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Neoplasias O câncer (neoplasia maligna) é uma doença onipresente na população humana tendo fatores genéticos e ambientais como causas. Neoplasia (também chamada de tumor) é caracterizado pela proliferação local de clones celulares atípicos (célula transformada), com causa multifatorial, de crescimento excessivo, progressivo, ilimitado, descoordenado e autônomo (ainda que se nutra as custas do organismo, numa relação tipicamente parasitária), irreversível (persistente mesmo após a cessação dos estímulos que determinaram a alteração) e com tendência a perda de diferenciação celular. O tumor é formado por parênquima (células neoplásicas) + estroma (TC, vasos e células do SI inato e adaptativo). Nomenclatura Para dar a nomenclatura das neoplasias, baseia-se em 3 critérios: ● Comportamento (benigno ou maligno) ● Origem (epitelial, mesenquimal ou embrionária) ● Morfologia da neoplasia Comportamento OBS! Células anaplásicas são células que perderam a sua diferenciação celular, quase que voltando a ser células tronco. Origem Os tumores benignos têm a sua nomenclatura a seguinte: célula de origem + OMA; excetos os linfomas, melanomas e mieloma múltiplo que são malignos e apresentam essa nomenclatura. Já os tumores malignos é da seguinte maneira: ● Se for de origem mesenquimal: célula de origem + sarcoma ● Se for de origem epitelial: carcinoma ● Se origem glandular: adenocarcinoma Se o tumor vier de origem mesenquimal e epitelial, é chamado de misto. Os tumores de origem sanguínea são denominados leucemias (alteração na linhagem de leucócitos) ou linfomas (tumores de linfócitos ou seus precursores). Morfologia É a classificação de como é as características macroscópicas do tumor; é dividido em 4 tipos (diferenciados ou indiferenciados): ● Nodular (benigno ou maligno) ● Vegetante (benigno ou maligno) ● Infiltrativo (maligno) ● Ulcerado (maligno) Marcas registradas do câncer (neoplasias malignas) ● Sinalização e proliferação sustentável: não necessita de estímulo externo para a proliferação ● Escape de destruição do sistema imune ● Evasão de supressores de crescimento ● Ativação de imortalidade replicativa: ativação da telomerase para a reconstituição dos telômeros ● Tendem a gerar um quadro inflamatório indutor de tumores ● Ativação de invasão e metástase ● Instabilidade genômica (fenótipo mutador): fica mais suscetível à mutações ● Indução à angiogênese: necessário para se proliferar - se isso não acompanhar a tx de proliferação, pode ocorrer uma necrose. ● Resistência à morte celular ● Desregulação da energética celular Características da células tumorais, principalmente, malignas ● Progressividade: crescimento tecidual, excessivo e descoordenado, e de intensidade progressiva. O tumor maligno tende (não é regra) a ter um crescimento mais rápido, enquanto o benigno um pouco mais lento. ● Irreversibilidade: ausência de dependência da continuidade do estímulo, ou seja, não é necessário a continuidade do estímulo que favoreceu a formação da célula neoplásica para ela se proliferar ● Independência: ausência (por mutação) de respostas aos mecanismos de controle, criando uma autonomia celular. ● Mitoses atípicas: comum em células malignas, nas quais, há a ocorrência de mitoses atípicas, que há a formação de fusos tripolares ou mais. ● Pleomorfismos: comum em células malignas; ocorre variação no tamanho e forma das células neoplásicas em um mesmo tumor, formando, então, núcleos hipercromáticos, células gigantes tumorais, células multinucleadas e etc. ● Morfologia nuclear: núcleos desproporcionalmente grandes para a célula (razão núcleo/citoplasma pode chegar 1:1); além disso, o núcleo irregular e cromatina está agrupada de forma desordenada e distribuída pela membrana nuclear (+ dispersa) e mais escurecida (hipercromática) ● Perda de polaridade: orientação das células anaplásicas é alterada; células tumorais crescem de maneira anárquica e desorganizada ● Outras alterações: necrose isquêmica central em tumores de crescimento muito rápido (angiogênese não acompanha o crescimento) ● Metástase e invasão: invasão das células neoplásicas em outros tecidos do organismo por meio da corrente sanguínea ● Adaptação metabólica (efeito Warburg): as células tumorais preferem uma forma de metabolismo energético chamado de glicólise aeróbia, na qual, ocorre glicólise mesmo em grandes quantidades de O2. Isso é feito, pois essas células utilizam os metabólitos da glicólise e de uma parte do ciclo de Krebs (piruvato, Acetil-CoA..) para sintetizar moléculas para o crescimento e proliferação celular. Além disso, o lactato, ao ↓ o pH celular, vai estimular a produção do HIF-1, que estimula a angiogênese, aumenta a expressão de GLUT4, induz a expressão de proteínas antiapoptóticas, aumenta a quantidade de enzimas para a glicólise, estimula a eritropoetina, estimula a NO sintetase (vasodilatação), facilitando, então o processo de crescimento e proliferação tumoral. Todavia, esse ↑ da glicólise traz como desvantagens: ↓ pH e necessidade de muita glicose disponível. A inflamação e as células tumorais Existem duas vias que podem resultar na geração do processo inflamatório: ● Via extrínseca: quando ocorre uma infecção ou já ocorre uma inflamação basal ● Via intrínseca: por ativação de oncogenes. A inflamação na célula tumoral causa a ativação de fatores de transcrição (NF-kB, STAT3, HIF1α), que faz com que ela tenha a produção de citocinas, quimiocinas e mediadores do processo inflamatório (prostaglandinas), o que atrai leucócitos, os quais produzem mais fatores pró-inflamatórios. Assim, a inflamação leva à proliferação das células (traz mais nutrientes para célula - angiogênese), imunossupressão, angiogênese e facilita a migração e metástase das células malignas (vasodilatação). As prostaglandinas atuam na inibição da apoptose, induz a angiogênese e proliferação/multiplicação celular. Além disso, a TNF-α atua na morte e exaustão das células T e inativa os receptores de células T (TCR), os quais diminuem as chances de reconhecimento das células tumorais (já que é as células T que atuam nesse reconhecimento). O TNF também induz a produção das células MDSC, que tem função supressora; bem como faz a proliferação e estabilidade das células Treg, que também tem características supressoras; logo, a supressão da resposta imune facilita a proliferação tumoral. A IL-6 ligada ao seu receptor de membrana nas células tumorais cria uma cascata de reações que faz com que as células se proliferam, sobrevivam, ocorra a angiogênese, facilite a metástase e amplifique a inflamação. A IL-1 faz o recrutamento de mais leucócito (amplifica a inflamação), faz com que as células supressoras mieloides sejam ativadas e ativam as células endoteliais (facilita o recrutamento de células) Sendo assim, a inflamação crônica e as células tumorais são muito interligadas. Instabilidade genômica A instabilidade genômica é a perda da capacidade da célula de reparar o seu DNA, criando o fenótipo mutador, na qual, facilita o acúmulo de alterações genéticas e epigenéticas e favorece a progressão neoplásica. Isso ocorre devido a defeitos nos genes dereparo e/ou a estresse oxidativo durante a replicação do DNA (quebras do DNA em sítios frágeis), bem como a outros fatores exógenos e endógenos. Displasia A displasia é um momento pré-neoplásico. Carcinogênese Os tumores se originam de uma única célula que sofreu ruptura dos mecanismos de controle de proliferação e autodestruição (expansão clonal), sendo isso feito por acúmulo de mutações complementares de forma gradual ao longo do tempo. Então, o processo de formação de um tumor segue algumas etapas: 1. Início da mutação: célula normal sofre mutação inicial induzida por carcinógenos, aleatoriamente ou por determinantes genéticos; essa célula normal mutada vira um precursor iniciado com propriedades semelhantes à células-tronco. 2. Aquisição de instabilidade genômica: mutação afetando a integridade genômica, criando, então, um precursor com fenótipo mutador. 3. Aquisição de características do câncer: esse último precursor sofre mutações condutoras adicionais, criando a primeira célula cancerosa. 4. Evolução genética posterior: mutações adicionais e surgimento de subclones, levando à um câncer geneticamente heterogêneo (células que compõem o tumor não são geneticamente iguais) - quanto ↑ heterogeneidade de um tumor, ↓ as chances de eliminá-lo completamente, pois as células mais adaptadas vão persistindo ao tratamento, podendo aparecer anos depois ainda (recidiva). Ciclo celular e as neoplasias No ciclo celular, apesar de ter um sistema de reparo de erros na replicação genética, 4 classes de genes podem ser alvos de mutações para o desenvolvimento do câncer: ● Proto-oncogenes: promovem o crescimento e a divisão celular; uma mutação nesses genes os transformam em oncogenes, tendo um ganho de função, pois as células vão ↑ a sua divisão celular (criação de oncoproteínas que promovem o crescimento). ● Genes supressores de tumor: genes que inibem o crescimento (STOP - rede de pontos de checagem, que evitam crescimento descontrolado); a mutação nesses genes traz perda de função desses genes, permitindo que a célula cresça sem interrupção. Ex: p53 → verifica eventual mutação na sequência do genoma (faz a correção da mutação ou induz a apoptose quando a lesão for muito extensa). ● Genes regulatórios da apoptose: induzem a apoptose (balanço entre células apoptóticas e pró-apoptóticas); a mutação neles pode causar perda de função (genes promovem a morte celular) ou ganho de função (genes suprimem a apoptose) ● Genes de reparo de DNA: induzem o reparo de DNA; a mutação leva à perda de função, acelerando a aquisição de mutações (fenótipo mutador) Carcinogênese (continuação) O processo de multiplicação descontrolada segue 3 estágios principais: 1. Iniciação: ocorre uma mutação iniciadora em uma célula normal; essa iniciação ocorre devido aos fatores exógenos e endógenos. 2. Promoção: a mutação pode ou não ser corrigida pelos agentes oncoprotetores, se não for, ela levará a um acúmulo de mutações; ocorre uma mutação condutora, que é uma mutação em uma das 4 classes principais dos genes, os quais ↑ muito a quantidade de mutações. 3. Progressão: multiplicação descontrolada e irreversível da célula; as células mais aptas sobrevivem (Seleção natural). OBS! Vale a pena ressaltar novamente que a multiplicação das células neoplásicas causa uma heterogeneidade no grupo de células neoplásicas formadas, pois, após a multiplicação de uma célula mãe, as duas células filhas formadas vão sofrer mutações diferentes, e assim por diante; criando células + suscetível, - suscetíveis e etc. Epigenética Ramo da genética que mostra que quando há modificações do DNA, o organismo pode silenciá-los ou estimular a expressão dos genes. Isso ocorre, principalmente, por meio de metilação e modificação de histonas. ● Quando o gene for metilado, ele ficará inativo ● Quando as histonas estiverem metiladas, ocorre a inativação da transcrição; se for desmetiladas, ocorre a ativação da transcrição ● Quando as histonas forem acetiladas, ocorre a ativação da transcrição e vice-versa. Logo, as células tumorais podem utilizar esse sistema para ↑ a sua multiplicação e resistência. Estágios do câncer O estadiamento do câncer serve para determinar a localização e a extensão do câncer presente no corpo de uma pessoa. É a forma como o médico determina o avanço da doença no organismo de um paciente. Um dos estadiamentos mais utilizado é o sistema TNM. No sistema TNM, a cada tipo de câncer é atribuída uma letra ou número para descrever o tumor, linfonodos e metástases. Então, o TNM funciona da seguinte maneira: ● Tamanho do tumor (T) ● Comprometimento nodular (N) ● Metástases (M) A avaliação desses 3 parâmetros permite a determinação do estadiamento que varia dos estágios I ao IV. Logo, o estadiamento é realizado de acordo com cada tipo de tumor. O sistema TNM é utilizado na maioria dos tumores e auxilia no planejamento terapêutico e indicação de prognóstico
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