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Marina Michels Dotto - Acadêmica de Odontologia UFSM Resumo do livro Hibridização dos Tecidos Dentais Duros Dentística I 2018/02 Capítulo 1: Evolução da Adesão Entre Resina e Dentina 1. Interação entre dentina e cimentos > Cimentos Convencionais: Cimento de fosfato de zinco ainda é bem utilizado mas por razões biológicas o uso de CIV e cimento de carboxilato tem sido cada vez mais frequente. CIMENTO + LÍQUIDO Fosfato de Zinco - Ácido Fosfórico Policarboxilato - Ácido Poliacrílico CIV - Ácido Poliacrílico Resina - Metacrilatos (monômeros derivados) Dissolvem-se lentamente e sofrem erosão nos fluidos dentais -> coloca-se no esmalte e dentina antes da geleificação. Mecanismo de ação do CIV à estruturas dentais: baseado na quelação do Ca++ entre a matriz do cimento e a estrutura mineralizada do dente. O pkA do ácido fosfórico é maior do que do ácido poliacrílico, logo ele desmineraliza mais a dentina. Esses cimentos acídicos são colocados sobre a camada de lama dentinária do esmalte ou dentina, para agir primeiro com essa camada, já que ela não é estável. Durante a formação, a lama dentinária é brunida para a superfície adjacente, dessa forma fica impossível remover esfregando e enxaguando. Porém, as partículas que compõem essa lama dentinária são pequenas, o que acaba facilitando a rápida desmineralização nos ácidos ou lenta dissolução em fluidos orais (se dissolvem em 7 dias). Quando essa lama dentinária está coberta por cimentos ou outros materiais restauradores ela solubiliza-se de forma mais lenta do que a exposta em fluidos orais (mas ainda pode se dissolver com o tempo). A lama dentinária faz-se presente em todas as superfícies dentais preparadas com instrumentos cortantes e, frequentemente, são os únicos substratos clínicos disponíveis. PASTAS ACÍDICAS podem condicionar através da lama dentinária a dentina subjacente antes da reação de presa, mas: dentina ficaria desmineralizada e sensível. Lama dentinária: espessura de 0,5 a 2,0 micrômetro, sua composição reflete o tecido de onde é formado. É um excelente tamponador (que nem a dentina) devido presença de colágeno e fosfato trivalente na hidroxiapatita. Mas essa capacidade de tampão na presença de ácido pode ser sobrepujada. CIMENTO DE FOSFATO DE ZINCO tem uma viscosidade relativamente alta que tende a limitar a difusão. Modificações similares são encontrados embaixo dos CIMENTOS DE POLICARBOXILATO e CIV (mineral fica fosfato de Ca++ amorfo). Essas desmineralizações não são suficientes para remover o smear plug (=tampões de lama dentinária dentro dos túbulos) logo a permeabilidade desses túbulos abaixo dos cimentos permanece baixa. Mas ao lavar os cimentos antes de tomarem presa, há severo condicionamento da superfície. Dentina ligeiramente desmineralizada abaixo de cimentos acídicos é vulnerável à ação hidrolítica dos fluidos orais ao longo do tempo. Fibras colágenas desmineralizadas são mais propensas à essa hidrólise. Cimentos de Fosfato de Zn endurecidos podem ter vida longa entre esmalte e restauração protética do que entre dentina e restauração protética. Entretanto, dentina desmineralizada sob cimento permite melhor difusão dos fluidos orais que podem dissolver o cimento. Por isso dentistas condicionam superfícies dentinárias com ácido quando usam cimentos acídicos para cimentação ou base em prep cavitários que incluem dentina. Logo, esses cimentos são autocondicionantes, propriedade que faz com que facilite a habilidade em umedecer e adaptar-se em superfícies dentinárias irregulares. > Cimentos Resinosos: Maior desgaste de dentina devido preparos de coroas totais com uma grande quantidade de esmalte remanescente na dentina. Logo, dentina hibridizada pode ser considerada um esmalte artificial. Cimentos resinosos adesivos: agentes de fixação. São insolúveis aos fluidos orais e produzem uma força de união muito alta entre esmalte e dentina. São polimerizáveis. Produz selamento da dentina, ou seja, previne cáries recorrentes e protege a polpa contra irritações. Esmalte e dentina condicionados antes do cimento resinoso, há infiltração dos monômeros nesses tecidos, formando a camada híbrida. Substituição do mineral pela resina na subsuperfície dos tecidos mineralizados é a essência dessa camada. Dentina hibridizada é uma mistura em nível molecular de colágeno e polímeros resinosos. Normalmente não permite muita difusão de monômero em sua substância, logo deve ser condicionada de forma correta para que permita essa difusão, levando a uma boa afinidade pela dentina desmineralizada, no substrato. Essas superfícies dentinárias preparadas apresentam uma cobertura de lama dentinária, que adere fracamente na superfície da dentina intacta. O condicionamento da dentina envolve a remoção ou modificação dessa lama dentinária, permitindo melhor a difusão dos monômeros na matriz colágena desmineralizada. Primers dentinários tem a função de resgatar ou manter a porosidade da dentina desmineralizada. Também conserva a umidade dessa dentina, em prevenção ao colapso da mesma. 2. Definições Adesão: mecanismo que une dois materiais em íntimo contato através de uma interface. Abrange 3 mecanismos: a) Adesão Química - forças de valência primária = covalente ou iônica união metálica. b) Adesão Física - forças de valência secundária = Pontes de H ou Forças de Van Der Waals, Forças de Dispersão de London c) Adesão Metálica - Depende da penetração do material e outro diferente. Prolongamento de Resina: Extensão do adesivo resinoso dentro dos túbulos dentinários abertos. Geralmente é 100% adesivo. Prolongamentos Hibridizados: Quando os prolongamentos de resina são hibridizados pela polimerização nas paredes dos túbulos. Bioafinidade: Se a substância se adsorve a um biomaterial ou quando pode produzir uma íntima união com ele = há afinidade pelo material biológico. Biocompatibilidade: Sistemas adesivos que formam união estável com tecidos biológicos ou que permitem a cicatrização de ferimentos e a diferenciação de tecidos duros são classificados como biocompatíveis. O evento chave para determinar se o material é biocompatível é a capacidade de interagir ou não com tecidos biológicos. Por exemplo, alguns monômeros dos adesivos resinosos podem infiltrar nas fibras colágenas úmidas e formar junções estáveis entre dentina e esmalte. Embricamento: A mistura entre ou a intergerminação de 2 diferentes tipos de correntes poliméricas. Tecidos dentais duros hibridizados, camada híbrida: É a estrutura formada nos tecidos dentais duros pela desmineralização da superfície e subsuperfície, seguido pela infiltração de monômeros e polimerização. Hibridização: Processo de criar uma camada híbrida nos tecidos dentais duros. Interface: Junção entre 2 materiais diferentes. Interfase: Zona de ligação (ponto de contato) entre 2 materiais diferentes. 3. Formação da Camada Híbrida Possível definir essa camada como uma infiltração de resina no esmalte, dentina ou cemento. As propriedades (tanto químicas quanto físicas) são bem diferentes da estrutura original devido à desmineralização e infiltração com resina. O resultado é um híbrido entre estrutura do dente e resina. A fase mineral de um tecido duro é propositalmente dissolvida para expor a matriz colágena da dentina, depois essa matriz é infiltrada com monômero de resina para mudar intencionalmente as propriedades F e Q dos tecidos dentais duros. A alta qualidade da camada híbrida resiste ao ataque ácido. A infiltração de resina envolve os cristalitos de apatita do esmalte tornando-os ácido resistentes. Os 3 principais tecidos duros são: dentina, esmalte e osso. Ao contrário do osso, os tecidos dentais duros não se regeneram. Quando um material biocompatível, como implante dental, é colocadoem contato íntimo com isso, novos tecidos duros preenchem o espaço e eles tornam-se unidos. Por outro lado, quando um material é colocado em íntimo contato com a estrutura dental, não se desenvolve conexão pois não há atividade biológica de tecidos moles entre as 2 estruturas para promover essa regeneração. Para resolver esse problema: deve ser usado um líquido inicialmente para formar um contato íntimo entre o biomaterial (monômero) e o tecido, o líquido penetra e é convertido (por polimerização) em sólido. 4.Perspectiva Histórica > Primeiras adesões dentinárias: Lama dentinária criada por pontas diamantadas (F e FF) geram uma adesividade menor (5 MPa) do que em brocas carbide (8 MPa). Entretanto, quando a lâmina dentinária é removida pelo ataque ácido, não há diferença entre as forças de adesão resina-dentina nas diferentes superfícies preparadas. O que era importante na adesão era a permeabilidade do substrato para o monômero e a capacidade de difusão por dentro do substrato. > O Conceito do Condicionamento Ácido: Ácido fosfórico gel a 40% gerou um bom condicionamento ácido do esmalte, mas sobrecondicionou a dentina. Naquela época não se tinha o conhecimento de que secar a dentina desmineralizada gerava um colapso. Primeiras instruções eram condicionar, lavar e secar (promove colapso das fibras colágenas). Wang e Nakabayashi (em 1991) descobriram que a função do Fenil-P era semelhante à do 4-META. Esses monômeros promoviam a penetração do comonômero para dentro da dentina desmineralizada. 5. Dificuldades Para a Adesão Química da Resina na Dentina > Dentina Mineralizada: Essa dentina tem poucos poros que permitem a infiltração de monômeros em período clinicamente relevante, com exceção dos túbulos dentinários. O ataque ácido remove a fase mineral e aumenta os poros dessas superfícies (em esmalte e dentina). Poros são o resultado da presença de túbulos dentinários. Quase que 87% do remanescente da superfície consiste em dentina intertubular desmineralizada que tem espaços ao redor da fibra colágena. Logo, o ataque ácido converte uma superfície sólida em porosa e não sólida. > Temperatura: É um segundo problema. Lentes de contato macias ou duras implantáveis são produzidas comercialmente, elas são processadas a elevadas temperaturas e pressões por várias horas, tudo para que seja assegurada a conversão do monômero em polímero. No fim, há pouco monômero residual e os polímeros resultantes têm ótimas propriedades físicas. ISSO NÃO É POSSÍVEL EM ODONTO! Pois dentistas não podem permitir que a temperatura pulpar ultrapasse 40ºC a 42ºC. Reação deve complementar em alguns minutos sob pressão atmosférica, na presença de água e oxigênio e temperatura corpórea normal. > Colágeno: A rede de fibras colágenas expostas não é puro colágeno. Essas fibras são cobertas por extensões diferentes de proteínas não-colágenas e proteoglicanos, que são altamente hidratados. Se os adesivos monômeros são usados eles competem com água por estas superfícies. Colágeno é um polímero biológico constituído de cadeias peptídicas de colágeno. Se realmente ocorre adesão química, contribui de forma mínima para a adesão da resina na dentina, maior parte dessa retenção é o resultado do entrelaçamento molecular da cadeia polimérica com as fibras colágenas. > Dor Dentária: Na obtenção de uma rápida difusão do monômero adesivo na dentina desmineralizada é usada altas concentrações de monômero pois a difusão é diretamente proporcional às concentrações usadas. > Baixa Adesividade: As primeiras resinas apresentaram adversas reações pulpares, a conclusão foi de que esses materiais não eram biologicamente compatíveis. Quando resinas penetravam em túbulos que foram abertos pelo condicionamento ácido mas não pela matriz dentinária intertubular desmineralizada a resistência da união ficava em torno de 3 a 5 MPa. Porém se usava-se condicionantes e formulações apropriadas, permitia-se aos monômeros adesivos a penetração nessa dentina desmineralizada e uma força de adesão maior era obtida. 6. Tratamento da Lama Dentinária Criada durante o preparo do esmalte e dentina, a lama dentinária complica na adesão da resina. Ela deve servir como uma barreira que protege a polpa de estímulos nocivos, mas a função é temporária porque ela pode se dissolver em fluidos orais. Essa lama dentinária é contaminada por microorganismos e deve ser removida antes da adesão resinosa. O uso de ácidos para desmineralizar e remover a lama dentinária da superfície também desmineraliza a dentina subjacente intacta. O substrato adesivo é a matriz colágena. A rede desmineralizada de colágeno pode colapsar em vários casos, se for seca com ar. Logo, a adesão úmida foi desenvolvida com o propósito de prevenir esse colapso da rede de fibras colágenas geradas para manter a permeabilidade monomérica na dentina desmineralizada. Bom agente condicionador para removê-la: Cloreto férrico a 3% em ácido cítrico a 10%. Esses sistemas adesivos produzem excelente dentina hibridizada. O primer HEMA aplicado nessa matriz colapsada desmineralizada pelo ataque ácido a 10% aumentava sua permeabilidade gerando uma reexpansão da dentina desmineralizada encolhida, facilitando, dessa forma, a difusão do monômero adesivo e formação de dentina hibridizada. Outros ácidos tem sido usados para remover a lama dentinária e para desmineralizar a dentina intacta subjacente, como o ataque com ácido fosfórico, que desnatura peptídeos expostos durante a remoção da lama dentinária. O grau de desnaturação depende do ácido fosfórico e do tempo de exposição. As fibras colágenas desnaturadas e desmineralizadas facilmente colapsam durante a secagem do ar e perdem permeabilidade aos monômeros resinosos. Um primer efetivo é necessário!
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