A informação é Precisa e objetiva. Rápida, com aproximações. A informação busca Objetividade. Utilidade. Diante do exposto, pode-se concluir que as diferenças entre contabilidade financeira e contabilidade gerencial giram em torno da utilização das informações geradas pelos diversos usuários e de seus diferentes objetivos. Estrutura conceitual para apresentação das demonstrações contábeis Conforme mencionado, a Lei das Sociedades por Ações foi modificada pela Lei no 11.638/2007. A partir dessa alteração, vários pronunciamentos foram emitidos; no entanto, em janeiro de 2008, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu um pronunciamento (CPC 00), atualizado em dezembro de 2011 (CPC 00 (R1)), que define a estrutura conceitual básica para a elaboração das demonstrações contábeis. Os demais pronunciamentos serão citados nos capítulos seguintes do livro. A finalidade dessa estrutura conceitual é: dar suporte ao desenvolvimento de novos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações e à revisão dos já existentes, quando necessário; dar suporte à promoção da harmonização das regulações, das normas contábeis e dos procedimentos relacionados à apresentação das demonstrações contábeis, provendouma base para a redução do número de tratamentos contábeis alternativos permitidos pelos Pronunciamentos, Interpretações e Orientações; dar suporte aos órgãos reguladores nacionais; auxiliar os responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis na aplicação dos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações e no tratamento de assuntos que ainda não tenham sido objeto desses documentos; auxiliar os auditores independentes a formar sua opinião sobre a conformidade das demonstrações contábeis com os Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações; auxiliar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de informações nelas contidas, elaboradas em conformidade com os Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações; e, proporcionar aos interessados informações sobre o enfoque adotado na formulação dos Pronunciamentos Técnicos, das Interpretações e das Orientações. A referida estrutura não é um Pronunciamento Técnico propriamente dito e, portanto, não define normas ou procedimentos para qualquer questão particular sobre aspectos de mensuração ou divulgação. Nada nesta Estrutura Conceitual substitui qualquer Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação [CPC 00 (R1)]. Portanto, o objetivo do Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro – é apoiar como fonte para as premissas básicas e fundamentais na preparação e utilização das demonstrações contábeis através daqueles pronunciamentos técnicos. Assim, para observar e preparar a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, o CFC aprovou a Resolução no 2011/1.374 – NBC TG Estrutura Conceitual. A referida NBC foi publicada no Diário Oficial da União em 16 de dezembro de 2011. Essa resolução entrou em vigor em 1o de janeiro de 2011. Dela, devem-se observar os seguintes aspectos: premissa subjacente da continuidade; características qualitativas fundamentais (relevância e representação fidedigna) e características qualitativas de melhoria (comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade). Antes de prosseguirmos com o estudo da premissa subjacente e características qualitativas, fazemos uma breve explanação sobre a antiga característica qualitativa de confiabilidade, a característica essência sobre a forma e a característica da prudência (conservadorismo). A característica qualitativa confiabilidade foi redenominada de representação fidedigna; as justificativas constam das bases para conclusões. A característica essência sobre a forma foi formalmente retirada da condição de componente separado da representação fidedigna por ser isso considerado uma redundância. A representação pela forma legal que difira da substância econômica não pode resultar em representação fidedigna, conforme citam as Bases para Conclusões. Assim, essência sobre a forma continua, na realidade, bandeira insubstituível nas normas do IASB. A característica prudência (conservadorismo) foi também retirada da condição de aspecto da representação fidedigna por ser inconsistente com a neutralidade. Subavaliações de ativos e superavaliações de passivos, segundo os Boards mencionam nas Bases para Conclusões, com consequentes registros de desempenhos posteriores inflados, são incompatíveis com a informação que pretende ser neutra [CFC, 2011]. Premissa subjacente à elaboração dos relatórios contábil-financeiros: a elaboração dos relatórios contábil-financeiros tem como premissa a continuidade (going concern) da entidade. A entidade foi concebida como algo em marcha, ou seja, suas operações irão ocorrer por um futuro previsível. E qualquer ameaça a essa continuidade deverá ser informada aos diversos usuários da contabilidade (stakeholders) interessados na informação contábil. Caso a empresa entre num processo de liquidação, as demonstrações contábeis deverão ser elaboradas em bases diferentes daquelas entidades em continuidade. Como exemplo de ameaça à continuidade de uma entidade pode-se mencionar: determinada empresa vendeu 90% da sua receita para um determinado cliente e esse cliente solicitou uma concordata. Portanto, caso a empresa não consiga rapidamente localizar potenciais novos clientes, a continuidade da empresa ficará sensivelmente ameaçada. Portanto, a omissão do fato da continuidade pode influenciar as decisões que os usuários tomam com base na informação contábil-financeira. As características qualitativas são consideradas os atributos que fazem as demonstrações contábeis se tornarem úteis aos seus usuários. Foram definidas de modo a ter mais utilidade, fornecendo informações que auxiliem o processo decisório no melhor entendimento das empresas que as apresentam. De acordo com o CPC 00 (R1), de dezembro 2011, as características qualitativas, separadas em dois grupos, são as reputadas como mais úteis e fundamentais (A) e as que também auxiliam na escolha quando de alternativas equivalentes em termos de relevância e representação fidedigna (B). As características qualitativas das demonstrações contábeis podem ser visualizadas no quadro 6. Quadro 6 CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS (A) Reputadas como mais úteis e fundamentais Característica Descrição Relevância As informações são relevantes quando fazem a diferença nas decisões econômicas dos usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, ou corrigindo as suas avaliações anteriores (valor confirmatório), ou ajudando-os nos processos para predizer resultados futuros (valor preditivo). A relevância depende da natureza e da materialidade do item em discussão. Representação fidedigna Diz respeito a três atributos: a informação precisa ser completa, neutra e livre de erro. Para ser completa, precisa conter o necessário para que o usuário compreenda o fenômeno sendo retratado. Para ser neutra, precisa estar desprovida de viés na seleção ou na apresentação, não podendo ser distorcida para mais ou para menos. Para ser livre de erro, precisa que o processo para obtenção da informação tenha sido selecionado e aplicado livre de erros. No caso de estimativa, ela é considerada tendo representação fidedigna se, além disso, o montante for claramente descrito como estimativa e se a natureza e as limitações do processo forem devidamente reveladas. (B) Características que também auxiliam na escolha quando de alternativas equivalentes em termos de relevância e representação fidedigna Característica Descrição Comparabilidade Permite a identificação e compreensão de similaridades e diferenças entre os itens. Comparabilidade implica, também, fazer com que coisas diferentes não pareçam iguais ou coisas iguais não pareçam diferentes. Comparabilidade é diferente da consistência, pois é o objetivo, enquanto a consistência é um auxílio na obtenção desse objetivo. Verticabilidade Implica diferentes observadores poderem chegar a um consenso sobre o retrato de uma realidade econômica, podendo, em certas circunstâncias, representar uma faixa de possíveis montantes com suas respectivas probabilidades. Pode ser direta ou indireta e, às vezes, se restringir à análise das premissas subjacentes a uma estimativa sobre o futuro. Tempestividade Significa estar a informação disponível a tempo de influenciar o usuário em sua decisão. Compreensibilidade Significa que a classificação, a caracterização e a apresentação da informação são feitas com clareza e concisão, tornando-a compreensível. Os relatórios contábil-financeiros são elaborados na presunção de que o usuário tem conhecimento razoável de negócios e que age diligentemente, mas isso não exclui a necessidade de ajuda de consultor para fenômenos complexos. Limitações na relevância e na confiabilidade das informações As limitações apresentadas no pronunciamento contábil são três, a saber: tempestividade,equilíbrio entre custo e benefício e equilíbrio entre características qualitativas. Tais limitações, que podem ser visualizadas no quadro 7, referem-se a todas as características qualitativas, não só àquelas sugeridas pela interpretação textual do pronunciamento. Quadro 7 LIMITAÇÕES NA RELEVÂNCIA E NA CONFIABILIDADE DAS INFORMAÇÕES Limitações Descrição Tempestividade Quando há demora indevida na divulgação de uma informação, é possível que ela perca a relevância. A administração da entidade necessita ponderar os méritos relativos entre a tempestividade da divulgação e a confiabilidade da informação fornecida. Para fornecer uma informação na época oportuna pode ser necessário divulgá-la antes que todos os aspectos de uma transação ou evento sejam conhecidos, prejudicando assim sua confiabilidade. Por outro lado, se para divulgar a informação a entidade aguardar até que todos os aspectos se tornem conhecidos, a informação pode ser altamente confiável, porém de pouca utilidade para os usuários que tenham tido necessidade de tomar decisões nesse ínterim. Para atingir o adequado equilíbrio entre a relevância e a confiabilidade, o princípio básico consiste em identificar qual a melhor forma para satisfazer as necessidades do processo de decisão econômica dos usuários. Equilíbrio entre custo e benefício Limitação de ordem prática, em vez de uma característica qualitativa. Os benefícios decorrentes da informação devem exceder o custo de produzi-la. Equilíbrio entre características qualitativas Na prática, é frequentemente necessário um balanceamento entre as características qualitativas. Geralmente, o objetivo é atingir um equilíbrio apropriado entre as características, a fim de satisfazer aos objetivos das demonstrações contábeis. A importância relativa das características em diferentes casos é uma questão de julgamento profissional. Fonte: Perez Junior e Begalli (2009:36). A aplicação de forma adequada do conjunto de conceitos citados deve fazer com que as demonstrações contábeis apresentem informações verdadeiras e apropriadas da posição patrimonial e financeira da empresa. Por fim, deve ser também citado o conceito geral de visão verdadeira e visão adequada. Estamos nos referindo à apresentação adequada, segundo a qual a essência econômica deve prevalecer sobre a forma jurídica. Assim, a aplicação das características qualitativas e de normas de contabilidade aceitas resulta em demonstrações contábeis que devem refletir o que se entende como apresentação verdadeira e adequada das informações de uma entidade. Como você viu, a contabilidade é um sistema de informações relevantes para as empresas em seus processos decisórios. Para situar você no contexto da ciência contábil, abordamos sua origem e evolução, os principais conceitos, as demonstrações contábeis, os pressupostos básicos, assim como as características dos usuários que necessitam dessas informações. Abordamos, também, as principais diferenças entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. No próximo capítulo, estudaremos com detalhes as demonstrações contábeis e as informações por elas geradas. 2 Estrutura das demonstrações contábeis A dinâmica dos mercados financeiros e dos mercados de capitais exerce papel fundamental no desenvolvimento econômico e na evolução das atividades empresariais. Aliado a isso, cabe destacar que a busca constante de melhoria na administração das entidades passa pelo conhecimento da contabilidade, sem o qual a gestão e o conjunto de informações necessárias para o processo da tomada da decisão ficariam inviabilizados. Tendo por objetivo demonstrar as mutações na estrutura patrimonial de entidades com finalidades lucrativas, caberá à contabilidade contemplar os diversos usuários interessados em informações sobre determinada entidade com demonstrações contábeis que permitirão aos mesmos conhecer sua situação econômica e financeira e, dessa forma, tomar suas decisões. Neste capítulo, apresentaremos o produto final da contabilidade, ou seja, o conjunto de relatórios que tem por finalidade evidenciar as modificações ocorridas na estrutura do patrimônio em decorrência dos fatos associados às tomadas de decisões por parte dos gestores e demais responsáveis pela administração e condução da entidade, cabendo também ficarem evidenciadas nos relatórios as mutações decorrentes de eventos não associados ao conjunto das decisões. Informação e demonstrações contábeis Para que as demonstrações contábeis tenham credibilidade e, ao mesmo tempo, gerem confiança por parte dos usuários, a informação deverá ser completa, demonstrando com fidedignidade todas as operações e outros fatos, sem erros em sua elaboração. Para tanto, o reconhecimento das transações e acontecimentos deverá ser registrado com base na substância e realidade dos fatos econômicos, e não de forma puramente legal, com total neutralidade e com o cuidado na elaboração das demonstrações contábeis. Estamos comprometidos com a fidedignidade, transparência e responsabilidade da informação a ser passada sobre a situação econômico-financeira, de modo a atender à demanda dos investidores que, ao alocar seus recursos em determinada atividade, buscam maximizar sua riqueza. As entidades com finalidade lucrativa nascem tendo por objetivo remunerar seus investidores, ou seja, nascem da alternativa de investimento por parte de determinadas pessoas. A variabilidade na estrutura patrimonial dessas entidades tem como fundamentação o processo de decisão por parte dos tomadores de decisão, fatores tecnológicos, políticas governamentais, concorrência, abertura de mercado e tantos outros que poderão impactar, de maneira positiva ou negativa, a estrutura do patrimônio da entidade. Compete à contabilidade elaborar demonstrações para que as decisões possam ser tomadas com o propósito de dar continuidade ao processo de gestão da entidade e contemplar os investidores e demais interessados com informações para que os mesmos possam decidir de modo a atender a suas demandas individuais ou coletivas. As demonstrações contábeis representam o produto final da contabilidade. Delas fluem valiosas informações, evidenciando a realidade de uma estrutura patrimonial que é fruto de determinada gestão. As demonstrações contábeis são relatórios acompanhados de informações complementares, que correspondem a determinado período, contendo aspectos qualitativos e quantitativos como consequência dos métodos aplicados na contabilização dos respectivos fatos. Geram informações financeiras sobre a entidade, sendo que seu principal objetivo é proporcionar informações sobre a posição financeira e o desempenho – além de demonstrar as modificações em sua posição financeira – que possam atender a um vasto número de usuários na tomada de decisão. As demonstrações contábeis são geradas em decorrência do registro de um grande número de fatos e eventos, que são agregados em grupos e subgrupos em função da sua natureza. Ao término serão apresentadas as demonstrações contábeis que são: balanço patrimonial; demonstração do resultado; demonstração do resultado abrangente; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração dos fluxos de caixa; demonstração do valor adicionado; notas explicativas, compreendendo o resumo das políticas contábeis significativas e outras informações explanatórias. As demonstrações interagem entre si e possuem objetivos definidos, conforme apresentado nas próximas seções. Balanço patrimonial O balanço patrimonial proporciona informações referentes à posição patrimonial e financeira da entidade em uma determinada data, evidencia as fontes de financiamentos representadas pelo capital próprio (capital social mais ou menos oresultado acumulado e pelo capital de terceiros). O capital próprio é representado pelo patrimônio líquido (PL) enquanto o capital de terceiros é representado pelo passivo. Essas fontes dão origem aos investimentos da entidade, ou seja, ao seu ativo. Temos que o balanço patrimonial da entidade é a relação de seus ativos, passivos e patrimônio líquido em uma data específica. Conforme pronunciamento CPC 00 (R1), itens 4.8/4.23, temos: (a) ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade. (b) passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos. (c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos. Os elementos que compõem a estrutura do balanço patrimonial, os bens, os direitos, as obrigações e os elementos do patrimônio líquido são representados por contas patrimoniais. No ativo temos os bens e os direitos, que serão representados dentro da estrutura do balanço patrimonial em função do grau de liquidez de cada conta; no passivo representaremos as obrigações em função do grau de exigibilidade; e o patrimônio líquido será a diferença entre o ativo e o passivo. A representação do balanço patrimonial é feita considerando o ativo ao lado do passivo e do patrimônio líquido, como demonstrado no quadro 8. Quadro 8 FORMAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA PATRIMONIAL Balanço patrimonial Ativo Passivo + patrimônio líquido Bens Representam tudo que a empresa possui em termos corpóreos ou incorpóreos. Obrigações Representam os débitos – tudo que a empresa tiver a pagar. Direitos Representam os créditos – tudo que a empresa tiver a receber. Patrimônio líquido Representa a diferença entre o total do ativo menos o passivo. De forma bastante objetiva, podemos interpretar o balanço patrimonial pela ótica das origens e aplicações de recursos, conforme o quadro 9 permite visualizar. Quadro 9 ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS NA FORMAÇÃO DA ESTRUTURA PATRIMONIAL Investimentos Aplicações de recursos Balanço patrimonial Origens de recursos Fontes de financiamentos Ativo Passivo Bens Obrigações Caixa Liquidez Exigibilidade Direitos Patrimônio líquido Capital Total Total A informação deverá ser gerada de modo a atender a um conjunto heterogêneo de usuários, fato que nos leva a estruturar as demonstrações contábeis de modo a lhes permitir extrair as informações necessárias para a tomada da decisão. Na estrutura do balanço patrimonial, os ativos e passivos foram divididos em grupos, cada grupo dividido em subgrupos, sendo que dentro de cada subgrupo encontramos as respectivas contas, que representam os diversos elementos da estrutura patrimonial – no caso do ativo, os bens e os direitos; no passivo, as obrigações com terceiros e o patrimônio líquido. Tanto no ativo quanto no passivo teremos os elementos circulantes e não circulantes, que serão representados como grupos de contas separados no balanço patrimonial, exceto quando uma apresentação baseada na liquidez proporcionar informação confiável e mais relevante. Quando essa exceção for aplicável, todos os ativos e passivos devem ser apresentados por ordem de liquidez. Qualquer que seja o método de apresentação adotado, a entidade deve divulgar o montante esperado a ser recuperado ou liquidado em até 12 meses ou mais do que 12 meses, após o período de reporte, para cada item do ativo e passivo. O CPC 26 (R1) não prescreve a ordem ou o formato que deva ser utilizado na apresentação das contas do balanço patrimonial; entretanto, na Lei das S/A, no ativo, as contas são dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, isto é, dos itens de maior para os de menor liquidez. A doutrina contábil adota critério semelhante para o passivo: ordem decrescente de exigibilidade. Para tornar a informação ainda mais clara, devemos apresentar as informações do balanço patrimonial de acordo com o grau de liquidez e nível de exigibilidade, conforme os quadros 10 e 11. Quadro 10 REPRESENTAÇÃO DE ACORDO COM O GRAU DE LIQUIDEZ E NÍVEL DE EXIGIBILIDADE Balanço patrimonial Ativo Passivo Caixa Fornecedor Bancos Financiamentos a pagar Duplicatas a receber Patrimônio líquido Mercadorias Capital Veículos Reserva de lucro Imóveis Prejuízo acumulado Total Total Quadro 11 REPRESENTAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL DE FORMA SINTÉTICA Balanço patrimonial Ativo Passivo + patrimônio líquido Ativo circulante Disponível Créditos Estoque Impostos a recuperar Ativo não circulante Realizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível Passivo circulante Obrigações Passivo não circulante Obrigações Patrimônio líquido Capital social Reservas de capital Reservas de lucro Ajustes de avaliação patrimonial Prejuízo acumulado Total Total Conforme pronunciamento CPC 26 (R1), item 66, a entidade deve classificar um ativo como circulante quando: esperar realizar o ativo, ou pretender vendê-lo ou consumi-lo durante o ciclo operacional normal da entidade; o ativo for mantido essencialmente com a finalidade de negociação; esperar realizar o ativo no período de até 12 meses após a data das demonstrações contábeis; o ativo for caixa ou equivalente de caixa, a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo seja restrita durante pelo menos 12 meses após a data das demonstrações contábeis. A entidade deve classificar todos os outros ativos como não circulantes. Quando o ciclo operacional normal da entidade não for claramente identificável, presume-se que sua duração seja de 12 meses. Conforme pronunciamento CPC 26 (R1), item 69, a entidade deve classificar um passivo como circulante quando: esperar liquidar o passivo durante o ciclo operacional normal da entidade; o passivo for mantido essencialmente para a finalidade de negociação; o passivo for exigível no período de até 12 meses após a data das demonstrações contábeis; a entidade não tiver direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos 12 meses após a data de divulgação. Os demais passivos serão classificados pela entidade como não circulantes. No patrimônio líquido, incluímos os recursos aportados pelos investidores, assim como os recursos gerados pela própria entidade, ou seja, os lucros formalmente incorporados à atividade como fonte de financiamento. No patrimônio líquido deveremos incluir: capital social; reservas de capital; ajustes de avaliações patrimoniais; reservas de lucros; ações em tesouraria; prejuízo acumulado. Avaliação dos ativos De acordo com o art. 183 da Lei no 6.404/1976 e suas subsequentes modificações, os elementos dos ativos serão avaliados conforme apresentado a seguir. Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: I. as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo: (a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicações destinadas a negociação ou disponíveis para venda; e (b) pelo custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito; II. os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos de comércio da companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de provisão para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for inferior; III. os investimentos em participação no capital social de outras sociedades,ressalvado o disposto nos arts. 248 a 250, pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor, quando essa perda estiver comprovada como permanente, e que não será modificado em razão do recebimento, sem custo para a companhia, de ações ou quotas bonificadas; IV. os demais investimentos, pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para atender às perdas prováveis na realização do seu valor, ou para redução do custo de aquisição ao valor de mercado, quando este for inferior; V. os direitos classificados no imobilizado, pelo custo de aquisição, deduzido do saldo da respectiva conta de depreciação, amortização ou exaustão; VI. (revogado); VII. os direitos classificados no intangível, pelo custo incorrido na aquisição, deduzido do saldo da respectiva conta de amortização; VIII. os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. Para efeito do disposto no art. 183 da Lei no 6.404/1976, §1o, alterado pela Lei no 11.941/2009, considera-se valor justo: (a) das matérias-primas e dos bens em almoxarifado, o preço pelo qual possam ser repostos, mediante compra no mercado; (b) dos bens ou direitos destinados à venda, o preço líquido de realização mediante venda no mercado, deduzidos os impostos e demais despesas necessárias para a venda, e a margem de lucro; (c) dos investimentos, o valor líquido pelo qual possam ser alienados a terceiros; (d) dos instrumentos financeiros, o valor que se pode obter em um mercado ativo, decorrente de transações não compulsórias realizadas entre partes independentes; e, na ausência de um mercado ativo para um determinado instrumento financeiro: 1) o valor que se pode obter em um mercado ativo com a negociação de outro instrumento financeiro de natureza, prazo e risco similares; 2) o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros para instrumentos financeiros de natureza, prazo e risco similares; ou 3) o valor obtido por meio de modelos matemático-estatísticos de precificação de instrumentos financeiros. De acordo com o §2o do art. 183 da Lei no 6.404/1976, a diminuição do valor dos elementos do ativo imobilizado e intangível será registrada periodicamente nas contas de: (a) depreciação, quando corresponder à perda do valor dos direitos que têm por objeto bens físicos sujeitos a desgaste ou perda de utilidade por uso, ação na natureza ou obsolescência; (b) amortização, quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na aquisição de direitos da propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contratualmente limitado; (c) exaustão, quando corresponder à perda do valor, decorrente da sua exploração, de direitos cujo objeto sejam recursos minerais ou florestais, ou bens aplicados nessa exploração. Conforme pronunciamento CPC 01 (R1), periodicamente a entidade deverá efetuar uma análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que sejam: registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou atividade a que se destinavam ou quando comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor; revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, amortização e exaustão. Os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser avaliados pelo valor de mercado, quando esse for o costume mercantil aceito pela técnica contábil. Avaliação do passivo Os elementos dos passivos serão avaliados conforme definido no art. 184 da Lei no 6.404/1976: I. as obrigações, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis, inclusive o imposto sobre a renda a pagar com base no resultado do exercício, serão comutados pelo valor atualizado até a data do balanço; II. as obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de paridade cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na data do balanço; III. as obrigações, os encargos e os riscos classificados no passivo não circulante serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. Procedimentos necessários para elaboração do balanço patrimonial Após a verificação do saldo atual das contas patrimoniais e de resultado, faz-se a análise detalhada da posição individual de cada elemento e, nada mais havendo a ser feito, apura-se o resultado, a fim de apresentar a demonstração do resultado e o balanço patrimonial correspondente ao referido período. Apresentação analítica do balanço patrimonial Conhecer a situação econômico-financeira é fundamental para a tomada de decisões a respeito de determinada entidade. O balanço patrimonial apresentado a seguir é uma das peças necessárias dentro do conjunto do produto final da contabilidade. Balanço patrimonial Ativo Ativo circulante Disponibilidades Caixa Bancos conta movimento Aplicações de liquidez imediata Créditos Duplicatas a receber (–) Ajuste a valor presente (–) Perda estimada em créditos de liquidação duvidosa Outros créditos Títulos a receber Aplicações financeiras Adiantamentos a empregados Estoque Matérias-primas Produtos em processo de fabricação Material de embalagem Produtos acabados Mercadorias Material de escritório (–) Provisão para ajuste a valor de mercado Despesas do exercício seguinte Prêmios de seguros a apropriar Juros a apropriar Ativo não circulante Realizável a longo prazo Créditos Duplicatas a receber Outros créditos Depósitos judiciais Depósitos compulsórios Valores a receber de pessoas ligadas Investimentos Participações permanentes em outras sociedades (–) Provisões estimadas Propriedades para investimentos Imóveis de renda Imobilizado Veículos Móveis e utensílios Prédios (–) Depreciação acumulada Intangível Marcas e nomes de produtos Fundos de comércio Desenvolvimento de software Goodwill (–) Amortização acumulada (–) Perda por irrecuperabilidade Total do ativo Passivo Passivo circulante Obrigações Fornecedores Duplicatas descontadas (–) Encargos financeiros a transcorrer Salários a pagar Impostos a recolher Passivo não circulante Exigível a longo prazo Obrigações Empréstimos a pagar Financiamentos a pagar Debêntures a pagar Impostos a recolher Patrimônio líquido Capital social Capital subscrito (–) Capital a subscrever Reservas Reservas de capital Reservas de lucro Ajustes de avaliação patrimonial (–) Ações em tesouraria (–) Prejuízo acumulado Total do passivo + patrimônio líquido Apresentamos a formação da estrutura patrimonial de uma entidade, seus elementos ativos, passivos e patrimônio líquido, a lógica de enquadramentos e avaliação desses diversos elementos. Demonstração do resultado do exercício (DRE) Essa demonstração apresentará informações relativas a um determinado período de apuração, enquanto no balanço patrimonial a informação corresponde ao dia da apresentação. Na demonstração do resultado, a informação corresponde ao intervalo de tempo entre os dois balanços. Na DRE, encontraremos todos os elementos que se caracterizam como receitas e despesas reconhecidas dentro do período. O confronto entre as receitas e as despesas evidenciará o resultado da entidade no respectivo momento da apuração. O resultado, quer dizer, o lucro ou o prejuízo do exercício será determinado pela diferença entre as receitas reconhecidas menos as despesas incorridas. O quadro 12 apresenta a representação simplificada da demonstração de resultado. Quadro 12 REPRESENTAÇÃO SIMPLIFICADA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO Demonstração do resultado Receitas(–) Despesas (=) Lucro ou prejuízo do exercício Como disposto no art. 187 da Lei no 6.404/1976, serão apresentados na demonstração do resultado do exercício: I. a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II. a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e dos serviços vendidos e o lucro bruto; III. as despesas com vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas e outras despesas operacionais; IV. o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; V. o resultado do exercício antes do imposto de renda e a provisão para imposto; VI. as participações de debenturistas, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; VII. o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ações do capital social. A Lei no 11.941/2009, no art. 187, inciso IV, substituiu a expressão “receitas e despesas não operacionais” por “outras receitas e despesas”, ficando, dessa forma, em consonância com as normas internacionais; eliminou-se a expressão “não operacional”. Os ganhos ou as perdas na venda de ativos não circulantes que fazem parte do investimento, imobilizado ou intangível irão compor outras receitas ou outras despesas. É importante destacar a diferença entre o reconhecimento das receitas e o fluxo de caixa, as entradas de recursos provenientes das receitas geradas. O fato de haver receitas não se caracteriza, necessariamente, como fluxo positivo para nosso caixa, visto que as receitas serão reconhecidas quando da sua ocorrência e não quando do recebimento dos recursos. O fato de haver receita não significa que a entidade possua liquidez, sendo necessário, muitas das vezes, buscar fontes de financiamentos para atender a sua demanda de recursos. Equilibrar as receitas com a demanda de fluxo positivo de caixa não é tarefa nada fácil. Requer uma política extremamente racional de realização das vendas e respectivas cobranças, um esforço muito grande por parte dos gestores. A contabilização dos fatos é feita com base no regime de competência. As receitas serão reconhecidas quando de sua ocorrência e não quando de seu recebimento, assim como os gastos relacionados a essas receitas serão reconhecidos quando de sua ocorrência e não quando de seu pagamento. Pode-se perceber que o resultado da entidade em determinado período é apurado confrontando-se as receitas e os ganhos gerados, independentemente de seu recebimento, com as despesas, os encargos ou as perdas incorridos, independentemente do respectivo pagamento. O quadro 13 apresenta a representação analítica da demonstração do resultado com os diversos grupos de contas integrantes de sua estrutura. Quadro 13 REPRESENTAÇÃO ANALÍTICA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (CLASSIFICADO POR FUNÇÃO) Receita operacional líquida (–) Custo (=) Lucro bruto (–) Despesas operacionais Despesas administrativas e gerais Despesas comerciais (+/–) Outras receitas e despesas operacionais (+/–) Resultado da equivalência patrimonial Receitas de aluguéis (+/–) Resultado financeiro Despesas financeiras Receitas financeiras (=) Resultado operacional líquido (+) Outras receitas (–) Outras despesas (=) Resultado líquido antes da contribuição social e imposto de renda (–) Contribuição social sobre o lucro líquido e imposto de renda (=) Resultado do exercício depois dos impostos (–) Participações (=) Resultado líquido do exercício Ao término dessa demonstração, no caso das sociedades por ações, é obrigatório demonstrar o lucro ou prejuízo por ação do capital social. Vamos descrever a composição dos diversos grupos de contas integrantes dessa demonstração: receita operacional líquida; custo; lucro bruto; despesas operacionais – necessárias à estrutura de funcionamento da entidade, estão associadas às atividades principais e secundárias; outras receitas e despesas operacionais; resultado financeiro; resultado operacional líquido; outras receitas ou outras despesas; resultado líquido antes da contribuição social e do imposto de renda; contribuição social sobre o lucro e imposto de renda – tributos; participações – distribuição, a quem de direito, da parte que lhe cabe no resultado da empresa; resultado líquido do exercício – representa o lucro líquido da empresa proveniente daquele período de apuração. É obrigatória a indicação do lucro ou do prejuízo por ação, por força do disposto no art. 187, inciso VII, da Lei no 6.404/1976. Demonstração do resultado abrangente total Resultado abrangente total é a mudança no patrimônio líquido, durante o período, que resulta de transações e outros eventos que não os derivados de transações com os proprietários na sua capacidade de proprietários. A seguir, detalharemos cada elemento que o compõe: resultado do período – é o total das receitas deduzido das despesas, exceto os itens reconhecidos como outros resultados abrangentes no patrimônio líquido; ajuste de reclassificação – é o valor reclassificado para o resultado no período corrente que foi inicialmente reconhecido como outros resultados abrangentes, no período corrente ou em período anterior; o resultado abrangente total compreende todos os componentes da demonstração do resultado e da demonstração dos outros resultados abrangentes. O quadro 14 permite visualizar a estrutura da demonstração do resultado abrangente total. Quadro 14 ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE TOTAL Resultado líquido do exercício Outros resultados abrangentes (+/–) Acréscimos/decréscimos de PL que não transitaram pelo resultado nem vieram de sócios (+/–) Ajustes de avaliação patrimonial (=) Resultado abrangente total do exercício A linha outros resultados abrangentes compreende itens de receita e despesa (incluindo ajustes de reclassificação) que não são reconhecidos na demonstração do resultado como requerido ou permitido pelos pronunciamentos, interpretações e orientações emitidos pelo CPC. Os componentes dos outros resultados abrangentes incluem: variações na reserva de reavaliação quando permitidas legalmente (veja pronunciamentos técnicos CPC 27 – Ativo imobilizado e CPC 04 (R1) – Ativo intangível); ganhos e perdas atuariais em planos de pensão com benefício definido, reconhecidos conforme item 93A do Pronunciamento Técnico CPC 33 – Benefícios a empregados; ganhos e perdas derivados de conversão de demonstrações contábeis de operações no exterior (veja Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2) – Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis); ajuste de avaliação patrimonial relativo aos ganhos e perdas na remensuração de ativos financeiros disponíveis para venda (veja Pronunciamento Técnico CPC 38 – Instrumentos financeiros: reconhecimento e mensuração); ajuste de avaliação patrimonial relativo à efetiva parcela de ganhos ou perdas de instrumentos de hedge em hedge de fluxo de caixa (ver também Pronunciamento Técnico CPC 38). Apresentamos a formação e estrutura da demonstração do resultado da entidade e demonstração do resultado abrangente total, os tipos de receitas, ganhos, custos, despesas e perdas, além de critérios de reconhecimento das receitas e despesas. Demonstração dos fluxos de caixa Essa demonstração substitui a demonstração das origens e aplicações de recursos. Sua obrigatoriedade se deu pela Lei no 11.638/2007, art. 176, inciso IV, e as normas para sua elaboração foram definidas por meio do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 03). O art. 1o da Lei no 11.638/2007 altera o §6o do art. 176 da Lei no 6.404/1976 ao determinar que companhias
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