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Hipnoterapia_Ericksoniana_passo_A_Passo

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Solia M. F. Bauer
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Livro Pleno
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Sofia M. F. Bauer
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RICKSONIAN
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Editora Livro Pleno
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2002
I~IIPNOTERAPTA ERJCKSONIANA PASSO A PASSO
2002
Conselho editorial
Douglas Marcondes Cesar
Copidesque
Juliana Boas
Revisão
Marco Antonio Storani
Coordenação editorial
Douglas Marcondes Cesar
ISBN: 85-87622-02-1
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa
Editora Livro Pleno
Rua Dr. Cândido Gomide, 584 - Jd. Chapadão
CEP: 13070-200 - Campinas - SP - Brasil
Telefax: (OXX) 19 3243-2275
E-mau: edlivropleno~uoLcom~br
Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, es
pecialmente por sistemas gráficos, niicrofflmicos, fotográficos, reprográfi
cos, fonográficos e videográficos. Vedada a atemorização e/ou a recupera
ção total ou parcial bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em
qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se
também às características gráficas da obra e sua editoração.
Sofia M. F. Bauer
HIPNOTERAPJA ERTCKSONJANA
PASSO A PASSO
Editora Livro Pleno
2002
HIPNOTEI~APIA ERICKSONIANA PASSO A PASSO
2002
Conselho editorial
Douglas Marcondes Cesar
Copidesque
Juliana Boas
Revisão
Marco Antonio Storani
Coordenação editorial
Douglas Marcondes Cesar
ISBN: 85-87622-02-1
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa
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Rua Dr. Cândido Gomide, 584 - Jd. Chapad~o
CEP: 13070-200 - Campinas - SP - Brasil
Telefax: (OXX) 19 3243-2275
E-mau: edlivropleno@u.ol.com~br
Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, es
pecialmente por sistemas gráficos, microfflmicos, fotográficos, reprográfi
cos, fonográficos e videográficos~ Vedada a atemorização e/ou a recupera
ção total ou parcial bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em
qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se
também às características gráficas da obra e sua editoração.
Agradecimentos
Ao Dr. Jeffrey K. Zeig, por sua colaboração e dedicação ao
ensino da hipnoterapia ericksoriiana.
Ao professor Malomar Lund Edelweiss e seu Grupo de E~
tudos, que muito têm me ajudado na formação, informação e no
aprimoramento pessoal e profissional.
Aos colegas de equipe, que tanto me incentivaram a escre
ver este guia.
Em especial, a José Roberto Fonseca, pela ajuda primorosa
na correção e na elaboração do glossário que vem no final do li
vro.
A José Carlos Vjtor Gomes, pelo incentivo a esta publica
ção.
E, sem deixar de homenagear, ao Dr. Milton H. Erickson,
por compartilhar de sua arte em trabalhar psicoterapeuticamen
te. Que a estrela dele continue brilhando, para iluminar os nossos
caminhos.
vil
Sumário
PREFÁCIO 15
SOBRE A HIPNOTERAPIA ERICKSONIANA NO BRASIL 17
INTRODUÇÃO 21
Capítulo 1
HISTÓRIA DA HIPNOSE
Capítulo 2
MITOS E CONCEITOS 33
1. Mitos 33
2. Concejtos 38
3. Mente consciente e mente inconsciente 41
4. Sugestibilidade 42
5. Hipnotizabilidade 43
6. Constelação hipnótica 52
7. Fenômenos hipnóticos 56
Rapport 56
Catalepsia 57
Dissociação 57
Analgesia 57
Anestesia 57
Regressão de idade 57
Progressão de idade 58
Distorção dotempo 58
Alucinações positivas e negativas 59
Amnésia 59
Hipermnésia 59
Atividades ideomotoras e ideossensórias 59
Sugestão pós-hipnótica 59
Capítulo a
O MODELO DA IIIPNOTERAPIA ERICKSONIANA 63
1. Hipnose clássica 63
2. Hipnose naturalista: a hipnose de Miltora H. Erickson 64
3. A indução naturalista 68
4. Roteiro de indução simplificado 69
Absorção 69
Ratificação 70
Eliciação 70
Pacing e leading 78
5. Avaliação do paciente para utilização do metamodelo
(segundo Jeffrey 1<. Zeig) 78
Categorias de avaliação~ 80
Perceptuais 80
Categorias de avaliação 84
Sócio-relacionais 84
Ganchos 93
6. Atuação em uma seqüência 94
7. Semeadura 95
8. O Diamante de Erickson - um metamodelo
de psicoterapia 99
9. Utilização para que finalidade - um metamodelo
de psicoterapia 102
10. Selecionando o que um terapeuta poderia utilizar 106
11. Como fazer uma indução ao modo de Erickson,
de acordo com cada cliente, sem ser Milton 1-1. Erickson
—O processo 106
xii
Carítulo 4
o uso DE METÁFORAS EM HIPNOTEPApIA~ 113
1. Parte teórica 114
2. Parte prática - a construção das metáforas 122
3. Metáforas - estórias já contadas algum dia 124
4. Algumas analogias utilizadas metaforicamente 145
Capítulo 5
TÉCNICAS HIPNOTERÁPICAS 149
1. Instruções gerais 149
2. A posição 152
3. Indução de relaxamento progressivo 155
4. Indução da respiração 161
5. Indução da levitação das mãos 164
6. Indução de um lugar agradável 169
7. Técnica passo a passo em cima do sintoma 172
8. Técnicas de entremear palavras 175
9. Técnicas de aprofundamento do transe 177
Fracionamento 177
Nuvens 181
Escada 182
Silêncio 183
10. Sonhos induzidos 184
11. Distorção do tempo 185
12. Confusão mental 187
13, Técnicas de hipnose com crianças 188
14. Técnica de progressão de idade 192
15. Técnica de regressão de idade 193
16. Técnicasparador 197
17. Técnica para controle de hábitos viciosos 201
18. Técnica de auto-hipnose 210
xflz
Capítulo 6
CASOS CLÍNICOS ........................~ 215
1. As desordens somáticas e ps~cossomáticas 216
2. Hipertensão 216
3.. Úlcera 220
4. Impotência 224
5. Ejaculação precoce 229
6. Vaginismo e frigidez 232
7. Depressão reativa 237
8. Fobias 243
9. Síndrome do pânico 248
10. Asma 26.8
Capítulo 7
CASOS DE INSUCESSO 273
Capítulo 8
CONCLUSÃO 279
BIBLIOGRAFIA 281
GLOSSÁRIO 287
xiv
Prefácio
Hipnose! Esta palavra traz à tona uma variedade muito
grande de sentimentos e imagens sensacionajs. Mesmo entre os
profissionais, existe muita penumbra e muitos preconceitos em
torno dela.
Felizmente, a Dra. Sofia Bauer, psiquiatra especialmente
qualificada, escreveu este livro de valor incalculável, qu.e ajuda a
elucidar muitas questões referentes à hipnose. No livro Hipnote
rapia erjcksoniana passo a passo, a Dra. Bauer provê informações
atualizadas que podem tornar possível ao médico ou ao psicote
rapeuta integrar efetivamente a hipnose à sua prática profissio
nal cotidiana.
A autora enfatiza especialmente a moderna abordagem
hipnótica pioneiramente elaborada por Milton Ii. Erickson, M.D.
(1901-1980), ele que é considerado o pai da hipnose médica mo
derna, ErÏckson inventou uma nova abordagem baseada no res
gate dos recursos do paciente. O seu método consistia em utilizar
aquilo que o paciente trazia em si como algo de mais forte, mais
do que analisar ou dar ênfase às suas fragilidades. Sua aborda
gem está no coração da psicoterapia moderna. Clínicos de todo o
mundo participaram de programas de treinamento para apren
der sobre esse avanço importante cristalizado e representado
pelo legado deixado por Erickson.
Sofia Bauer, diretora (entre outros) do Instituto Milton 1-1.
Erickson de Belo Horizonte, um dos mais de 70 institutos afilia
dos à Milton 1-1. Erickson Foundation mc., é uma das pessoas
mais amplamente qualificadas para escrever sobre os avanços da
psicoterapia ericksoniana, urna vez que se submeteu a um pro
grama de treinamento intensivo na Fundação Erickson, em Phoe
mx, Arizona, tendo sido urna das mais aplicadas estudantes bra
sileiras e se consagrado como um dos mais reconhecidos traíners
de língua portuguesa.
Reconheço em Sofia Bauer urna profissional altamente éti
ca e uma psicoterapeuta diligente. Supervisionei alguns dos
seus casos clínicos e gostaria de ser enfático no reconhecimento
da sua remarcada comDetêncja, ela que também tem sido discí
pula do renomado psicoterapeuta Malomar Edeiweiss, e acabou
incorporando, também, algumas das suas contribuições para o
seu. trabalho.
Ë urna honra prefaciar o trabalho de urna aluna tão impor
tante e cuja contribuição à psicoterapia se cohsagra agora numa
obra insubstituível. Hipnoterapia ericksoníana passo a passo é um
texto claro e de fácil compreensão, que estará entre os mais im
portan~es manuais de terapia ericksoniana de língua portuguesa,
para todos aqueles que se interessarem em aprender sobre os
fundamentosda abordagem de Erickson. Este livro é muito bem
organizado, rico em novas idéias e propostas interessantes. Os
leitores que apreciarem de forma cuidadosa esta leitura serão
compensados com o conhecimento de um universo de idéias prá
ticas que irá reverter-se imediatamente em novos recursos em be
nefício do aprimoramento do seu trabalho na clínica..
J~ffrey K. Zeig, Ph.D.
Diretor da Milton Ii Erickson Foundatiori mc.
xvi
Sobre a hipnoterapia ericksoniana
no Brasil
Gostaria que vocês soubessem que a hipnoterapia erickso
niana vem sendo divulgada e difundida por todo o Brasil.
José Carlos Gomes vem trazendo, em workshops e. con
gressos, os mais competentes profissknais da área como: Jeffrey
K. Zeig, Stephen Gilligan, Ernest Rossi, Tereza Robles, Jorge
Abia, Camilo Loriedo, Stephen Larikton, entre outros.
Dr. Jeffrey K. Zeig vem fazendo um belo trabalho de base,
ensinando aos psicoterapeutas a abordagem ericksoniana. Ele
tem dado cursos em Belo Horizonte, São Paulo, Rio e Porto Ale
gre.
Hoje já contamos com vários institutos ericksonianos que
ministram cursos de formação na área. Desejando fazer uma for
mação mais completa, você pode procurá-los.
Esses institutos são filiados à Fundação Milton H. Erickson
dos EUA e receberam autorização para funcionar corno institutos
de formação na abordagem ericksoniana.
xvii
. ~ ~. . .~C . r •.: % ~ N. . . :fl. N . Ç»~. .: ~ -
Hipnose é um ato de amor... permitir-se entrar em transe é
um ato de amor... ver esta outra parte sua que mora aí dentro... a sua
beleza.
Quando você ama alguém, você gosta... admira... se fixa nela...
absorve.., e “mergulha” profundamente na idéia de se entregar...
Não tenha medo do que vem. Você primeiro vai aprender a conhe
cer o outro e descobrir a beleza dele. Quando você o fizer, perderá o medo
e com certeza tocará seu coração e este então se abrirá para receber o
belo, o bom, o que realmente cura.
Tenha coragem de dizer para você: Eu não sei,, mas vou
aprender à medida que observo o meu cliente; verei o que ele
tem de bom, seus recursos, sua potencialidade, e isto será a luz
que o guiará para a saída do problema. Mas é preciso ter a cora
gem de enfrentar o medo de amar o que quer que venha. Libere
seu coração para que ele sinta e deixe fluir o amor por você pri
meiro. Aceite o fato de que, para andar, temos que dar um passo
depois do outro. Centre-se, respire, ame a você mesmo, libere seu
olhar, seus sentimentos, e busque perceber como o outro lhe toca.
Abra seu coração para receber... deixe acontecer,.. o amor!...
Com certeza você tem muito para dar...
Eu me lembro do meu primeiro sonho em análise.., um canteiro
a ser plantado, só havia terra, eu pedia ajuda a um jardineiro... Foi como
tudo começou...
No final desta mesma análise, meu último sonho.., estava num
jardim botânico,.. um herbário talvez... havia um sábio de cabelos bran
xix
cos que tinha dificuldade em andar... ele me ensinava que nesse jardim
havia todo tipo de planta... a forma de cuidar era variada.., ele mostrava
como observá-las... tratá-las... mas estavam ali.., poderia tirar mudas...
plantar mais...
Hoje estou aqui falando de passos... como guiar as pessoas para
amarem a si mesmas... se~’near... plantar... frutificar!
xx
Introdução
Tudo começou com uma semente, o professor Malomar
Lund Edelweiss.
Semeou as primeiras idéias aqui em Belo Horizonte e foi
disseminando um tipo de flor especial: encantava, suavizava e
curava através de uma terapia suave. Uma mistura de psicanálise
com hipnose.
Foi com quem dei os primeiros e os grandes passos na di
reção da hipnoterapia. Aprendi a trabalhar com algo muito espe
cial: em vez do ferrinho de dentista, usar laser. Mais suave, me
nos dolorido e muito eficaz na retirada do tártaro.
A partir das primeiras induções ensinadas por ele, tive a
curiosidade de percorrer o caminho que me levasse à teoria da
clínica daquilo que estávamos fazendo. Fui buscar nos professo
res que seguiam a abordagem de Milton H. Erickson.
Foi quando encontrei o Dr. Jeffrey K. Ze~g, entre muitos
outros professores da teoria da hipnose e da clínica hipnoterápi
ca.. Zeig, por ter estado ao lado de Milton H. Erickson por muitos
anos, foi capaz de elaborar uma forma de teoria para o trabalho
realizado pelo mestre da hipnoterapia naturalista. Das teorias
que vi, para caminhar nesta trilha, achei que Zeig era muito bom
para ensinar o passo a passo da teoria à clínica da hipnose. Vocês
terão a oportunidade de ver neste livro muitas das coisas que
com ele aprendi para dar os meus próprios passos.
Assim, este livro é o caminhar e o condensar das teorias
que percorri e que gostaria que vocês aprendessem.
22 Sofia M. F. Bauer
Ele é dedicado a todos aqueles que querem um guia práti
co para trabalhar com hipnoterapia ericksoniana. Vai abordar, da
teoria à prática clínica, todos os passos que devemos percorrer
para um bom trabalho.
Saber a teoria, a definição dos conceitos que envolvem a
hipnose, é fundamental para você saber lidar com ela. É como co
nhecer o solo onde você, fará suas edificações. Uma vez que você
sabe onde está pisando, fica fácil aplicar as técnicas de edificação.
Urra para cada tipo de solo.
Assim, o primeiro passo deste guia é mostrar os conceitos
teóricos.
Lembro-me bem de quando comecei. Foi como uma mistu
ra. Ainda não sabia bem o que era a hipnose, nem tampouco as
muitas técnicas para aplicá-la. Costumava perguntar ao profes
sor Malomar, meu grande introdutor na área, se a pessoa podia
bocejar, rir ou chorar, se abrir os olhos era sair do transe, se a
pessoa poderia falar; ia treinando e aprendendo, curiosa, a cada
dia, um novo passo.
Por isso considero essencial ter uma boa noção sobre o que
seja a hipnose, como se manifesta, seus níveis de profundidade,
seus fenômenos.
Logo em seguida, verificar e aprender quais as maneiras de
se colocar uma pessoa em transe. Há várias técnicas que vêm se
propagando e que você poderá utilizar variadamente. Vamos
abordar aqui neste livro alguns ericksonianos e suas técnicas de
prática clínica que mais efetivamente nos ajudam a colocar o
cliente em transe e ~a trabalhar em hipnoterapia.
Lembremos sempre que hipnose não é urna terapia em si,
mas uma boa ferramenta que nos ajuda a tornar o inconsciente
observável e aflorar os recursos de cada um mais rapidamente
para um trabalho de cura.
Mas não basta só saber a teoria sobre hipnose e sobre suas
técnicas de aplicação. É necessário, e condição básica, uma boa
formação em psicoterapia, e até em psicanálise, para que você
possa saber como utilizar essas técnicas.
Com este guia você associará seus aprendizados de psica
nálise e psicoterapia e, numa boa mistura, verá os resultados.
Hipnoterapia Erjcksoniana Passo a Passo 23
Espero que você utilize bem o que verá à frente. Sempre
ciente de que o bom senso é uma condição in~portante na utiliza
ção da hipnose~
Que este guia possa realmente guiá-lo no caminho da luz!
Como disse Milton H. Erickson a uma cliente deprimida,
“~. nenhuma dor dura para sempre, depois da chuva vem a luz
dosoL.~”.
. 4 r.~. .~ ~ .~N 7 . ~ r ~ — ,~ ~ •4~.. ~ .~ •~.. . .
Capítulo 1
História da hipnose
Todos que estão familiarizados com leituras sobre o tema
sabem que este é um capítulo que não falta nos livros.
A hipnose existe desde que o homem apareceu na terra. Os
fenômenos hipnóticos fazem parte da vida cotidiana de todos os
seres humanos. Nós passamos por eles todos os dias, várias ve
zes por dia. Mais adiante veremos os fenômenos hipnóticos e
você entenderá melhor.
A hipnose é um fenômeno universal. Portanto, ela pode ser
encontrada na história da humanidade desde os seus primórdios.
As induções hipnóticas são tão antigas quanto a comprovação da
existência das civilizações antigas, passando por culturas dife
rentes em danças, rituais, expressões orais, forças da natureza,
vindas desde povos não civilizados até os civilizados, todas se
guindo e procurando um estado especial de consciência: o transe.
Podemos ver, no decorrer da história, que este estado espe
cial foi associadoa idéias de modificação de energia, um sono di
ferente, urna patologia, uma regressão, urna aprendizagem ad
quirida, uma dissociação, um envolvimento motivado, uma ence
nação.
Século XXX a.C.
No Egito via-se, através de papiros, que os sacerdotes iii
duziam um certo tipo de estado hipnótico.
26 Sofia M. F. Bauer
Século XVIII a.C.
Na China induzia-se um certo tipo de transe hipnótico
para se buscar a aproximação entre os pacientes e seus antepas
sados.
Mitologia grega
Filho de Apoio e Coronis, Asclépios (o Esculápio dos ro
manos) aprendeu com o centauro Quíron um tipo de sono espe
cial que curava as pessoas. Muitos dormiam no templo do deus,
e durante a noite se dava a cura.
Século XI
Avicena (Abu Ali ai-Husayn ibn Sina, 980-1037), sábio, filó
sofo e frLédico iraniano, acreditava que a imaginação era capaz de
enfermar e de curar pessoas.
Século XVI
Paracelsus (Philippus Aureolus Theophrastus Bornbastus
von Hohenheim, 1493-1541), pai da medicina hermética, acredita
va na influência magnética das estrelas na cura de pessoas doen
tes. Confeccionava talismãs com inscrições planetárias e zodia
cais.
Séculó XVIII
Franz Anton Mesmer (1734-1815) foi considerado aquele
que inaugurou a fase científica da hipnose. Assim, o início da his
tória formal da hipnose se deu em 1765 com os trabalhos de Mes
mer com seu magnetismo animal. Utilizando-se de magnetos,
Mesmer curava dores e doenças naquela época, pela aplicação de
tais ímãs na fronte da pessoa. Ele propunha que a cura se dava
por uma ab-reação da harmonia orgânica, produzida por urna
concentração inadequada de um fluido magnético invisível. Pen
sava que a cura se dava ao fazer fluir o tal magnetismo. Foi cons
titujndo fama com suas curas, e logo chamou a atenção pelo su
posto charlatanismo. Foi feita uma comissão para investigar se a
cura era mesmo real ou não. Participaram desta comissão Benja
mm Franklin, Lavoisier, Guillotin e Baiily, em 1784. Fizeram o
mesmo trabalho substituindo os magnetos por madeira e obtive-
wpnoterapia Ericksonlana Passo a Passo 27
rafli 05 mesmos belíssimos resultados. Consideraram então Mes
mer ~ charlatão. O mesmerismo foi proibido. Não viram o que
perdiam: a excelência dos resultados.
Mesmer não foi o primeiro. Seguia idéias de autores que
curavam doenças, acusados do uso de técnicas de bruxaria. Entre
estes autores estão: o abade Lenoble, Paracelso (1493-1541), Jan
Baptiste Van Helmont (1579-1644), Robert Pludd, Jantes Clerk
Maxwell (1831-1879), padre Kircher, Greatrake e JeanJoseph
Gassner. Seguia também as sistematizações ffsico-qufmicas de
Luigi Galvani (1737-1798) e Antoine Laurent de Lavoisier (1743-
1794).
Podemos citar taml?ém o marquês de Puységur (1751-1825)
como um discípulo de Mesmer que descobre o Sonambulismo
Artificial. Ao. fazer hipnose, usava tocar .hai~pa comç uma forma
de produzir “magnetismo”, termo provindo de Mesmer. Além
disso, utilizava os valores do paciente, como Erickson veio a La:
zer mais tarde.
Pe. José Custódio de Paria (1755-1819), mais conhecido
como abade Paria, graças ao famoso romance de Alexandre Dia-
mas, O Conde de Monte Cristo, teve contato com as idéias de Mes
mer, defendeu-as e sustentou a idéia de que o transe se asseme
lhava ao sono.
Século XIX
James Braid (1795-1860) — cunhou o termo hipnotismo.
Do grego hypnos, sono. Mais tarde tentou trocar o nome
para monoideísmo, mas o termo já havia pegado. Induzia otran
se por fixação do offio a um ponto acima da linha dos olhos.
James Esdaile — era um médico inglês que se utilizou das
técnicas de Mesmer para fazer grandes cirurgias sem anestesia
• durante a guerra na Índia. Publicou o livro Mesmerisnio na Índía
em 1850.
A escola de Nancy (de Llébeault, de Bernheim e de (±oué)
— considerava que o estado de transe era um estado normal e
não patológico. Se propunha que a muçiança acontecia de uma
forma não-consciente através da intervenção da vontade. E que a
sugestão operava somente quando encontrava um eco interno,
uma auto-sugestão.
28 Sofia M. F. Bauer
A escola da Salpêtrière — (Charcot), onde Freud fora fazer
seus estudos, considerava o estado de transe como algo que só
acontecia corno estado patológico.
Jean Martin Charcot (1825-1893) — tido corno um dos
maiores neurologista do século XIX, após estudo com um grupo
de pacientes histéricos, considerou o transe como um estado pa
tológico de dissociação. Também dividiu o transe em três níveis:
a catalepsia, a letargia e o sonambulismo. Foi o fundador da es
cola de neurologia da Salpêtrière.
Ambroise-Auguste Liébauit (1823-1904) — assemelhava o
transe ao sono, só que o transe resultava de sugestões diretas.
I-iippoiyte Bernheirn (1840-1919) —~ seguidor de Liébault,
desenvolveu a idéia do transe como um estado de “reforçada su
gestibilidade çausada ~ sugestões”. Liébault e Bernheim con
fluíram para a idéia de transe e sugest~bilidade.
Século XX
Ivan Pavlov (1849-1936) — médico russo que definiu o
transe corno um “sono incompleto” causado por sugestões hip
nóticas. Estas sugestões provocariam uma excitação em algumas
par Les do córtex cerebral e inibição em outras partes. Criador da
indução reflexológica.
Pierre Janet (1849-1947) * francês que descreveu o transe
corno uma dissociação. Introduziu o termo subconsciente para
diferenciá-lo do inconsciente.
Freud, nesta época, fez seus estudos junto aos casos de his
teria de Charcot e~ acabou por abandonar a hipnose, depois de
muitos estudos com Breuer. Faziam a correlação da hipnose com
patologia. O transe sonambúlico, que provocava amnésia, e a
vontade crescente do descobrimento dos caminhos do incons
ciente fizeram Freud abandonar a hipnose e partir para a livre as
sociação. Breuer aprendeu a aproveitar o transe menos profundo,
e então veio a fama e a inimizade com Freud.
Mas Freud, já em 1918, no Congresso Psicanalítico de Bu
ciapeste frisava a importância de aliar à psicanálise a hipnose. No
final de sua vicia, em 1938, falou da “legitimidade de certos fenô
menos hipnóticos” no Esboço de psicanálise. E, por fim, da possibi
I-{ipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 29
lidacle de juntar o ouro da psicanálise ao bronze da sugestão hip
nótica.
Após a Segunda Grande Guerra, a hipnose começou a reto
mar força no tratamento dos traumas pós-guerra. Vieram novas
teorias:
Ernest Simmel, psicanalista alemão (1918) — desenvolveu
a hipnoanálise.
Clark Leonard Huli (1884-1952) professor de psicologia em
Yale, interessou-se pelos aspectos experimentais da hipnose, lan
çando o livro Hypnosis and sugestíbility, em cjue afirma que os fe
nômenos hipnóticos são uma resposta adquirida, igual aos hábi
tos. Teoria da aprendizagem: repetição associativa, condiciona
mento e formação de hábito.
Kris (1952) — regressão dirigida a serviço do ego.
André Mulier Weitzenhoffer (1921) — reforça o conceito de
aprendizagem, mas caracteriza o transe corno experiência natura
lista.
Gili e Brenman (1959) — regressão a um estado primitivo
de transferência com o hipnotizador.
Fromm, Oberlander e Grunewald (1970) —- ego compulsi
vo e regressão adaptativa.
Ernest Hillgard — modificou os conceitos de dissociação
de Janet, em que o transe é um desligamento temporário.
Milton H. Erickson (1901-1980) — observadoi’ nato, perce~
beu a natureza muitidimensional do transe, que se modifica ex
periencialmente de pessoa a pessoa. Por mais que haja defini
ções, serão sempre uma visão pessoal que falharão em explicar
algum ponto e não irão substituir a experiência real de viver a
hipnose.
“Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa quão
precisa ou completa seja, não irá substituir uma experiência real,
nem tampouco poderá ser apl:icável a todos os p~icientes” (Milton
H. Erickson).
Erickson, seguindo os achados de bons resultados de Clark
Huli, iniciou sua jornada, utilizando-se da hipnose de uma forma
muito pessoal. Nenhuma indução clássica, mas sim uma indução
especial e única para cada paciente, fazendo com que o paciente
30 Sofia M. F. Bauer
se tornasse seu próprio indutor, den±ro de uma técnica bastante
naturalista.
Podemos resumir,de acordo com o passar dos tempos,
que se considerava a hipnose uma técnica, e que o hipnotizador
curava. Mais tarde, que era necessário a interação de ambos, hip
notizador e hipnotizado. Depois, foi visto que a cura vem de den
tro daquele que deseja se curar. A indução é urna arte, uma habi
lidade que pode ser desenvolvida por todos, pois, naturalmente,
pode ser aprimorada de dentro para fora.
É isto que veremos a partir de agora. Boa viagem!
A viagem que vamos começar é na história da vida de
Erickson.
Rapaz jovem, filho de fazendeiros, contraiu poliomielite
aos 17 anos. Febril, à beira da morte, foi diagnosticado pelo mé
dico que disse à sua mãe e ele pôde ouvir que “este menino não
passará do amanhecer”. Raivoso e indignado pensou: “Como um
médico pode dizer uma coisa destas a uma mãe?!” Pediu a sua
mãe que o arranjasse na cama de tal maneira que pelo espelho
veria o sol nascer. Agüentou firme pensando: “Se eu vir o sol
nascer, não morrerei.” Aos primeiros raios de sol, ele se entregou
e entrou num coma profundo, vindo a despertar uns dias depois,
já refeito do pior, a morte. Foi sua primeira luta interior, em que
experienciou a força vir de dentro. Mais tarde, constatou o pri
meiro dos conceitos que veio a desenvolver: o princípio ideodi
nâmico. Aquele que diz que urna idéia (um pensamento) é um
ato em estado nciscendi, corno disse Freud. Ele estava paralítico,
preso a um.a cadeira de balanço, vendo seu povo trabalhar lá
fora, no campo, coi±~ muita vontade de lá estar também. Percebeu
que sua cadeira balançava. Como isto podia ocorrer se estava pa
ralisado. Foi ai que percebeu que seu corpo fazia um movimento
de ir para frente, como sua idéia de ir para fora. Começou a trei
nar sua mão, depois seus braços, depois aprendeu a andar passo
a passo e em pouco tempo estava se recuperando.
iJrna pessoa que experiencia a motivação como força básica
motivadora desenvolveu isto junto à hipnose: a força vem de
dentro. Urna resposta interior.
Milton Hyiarid Erickson, nasceu em Nevada, EUA, em 15
de dezembro de 1901. Morreu em 27 de março de 1980, e deixou
I—Iipnotera.pia Ericksoniana Passo a Passo 31
uma obra muito valiosa, com a utilização de hipnose naturalista,
que ressignifica os caminhos ditos problemáticos. Como psiquia
tra teve uma boa formação em psicoterapia e, por ter seu lado in
tuitivo e observador muito desenvolvido, foi se envolvendo, ao
longo da vida, com hipnose, a pontó de ser conhecido nos EUA
como Sr. Hipnose. Foi o presidente fundador da Amer:ican Socie
ty of Clinical Hypnosis e editor fundador da revista daquela so
ciedade, American Journal of Clínical Hypnosís.
Milton 1-1. Erickson tinha uma forma muito particulai: de
ensinar, através de seminários didáticos, em que seus alunos
mais experienciavam sua metodologia do que se prendiam à teo
ria.
Nos EUA, existem profissionais que merecem ser citados
por seus trabalhos de hipnose:
André Weitzenhoffer — grande estudioso do assunto, de
dicou-se à pesquisa da hipnose e de seus aspectos experimentais,
à divulgação das escalas de transe e ao desenvolvimento de con
ceitos que fundamentassem a hipnose. Tem várias publicações de
grande valia e respeito.
Ernest Hillgard — outro estudioso dos aspectos experi
mentais, com várias publicações de grande valia, dando ênfase
ao transe como dissociação.
A seguir poderíamos citar os seguidores de Milton 1-1.
Erickson, como os grandes disseminadores das técnicas ditas
ericksonianas.
Jay I-Ialey — colega de Milton 1-1, Erickson, publicou Tera
v~a nõo-convencíoncil, ~m que torna Erickson mais conhecido como
pai das abordagens de terapia estratégica breve.
Jeffrey Kenneth Zeig (Nova Jorque, 6/11/1946) — aluno de
Erickson por seis anos. Aprendeu e desenvolveu um metamodelo
de psicoterapia baseado nos ensinamentos tidos com o mestre
Erickson. Foi o fundador e é o presidente da Milton H. Erickson
Foundation, e tem dedicado sua vida a ensinar pelo mundo afora
a abordagem ericksoniana do trabalho com hipnoterapia. A
maior parte deste livro vem dos ensinamentos de Jeffrey 1K. Zeig.
Ele tem muitos livros sobre o assunto publicados e alguns deles
em português.
32 Sofia M. F. Bauer
Podemos ainda citar nomes reconhecidos mundialmente
corno seguidores da linha de hipnoterapia ericksoniana. Cada
um à sua maneira, desenvolvendo uma linha de abordagem den
tro deste tema. Ernest Rossi, com a terapia das mãos; Stephen
Gilligan e sua concepção pessoal, em que mistura as técnicas
aprendidas com Erickson, o budismo e o aikidô, fazendo um
grande trabalho de amor e integração dos clientes; Stephen e Ca
rol Lankton, que desenvolveram as técnicas de metáforas embu
tidas, buscando a resposta interior através de suas riquezas que
são redescobertas. Existem jnúmeros outros seguidores que vão
desenvolvendo novas abordagens daquilo que vem sendo batiza
do de abordagens naturalistas para desenvolver o transe.
No Brasil, temos o professor Malomar Lund Edelweiss,
nascido em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, em 1917.
Ele é psicólogo, professor universitário desde 1952. Teve como
primeira formação acadêmica o curso de Direito, depois de Filo
sofia. Fez sua formação em psicanálise em Viena, no Wiener Ar
beitskreis für Psychoanalyse, com Igor Caruso. Fundou, em 1956,
no Rio Grande do Sul, o Círculo Brasileiro de Psicanálise, tendo
hoje nove sociedades afiliadas em seis estados brasileiros. Tam
bém deu início ao Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, ao mu
dar-se para esse estado em 1963~ E é em Belo Horizonte que vem
praticando a hipnose juntamente com a psicanálise sob o nome
de hipnoanálise há aproximadamente 15 anos. É o introdutor do
assunto eMre seus seguidores e alunos. Exerceu por mais de 30
anos a prática psicanalítica clássica, e vem dedicando-se nestes
últimos 15 anos à prática da hipnoanáiise e hipnoterapia. Foi um
~dos primeiros divulgadores das obras e trabalhos de Milton 1-1.
Erickson no Brasil. Mantém, em nível de pós-graduação, curso
programado em cinco anos letivos, para universitários com mais
de cinco anos de formados em exercício profissipnai na área da
hipnoanálise e hipnoterapia. Considero-o o padrinho brasileiro
da hipnoterapia.
Capítulo 2
Mitos e conceitos
Para trabalhar com hipnose é preciso primeiro saber o que
é. Apesar das inúmeras teorias, até hoje a cbnceituação e defini
ção de hipnose ainda é algo polêmico.
Vou começar pelos mitos sobre hipnose que comprometem
o conhecimento e a aceitação desta como urna ferramenta muïto
boa de ajuda às psicoterapias.
1. Mitos
Podemos ver que os mitos sobre a hipnose se propagam
através dos séculos. No século XIX, a novela Trilby escrita por Du
Maurier, fala de Svengali, com sua personalidade forte e maléfi
ca, e Trilby, a mocinha fraca que se deixa influenciar pelo hipno
tizador Svengali e se torna uma excelente cantora enquanto está
hipnotizada
Os mitos sur~iram inicíalmente relacionados aos hipnoti
zadores de palco e suas mágicas demonstrações. Abordarei os
principais mitos, sobre os quais nossos clientes sempre chegam
questionando, e é preciso que se desfaçam para que se possa es
tabelecer uma relação de confiança e não de domínio.
A hipnose é causada pelo poder do hipnotizador
Este é um mito comum, pois até hoje, em “hipnose de pal
co”, o que se vê é a personalidade forte e astuta de um bom hip
notizador sugestionando pessoas a fazer aquilo que eles pedem:
34 Sofia M. F. Bauer
comer cebola como se fosse maçã e assim por diante. O que você
provoca com este tipo de demonstração? Poder sobre o outro?!
Esta é urna idéia que vem desde os tempos de Mesmer, que vin
culou o transe ao poder do magnetismo animaL Porém, na verda
de, a hipnose não acontece apenas pelo poder do hipnotizador,
mas pela aceitação e interação da pessoa que entra em transe e
deseja experiencíar aquilo que se pede. E muitas vezes o hipnoti
zador faz a hipnose dita autoritária, aquela que dá ordens, com
todo seu jeito poderoso e não consegue nada. A hipnose acontece
num campo de interação e confiança, o rapport.
Quem pode ser hipnotizado
Teoricamente todo mundopode ser hipnotizado. Alguns
acreditam que isso só acontece com as pessoas de mente fraca,
mas a verdade é que a hipnose faz parte do nosso dia-a-dia. En
tramós em transe espontaneamente, por algumas vezes, num
mesmo dia e diariamente. Quem já não experimentou sensação
de, ao tomar banho, ir se desligando de tudo e viajar nos pensa
mentos? Quem já não deu um telefonema e esqueceu para onde
ligava? Quem já não experimentou dirigir, andar quilômetros e
só depois verificar que havia andado muito sem se dar conta? Es
ses são fenômenos hipnóticos do nosso dia-a-dia. São fenômenos
de focalização da atenção. Portanto, um hipnotizador habilidoso,
numa boa interação com seu cliente, trabalhando a confiança e a
motivação, leva seu cliente ao transe. Em tese, todo mundo pode
ser hipnotizado.
O hipnotizador c9ritroia o desejo do paciente
Sabemos que a mente inconsciente é sabiarnente amiga.
Portanto, esta afirmativa é falsa. O sujeito é protegido pelo
seu inconsciente de fazer aquilo que não deseja. Caso ele o faça é
~o:rque julgou inofensivo, ou por acreditar que aquilo possa aju
dar.
A hipnose pode ser prejudicial à saúde
A. hipnose não causa danos, se usada por pessoas compe
tentes e bem-intencionadas. Pessoas inescrupulosas sugerem a
melhora extrapolarido os limites de seu cliente~
I-Iipnol:erapia Ericksoniana Passo a Passo 35
Lembre-se, ela é como a eletricidade, boa, mas em excesso
e mal aplícada pode dar choque. Por isso a cautela de se preparar
bem o profissional da área.
Mas em si a hipnose não faz mal algum, por ser parte da
nossa vida diária. O que faz mal é a sua manipulação inescrupu
losa por certos profissionais e a creduiiclacl.e de certos pacientes.
Pode-se tornar dependente de hipnose
Quando as pessoas procuram por ajuda, estão de certa ma
neira dependentes do profissional que as atende. Mas, à medida
que vão se curando, esta dependência acaba. Elas dependem do
clínico para socorrer e confortar. O objetivo é ajudar a pessoa a se
curar e ser auto-suficiente. A hipnose ajuda neste processo e
pode-se até ensinar a auto-hipnose como auto-ajuda e inde
pendência.
A pessoa pode não voltar do transe, ficar presa nele
Não é possível; o máximo que acontece é a pessoa adorme
cer, que seria o passo seguinte ao transe profundo. Sabe-se que o
transe é um estado entre a vigília e o sono. Se você aprofunda,
dorme e pode ser acordado.
O sono e a hipnose
Hipnose não é sono. É um estágio anterior. Às vezes, con
funde-se o estado da pessoa em transe profundo, pensando que
adormeceu. Mas mentalmentê a pessoa é capaz de estar concen
trada e com certo grau de consciência e responder aos seus co
mandos. Assim, o tr~inse parece sono do ponto de vista físico (ati
vidade diminuída, relaxamento muscular, respiração suave, etc.),
mas, do ponto de vista mental, a pessoa está relaxada de forma
alerta
A pessoa fica inconsciente em transe
A hipnose é um estado de atenção focalizada, o que não
quer dizer que você perca a consciência. Ocorrem modificações
nas percepções e, num nível mais profundo de transe, acontece
um desligamento da atenção vigilante. E só no transe profundo é
que ocorre a amnésia total.
36 Sofia M. E. Bazar
Hipnose e relaxamento
Hipnose pode ser induzida via relaxamento, mas nem toda
hipnose é relaxamento. Um atleta correndo ou nadando pode es
tar em transe e não está em relaxamento.
Hipnose e terapia
A hipnõse não é uma terapia. É somente mais uma boa fer
ramenta utilizada numa terapia, que ajuda a acessar o incons
dente de uma manéira ágil. Mas hipnose por si só traz alívio e
páz, o que é curativo também.
e
Regressão e. hipnose (
E.
Muitas pessoas pensam que hipnose é regressão. Regressão
é um dos muitas fenômenos que podem ocorrer com a pessoa em
transe, mas nem toda pessoa regride quando entra em transe.
Principalmente as pessoas, mais ligadas, e/ou mais controlado
ras, muito pensativas e racionais. Estas têm mais dificuldade de
entrar num transe mais profuxtdo. Para haver regressão é neces
sário um transe médio ou profundo.
A regressão ocorre como uma hipermnésia, em que fatos,
imagens e sensações são evocados de maneira intensa. Pode
ocorrer naturalmente ou por indução.
Mas regressão não é hipnose. A hipnose abrange outros fe
nômenos que também são utilizados dentro do transe, muitas ve
zes com mais eficácia, além de não provocar uma sensação de
derrota para aqueles que não a conseguem. Enormalmente não
há necesØdade de~ se fazer só regressão na hipnoterapia. É bom
lembrar que na tegress5o as memórias podem ser construídas~ 9
que vale, é a realidade psíquica para o nosso trabalho.
Há perigos na hipnose?
Por ser uma técnica que trabalha o desconhecido, a mente
inconsciente do ser humano, pede-se cautela e escrúpulos.
Assim, a hipnose exige a formação do profissional, preparo
e habilitação reconhecidos para lidar com psicoterapia e um bom
estudo da mente humana (psicanálise, estudo de psicoterapias,
psicopatologia).
~~lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 37
Ela é utilíssima em mãos hábeis, mas se torna uma arma
perigosa, se aplicada indevidamente.
A hipnose pode ser aprendida por um hipnotista de palco?
Se o propósito é trabalhar psicoterapeuticamente, não bas—
ta apenas aprender a hipnotizar e a dar sugestões, o que um hip
notizador de palco sabe fazer muito bem e não tiramos seu méri
to. Mas é preciso mais, é preciso conhecer o lado psicológico e
psicodinâmico dos problemas que a pessoa traz.
A hipnose realiza milagres
Ela não realiza milagres. O que acontece é a junção da mo
tivação do paciente e a abertura às riquezas de cada um em seu
inconsciente. Nesta mistura, a hipnose abre um novo caminho, o
de acessar as novas respostas interiores. Parece milagre, mas é
algo sério e cientificamente teórico.
A hipnose significa inconsciência
As pessoas que ainda não conhecem a hipnose pensam que
estar em transe é ficar inconscíente, Pelo confrário, é ficar atento,
com uma atenção especial. Isto, muitas vezes, pode significar
prestar atenção em tudo o que o hipnotizador diz, e não “apa
gar”, O sujeito hipnotizado pode ouvir, sentir, falar; mas tudo
acontece numa abertura especial e não na falta de consciência.
Se juntarmos isto ao milagre, o mito anterior, você verá
porque muitas pessoas procuram a terapia com hipnose e sofrem
insucessos. Vêm à procura de alguém que faça o milagre e de for
ma inconsciente. Istà não existe. E necessário a motivação e a
~fontade de mudar, aliada à confiança de que, lá no fundo, existe
um tesouro em recursos para sua recuperação. A função do hip
noterapeuta é conduzir o cliente a aprender que ele é seu próprio
terapeuta. Aprendendo, através da hipnose, a conhecer-se me
lhor.
A hipnose debilita a mente
Pelo contrário, a pausa reabilita as suas energias vitais, um
pa a mente, suaviza os sentimentos para a pessoa sentir-se majs
livre e lutar pelos seus ideais.
38 Sofia M. F. Bauer
Urna pessoa hipnotizada revela seus segredos
Este é um conceito errado. Pensar que a pessoa pode
confessar seus segredos como se estivesse sob o efeito de dro
gas é falso, Ela falará, se assim o quiser, porque pode ocorrer a
hipermnésia, a lembrança vívida de um fato esquecido. Deste
modo, a hipnose pode auxiliar o paciente a dizer o que ele ne
cessita dizer, mas não pode forçá-lo a tal, se ele não tiver von
tade de fazê-lo.
O sujeito não fica à mercê do hipnotizador, Ele pode falar,
caso queira se colocar e precise. E, muitas vezes, ainda ocorre o
acréscimo de memórias construídas pela realidade anterior do
sujeito. Mas não se pode dizer que o sujeito vai confessar seus se
gredos.
E se houver a morte do hipnotizador durante o transe?
Já pensou se o terapeuta morre, durante o transe, de um
a Laque cardíaco ou outra coisa qualquer?
O que aconteceria é que, ao não ouvir mais a voz do hipno
tizador, o paciente ou inte:rromperia o transe induzido ou conti
nuaria nele por algum tempo, em auto-hipnose, e em seguida
despertaria como despertamos de um sono natural. Talvez, até o
paciente despertasse para descobrir porque o hipnotizador não
está mais atento.O fato é que o transe é um estado entre estar acordado e
dormindo; e se você continuar no transe você adormece. Se ador
mece, também acórda. Assim, naturalmente, retorna ao estado
acordado.
2. Conceitos
O conceito de hipnose não é unânime. É algo difícil de con
ceituar teoricamente e há controvérsias.
Entre os conceitos já aceitos, está o de um “estado natural de
consciência, diferente do estado de vigílía”. O nome dado poi” James
Braid, hipnotisn~o (um estado parecido com o sono), diz respeito
à semelhança com esse estado.
I_IipnOterapia Ericksoniana Passo a Passo 39
De acordo com o dicionário Aurélio, “estado mental seme
lhante ao sono, provocado artificialmente, e no qual o indivíduo
continua capaz de obedecer às sugestões feitas pelo hipnotiza
dor.
De acordo com Milton H. Erickson, “suscetibilidade arn_
pliada para a sugestão, tendo como efeito uma alteração das ca
pacidacles sensoriais e motoras para iniciar um comportamento
apropriado”
Alguns autores consideram a hipnose um estado “altera
do” de consciência. Este é um termo polêmico (alterado), pois
tem um tom pejorativo.
Para a Amerícan Psychoiogícai Associa tion, na definição pu
blicada em 1993, a hipnose é um procedimento durante o qual
um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente,
paciente ou indivíduo experimente mudanças nas sensações, per
cepções, pensamentos ou comportamentos.
Mas mesmo toda a conceitualização tentada até hoje não
consegue englobar toda a riqueza da experiência da hipnose, a
qual, através dos fenômenos hipnóticos, capacita uma pessoa a
produzir novos aprendizados e a se utilizar da sabedoria do seu
inconsciente a seu serviço.
Para Erickson, o transe é um estado de sugestibilida.de in
tensificado artificialmente e semelhante mas não igual ao sono,
no qual parece ocorrer urna dissociação natural dos elementos
conscientes e inconscientes do psiquismo. ‘d’O transe é um perío
do no qual as limitações que urna pessoa tem, no que dizem res
peito à sua estrutura comum de referência e crenças, ficam tem
porariamente alteradas, de modo que o paciente se torna recepti
vo aos padrões, às associações e aos moldes de funcionamento
que conduzem a soluçao de problemas
Para Gilligan, o transe hipnótico seria “urna seqüência inte
racíonal, experiencialmente absorvente, que produz um estado
especial de consciência, em que automaticamente começam a
ocorrer auto-expressões”.
Podemos dar uma definição prática:
Hipnose seria a. absorção da atenção do sujeito: a afenção se
ria focalizada através de urna indução ou de uma auto-indução,
absorvendo a atenção da mente consciente e isto daria a oportu
40 Sofia M. F. Bauer
nidade à mente inconsciente de se inanifestár através dos fenômenos
hipnóticos. A pessoa então experiencia um estado diferente de
consciência, com a mente consciente focada e parcialmente alerta;
enquanto sua mente inconsciente experimenta formas variadas
de manifestar as riquezas do inconsciente.
Os fenômenos hipnóticos aparecem de forma var:iada.
Cada transe é único. Não necessariamente a pessoa entrará em
transe da mesma maneira. Pode variar: variação de intensidade,
profundidade e de fenômenos que ocorrem.
Os fenômenos hipnóticos são: rapport, catalepsia, amnésia,
anestesia, analgesia, regressão, progressão, alucinações positivas,
alucinações negativas.
A sugestão faz parte do transe. A auto-sugestão também. A
sugestão seria uma comunicação associada a uma influência que
assim provocaria a absorção da mente consciente, que fica focali
zada em algum tipo de absorção sensorial e ideativa. Desta ina
neira, ocorre a oportunidade de a mente inconsciente se manifes
tar, em diversos níveis, através dos fenômenos hipnóticos. Esta
belecida a confiança, o rapport, há o acesso ao inconsciente e ocor
re algum tipo de mudança.
Quando eu era estudante, gostava de sublinhar os textos lj
dos, depois fazer um resumo e depois apenas um esquema que
memoriza a imagem. Assim nunca mais me esquecia do que pre
cisava saber.
Vamos brincar de fazer esquema. Como se estivéssemos
numa aula, eu provavelmente colocaria no quadro para você me
morizar:
COMUNICAÇÃO ± INFLUÊNCIA = HIPNOSE
1•- ABSORÇÃO DA ATENÇÃO DA MENTE CONSCIENTE
* em sensações, sentimentos, percepções
2- ELICIAÇÃO DA MENTE INCONSCIENTE
— o aparecimento dos fenômenos hipnóticos
1 + 2 = TRANSE HIPNÓTICO
A ABSORÇÃO DA MENTE CONSCIENTE MAIS O
APARECIMENTO DE FENÔMENOS HIPNÓTICOS
LEVA ÀMUDANÇA.
I*Ijpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 41
Resumindo
Todas as teorias até hoje desenvolvidas são úteis, mas não
conseguiram definir hipnose e dar a última palavra na descrição
do processo e da experiência hipnótica.
Ela pode ser considerada como um estado de consciência
diferente do estado de vigília. Ocorre também no estado acorda
do, no nosso dia-a-dia, como um fenômeno natural.
É considerada um estado de atenção focalizada, uma ab
sorção: a mente consciente focaliza a atenção em alguma coisa e~
pecial (percepção, pensamentos, imagens, estórias, amor etc.) e
há uma dissociação da mente inconsciente (automatísmos).
O que se sabe é que alguma coisa acontece que é diferente
de estar simplesmente acordado. Há uma focalização da atenção
voltada para o que é interno. Passa a valer também a realidade
interna criada pela pessoa. Pode envolver relaxamento e todos
ou alguns fenômenos hipnóticos.
Normalmente, ela é induzida, ou até auto-induzida. A
boa relação entre as duas partes é uma condição importante. O
rapport gera a confiança, a abertura, e faz com que aquele que
guia possa ser ouvido e atendido em sua faculdade de a1.~sorver a
atenção. O resto quem faz é o sujeito que está sendo hipnotizado.
A hipnose vem de dentro do sujeito.
Num conceito mais atualizado, a hipnose acontece pela in
teração das duas partes.
3. Mente consciente e mente inconsciente
Dentro da visão de Erickson, podemos definir:
Mente consciente — é considerada a parte da mente que
nos permite estar ciente das coisas, ter crítica. Tem a habilidade
de analisar as coisas, agir racionalmente, fazer os julgamentos. É
a parte racional, mas é a parte limitada de nossa mente. Você só
pode prestar atenção a poucas coisas ao mesmo tempo. É como
chupar cana e assoviar ao mesmo tempo.
Mente inconsciente — é o reservatório de todas as expe
riências adquiridas através da vida, Experiências pessoais, apren
42 Sofia M. E. Bauer
e
dizados, necessidades, motivação para interagir com seu próprio
mundo e as muitas funções automáticas. É uma mente sábia, não
rígida, nem analítica e tampouco limitada. Ela responde a comu
nicações experimentais, é capaz de interpretações simbólicas e
tem a tendência a uma visão global. Carrega os recursos para as
mudanças.
Pode-se ver a dwilidade da mente pelos hemisférios cere
brais. O hemisfério direito — o da mente inconsciente, hemisfério
intuitivo — opera no nível simbólico e da criatividade. O hemis
fério esquerdo — o da mente consciente — é o lógico, analítico e
tem as funções intelectuais.
A hipnose é uma ferramenta que nos permite dissociar es
tas duas partes, para “acessar” os recursos sábios do inconscien
te, reintegrando a seguir, de uma forma saudável, a ajuda com a
resposta que vem de dentro da mente inconsciente.
4. Sugestibiidade
De acordo com André Weitzerihoffer, sugestibiidade “é
a capacidade de responder às sugestões”. E sugestão seria
“uma comunicação que evoca uma resposta Involuntária que
reflete o conteúdo ideacional da comunicação. É a comunica
ção de uma pessoa para a outra que evoca um automatismo na
segunda pessoa, e reflete a realização do conteúdo Ideacional da
comunicação”.
A palavra sugestiTo vem do latim sugestione, em que su, sub
= embaixo, abaixo, por baixo, e gestione = gestão, administração,
gerência.
Lembrando Freud, “o pensamento é um ato em estado nas
cendi.” Nascer na pessoa uma nova idéia. Este é um princípio da
hipnose — o princípio ideodinâmico — em que uma idéia gera
urna ação.
Faço aqui um pequeno relato da história de Erickson,
quando ele descobre este princípio durante sua convalescença da
poliomielite.Sentado numa cadeira de balanço, totalmente para
lisado pela doença, estava com muita vontade de ficar lá fora no
campo como seus familiares, trabalhando na fazenda. Olhando
fixamente para fora com este pensamento em mente, notou que
1~{ipno terapia Ericksortiana Passo a Passo 43
~ua cadeira começou a balançar para frente e para trás. Era a
idéia fazendo com que ele se movimentasse. Foi assín~ que, atra
vés deste exercício de pensamento, Erickson foi reaprendendo a
se mover e mudar o que ele queria.
A sugestibilidade seria uma abertura para acejtar novas
idéias, novas informações. À medida que esta informação vai
sendo adquirida, dependendo do seu valor subjetivo, eia pode
alterar a experiência da pessoa de alguma maneira. A escolha
de aceitar ou não a sugestão proposta vai depender de a pró
pria pessoa acreditar que isso possa levar à mudança que eia
deseja.
É sempre bom alertar para o fato de que há pessoas com
uma capacidade crítica reduzida e de que há uma diferença entre
sugestibilidade e credulidade. Ter bom senso e usar da capacida
de de influência com sensibilidade é dever do hipnoterapeuta,
sempre com muito respeito ao desejo do outro.
Todas as pessoas são envolvidas por alguma opinião em
algum momento de suas vidas, Isso é particuiarmente evidente
nas propagandas que exercem influência através da comunicação
visual, auditiva e cenes tésica.
Fazer um transe hipnótico significa comunicar alguma coi
sa que o outro possa entender e para tal utilizamos estratégias de
comunicação.
5. Hipnotizabilidade
Diz respeito à suscetibilidade hipnótica, o grau e:m. que
você é hipnotizável. Transe leve, médio ou profundo.
Quem pode ser hipnotizado? Já vimos isto nos mitos.
Como a hipnose e seus fenômenos fazem parte de nosso dia-a
dia, podemos afirmar que todos podem ser hipnotizados. Joseph
Barber, em seu texto “O modelo do serralheiro”, mostra que a
suscetibilidade à hipnose depende do serralheiro (chaveiro) fazer
a moldagem correta para abrir a fechadura da mente inconscien
te. O modelo da hipnose naturalista, de acordo com cada cliente,
tem maior eficácia quanto a essa suscetibilidade. Quando se indi
vidualiza a terapia, há urna melhor resposta à indução. Veremos
isto mais tarde.
44 Sofia M. F. Bauer
5
U
G
E
80%T
A hipnose pode ocorrer em vários níveis. Veja o gráfico:
O transe médio é considerado o melhor, por ter maior efi
cácia quanto à sugestão. Em transe leve a consciência está muito
presente, e com ela a crítica e as resistências. No transe profundo
ocorre amnésia, que por vezes é prejudicial aos bons resultados,
A sugestibilidade é maior no transe médio, mas sabemos
que este gráfico é empírico. Você pode ter alta sugestibilidade
num paciente sonambúlico ou no transe leve. O mais importante
é a aliança terapêutica, o rapport. Tendo isso, você muda o gráfi
co, muda as possibilidades. .Aquilo que falei anteriormente, sobre
o modelo cio serralheiro quanto a entrar em transe, vale também
para a sugestibilidade que pode ser aumentada nos níveis vários
de transe. Portanto, o principal é fazer com que o paciente confie
em você. Mas, para aqueles que estão começando, saber que o
transe médio oferece maior sugestibilidade já traz segurança.
Neste nível, o paciente tem alguma consciência e controle, e pode
se soltar e confiar, observando.
Veja agora as escalas sobre o que acontece em cada nível de
1
50%
25%
SONAMBULISMO
SONO FISIOLÓGICO
HIPNOTIZABILIDADE
transe.
Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 45
Critérios de Hershinan para adequação de estados hipnóticos
• Transe leve (hipnoidal)
Relaxamento
Catalepsia das pálpebras dos olhos
Fechamento dos olhos
Começo de catalepsia corporal (sem movimentos)
Respirações mais vagarosas e profundas
Imobilização dos músculos faciais
Sensação de peso (pesado) em várias partes do corpo
Anestesia de luva
Habilidade para sugestões pós-hipnóticas simples
• Transe médio
Amnésia parcial (alguns sujeitos)
Definido retardamento na atividade muscular
Habilidade em ilusões de sensações
Aumento isolado de sensações
Marcada catalepsia dos membros do corpo
Habilidade para sugestões pós-hipnóticas mais difíceis
• Transe profundo
Habilidade para manter o transe com olhos abertos
Amnésia total (na maioria dos sujeitos)
Habilidade para controlar algumas funções orgânicas (pul
so, pressão arterial)
Anestesia cirúrgica
Regressão de idade e revivificação
Alucinações (positiva e negativa, visual e auditiva)
Habilidade de “sonhar” material magnífico
Habilidade para todas ou para a maioria das sugestões
pós-hipnóticas
• Transe pleno ou estuporoso
Marcado por respostas orgânicas lentas e quase completa,
inibição da atividade espontânea.
Fonte: Hipnose médica e odontológica, Mílton H. Erickson, M~D.,
Seymour Hershman, MIX e Irving Secter, D.D.S., Editora Livro Ple
no, Campinas, 1996.
46 SoflaM.P.Bauer
Estado (profundidade) da hipnose em relação
às aplicações clínicas (Weítzenhoffer)
Critérios Grau
Olhos abertos
Pálpebras pesadas Acordado
Pálpebras com tremor
Sensação de peso nas extremjdades
Sonolência
Terapia psicobiológica (reforço, per
suasão, reeducação, confissão e venti- Estado
lação) hipnoidal
Hipnoanálise (associação livre, fanta
sias induzidas)
Aumento do limiar de dor através do
relaxamento
Redução da tensão muscular geral
Fechamento dos olhos
Relaxamento muscular geral
Catalepsia das pálpebras (paralisia)
Catalepsia dos membros (flexibilidade
cérea Hipnose
Indução do membro rígido leve
Paralisia induzida
Automatismos induzidos
Terapia psicobiológica (condução)
Analgesia leve (cefaléias tensionais,
trabalho de parto e alguns partos, tra
balhos dentários simples)
Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 47
Critérios Grau
Amnésia pós-hipnótica parcial sugerida
Alterações sugeridas de vários senti
dos cutâneos
Anestesia em luva
Analgesia parcial pós-hipnótica
Automatismo generalizado
- Hipnose
Alteraçoes superficiais de personalida
media
de sugerida
Hipnoanálise (indução de sonhos, re
presentação de papéis)
Facilitação de terapias físicas
Analgesia para partos, trabalhos den
táríos e pequenas cirurgias
Sugestões_pós-hipnóticas_simples ______________
Amnésias pós-hipnóticas extensas su
geridas
Anestesia geral
Efeitos emocionais induzidos
Profundas alterações de personalidade
sugeridas
Alucinações
Hipnose
Alteração da noção de tempo profunda
Regressão e progressão de idade
Terapias biológicas (certas dessensibi
lidades)
Hipnoanálise (escrita automática, pin
tura, modelagem)
Remoção de sintomas
Uso quase geral de sugestões como ad
junto de intervenções médjcas
Anestesia para cirurgias maiores
48. Sofia M. F. Bauer
Critérios Grau
Amnésia pós-hipnótica total e espontâ
nea
Habilidade para abrir os olhos em hip
nose
Profundas alterações de personalidade Hipnose profunda
sugeridas Sonambulismo
Todas as sugestões pós-hipnóticas
Terapia psicobíológica (recondiciona
mento)
Hipnoanáiise (fixação de cristais, psi
codrama, conflitos artificiais induzi
dos, reivindicações)
Uso geral de sugestões como adjuvan
te de tratamentos médicos
Ponte:
The practice of hypnotisrn, André Weitzeiihoffer, MD., Nova
lorque, Wiley Interscience Publication, 1989. Copyright © 1989 by
John Wiley & Sons, mc.
f{ipnoteraPia Ericksoniana Passo a Passo. 49
A escala de Davis—Husband in Weitzenhoffer,
The practice ofhypnotism
Teste de
profundidade Escore sugestão e resposta
Não-suscetível
1
2 Relaxamento
3 Tremor de pálpebras
4 Fechamento dos olhos
5 Completo relaxamento físico
6 Catalepsia dos olhos
Transe leve io Rigidez cataléptica
11 Anestesia em luva
13 Amnésia parcial
15 Anestesia pós-hipnótica
17 Mudanças na personalidade
Transe médio 18 Sugestões pós-hipnóticas simples
25 Sonambulismo completo
26 Alucinações pós-hipnóticas visuais
positivas
27 Alucinações pós-hipnóticas auditi
vas positivas
28 Amnésia pós-hipnótica sistemati
zada
29 Alucinações auditivas negativas
30 Alucinações visuais negativas, hi
perestesia
Fonte:
Davis &z Husband, 1931. Copyright 1931 pela American Psy
chological Association.
50 Sofia M. F. Bauer
Depois de observaras escalas e os níveis de transe, vem a
pergunta: Para estar no transe médio ou profundo é preciso sen
tir tudo isto?
Na verdade, isto é uma escala. Uma médja do que acontece
em cada nível de transe. Mas o que ocorre normalmente não é se
verificarem todos estes itens em cada transe atingido ou induzi
do. Pode-se ter alguns dos itens ou todos eles. Há pessoas que
são mais cenestésicas e podem desenvolver mais sensações. Ou
tras têm uma capacidade de alucinar em imagens e outras de de
senvolver analgesia ou anestesia, e todas podem estar desenvol
vendo muitos níveis de transe, além de variar de fenômenos hip
nóticos de um transe para o outro. Por isso, é bom saber que uma
pessoa que hoje entra num transe leve, amanhã poderá desenvol
ver um transe médio ou profundo, e vice-versa; hoje desenvolver
o transe profundo, e amanhã o leve.
Mas como é que você de uma maneira prática vai saber
se o seu cliente entrou em transe? E qual a profundidade deste
transe?
A pessoa quando entra em transe fica com a mente cons
cjente absorvida. Dá vazão à mente inconsciente, a que os fenô
menos hipnóticos apareçam, e fica clara a constelação hipnótica,
ou seja, um quadro de sinais físicos que denotam um estado en
tre o acordado e o dormindo.
Ao perceber alguns destes sinais, você já está com seu
cliente em transe. Pode ser um transe mais leve, em que as carac
terísticas principais são: catalepsia, diminuição dos movimentos,
respiração mais lenta, às vezes sinais ideomotores.
No transe médio, observam-se uma catalepsia mais acen
tuada, músculos da face soltos e mais sinais da constelação hip
nótica como: movimento de deglutição diminuído, sinais ideo
motores, movimentos oculares, respiração mais lenta, às vezes
mudança na postura (mais caído para um lado).
O transe profundo parece-se com o sono. A pessoa conti
nua respondendo aos comandos do indutor do transe, ocorrem
os movimentos rápidos dos olhos (REM) e pode haver até so
nhos. Ela pode entrar em sonambulismo. O próprio nome já diz,
o sono mais o ambulismo. Parece estar adormecida, mas tem a
capacidade de andar, escrever, responder às perguntas, de uma
~jjpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 51
forma “acordada diferente”, pode abrir os olhos, mas estes ficam
vidrados e mais fixados a um ponto ou olhar vago. Este estágio é
anterior ao sono. O grau mais profundo de transe seria a letargia,
quase o sono. É difícil alcançá-lo., porque a tendência é passar di
retamente ao sono fisiológico. É preciso desenvolver esta capaci
dade que os monges treinam em suas meditações.
O transe letárgico, em psicoterapia, pouco adianta. O
transe médio é o utilizado com maior eficácia, pois desenvolve
a capacidade de se abrir para as potencialidades do incons
ciente, provoca apenas amnésia parcial e gera segurança em
quem o experimenta. A pessoa sabe que estava num estágio di
ferente, mas ela é partic~pativa da hipnoterapia. A hipnose
aqui se toma efetiva.
No transe profundo muitas vezes ocorre amnésia total; a
pessoa não se lembra de nada e não se torna participativa de
uma maneira consciente. Há casos em que é necessário um tra
balho no nível profundo: traumas, sugestões diretas, em que
não se deseja que a pessoa desenvolva uma resistência ao que
foi sugerido.
Mas, na maioria dos casos, é sempre bom desenvolver o
transe em nível médio. Lembremos que você, à medida que de
senvolve o rapport e faz o condicionamento ao transe, pode levar
uma pessoa que só vai até o nível leve a desenvolver um transe
mais profundo.
Fizeram-me uma pergunta durante uma aula. Uma per
gunta importante. O que cura mais rápido? Colocar uma pessoa
em transe profundo, ou uma pessoa em transe leve? Qual é o
transe mais eficaz?
Com o que você leu até o momento, sabe que o melhor
transe, para a sugestibilidade, é o médio. Mas e o paciente que só
entra em transe leve, ou só em profundo? Não teremos bons re
sultados?
O que funciona é o somatório de motivação, rapport e ne
cessidade. Um paciente bem motivado, apoiado na confiança que
tem no terapeuta e necessítando de melhora provavelmente será
o melhor cliente. Não importa o nível de transe. Para os erickso
nianos, isso não é importante. Então, não se preocupe se o seu
cliente não entra num transe médio ou profundo. Os clientes é
52 Sqfia M. F. Bauer
que têm essa preocupação: “eu não entrei em transe”, “eu não
apaguei”. Isto não é necessário. Fale ao cliente que o transe pode
ser leve, mas muito eficaz, caso ele preste a atenç~o necessária.
Porém, para você poder recorLhecer tudo isto, é necessário
saber o que é a constelação hipnótica e os fenômenos hipnóticos.
Você verá a seguir.
6. Constelaçõo hipnótica (segundo Jeffrey K. Zeig)
Um dos motivos de se sentar de frente para o cliente e de
mantê-lo sentado é poder observar a constelação hipnótica; além
de dificultar sua passagem direta ao sono.
Zeig criou este termo — constelação hipnótica — para de
signar aquelas características, sinais físicos, que mostram que o
sujeito está em transe. São elas:
Economia de movimentos (a catalepsia) — observa-se facil
mente quando a pessoa entra em transe; ela fica imóvel, econonil
za movimentos. É a catalepsia agindo. Não existe vontade de se
mexer. O que move, agora, é algo interno. O corpo pára e a menL
te produz.
Literalismo (interpretação literal) — uma segunda coisa ob
servada é que o inconsciente é literal, ou seja, ele responde lite
ralmente às palavras ditas. Por isso, todo cuidado com suas pala
vras, com o que você sugere. Vou lhe dar alguns exemplos. Você
pode perguntar a uma péssoa ~cordada: “Você se importa de di
zer seu nome?” A pessoa naturalmente vai lhe responder o
nome. No caso de estar em transe, ela pode simplesmente res
ponder que não ou sim. Outro exemplo: Uma vez, fazendo uma
indução, sugeri ao cliente que se imaginasse flutuando em urna
nuvem, como se ela fosse um cobertor gostoso de bebê; o pacien
te começou a sentir um calor enorme. Imagine se ele também ti
vesse medo de altura?! É bom prevermos, com algum questiona
mento, medos que possam ter relação com a indução que temos
em mente. E lembremos que a resposta do sujeito pode vir literal
mente.
~jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 53
Demora para iniciar resposta — há também a demora para
jniciar a resposta a um comando. Por isso, tenha um pouco de
paciência ao pedir algo, como levitação ou outra coisa qual
quer. As respostas costumam vir quando estamos desistindo.
Aos iniciantes, que ficam um pouco aflitos, achando que não
aplicaram bem a técnica, paciência, um pouco de silêncio e lá
vem a resposta.
Mudança nos reflexos de salivação e deglutição — você pode
notar que, logo ao iniciar o transe, há uma mudança no reflexo
de deglutição. No início., a pessoa saliva mais, engole mais. De
pois! quando já está num transe médio, a pessoa pára de engolir,
diminui o reflexo de salivação. É mais ou menos como o primeiro
sono, em que, às vezes, baba-se e depois fica-se quase sem saliva
no sono profundo.
Díminuição na freqüência respiratória, pulso e pressão sangüí
nea — há uma diminuição geral dos reflexos. Se quando estamos
dormindo ficamos menos acelerados, no transe, caminho entre o
estado alerta e o sono, há também a diminuição destes reflexos.
Há uma vasodilatação, pelo relaxamento muscular; uma tranqüi
lidade que pode ser observada até na respiração.
Relaxamento muscular — ocorre também o relaxamento
muscular. Você pode reparar melhor nos músculos da face.
Quando a pessoa entra num bom nível de transe, os músculos da
face vão se soltando. Costuma-se observar que a pessoa solta o
queixo e, muitas vezes, solta os lábios. Vê-se também os braços
entregues. É como ver um bebê que adormece. Sabe-se que o
bebê adormeceu porque ele se entregou; fica até mais pesado no
colo de quem o carrega. Assim, podemos observar que a pessoa
em transe se entrega a um estado de relaxamento generalizado.
Mudanças no comportamento ocular — os itens abaixo ocor
rem freqüentemente quando se faz o transe através da fixação de
um ponto, e você então observa as mudanças. pupilares; a perda
do foco; o olharvidrado, que também é comum no sonambulis
54 Sofia M. F. .Bauer
mo; e a mudança de piscadas que vão ficando mais lentas até o
fechamento dos olhos.
a) Mudanças pupilares — a midríase, ou dilatação da pu
pila, é observada no cliente em transe com os olhos
abertos.
b) Tremor palpebral — se você está trabalhando com o
sujeito de olhos fechados, talvez ocorra o tremor pai
pebrai. É um sinal de estar entrando em transe. É bom
você dizer ao sujeito que é muito natural os olhos tre
merem um pouco, involuntariamente, quando se está
entrando em transe, e que basta que ele respire fundo e
logo os tremores passarão.
~) Perda de foco — o cliente tem a sensação de visão em
baçada.
d) Olhar “fixo” de transe — o olhar vidrado, como no so
nambulismo.
e) Mudanças na freqüência das piscadas — os olhos pis
cam mais rapidamente.
f) Mudanças no movimento lado a lado do olho — outra
mudança que se observa na pessoa em transe de olhos
fechados é o movimento de lado a lado do globo ocu
lar. Isto denota a entrada num transe mais profundo.
Você pode também observar o REM (rapid eye inove
ment), o movimento rápido dos olhos, que ocorre no
estado mais profundo de transe, quando a pessoa pode
estar sonhando.
g) Lacrimejamento — observa-se uma lubrificação natu
ral e espontânea das vias lacrimais.
Reduçâb nos movimentos de orientaçõo — há uma acentuada
redução nos movimentos de orientação, quando é pedido à pes
soa em transe que leve a mão ao rosto, por vezes ela perde a no
ção de onde está sua mão naquele momento.
Perseveração — o cliente mantém um movimento começado.
~4jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 55
Assimetria direito/esquerdo — a assimetria entre os dois la
dos do corpo. Você pode notar que a pessoa vai modificando
suas contraturas musculares, sua fisionomia, Um lado do rosto
501ta-se mais que o outro. Às vezes, tomba-se para um lado, ou
~rjra—Se mais o rosto.
Mudanças na circulação periférica — as mudanças na circula
ção periférica ocorrem pelo relaxamento muscular generalizado
que relaxa artérias e veias e com isso leva mais sangue aos pe
quenos capilares das pontas do corpo. É bom lembrar que nos ca
sos de hipertensão a hipnose é muito eficaz na redução da pres
dão, exatamente por este motivo: relaxamento dos vasos arteriais.
Você pode usar o transe e o ensinamento de auto-hipnose, como
uma técnica de ajuda para hipertensos.
E’asciculação — fascicuiação é um conjunto de pequenas
contraturas musculares involuntárias que se observa durante o
transe.
Aumento da responsividade — há um acentuado aumento da
responsividade, que você observa nas mínimas pistas, como res
pirar profundo e observar que o sujeito respira juntamente com
você. Pedir que a pessoa faça alguma coisa e ela faz.
Auinento da atividade ideomotora e ideossensória — movimen
tos ideomotores são comuns, como sinais com os dedos. Peque
nos movimentos que sinalizam uma idéia. A levitação é um mo
vimento ideomotor. Há também atividades ideossensórias, uma
idéia que traz junto uma sensação.
7. Fenômenos hipnóticos
Rapport
Catalepsia
Dissociação
Analgesia
Anestesia
56 Sofia M. F. Bauer
Regressão de idade
Progressão de idade
Distorção do tempo
Alucinações positivas/negativas
Amnésia
Hipermnésía
Atividade ideossensórja/ideomotora
Sugestão pós-hipnótica
Quando você coloca uma pessoa em transe, observará al
guns comentários, ao final do transe, sobre as percepções expe
rienciadas pelo sujeito. Elas são variadas; podem aparecer algu
mas ou até muitas das que descreverei a seguir. Não necessaria
mente aparecem as mesmas quando se entra em transe novamen
te. Você pode ver que o mesmo sujeito, numa indução, falará que
teve amnésia e analgesia e pode ser que numa outra sessão ele te
nha hipermnésia e não tenha analgesia.
O importante é que os fenômenos hipnóticos sempre apa
recem quando a pessoa está em transe. É nossa garantia, quando
principiantes, de que o nosso cliente entrou em transe.
Os fenômenos hipnóticos aparecem desde o transe leve até
o profundo, independentemente do nível de transe. Às vezes, a
pessoa está num transe leve e desenvolve amnésia. Em outras, a
mesma pessoa pode entrar num transe profundo e ter apenas
amnésia parcial. Por isso, fique atento, nem sempre se segue à
risca as escalas de transe.
Rapport
É o estabelecimento da aliança terapêutica. O seu cliente,
para o seguir em seu pedido de indução, precisa confiar em você.
Quando você tem um amigo e ele lhe chama para ir a algum lu
gar que você desconhece, você vai por confiar nele. Isto acontece
através do estabelecimento do rapport. Quando este se estabelece,
o sujeito tende a não prestar atenção a situações do ambiente e a
estímulos externos, para responder somente à pessoa que conduz
a hipnose.
~jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 57
Catalepsia
É a sensação de ficar imobilizado, mais pesado e sem von
tade de se mover. É um estado particular de tonicidade muscu
lar, no qual o sujeito fica fixo numa posição por um período inde
finido de tempo. Você pode colocar o braço do sujeito erguido e
ele mantém esta posição. A catalepsia acontece em todos os ní
veis de transe.
~issociação
É a capacidade de dissociar a mente consciente da mente
inconsciente. Ficar absorvido nos aspectos da indução que é feita
e ao mesmo tempo experienciar as mais variadas sensações, sen
timentos e pensamentos. É como se fossem dojs de você mesmo.
Um é capaz de seguir o que é pedido pelo hipnotizador, e o ou
tro está vivendo uma realidade vinda do seu interior.
Analgesia
É o formigamento do corpo. Você o sente, mas não sente
dor. Como em alguns tipos de anestesia. Há pacientes que sen
tem analgesia desde o transe leve. É possível até mesmo fazer ci
rurgias quando se desenvolve este fenômeno de transe.
Anestesia
É a sensação de não sentir uma parte defínida do seu cor
po. Por exemplo, h~ pacientes que não sentem as mãos, ou as
mãos e os braços, outros, as pernas. Além de você não sentir dor,
você também perde a noção daquele membro do corpo.
É um excelente fenômeno que pode ser desenvolvido para
cirurgias.
Regressão de idade
A regressão de idade é também um fenômeno natural do
transe. Ele pode ser induzido ou pode aparecer espontaneamen
te. São memórias, pensamentos, imagens, num nível de recorda-
-r
58 Sofia M. P. Bauer
ção, ou pode aparecer como uma revivificação, em que a pessoa
fala e age como se fosse uma criança, ou se tivesse a idade deter
minada daquele fato.
É sempre bom lembrar que não temos como provar se é
algo real, ou se é uma realidade construída em cima de aprendi
zados da vida, Mas o que realmente importa é a realidade vivi
da e sentida do seu cliente. Por isso, aceite, respeite e trabalhe
tudo o que o inconsciente sabiamente amigo trouxer como mate
rial exclusivo e como o tesouro do seu cliente. Aqui entram as
regressões a vidas passadas. Se existem, se é verdade, todos nós
teremos certeza quando passarmos desta vida. Mas o que im
porta é o respeito ao material trazido pelo cliente. Utilize-o, ele é
o reservatório das potencialidades, das dicas que o inconsciente
lhe dá. Não tenha pré-conceitos.
Progressão de idade
Do mesmo modo que ocorre a regressão, há também o fe
nômeno de progressão. A pessoa pode se ver no futuro realizan
do as coisas que deseja e necessita fazer, ou até mesmo suas obs
truções. Utilize-se desta técnica/fenômeno com os pacientes an
siosos, Por si só eles já fazem uso dela diariamente em suas “pré
ocupações”. Você usa uma ferramenta que é comum a eles e faci
lita a ressignificação, o que é positivo para o cliente seguir à fren
te.
Distorção do tempo
Quando você está em transe, ocorre uma modificação tem
poral. Seu tempo interno pode variar em relação ao tempo crono
lógico do relógio. Lembre-se de que o inconsciente não é analítico
e lógico. Por isso, às vezes uma longa indução pode parecer du
rar apenas cinco minutos ou vice-versa. É parecido com o que
rios acontece na vida cotidiana, vemos um bom filme e parece
que ele passou depressa demais. Em compensação, ao ouvir o
discurso de um político, talvez pareça ter durado horase fora
apenas meia hora. Quando o sujeito então lhe disser que foi tão
rápido, ou que pareceu ter durado horas, ele estava desenvolven
do este fenômeno do transe.
l-{ipnoterap~a Ericksoniana Passo a Passo 59
Alucinações positivas e negativas
Consideram-se alucinações positivas aqueles aspectos
sensários de percepção dos cinco sentidos que aparecem dii
rante o transe. Por exemplo: visualização de imagens, ouvir al
gum tipo de som que não está presente, sentir alguma sensa
ção física diferente. Tudo aquilo que é incluído e que na reali
dade não existia.
As alucinações negativas ocorrem pela retirada de sensa
ções e percepções. Por exemplo: não ouvir urna campainha que
toca, um som; não sentir uma parte do corpo; não ver algo que
se encontra ali.
Ocorrem em todos os níveis de transe.
Amnésia
É um fenômeno que pode acontecer parcial ou totalmente.
A amnésia é parcial quando você se lembra de partes do
transe. Mais comum no transe leve e médio. Amnésia total ocorre
quando a pessoa não se lembra de nada que aconteceu durante o
transe. Ela é comulrL no transe profundo e sonambúlico.
Hiperrnnésia
É a capacidade de relembrar aguçadamente uma situação
específica.
Atividades ideomotoras e ideossensórias
Estão ligadas à capacidade do sujeito de responder auto
maticamente através de sinais ideomotores (sinalização com de
dos, mãos, ou levitação e a capacidade de escrita automática) ou
ideossensórios (percepção sensória associada a uma idéia).
Sugestão pós-hipnótica
A sugestão pós-hipnótica é um ate que acontece após o su
jeito “acordar” de um transe, em resposta às sugestões dadas du
rante o estado de transe, com execução de algo pedido a partir de
60 Sofia M. F. Bauer
um “gatilho” dado num transe anterior. Assim sendo, o sujeito
hipnotizado recebe uma instrução, durante um primeiro transe,
que, de acordo com uma dica determinada (ao acordar, ao abrir
a janela etc.), ele entrará num estado de transe mínimo (coris
ciência alterada), em que executará a sugestão pedida. Este tran
se pós-hipnótico, em geral, é de duração breve. O tempo de e~e
cutar o ato sugerido. No caso de se pedir como sugestão pós-
hipnótica que o sujeito fique sem dor por horas, este transe não
será breve. Necessitará de longa duração .para sua execução.
Mas geralmente são pequenas sugestões que serão executadas
na vida cotidiana do sujeito, que lhe podem ajudar na mudança
de nuances, necessaria a sua melhora. Exemplo: ... Hoje, ao di
rigir seu carro, abra o teto solar, respire fundo, olhe o céu azul e
sinta como seu peito se abre para uma nova inspiração.” Esta foi
uma sugestão pós-hipnótica dada a um paciente asmático. Dias
depois o mesmo paciente relatou a delícia que era abrir o teto
solar e respirar fundo e livremente.
A sugestão pós-hipnótica é mais eficaz quando feita em
transe profundo e com amnésia. Tem um efeito mais poderoso,
mas não quer dizer que não possamos usá-la para os diversos ní
veis de transe, ou num sujeito com amnésia parcial. Um ponto
que aumenta a eficácia deste fenômeno é o rapport. Por isto, se ti
ver um bom rapport, não importa o grau de profundidade e a am
nésia, a sugestão pós-hipnótica funcionará.
Use este fenômeno para dar as sugestões diretas, mas no fi
nal do transe, que é quando já se está num nível mais profundo,
em que ocorre amnésia, e temos a certeza de termos desenvolvi
do um bom rapport.
Esse tipo de sugestão é usado para dor, parto, corrida de
atletas, ansiedade e tudo o mais que se deseje, e tem uma efetivi
dade poderosa.
É considerada um fenômeno hipnótico porque só ocorre
durante um transe caracterizado por certa catalepsia, dissocia
ção, amnésia, olhos focados e certa dilatação das pupilas (mi
dríase).
Resta dizer que os fenômenos hipnóticos fazem parte da
nossa vida cotidiana. Todos eles. Assim, você é capaz de ter am
nésia do número do seu telefone, se se distrair um pouco. Você
j~ipnoteraPia Ericksoniana Passo a Passo 61
pode ter urna hiperrnnésia de um fato ou uma dissociação
quanto dirige um carro; seu consciente se distrai com uma preo
cupação ou pensamento feliz e o seu inconsciente continua auto
maticamente dirigindo o carro para você; você anda quarteirões e
se dá conta de que o fez de urna forma “até segura”.
Por isso, entrar em transe é algo comum a todos. Nós o fa
zemos diariamente, várias vezes ao dia. Qualquer pessoa pode
entrar em transe; resta saber se o terapeuta está habilitado para
ser um bom serralheiro e providenciar a chave certa da confiança
que abra o seu inconsciente.
Para finalizar este capítulo, Erickson faz uma nota especial:
“Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa
quão apurada ou completa, não substituirá a expe
riência atual, e nem tampouco pode ser aplicada a
todo sujeito. Qualquer descrição de um transe pro
fundo deve necessariamente variar em pequenos de
talhes de um sujeito para outro. Não há uma lista ab
soluta de fenômenos hipnóticos que pertençam a um
nível hipnótico. Alguns sujeitos desenvolvem fenô
menos hipnóticos no transe leve associados ao transe
profundo e outros mostram fenômenos de transe
leve no transe profundo. Exemplo: pessoas que de
senvolvem amnésia em transe leve e que falham em
desenvolvê-la em transe profundo” (Rossi, 1980, pp.
144-145).
“O transe profundo é aquele nível de hipnose que
permite ao sujeito funcionar adequadamente e dire
tamente no nível inconsciente sem interferência da
mente consciente” (Rossi, 1980, p. 146).
“O transe terapêutico é um processo em que os limi
tes e o enquadramento referencial de alguém estão
temporariamente alterados e assim pode ser recepti
vo a padrões de associação e modos de funcionamen
to que conduzam à solução do problema” (Erickson
e Rossi, 1979, p. 3).
62 Sofia M. F. Bauer
Conta-se que uma vez um professor de ciências humanas foi bus
car supervisão com um didata do. conhecimento. O mestre o escutou
atentamente enquanto fazia a análise da demanda do aluno. Após um
tempo disse: — Você parece cansado, teve um dia longo de trabalho, veio
de um lugar distante, deixe-me primeiro servir-lhe um chá.
O mestre trouxe a chaleira, serviu o chá numa xícara e o chá co
meçou a transbordar para o pires, mas ele continuou despejando o chá.
Então o pires também ficou cheio e, apenas uma gota a mais, o chá co
meçaria ~a escorrer pelo chão.
O aluno então disse: — Pare! O que você está fazendo? Não vê
que a xícara e o pires estão cheios?
O mestre calmamente respondeu: — Esta é exatamente a situação
em que você se encontra. Sua mente está tão cheia que mesmo que eu
pudesse responder às suas perguntas você não as escutaria. Para que o
que eu tenho a lhe dizer produza um efeito, você primeiro deve esvaziar
a sua mente. Crie um espaço dentro de você. Com uma postura arrogan
te, nada do que eu disser florescerá.
A postura é de receptividade e é por isso que se diz:
“Existem coisas que você sabe.
Existem coisas que você não sabe
Também existem coisas que você não sabe que sabe.
O dia em que você souber aquilo que você não sabe que sabe, você
será realmente você.
Capítulo 3
O modelo da hipnoterapia
ericksoniana
1. Hipnose clássica
Esta é a hipnose que vem do século passado, em que há um
hipnotizador que faz a indução por métodos tradicionais. Segue-
se um ritual rápido ou demorado, mas algo bem convencional e
já preestabelecido.
São as técnicas difundidas em manuais, as utilizadas por
hipnotizadores de palco e pelos mais tradicionalistas. Não tenho
nada contra estas técnicas; são úteis e de fácil acesso. O que vemos
ë o progresso das coisas, a evolução para técnicas que podem se
adequar mais a uma ou outra pessoa. O que não quer dizer que
urna pessoa que aplica hipnose mais naturalista não venha a se
utilizar de uma técnica mais standard e tradicional. E, às vezes,
com um efeito até melhor, dependendo do seu sujeito hipnótico.
André M. Weitzenhoffer faz urna crítica aos ericksonianos
por fazerem esta distinção. Aqui vale dizer que estamos apenas
fazendo uma distinção didática e não urna crítica à utilização
deste tipo de hipnose. Sempre tenha bom senso e aprenda tudo

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