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PRÁTICAS EM SERVIÇO SOCIAL IV
CAPÍTULO 1 - COMO ANALISAR O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DA CATEGORIA TRABALHO FRENTE ÀS EMERGENTES DEMANDAS PROFISSIONAIS?
Luana Priscila Farias da Silva
INICIAR
Introdução
Ao longo deste primeiro capítulo, abordaremos o Serviço Social enquanto categoria trabalho. Iniciaremos contextualizando as relações sociais sob a égide do modo de produção capitalista e, para isso,é importante realizar algumas reflexões: qual a relação existente entre capital e trabalho? Como o Serviço Social se consolidou enquanto profissão? Quais os rebatimentos do modo de produção capitalista para o mercado de trabalho do assistente social na contemporaneidade?
De acordo com esta sequência de pensamento guiaremosnosso estudo por uma abordagem crítico-dialética de apreensão da realidade, eentraremos em contato com o contexto sócio-histórico da institucionalização do Serviço Social enquanto profissão. Dando continuidade, trataremos das demandas profissionais que o Serviço Social vem incorporando a sua dinâmica de trabalho, fruto dos desdobramentos do capitalismo nas relações sociais contemporâneas.
Por fim, entenderemos as atribuições e competências inerentes ao assistente social no trabalho em organizações públicas e privadas.
Bom estudo!
1.1  O processo de trabalho no contexto das relações sociais capitalistas
O processo de trabalho foi essencialmente pensado e estudado relacionando-se basicamente ao referencial crítico dialético de Karl Marx (1867-1894), tendo a mesma premissa básica de transformação da natureza em material de utilidade para a vida em sociedade, contudo, temos que a dinâmica da vida em sociedade vem determinando ao longo da história reconfigurações que alteram os processos de trabalho em sua integralidade.
Nesse contexto, temos que a vida em sociedade não é estável, vivendo contínuo processo de transformação de acordo com a dinâmica dos condicionantes estruturais (família, religião, direito, economia e classes) que levam o indivíduo, os grupos e as classes para determinados caminhos.
Mas você sabe o que é processo de trabalho e como ele está diretamente relacionado ao Serviço Social em seu exercício profissional? Ao estudar com atenção os conteúdos estruturados a seguir, poderá encontrar as respostas para esta e outras indagações.
1.1.1        Processo de trabalho
Primeiro, o trabalho é um processo no qual participam o homem e a natureza, processo este em que o ser humano, por meio do movimento das forças naturais do seu corpo, apropria-se dos recursos naturais para imprimir-lhes forma útil à vida em sociedade.
O que diferencia o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. A capacidade teleológica, ou seja, de pensar antes de executar uma atividade pertence apenas aos seres humanos, e portanto, isto os diferencia dos outros seres. Nessa perspectiva, o resultado da transformação da natureza possui a finalidade de satisfazer necessidades para a vida em sociedade (MARX, 1998). 
De acordo com Marx (1968, p. 41): “[...] a mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia.”
Karl Marx foi filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, em 1818, passou parte de sua vida em Londres, no Reino Unido, onde morreu, em 1883. A obra de Marx em economia estabeleceu bases para o entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o capital. Publicou vários livros durante sua vida, sendo “O Manifesto Comunista” (MARX; ENGELS, 1848) e “O Capital” (1867-1894) os mais relevantes. No contexto do Serviço Social, na década de 1960, inicia-se uma interlocução entre setores da profissão e a tradição marxista (MARX, 1998).
Nesse contexto, a partir de uma concepção previamente idealizada o homem transforma o material projetando neste a finalidade objetivada em sua mente. Os elementos que compõem o processo de trabalho são:
· a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho;
· o material a ser transformado;
· os instrumentos de trabalho.
           
Pensando em matéria de Serviço Social, temos que o processo de trabalho do profissional não é exclusivo da categoria, de acordo com as palavras de Iamamoto (2005, p. 28): “[...] é preciso evitar uma superestimação artificial da profissão, pois este é um profissional chamado a desempenhar suas atribuições em um processo coletivo de trabalho.”
Nesse contexto, tenha-se presente que a análise do processo de trabalho é de fundamental importância para se pensar o labor perante a ofensiva neoliberal, bem como também enquanto categoria fundante da prática profissional.
1.1.2 O sentido do trabalho concreto e do trabalho abstrato
A transformação de matéria-prima em mercadoria determina a base do lucro do modo de produção capitalista a qual é medida de acordo com os investimentos no processo de produção, bem como também da força de trabalho necessária. Nesse contexto, temos os trabalhadores produtivos que atuam diretamente na transformação de matéria-prima em mercadoria, e também os trabalhadores improdutivos, os quais redistribuem as mercadorias no âmbito da circulação, desenvolvendo o mercado e, consequentemente, a geração de lucros e riqueza.
            De acordo com Tavares (2004, p. 12):
[...] o trabalho produtivo se distingue do trabalho improdutivo apenas pela função que aquele ocupa no interior da esfera do processo de acumulação: circulação-produção-realização. Nesse sentido, todos os trabalhadores assalariados diretamente pelo capital ou são produtivos ou improdutivos.
Assim sendo, o trabalho produtivo, bem como também o improdutivo, são elementos indispensáveis ao modo de produção capitalista; ambos estão ligados aos elementos que dão sustentação à produção e reprodução deste sistema através da circulação de mercadorias, geração de lucro e sustentação da relação existente entre capital e trabalho.
            Nesse contexto podemos compreender o duplo significado da categoria trabalho, o trabalho concreto e o abstrato. O primeiro diz respeito àquele que gera valor de uso;o segundogera valor da mercadoria, cuja predominância é desenvolvida pela lógica do capital.
            Em outras palavras, o trabalho concreto diz respeito à relação existente entre o homem e a natureza, em que é produzido objeto utilizável (valor de uso) indispensável à produção e reprodução humana, quanto às necessidades físicas e espirituais; nesse sentido, este é essencialmente qualitativo. Já o trabalho abstrato está relacionado com a mercadoria já existente, a qual reproduz uma valorização do capital através da produção de mais-valia, sendo este fundamentalmente quantitativo.
            A exemplo podemos citar a transformação de madeira em cadeira para ser utilizada no cotidiano da vida em sociedade. Nesse sentido, a madeira, ao ser transformada em cadeira, gera um valor de uso. O valor de mercadoria é gerado posteriormente, relaciona-se ao objeto em si, nesse caso a cadeira, a qual passa a ter um valor de acordo com a necessidade desta a vida em sociedade produzindo lucro, mais-valia para o capital.
1.1.3 A relação existente entre capital e trabalho
Pensar esta dupla dimensão provoca uma reflexão a respeito do processo histórico de consolidação, modernização e avanço do capitalismo na sociedade brasileira. Esse processo se manifesta sob uma ordem mundial pautada na hegemonia do capital financeiro e no contexto do ideário neoliberal, que determina uma relação de exploração e dominação do capital sobre o trabalho. Mas essa relação não diz respeito apenas à produção e reprodução da vida material sob a relação de compra e venda da força de trabalho. Ela também engloba um complexo mais amplo, envolvendo a totalidade da vida social, que é o que determina a consciência social e as expressões culturais existentes na vida em sociedade (TINTI, 2015).
Dessa maneira, a expansão do modo de produção capitalista decorredo desenvolvimento de diversas atividades, como, por exemplo, os investimentos na produção de bens e de capital, visando criar um excedente de mercadorias, o que é um fator fundamental para fazer girar o sistema capitalista.
O filme Tempos Modernos (CHAPLIN, 1936) conta a história de um trabalhador tentando sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Produzido, dirigido e protagonizado por Charles Chaplin, é considerado um clássico de forte crítica ao capitalismo, bem como à péssima qualidade de vida dos empregados durante a Revolução Industrial, a qual foi um conjunto de alterações ocorridas na Europa dos séculos XVIII e XIX. A principal característica dessa revolução foi a substituiçãodo trabalho artesanal pelo assalariado, e com uso de máquinas.
É a dinâmica específica do capital que determina sua relação com o trabalho,em moldes de exploração. Isso torna insignificante a relação do trabalhador com o que ele produz, o que se configura em um processo de desapropriação, o qual “se opera pela ação das leis imanentes à própria produção capitalista, pela centralização dos capitais” (MARX, 1994,  p. 881).
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Figura 1 - A imagem reflete o conjunto de transformações ocorridas no processo de produção no contexto da Revolução Industrial.Fonte: Everett Historical, Shutterstock, 2018.
Nesse contexto, o capitalismo fundado sob a produção de bens, acúmulo de riquezas e privatização dos lucros amplia as desigualdades sociais, reveladas, por exemplo, no contexto dos altos índices de desemprego, da intensificação da insegurança, da falta de recursos públicos para investimento em saúde e educação de qualidade.
Assim observamos, no contexto do Brasil inserido na economia globalizada, “[...] profundas alterações nas formas de produção e de gestão do trabalho perante as exigências do mercado mundial, sob o comando do capital financeiro, que alteram profundamente as relações entre o Estado e a sociedade” (IAMAMOTO, 2007, p. 142).
            Trata-se de um crescimento econômico que não garante melhorias estruturais ao bem-estar da população, e sim recessão, desemprego, redução dos postos de trabalho, potencializando a organização de grupos em situação de vulnerabilidade social, privados do acesso à produção, ao consumo e àcidadania. São os grupos não qualificados e sem competência técnica, em face da modernização tecnológica, engrossando as fileiras dos grupos desempregados e subempregados, que vivenciam situação de pobreza e de pauperismo. Tais características expressam as faces da denominada questão social, a qual é constituinte e constitutiva do desenvolvimento do capitalismo.
            Junto ao processo de consolidação e fortalecimento do capitalismo, é possível observar que a questão social toma novas configurações, com acentuada desigualdade social, proveniente da não distribuição da riqueza produzida. Essa desigualdade pode ser observada nos altos índices de desemprego, desregulamentação das relações de trabalho, com retrocesso aos direitos dos trabalhadores, aumento da exploração do trabalho e o agravamento da pobreza.
1.2 O Serviço Social e sua institucionalização enquanto categoria trabalho
O Serviço Social enquanto trabalho não possui historicamente seu exercício profissional vinculado diretamente àprodução de produtos e valores. Todavia, a profissão está inserida dentro do contexto da sociabilidade capitalista enquanto mediadora dos interesses do capital e da classe trabalhadora, contribuindo com a manutenção da ordem e produção de lucro.
            Dessa maneira, o Serviço Social do ponto de vista das ideias neoliberais constitui-se em uma atividade que, apesar de não ser diretamente produtiva, é indispensável e facilitadora do movimento do capital.
            Nesse contexto, faremos uma análise geral a respeito da trajetória de institucionalização da prática profissional dos assistentes sociais. Em seguida, promoveremos uma discussão a respeito do Serviço Social enquanto trabalho na sociabilidade capitalista contemporânea.
1.2.1 O processo de institucionalização do Serviço Social
A partir da década de 1930, mais especificamente durante o período de aprofundamento do modo de produção capitalista, com o desenvolvimento das forças produtivas, da concentração do capital ede novas exigências aos processos de trabalho afirmaram-se novas necessidades sociais.
 Nas palavras de Iamamoto (2002, p. 18): 
A partir das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século, o debate sobre a “questão social” atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a igreja a se posicionarem diante dela. [...] Para a igreja, a “questão social”, antes de ser econômico-política, é uma questão moral e religiosa. [...] o Estado (por sua vez) deve assim, preservar e regular a propriedade privada, impor limites legais aos excessos da exploração da força de trabalho e, ainda, tutelar os direitos de cada um, especialmente os que necessitam de amparo. Mas, o Estado não pode negar a independência da sociedade civil.
Nesse contexto, o surgimento do Serviço Social no Brasil está associado, de perto, com a análise moral da questão social que podemos observar advinda da Igreja Católica. Apesar disso, a criação das grandes instituições assistenciais é o quelegitima o Serviço Social enquanto profissão.
Dessa forma, o Serviço Social se legitima enquanto profissão nos anos de 1930, atuando diretamente na regulação da vida em sociedade com a administração dos conflitos de classe, mediando os interesses da classe dominante e legitimando os objetivos do capitalismo monopolista.
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Figura 2 - A desigualdade social é consequência da concentração de renda impulsionada pelo capitalismo monopolista e pela crescente globalização.Fonte: nuvolanevicata, Shutterstock, 2018.
O Estado e a Igreja Católica enfrentaram os reflexos da questão social através da prestação de serviços sociais em ajuda ao grande capital.
O capitalismo monopolista, também conhecido como capitalismo financeiro, faz referência a um tipo de economia em que o grande comércio e a indústria são controlados pelo poder econômico dos bancos comerciais e instituições financeiras. Surgiu em meados do século XX e está presente até os dias atuais. Por meio da concentração de renda, alteração dos processos de trabalho e substituição de mão de obra artesanal por industrial, o capitalismo monopolista marca a intensificação das desigualdades sociais (SANTOS, 2012).
A intervenção estatal investiu nos interesses da classe trabalhadora por meio do atendimento a parte das reivindicações populares, ampliando os direitos sociais mediante uma legislação social e sindical para, dessa forma, ganhar a aceitação da classe trabalhadora e mediar os conflitos de classe.
Nesse contexto, conforme afirma Prédes (2007, p. 17):
É nesse campo de intervenção social que se situam as políticas sociais e o Serviço Social, por isso podemos considerar que nas formas organizadas de enfrentamento dos desdobramentos da questão social está situada a base sócio-ocupacional do Serviço Social. Dessa forma, a questão social chega ao Serviço Social mediada pelas iniciativas e experiências institucionais, ou seja, os assistentes sociais intervêm sobre as manifestações da questão social através dos serviços sociais, de cuja operacionalização os profissionais participam.
Diante desse cenário, o Serviço Social atua assegurando o acesso aos serviços e benefícios controlado pelas políticas sociais. 
No livro “Capitalismo Monopolista e Serviço Social”, de José Paulo Netto (1992), o autor reafirma o pensamento de Iamamoto e Carvalho (1982), trazendo ainda reflexões fundamentais aos estudiosos das ciências humanas, do marxismo e, sobretudo, do Serviço Social. Trata-se de parte da tese de doutorado de Netto, avançando a produção do conhecimento em matéria de Serviço Social, bem como também em ideias importantes: o sincretismo, o papel do Estado, do capitalismo monopolista, das políticas sociais e sua relação com o ServiçoSocial, constituindo-se uma notável contribuição da tradição marxista, que vai além do Serviço Social.
Historicamente, a partir de aproximações com o materialismo dialético e afirmação de um projeto ético-político alicerçado em princípios emancipatórios da ordem social vigente, o exercício profissional do Serviço Social tem deixado de ser uma estrutura meramente vinculada ao assistencialismo e à caridade filantrópica, transformando-se em um mecanismo de execução das políticas sociais do Estado e dos setores privados. Atualmente, esse é um desafio inerente à profissão, desvincular o viés assistencialista com as novas formas de enfrentamento da questão social, enfrentadas através da operacionalização de políticas sociais e assistenciais.
Cabe ressaltar ainda a importância de um sujeito profissional atento à leitura da realidade social à qual está inserido. Esta dinâmica requer ir além das atividades estabelecidas pelas instituições, buscando apreender no movimento da realidade situações passíveis de serem apropriadas pelo profissional do Serviço Social e transformadas em projetos do exercício profissional, em busca de transformação da realidade em consonância ao que preconiza o projeto profissional da profissão.
1.2.2 O Serviço Social enquanto trabalho
Quando consideramos o capitalismo, vemos que o Serviço Social é uma especialização inserida em processos de trabalho, de acordo com o currículo mínimo do ano de 1996 (CARVALHO, 2016, p. 2). Contudo, dentro da categoria profissional há divergências com relação a esta afirmativa. Por exemplo, Iamamoto e Carvalho (1982) e Lessa (2000) defendem pontos de vista distintos, ambos fundamentados na teoria marxista, ou seja, em um mesmo universo teórico identificam o significado histórico da profissão sob perspectivas diferentes.
            Contudo, é certo que o Serviço Social enquanto trabalho foi estudado e formulado pela primeira vez por Marilda Vilela Iamamoto e Raul de Carvalho, autores de “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica”, publicado pela Editora Cortez, em 1982. O livro em questão aponta o Serviço Social como trabalho baseado numa leitura social crítica.
            Nesse contexto, no ano de 1996, temos o debate ampliado acerca do trabalho após a aprovação, pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) do currículo mínimo para os cursos de graduação em Serviço Social. Nesse documento, o Serviço Social é tratado como uma especialização do trabalho, o qual possui como objeto as múltiplas expressões da questão social. Nesse sentido, 
[...] permite recolocar as dimensões constitutivas do fazer profissional articuladas aos elementos fundamentais de todo e qualquer processo de trabalho: o objeto ou matéria prima sobre a qual incide a ação transformadora; os meios de trabalho - instrumentos, técnicas e recursos materiais e intelectuais que propiciam uma potenciação da ação humana sobre o objeto; e a atividade do sujeito direcionada por uma finalidade, ou seja, o próprio trabalho. Significa, ainda, reconhecer o produto do trabalho profissional em suas implicações materiais, ídeo-políticas e econômicas. (ABEPSS, 1996, p. 12).
            Nesse contexto, a revisão curricular foi reconhecidamente necessária, contudo, houve um descenso impregnado no âmbito da categoria profissional. 
O currículo mínimo do ano de 1996 foi aprovado numa Convenção na cidade do Rio de Janeiro/RJ, foi nela que se incorporou de maneira explicita a ideia de que o Serviço Social era uma forma de trabalho social (ABESS, 1996, p. 4).  Nesse sentido, é importante considerar o contexto sócio-histórico da profissão, bem como também suas particularidades dentro do processo de trabalho em instituições públicas e privadas.
Iamamoto e Carvalho (1982) trazem sua perspectiva em torno do trabalho reconhecendo a importância da proposta curricular da ABESS, no entanto a autora relata que o exercício profissional do assistente social não possui seu próprio processo de trabalho, tendo que estar inserido em espaços sócio-ocupacionais que demandem sua força de trabalho e lhe proporcione o aparato material para a execução.
A ABEPSS foi criada em 1946 como ABESS (Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social), transformando-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social pós o Congresso da Virada (1979); e finalmente 1996 como um marco na história da então ABESS que muda seu nome para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), justificada em função da defesa da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da articulação entre graduação e pós-graduação, aliada à necessidade da explicitação da natureza científica da entidade (ABEPSS, 1996).
Lessa (2000) defende outra concepção, diferente da de Iamamoto e Carvalho (1982), afirmando que o Serviço Social não pode ser considerado trabalho pelo fato de não transformar a natureza, ou seja, não produzir diretamente bens materiais, assim como outras profissões.
Em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, porque o Serviço Social não realiza a transformação da natureza nos bens materiais necessários à reprodução social. Não cumpre ele a função mediadora entre os homens e a natureza; pelo contrário, atua nas relações puramente sociais, nas relações entre os homens (LESSA, 2000, p. 18). 
Para Lessa (2000), reconhecer que o exercício profissional do assistente social é trabalho é incompatível com o caráter ontológico definido por Marx, da categoria trabalho. Na visão de Marx (1968), se todas as profissõessão trabalho, os indivíduos ganham características de operários, o que dificulta o reconhecimento das diferentes classes sociais.
Partindo desse pressuposto, então, e considerando que o Serviço Social não se relaciona diretamente com a produção de mercadorias, Iamamoto (2005) o caracteriza como um trabalho improdutivo, que participa no conjunto da dinâmica social da implementação das condições necessárias ao processo de reprodução do capital.
Entendemos então que o
[...] sentido social imprimido ao trabalho do assistente social no processo de dominação burguesa é sobreposto o próprio significado social do trabalho capitalista subordinado ao processo de valorização, não como trabalho individual de uma categoria laborativa ou unidade produtiva, mas como trabalho coletivo, produto da agregação das diferentes atividades (BARBOSA; CARDOSO; ALMEIDA, 1998, p. 115).
Nesse sentido, o trabalho do Serviço Social caracteriza-se enquanto trabalho abstrato e improdutivo, o qual tem por objeto de trabalho a questão social em suas múltiplas determinações, tendo como desígnio, quanto aos instrumentos de trabalho, o conhecimento adquirido nas bases teórico-metodológicas e o acumulo técnico operativo da formação profissional.
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Figura 3 - O assistente social é requisitado a trabalhar em múltiplas faces da questão social.Fonte: Leremy, Shutterstock, 2018.
Contudo, para Iamamoto (2007, p. 424), o assistente social não possui os elementos necessários à concretização de seu trabalho, dependendo de recursos, condições materiais e físicas preestabelecidos em programas e projetos elaborados e executados para atender demandas oriundas das instituições que solicitam e contratam o profissional do Serviço Social.
Nesse contexto, temos que o assistente social possui uma autonomia relativa diante da sua inserção nos diversos espaços sócio-ocupacionais, necessitando no curso do dia a dia reafirmar seu compromisso ético-político, com vistas a superar a visão paternalista e messiânica que perpassa a historicidade da profissão.
            A autonomia relativa à qual perpassa o cotidiano profissional dos assistentes sociais diz respeito, sobretudo, às condições objetivas de trabalho a que eles são submetidos no contexto das instituições empregadoras, sejam elas públicas ou privadas.
Como exemplo, podemos citar a importância de se realizar visita domiciliar para o encaminhamento de algumas ações dentro dos serviços sócio-assistenciais, jurídicose ou de saúde, nos quais, os assistentes sociais estejam inseridos, conforme observamos no caso descrito a seguir.
Um assistente social é requisitado por agente comunitário de Saúde para realizar orientações a usuário idoso. Este necessita de consulta médica para uma especialidade específica. No entanto, o município que o idoso habita não disponibiliza por meio do Sistema Único de Saúde municipal. Nesse contexto, o assistente social indica a necessidade e propõe a realização da visita domiciliar, a fim de observar as condições de saúde e habitação às quais o usuário está submetido, bem como de analisar as condições socioeconômicas, para que possa ingressar com recursos específicos que possam viabilizar a consulta do idoso, que fora submetido a cirurgia e precisa de acompanhamento integral – assim como preconiza o Sistema Único de Saúde em seus princípios. Durante a visita, o profissional consegue identificar situações que dão sustentabilidade às suas indicações.
No entanto, em tempos de sucateamento do serviço público, os profissionais se deparam com a falta de transporte e segurança necessária para realizar visitas domiciliares, na maior parte das vezes em lugares comandados pela violência, insegurança e de difícil acesso. Assim,
Ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, fornecem meios e recursos para sua realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de papéis, e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o trabalho do qual ele participa (IAMAMOTO, 2005, p. 63).
É nessa perspectiva de contrariedade da dinâmica social que o assistente social, apesar da relativa autonomia no exercício de suas atribuições, deve compreender a realidade dos usuários, de acordo com seu posicionamento teórico-metodológico, e definir os rumos da atuação profissional com vistas a superar os limites institucionais a favor dos interesses fundamentais dos trabalhadores, contribuindo com a efetivação de direitos, com a garantia de acesso àinformação capaz de construir espaços de reflexão e tomada de posição por parte dos usuários.
            Nesse contexto, o projeto profissional é responsável por dar legitimidade aos elementos constitutivos da profissão, os quais perpassam o âmbito dos valores, funções, objetivos, saberes, normas e práticas. Ou seja, aqueles que constituem o fazer profissional.
1.3 O mercado de trabalho profissional do assistente social na contemporaneidade
No contexto do modo de produção capitalista,o Serviço Social, enquanto parte integrante dos processos de trabalho, também é submetidoem sua integralidade aos processos de contrarreforma que o Estado vem submetendo a classe trabalhadora,com a destituição de direitos em favor dos interesses do grande capital. Dessa forma, temos um Estado mínimo com relação aos interesses da classe trabalhadora, ao mesmo tempo em quehá fortalecimento da esfera privada em todas as áreas essenciais à vida em sociedade, sejam a elas a saúde, a educação, a previdência, dentre outras.
Vivemos atualmente, na particularidade do Serviço Social, um contexto de inserção profissional multidimensional, o qual abarca uma série de espaços, anteriormente não ocupados pela categoria, ou ocupados em sentido divergente do atual, com as novas atribuições e competências que a categoria vem assumindo paulatinamente. Contudo, com vistas ao processo de desestruturação do Estado, a categoria vem sofrendo com os rebatimentos gerais dessa realidade.
Nesse sentido, faremos uma abordagem acerca do mercado de trabalho profissional na contemporaneidade, seguindo com apontamentos a respeito das competências e atribuições privativas do assistente social no contexto de suas atividades profissionais em distintos espaços, e por fim, uma breve análise do contexto da formação profissional na contemporaneidade (MATOS, 2015, p. 678). Tais conteúdos serão abordados com vistas ao conhecimento de como está o mercado profissional, bem como o posicionamento da categoria frente as demandas emergentes, com vistas à compreensão de alguns determinantes indispensáveis ao fortalecimento do projeto ético-político profissional.
1.3.1        O exercício profissional na contemporaneidade
O Serviço Social, apesar de ser considerado uma profissão liberal, necessita da sustentação por meio dos espaços sócio-ocupacionais criados e recriados no contexto da dinâmica da vida em sociedade – e administrados pelo Estado e instituições privadas de forma cada vez mais acentuada – sobre o que denominamos de questão social.
Assim, as necessidades sociais apresentadas na dinâmica da vida em sociedade estão relacionadas, sobretudo, ao fortalecimento do modo de produção capitalista, no qual o assistente social enquanto trabalhador assalariado sofre os rebatimentos do ajuste neoliberal, tendo suas condições de trabalho e, de forma geral, de vida, desconstruídas.
A reestruturação produtiva em curso aponta algumas formas de insegurança para os trabalhadores: não prioridade ao pleno emprego, redução de benefícios sociais, redução de estabilidade e subcontratação, flexibilização dos salários e redução dos níveis de sindicalização representam, de forma geral, algumas características da ofensiva do capital ao contexto das relações sociovigentes.
No tocante ao Serviço Social, o aprofundamento da desigualdade social acarreta um conjunto de necessidades que precisam de respostas por parte do Estado, onde o assistente social é solicitado a trabalhar enquanto mediador na garantia de direitos à população usuária. Para tal, utiliza-se de recursos que legitimam sua ação, a exemplo da Constituição Federal de 1988, dos estatutos do Idoso, da Criança e do Adolescente, da Pessoa com Deficiência, entre outros (BRASIL, 1988).
São nos espaços sócio-ocupacionais que se engendram as respostas necessárias e possíveis aos determinantes da questão social. Atualmente, as políticas assistencialistas no Brasil, bem como em outros países, têm sido responsáveis por amenizar o contexto de vulnerabilidade e tensão social. Contudo, este direcionamento diverge do que preconiza o projeto ético-político, na medida em que impede a autonomia dos sujeito sociais a que essas políticas são destinadas.
Partindo desta análise, há que considerar também o fortalecimento do projeto ético-político no conjunto das atividades profissionais. Nesse contexto, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), desde o ano 2000 iniciou o projeto denominado Ética em Movimento. O objetivo é fortalecer o debate ético na defesa dos princípios democráticos norteadores do projeto ético-político profissional, explicitando os posicionamentos do conjunto CFESS/CRESS a respeito de questões complexas relacionadas à defesa dos direitos humanos.
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Figura 4 - Em tempos de barbárie sob o capital, torna-se fundamental reafirmar, reconhecer e fortalecer princípios no horizonte da emancipação humana.Fonte: NongMars, Shutterstock, 2018.
Partindo desta mesma concepção de fortalecimento ao projeto ético-político, o conjunto CFESS/CRESS possui diversas outras bandeiras de luta, as quais vinculam-se sobretudo a emancipação dos sujeitos de direitos em contextos de vulnerabilidade, sejam estes trabalhadores, idosos, crianças, adolescentes e mulheres. Como exemplo, temos a luta em defesa dos direitos das crianças e adolescentes, travada pelo Serviço Social frente à proposta de emenda constitucional número 171/93 no ano de 2015, a qual tinha por objetivo a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, em casos de crimes hediondos (DOMINGOS; COUTO, 1993).
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Figura 5 - O Serviço Social possui posicionamento contrário frente à proposta de emenda constitucionaln. 171 de 1993, proposta por Benedito Domingos.Fonte: 271 EAK MOTO, Shutterstock, 2018.
Em sua trajetória, o Serviço Social foi requerido por instituições públicas, privadas e filantrópicas, para atender interesses do grande capital, e também da classe trabalhadora, tendo por base uma concepção de que esta profissão é basicamente interventiva. No entanto, a descentralização político-administrativa e a participação por parte dos municípios na formulação e execução de políticas sociais representaram uma possibilidade de melhoria no espaço sócio-ocupacional dos assistentes sociais. Dessa maneira, atualmente são convidados a trabalhar no âmbito da formulação, gestão e avaliação de políticas e projetos sociais.
Assim sendo, acreditamos que o fortalecimento do projeto ético-político em busca da constante reafirmação do Serviço Social enquanto profissão deve ocorrer no cotidiano do exercício profissional, com profissionais capazes de compreender o movimento da realidade e que tenham por objetivo transformar as necessidades em demandas e propostas profissionais.
1.3.2 A formação profissional na contemporaneidade
A necessidade constante de responder a crises do capital sempre estimula mudanças e reestruturações na produção, que também são sentidas na sociedade. O pensamento neoliberal é uma consequência dessas mudanças. Atualmente, o ensino superior vem sendo vítima deste processo, sofrendo mudanças em prol de respostas que atendam às necessidades do mercado.
            Na formação profissional em Serviço Social as exigências do mercado de trabalho em prol da acumulação capitalista apresenta-se enquanto um contrassenso ao projeto ético-político da profissão, quedefende a emancipação da vida humana.
            Nesse contexto, após a implementação do Código de Ética Profissional (CFESS, 1993) e a Lei de Regulamentação da Profissão (BRASIL, 1993), ambos aprovados no mesmo ano, a categoria profissional teve a consciência da importância de uma readequação da formação técnico-acadêmica, afim de dar o suporte necessário e eficiente ao perfil profissional que as novas condições sócio-históricas exigiam. A Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS) foi a responsável por redimensionar a formação profissional, partindo de uma proposta inovadora ao plano de estudos e à grade curricular. A linearidade deste processo assegurou que o conjunto das transformações apresentassem, entre si, singularidade, coerência e integração.
Indicamos a leitura do documento “Legislação e Resoluções sobre o Trabalho do/a Assistente Social” (CFESS, 2011), que reúne a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8.662/1993), o Código de Ética profissional e resoluções aprovadas pelo CFESS nos últimos anos, que dão diretrizes sobre o trabalho profissional. Disponível no endereço: <http://www.cfess.org.br/arquivos/LEGISLACAO_E_RESOLUCOES_AS.pdf>.
Dessa forma, em 1996, foram aprovadas as diretrizes e exigências curriculares propostas pela ABESS; em 20 de dezembro do mesmo ano, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394, formulação que embasou a criação de diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Na dinâmica do curso, o ensino teórico-prático, a pesquisa e a extensão passam a ser estratégias fundamentaisno contexto de preocupação com a dimensão investigativa no ensino da prática, reconhecendo e integrando a pesquisa como atividade fundamental ao exercício profissional (ABEPSS, 1996; BRASIL, 1996).
A seguir, veremos a importância do estágio na prática profissional do Serviço Social.
1.3.3. A prática no âmbito da formação em Serviço Social
Dada a dimensão teórico-prática do Serviço Social enquanto profissão, o estágio constitui-se em premissa básica e relevante ao contexto curricular obrigatório, estando intimamente relacionado com as dimensões teórica, ética e política que perpassam o caráter sociopolítico da profissão. Assim, o estágio em Serviço Social é condição e prerrogativa obrigatória, básica e fundamental na formação do assistente social.
Trata-se de uma vertente da formação profissional responsável pela admissão dos estudantes em espaços sócio-ocupacionais da profissão que possuam assistente social devidamente registrado no Conselho Regional de sua localidade, no qual também a instituição precisa ser inscrita. Assim, o estudante é acolhido pelo profissional que será seu orientador de estágio e refletirá a respeito da realidade com a qual terá contato, fazendo uma relação do conhecimento empírico ao recebido na academia. Dessa forma, o estudante deverádesenvolver uma proposta de intervenção que possibilite impactos positivos naquilo que ele escolhe como sendo seu objeto de estudo.
Nesse contexto, de acordo com Silva e Santos (2014, p. 4):
[...] seja no âmbito da formação ou atuação profissional o assistente social no sentido de afirmação de seus projetos profissionais conta com o apoio das entidades representativas da área do Serviço Social, sendo eles o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Essas entidades percebem o estágio como elemento constituinte e constitutivo do processo da formação profissional, defendendo a indissociabilidade entre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.
Com o propósito educacional do estágio na formação do discente esta orientação é válida para os estágios obrigatórios, bem como também os não-obrigatórios. 
Dessa forma, o estágio não deve ser concebido como um treinamento da intervenção profissional pelo fato de que ao trabalhar com uma realidade em constante transformação o Serviço Social não possui respostas prontas a intervenção profissional, requerendo um profissional que seja capaz de fazer uma leitura da realidade e a partir desta problematizar as contradições e propor respostas a superação das problemáticas.
Nessa perspectiva, ainda segundo Silva e Santos (2014, p. 4):
Trata-se, antes de mais nada, de um momento da formação acadêmica que deve possibilitar a inserção do estudante nos espaços coletivos de trabalho em que estão inseridos os assistentes sociais supervisores de campo, possibilitando a construção de elementos críticos do conhecimento concreto a partir de múltiplas determinações que se reproduzem no ambiente.
Dessa forma, o estágio pode constituir-se em atividades de pesquisa, por instigar o estudante a problematizar objetos de estudo, e também em atividades de extensão, por possibilitar ao aluno a mediação entre instituição e academia no sentido de afirmar a indissociabilidade entre teoria e prática na intervenção profissional.
Todavia, cabe aos supervisores de campo e acadêmicos orientarem o estagiário no contexto das instituições, trabalhando dentro de uma perspectiva de formação generalista, relacionando “[...] as particularidades e singularidades postas a uma profissão às exigências dela em relação à universalidade das relações sociais” (LEWGOY, 2007, p. 45).
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Figura 6 - Todos os sujeitos envolvidos no processo de estágio devem desenvolver motivação para fortalecer o campo pedagógico e educacional.Fonte: jesadaphorn, Shutterstock, 2018.
Com isso, percebemos o quanto é importante reconhecer o processo de contrarreforma na política de ensino superior no Brasil, e seus rebatimentos no contexto das relações de trabalho. Em matéria no Serviço Social, toda a categoria deve estar atenta para que se possa acompanhar e discutir as mudanças necessárias e possíveis no contexto da formação e exercício profissional.
1.4 O trabalho do assistente social nas organizações públicas e privadas
O assistente social, a princípio requisitado apenas para servir de mediador entre as tensões existentes entre burguesia e proletariado, atualmente ocupa diversos espaços no exercício de suas competências e atribuições profissionais.
            Estes espaços perpassam o público e o privado, além das organizações filantrópicas pertencentes ao terceiro setor. O caráter social e os objetivos da instituiçãoempregadora são essenciais para se demarcar o campo da prática e instrumentos a serem utilizados.
            Nesse contexto, abordaremos as peculiaridades das organizações públicas e privadas em seus formatos gerais e específicos, a fim de trazer ao conhecimento do estudante o contexto geral de tais instituições.
1.4.1 Organizações privadas e o trabalho do assistente social
Na gênese do processo de institucionalização do Serviço Social nas organizações empresariais, o assistente social tinha seu exercício voltado sobremaneira ao caráter comportamental dos indivíduos, interferindo no relacionamento, atitudes e condutas expressas pela sociedade.
Nesse contexto, atualmente, o Serviço Social ainda sofre com os determinantes assistencialistas que estiveram presentes nos primeiros passos dados pela profissão, enquanto a mesma ainda era ligada à Igreja e fazia a mediação entre Estado e classe trabalhadora, a favor dos determinantes estatais.
Contudo, a partir do momento em que, em meados da década de 1980 a profissão passa por um processo de crítica aos seus fundamentos conservadores, a fim de adequar o perfil profissional às novas exigências apresentadas pela sociabilidade, temos determinado um processo de ruptura com o tradicionalismo da profissão e a inserção do Serviço Social em empresas no tocante à “[...] gestão de recursos humanos; programas participativos; desenvolvimento de equipes; ambiência organizacional; qualidade de vida no trabalho, voluntariado; ação comunitária; certificação social; educação ambiental etc.” (AMARAL; CESAR, 2009, p. 2).
            Assim, podemos dizer que a dinâmica da vida em sociedade é responsável por abrir novos campos e perspectivas de trabalho ao Serviço Social.
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Figura 7 - O caráter assistencial ainda predomina no Serviço Social, contudo, a profissão orienta à garantia de direitos – e não à caridade.Fonte: Africa Studio, Shutterstock, 2018.
Atualmente, o assistente social também presta assessoria a gestores, trabalho que exige estudo e pesquisa da realidade objeto de intervenção. A atividade de assessoria identifica – perante leitura crítica da realidade – possíveis problemáticas, bem como orienta a resolução do caso em análise, apontando soluções e encaminhamentos viáveis. Nessa perspectiva, temos um profissional propositor, e não meramente operacional.
No contexto do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade corporativa, o assistente social orienta as empresas que demandam seus serviços a respeito da organização na formulação e implementação de políticas de gestão das pessoas, exibindo o impacto nos resultados de produtividade e lucratividade decorrentes da prestação de serviços que incentivem o trabalhador, promovendo-o enquanto ser humano que possui valor dentro da organização empresarial. Quanto ao aspecto econômico, as ações são dimensíveis, com indicadores de conhecimento e acesso fácil pelos gestores, demonstrando impacto no negócio.      A importância do assistente social no âmbito empresarial é compreendida quando este profissional, partindo de sua capacidade de leitura crítica da realidade, consegue identificar os condicionantes internos e externos à empresa, causadores de situações sociais de risco ao rendimento da organização, estendendo essa informação aos membros participantes da instituição para que, em ação integrada, cooperem para superação de tais determinantes de forma ágil e rápida.
1.4.2 Organizações públicas e o trabalho do assistente social
Atualmente, o Estado tem sido responsável pela expansão e composição de um mercado de trabalho cada vez maior e mais diversificado, o qual acompanha o desenvolvimento do sistema capitalista de produção. Diante do exposto, temos que são as organizações públicas as instituições que mais empregam assistentes sociais.
            No contexto estatal, o retraimento das funções do Estado, e a diminuição dos gastos sociais contribuem sobremaneira para o processo de desresponsabilização em relação às políticas sociais de caráter universal e para o retrocesso na consolidação, expansão e fortalecimento dos direitos sociais.
            Sob esta perspectiva, temos que os assistentes sociais sofrem com os rebatimentos das mudanças no âmbito do trabalho em sua integralidade. Em condições de trabalhadores assalariados, sobretudo de instituições que perpassam as áreas da saúde e assistência social, os profissionais do Serviço Social possuem seus campos de exercício profissional ampliados. No entanto, essa ampliação apresenta condições de subalternidade, flexibilização das relações de trabalho e condições objetivas materiais precárias para a concretização do trabalho planejado.
            Contudo, diante das novas exigências apresentadas ao Serviço Social, é indispensável que o profissional consiga transpor de maneira sucinta e clara sua leitura de realidade para que o trabalho multiprofissional se fortaleça em vista dos projetos que precisam ser assumidos de forma coletiva por necessitarem de um olhar singular de diversas áreas do conhecimento.
            Para tanto, o trabalho interdisciplinar e/ou multiprofissional é de fundamental importância ao contexto das relações de trabalho, uma vez que interlocução e melhor resolução de problemas apresentados, de elaboração e implementação de programas e projetos.
Síntese
Concluímos o estudo introdutório à Prática em Serviço Social. Com os conteúdos aqui apresentados, você pôde conhecer a categoria trabalho e como ela se manifesta no contexto do Serviço Social em seus múltiplos espaços ocupacionais.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
· entender o contexto sócio-histórico em que o Serviço Social se institucionaliza enquanto trabalho;
· identificar a relação existente entre capital e trabalho no contexto da sociabilidade capitalista madura;
· conhecer o contexto do mercado de trabalho do assistente social na contemporaneidade;
· analisar as transformações engendradas no mundo do trabalho e seus rebatimentos na formação profissional;
· identificar as demandas postas ao exercício profissional na contemporaneidade;
· compreender os determinantes históricos que constituem o trabalho do assistente social em instituições públicas e privadas, e como a prática profissional é orientada.
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PRÁTICAS EM SERVIÇO SOCIAL IV
CAPÍTULO 2 - ASSESSORIA, CONSULTORIA E SERVIÇO SOCIAL: COMO PENSAR, INTERVIR E FORTALECER A TEMÁTICA?
Marcone Costa Cerqueira
INICIAR
Introdução
O assistente social é um profissional solidamente formado a partir de uma gama de conhecimentos, sendo assim, apto a intervir em diversas áreas da organização social. Como intervir de maneira consciente e profissionalmente engajada em um ambiente privado? A prática do assistente social, ética e politicamente comprometido com os fundamentos da profissão, fica limitada fora do contexto público institucional?
Precisamos compreender os constitutivos de uma prática profissional que alie a autonomia da profissão e os direcionamentos éticos e políticos que a fundamenta.
Nesse sentido, como pensar a atuação profissional diante da realidade econômica atual e do fortalecimento do setor privado? Buscando um entendimento destas e de outras questões relativas à atuação do profissional no campo privado, neste capítulo nos dedicaremos ao estudo da temática da assessoria e consultoria no Serviço Social. Para esta finalidade, no primeiro tópico abordaremos a diferenciação entre assessoria e consultoria, delineando o lugar de cada uma na realidade do Serviço Social.
No segundo tópico levaremos a discussão para o campo da atuação profissional enquanto atividade autônoma lastreada por um amplo conhecimento teórico e prático. Em seguida, no terceiro tópico buscaremos compreender a importância da regulamentação da profissão de assistente social e as competências e possibilidades inerentes ao profissional desta área.
Por fim, no quarto tópico nos centraremos na temática da consultoria, abordando a complexidade de se analisar e diagnosticar ações e intervenções necessárias em umcontexto profissional.
 Esperamos que, ao concluir este estudo, você possa tecer sua opinião sobre esta temática, a partir da compreensão das questões aqui abordadas, empregando-as em sua própria prática profissional.
2.1 Assessoria e consultoria em Serviço Social
Dentro da ampla gama de atuação do assistente social é imprescindível ter uma visão clara dos diversos modos como se organiza sua prática. Neste sentido, faz-se necessário o delineamento das principais maneiras de tornar coerente sua atuação, enquanto profissional liberal, e sua condição de agente político-social engajado eticamente com os princípios norteadores de sua profissão.
Sua atuação se dá de maneiras distintas, no entanto, valendo-se sempre de sua formação teórica e de sua capacidade prática. As atividades de consultoria e assessoria são duas das maneiras pelas quais o assistente social desempenha sua prática profissional, sendo por isso necessário definir cada uma delas. 
2.1.1 Definindo o processo de consultoria
Nos modernos moldes organizacionais das empresas e instituições do setor privado, os serviços externos, qualificados, de profissionais de diversas áreas têm sido amplamente utilizados.
O primeiro fator a contribuir para este fenômeno é a dificuldade em se ter, dentro do organograma de uma empresa, todos os profissionais necessários para lidar com os inúmeros fatores envolvidos no processo comercial ou de produção. Uma vez que o principal fator transitório de constituição de uma empresa é seu corpo de funcionários, fica impraticável manter um quadro de especialistas em todas as áreas envolvidas no atendimento às necessidades de tais funcionários. Sejam elas necessidades psicológicas, de saúde física ou mesmo demandas sociais e assistenciais.
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Figura 1 - As consultorias empreendidas no âmbito privado são direcionadas para detectar carências específicas das empresas e elaborar um plano de ação para saná-las.Fonte: tsyhun, Shutterstock, 2018.
Dentro deste contexto, tem sido cada vez mais utilizada a ferramenta da consultoria externa, ou mesmo a contratação temporária de profissionais que possam traçar um quadro especializado de carências específicas das empresas.
De acordo com Rodrigues (2005), o discurso e a prática da responsabilidade social das empresas vêm se tornando um valor de organização priorizado, principalmente entre empresas do terceiro setor. Podemos afirmar que esse campo tem se expandido grandemente nas últimas décadas, principalmente em vista de se limitar o ônus com contratações de profissionais permanentes, o que visa, por parte das empresas, diminuir os gastos com pessoal e encargos trabalhistas. Na esteira dessa tendência, muitas profissões liberais têm sido utilizadas para a sofisticação e ampliação dessa realidade de atendimento empresarial.
Empresas especializadas em consultoria das mais diversas áreas têm ganhado um enorme mercado. Podemos citar as consultorias nas áreas de psicologia, saúde ocupacional, terapias ocupacionais, educação profissional etc. Entre essas áreas, o Serviço Social tem também se inserido como profissão liberal utilizada neste processo de demanda de consultorias e assessoria.
Já na década de 1940, as empresas contavam indiretamente com a atuação do Serviço Social, principalmente por meio da Previdência Social, dos centros sociais e dos serviços públicos. Essa atuação era de cunho assistencialista, e visava amparar o empregado do comércio e da indústria em suas demandas de saúde, prevenindo a adesão desses trabalhadores às chamadas “ideologias estranhas” vindas da Europa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), principalmente o socialismo (CANÔAS, 1982).
O segundo fator a contribuir para este processo é a busca de uma abordagem autônoma e imparcial por parte das consultorias contratadas, ou seja, que não haja nenhum tipo de interesse corporativo na análise de demandas. Em vista disto, pode-se asseverar que o interesse das empresas nesta ferramenta é simplesmente a objetividade dos dados e o diagnóstico do que deve ser feito para otimização dos resultados. A partir dos dois fatores apontados como interessantes às empresas – redução de custos e otimização de resultados por meio de análise diagnóstica –, podemos começar a entender qual seja a definição de uma consultoria nos moldes empregados pelos setores privados.
A consultoria, dentro do contexto que tentamos demonstrar, funciona como ferramenta de análise e diagnóstico das carências e demandas específicas de uma empresa em determinado aspecto ou área. Se determinada empresa tem dificuldades em gerir seu setor financeiro, não querendo ampliar o quadro de funcionários deste departamento, ela contrata uma consultoria especializada que fará um balanço de todas as suas movimentações financeiras. Neste processo, espera-se que a consultoria analise todos os aspectos envolvidos e direcione uma solução, ou ao menos aponte as mudanças e ajustes a serem aplicados.
Por esta definição, podemos entender que o trabalho de consultoria se limita a coletar informações, analisá-las e indicar os pontos falhos e as possíveis soluções em problemas específicos e objetivos. “Significa também a ação de dar ou apresentar parecer sobre algum assunto, sendo entendido como consultor aquele que desenvolve essas ações, ou seja, que dá parecer sobre assunto de sua especialidade” (MATOS, 2010, p. 31).
Nesse sentido, toda consultoria é direcionada, não extrapolando o tema e o problema ao qual se destina. Caso seja necessária uma análise mais prolongada e aprofundada, ou caso a consultoria se amplie em termos de treinamentos, atendimentos e intervenções, ela pode se tornar uma assessoria.
No próximo item buscaremos apresentar o delineamento do processo de assessoria e suas diferenças em relação à consultoria.
2.1.2 Definindo o processo de assessoria
Se fizermos uma analogia livre sobre a relação entre as modalidades de consultoria e assessoria, podemos aludir a uma consulta médica. Nesta analogia, a consultoria seria a primeira consulta, na qual o médico solicita os exames com os quais indicará o diagnóstico do paciente; a assessoria seria mais próxima do tratamento ao qual o médico submeterá o paciente. Dessa maneira, o que buscamos ilustrar de forma simples é que a assessoria se estende a termos mais amplos e objetivos, que por isso são mais demorados, e devem apresentar maior grau de planejamento e intervenção.
A obra “Assessoria, Consultoria & Serviço Social”, organizada por Maria Inês S. Bravo e Maurílio Costa de Matos (2010), traz diversos textos que tratam dos dilemas e desafios de se refletir, na prática, os princípios ético-políticos da profissão. Tais desafios são percebidos no trabalho do assistente social, que busca atuar em um cenário econômico dominado pelo capital e pela forte atuação de empresas privadas. 
No processo de assessoria, que em geral é precedido por uma consultoria prévia do próprio assessor ou outro profissional, a intervenção é direta, e pode se dar de forma mais prolongada. Como já mencionado, esse processo visa sanar alguma deficiência na organização da empresa, a qual apresenta reflexos claros no próprio andamento dos processos produtivos ou comerciais. Porém, sua principal vantagem para a empresa é o fato de ter uma assessoria especializada e imparcial, o que limita a possibilidade de interferência de interesses ou disputas.
Sendo o ato de assessorar identificado como uma ação que auxilia tecnicamente outras pessoas ou instituições, graças a conhecimentos especializados em determinado assunto, assim, o assessor é tido como um assistente, adjunto, auxiliar ou ajudante que detém conhecimentos que possam auxiliar a quem assessora (MATOS, 2010, p. 32). 
Porém, é preciso salientar que tratamos aqui da assessoria no âmbito do Serviço Social, ou seja, o que é bem distinto de uma assessoria, por exemplo, no âmbito da contabilidade. Nesta última, a assessoria prestada será direcionada para avaliar dados, informações, planilhas, sanar falhas e carências, direcionando um processo de reorganização.No caso de uma assessoria no âmbito social empreendida no setor privado, as questões não podem ser restritas ao ambiente laboral. Os indivíduos, na condição de funcionários, são pessoas com vivências próprias e cargas sociais distintas. Segundo Friedmann (1972), conclusões codificáveis ou imediatamente perceptíveis, não podem ser tiradas aleatoriamente da realidade de trabalho dos indivíduos, uma vez que seja necessária a compreensão das demais relações humanas dentro da empresa.
Sendo assim, a assessoria profissional no Serviço Social, como buscaremos demonstrar, não pode ser apenas uma análise técnica de demandas sócio-assistenciais que visem apenas à otimização do trabalho. Muito menos pode ser direcionada somente por obrigações jurídicas que precisam ser observadas pelas empresas em suas relações com seus funcionários.
Diante disto, a assessoria profissional empreendida pelo assistente social é passível de especificidades que devem ser tratadas ao longo deste estudo. No entanto, é preciso compreender que o mercado de trabalho segue diretrizes que, na maioria das vezes, contradizem os princípios éticos e políticos que fundamentam a profissão do assistente social. Tais situações e impasses devem ser tratados de maneira profissional e buscando sempre um direcionamento que garanta o atendimento às demandas dos empregados.
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Figura 2 - No processo de assessoria, o profissional estabelece um projeto que será gerido de acordo com as carências e objetivos detectados na consultoria, agindo conjuntamente com a equipe da empresa.Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
Em sentido amplo, as assessorias em todos os âmbitos devem compor uma intervenção direta na realidade organizacional das empresas, seja a partir de treinamentos, palestras, pareceres, entrevistas, representações jurídicas ou contábeis e demais ações. Ao contrário das consultorias, nas quais o profissional não age diretamente na realidade da empresa, na assessoria a ação se dá de forma direta, planejada, e visando resultados que possam justificar sua intervenção.
No próximo tópico buscaremos deslindar as ditas especificidades do assistente social enquanto profissional liberal que presta serviços de consultoria e assessoria.
2.2 A atuação profissional no campo da assessoria e consultoria
O assistente social é reconhecidamente um profissional que domina diversos conhecimentos compartilhados com diversas áreas do saber, principalmente das ciências humanas. Sua condição de profissional liberal o habilita a transitar em diferentes espaços ocupacionais, sendo, no entanto, direcionado por um código de ética claro e universalmente aplicável em todas as suas áreas de atuação.
Podemos dizer que este é o aspecto de autonomia profissional do assistente social, sendo também seu norte nos processos de intervenção, tanto no âmbito público quanto privado. Neste tópico analisaremos estes aspectos e ampliaremos nossa discussão sobre a temática da assessoria e consultoria.
2.2.1 O assistente social como profissional liberal
Ao tratarmos da questão relativa à condição de profissional liberal, é preciso afrontar dois problemas: o primeiro, combater a ideia de que liberal é o mesmo que autônomo; o segundo, o engano de que o termo liberal significa algum tipo de descompromisso com os fundamentos ético-políticos que norteiam a profissão. Certamente que estas distinções devem apontar para uma autonomia profissional que se fortaleça pelo claro direcionamento político do código de ética da profissão, mas que não se limite a uma leitura alijada da realidade político-econômica atual.
Em relação ao primeiro problema, devemos compreender a diferença entre profissional autônomo e profissional liberal. No primeiro caso, o profissional trabalha por conta própria, prestando serviços ou comercializando mercadorias, sem qualquer tipo de vínculo empregatício. Podemos citar como exemplo os profissionais autônomos da construção civil, tais como pedreiros, pintores, marceneiros, eletricistas, assim como vendedores informais e demais prestadores de serviços. É bom fazer uma alusão à própria raiz do termo “autônomo”, auto, que vem do grego e significa “[...] noção de próprio, de si próprio, por si próprio” (PRIBERAM, 2018, s. p.). Em sentido jurídico, tais profissionais não possuem vínculos empregatícios ou normativos com as pessoas, físicas ou jurídicas, que tomam seus serviços.
Em geral, estes profissionais autônomos não estão sujeitos a uma fiscalização por parte de órgãos representativos, também não possuem um código de ética e conduta, nem uma hierarquia representativa – sendo estas as principais distinções entre a categoria de autônomo e a de profissional liberal. Dessa forma, a regulamentação que suporta a categoria de profissional liberal deve expressar um direcionamento que norteie a prática da profissão e, ao mesmo tempo, garanta a autonomia na prestação do serviço, caso este serviço se dê de forma autônoma.
Tomemos a definição de profissional liberal de acordo com o art. 1.º da Confederação Nacional de Profissionais Liberais (CNPL, 2015, s. p.):
[...] aquele legalmente habilitado a prestação de serviços de natureza técnico-científica de cunho profissional com a liberdade de execução que lhe é assegurada pelos princípios normativos de sua profissão, independentemente de vínculo de prestação de serviços.
Nestes termos, o profissional liberal não é despregado de um compromisso normativo e norteador da profissão, ao contrário, é exatamente a predominância dos princípios normativos que o deixa em condição de exercer sua prática. No caso do assistente social, os princípios normativos da profissão devem ter prioridade sobre outros dispositivos que possam, de alguma forma, limitar a atuação deste profissional. Haja vista que a prática do assistente social não está presa a rotinas e limitações políticas e econômicas, ela deve ser resguardada em suas prerrogativas de intervenção e proposição de ações e projetos.
Em decorrência da necessidade de resguardar o caráter profissional da prática do assistente social enquanto profissional liberal, se faz necessário sanar o equívoco de se intuir que tal condição de liberal implica uma falta de direcionamento ético-político. O Código de Ética da profissão é bem claro em suas diretrizes e princípios, como apontam Barroco e Terra (2012, p. 53):
O CE se organiza em torno de um conjunto de princípios, deveres, direitos e proibições que orientam o comportamento ético profissional, oferecem parâmetros para a ação cotidiana e definem suas finalidades ético-políticas, circunscrevendo a ética profissional no interior do projeto ético-político e em uma relação com a sociedade e a história.
A relação profissional do assistente social com um empregador público ou privado não o desprende de suas obrigações com os princípios normativos da profissão; dessa forma seu caráter de profissional liberal está garantido pelas prerrogativas que estes mesmos princípios normativos lhe asseguram.
No próximo item nos deteremos mais centralmente na questão da autonomia do assistente social e em sua atuação na esfera privada enquanto consultor ou assessor. 
2.2.2 A autonomia do assistente social
Podemos afirmar que uma das questões que mais se discute dentro do tema da prática profissional do assistente social, tanto no âmbito público quanto privado, é a de sua autonomia enquanto trabalhador assalariado. Em diversos momentos a principal crítica se volta para a dicotomia entre resguardar o interesse dos usuários e suas demandas em detrimento aos interesses e objetivos das empresas e empregadores. Conforme comenta Baptista (2000, p. 33):
Essa polaridade, de certa forma, coloca muitas vezes o profissional perante o que parece ser um falso dilema: atender à demanda tal como ela se coloca, o que, para ele, significaria colocar-se do lado do empregador; ou desenvolver trabalhos em sintonia com os reclamos da população demandatária dos serviços, de costas para a instituição, o que caracterizaria seu posicionamento do lado da população usuária.Este é um falso dilema na medida em que aponta para a negação pura e simples da contradição inerente à prática profissional, dicotomizando-a.
Parece claro, de acordo com o comentário do autor supracitado, que não se pode simplificar em termos maniqueístas a atuação do assistente social no âmbito privado. No entanto, o erro oposto também não pode ser cometido, aquele de acreditar que o trabalho de consultoria ou assessoria, por ser de caráter em geral temporário, não implica um posicionamento ético-político engajado com os princípios norteadores da profissão. É necessário compreender o contexto mais amplo que garante ao assistente social uma autonomia enquanto profissional liberal.
Sendo detentor de um conhecimento solidamente fundado tanto na teoria quanto na prática, o assistente social tem a capacidade de compreender que nenhuma intervenção ou proposição de projeto social é baseada em situações aleatórias. Ao ser incumbido da tarefa de analisar e detectar demandas sócio-assistenciais em determinado espaço ocupacional, o profissional não pode perder a perspectiva de que não existe apenas uma dimensão a ser avaliada, ou seja, o espaço laboral. É preciso pautar-se pelos próprios princípios ético-políticos da profissão, tendo uma compreensão alargada do contexto no qual aquela atividade econômica ou produtiva está inserida. Em outras palavras, significa não se prender a termos locais, restritos apenas à realidade da empresa na qual o profissional está intervindo, é preciso ter uma consciência social de conjunto, entendendo que aqueles usuários que serão atendidos naquela empresa fazem parte de uma classe trabalhadora que não pode ser vista isoladamente.
Louis Althusser foi um filósofo e pensador político francês, de influência marxista, tendo como principal objeto de crítica a disputa ideológica e o aparelhamento ideológico do Estado. Segundo ele, a busca da anulação da luta de classes a partir da individualização do sujeito em seu meio social é um processo de construção ideológica burguesa, reproduzida nos aparelhos do Estado. Dessa forma, a ideologia burguesa busca desagregar os indivíduos, evitando uma tomada de consciência de classe, principalmente entre a classe trabalhadora (ALTHUSSER, 1986).
Esta percepção deve se traduzir em proposições que direcionem a consultoria ou assessoria para o atendimento das demandas percebidas entre os funcionários daquela empresa ou instituição contratante. No entanto, refletindo o entendimento de que não se trata de uma “queda de braço” local entre usuário e empregador, mas de uma realidade social que perpassa todas as relações daqueles indivíduos enquanto classes sociais.
Quando é dada ao profissional a prerrogativa de construir seu parecer, de aplicar seus conhecimentos teórico-práticos, ele deve fazê-lo com a autonomia que lhe é garantida por tais conhecimentos e pelo código profissional que o resguarda. 
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Figura 3 - Diante de conflito de interesses entre os objetivos do empregador e as necessidades dos empregados, o assistente social deve ter a autonomia de fazer valer seu conhecimento teórico-prático.Fonte: hafakot, Shutterstock, 2018.
Considerando essas colocações, devemos intuir que o conhecimento teórico-prático do profissional o capacita a impor, de forma ética, um direcionamento que se estabelece com autoridade. Segundo Freire (2010), o espaço da área de trabalho no setor privado é um ambiente de disputas, no qual o profissional tem relativa autonomia, podendo favorecer mais os trabalhadores ou a empresa contratante. É o seu conhecimento e sua expertise que lhe garantem tal autoridade profissional, amparados por um código de conduta que regula sua prática.
Nesses termos, o assistente social não deve se intimidar com o fato de haver uma clara resistência, por parte dos empregadores, em implementar projetos que atendam às demandas dos usuários.
No item seguinte buscaremos tratar deste aspecto relativo à autoridade profissional refletida pelo conhecimento do assistente social.
2.2.3 O conhecimento interdisciplinar do assistente social e as possibilidades de atuação
Quando pensamos em quão extensa é a abrangência de possíveis áreas de atuação do profissional do Serviço Social, não podemos deixar de nos remetermos à base interdisciplinar que compõe sua formação. Certamente não temos o espaço necessário para apresentar todas as composições desta formação, no entanto, é precioso destacar que o Serviço Social na contemporaneidade é uma área do conhecimento que abarca a contribuição de outras áreas, principalmente das ciências humanas e humanas aplicadas. Desde a sociologia até a psicologia e a filosofia, com forte diálogo com a pedagogia, as ciências políticas e até mesmo com a saúde.
Nesse sentido, o que buscamos ressaltar é que o assistente social não é um profissional cuja atuação pode ser restrita ao conhecimento técnico-operativo, sua base de formação é diversificada, mas com a característica de ser solidamente direcionada por princípios ético-políticos bem delineados.
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Figura 4 - A sólida formação do assistente social o capacita a atuar em diversos espaços ocupacionais, sempre mantendo a coerência e o direcionamento dos princípios que guiam a profissão.Fonte: Rei Imagine, Shutterstock, 2018.
Tal caráter de formação e abrangência de atuação permite ao assistente social inserir-se em diversos espaços ocupacionais, tendo ferramentais teóricos e práticos próprios para sua atuação profissional.
Para Matos (2010), a discussão dos temas de consultoria e assessoria no Serviço Social aponta para a maturidade do projeto ético-político da profissão, reafirmando a importância cada vez maior que o profissional desta área vem conquistando. Nesse sentido, podemos indicar algumas áreas nas quais o assistente social pode atuar como consultor ou assessor: da saúde, da educação, do lazer, na coordenação de projetos sociais, nos movimentos sociais, nas entidades públicas e privadas em geral.
Segundo a experiência do Serviço Social da Indústria (SESI) de Santa Catarina, quando da implantação de uma proposta de assessoria e consultoria a partir do Serviço Social, entre novembro de 1994 e junho de 1995, verificou-se que a ação se desenvolvia mais junto às áreas (90%) do que junto às organizações (10%). Sendo que 75% eram ações de assessoria, das quais 31% se concentravam junto à coordenação (JOOS; PEREIRA, 1998).
É interessante frisar que em âmbito privado, a principal preocupação das empresas em contratar uma consultoria ou assessoria do Serviço Social está relacionada a obrigações legais de atendimento ao bem-estar do empregado. Sendo assim, fica claro que o direcionamento do que se espera, por parte desses entes privados, de tal atuação do assistente social é bem delineado por políticas de gestão e práticas administrativas.
Essa é uma frente de atuação que se fortalece bastante no decorrer dos anos da inserção do Serviço Social no setor privado, principalmente por conta da necessidade de implementação, orientação e gestão do acesso às políticas sociais e do acesso dos empregados aos serviços sociais disponíveis. Porém, esta configuração não pode ser majoritária, muito menos implicar um engessamento da prática profissional do assistente social.
A assessoria do assistente social, independentemente da área, deve ser direcionada, entre outros, por dois fatores primordiais: primeiro, o código de ética da profissão; segundo, seu conhecimento sobre as políticas públicas de acesso dos usuários aos seus direitos.
A obra “O Serviço Social na reestruturação produtiva”, de Lúcia Freire (2003), aborda de maneira clara a questão da inserção do Serviço Social nas novas tendências de possibilidades para a atuação dos profissionais desta área, principalmente em vista do desafio da atuação em grandes empresas e da ruptura com o conservadorismo. A autora também discute temas como o neoconservadorismo e os rebatimentos da reconceituação.           
A partir da responsabilidade social das empresas, principalmente daquelascuja área de  produção ofereça riscos insalubres aos funcionários ou riscos poluentes ao meio ambiente, a presença de um assistente social é imprescindível. É este profissional que vai garantir o acesso dos usuários a seus direitos e direcionar ações das próprias da instituição empregadora, visando o bem-estar dos funcionários e da comunidade na qual esta empresa está inserida.
Pode-se afirmar que essa é uma das realidades que mais contribuem para o aumento da demanda de serviços de consultoria e assessoria na área do Serviço Social, ou seja, a preocupação das empresas em cumprirem seu papel de responsabilidade social.
No Brasil, as duas principais instituições que trabalham o tema utilizam denominações distintas: o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) usa o termo ‘ação social das empresas’, enquanto o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) fala em ‘investimento social privado’ (RODRIGUES, 2005, p. 52).
As possibilidades de atuação do assistente social na consultoria e na assessoria para entidades privadas e públicas são enormes, como buscamos demonstrar, diante de seu caráter de profissional liberal, resguardada sua autonomia e sua formação interdisciplinar. Seja na atuação em áreas específicas, seja em empresas distintas, a prática do profissional do Serviço Social se dá de forma direta.
 No próximo tópico abordaremos mais detidamente o aspecto regulador da profissão e suas diretrizes para a atuação do assistente social enquanto consultor ou assessor.
2.3 A Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissão de assistente social, e o lugar da assessoria e consultoria
Trataremos neste tópico sobre dois dos fatores primordiais para a atuação do profissional liberal, que são a regulamentação da profissão e a construção coletiva, classista, de princípios norteadores para a prática profissional.
Para tanto, buscaremos traçar um quadro evolutivo no sentido de ressaltar as conquistas, mas também demonstrar alguns dos desafios ainda latentes, tendo o direcionamento de abordar a questão da atuação profissional nas modalidades de consultoria e assessoria.
2.3.1 A realidade do Serviço Social como profissão antes da década de 1990
Ao observarmos o longo período de desenvolvimento do Serviço Social enquanto profissão, nos depararemos com problemas de delimitação de atuação, de nomenclatura e até mesmo de embasamento teórico.
Sendo assim, parece mais prudente e produtivo apresentar alguns dos traços que nos interessam a respeito da atuação nos setores privado e público, e nas modalidades de consultoria e assessoria. Interessa-nos, também, compreender a importância da Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, bem como seus intrínsecos desdobramentos na atuação do profissional do Serviço Social (BRASIL, 1993).
Levando em consideração a opinião de Iamamoto e Carvalho (1988), o período compreendido entre o pós-guerra (a partir de 1945) e as décadas subsequentes até a última década do século XX, apresenta forte crescimento orgânico do Estado e intenso crescimento econômico das indústrias e dos demais setores produtivos. Neste quadro, o Estado passou a assumir o papel de cuidar do disciplinamento e da reprodução da força de trabalho, oferecendo aos trabalhadores condições mínimas de sobrevivência e circunstâncias favoráveis, essenciais para garantir tal reprodução do trabalho.
Neste processo, as instituições assistenciais desempenharam fundamental importância. O que podemos intuir desta descrição é o fato de que o Serviço Social, tal qual se tinha estruturado em sua fase inicial, nos meados do século XX, servia mais como “amortecimento” para as reais demandas e lutas do proletariado (IAMAMOTO; CARVALHO, 1988).
Este quadro foi marcado por um conservadorismo que em todos os sentidos tornava superficial a real abrangência e importância de uma intervenção do Serviço Social. Até a década de 1990, mesmo depois de intensas mudanças e movimentos no interior do Serviço Social, tais como a reconceituação, os documentos de Araxá, Sumaré e Teresópolis, a modernização da relação entre teoria e prática, faltava um ponto de regulamentação mais politizado. Neste sentido, faltava um suporte político-legal, teoricamente engajado, que desse ao Serviço Social uma base ético-normativa que ampliasse a atuação do profissional no quadro social da divisão do trabalho.
Importante fazer aqui uma ressalva, não é o caso de que faltasse um dispositivo legal, uma vez que códigos de ética da profissão existem desde 1947. A primeira lei brasileira a regulamentar a profissão foi a Lei n. 3.252, de 1957; seguiram-se depois os Códigos de Ética de 1965 e 1975, havendo uma reformulação em 1986 (BARROCO; TERRA, 2012).
Na década de 1990, diversos avanços foram conquistados pelo Serviço Social através de órgãos representantes da categoria, principalmente por meio do processo democrático de reestruturação das políticas sociais do Estado, provenientes da promulgação da nova Constituição de 1988. Pode-se citar a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica da Saúde, bem como a Lei Orgânica da Assistência Social (JOOS; PEREIRA, 1998).
Porém, a revogação da Lei n. 3.252/1957 e a promulgação da Lei n. 8.662, em 1993, tendo como destaques a politização, a construção coletiva, o fortalecimento das entidades representativas, a profunda ruptura com o conservadorismo (o que já vinha se intensificando desde 1986), trouxe um instrumento político-legal que fortaleceu o caráter ético-político da profissão. Estes fatores contribuíram para um fortalecimento tanto das bases teóricas quanto dos direcionamentos práticos da profissão, sendo o campo da consultoria/assessoria um alargamento proporcionado por este processo (BRASIL, 1993).
No próximo item nos debruçaremos sobre a análise sucinta dos avanços e desafios, posteriormente sobre a descrição das atribuições e competências.
2.3.2 Os avanços e desafios de uma regulamentação profissional
A partir do que tratamos até o momento, podemos direcionar uma análise sobre as questões relativas à atuação do profissional do Serviço Social dentro de uma esfera privada, tendo como ponto de referência a realidade de uma regulamentação profissional que se caracteriza por seu caráter ético-político.
Os avanços, como definidos anteriormente, podem ser entendidos a partir do viés téorico-prático no qual se destaca a questão do aprofundamento político dos princípios que norteiam a profissão.
A própria condição das relações de forças políticas e econômicas, a partir da década de 1990, empurra a realidade do Serviço Social para outro patamar, sendo necessária cada vez mais uma postura clara e teoricamente fundamentada. Dessa maneira, os avanços conquistados a partir da regulamentação de 1993, ancorados em uma reestruturação política, ética e normativa – não só da profissão, mas do próprio entendimento das estruturas sociais –, trouxeram também desafios.
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Figura 5 - O fortalecimento do caráter político e coletivo do Código de Ética do Assistente Social proporcionou uma discussão mais ampla acerca da inserção deste profissional no cenário político-econômico atual.Fonte: garagestock, Shutterstock, 2018.
Ao ampliarmos a atuação do profissional do Serviço Social, principalmente em condições de trabalho assalariado e até mesmo temporário, ampliamos também o grau de discussão que se deve empreender para que o caráter liberal da profissão não a deixe, em certo sentido, alienada de sua estrutura básica de atuação no contexto político-econômico da sociedade. A própria experiência de se alargar o campo de atuação do assistente social, empreendendo consultorias e assessorias nos setores privado e público, representa um desafio que deve ser tratado, com coerência e ampla discussão ética e política, pela profissão.
Deve se ter clara a percepção de que a finalidade da empresa não é a mesma da atuação profissional do assistente social que se compromete com os princípios da profissão. Como já dissemos, não se trata de fazer uma leitura maniqueísta, mas é necessário resguardar

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