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Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria Crescimento e Desenvolvimento Craniofacial As más posições dentais muitas vezes encontram-se associadas a irregularidades no posicionamento espacial da maxila, mandíbula e de ambos com a base do crânio, refletindo-se diretamente nos objetivos do tratamento. Logo, o crescimento e desenvolvimento craniofacial dentro dos padrões normais são essenciais para uma harmoniosa estética facial. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Crescimento → Representa um aumento de volume permanente e irreversível, porém limitado, no tempo e no espaço, em duração e grandeza. Desenvolvimento → Progredir no sentido da maturidade. Ex.: Cérebro (crescimento é completado na vida pós-natal, entretanto o desenvolvimento de funções psíquicas somente é alcançado tardiamente). O crescimento e desenvolvimento são fenômenos praticamente inseparáveis. Crescimento celular; Crescimento dos tecidos → Os tecidos crescem devido aos processos de hiperplasia, hipertrofia e hipertrofoplasia. Hiperplasia é o aumento no número de celular; Hipertrofia é o aumento no tamanho da célula ou da massa de substância intercelular produzida; Hipertrofoplasia é a ação conjunta e ordenada dos dois processos. É necessário fazer referência a três outros processos, nesse contexto: Processos de crescimento intersticial, aposicional e intersticioaposicional. Intersticial consiste na anexação de novos elementos celulares nos interstícios dos já existentes (a maioria dos tecidos cresce dessa maneira, como o tecido epitelial). Aposicional é baseado na anexação de novos elementos em camadas superpostas aos já existentes, à exemplo do tecido ósseo. Intersticioaposicional os dois processos citados funcionam coordenadamente. Exemplo: cartilagens, que por ter crescimento intersticial e aposicional tem a velocidade de crescimento maior que a do tecido ósseo, motivo por ele se situar nas áreas denominadas áreas de ajuste incremental. VELOCIDADE DE CRESCIMENTO Scammon e colaboradores demonstraram o crescimento diferencial dos diversos tecidos orgânicos agrupados em 4 padrões: - Padrão Geral - Padrão Neural - Padrão Linfático - Padrão Genital. Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria Padrão geral = Ossos, músculos e vísceras Padrão neural = Cérebro, medula espinhal, bulbos oculares, parte do ouvido interno e neurocrânio Padrão linfático = Timo, linfonodos, tonsilas e tecidos linfóides do tubo digestivo Padrão genital = Ovários, testículos, órgãos reprodutores acessórios e genitália externa Segundo Graber, o neurocrânio se ajusta ao crescimento neural, o esplenocrânio (face) ao padrão geral e a base do crânio, pela complexidade, pode ter fatores genéticos intrínsecos como o padrão de crescimento semelhante ao esqueleto da face, em algumas dimensões. FATORES DE CRESCIMENTO → Primários: Hereditariedade, podem ser afetados por fatores externos (como a nutrição). Os fatores genéticos que controlam o crescimento o fazem pelo menos parcialmente, com atuação sobre o metabolismo de células em multiplicação. Esses fatores são responsáveis por perturbações no controle que os órgãos endócrinos exercem sobre processos de crescimento. Também são responsáveis por alterações na sensibilidade dos tecidos que vão responder estímulos hormonais. → Secundários: Múltiplos fatores, sendo alguns deles: questões pré-natais, condições somáticas próprias dos indivíduos recém-nascidos (prematuro ou não), condições socioeconômicas, alimentação. Dentre as doenças que influenciam o crescimento e atingem populações inteiras temos: Malária, bócio endêmico, entre outras. Adenoidismo provoca dificuldade respiratória e gera deformidade craniofacial. Os dois fatores podem ser catalogados: Constituição (Fator Genético) Temperatura Nutrição Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria Fatores Embrionários Fatores Hormonais CRESCIMENTO DO ESQUELETO CRANIOFACIAL Inúmera más oclusões são consequência de alterações do crescimento normal de peças esqueléticas localizadas à distância dos arcos dentais. 1. CRESCIMENTO ÓSSEO: O osso é altamente metabolizado e, apesar da dureza, é um dos mais plásticos e maleáveis tecidos orgânicos. Apresenta atividade contínua e equilibrada durante toda a vida do indivíduo. É originado de tecido conjuntivo, mas até a edificação final pode passar por um modelo membranoso ou cartilaginoso. Mesênquima → Tecido Conjuntivo → Modelo membranoso e modelo cartilaginoso → OSSO É composto por osteócitos + substância intercelular. Osteócitos são do tipo osteoblastos e osteoclastos. Essas células se diferenciam de células mesenquimatosas. - Osso com origem no modelo cartilaginoso: Mesênquima condensa e forma pré-cartilagem, diferenciam-se em condrócitos (células cartilaginosas) que elaboram uma substância intercelular (esboço da peça óssea). Esse modelo é destruído e substituído por osso. Portanto, na ossificação dita cartilaginosa, o modelo original é totalmente destruído (menos em regiões entre as epilises e diáfises de ossos longos - onde persiste a cartilagem primordial, denominada cartilagem de crescimento ou epifisária que é responsável pelo crescimento em comprimento dos ossos). Os ossos podem ter origem membranosa quando os osteoblastos surgem diretamente de uma concentração de células mesenquimatosas, indiferenciadas, para haver a formação da peça óssea. O esqueleto cefálico, base do crânio, revestimento da cabeça do côndilo mandibular e o septo nasal têm origem em modelo cartilaginoso. 2. PERIÓSTEO E ENDÓSTEO Membranas conjuntivas que revestem externa (periósteo) e internamente (endósteo) as superfícies ósseas. Função: Nutrição do osso. Fonte de osteoblastos que promovem crescimento e reparação óssea. Periósteo é formado de tecido conjuntivo denso e bastante fibroso. Fibras de Sharpey unem periósteo ao tecido ósseo. Endósteo é parecido com o periósteo, porém é mais delgado e não é dividido em duas camadas (celular e vascular). Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria 3. CRESCIMENTO DE OSSOS LONGOS Cartilagem epifisária é responsável pelo aumento em crescimento do osso. No RX da mão e punho verificamos indicativos precisos da idade óssea do indivíduo: o desaparecimento da cartilagem de crescimento dos ossos da mão, rádio e cúbito informa que o crescimento longitudinal do indivíduo não poderá mais ocorrer. O exame radiológico da mão e punho é uma possibilidade para fornecer idade esqueletal ou óssea de forma precisa e nos orientar sobre o crescimento do indivíduo. 4. MECANISMO DE CRESCIMENTO Aposição e reabsorção. O osso cresce de maneira aposicional à custa do periósteo e do endósteo. Em áreas de formação óssea cartilaginosa/endocontral (base do crânio, ossos com articulações móveis -mandíbula-, ossos da mão e punho) o osso não é formado diretamente da cartilagem e sim ele a invade, substituindo-a. O mecanismo de crescimento é ativo nos jovens, há maior aposição óssea que reabsorção. No adulto há um equilíbrio.- Remodelação - Deslizamento - Deslocamento O osso não cresce igualmente em toda extensão pelo processo de aposição e reabsorção. O processo de aposição em uma área óssea e reabsorção na área oposta produz movimento de deslizamento. O palato sofre processo de deslizamento no sentido vertical face à reabsorção da lâmina óssea na superfície nasal e aposição na bucal. Durante o crescimento toda peça óssea pode sofrer deslocamento espacial resultante da pressão ou tração de diferentes ossos, tecidos moles circunvizinhos ou aparelhos ortopédicos especializados. 5. CRESCIMENTO DO ESQUELETO FACIAL a) Crescimento da MAXILA Realizada em modelo intramembranoso por aposição e reabsorção em quase toda extensão e por proliferação do tecido conjuntivo sutural nos pontos em que esse osso se conecta com peças vizinhas (frontal, zigomáticos, palatino, processo pterigóide do esfenóide). O principal centro de crescimento se localiza na região do túber. Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria No crescimento da maxila, em vista das conexões com a base do crânio, o desenvolvimento (que é de origem cartilaginosa) influi na de origem membranosa (maxila). O septo nasal cartilagíneo serve de orientador no crescimento para baixo e para diante do complexo maxilar. A maxila tem um trajeto predominante de crescimento para trás e para cima, mas o deslizamento é para a frente e para baixo. O crescimento alveolar se faz em função das diferentes peças dentais que aloja. ÁREAS DE APOSIÇÃO ÁREAS DE REABSORÇÃO Túber Porção nasal do processo palatino do maxilar Processo alveolar Superfície vestibular da maxila anterior ao processo zigomático Região da espinha nasal anterior Região do seio maxilar Suturas: Frontomaxilar, Zigomaticomaxilar, Pterigopalatina Superfície bucal do palato Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria b) Crescimento da MANDÍBULA Apresenta origem membranosa e é desenvolvido lateralmente à cartilagem de Meckel, componente cartilaginoso do primeiro arco branquial. Com o tempo essa cartilagem regride, sobrando aquelas duas pequenas porções que formarão os ossos bigorna e martelo. Na região do côndilo, apófise coronóide e ângulo mandibular, forma-se tecido cartilaginoso no qual a ossificação exercerá papel importante no crescimento mandibular: A proliferação do tecido cartilaginoso da cabeça da mandíbula, aposição e reabsorção superficial no corpo e ramo ascendente se constituem no mecanismo de crescimento desse osso. O côndilo é considerado o principal centro de crescimento mandibular pela presença da cartilagem hialina, que é recoberta por uma grossa camada de tecido conjuntivo fibroso e promove crescimento aposicional. Alguns autores discordam e acreditam que o côndilo apenas faz um ajuste secundário no desenvolvimento do osso. Crescimento ósseo periostal (aposição e reabsorção) nas superfícies da mandíbula, remodelando-o e provocando os movimentos de deslizamento e deslocamento. ÁREAS DE APOSIÇÃO ÁREAS DE REABSORÇÃO Côndilo Borda anterior do ramo ascendente Borda posterior do ramo ascendente Região supramentoniana (ponto B) Processo alveolar Borda inferior do corpo Chanfradura sigmóide Processo coronóide Mento Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria Assim como na maxila, na mandíbula ocorre intenso crescimento na borda posterior do ramo ascendente, o que promove espaço para a erupção dos molares permanentes. O aumento em largura desse osso pouco muda após o sexto ano de vida. c) Crescimento da BASE e ABÓBODA CRANIANA Base do crânio tem crescimento endocondral ou cartilaginoso e abóbada craniana membranoso ou intramembranosa. Na base do crânio há crescimento no sentido anteroposterior às expensas das sincondroses esfenocciptal, esfenoetmoidal, interesfenoidal e intra-occiptal. O crescimento da base craniana tem efeito direto no posicionamento espacial da parte média da face e mandíbula. A abóbada craniana tem crescimento em modelo membranoso, sendo um crescimento secundário e de adaptação ao aumento do cérebro. 6. TENDÊNCIAS DO CRESCIMENTO FACIAL Os ossos componentes da face podem apresentar diferentes velocidades e direções de crescimento, gerando desarmonias faciais e oclusais. 3 tipos de tendências de crescimento (Tweed) - Tipo A: Maxila e mandíbula crescem em harmonia para baixo e para frente. O prognóstico para o tratamento é favorável. - Tipo B: Maxila cresce mais rápido que mandíbula. - Tipo C: Mandíbula cresce mais rápido que maxila. Prognóstico clínico muito bom. 7. FATORES QUE CONTROLAM O CRESCIMENTO FACIAL Fatores genéticos e intrínsecos: Inerentes aos tecidos craniofaciais. Epigenéticos locais: Representados por órgãos que têm o próprio contingente genético e manifestam influência sobre as estruturas com os quais se relacionam (matrizes funcionais de Moss). Epigenéticos gerais: Hormônios sexuais. Ambientais locais: Influências locais não genéticas do ambiente externo (pressão externo,a forças musculares). Ambientais gerais: Se originam do ambiente externo (suprimento alimentar, oxigênio). Moyers → Controle do crescimento craniano: 1. Fatores genéticos intrínsecos: Controlam o crescimento do condrocrânio. 2. Fatores genéticos intrínsecos: Controle do crescimento do desmocrânio (alguns). 3. Cartilagens na cabeça óssea são centros de crescimento. 4. Crescimento sutural é controlado fundamentalmente por fatores originários das cartilagens da cabeça e outras estruturas contíguas. Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria 5. O controle do crescimento perióstico é realizado principalmente pela influência originária de estruturas adjacentes à cabeça. 6. Complementarmente o crescimento sutural e perióstico são governados por influências ambientais não genéticas locais, inclusive forças musculares. 7. Influências ambientais não genéticas locais de certa maneira, controlam o crescimento do côndilo mandibular. O esqueleto craniofacial é constituído em um conjunto de áreas funcionais independentes que são partes ósseas delimitando espaços ocupados por tecidos moles relacionados a distintas funções (respiração, visão, fonação e olfato). Esses tecidos moles representam as matrizes funcionais, em torno das quais se forma o osso. As más oclusões frequentemente são consequências de alterações esqueléticas localizadas em regiões afastadas dos arcos dentários. A oclusão não depende apenas do modelo de erupção dos dentes, mas, principalmente, do padrão de crescimento dos ossos componentes do esqueleto facial e base do crânio. O esperado durante a fase de crescimento não é um aumento de volume das partes, mas sim uma relação harmoniosa das dimensões. → A base do crânio é controlada principalmente por fatores genéticos intrínsecos e influi no posicionamento espacial do complexo nasomaxilar que se move para cima e diante,durante o crescimento, devido inclinação do soalho cranial. → A mandíbula (crescimento cartilaginoso condilar) tem como resultado um movimento de deslocamento orientado para baixo e para frente. Essa direção divergente favorece o aumento vertical da face, permitindo erupção dental e correspondente formação do osso alveolar. → Manutenção da distância intercaninos nos tratamentos ortodônticos: O crescimento termina primeiro no crânio e depois na largura da face, depois profundidade e altura, o que gera pouca ou nenhuma mudança na largura do arco dental, região anterior aos primeiros molares permanentes após quinto ou sexto mês de vida. A manutenção dessa distância é com a finalidade de evitar (por movimentos expansionistas) recidivas indesejáveis. Essa distância é estabilizada no arco inferior em ambos os sexos entre 9 e 10 anos e na maxila aos 12 anos em meninas e 18 em meninos. → Apinhamento dos incisivos inferiores posterior ao tratamento ortodôntico é atribuído a um crescimento mandibular tardio no sentido anterior, após cessamento de aumento da maxila. Referência: FERREIRA, Flávio Vellini. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. In: Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2008. p.42 -62.
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