Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tratamento do Parkinson Doenças neurodegenerativas As doenças neurodegenerativas têm como maior fator de risco o envelhecimento, fator que hoje é mais presente na população pelo ↑ da expectativa de vida. Logo, tais condições estão cada vez mais recorrentes na sociedade. No Brasil, 75 anos é a expectativa de vida média no Brasil. Nos 50 anos, a incidência do alzheimer é de 5% e do Parkinson é de 2%; quanto mais velha a faixa etária, ↑ a incidência. As doenças neurodegenerativas têm suas causas primárias desconhecidas ou multifatoriais, mas estão muito relacionadas ao ↑ da exposição a agentes externos e a ↓ do reparo genético. Além disso, a neurodegeneração é facilitada por traumas crânio encefálicos, AVEs e encefalites (vírus/príons). As intervenções farmacológicas (ou não) para as doenças neurodegenerativas são pouco eficazes, devido à novidade dessa doenças. Mecanismos de morte celular Como tais doenças estão relacionadas à degeneração celular, é importante frisar os mecanismos dessa ato, sendo eles: ● Excitotoxicidade do glutamato (via NMDA): a liberação de muito glutamato na fenda sináptica, faz a abertura excessiva de diversos canais glutamatérgicos, como o NMDA (ativados quando há ↑ liberação de glutamato), levando ao ↑ influxo de Ca+2, o que acarreta em grande ativação da NO sintase (produz muito NO, o qual leva à produção de EROs), sinalização de apoptose, ativação fosfolipases (formação de eicosanóides - inflamação), dano ao DNA e ao citoesqueleto e outras funções, causando o estresse oxidativo, neuroinflamação e apoptose ou necrose. Para o Parkinson essa via não é muito importante, mas para o Alzheimer é extremamente importante. ● Agregação proteica: mutações, fatores externos, alterações nas chaperonas e/ou nos mecanismos de eliminação de proteínas podem levar à alterações conformacionais no que seria o dobramento correto de uma proteína; tais proteínas “incorretas” vão sendo acumuladas, formando oligômeros e depois agregados insolúveis, formando depósitos intra e/ou extracelulares, os quais causam neurotoxicidade. Esse mecanismo ocorre mais Alzheimer, mas não é incomum no Parkinson. Doença de Parkinson É um distúrbio progressivo que acomete a postura e movimentos; é a 2º doença neurodegenerativas + frequente no Brasil (2/10000 pessoas/ano). Os principais sintomas são tremor de repouso, bradicinesia (dificuldade de começar um movimento) e rigidez muscular; outros sintomas não motores comuns são depressão, ansiedade, agressividade e anosmia. A doença apresenta progressão lenta (10-20 anos). As principais hipóteses de causas do parkinsons são divididos em 3 grupos: ● Genético: muitos casos familiares, relacionados à genética; há o envolvimento de genes que produzem as proteínas α-sinucleínas (cromossomo 4) e parkina, criando proteínas mal formadas → neurotoxicidade. ● Ambiental: responde aos casos idiopáticos (ocasionais) da doença; a principal teoria desse grupo é a Teoria do vetor ambiental, que propõe que as toxinas (agrotóxicos por ex) presentes no ambiente chegam SN pela via olfatória (porta de entrada para destruição de neurônios dopaminérgicos) ● Parkinsonismo secundário a fármacos relacionados à utilização de antipsicóticos típicos. OBS! Existem algumas toxinas ambientais que apresentam tropismo dopaminérgico; como a MPTP (pode ser encontrada na heroína), que é uma proteína que atravessa a barreira hematoencefálica, é transformada em MPP+:(extremamente tóxico) após a ação da enzima MAO-B (nas células da glia); a MPP+ é transportada para dentro das células dopaminérgicas por meio dos transportadores de dopamina (deveriam transportar para dentro do neurônio a DO presente na fenda sináptica); no meio intracelular, ela causa alterações na mitocôndria (↑ das EROs), facilitando na formação de proteínas com dobramentos anormais (α-sinucleína → oligomerização → fibrina), levando à apoptose/necrose celular. As células dopaminérgicas são encontradas na substância negra. A fisiopatologia da doença de Parkinson é caracterizada pela degeneração dopaminérgica nigroestriatal seletiva: degeneração dos neurônios da substância negra que leva DA até o corpo estriado. Além disso, um fator que contribui para a degeneração seletiva é que a dopamina é a catecolamina mais reativa (forma mais radicais livres). Existem lesões no TE que podem causar impacto autonômico e comportamental no indivíduo. Então, ocorre perda da função dos neurônios da substância negra, que estão envolvidos no refino inibitório de movimentos não voluntários (tem isso em neurofisiologia). OBS! A oligomerização das α-sinucleína má formada cria “pontos” evidentes na dissecção do TE, chamado de corpos de Lewy. Transmissão dopaminérgica Vias dopaminérgicas centrais A terapêutica do parkinson está relacionada ao aumento de DA no SN. Logo, os possíveis efeitos indesejáveis do tratamento estão relacionados à potencialização das outras vias dopaminérgicas. As principais vias DA do SN são: 1. Nigroestriatal: é a principal afetada no parkinson; está envolvida com o controle motor (junto ao estriado). 2. Mesocortical: faz o controle cognitivo/atencional (córtex); parte da área tegumentar ventral, levando DA até o córtex; a sua hipoativação (↓ DA) está relacionado ao TDH 3. Mesolímbica: faz o controle emocional e recompensa; a hiperativação (↑ DA) dessa via está relacionada a esquizofrenia e dependência química 4. Tuberoinfundibular (hipofisária): faz o controle endócrino da prolactina, a liberação de DA inibe liberação de prolactina. Sintomas do Parkinson Esses sintomas surgem após perda de 60% de neurônios (↓80% DA estriatal), demonstrando um alto grau de acometimento da substância nigra. Os sintomas não-motores são + precoces, logo, a sua detecção pode ajudar a evitar a degeneração dos neurônios da substância nigra. Um dos sintomas é uma pequena perda olfatória. Terapia farmacológica do Parkinson Existem diversas limitações envolvendo a terapia: é apenas paliativo e sintomático (não cura ou evita progressão), eficácia variável e flutuante (em fases), muitos efeitos indesejáveis vastos e polifarmácia (idosos usam muitos fármacos que podem causar interação com o tratamento). O racional terapêutico dessa terapia se baseia no aumento da função ou atividade dopaminérgica, sendo que isso ocorre na atuação em 3 elementos principais: ● Precursores da DA ● Inibidores de enzimas de degradação ● Agonistas de receptores DA ● Adjuvantes (outros mecanismos/ transmissores) Precursores da síntese de DA É utilizado um análogo sintético da DOPA (intermediário da DA), a L-DOPA (fármaco: levodopa), que causa um ↑ da síntese de DA. Atualmente, a levodopa é o de melhor eficácia atual, todavia, ele pode perder o efeito cronicamente, pois vai ocorrendo degeneração dos neurônios dopaminérgicos (que sintetizam a DA). Os efeitos negativos dessa terapia são: ● Só trata sintomas motores. ● Causa delírio/alucinações (pró-psicótico → ↑ da DA na via mesolímbica) ● Náusea e vômito (a DA está relacionada com o gatilho do vômito) ● Alterações cardiovasculares (↑ da produção de noradrenalina) ● Discinesia tardia● Perda metabólica por metabolização do organismo exige doses maiores (↓ a biodisponibilidade). Uma forma de evitar essa perda periférica da levodopa e de ↓ os efeitos periféricos indesejados é de associá-la a inibidores da DOPA-descarboxilase periférica, a qual não vai passar pela barreira hematoencefálica, diferente da L-DOPA. Alguns desses inibidores são o carbidopa e o benserazida. ● Oscilações nos níveis de levodopa plasmáticos, pois ocorre um liga-desliga de enzimas metabólicas ao longo dos dias. Inibidores de enzima de degradação da DA Eles fazem o ↑ [DA] sináptica, e tem alvos diversos: ● Inibidores da COMT (entacapona, tolcapona) ● Inibidores seletivos da MAO-B (selegilina, rasagilina) OBS! A MAO-A faz a degradação mais seletiva de serotonina, enquanto a MAO-B faz mais degradação de dopamina. Em geral, esses fármacos são associados à L-DOPA (sinergismo) e atravessam a barreira hematoencefálica junto com ela. Adicionalmente, esses inibidores apresentam um efeito neuroproteção, pois eles diminuem a atuação da MAO-B, que criam muitas toxinas (como a MPP+). Os efeitos indesejáveis desse grupo de fármacos são os mesmos da levodopa, mas com insônia como um fator bem forte. Com uso crônico pode causar toxicidade hepática. Agonista dopaminérgicos Fármacos que mimetizam a ação da DA; eles podem ser agonistas D1/D2 pouco seletivos (bromocriptina e pergolida) ou agonistas D2/D3 mais seletivos (pramipexol, ropirinol). Esses fármacos são utilizados quando a levodopa não é mais efetiva. Os efeitos indesejados são + fortes que o da levodopa e apresentam t1/2 curta, várias administrações (↓ adesão terapêutica) e causa ↑ impulsividade. Outros efeitos terapêuticos pouco explorados por esses medicamentos é de ↓ da prolactina e da lactação, evitando ginecomastia em homens e galactorreia. Agentes adjuvantes Não são usados isoladamentes mas são utilizados junto com outros anti-parkinsonianos. ● Antagonista glutamatérgico NMDA: é o fármaco amantadina (antiviral para influenza A); tem o efeito de bloquear os canais NMDA, causando um efeito neuroprotetor. É usado em fases iniciais da doença e associado à L-DOPA. Causa insônia, fadiga, ↓ libido, manchas na pele, inchaço em extremidades. ● Antagonistas colinérgicos de receptores muscarínicos: faz a diminuição da atuação excitatória de interneurônios colinérgicos (ACh) nos neurônios espinhosos médios do estriado. Os principais fármacos são o biperideno e triexifenidil; são associados à L-DOPA (utilizado em paciente com perda de efeito da levodopa) e utilizado para o controle de efeitos motores de antipsicóticos. Os efeitos indesejáveis são os efeitos relacionados à inibição da via autonômica parassimpática (funciona a base de ACh): boca seca e visão borrada (midríase), constipação, retenção urinária, problemas de memória e sedação (sonolência) O efeito dos antagonistas colinérgicos de receptores muscarínicos é de balancear, por meio da ↓ dos excitadores dos neurônios espinhosos médios, a excitação-inibição dos neurônios espinhosos médios. Disponível na rede pública Alternativas recentes Novas estratégias e fármacos em potencial: ● Fatores neuroprotetores (cafeína, nicotina e antioxidantes); ● Exercícios físicos regulares (neuroproteção); ● Fatores neurotróficos (↑neurogênese/↓morte); ● Terapia gênica (pouco “seletiva”); ● Implante de células tronco na substância negra (invasiva); ● Anti-inflamatórios e antagonistas de glutamato; ● Antagonistas de adenosina (A2A); ● ‘Deep brain stimulation’: é implantado eletrodos que estimulam eletricamente algum circuito neuronal (núcleos talâmicos e subtalâmicos), que fazem a modulação direta do SNC (invasivo). Tem efeito a curto prazo.
Compartilhar