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api 1 1 oap so 4* 7 ..“. ~n. ~ ~ • ~ ~‘ ‘ Solia M. F. Bauer Hipnote iko / ) Livro Pleno ( Sofia M. F. Bauer IP OTERAPIA ASSO A RICKSONIAN ASS Editora Livro Pleno 7 o’;’ 2002 I~IIPNOTERAPTA ERJCKSONIANA PASSO A PASSO 2002 Conselho editorial Douglas Marcondes Cesar Copidesque Juliana Boas Revisão Marco Antonio Storani Coordenação editorial Douglas Marcondes Cesar ISBN: 85-87622-02-1 Todos os direitos reservados para a língua portuguesa Editora Livro Pleno Rua Dr. Cândido Gomide, 584 - Jd. Chapadão CEP: 13070-200 - Campinas - SP - Brasil Telefax: (OXX) 19 3243-2275 E-mau: edlivropleno~uoLcom~br Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, es pecialmente por sistemas gráficos, niicrofflmicos, fotográficos, reprográfi cos, fonográficos e videográficos. Vedada a atemorização e/ou a recupera ção total ou parcial bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e sua editoração. Sofia M. F. Bauer HIPNOTERAPJA ERTCKSONJANA PASSO A PASSO Editora Livro Pleno 2002 HIPNOTEI~APIA ERICKSONIANA PASSO A PASSO 2002 Conselho editorial Douglas Marcondes Cesar Copidesque Juliana Boas Revisão Marco Antonio Storani Coordenação editorial Douglas Marcondes Cesar ISBN: 85-87622-02-1 Todos os direitos reservados para a língua portuguesa Editora Livro Pleno Rua Dr. Cândido Gomide, 584 - Jd. Chapad~o CEP: 13070-200 - Campinas - SP - Brasil Telefax: (OXX) 19 3243-2275 E-mau: edlivropleno@u.ol.com~br Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, es pecialmente por sistemas gráficos, microfflmicos, fotográficos, reprográfi cos, fonográficos e videográficos~ Vedada a atemorização e/ou a recupera ção total ou parcial bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e sua editoração. Agradecimentos Ao Dr. Jeffrey K. Zeig, por sua colaboração e dedicação ao ensino da hipnoterapia ericksoriiana. Ao professor Malomar Lund Edelweiss e seu Grupo de E~ tudos, que muito têm me ajudado na formação, informação e no aprimoramento pessoal e profissional. Aos colegas de equipe, que tanto me incentivaram a escre ver este guia. Em especial, a José Roberto Fonseca, pela ajuda primorosa na correção e na elaboração do glossário que vem no final do li vro. A José Carlos Vjtor Gomes, pelo incentivo a esta publica ção. E, sem deixar de homenagear, ao Dr. Milton H. Erickson, por compartilhar de sua arte em trabalhar psicoterapeuticamen te. Que a estrela dele continue brilhando, para iluminar os nossos caminhos. vil Sumário PREFÁCIO 15 SOBRE A HIPNOTERAPIA ERICKSONIANA NO BRASIL 17 INTRODUÇÃO 21 Capítulo 1 HISTÓRIA DA HIPNOSE Capítulo 2 MITOS E CONCEITOS 33 1. Mitos 33 2. Concejtos 38 3. Mente consciente e mente inconsciente 41 4. Sugestibilidade 42 5. Hipnotizabilidade 43 6. Constelação hipnótica 52 7. Fenômenos hipnóticos 56 Rapport 56 Catalepsia 57 Dissociação 57 Analgesia 57 Anestesia 57 Regressão de idade 57 Progressão de idade 58 Distorção dotempo 58 Alucinações positivas e negativas 59 Amnésia 59 Hipermnésia 59 Atividades ideomotoras e ideossensórias 59 Sugestão pós-hipnótica 59 Capítulo a O MODELO DA IIIPNOTERAPIA ERICKSONIANA 63 1. Hipnose clássica 63 2. Hipnose naturalista: a hipnose de Miltora H. Erickson 64 3. A indução naturalista 68 4. Roteiro de indução simplificado 69 Absorção 69 Ratificação 70 Eliciação 70 Pacing e leading 78 5. Avaliação do paciente para utilização do metamodelo (segundo Jeffrey 1<. Zeig) 78 Categorias de avaliação~ 80 Perceptuais 80 Categorias de avaliação 84 Sócio-relacionais 84 Ganchos 93 6. Atuação em uma seqüência 94 7. Semeadura 95 8. O Diamante de Erickson - um metamodelo de psicoterapia 99 9. Utilização para que finalidade - um metamodelo de psicoterapia 102 10. Selecionando o que um terapeuta poderia utilizar 106 11. Como fazer uma indução ao modo de Erickson, de acordo com cada cliente, sem ser Milton 1-1. Erickson —O processo 106 xii Carítulo 4 o uso DE METÁFORAS EM HIPNOTEPApIA~ 113 1. Parte teórica 114 2. Parte prática - a construção das metáforas 122 3. Metáforas - estórias já contadas algum dia 124 4. Algumas analogias utilizadas metaforicamente 145 Capítulo 5 TÉCNICAS HIPNOTERÁPICAS 149 1. Instruções gerais 149 2. A posição 152 3. Indução de relaxamento progressivo 155 4. Indução da respiração 161 5. Indução da levitação das mãos 164 6. Indução de um lugar agradável 169 7. Técnica passo a passo em cima do sintoma 172 8. Técnicas de entremear palavras 175 9. Técnicas de aprofundamento do transe 177 Fracionamento 177 Nuvens 181 Escada 182 Silêncio 183 10. Sonhos induzidos 184 11. Distorção do tempo 185 12. Confusão mental 187 13, Técnicas de hipnose com crianças 188 14. Técnica de progressão de idade 192 15. Técnica de regressão de idade 193 16. Técnicasparador 197 17. Técnica para controle de hábitos viciosos 201 18. Técnica de auto-hipnose 210 xflz Capítulo 6 CASOS CLÍNICOS ........................~ 215 1. As desordens somáticas e ps~cossomáticas 216 2. Hipertensão 216 3.. Úlcera 220 4. Impotência 224 5. Ejaculação precoce 229 6. Vaginismo e frigidez 232 7. Depressão reativa 237 8. Fobias 243 9. Síndrome do pânico 248 10. Asma 26.8 Capítulo 7 CASOS DE INSUCESSO 273 Capítulo 8 CONCLUSÃO 279 BIBLIOGRAFIA 281 GLOSSÁRIO 287 xiv Prefácio Hipnose! Esta palavra traz à tona uma variedade muito grande de sentimentos e imagens sensacionajs. Mesmo entre os profissionais, existe muita penumbra e muitos preconceitos em torno dela. Felizmente, a Dra. Sofia Bauer, psiquiatra especialmente qualificada, escreveu este livro de valor incalculável, qu.e ajuda a elucidar muitas questões referentes à hipnose. No livro Hipnote rapia erjcksoniana passo a passo, a Dra. Bauer provê informações atualizadas que podem tornar possível ao médico ou ao psicote rapeuta integrar efetivamente a hipnose à sua prática profissio nal cotidiana. A autora enfatiza especialmente a moderna abordagem hipnótica pioneiramente elaborada por Milton Ii. Erickson, M.D. (1901-1980), ele que é considerado o pai da hipnose médica mo derna, ErÏckson inventou uma nova abordagem baseada no res gate dos recursos do paciente. O seu método consistia em utilizar aquilo que o paciente trazia em si como algo de mais forte, mais do que analisar ou dar ênfase às suas fragilidades. Sua aborda gem está no coração da psicoterapia moderna. Clínicos de todo o mundo participaram de programas de treinamento para apren der sobre esse avanço importante cristalizado e representado pelo legado deixado por Erickson. Sofia Bauer, diretora (entre outros) do Instituto Milton 1-1. Erickson de Belo Horizonte, um dos mais de 70 institutos afilia dos à Milton 1-1. Erickson Foundation mc., é uma das pessoas mais amplamente qualificadas para escrever sobre os avanços da psicoterapia ericksoniana, urna vez que se submeteu a um pro grama de treinamento intensivo na Fundação Erickson, em Phoe mx, Arizona, tendo sido urna das mais aplicadas estudantes bra sileiras e se consagrado como um dos mais reconhecidos traíners de língua portuguesa. Reconheço em Sofia Bauer urna profissional altamente éti ca e uma psicoterapeuta diligente. Supervisionei alguns dos seus casos clínicos e gostaria de ser enfático no reconhecimento da sua remarcada comDetêncja, ela que também tem sido discí pula do renomado psicoterapeuta Malomar Edeiweiss, e acabou incorporando, também, algumas das suas contribuições para o seu. trabalho. Ë urna honra prefaciar o trabalho de urna aluna tão impor tante e cuja contribuição à psicoterapia se cohsagra agora numa obra insubstituível. Hipnoterapia ericksoníana passo a passo é um texto claro e de fácil compreensão, que estará entre os mais im portan~es manuais de terapia ericksoniana de língua portuguesa, para todos aqueles que se interessarem em aprender sobre os fundamentosda abordagem de Erickson. Este livro é muito bem organizado, rico em novas idéias e propostas interessantes. Os leitores que apreciarem de forma cuidadosa esta leitura serão compensados com o conhecimento de um universo de idéias prá ticas que irá reverter-se imediatamente em novos recursos em be nefício do aprimoramento do seu trabalho na clínica.. J~ffrey K. Zeig, Ph.D. Diretor da Milton Ii Erickson Foundatiori mc. xvi Sobre a hipnoterapia ericksoniana no Brasil Gostaria que vocês soubessem que a hipnoterapia erickso niana vem sendo divulgada e difundida por todo o Brasil. José Carlos Gomes vem trazendo, em workshops e. con gressos, os mais competentes profissknais da área como: Jeffrey K. Zeig, Stephen Gilligan, Ernest Rossi, Tereza Robles, Jorge Abia, Camilo Loriedo, Stephen Larikton, entre outros. Dr. Jeffrey K. Zeig vem fazendo um belo trabalho de base, ensinando aos psicoterapeutas a abordagem ericksoniana. Ele tem dado cursos em Belo Horizonte, São Paulo, Rio e Porto Ale gre. Hoje já contamos com vários institutos ericksonianos que ministram cursos de formação na área. Desejando fazer uma for mação mais completa, você pode procurá-los. Esses institutos são filiados à Fundação Milton H. Erickson dos EUA e receberam autorização para funcionar corno institutos de formação na abordagem ericksoniana. xvii . ~ ~. . .~C . r •.: % ~ N. . . :fl. N . Ç»~. .: ~ - Hipnose é um ato de amor... permitir-se entrar em transe é um ato de amor... ver esta outra parte sua que mora aí dentro... a sua beleza. Quando você ama alguém, você gosta... admira... se fixa nela... absorve.., e “mergulha” profundamente na idéia de se entregar... Não tenha medo do que vem. Você primeiro vai aprender a conhe cer o outro e descobrir a beleza dele. Quando você o fizer, perderá o medo e com certeza tocará seu coração e este então se abrirá para receber o belo, o bom, o que realmente cura. Tenha coragem de dizer para você: Eu não sei,, mas vou aprender à medida que observo o meu cliente; verei o que ele tem de bom, seus recursos, sua potencialidade, e isto será a luz que o guiará para a saída do problema. Mas é preciso ter a cora gem de enfrentar o medo de amar o que quer que venha. Libere seu coração para que ele sinta e deixe fluir o amor por você pri meiro. Aceite o fato de que, para andar, temos que dar um passo depois do outro. Centre-se, respire, ame a você mesmo, libere seu olhar, seus sentimentos, e busque perceber como o outro lhe toca. Abra seu coração para receber... deixe acontecer,.. o amor!... Com certeza você tem muito para dar... Eu me lembro do meu primeiro sonho em análise.., um canteiro a ser plantado, só havia terra, eu pedia ajuda a um jardineiro... Foi como tudo começou... No final desta mesma análise, meu último sonho.., estava num jardim botânico,.. um herbário talvez... havia um sábio de cabelos bran xix cos que tinha dificuldade em andar... ele me ensinava que nesse jardim havia todo tipo de planta... a forma de cuidar era variada.., ele mostrava como observá-las... tratá-las... mas estavam ali.., poderia tirar mudas... plantar mais... Hoje estou aqui falando de passos... como guiar as pessoas para amarem a si mesmas... se~’near... plantar... frutificar! xx Introdução Tudo começou com uma semente, o professor Malomar Lund Edelweiss. Semeou as primeiras idéias aqui em Belo Horizonte e foi disseminando um tipo de flor especial: encantava, suavizava e curava através de uma terapia suave. Uma mistura de psicanálise com hipnose. Foi com quem dei os primeiros e os grandes passos na di reção da hipnoterapia. Aprendi a trabalhar com algo muito espe cial: em vez do ferrinho de dentista, usar laser. Mais suave, me nos dolorido e muito eficaz na retirada do tártaro. A partir das primeiras induções ensinadas por ele, tive a curiosidade de percorrer o caminho que me levasse à teoria da clínica daquilo que estávamos fazendo. Fui buscar nos professo res que seguiam a abordagem de Milton H. Erickson. Foi quando encontrei o Dr. Jeffrey K. Ze~g, entre muitos outros professores da teoria da hipnose e da clínica hipnoterápi ca.. Zeig, por ter estado ao lado de Milton H. Erickson por muitos anos, foi capaz de elaborar uma forma de teoria para o trabalho realizado pelo mestre da hipnoterapia naturalista. Das teorias que vi, para caminhar nesta trilha, achei que Zeig era muito bom para ensinar o passo a passo da teoria à clínica da hipnose. Vocês terão a oportunidade de ver neste livro muitas das coisas que com ele aprendi para dar os meus próprios passos. Assim, este livro é o caminhar e o condensar das teorias que percorri e que gostaria que vocês aprendessem. 22 Sofia M. F. Bauer Ele é dedicado a todos aqueles que querem um guia práti co para trabalhar com hipnoterapia ericksoniana. Vai abordar, da teoria à prática clínica, todos os passos que devemos percorrer para um bom trabalho. Saber a teoria, a definição dos conceitos que envolvem a hipnose, é fundamental para você saber lidar com ela. É como co nhecer o solo onde você, fará suas edificações. Uma vez que você sabe onde está pisando, fica fácil aplicar as técnicas de edificação. Urra para cada tipo de solo. Assim, o primeiro passo deste guia é mostrar os conceitos teóricos. Lembro-me bem de quando comecei. Foi como uma mistu ra. Ainda não sabia bem o que era a hipnose, nem tampouco as muitas técnicas para aplicá-la. Costumava perguntar ao profes sor Malomar, meu grande introdutor na área, se a pessoa podia bocejar, rir ou chorar, se abrir os olhos era sair do transe, se a pessoa poderia falar; ia treinando e aprendendo, curiosa, a cada dia, um novo passo. Por isso considero essencial ter uma boa noção sobre o que seja a hipnose, como se manifesta, seus níveis de profundidade, seus fenômenos. Logo em seguida, verificar e aprender quais as maneiras de se colocar uma pessoa em transe. Há várias técnicas que vêm se propagando e que você poderá utilizar variadamente. Vamos abordar aqui neste livro alguns ericksonianos e suas técnicas de prática clínica que mais efetivamente nos ajudam a colocar o cliente em transe e ~a trabalhar em hipnoterapia. Lembremos sempre que hipnose não é urna terapia em si, mas uma boa ferramenta que nos ajuda a tornar o inconsciente observável e aflorar os recursos de cada um mais rapidamente para um trabalho de cura. Mas não basta só saber a teoria sobre hipnose e sobre suas técnicas de aplicação. É necessário, e condição básica, uma boa formação em psicoterapia, e até em psicanálise, para que você possa saber como utilizar essas técnicas. Com este guia você associará seus aprendizados de psica nálise e psicoterapia e, numa boa mistura, verá os resultados. Hipnoterapia Erjcksoniana Passo a Passo 23 Espero que você utilize bem o que verá à frente. Sempre ciente de que o bom senso é uma condição in~portante na utiliza ção da hipnose~ Que este guia possa realmente guiá-lo no caminho da luz! Como disse Milton H. Erickson a uma cliente deprimida, “~. nenhuma dor dura para sempre, depois da chuva vem a luz dosoL.~”. . 4 r.~. .~ ~ .~N 7 . ~ r ~ — ,~ ~ •4~.. ~ .~ •~.. . . Capítulo 1 História da hipnose Todos que estão familiarizados com leituras sobre o tema sabem que este é um capítulo que não falta nos livros. A hipnose existe desde que o homem apareceu na terra. Os fenômenos hipnóticos fazem parte da vida cotidiana de todos os seres humanos. Nós passamos por eles todos os dias, várias ve zes por dia. Mais adiante veremos os fenômenos hipnóticos e você entenderá melhor. A hipnose é um fenômeno universal. Portanto, ela pode ser encontrada na história da humanidade desde os seus primórdios. As induções hipnóticas são tão antigas quanto a comprovação da existência das civilizações antigas, passando por culturas dife rentes em danças, rituais, expressões orais, forças da natureza, vindas desde povos não civilizados até os civilizados, todas se guindo e procurando um estado especial de consciência: o transe. Podemos ver, no decorrer da história, que este estado espe cial foi associadoa idéias de modificação de energia, um sono di ferente, urna patologia, uma regressão, urna aprendizagem ad quirida, uma dissociação, um envolvimento motivado, uma ence nação. Século XXX a.C. No Egito via-se, através de papiros, que os sacerdotes iii duziam um certo tipo de estado hipnótico. 26 Sofia M. F. Bauer Século XVIII a.C. Na China induzia-se um certo tipo de transe hipnótico para se buscar a aproximação entre os pacientes e seus antepas sados. Mitologia grega Filho de Apoio e Coronis, Asclépios (o Esculápio dos ro manos) aprendeu com o centauro Quíron um tipo de sono espe cial que curava as pessoas. Muitos dormiam no templo do deus, e durante a noite se dava a cura. Século XI Avicena (Abu Ali ai-Husayn ibn Sina, 980-1037), sábio, filó sofo e frLédico iraniano, acreditava que a imaginação era capaz de enfermar e de curar pessoas. Século XVI Paracelsus (Philippus Aureolus Theophrastus Bornbastus von Hohenheim, 1493-1541), pai da medicina hermética, acredita va na influência magnética das estrelas na cura de pessoas doen tes. Confeccionava talismãs com inscrições planetárias e zodia cais. Séculó XVIII Franz Anton Mesmer (1734-1815) foi considerado aquele que inaugurou a fase científica da hipnose. Assim, o início da his tória formal da hipnose se deu em 1765 com os trabalhos de Mes mer com seu magnetismo animal. Utilizando-se de magnetos, Mesmer curava dores e doenças naquela época, pela aplicação de tais ímãs na fronte da pessoa. Ele propunha que a cura se dava por uma ab-reação da harmonia orgânica, produzida por urna concentração inadequada de um fluido magnético invisível. Pen sava que a cura se dava ao fazer fluir o tal magnetismo. Foi cons titujndo fama com suas curas, e logo chamou a atenção pelo su posto charlatanismo. Foi feita uma comissão para investigar se a cura era mesmo real ou não. Participaram desta comissão Benja mm Franklin, Lavoisier, Guillotin e Baiily, em 1784. Fizeram o mesmo trabalho substituindo os magnetos por madeira e obtive- wpnoterapia Ericksonlana Passo a Passo 27 rafli 05 mesmos belíssimos resultados. Consideraram então Mes mer ~ charlatão. O mesmerismo foi proibido. Não viram o que perdiam: a excelência dos resultados. Mesmer não foi o primeiro. Seguia idéias de autores que curavam doenças, acusados do uso de técnicas de bruxaria. Entre estes autores estão: o abade Lenoble, Paracelso (1493-1541), Jan Baptiste Van Helmont (1579-1644), Robert Pludd, Jantes Clerk Maxwell (1831-1879), padre Kircher, Greatrake e JeanJoseph Gassner. Seguia também as sistematizações ffsico-qufmicas de Luigi Galvani (1737-1798) e Antoine Laurent de Lavoisier (1743- 1794). Podemos citar taml?ém o marquês de Puységur (1751-1825) como um discípulo de Mesmer que descobre o Sonambulismo Artificial. Ao. fazer hipnose, usava tocar .hai~pa comç uma forma de produzir “magnetismo”, termo provindo de Mesmer. Além disso, utilizava os valores do paciente, como Erickson veio a La: zer mais tarde. Pe. José Custódio de Paria (1755-1819), mais conhecido como abade Paria, graças ao famoso romance de Alexandre Dia- mas, O Conde de Monte Cristo, teve contato com as idéias de Mes mer, defendeu-as e sustentou a idéia de que o transe se asseme lhava ao sono. Século XIX James Braid (1795-1860) — cunhou o termo hipnotismo. Do grego hypnos, sono. Mais tarde tentou trocar o nome para monoideísmo, mas o termo já havia pegado. Induzia otran se por fixação do offio a um ponto acima da linha dos olhos. James Esdaile — era um médico inglês que se utilizou das técnicas de Mesmer para fazer grandes cirurgias sem anestesia • durante a guerra na Índia. Publicou o livro Mesmerisnio na Índía em 1850. A escola de Nancy (de Llébeault, de Bernheim e de (±oué) — considerava que o estado de transe era um estado normal e não patológico. Se propunha que a muçiança acontecia de uma forma não-consciente através da intervenção da vontade. E que a sugestão operava somente quando encontrava um eco interno, uma auto-sugestão. 28 Sofia M. F. Bauer A escola da Salpêtrière — (Charcot), onde Freud fora fazer seus estudos, considerava o estado de transe como algo que só acontecia corno estado patológico. Jean Martin Charcot (1825-1893) — tido corno um dos maiores neurologista do século XIX, após estudo com um grupo de pacientes histéricos, considerou o transe como um estado pa tológico de dissociação. Também dividiu o transe em três níveis: a catalepsia, a letargia e o sonambulismo. Foi o fundador da es cola de neurologia da Salpêtrière. Ambroise-Auguste Liébauit (1823-1904) — assemelhava o transe ao sono, só que o transe resultava de sugestões diretas. I-iippoiyte Bernheirn (1840-1919) —~ seguidor de Liébault, desenvolveu a idéia do transe como um estado de “reforçada su gestibilidade çausada ~ sugestões”. Liébault e Bernheim con fluíram para a idéia de transe e sugest~bilidade. Século XX Ivan Pavlov (1849-1936) — médico russo que definiu o transe corno um “sono incompleto” causado por sugestões hip nóticas. Estas sugestões provocariam uma excitação em algumas par Les do córtex cerebral e inibição em outras partes. Criador da indução reflexológica. Pierre Janet (1849-1947) * francês que descreveu o transe corno uma dissociação. Introduziu o termo subconsciente para diferenciá-lo do inconsciente. Freud, nesta época, fez seus estudos junto aos casos de his teria de Charcot e~ acabou por abandonar a hipnose, depois de muitos estudos com Breuer. Faziam a correlação da hipnose com patologia. O transe sonambúlico, que provocava amnésia, e a vontade crescente do descobrimento dos caminhos do incons ciente fizeram Freud abandonar a hipnose e partir para a livre as sociação. Breuer aprendeu a aproveitar o transe menos profundo, e então veio a fama e a inimizade com Freud. Mas Freud, já em 1918, no Congresso Psicanalítico de Bu ciapeste frisava a importância de aliar à psicanálise a hipnose. No final de sua vicia, em 1938, falou da “legitimidade de certos fenô menos hipnóticos” no Esboço de psicanálise. E, por fim, da possibi I-{ipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 29 lidacle de juntar o ouro da psicanálise ao bronze da sugestão hip nótica. Após a Segunda Grande Guerra, a hipnose começou a reto mar força no tratamento dos traumas pós-guerra. Vieram novas teorias: Ernest Simmel, psicanalista alemão (1918) — desenvolveu a hipnoanálise. Clark Leonard Huli (1884-1952) professor de psicologia em Yale, interessou-se pelos aspectos experimentais da hipnose, lan çando o livro Hypnosis and sugestíbility, em cjue afirma que os fe nômenos hipnóticos são uma resposta adquirida, igual aos hábi tos. Teoria da aprendizagem: repetição associativa, condiciona mento e formação de hábito. Kris (1952) — regressão dirigida a serviço do ego. André Mulier Weitzenhoffer (1921) — reforça o conceito de aprendizagem, mas caracteriza o transe corno experiência natura lista. Gili e Brenman (1959) — regressão a um estado primitivo de transferência com o hipnotizador. Fromm, Oberlander e Grunewald (1970) —- ego compulsi vo e regressão adaptativa. Ernest Hillgard — modificou os conceitos de dissociação de Janet, em que o transe é um desligamento temporário. Milton H. Erickson (1901-1980) — observadoi’ nato, perce~ beu a natureza muitidimensional do transe, que se modifica ex periencialmente de pessoa a pessoa. Por mais que haja defini ções, serão sempre uma visão pessoal que falharão em explicar algum ponto e não irão substituir a experiência real de viver a hipnose. “Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa quão precisa ou completa seja, não irá substituir uma experiência real, nem tampouco poderá ser apl:icável a todos os p~icientes” (Milton H. Erickson). Erickson, seguindo os achados de bons resultados de Clark Huli, iniciou sua jornada, utilizando-se da hipnose de uma forma muito pessoal. Nenhuma indução clássica, mas sim uma indução especial e única para cada paciente, fazendo com que o paciente 30 Sofia M. F. Bauer se tornasse seu próprio indutor, den±ro de uma técnica bastante naturalista. Podemos resumir,de acordo com o passar dos tempos, que se considerava a hipnose uma técnica, e que o hipnotizador curava. Mais tarde, que era necessário a interação de ambos, hip notizador e hipnotizado. Depois, foi visto que a cura vem de den tro daquele que deseja se curar. A indução é urna arte, uma habi lidade que pode ser desenvolvida por todos, pois, naturalmente, pode ser aprimorada de dentro para fora. É isto que veremos a partir de agora. Boa viagem! A viagem que vamos começar é na história da vida de Erickson. Rapaz jovem, filho de fazendeiros, contraiu poliomielite aos 17 anos. Febril, à beira da morte, foi diagnosticado pelo mé dico que disse à sua mãe e ele pôde ouvir que “este menino não passará do amanhecer”. Raivoso e indignado pensou: “Como um médico pode dizer uma coisa destas a uma mãe?!” Pediu a sua mãe que o arranjasse na cama de tal maneira que pelo espelho veria o sol nascer. Agüentou firme pensando: “Se eu vir o sol nascer, não morrerei.” Aos primeiros raios de sol, ele se entregou e entrou num coma profundo, vindo a despertar uns dias depois, já refeito do pior, a morte. Foi sua primeira luta interior, em que experienciou a força vir de dentro. Mais tarde, constatou o pri meiro dos conceitos que veio a desenvolver: o princípio ideodi nâmico. Aquele que diz que urna idéia (um pensamento) é um ato em estado nciscendi, corno disse Freud. Ele estava paralítico, preso a um.a cadeira de balanço, vendo seu povo trabalhar lá fora, no campo, coi±~ muita vontade de lá estar também. Percebeu que sua cadeira balançava. Como isto podia ocorrer se estava pa ralisado. Foi ai que percebeu que seu corpo fazia um movimento de ir para frente, como sua idéia de ir para fora. Começou a trei nar sua mão, depois seus braços, depois aprendeu a andar passo a passo e em pouco tempo estava se recuperando. iJrna pessoa que experiencia a motivação como força básica motivadora desenvolveu isto junto à hipnose: a força vem de dentro. Urna resposta interior. Milton Hyiarid Erickson, nasceu em Nevada, EUA, em 15 de dezembro de 1901. Morreu em 27 de março de 1980, e deixou I—Iipnotera.pia Ericksoniana Passo a Passo 31 uma obra muito valiosa, com a utilização de hipnose naturalista, que ressignifica os caminhos ditos problemáticos. Como psiquia tra teve uma boa formação em psicoterapia e, por ter seu lado in tuitivo e observador muito desenvolvido, foi se envolvendo, ao longo da vida, com hipnose, a pontó de ser conhecido nos EUA como Sr. Hipnose. Foi o presidente fundador da Amer:ican Socie ty of Clinical Hypnosis e editor fundador da revista daquela so ciedade, American Journal of Clínical Hypnosís. Milton 1-1. Erickson tinha uma forma muito particulai: de ensinar, através de seminários didáticos, em que seus alunos mais experienciavam sua metodologia do que se prendiam à teo ria. Nos EUA, existem profissionais que merecem ser citados por seus trabalhos de hipnose: André Weitzenhoffer — grande estudioso do assunto, de dicou-se à pesquisa da hipnose e de seus aspectos experimentais, à divulgação das escalas de transe e ao desenvolvimento de con ceitos que fundamentassem a hipnose. Tem várias publicações de grande valia e respeito. Ernest Hillgard — outro estudioso dos aspectos experi mentais, com várias publicações de grande valia, dando ênfase ao transe como dissociação. A seguir poderíamos citar os seguidores de Milton 1-1. Erickson, como os grandes disseminadores das técnicas ditas ericksonianas. Jay I-Ialey — colega de Milton 1-1, Erickson, publicou Tera v~a nõo-convencíoncil, ~m que torna Erickson mais conhecido como pai das abordagens de terapia estratégica breve. Jeffrey Kenneth Zeig (Nova Jorque, 6/11/1946) — aluno de Erickson por seis anos. Aprendeu e desenvolveu um metamodelo de psicoterapia baseado nos ensinamentos tidos com o mestre Erickson. Foi o fundador e é o presidente da Milton H. Erickson Foundation, e tem dedicado sua vida a ensinar pelo mundo afora a abordagem ericksoniana do trabalho com hipnoterapia. A maior parte deste livro vem dos ensinamentos de Jeffrey 1K. Zeig. Ele tem muitos livros sobre o assunto publicados e alguns deles em português. 32 Sofia M. F. Bauer Podemos ainda citar nomes reconhecidos mundialmente corno seguidores da linha de hipnoterapia ericksoniana. Cada um à sua maneira, desenvolvendo uma linha de abordagem den tro deste tema. Ernest Rossi, com a terapia das mãos; Stephen Gilligan e sua concepção pessoal, em que mistura as técnicas aprendidas com Erickson, o budismo e o aikidô, fazendo um grande trabalho de amor e integração dos clientes; Stephen e Ca rol Lankton, que desenvolveram as técnicas de metáforas embu tidas, buscando a resposta interior através de suas riquezas que são redescobertas. Existem jnúmeros outros seguidores que vão desenvolvendo novas abordagens daquilo que vem sendo batiza do de abordagens naturalistas para desenvolver o transe. No Brasil, temos o professor Malomar Lund Edelweiss, nascido em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, em 1917. Ele é psicólogo, professor universitário desde 1952. Teve como primeira formação acadêmica o curso de Direito, depois de Filo sofia. Fez sua formação em psicanálise em Viena, no Wiener Ar beitskreis für Psychoanalyse, com Igor Caruso. Fundou, em 1956, no Rio Grande do Sul, o Círculo Brasileiro de Psicanálise, tendo hoje nove sociedades afiliadas em seis estados brasileiros. Tam bém deu início ao Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, ao mu dar-se para esse estado em 1963~ E é em Belo Horizonte que vem praticando a hipnose juntamente com a psicanálise sob o nome de hipnoanálise há aproximadamente 15 anos. É o introdutor do assunto eMre seus seguidores e alunos. Exerceu por mais de 30 anos a prática psicanalítica clássica, e vem dedicando-se nestes últimos 15 anos à prática da hipnoanáiise e hipnoterapia. Foi um ~dos primeiros divulgadores das obras e trabalhos de Milton 1-1. Erickson no Brasil. Mantém, em nível de pós-graduação, curso programado em cinco anos letivos, para universitários com mais de cinco anos de formados em exercício profissipnai na área da hipnoanálise e hipnoterapia. Considero-o o padrinho brasileiro da hipnoterapia. Capítulo 2 Mitos e conceitos Para trabalhar com hipnose é preciso primeiro saber o que é. Apesar das inúmeras teorias, até hoje a cbnceituação e defini ção de hipnose ainda é algo polêmico. Vou começar pelos mitos sobre hipnose que comprometem o conhecimento e a aceitação desta como urna ferramenta muïto boa de ajuda às psicoterapias. 1. Mitos Podemos ver que os mitos sobre a hipnose se propagam através dos séculos. No século XIX, a novela Trilby escrita por Du Maurier, fala de Svengali, com sua personalidade forte e maléfi ca, e Trilby, a mocinha fraca que se deixa influenciar pelo hipno tizador Svengali e se torna uma excelente cantora enquanto está hipnotizada Os mitos sur~iram inicíalmente relacionados aos hipnoti zadores de palco e suas mágicas demonstrações. Abordarei os principais mitos, sobre os quais nossos clientes sempre chegam questionando, e é preciso que se desfaçam para que se possa es tabelecer uma relação de confiança e não de domínio. A hipnose é causada pelo poder do hipnotizador Este é um mito comum, pois até hoje, em “hipnose de pal co”, o que se vê é a personalidade forte e astuta de um bom hip notizador sugestionando pessoas a fazer aquilo que eles pedem: 34 Sofia M. F. Bauer comer cebola como se fosse maçã e assim por diante. O que você provoca com este tipo de demonstração? Poder sobre o outro?! Esta é urna idéia que vem desde os tempos de Mesmer, que vin culou o transe ao poder do magnetismo animaL Porém, na verda de, a hipnose não acontece apenas pelo poder do hipnotizador, mas pela aceitação e interação da pessoa que entra em transe e deseja experiencíar aquilo que se pede. E muitas vezes o hipnoti zador faz a hipnose dita autoritária, aquela que dá ordens, com todo seu jeito poderoso e não consegue nada. A hipnose acontece num campo de interação e confiança, o rapport. Quem pode ser hipnotizado Teoricamente todo mundopode ser hipnotizado. Alguns acreditam que isso só acontece com as pessoas de mente fraca, mas a verdade é que a hipnose faz parte do nosso dia-a-dia. En tramós em transe espontaneamente, por algumas vezes, num mesmo dia e diariamente. Quem já não experimentou sensação de, ao tomar banho, ir se desligando de tudo e viajar nos pensa mentos? Quem já não deu um telefonema e esqueceu para onde ligava? Quem já não experimentou dirigir, andar quilômetros e só depois verificar que havia andado muito sem se dar conta? Es ses são fenômenos hipnóticos do nosso dia-a-dia. São fenômenos de focalização da atenção. Portanto, um hipnotizador habilidoso, numa boa interação com seu cliente, trabalhando a confiança e a motivação, leva seu cliente ao transe. Em tese, todo mundo pode ser hipnotizado. O hipnotizador c9ritroia o desejo do paciente Sabemos que a mente inconsciente é sabiarnente amiga. Portanto, esta afirmativa é falsa. O sujeito é protegido pelo seu inconsciente de fazer aquilo que não deseja. Caso ele o faça é ~o:rque julgou inofensivo, ou por acreditar que aquilo possa aju dar. A hipnose pode ser prejudicial à saúde A. hipnose não causa danos, se usada por pessoas compe tentes e bem-intencionadas. Pessoas inescrupulosas sugerem a melhora extrapolarido os limites de seu cliente~ I-Iipnol:erapia Ericksoniana Passo a Passo 35 Lembre-se, ela é como a eletricidade, boa, mas em excesso e mal aplícada pode dar choque. Por isso a cautela de se preparar bem o profissional da área. Mas em si a hipnose não faz mal algum, por ser parte da nossa vida diária. O que faz mal é a sua manipulação inescrupu losa por certos profissionais e a creduiiclacl.e de certos pacientes. Pode-se tornar dependente de hipnose Quando as pessoas procuram por ajuda, estão de certa ma neira dependentes do profissional que as atende. Mas, à medida que vão se curando, esta dependência acaba. Elas dependem do clínico para socorrer e confortar. O objetivo é ajudar a pessoa a se curar e ser auto-suficiente. A hipnose ajuda neste processo e pode-se até ensinar a auto-hipnose como auto-ajuda e inde pendência. A pessoa pode não voltar do transe, ficar presa nele Não é possível; o máximo que acontece é a pessoa adorme cer, que seria o passo seguinte ao transe profundo. Sabe-se que o transe é um estado entre a vigília e o sono. Se você aprofunda, dorme e pode ser acordado. O sono e a hipnose Hipnose não é sono. É um estágio anterior. Às vezes, con funde-se o estado da pessoa em transe profundo, pensando que adormeceu. Mas mentalmentê a pessoa é capaz de estar concen trada e com certo grau de consciência e responder aos seus co mandos. Assim, o tr~inse parece sono do ponto de vista físico (ati vidade diminuída, relaxamento muscular, respiração suave, etc.), mas, do ponto de vista mental, a pessoa está relaxada de forma alerta A pessoa fica inconsciente em transe A hipnose é um estado de atenção focalizada, o que não quer dizer que você perca a consciência. Ocorrem modificações nas percepções e, num nível mais profundo de transe, acontece um desligamento da atenção vigilante. E só no transe profundo é que ocorre a amnésia total. 36 Sofia M. E. Bazar Hipnose e relaxamento Hipnose pode ser induzida via relaxamento, mas nem toda hipnose é relaxamento. Um atleta correndo ou nadando pode es tar em transe e não está em relaxamento. Hipnose e terapia A hipnõse não é uma terapia. É somente mais uma boa fer ramenta utilizada numa terapia, que ajuda a acessar o incons dente de uma manéira ágil. Mas hipnose por si só traz alívio e páz, o que é curativo também. e Regressão e. hipnose ( E. Muitas pessoas pensam que hipnose é regressão. Regressão é um dos muitas fenômenos que podem ocorrer com a pessoa em transe, mas nem toda pessoa regride quando entra em transe. Principalmente as pessoas, mais ligadas, e/ou mais controlado ras, muito pensativas e racionais. Estas têm mais dificuldade de entrar num transe mais profuxtdo. Para haver regressão é neces sário um transe médio ou profundo. A regressão ocorre como uma hipermnésia, em que fatos, imagens e sensações são evocados de maneira intensa. Pode ocorrer naturalmente ou por indução. Mas regressão não é hipnose. A hipnose abrange outros fe nômenos que também são utilizados dentro do transe, muitas ve zes com mais eficácia, além de não provocar uma sensação de derrota para aqueles que não a conseguem. Enormalmente não há necesØdade de~ se fazer só regressão na hipnoterapia. É bom lembrar que na tegress5o as memórias podem ser construídas~ 9 que vale, é a realidade psíquica para o nosso trabalho. Há perigos na hipnose? Por ser uma técnica que trabalha o desconhecido, a mente inconsciente do ser humano, pede-se cautela e escrúpulos. Assim, a hipnose exige a formação do profissional, preparo e habilitação reconhecidos para lidar com psicoterapia e um bom estudo da mente humana (psicanálise, estudo de psicoterapias, psicopatologia). ~~lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 37 Ela é utilíssima em mãos hábeis, mas se torna uma arma perigosa, se aplicada indevidamente. A hipnose pode ser aprendida por um hipnotista de palco? Se o propósito é trabalhar psicoterapeuticamente, não bas— ta apenas aprender a hipnotizar e a dar sugestões, o que um hip notizador de palco sabe fazer muito bem e não tiramos seu méri to. Mas é preciso mais, é preciso conhecer o lado psicológico e psicodinâmico dos problemas que a pessoa traz. A hipnose realiza milagres Ela não realiza milagres. O que acontece é a junção da mo tivação do paciente e a abertura às riquezas de cada um em seu inconsciente. Nesta mistura, a hipnose abre um novo caminho, o de acessar as novas respostas interiores. Parece milagre, mas é algo sério e cientificamente teórico. A hipnose significa inconsciência As pessoas que ainda não conhecem a hipnose pensam que estar em transe é ficar inconscíente, Pelo confrário, é ficar atento, com uma atenção especial. Isto, muitas vezes, pode significar prestar atenção em tudo o que o hipnotizador diz, e não “apa gar”, O sujeito hipnotizado pode ouvir, sentir, falar; mas tudo acontece numa abertura especial e não na falta de consciência. Se juntarmos isto ao milagre, o mito anterior, você verá porque muitas pessoas procuram a terapia com hipnose e sofrem insucessos. Vêm à procura de alguém que faça o milagre e de for ma inconsciente. Istà não existe. E necessário a motivação e a ~fontade de mudar, aliada à confiança de que, lá no fundo, existe um tesouro em recursos para sua recuperação. A função do hip noterapeuta é conduzir o cliente a aprender que ele é seu próprio terapeuta. Aprendendo, através da hipnose, a conhecer-se me lhor. A hipnose debilita a mente Pelo contrário, a pausa reabilita as suas energias vitais, um pa a mente, suaviza os sentimentos para a pessoa sentir-se majs livre e lutar pelos seus ideais. 38 Sofia M. F. Bauer Urna pessoa hipnotizada revela seus segredos Este é um conceito errado. Pensar que a pessoa pode confessar seus segredos como se estivesse sob o efeito de dro gas é falso, Ela falará, se assim o quiser, porque pode ocorrer a hipermnésia, a lembrança vívida de um fato esquecido. Deste modo, a hipnose pode auxiliar o paciente a dizer o que ele ne cessita dizer, mas não pode forçá-lo a tal, se ele não tiver von tade de fazê-lo. O sujeito não fica à mercê do hipnotizador, Ele pode falar, caso queira se colocar e precise. E, muitas vezes, ainda ocorre o acréscimo de memórias construídas pela realidade anterior do sujeito. Mas não se pode dizer que o sujeito vai confessar seus se gredos. E se houver a morte do hipnotizador durante o transe? Já pensou se o terapeuta morre, durante o transe, de um a Laque cardíaco ou outra coisa qualquer? O que aconteceria é que, ao não ouvir mais a voz do hipno tizador, o paciente ou inte:rromperia o transe induzido ou conti nuaria nele por algum tempo, em auto-hipnose, e em seguida despertaria como despertamos de um sono natural. Talvez, até o paciente despertasse para descobrir porque o hipnotizador não está mais atento.O fato é que o transe é um estado entre estar acordado e dormindo; e se você continuar no transe você adormece. Se ador mece, também acórda. Assim, naturalmente, retorna ao estado acordado. 2. Conceitos O conceito de hipnose não é unânime. É algo difícil de con ceituar teoricamente e há controvérsias. Entre os conceitos já aceitos, está o de um “estado natural de consciência, diferente do estado de vigílía”. O nome dado poi” James Braid, hipnotisn~o (um estado parecido com o sono), diz respeito à semelhança com esse estado. I_IipnOterapia Ericksoniana Passo a Passo 39 De acordo com o dicionário Aurélio, “estado mental seme lhante ao sono, provocado artificialmente, e no qual o indivíduo continua capaz de obedecer às sugestões feitas pelo hipnotiza dor. De acordo com Milton H. Erickson, “suscetibilidade arn_ pliada para a sugestão, tendo como efeito uma alteração das ca pacidacles sensoriais e motoras para iniciar um comportamento apropriado” Alguns autores consideram a hipnose um estado “altera do” de consciência. Este é um termo polêmico (alterado), pois tem um tom pejorativo. Para a Amerícan Psychoiogícai Associa tion, na definição pu blicada em 1993, a hipnose é um procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente, paciente ou indivíduo experimente mudanças nas sensações, per cepções, pensamentos ou comportamentos. Mas mesmo toda a conceitualização tentada até hoje não consegue englobar toda a riqueza da experiência da hipnose, a qual, através dos fenômenos hipnóticos, capacita uma pessoa a produzir novos aprendizados e a se utilizar da sabedoria do seu inconsciente a seu serviço. Para Erickson, o transe é um estado de sugestibilida.de in tensificado artificialmente e semelhante mas não igual ao sono, no qual parece ocorrer urna dissociação natural dos elementos conscientes e inconscientes do psiquismo. ‘d’O transe é um perío do no qual as limitações que urna pessoa tem, no que dizem res peito à sua estrutura comum de referência e crenças, ficam tem porariamente alteradas, de modo que o paciente se torna recepti vo aos padrões, às associações e aos moldes de funcionamento que conduzem a soluçao de problemas Para Gilligan, o transe hipnótico seria “urna seqüência inte racíonal, experiencialmente absorvente, que produz um estado especial de consciência, em que automaticamente começam a ocorrer auto-expressões”. Podemos dar uma definição prática: Hipnose seria a. absorção da atenção do sujeito: a afenção se ria focalizada através de urna indução ou de uma auto-indução, absorvendo a atenção da mente consciente e isto daria a oportu 40 Sofia M. F. Bauer nidade à mente inconsciente de se inanifestár através dos fenômenos hipnóticos. A pessoa então experiencia um estado diferente de consciência, com a mente consciente focada e parcialmente alerta; enquanto sua mente inconsciente experimenta formas variadas de manifestar as riquezas do inconsciente. Os fenômenos hipnóticos aparecem de forma var:iada. Cada transe é único. Não necessariamente a pessoa entrará em transe da mesma maneira. Pode variar: variação de intensidade, profundidade e de fenômenos que ocorrem. Os fenômenos hipnóticos são: rapport, catalepsia, amnésia, anestesia, analgesia, regressão, progressão, alucinações positivas, alucinações negativas. A sugestão faz parte do transe. A auto-sugestão também. A sugestão seria uma comunicação associada a uma influência que assim provocaria a absorção da mente consciente, que fica focali zada em algum tipo de absorção sensorial e ideativa. Desta ina neira, ocorre a oportunidade de a mente inconsciente se manifes tar, em diversos níveis, através dos fenômenos hipnóticos. Esta belecida a confiança, o rapport, há o acesso ao inconsciente e ocor re algum tipo de mudança. Quando eu era estudante, gostava de sublinhar os textos lj dos, depois fazer um resumo e depois apenas um esquema que memoriza a imagem. Assim nunca mais me esquecia do que pre cisava saber. Vamos brincar de fazer esquema. Como se estivéssemos numa aula, eu provavelmente colocaria no quadro para você me morizar: COMUNICAÇÃO ± INFLUÊNCIA = HIPNOSE 1•- ABSORÇÃO DA ATENÇÃO DA MENTE CONSCIENTE * em sensações, sentimentos, percepções 2- ELICIAÇÃO DA MENTE INCONSCIENTE — o aparecimento dos fenômenos hipnóticos 1 + 2 = TRANSE HIPNÓTICO A ABSORÇÃO DA MENTE CONSCIENTE MAIS O APARECIMENTO DE FENÔMENOS HIPNÓTICOS LEVA ÀMUDANÇA. I*Ijpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 41 Resumindo Todas as teorias até hoje desenvolvidas são úteis, mas não conseguiram definir hipnose e dar a última palavra na descrição do processo e da experiência hipnótica. Ela pode ser considerada como um estado de consciência diferente do estado de vigília. Ocorre também no estado acorda do, no nosso dia-a-dia, como um fenômeno natural. É considerada um estado de atenção focalizada, uma ab sorção: a mente consciente focaliza a atenção em alguma coisa e~ pecial (percepção, pensamentos, imagens, estórias, amor etc.) e há uma dissociação da mente inconsciente (automatísmos). O que se sabe é que alguma coisa acontece que é diferente de estar simplesmente acordado. Há uma focalização da atenção voltada para o que é interno. Passa a valer também a realidade interna criada pela pessoa. Pode envolver relaxamento e todos ou alguns fenômenos hipnóticos. Normalmente, ela é induzida, ou até auto-induzida. A boa relação entre as duas partes é uma condição importante. O rapport gera a confiança, a abertura, e faz com que aquele que guia possa ser ouvido e atendido em sua faculdade de a1.~sorver a atenção. O resto quem faz é o sujeito que está sendo hipnotizado. A hipnose vem de dentro do sujeito. Num conceito mais atualizado, a hipnose acontece pela in teração das duas partes. 3. Mente consciente e mente inconsciente Dentro da visão de Erickson, podemos definir: Mente consciente — é considerada a parte da mente que nos permite estar ciente das coisas, ter crítica. Tem a habilidade de analisar as coisas, agir racionalmente, fazer os julgamentos. É a parte racional, mas é a parte limitada de nossa mente. Você só pode prestar atenção a poucas coisas ao mesmo tempo. É como chupar cana e assoviar ao mesmo tempo. Mente inconsciente — é o reservatório de todas as expe riências adquiridas através da vida, Experiências pessoais, apren 42 Sofia M. E. Bauer e dizados, necessidades, motivação para interagir com seu próprio mundo e as muitas funções automáticas. É uma mente sábia, não rígida, nem analítica e tampouco limitada. Ela responde a comu nicações experimentais, é capaz de interpretações simbólicas e tem a tendência a uma visão global. Carrega os recursos para as mudanças. Pode-se ver a dwilidade da mente pelos hemisférios cere brais. O hemisfério direito — o da mente inconsciente, hemisfério intuitivo — opera no nível simbólico e da criatividade. O hemis fério esquerdo — o da mente consciente — é o lógico, analítico e tem as funções intelectuais. A hipnose é uma ferramenta que nos permite dissociar es tas duas partes, para “acessar” os recursos sábios do inconscien te, reintegrando a seguir, de uma forma saudável, a ajuda com a resposta que vem de dentro da mente inconsciente. 4. Sugestibiidade De acordo com André Weitzerihoffer, sugestibiidade “é a capacidade de responder às sugestões”. E sugestão seria “uma comunicação que evoca uma resposta Involuntária que reflete o conteúdo ideacional da comunicação. É a comunica ção de uma pessoa para a outra que evoca um automatismo na segunda pessoa, e reflete a realização do conteúdo Ideacional da comunicação”. A palavra sugestiTo vem do latim sugestione, em que su, sub = embaixo, abaixo, por baixo, e gestione = gestão, administração, gerência. Lembrando Freud, “o pensamento é um ato em estado nas cendi.” Nascer na pessoa uma nova idéia. Este é um princípio da hipnose — o princípio ideodinâmico — em que uma idéia gera urna ação. Faço aqui um pequeno relato da história de Erickson, quando ele descobre este princípio durante sua convalescença da poliomielite.Sentado numa cadeira de balanço, totalmente para lisado pela doença, estava com muita vontade de ficar lá fora no campo como seus familiares, trabalhando na fazenda. Olhando fixamente para fora com este pensamento em mente, notou que 1~{ipno terapia Ericksortiana Passo a Passo 43 ~ua cadeira começou a balançar para frente e para trás. Era a idéia fazendo com que ele se movimentasse. Foi assín~ que, atra vés deste exercício de pensamento, Erickson foi reaprendendo a se mover e mudar o que ele queria. A sugestibilidade seria uma abertura para acejtar novas idéias, novas informações. À medida que esta informação vai sendo adquirida, dependendo do seu valor subjetivo, eia pode alterar a experiência da pessoa de alguma maneira. A escolha de aceitar ou não a sugestão proposta vai depender de a pró pria pessoa acreditar que isso possa levar à mudança que eia deseja. É sempre bom alertar para o fato de que há pessoas com uma capacidade crítica reduzida e de que há uma diferença entre sugestibilidade e credulidade. Ter bom senso e usar da capacida de de influência com sensibilidade é dever do hipnoterapeuta, sempre com muito respeito ao desejo do outro. Todas as pessoas são envolvidas por alguma opinião em algum momento de suas vidas, Isso é particuiarmente evidente nas propagandas que exercem influência através da comunicação visual, auditiva e cenes tésica. Fazer um transe hipnótico significa comunicar alguma coi sa que o outro possa entender e para tal utilizamos estratégias de comunicação. 5. Hipnotizabilidade Diz respeito à suscetibilidade hipnótica, o grau e:m. que você é hipnotizável. Transe leve, médio ou profundo. Quem pode ser hipnotizado? Já vimos isto nos mitos. Como a hipnose e seus fenômenos fazem parte de nosso dia-a dia, podemos afirmar que todos podem ser hipnotizados. Joseph Barber, em seu texto “O modelo do serralheiro”, mostra que a suscetibilidade à hipnose depende do serralheiro (chaveiro) fazer a moldagem correta para abrir a fechadura da mente inconscien te. O modelo da hipnose naturalista, de acordo com cada cliente, tem maior eficácia quanto a essa suscetibilidade. Quando se indi vidualiza a terapia, há urna melhor resposta à indução. Veremos isto mais tarde. 44 Sofia M. F. Bauer 5 U G E 80%T A hipnose pode ocorrer em vários níveis. Veja o gráfico: O transe médio é considerado o melhor, por ter maior efi cácia quanto à sugestão. Em transe leve a consciência está muito presente, e com ela a crítica e as resistências. No transe profundo ocorre amnésia, que por vezes é prejudicial aos bons resultados, A sugestibilidade é maior no transe médio, mas sabemos que este gráfico é empírico. Você pode ter alta sugestibilidade num paciente sonambúlico ou no transe leve. O mais importante é a aliança terapêutica, o rapport. Tendo isso, você muda o gráfi co, muda as possibilidades. .Aquilo que falei anteriormente, sobre o modelo cio serralheiro quanto a entrar em transe, vale também para a sugestibilidade que pode ser aumentada nos níveis vários de transe. Portanto, o principal é fazer com que o paciente confie em você. Mas, para aqueles que estão começando, saber que o transe médio oferece maior sugestibilidade já traz segurança. Neste nível, o paciente tem alguma consciência e controle, e pode se soltar e confiar, observando. Veja agora as escalas sobre o que acontece em cada nível de 1 50% 25% SONAMBULISMO SONO FISIOLÓGICO HIPNOTIZABILIDADE transe. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 45 Critérios de Hershinan para adequação de estados hipnóticos • Transe leve (hipnoidal) Relaxamento Catalepsia das pálpebras dos olhos Fechamento dos olhos Começo de catalepsia corporal (sem movimentos) Respirações mais vagarosas e profundas Imobilização dos músculos faciais Sensação de peso (pesado) em várias partes do corpo Anestesia de luva Habilidade para sugestões pós-hipnóticas simples • Transe médio Amnésia parcial (alguns sujeitos) Definido retardamento na atividade muscular Habilidade em ilusões de sensações Aumento isolado de sensações Marcada catalepsia dos membros do corpo Habilidade para sugestões pós-hipnóticas mais difíceis • Transe profundo Habilidade para manter o transe com olhos abertos Amnésia total (na maioria dos sujeitos) Habilidade para controlar algumas funções orgânicas (pul so, pressão arterial) Anestesia cirúrgica Regressão de idade e revivificação Alucinações (positiva e negativa, visual e auditiva) Habilidade de “sonhar” material magnífico Habilidade para todas ou para a maioria das sugestões pós-hipnóticas • Transe pleno ou estuporoso Marcado por respostas orgânicas lentas e quase completa, inibição da atividade espontânea. Fonte: Hipnose médica e odontológica, Mílton H. Erickson, M~D., Seymour Hershman, MIX e Irving Secter, D.D.S., Editora Livro Ple no, Campinas, 1996. 46 SoflaM.P.Bauer Estado (profundidade) da hipnose em relação às aplicações clínicas (Weítzenhoffer) Critérios Grau Olhos abertos Pálpebras pesadas Acordado Pálpebras com tremor Sensação de peso nas extremjdades Sonolência Terapia psicobiológica (reforço, per suasão, reeducação, confissão e venti- Estado lação) hipnoidal Hipnoanálise (associação livre, fanta sias induzidas) Aumento do limiar de dor através do relaxamento Redução da tensão muscular geral Fechamento dos olhos Relaxamento muscular geral Catalepsia das pálpebras (paralisia) Catalepsia dos membros (flexibilidade cérea Hipnose Indução do membro rígido leve Paralisia induzida Automatismos induzidos Terapia psicobiológica (condução) Analgesia leve (cefaléias tensionais, trabalho de parto e alguns partos, tra balhos dentários simples) Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 47 Critérios Grau Amnésia pós-hipnótica parcial sugerida Alterações sugeridas de vários senti dos cutâneos Anestesia em luva Analgesia parcial pós-hipnótica Automatismo generalizado - Hipnose Alteraçoes superficiais de personalida media de sugerida Hipnoanálise (indução de sonhos, re presentação de papéis) Facilitação de terapias físicas Analgesia para partos, trabalhos den táríos e pequenas cirurgias Sugestões_pós-hipnóticas_simples ______________ Amnésias pós-hipnóticas extensas su geridas Anestesia geral Efeitos emocionais induzidos Profundas alterações de personalidade sugeridas Alucinações Hipnose Alteração da noção de tempo profunda Regressão e progressão de idade Terapias biológicas (certas dessensibi lidades) Hipnoanálise (escrita automática, pin tura, modelagem) Remoção de sintomas Uso quase geral de sugestões como ad junto de intervenções médjcas Anestesia para cirurgias maiores 48. Sofia M. F. Bauer Critérios Grau Amnésia pós-hipnótica total e espontâ nea Habilidade para abrir os olhos em hip nose Profundas alterações de personalidade Hipnose profunda sugeridas Sonambulismo Todas as sugestões pós-hipnóticas Terapia psicobíológica (recondiciona mento) Hipnoanáiise (fixação de cristais, psi codrama, conflitos artificiais induzi dos, reivindicações) Uso geral de sugestões como adjuvan te de tratamentos médicos Ponte: The practice of hypnotisrn, André Weitzeiihoffer, MD., Nova lorque, Wiley Interscience Publication, 1989. Copyright © 1989 by John Wiley & Sons, mc. f{ipnoteraPia Ericksoniana Passo a Passo. 49 A escala de Davis—Husband in Weitzenhoffer, The practice ofhypnotism Teste de profundidade Escore sugestão e resposta Não-suscetível 1 2 Relaxamento 3 Tremor de pálpebras 4 Fechamento dos olhos 5 Completo relaxamento físico 6 Catalepsia dos olhos Transe leve io Rigidez cataléptica 11 Anestesia em luva 13 Amnésia parcial 15 Anestesia pós-hipnótica 17 Mudanças na personalidade Transe médio 18 Sugestões pós-hipnóticas simples 25 Sonambulismo completo 26 Alucinações pós-hipnóticas visuais positivas 27 Alucinações pós-hipnóticas auditi vas positivas 28 Amnésia pós-hipnótica sistemati zada 29 Alucinações auditivas negativas 30 Alucinações visuais negativas, hi perestesia Fonte: Davis &z Husband, 1931. Copyright 1931 pela American Psy chological Association. 50 Sofia M. F. Bauer Depois de observaras escalas e os níveis de transe, vem a pergunta: Para estar no transe médio ou profundo é preciso sen tir tudo isto? Na verdade, isto é uma escala. Uma médja do que acontece em cada nível de transe. Mas o que ocorre normalmente não é se verificarem todos estes itens em cada transe atingido ou induzi do. Pode-se ter alguns dos itens ou todos eles. Há pessoas que são mais cenestésicas e podem desenvolver mais sensações. Ou tras têm uma capacidade de alucinar em imagens e outras de de senvolver analgesia ou anestesia, e todas podem estar desenvol vendo muitos níveis de transe, além de variar de fenômenos hip nóticos de um transe para o outro. Por isso, é bom saber que uma pessoa que hoje entra num transe leve, amanhã poderá desenvol ver um transe médio ou profundo, e vice-versa; hoje desenvolver o transe profundo, e amanhã o leve. Mas como é que você de uma maneira prática vai saber se o seu cliente entrou em transe? E qual a profundidade deste transe? A pessoa quando entra em transe fica com a mente cons cjente absorvida. Dá vazão à mente inconsciente, a que os fenô menos hipnóticos apareçam, e fica clara a constelação hipnótica, ou seja, um quadro de sinais físicos que denotam um estado en tre o acordado e o dormindo. Ao perceber alguns destes sinais, você já está com seu cliente em transe. Pode ser um transe mais leve, em que as carac terísticas principais são: catalepsia, diminuição dos movimentos, respiração mais lenta, às vezes sinais ideomotores. No transe médio, observam-se uma catalepsia mais acen tuada, músculos da face soltos e mais sinais da constelação hip nótica como: movimento de deglutição diminuído, sinais ideo motores, movimentos oculares, respiração mais lenta, às vezes mudança na postura (mais caído para um lado). O transe profundo parece-se com o sono. A pessoa conti nua respondendo aos comandos do indutor do transe, ocorrem os movimentos rápidos dos olhos (REM) e pode haver até so nhos. Ela pode entrar em sonambulismo. O próprio nome já diz, o sono mais o ambulismo. Parece estar adormecida, mas tem a capacidade de andar, escrever, responder às perguntas, de uma ~jjpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 51 forma “acordada diferente”, pode abrir os olhos, mas estes ficam vidrados e mais fixados a um ponto ou olhar vago. Este estágio é anterior ao sono. O grau mais profundo de transe seria a letargia, quase o sono. É difícil alcançá-lo., porque a tendência é passar di retamente ao sono fisiológico. É preciso desenvolver esta capaci dade que os monges treinam em suas meditações. O transe letárgico, em psicoterapia, pouco adianta. O transe médio é o utilizado com maior eficácia, pois desenvolve a capacidade de se abrir para as potencialidades do incons ciente, provoca apenas amnésia parcial e gera segurança em quem o experimenta. A pessoa sabe que estava num estágio di ferente, mas ela é partic~pativa da hipnoterapia. A hipnose aqui se toma efetiva. No transe profundo muitas vezes ocorre amnésia total; a pessoa não se lembra de nada e não se torna participativa de uma maneira consciente. Há casos em que é necessário um tra balho no nível profundo: traumas, sugestões diretas, em que não se deseja que a pessoa desenvolva uma resistência ao que foi sugerido. Mas, na maioria dos casos, é sempre bom desenvolver o transe em nível médio. Lembremos que você, à medida que de senvolve o rapport e faz o condicionamento ao transe, pode levar uma pessoa que só vai até o nível leve a desenvolver um transe mais profundo. Fizeram-me uma pergunta durante uma aula. Uma per gunta importante. O que cura mais rápido? Colocar uma pessoa em transe profundo, ou uma pessoa em transe leve? Qual é o transe mais eficaz? Com o que você leu até o momento, sabe que o melhor transe, para a sugestibilidade, é o médio. Mas e o paciente que só entra em transe leve, ou só em profundo? Não teremos bons re sultados? O que funciona é o somatório de motivação, rapport e ne cessidade. Um paciente bem motivado, apoiado na confiança que tem no terapeuta e necessítando de melhora provavelmente será o melhor cliente. Não importa o nível de transe. Para os erickso nianos, isso não é importante. Então, não se preocupe se o seu cliente não entra num transe médio ou profundo. Os clientes é 52 Sqfia M. F. Bauer que têm essa preocupação: “eu não entrei em transe”, “eu não apaguei”. Isto não é necessário. Fale ao cliente que o transe pode ser leve, mas muito eficaz, caso ele preste a atenç~o necessária. Porém, para você poder recorLhecer tudo isto, é necessário saber o que é a constelação hipnótica e os fenômenos hipnóticos. Você verá a seguir. 6. Constelaçõo hipnótica (segundo Jeffrey K. Zeig) Um dos motivos de se sentar de frente para o cliente e de mantê-lo sentado é poder observar a constelação hipnótica; além de dificultar sua passagem direta ao sono. Zeig criou este termo — constelação hipnótica — para de signar aquelas características, sinais físicos, que mostram que o sujeito está em transe. São elas: Economia de movimentos (a catalepsia) — observa-se facil mente quando a pessoa entra em transe; ela fica imóvel, econonil za movimentos. É a catalepsia agindo. Não existe vontade de se mexer. O que move, agora, é algo interno. O corpo pára e a menL te produz. Literalismo (interpretação literal) — uma segunda coisa ob servada é que o inconsciente é literal, ou seja, ele responde lite ralmente às palavras ditas. Por isso, todo cuidado com suas pala vras, com o que você sugere. Vou lhe dar alguns exemplos. Você pode perguntar a uma péssoa ~cordada: “Você se importa de di zer seu nome?” A pessoa naturalmente vai lhe responder o nome. No caso de estar em transe, ela pode simplesmente res ponder que não ou sim. Outro exemplo: Uma vez, fazendo uma indução, sugeri ao cliente que se imaginasse flutuando em urna nuvem, como se ela fosse um cobertor gostoso de bebê; o pacien te começou a sentir um calor enorme. Imagine se ele também ti vesse medo de altura?! É bom prevermos, com algum questiona mento, medos que possam ter relação com a indução que temos em mente. E lembremos que a resposta do sujeito pode vir literal mente. ~jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 53 Demora para iniciar resposta — há também a demora para jniciar a resposta a um comando. Por isso, tenha um pouco de paciência ao pedir algo, como levitação ou outra coisa qual quer. As respostas costumam vir quando estamos desistindo. Aos iniciantes, que ficam um pouco aflitos, achando que não aplicaram bem a técnica, paciência, um pouco de silêncio e lá vem a resposta. Mudança nos reflexos de salivação e deglutição — você pode notar que, logo ao iniciar o transe, há uma mudança no reflexo de deglutição. No início., a pessoa saliva mais, engole mais. De pois! quando já está num transe médio, a pessoa pára de engolir, diminui o reflexo de salivação. É mais ou menos como o primeiro sono, em que, às vezes, baba-se e depois fica-se quase sem saliva no sono profundo. Díminuição na freqüência respiratória, pulso e pressão sangüí nea — há uma diminuição geral dos reflexos. Se quando estamos dormindo ficamos menos acelerados, no transe, caminho entre o estado alerta e o sono, há também a diminuição destes reflexos. Há uma vasodilatação, pelo relaxamento muscular; uma tranqüi lidade que pode ser observada até na respiração. Relaxamento muscular — ocorre também o relaxamento muscular. Você pode reparar melhor nos músculos da face. Quando a pessoa entra num bom nível de transe, os músculos da face vão se soltando. Costuma-se observar que a pessoa solta o queixo e, muitas vezes, solta os lábios. Vê-se também os braços entregues. É como ver um bebê que adormece. Sabe-se que o bebê adormeceu porque ele se entregou; fica até mais pesado no colo de quem o carrega. Assim, podemos observar que a pessoa em transe se entrega a um estado de relaxamento generalizado. Mudanças no comportamento ocular — os itens abaixo ocor rem freqüentemente quando se faz o transe através da fixação de um ponto, e você então observa as mudanças. pupilares; a perda do foco; o olharvidrado, que também é comum no sonambulis 54 Sofia M. F. .Bauer mo; e a mudança de piscadas que vão ficando mais lentas até o fechamento dos olhos. a) Mudanças pupilares — a midríase, ou dilatação da pu pila, é observada no cliente em transe com os olhos abertos. b) Tremor palpebral — se você está trabalhando com o sujeito de olhos fechados, talvez ocorra o tremor pai pebrai. É um sinal de estar entrando em transe. É bom você dizer ao sujeito que é muito natural os olhos tre merem um pouco, involuntariamente, quando se está entrando em transe, e que basta que ele respire fundo e logo os tremores passarão. ~) Perda de foco — o cliente tem a sensação de visão em baçada. d) Olhar “fixo” de transe — o olhar vidrado, como no so nambulismo. e) Mudanças na freqüência das piscadas — os olhos pis cam mais rapidamente. f) Mudanças no movimento lado a lado do olho — outra mudança que se observa na pessoa em transe de olhos fechados é o movimento de lado a lado do globo ocu lar. Isto denota a entrada num transe mais profundo. Você pode também observar o REM (rapid eye inove ment), o movimento rápido dos olhos, que ocorre no estado mais profundo de transe, quando a pessoa pode estar sonhando. g) Lacrimejamento — observa-se uma lubrificação natu ral e espontânea das vias lacrimais. Reduçâb nos movimentos de orientaçõo — há uma acentuada redução nos movimentos de orientação, quando é pedido à pes soa em transe que leve a mão ao rosto, por vezes ela perde a no ção de onde está sua mão naquele momento. Perseveração — o cliente mantém um movimento começado. ~4jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 55 Assimetria direito/esquerdo — a assimetria entre os dois la dos do corpo. Você pode notar que a pessoa vai modificando suas contraturas musculares, sua fisionomia, Um lado do rosto 501ta-se mais que o outro. Às vezes, tomba-se para um lado, ou ~rjra—Se mais o rosto. Mudanças na circulação periférica — as mudanças na circula ção periférica ocorrem pelo relaxamento muscular generalizado que relaxa artérias e veias e com isso leva mais sangue aos pe quenos capilares das pontas do corpo. É bom lembrar que nos ca sos de hipertensão a hipnose é muito eficaz na redução da pres dão, exatamente por este motivo: relaxamento dos vasos arteriais. Você pode usar o transe e o ensinamento de auto-hipnose, como uma técnica de ajuda para hipertensos. E’asciculação — fascicuiação é um conjunto de pequenas contraturas musculares involuntárias que se observa durante o transe. Aumento da responsividade — há um acentuado aumento da responsividade, que você observa nas mínimas pistas, como res pirar profundo e observar que o sujeito respira juntamente com você. Pedir que a pessoa faça alguma coisa e ela faz. Auinento da atividade ideomotora e ideossensória — movimen tos ideomotores são comuns, como sinais com os dedos. Peque nos movimentos que sinalizam uma idéia. A levitação é um mo vimento ideomotor. Há também atividades ideossensórias, uma idéia que traz junto uma sensação. 7. Fenômenos hipnóticos Rapport Catalepsia Dissociação Analgesia Anestesia 56 Sofia M. F. Bauer Regressão de idade Progressão de idade Distorção do tempo Alucinações positivas/negativas Amnésia Hipermnésía Atividade ideossensórja/ideomotora Sugestão pós-hipnótica Quando você coloca uma pessoa em transe, observará al guns comentários, ao final do transe, sobre as percepções expe rienciadas pelo sujeito. Elas são variadas; podem aparecer algu mas ou até muitas das que descreverei a seguir. Não necessaria mente aparecem as mesmas quando se entra em transe novamen te. Você pode ver que o mesmo sujeito, numa indução, falará que teve amnésia e analgesia e pode ser que numa outra sessão ele te nha hipermnésia e não tenha analgesia. O importante é que os fenômenos hipnóticos sempre apa recem quando a pessoa está em transe. É nossa garantia, quando principiantes, de que o nosso cliente entrou em transe. Os fenômenos hipnóticos aparecem desde o transe leve até o profundo, independentemente do nível de transe. Às vezes, a pessoa está num transe leve e desenvolve amnésia. Em outras, a mesma pessoa pode entrar num transe profundo e ter apenas amnésia parcial. Por isso, fique atento, nem sempre se segue à risca as escalas de transe. Rapport É o estabelecimento da aliança terapêutica. O seu cliente, para o seguir em seu pedido de indução, precisa confiar em você. Quando você tem um amigo e ele lhe chama para ir a algum lu gar que você desconhece, você vai por confiar nele. Isto acontece através do estabelecimento do rapport. Quando este se estabelece, o sujeito tende a não prestar atenção a situações do ambiente e a estímulos externos, para responder somente à pessoa que conduz a hipnose. ~jpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 57 Catalepsia É a sensação de ficar imobilizado, mais pesado e sem von tade de se mover. É um estado particular de tonicidade muscu lar, no qual o sujeito fica fixo numa posição por um período inde finido de tempo. Você pode colocar o braço do sujeito erguido e ele mantém esta posição. A catalepsia acontece em todos os ní veis de transe. ~issociação É a capacidade de dissociar a mente consciente da mente inconsciente. Ficar absorvido nos aspectos da indução que é feita e ao mesmo tempo experienciar as mais variadas sensações, sen timentos e pensamentos. É como se fossem dojs de você mesmo. Um é capaz de seguir o que é pedido pelo hipnotizador, e o ou tro está vivendo uma realidade vinda do seu interior. Analgesia É o formigamento do corpo. Você o sente, mas não sente dor. Como em alguns tipos de anestesia. Há pacientes que sen tem analgesia desde o transe leve. É possível até mesmo fazer ci rurgias quando se desenvolve este fenômeno de transe. Anestesia É a sensação de não sentir uma parte defínida do seu cor po. Por exemplo, h~ pacientes que não sentem as mãos, ou as mãos e os braços, outros, as pernas. Além de você não sentir dor, você também perde a noção daquele membro do corpo. É um excelente fenômeno que pode ser desenvolvido para cirurgias. Regressão de idade A regressão de idade é também um fenômeno natural do transe. Ele pode ser induzido ou pode aparecer espontaneamen te. São memórias, pensamentos, imagens, num nível de recorda- -r 58 Sofia M. P. Bauer ção, ou pode aparecer como uma revivificação, em que a pessoa fala e age como se fosse uma criança, ou se tivesse a idade deter minada daquele fato. É sempre bom lembrar que não temos como provar se é algo real, ou se é uma realidade construída em cima de aprendi zados da vida, Mas o que realmente importa é a realidade vivi da e sentida do seu cliente. Por isso, aceite, respeite e trabalhe tudo o que o inconsciente sabiamente amigo trouxer como mate rial exclusivo e como o tesouro do seu cliente. Aqui entram as regressões a vidas passadas. Se existem, se é verdade, todos nós teremos certeza quando passarmos desta vida. Mas o que im porta é o respeito ao material trazido pelo cliente. Utilize-o, ele é o reservatório das potencialidades, das dicas que o inconsciente lhe dá. Não tenha pré-conceitos. Progressão de idade Do mesmo modo que ocorre a regressão, há também o fe nômeno de progressão. A pessoa pode se ver no futuro realizan do as coisas que deseja e necessita fazer, ou até mesmo suas obs truções. Utilize-se desta técnica/fenômeno com os pacientes an siosos, Por si só eles já fazem uso dela diariamente em suas “pré ocupações”. Você usa uma ferramenta que é comum a eles e faci lita a ressignificação, o que é positivo para o cliente seguir à fren te. Distorção do tempo Quando você está em transe, ocorre uma modificação tem poral. Seu tempo interno pode variar em relação ao tempo crono lógico do relógio. Lembre-se de que o inconsciente não é analítico e lógico. Por isso, às vezes uma longa indução pode parecer du rar apenas cinco minutos ou vice-versa. É parecido com o que rios acontece na vida cotidiana, vemos um bom filme e parece que ele passou depressa demais. Em compensação, ao ouvir o discurso de um político, talvez pareça ter durado horase fora apenas meia hora. Quando o sujeito então lhe disser que foi tão rápido, ou que pareceu ter durado horas, ele estava desenvolven do este fenômeno do transe. l-{ipnoterap~a Ericksoniana Passo a Passo 59 Alucinações positivas e negativas Consideram-se alucinações positivas aqueles aspectos sensários de percepção dos cinco sentidos que aparecem dii rante o transe. Por exemplo: visualização de imagens, ouvir al gum tipo de som que não está presente, sentir alguma sensa ção física diferente. Tudo aquilo que é incluído e que na reali dade não existia. As alucinações negativas ocorrem pela retirada de sensa ções e percepções. Por exemplo: não ouvir urna campainha que toca, um som; não sentir uma parte do corpo; não ver algo que se encontra ali. Ocorrem em todos os níveis de transe. Amnésia É um fenômeno que pode acontecer parcial ou totalmente. A amnésia é parcial quando você se lembra de partes do transe. Mais comum no transe leve e médio. Amnésia total ocorre quando a pessoa não se lembra de nada que aconteceu durante o transe. Ela é comulrL no transe profundo e sonambúlico. Hiperrnnésia É a capacidade de relembrar aguçadamente uma situação específica. Atividades ideomotoras e ideossensórias Estão ligadas à capacidade do sujeito de responder auto maticamente através de sinais ideomotores (sinalização com de dos, mãos, ou levitação e a capacidade de escrita automática) ou ideossensórios (percepção sensória associada a uma idéia). Sugestão pós-hipnótica A sugestão pós-hipnótica é um ate que acontece após o su jeito “acordar” de um transe, em resposta às sugestões dadas du rante o estado de transe, com execução de algo pedido a partir de 60 Sofia M. F. Bauer um “gatilho” dado num transe anterior. Assim sendo, o sujeito hipnotizado recebe uma instrução, durante um primeiro transe, que, de acordo com uma dica determinada (ao acordar, ao abrir a janela etc.), ele entrará num estado de transe mínimo (coris ciência alterada), em que executará a sugestão pedida. Este tran se pós-hipnótico, em geral, é de duração breve. O tempo de e~e cutar o ato sugerido. No caso de se pedir como sugestão pós- hipnótica que o sujeito fique sem dor por horas, este transe não será breve. Necessitará de longa duração .para sua execução. Mas geralmente são pequenas sugestões que serão executadas na vida cotidiana do sujeito, que lhe podem ajudar na mudança de nuances, necessaria a sua melhora. Exemplo: ... Hoje, ao di rigir seu carro, abra o teto solar, respire fundo, olhe o céu azul e sinta como seu peito se abre para uma nova inspiração.” Esta foi uma sugestão pós-hipnótica dada a um paciente asmático. Dias depois o mesmo paciente relatou a delícia que era abrir o teto solar e respirar fundo e livremente. A sugestão pós-hipnótica é mais eficaz quando feita em transe profundo e com amnésia. Tem um efeito mais poderoso, mas não quer dizer que não possamos usá-la para os diversos ní veis de transe, ou num sujeito com amnésia parcial. Um ponto que aumenta a eficácia deste fenômeno é o rapport. Por isto, se ti ver um bom rapport, não importa o grau de profundidade e a am nésia, a sugestão pós-hipnótica funcionará. Use este fenômeno para dar as sugestões diretas, mas no fi nal do transe, que é quando já se está num nível mais profundo, em que ocorre amnésia, e temos a certeza de termos desenvolvi do um bom rapport. Esse tipo de sugestão é usado para dor, parto, corrida de atletas, ansiedade e tudo o mais que se deseje, e tem uma efetivi dade poderosa. É considerada um fenômeno hipnótico porque só ocorre durante um transe caracterizado por certa catalepsia, dissocia ção, amnésia, olhos focados e certa dilatação das pupilas (mi dríase). Resta dizer que os fenômenos hipnóticos fazem parte da nossa vida cotidiana. Todos eles. Assim, você é capaz de ter am nésia do número do seu telefone, se se distrair um pouco. Você j~ipnoteraPia Ericksoniana Passo a Passo 61 pode ter urna hiperrnnésia de um fato ou uma dissociação quanto dirige um carro; seu consciente se distrai com uma preo cupação ou pensamento feliz e o seu inconsciente continua auto maticamente dirigindo o carro para você; você anda quarteirões e se dá conta de que o fez de urna forma “até segura”. Por isso, entrar em transe é algo comum a todos. Nós o fa zemos diariamente, várias vezes ao dia. Qualquer pessoa pode entrar em transe; resta saber se o terapeuta está habilitado para ser um bom serralheiro e providenciar a chave certa da confiança que abra o seu inconsciente. Para finalizar este capítulo, Erickson faz uma nota especial: “Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa quão apurada ou completa, não substituirá a expe riência atual, e nem tampouco pode ser aplicada a todo sujeito. Qualquer descrição de um transe pro fundo deve necessariamente variar em pequenos de talhes de um sujeito para outro. Não há uma lista ab soluta de fenômenos hipnóticos que pertençam a um nível hipnótico. Alguns sujeitos desenvolvem fenô menos hipnóticos no transe leve associados ao transe profundo e outros mostram fenômenos de transe leve no transe profundo. Exemplo: pessoas que de senvolvem amnésia em transe leve e que falham em desenvolvê-la em transe profundo” (Rossi, 1980, pp. 144-145). “O transe profundo é aquele nível de hipnose que permite ao sujeito funcionar adequadamente e dire tamente no nível inconsciente sem interferência da mente consciente” (Rossi, 1980, p. 146). “O transe terapêutico é um processo em que os limi tes e o enquadramento referencial de alguém estão temporariamente alterados e assim pode ser recepti vo a padrões de associação e modos de funcionamen to que conduzam à solução do problema” (Erickson e Rossi, 1979, p. 3). 62 Sofia M. F. Bauer Conta-se que uma vez um professor de ciências humanas foi bus car supervisão com um didata do. conhecimento. O mestre o escutou atentamente enquanto fazia a análise da demanda do aluno. Após um tempo disse: — Você parece cansado, teve um dia longo de trabalho, veio de um lugar distante, deixe-me primeiro servir-lhe um chá. O mestre trouxe a chaleira, serviu o chá numa xícara e o chá co meçou a transbordar para o pires, mas ele continuou despejando o chá. Então o pires também ficou cheio e, apenas uma gota a mais, o chá co meçaria ~a escorrer pelo chão. O aluno então disse: — Pare! O que você está fazendo? Não vê que a xícara e o pires estão cheios? O mestre calmamente respondeu: — Esta é exatamente a situação em que você se encontra. Sua mente está tão cheia que mesmo que eu pudesse responder às suas perguntas você não as escutaria. Para que o que eu tenho a lhe dizer produza um efeito, você primeiro deve esvaziar a sua mente. Crie um espaço dentro de você. Com uma postura arrogan te, nada do que eu disser florescerá. A postura é de receptividade e é por isso que se diz: “Existem coisas que você sabe. Existem coisas que você não sabe Também existem coisas que você não sabe que sabe. O dia em que você souber aquilo que você não sabe que sabe, você será realmente você. Capítulo 3 O modelo da hipnoterapia ericksoniana 1. Hipnose clássica Esta é a hipnose que vem do século passado, em que há um hipnotizador que faz a indução por métodos tradicionais. Segue- se um ritual rápido ou demorado, mas algo bem convencional e já preestabelecido. São as técnicas difundidas em manuais, as utilizadas por hipnotizadores de palco e pelos mais tradicionalistas. Não tenho nada contra estas técnicas; são úteis e de fácil acesso. O que vemos ë o progresso das coisas, a evolução para técnicas que podem se adequar mais a uma ou outra pessoa. O que não quer dizer que urna pessoa que aplica hipnose mais naturalista não venha a se utilizar de uma técnica mais standard e tradicional. E, às vezes, com um efeito até melhor, dependendo do seu sujeito hipnótico. André M. Weitzenhoffer faz urna crítica aos ericksonianos por fazerem esta distinção. Aqui vale dizer que estamos apenas fazendo uma distinção didática e não urna crítica à utilização deste tipo de hipnose. Sempre tenha bom senso e aprenda tudo
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