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Sistema Notarial e Registral Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Questões Preliminares • A História do Direito Notarial e Registral; • O Direito Notarial e Registral no Brasil; • A Natureza Jurídica das Atividades Notariais e Registrais; • Atividades Notariais e Registrais; • Presunção de Boa-Fé dos Atos Notariais e Registrais. • Entender as origens das Atividades Notariais e Registrais ao longo da História; • Conhecer como o Direito Notarial e Registral chegou ao Brasil, bem como as previsões legais para o exercício deste tão relevante Serviço Público; • Entender quais são as atividades específi cas desenvolvidas com relação à Atividade Nota- rial e Registral, bem como a boa-fé que deve contaminar os Atos jurídicos decorrentes da prestação desses Serviços Públicos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Questões Preliminares Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Questões Preliminares A História do Direito Notarial e Registral Antes de percorrermos os conhecimentos mais aprofundados e atuais a respeito das Atividades Notariais e Registrais, faremos uma breve contextualização delas, a partir do que as pesquisas indicam como nascedouro desse tipo de “serviço”. Pesquisadores, ao tratarem sobre a origem histórica das Atividades Notariais e Registrais, dão conta de que foram os denominados “escribas” egípcios os primei- ros percussores dos Atos notariais e de Registro. Os escribas eram dotados de formação específica e tinham muito reconhecimen- to por parte da Sociedade, merecendo destacar que esta atividade detinha caráter sucessório, ou seja, transmitia-se de pai para filho. Cabe destacar que os registros históricos dão conta de que os “escribas” não eram dotados do que hoje requer a Atividade Notarial e Registral, ou seja, da no- minada fé-pública. Seus atos somente passavam a possuir essa qualificação a contar de uma “ho- mologação” por outra autoridade, de condição superior à deles. Assim, os registros passavam a serem dotados de reconhecimento coletivo e de autenticidade de seu conteúdo. Figura 1 Fonte: Pixabay Em razão da dinâmica social que as Relações Negociais e a discussão sobre direitos vão assumindo surge a necessidade de serem criadas certificações, dando conta de que essas relações efetivamente ocorreram, com o fulcro de preservar os direitos das partes mediante consolidação das relações praticadas. Cabe fazermos menção às palavras de José Roberto Pugliese a respeito des- sa situação: 8 9 Sente-se que, desde as mais priscas eras, a sociedade já sentia a necessi- dade para fixar e perpetuar os seus convênios e dessa necessidade foram surgindo os encarregados de redigir os contratos, ainda que com diver- sidade de denominações e com limitação no exercício de suas funções. (PUGLIESE, 1989, p.24) Na Grécia antiga, existia a figura dos mnemons, que exerciam uma função simi- lar à dos escribas do Egito, que eram responsáveis por registrar e, inclusive, memo- rizar os atos, principalmente, os contratos que redigiam. Junto a eles, tínhamos a figura dos hieromnemos, que eram responsáveis pelo arquivo e guarda dos registros. A atividade de registro foi evoluindo ainda mais na Roma antiga. Naqueles tem- pos, existia a figura do manufirmatio, que se tratava de um ato solene feito em público, que conferia aos documentos autenticidade e reconhecia os compromissos neles registrados. A consumação do Ato se dava com a atitude formal de se passar a mão pelo documento, o que ocorria depois de sua leitura pelo notarius. A ideia era que todos esses Atos fossem realizados em local público, para dar valor probatório aos tratos que se firmavam. Uma questão relevante, nesse período, foi a possibilidade de o “cidadão”, dar “fé pública” a determinados Acordos, sendo que sua palavra poderia ser usada em caso de “lide”. Vale destacar a condição de uma pessoa ostentar a qualidade de “cidadão” nesse período, o que carecia de uma série de condições pessoais a serem preenchidas, sendo a primeira delas ser um homem livre. Com a expansão do território romano, absorvendo diversas culturas, além da concessão do título de “cidadão”, aos não originários de Roma, fez com que a credibilidade de “atesto” de certos Negócios jurídicos passassem a ser arriscados e inseguros no tocante à crença de boa-fé proclamada por um cidadão. Surgem, nesse momento, novas figuras para registrarem “negócios jurídicos”, como: notarii, argentarii, tabularii e os tabeliones. Os denominados notarii, embora não tivessem o desempenho de Atividade Pú- blica, eram chamados para exercer a função de tomadores de nota, por intermédio de anotações de palavras abreviadas, que poderiam ser lidas por quem conhece essa forma escrita. Outra figura que merece reconhecimento no desenvolvimento de uma atividade registral, ainda na Roma antiga, são os denominados argentarii, que intermediavam empréstimos de dinheiro para os particulares, os quais eram registrados em uma espécie de contrato de mútuo. Nesses contratos, eram empregados os nomes do cre- dor e do devedor, além das condições quanto à satisfação das obrigações assumidas. 9 UNIDADE Questões Preliminares Ainda no Estado romano, uma figura pública muito próxima em suas concep- ções atuais de registros, eram os tabularii, que exerciam atividades de Contador Público, bem como deviam promover os registros de nascimentos, gerenciavam os censos para deliberar sobre os números da população, escrituravam registros e hipotecas e realizavam, também, inventários das coisas públicas. Pode-se afirmar que as atividades dos tabularii são as antecessoras dos atuais registros civis e de imóveis. A última figura a mencionar, na Roma antiga, são os tabeliones, que eram respon- sáveis por realizar atos formais que produziam notoriedade aos Negócios jurídicos. O aperfeiçoamento das Atividades Notariais e Registrais, ao longo do tempo, foram acompanhando o desenvolvimento da própria Sociedade, e da complexidade que as relações sociais vão assumindo, o que pode ser destacado, por exemplo, no século VI, pelos imperadores bizantinos, Justiniano I e Leão VI, que deram avanço àsatividades dos tabeliones, chegando a formar uma Corporação de Tabeliães, cuja direção foi entregue a um órgão colegiado denominado primicerius. Esse órgão ficou como responsável por designar novos tabeliones. Os novatos, para serem nomeados, deveriam possuir reputação ilibada e capacidade de se pro- nunciar e de escrever os registros de sua responsabilidade. Os tabeliones ou, como hoje denominamos, Tabeliães exerciam suas atividades em local público, conforme a designação conferida pelo primicerius. Destaquemos algumas inovações tratadas nesse período, com relação às Ativi- dades Notariais e Registrais, afetas especificamente aos Tabeliães, as quais foram implantadas, principalmente, pelo imperador Justiniano I, que são: • Documentos produzidos pelos Tabeliães deveriam ser dotados de formalismos, sendo indispensável o registro da data e do local da lavratura do ato; • Os Tabeliães deveriam possuir conhecimento jurídico, pois estavam registran- do Relações Jurídicas; • O conhecimento jurídico foi ressaltado, em razão de que os Tabeliães pode- riam substituir magistrados, quando estes não se fizessem presentes em deter- minada região do império. Vejamos o que Cláudio Martins descreve a respeito das posições adotadas pelo imperador Justiniano I: As principais disposições da legislação Justiniana, no âmbito notarial, consistiram na instituição do protocolo; na valorização do pacto pela in- tervenção do notário; na obrigação quanto ao local em que o tabelião e seus auxiliares deveriam permanecer à disposição dos clientes; na dis- ciplina rigorosa a que aquele e estes ficavam submetidos no exercício da profissão, inclusive quanto a substituições e na obrigação de redigir uma minuta do ato, perante testemunhas, dela extraindo cópia imediata. (MARTINS, 1974) Fonte: http://bit.ly/2Qd4836 10 11 Em complemento e aperfeiçoando às disposições do Imperador Justiniano, o imperador Leão VI destaca a necessidade do conhecimento de questões jurídicas pelos Tabeliães, bem como que os mesmos fossem dotados de moral e conduta pro- ba, além de possuir uma boa oratória e conhecimentos que inibissem a incidência de fraudes sobrevinda da influência de terceiros. A Atividade Notarial passa a ter status de Ciência quando, no século XIII, a Uni- versidade de Bolonha, na antiga região da Gália, hoje fazendo parte da Itália, criou um Curso especial para o desempenho da atividade notarial, com grande base em Matérias Jurídicas, o que para a maioria dos doutrinadores, é o momento de ori- gem do Direito Notarial e Registral. O Direito Notarial e Registral no Brasil Ao tratar do marco inicial do Direito Notarial e Registral no Brasil, os historia- dores e doutrinadores, de modo geral, apontam como episódio inaugural as cartas de Pero Vaz Caminha, intitulado “escrivão” da expedição de Pedro Alvarez Cabral, que, partindo de Portugal, descobre o Brasil no ano de 1500. Para muitos, a “Carta de Caminha” é reconhecida como uma espécie de “Certi- dão de Nascimento” das terras brasileiras. Novas expedições portuguesas existiram, com o intuito de reconhecer a terra e verificar as suas riquezas, todas essas expedições eram também constituídas por emissários do rei de Portugal, com o objetivo de tratar, de forma detalhada, as des- crições da terra, para a garantia de sua propriedade para o reino. Com a colonização portuguesa do Brasil, as normas da metrópole eram em- pregadas na colônia, sobretudo as denominadas “Ordenações Filipinas”, as quais continham, dentre outros dispositivos, preceitos referentes às Atividades Notariais e Registrais. Essas instruções das Ordenações portuguesas, referentes à Ciência Notarial e Re- gistral, foram, por muitos anos, mesmo após a Independência, aplicadas no Brasil. Durante o período de colonização, a concessão da atividade de Tabelionato era de livre nomeação do rei de Portugal, mas, com o passar dos anos, a atividade e o título de “Tabelião” passam a ser de transmissão hereditária, inclusive, em algumas situações, permitia-se a “venda” do título. A influência do Direito português e canônico influenciaram a legislação Notarial e Registral desde o período do Brasil Colônia. Cabe fazermos uma observação sobre as qualificadoras daqueles que eram no- meados para a Atividade Notarial e Registral no Brasil, durante a Colônia e mesmo após a independência, como relata Moacyr Amaral Santos: 11 UNIDADE Questões Preliminares [...] serventuários públicos, investidos de fé pública, que têm por função precípua lavrar atos e contratos em livros de notas, conferindo-lhes auten- ticidade, chamam-se também notários, denominação de origem canôni- ca, usada por franceses e italianos. (SANTOS, 1987, p. 140) Com a Constituição de 1967, mediante as alterações promovidas de maneira clara pela Emenda Constitucional n. 22, de 29 de junho de 1982, a atividade desenvolvida pela “Serventias Extrajudiciais”, como passaram a ser denominadas as Atividades Notariais e Registrais, sofreram algumas mudanças, como a obriga- toriedade de seus serventuários, com exceção dos oriundos de período anterior a emenda n. 82, serem submetidos a Concurso Público. Atualmente, a Constituição Federal de 1988 dedica um Artigo que pode ser visto como norma constitucional regulatória das Atividades Notariais e Registrais. Trata-se do Artigo 236: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e cri- minal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. § 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. Atualmente, o Sistema Jurídico Notarial e Registral, em nível infraconstitucional, é regulado pela Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994, conhecida como “Lei dos Serviços Notarias e de Registro”. Desse modo, além da Constituição Federal, a Atividade Notarial e Registral bus- ca seus fundamentos também na Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) e no Código Civil Brasileiro. O emprego dessas normas ocorre, principalmente, quando certas questões se encontram omissas na Norma de Registros Notariais e Registrais. O desempenho da Atividade Notarial e Registral no Brasil possui caráter priva- do, estando sob a responsabilidade de Agente delegado, após aprovação em Con- curso de Natureza Pública, no qual o candidato é avaliado por intermédio de provas e títulos, na conformidade do Edital específico para o Concurso. O Concurso Público, para o exercício da atividade, está previsto no § 3º do Arti- go 236 da Constituição Federal, bem como é regulado pela Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994, mais precisamente, a partir de seu Artigo 14: 12 13 Art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes requisitos: I - habilitação em concurso público de provas e títulos; II - nacionalidade brasileira; III - capacidade civil; IV - quitação com as obrigações eleitorais e militares; V - diploma de bacharel em direito; VI - verificação de conduta condigna para o exercício da profissão. Embora o dispositivo de Lei trate, em seu Inciso V, da necessidade da qualifi- cação de ser o candidato “Bacharel em Direito”, a própria Lei abre uma exceção descrita no § 2º do Artigo 15: Art. 15. (...) § 2º Ao concurso público poderão concorrer candidatos não bacharéis em direito que tenham completado, até a data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, dez anos de exercício em serviço notarial ou de registro. Como podemos denotar, além do conhecimento jurídicopara a disputa do Con- curso, será prestigiado aquele profissional que adquiriu experiência e conhecimen- tos por um período considerável, ou seja, dez anos. Resumindo, podemos traçar as seguintes caraterísticas das Atividades Notariais e Registrais: Serviços Notariais e de Registro Fiscalização e Controle do Poder Delegante Caráter Privado Atividades delegadas pelo poder público. Ingresso na atividade depende de concurso público de provas e títulos. A responsabilidade civil e criminal dos agentes delegados depende de concurso público de provas e títulos. Lei federal estabelecerá normas gerais para �xação dos Emolumentos dos serviços notariais e de registros. Figura 2 13 UNIDADE Questões Preliminares A Natureza Jurídica das Atividades Notariais e Registrais O constituinte de 1988, ao tratar, no Artigo 236, das Atividades Notariais e Registrais no Brasil, deixou sedimentado que elas terão caráter privado e serão exercidas mediante delegação do Poder Público. Antes de mais nada, devemos conhecer um conceito do que vem a ser uma Ati- vidade Notarial e Registral no Brasil de hoje. Para tanto, podemos utilizar o que detalha a própria Lei n. 8.935/94, a respeito do desenvolvimento dessa atividade: Art. 1º Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segu- rança e eficácia dos atos jurídicos. A mesma previsão legal é encontrada no Artigo 1º da Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, conhecida como a “Lei dos Registros Públicos”. Examinemos o presente conceito, quanto às características ou aos elementos que o compõem: • Publicidade: É dar a possibilidade de transparência e conhecimento dos atos praticados. A publicidade pode decorrer do acesso às Certidões, referentes aos Atos de Notas e Registros praticados; • Autenticidade: É a condição de dar aos Atos jurídicos submetidos aos Serviços Notariais ou Registrais, a exata legitimidade, não podendo haver contestação, a princípio, dos dados neles inseridos; • Segurança ou Segurança Jurídica: Liga-se ao fato de que a nota ou registro seguiram os ditames da Lei, estando por ela considerados perfeitos, o que so- mente poderá ser alterado mediante prescrições, que se originem de uma nova Norma Legislativa; • Eficácia: Demonstra que o Ato jurídico oriundo do registro está apto a pro- duzir os efeitos jurídicos permitidos pelos preceitos legais a ele incorporados. Conhecendo o conceito do que vem a ser uma Atividade Notarial e de Registro, bem como os elementos que a cercam, agora, podemos nos ater à natureza jurídica da atividade. Com relação à natureza privada da atividade, ela decorre da imposição legal advinda do Caput do Artigo 236 de nossa Constituição: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (grifo nosso). Isto é, o desempenho da Atividade Notarial e de Registro deverá ser realizada por um particular, mediante delegação estatal. 14 15 Quanto a essa parte da natureza jurídica, podemos dizer que ela é decorrente de estrita determinação legal. A delegação desses serviços, decorre de ato formal praticado pelo Poder Públi- co, obviamente, seguindo todos os preceitos de um Ato administrativo perfeito. Em resumo, o particular por delegação recebe a responsabilidade de registrar, certificar a veracidade e a presença do respeito às Normas Jurídicas referentes aos Atos e Negócios jurídicos por eles registrados, os quais passam a integrar registros nos devidos “livros” por eles guardados. O instituto da delegação trata-se de Ato administrativo, em que, mediante dispo- sição legal, será possível transmitir a competência da prática de determinados atos a outrem. Desse modo, a Constituição Federal, ao impor, no Artigo em apreço, que a Ati- vidade Notarial e Registral será exercida por particular, mediante delegação. A Norma Constitucional demonstra duas questões: • Reconhece que a atividade é originariamente de competência do Poder Público; • Que o particular, enquanto no exercício da atividade, representa o Poder Pú- blico, podendo ser submetido a tratamento páreo em razão do exercício de sua atividade. Marçal Justem Filho assim argumenta sobre a prática da “delegação”: A natureza da competência poderá autorizar a delegação de seu exercício para outros sujeitos. Essa delegação dependerá de lei, ainda que possa ser autorizada de modo implícito. Assim se passa porque a atribuição de competência se faz por meio de lei - logo, somente a lei poderá autorizar a sua delegação. (JUSTEN FILHO, 2018, E-book, cap. 7) Na sequência, o mesmo Artigo 236 da Constituição, estabelece que a atividade de fiscalização dos atos praticados pelo particular no exercício de suas atribuições, caberá ao Poder Público, sendo esta atividade, exercida pelo Poder Judiciário. Essa atribuição do Poder Judiciário está firmada no Artigo 37 da Lei n. 8,935/94: Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, men- cionados nos artes. 6º a 13, será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal, sempre que necessário, ou mediante representação de qualquer interessado, quando da inobser- vância de obrigação legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou de seus prepostos. Além dos respectivos Tribunais de Justiça Estaduais a que estiverem vincula- das as Serventias Notariais e Registrais, cabe, também, a fiscalização e o controle destas pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, instituição integrante do Poder Judiciário, nos termos do Artigo 92 Inciso I-A de nossa Constituição: 15 UNIDADE Questões Preliminares Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: (...) I-A o Conselho Nacional de Justiça Dentre as atribuições do CNJ, descritas em nossa Constituição, cabe a ele a competência de estabelecer atos regulamentares, bem como receber reclamações e avocar o poder disciplinar das “Serventias” e de Órgãos Notariais e Registrais: Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) mem- bros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e finan- ceira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Es- tatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; (...) III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por de- legação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disci- plinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposen- tadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; Atividades Notariais e Registrais Como visto, as Atividades Notariais e Registrais, nos termos do Artigo 236 de nossa Constituição, “[...] serão exercidas em caráter privado por delegação do Po- der Público”, o que nos fez presumir, anteriormente, que estamos diante de uma ati- vidade de caráter público, delegada a um particular, ou seja, as atividades desempe- nhadas são de caráter público, podendo ser qualificadas como “Serviços Públicos”. Mas o que são Serviços Públicos? Busquemos um conceito a esse respeito nas palavras de Odete Medaur: 16 17 Em essência, serviço público significa prestações; são atividades que propiciam diretamente benefícios e bens, aos administrados, não se in- cluindo aí as de preparação de infraestrutura (arquivo, arrecadação de tributos). (MEDAUAR,2016, E-book, cap. 14) Diante dessas características, podemos afirmar que a Atividade Notarial e Regis- tral corresponde ao pleno exercício prestacional de um “Serviço Público”, estando sujeito a todas às peculiaridades referentes aos atributos, princípios e responsabili- dades dele. Confirmam esse posicionamento as palavras de José Cretella Júnior: Relembre-se que o serviço público tem esse caráter, não em si e por si, em essência – serviço público material – mas ’em razão de quem o fornece. ‘Se o Estado titulariza certo serviço – ensino, transporte, a ativi- dade é, formalmente, serviço público. Os serviços notariais e de registro cabem, por sua relevância, ao Estado, mas os Poderes Públicos, por de- legação, permitem que sejam exercidos em caráter privado. (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 4.611, v. IX) A Lei n. 8.935/94, em seu Artigo 5º, enumera como são denominados os car- gos a serem ocupados pelos particulares por delegação, para o exercício das Ativi- dades Notariais e Registrais no Brasil: Art. 5º Os titulares de serviços notariais e de registro são os: I - tabeliães de notas; II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos; III - tabeliães de protesto de títulos; IV - oficiais de registro de imóveis; V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas; VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas; VII - oficiais de registro de distribuição. Ainda nos termos da Lei n. 8.935/94, mais precisamente em seu Artigo 14, impõe a norma que, para ser possível a delegação desses serviços públicos, o par- ticular deverá preencher certos requisitos de caráter subjetivo, que são: Art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes requisitos: I - habilitação em concurso público de provas e títulos; II - nacionalidade brasileira; 17 UNIDADE Questões Preliminares III - capacidade civil; IV - quitação com as obrigações eleitorais e militares; V - diploma de bacharel em direito; VI - verificação de conduta condigna para o exercício da profissão. Com relação ao requisito disposto no inciso V, vale lembrar que poderão partici- par não Bacharéis em Direito, desde que comprovem ter exercido, pelo período de 10 anos, atividades como Preposto em Serviço Notarial ou de Registro. A indicação do particular para o exercício das Atividades Notariais e Registrais dependerá de aprovação em Concurso Público de Provas e Títulos, promovido pelo Poder Judiciário, com a participação na Banca Examinadora de um representante da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, do Ministério Público, de um notário e de um registrador. Com relação ao preenchimento de vagas nas Serventias, ela dar-se-ão na con- formidade do Artigo 16 da Lei n. 8.935/94, de maneira que dois terços das vagas serão preenchidas por aprovados no Concurso de Provas e Títulos e um terço me- diante remoção após aprovação em Concurso de Títulos. Importante destacar que a Lei prevê que nenhuma Serventia poderá ficar vaga sem a abertura de Concurso ou remoção, por período superior a seis meses. Destarte, podemos dividir as Atividades em Notariais e Registrais, aproveitando do texto citado da Lei. Podemos afirmar que as atividades “registrais” são as seguintes: • Registro Civil de Pessoas Naturais; • Registro Civil de Pessoas Jurídicas; • Registro de Títulos e Documentos; • Registro de Imóveis. Essas Atividades Registrais serão de atribuição dos seguintes titulares: • Oficiais de Registro de imóveis; • Oficiais de Registro de Títulos e documentos e civis das Pessoas Jurídica; • Oficiais de Registro Civis das Pessoas Naturais e de Interdições e Tutelas. Com relação ao desempenho das Delegações Notariais, ele será exercido me- diante o exercício das seguintes atividades: • Notas; • Protesto de títulos; • Contratos maríttimos. 18 19 Presunção de Boa-Fé dos Atos Notariais e Registrais A expressão “fé”, etimologicamente deriva da expressão romana fides, po- dendo ser interpretada como sendo o significado de fidelidade, crença, certeza de estar convicto. Segundo a carta do Apóstolo Paulo aos Hebreus, Capítulo XI, versículo 1, a fé é tida: Figura 3 Fonte: Pixabay Pode-se afirmar que na relação da fé com a “verdade”, a primeira (fé), será deter- minada pela segunda, ou seja, a verdade e fé não são circunstâncias antagônicas, sendo preceitos complementares, ao ponto de que a fé pode determinar a verdade e vice-versa. De modo diverso, ocorre na relação entre “fé” e a “presunção”. Inicialmente, po- demos até concluir, erroneamente, que tanto a fé como a presunção podem tornar como certo ou verdadeiro determinado fato, mas cabe fazermos uma diferença com relação a essa afirmativa, já que a presunção trata-se de uma probabilidade, ou seja, a possibilidade de que algo é verdadeiro; já com relação à fé, existe a plena certeza da verdade, sendo esta incontestável. Agora que encontramos um sentido para a palavra “fé”, cabe-nos avaliar o que vem a ser a chamada “fé-pública”. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” 19 UNIDADE Questões Preliminares Nas palavras de Sylvio Amaral: “Os homens organizados em sociedade sentiram, com o andamento da civilização, a indeclinável necessidade de crer na veracidade do documento até prova em contrário (...).” “Essa crença universal é que se convencionou chamar, no campo do Direito, a fé pública dos documentos, expressão de dúplice sentido, para significar, sob o prisma objetivo, a aura de legitimidade que envolve os documentos, e, debaixo do ponto de vista subjetivo, a confiança apriorística da coletividade na sua veracidade.” (AMARAL, 1989, p.18) Desse modo, podemos entender que a “fé-pública” referente aos Atos Notariais e Registrais pode ser compreendida tanto como uma convicção de autenticidade de maneira coletiva quanto pode ser encarada como uma realidade de concordância coletiva, sem contestação de sua veracidade e legitimidade, vez que os atos pratica- dos emanam de uma autoridade confiável e competente para expedi-los. Um exemplo de fé-pública pode ser visto no Artigo 215 de nosso atual Código Civil, que assim determina: Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de Tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura O Futuro da Atividade Notarial e Registral diante da “Febre da Blockchain” http://bit.ly/2QhkOq7 A Função Notarial na Realidade Jurídica Brasileira http://bit.ly/2Qi2pte Constituição Federal de 1988 http://bit.ly/2Qetyx8 A Responsabilidade Civil de Notários e Registradores sob a Égide da Lei 13.286/2016 http://bit.ly/2QciUHi 21 UNIDADE Questões Preliminares Referências AMARAL, S. Falsidade Documental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1989. ARAUJO, L. A. D.; NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de Direito Constitucional. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2005 BASTOS, C. R. Curso de Direito Constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva. 2001. BRASIL. Constituição da República Federativa do BRASIL, de 5 out. 1988. Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. BRASIL. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compi- lada.htm>. BRASIL. Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8935.htm>. CRETELLA JÚNIOR, J. Comentários à Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1993. v. IX. JUSTEN FILHO. M. Curso de Direito Administrativo. 13.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018 (E-Book). KELSEN, H. Teoria geral do direito e do Estado. 3.ed. Tradução de Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000. LINS, C. M. de A. A Atividade Notarial e de Registro. Companhia Mundial de Publicações, 2009. MARTINS, C. apud SANDER, T. A Atividade Notarial e sua Regulamentação. Disponível em <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=683>. MEDAUAR, O. Direito Administrativo. 4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tri- bunais. 2016 (E-Book). PUGLIESE, R. J. Direito Notarial Brasileiro. São Paulo: LEUD, 1989. REALE, M. Lições Preliminares de Direito. 7.ed. São Paulo: Saraiva. 1980. SANTOS, M. S. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1987 SILVA, D. P. e. Vocabulário Jurídico. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. 22 23 SILVA, J. A. da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2003. SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2013. 23 Sistema Notarial e Registral Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral • Finalidade da Atuação Notarial e Registral; • Princípios Gerais da Atividade Notarial e Registral no Brasil; • Responsabilidades do Notários e dos Registradores. • Entender quais são as fi nalidades com relação aos serviços prestados pelas Atividades Notariais e Registrais, na conformidade de nosso sistema jurídico; • Apreciar os Princípios que balizam o entendimento e a aplicação desses Serviços Públicos, tão relevantes, que contribuem como instrumento de pacifi cação social; • Verifi car quais são as responsabilidades a que estão sujeitos aos agentes delegados no desempenho das Atividades Notariais e Registrais. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Finalidade da Atuação Notarial e Registral Como vimos na aula anterior, as Atividades Notariais e Registrais no Brasil, por força do mando constitucional, são Serviços Públicos por Delegação a Particulares, mediante Concurso Público, ou seja, a Constituição Federal de 1988, estabeleceu os Preceitos Básicos, em seu Artigo 236, para o exercício e organização, dessa tão importante Atividade de Notas e Registros dos Atos ou Negócios Jurídicos. Vejamos, de modo geral, todos os preceitos constitucionais das Atividades No- tariais e Registrais: • Serviço Público exercício por Particular por Delegação; • Atividade regulada por lei; • A Lei disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, ofi- ciais de registro e de seus prepostos; • A Lei definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário; • Lei Federal estabelecerá Normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos Serviços de Registro; • O ingresso na atividade dependerá de Concurso Público de Provas e Títulos; • Não se permite que qualquer Serventia fique vaga, sem abertura de Concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. A expressão “Serventia”, empregada pela Constituição Federal, no Artigo co- mentado, é replicada nas Leis que regulam esse serviço (Lei n. 8.935/94 – “Lei dos Notários e Registradores” e Lei n. 6015/73 – “Lei dos Registros Públicos”). Podemos, nos termos da Constituição e das Leis mencionadas, entender que as Serventias se tratam de repartições, nas quais são delegadas competências do ente público para o exercício da Atividade Notarial e Registral. As Serventias exercem atividade “extrajudicial”, sendo mais conhecidas por sua denominação popular de “Cartórios”, que têm como responsável aquele que for aprovado em concurso, denominado “Tabelião” ou “Notário”, ambos dotados, na forma da Lei, de “fé-pública”. A atuação dos Tabeliães e dos Notários consiste em representar o Estado, na intervenção dos Negócios jurídicos, por intermédio de Registros. Tal fato é uma decorrência da postura do Sistema Jurídico, que elege alguns desses Negócios como aqueles que podem produzir efeitos tendentes a repercutir em interesses diversos; daí a necessidade de se tornarem públicos. Essa forma de atuação estatal interferindo nos Negócios públicos é denominada “Administração Pública dos Interesses Privados”, também conhecida como “Juris- dição Voluntária”. Embora de fato a atuação Notarial e Registral não sejam especificamente Atos relativos ao exercício da “Jurisdição Estatal”, que age quando provocada para pôr 8 9 fim aos conflitos de interesse (lide), alguns autores justificam essa denominação, em razão de uma influência histórica, relativa a uma antiga atividade desen- volvida pelos magistrados de serem responsáveis em documentar determinados Negócios Jurídicos. Por exemplo, qual a necessidade de ser feita em uma Serventia de Registro Civil das Pessoas Naturais uma “certidão de óbito”? Certidão de óbito: https://bit.ly/2kjdTgS Ex pl or O interesse jurídico desse registro, se faz pela necessidade, ante às “consequên- cias” jurídicas”, que podem advir com o óbito de uma pessoa, como, por exemplo, a abertura do direito de sucessão, direitos previdenciários, transmissão de certas obrigações ao espólio etc., ou seja, abre-se uma série de novas relações jurídicas ad- vindas da “morte” de uma pessoa natural, que repercutem no Direito e na atuação direta do Estado, sendo necessário o reconhecimento desse fato por intermédio de um Registro Público. Uma questão importante, até em virtude da quantidade de Atividades Notariais e Registrais existentes, é a possibilidade dos notários e dos registradores contrata- rem, mediante um Contrato de Trabalho regido pelas Leis Trabalhistas, prepostos denominados “Escreventes”, sendo que, entre eles, será designado um como seu substituto e os demais atuarão na condição de auxiliares. Princípios Gerais da Atividade Notarial e Registral no BrasilOs princípios mantêm íntima relação na interpretação e na aplicação de precei- tos fundamentais de várias Ciências, o que não é diferente no caso das Ciências Jurídicas, nas quais se encontra como Ramo aquela que faz parte de nosso estudo relativo ao Sistema Notarial e Registral. Antes de tratarmos, especificamente, dos Princípios que regem as Atividades Notariais e Registrais, segundo o Sistema Jurídico brasileiro, vejamos um bom con- ceito do que vem a ser um “Princípio”. Para tanto, iremos recorrer ao entendimento de Cretella Junior: [...] princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações subsequentes. Situam-se entre os valores e as normas, isto é, representam o marco inicial na esca- la de concreção do direito. Por isso, eles são munidos do mais alto grau de abstração, o que lhes confere maior campo de abrangência. (CRETELLA JÚNIOR, 2003, p. 3) 9 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Especificamente na “Ciência do Direito”, os princípios possuem três funções amplamente reconhecidas. São elas: 1. Os princípios são empregados como fornecedores de ideias fundamentais das normas positivadas em um Sistema Jurídico determinado; 2. Os princípios funcionam como orientadores, ou “bússolas”, que permitem ao intérprete dar a real compreensão da norma jurídica; Figura 1 Fonte: Getty Images 3. Os princípios podem ser empregados como “preenchedores” de lacunas jurídicas para aplicação do Direito, como mecanismo de solução de con- flitos de interesse, tendo, assim, uma função de integração da norma ao caso em concreto. Para fecharmos a compreensão do que são, de modo geral, os princípios, cabe destacar o entendimento de Miguel Realle, sobre eles: [...] Princípios são verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprova- das, mas também por motivos de ordem pratica de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis. (REALLE, 1998, p. 305-22) O desprezo ao emprego correto dos “princípios”, principalmente, na Ciência do Direito, pode provocar o uso ilegal da Norma Jurídica, fazendo com que a parte prejudicada na defesa de seu direito utilize, por exemplo, de um dos remédios cons- titucionais, como é o caso do Mandado de Segurança, previsto em nossa Constitui- ção Federal em seu Artigo 5º inciso LXIX: 10 11 LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autori- dade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; De modo que o emprego da norma desprezando o princípio jurídico que lhe apon- ta a necessária interpretação poderá configurar uma ilegalidade e eventual abuso de poder, o que permitirá ao prejudicado o emprego do “Mandado de Segurança”. Com relação aos princípios que integram o Sistema Notarial e Registral, os quais passaremos a estudar, cabem algumas observações iniciais. É sempre necessário reforçar o entendimento já descrito de que as Atividades No- tarias e Registrais são de natureza pública, exercidas por delegação por particulares. Desse modo, mesmo não sendo prestados os serviços diretamente pela Admi- nistração Pública, não se perde a natureza pública deles serviços, ou seja, estão sujeitos ao mesmo tratamento se estivessem sob o manto direto da Administra- ção Pública. Na qualidade de Serviços Públicos, a primeira questão é que as Atividades Nota- riais e Registrais devem reverenciar os “Princípios Gerais da Administração”, enu- merados no caput do Artigo 37 de nossa Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Pode- res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedece- rá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: Além desses, de caráter geral, existem Princípios específicos a serem observa- dos, tanto isoladamente, pela Atividade Notarial, como também para a Registral. Entretanto, caberá, neste nosso estudo, apreciarmos os princípios que, em razão do seu objeto, devem ser empregados em ambas atividades. Por fim, os Princípios que estudaremos são aqueles que destacamos como os que efetivamente merecem ser realçados, além de terem reconhecimento notória da Doutrina, mas nos quais, mesmo assim, ela não é unânime em relação à enu- meração precisa deles. Princípio da Publicidade Como já estudado, o fulcro da atuação Notarial e Registral é registrar Negócios Jurídicos ou Atos jurídicos que possam transcender aos interesses das partes, e repercutirem em novos Fatos jurídicos, sendo, nesse caso, a intervenção do Estado nos Negócios Públicos necessária para garantir segurança e estabilidade nas Rela- ções e no Sistema Jurídico de determinado Estado. 11 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Sendo assim, além do controle dos Atos ou dos Negócios praticados, os Serviços Públicos Notariais e Registrais tem como uma de suas funções demonstrar à cole- tividade que, por intermédio deles, estão sendo cumpridos os mandamentos legais, referentes àquele fato relevante para o Direito, permitindo, inclusive, o controle social ou coletivo dos Atos Registrados e reconhecidos pelo Poder Público, ainda que não realizados diretamente por ele. Quanto ao Princípio da Publicidade, cabe referenciar Marçal Justen Filho: O princípio da publicidade impõe que todos os atos do procedimento sejam previamente levados ao conhecimento público, que a prática de tais atos se faça na presença de qualquer interessado e que o conteúdo do procedimento possa ser conhecido por qualquer um. (JUSTEN FILHO, 2016, E-book, Cap. 6) A publicidade dos Serviços Notariais e Registrais se dá com a simples prática do ato, pois, a partir de sua consumação, torna-se ele presumível ao conhecimento de todos, como ocorre com o averbação em certa Matrícula de Imóvel de um novo proprietário ou, ainda, com o Registro Civil de um casamento, no qual o registro da “Ata de Casamento” faz presumir que há o conhecimento de todos. Com relação à publicidade dos Atos praticados sob à ótica do Sistema Normati- vo do Estado, vale esclarecer, ainda, que esse princípio decorre também da figura do Estado Democrático de Direito, na qual o detentor do poder é o “povo”, vez que a própria Constituição faz menção a essa situação no parágrafo único do Artigo 1º, que assegura que “todo o poder emana do povo”. O doutrinador Walter Ceneviva, com relação à aplicação do Princípio da Publici- dade, no desenvolvimento dos Serviços Notariais e Registrais, assim, se posiciona: [...] O vocábulo publicidade compreende realidades jurídicas diversas, tan- to no direito público quando no direito privado, podendo ser obrigatória ou facultativa (...) Publicar, enquanto serviço público, é ação de lançar, para fins de divulgação geral, ato ou fato juridicamente relevante em livro ou papel oficial, indicando o agente que neles interfira (ou agentes que interfiram), com referência o direito ou ao bem da vida mencionado (...) A publicidade legal própria da escritura notarial registrada é, em regra, passiva, estando aberta aos interessados em conhecê-la, mas obrigatória para todos, ante a oponibilidade afirmada em lei. As exceções confir- mam a regra. Assim é com a publicidade do loteamento, prevista na Lei n. 6.766/79 – Lei do Parcelamento do Solo Urbano, cujo art. 19 impõe a divulgação ativado empreendimento, para assegurar aos tercei- ros o direito de impugnarem o pedido de registro. No mesmo sentido, a incorporação condominial. (CENEVIVA, 2002, p. 24-6) A garantia ao livre acesso às informações registradas pode ser vista na Lei de Registros Públicos – Lei n. 6,015/73 que, em seus Artigos 16 e 17, assim dispõe:Art. 16. Os oficiais e os encarregados das repartições em que se façam os registros são obrigados: 12 13 1º a lavrar certidão do que lhes for requerido; 2º a fornecer às partes as informações solicitadas. Art. 17. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem infor- mar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido. Parágrafo único. O acesso ou envio de informações aos registros públi- cos, quando forem realizados por meio da rede mundial de computadores (internet) deverão ser assinados com uso de certificado digital, que aten- derá os requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP. Princípio da Boa-fé O Princípio da Boa-fé decorre, inicialmente, das palavras que a compõem, ou seja, a fé, esta, refere-se à crença da veracidade daquilo que se vê ou promete, po- dendo ter caráter subjetivo. Nela, há percepção da certeza, sem necessidade de qualquer prova, já com o emprego em conjunto da palavra “boa”, que nos impele a compreender aspectos relativos à legalidade e à conformidade do que se referenda, de estar em consonân- cia com o ordenamento jurídico. No tocante às Atividades Notariais e Registrais, vejamos um conceito do que vem a ser “boa-fé”, segundo o entendimento de João Mendes de Almeida Júnior, ao tratar dos Serviços Notariais e Registrais: A ideia de fé tem como notas características a sinceridade de quem afirma e a adesão confiante do espírito de quem recebe a afirmação. Constituído pelo Estado para assegurar e transmitir a verdade da existência de certos fatos e atos jurídicos, os órgãos da fé pública têm por função a ‘afirmativa geral’[...] Os fins da sua organização são a segurança dos direitos individu- ais e a conservação dos interesses da vida social, fins esses que lhe dão, pela identificação com certos fins do Estado, o caráter público. Como instituição de direito público, esses órgãos estão investidos da função necessária para transmitir aos cidadãos aquela sinceridade indispensável para o equilíbrio social. (ALMEIDA JUNIOR, 1963, p. 5) Em pura consonância a este entendimento, a própria Lei dos Notários e Regis- tradores (Lei nº 8.935/94), reafirma esse atributo, a quem exerce estas atividades, em seu Artigo 3º: Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são pro- fissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. Com relação ao Princípio da Boa-fé, o qual pode também ser denominado de “Fé-pública”, vejamos, em parte, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Agravo de Instrumento – AI n. 4.6785-DF, no qual foi relator o Ministro Celso de Mello, e que trata da “Fé-pública”: 13 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral PODER CERTIFICANTE DO SERVENTUÁRIO DA JUSTIÇA – FÉ-PÚBLICA A função certificante, enquanto prerrogativa institucional, constitui-se como emanação da própria autoridade estatal, destinando-se a gerar si- tuação de certeza jurídica, desde que exercida por determinados agentes a quem se outorgou, ministério legis, o privilégio da fé-pública. Fonte:http://bit.ly/2Awbvbk Princípio da Segurança Jurídica Inicialmente, podemos proclamar que os Serviços Públicos desenvolvidos nas Serventias, seja por intermédio de prestativos notariais, sejam eles registrais, vi- sam a dotar qualquer Negócio Jurídico ou Ato Jurídico, de Boa-fé e segurança às partes envolvidas. A Segurança jurídica não afeta somente a proteção das partes envolvidas em um negócio ou num ato jurídico; tem, também, por objetivo agregar aos Serviços Notariais e Registrais uma proteção mais ampla, quer a de terceiros de boa-fé, quer de toda a Sociedade. A este mister, ressaltam as palavras de João Mendes de Almeida Junior: Se a busca por segurança é comum a toda forma de vida e, portanto, também para o homem; se a sociabilidade é inerente à natureza humana; se os pactos (negócios jurídicos), em seu sentido amplo, são manifestação de sociabilidade, o notário, ao conferir certeza aos contratos, harmoniza essas duas dimensões características de todo ser humano: a sociabilidade e a segurança. (ALMEIDA JUNIOR, 1963, p. XXI) Princípio da Imparcialidade O Princípio da Imparcialidade guarda íntima relação com o Princípio da Impes- soalidade, prescrito este entre os Princípios Gerais da Administração, indicados no caput do Artigo 37 de nossa Constituição Federal de 1988. Sobre o princípio da impessoalidade, aplicado à matéria de Direito Administrati- vo, vejamos o que entende Odete Medauar: Com o princípio da impessoalidade, a Constituição visa obstaculizar atua- ções geradas por antipatias, simpatias, objetivos de vingança, represálias, nepotismo, favorecimentos diversos, muito comuns em licitações, concur- sos públicos, exercício do poder de polícia. Busca, desse modo, que pre- domine o sentido de função, isto é, a ideia de que os poderes atribuídos finalizam-se ao interesse de toda a coletividade, portanto a resultados des- conectados de razões pessoais (MEDAUAR, 2016, E-book, Cap. 7). Nesse passo, aplicando esses entendimentos sob o restrito aspecto da impar- cialidade que deve ter o representante delegado nos Serviços Públicos Notariais e 14 15 Registrais, este deve manter-se alheio, no desempenho de suas atividades, a quais- quer posturas de caráter pessoal ou atinentes a qualquer uma das partes. Sendo assim, o agente delegado deve promover um tratamento igualitário, prestando a todos os esclarecimentos sobre os Atos praticados. As normas relativas aos Serviços Notariais e Registrais apresentam preceitos que se enquadram nesse princípio, como, por exemplo, o descrito no Artigo 27 da Lei dos Notários e Registradores: Art. 27. No serviço de que é titular, o notário e o registrador não pode- rão praticar, pessoalmente, qualquer ato de seu interesse, ou de interesse de seu cônjuge ou de parentes, na linha reta, ou na colateral, consanguí- neos ou afins, até o terceiro grau. Quando tratamos da imparcialidade ou da impessoalidade, não podemos dei- xar de observar que, no desempenho de suas Atividades Notariais ou Registrais, os agentes delegados não podem se deixar influenciar, seja pelas partes, seja por terceiros interessados. A imparcialidade deve ser entendida como a não sujeição ou vinculação a quais- quer imposições, a não ser as da Lei e das Decisões Fundamentadas emanadas pelo Poder Judiciário, ou seja, devem, esses agentes, seguir os limites impostos pela legalidade de seus atos, gozando de total independência para praticá-los. Princípio da Cautela Como já vimos, a finalidade dos Serviços Notariais e Registrais no Brasil são no sentido de sedimentar e se tornarem públicas as Relações e os Atos Jurídicos. Assim, devemos reconhecer a natureza preventiva desses serviços, pois eles não podem ser fundados em qualquer nível de incertezas, que possam de alguma forma provocar qualquer prejuízo a direitos das partes envolvidas nas Atividades Notariais e Registrais ou que possam atingir terceiros e, até mesmo, a própria coletividade. Sobre esse princípio, vejamos as palavras de Leonardo Brandelli, com relação aos deveres da atividade de um Notário ou Registrador, e a importância do ato que praticam, frente à necessidade de formar prova e assegurar direitos: [...] o notário ajusta juridicamente os negócios privados, de modo que es- tes venham a se enquadrar no ordenamento jurídico vigente, prevenindo que vícios futuros sejam apontados, bem como evitando, ao máximo, a instauração de lides sobre referida questão. (BRANDELLI, 2007, p. 131) Diante de tal princípio, cabe aos Notários e aos Registradores, antes de executa- rem Atos de sua competência, adotarem todas as medidas pertinentes, para tanto. Eles devem utilizar sua prática e seu conhecimento jurídico, evitando que sejam realizados Atos que possam causar qualquer espécie de nulidades e, consequente- mente, prejuízos aos envolvidos na relação jurídica registrada. 15 UNIDADEDesenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Sem dúvida, que as Notas e os Registros fundados em Fatos e em Normas Jurí- dicas sedimentam direitos subjetivos das partes envolvidas em tais atos, o que tem por escopo, também, minimizar a busca da jurisdição para solução de eventuais conflitos de interesse, vez que os direitos ficam provados pelos documentos e pelas certificações produzidas. Assim, o Princípio da Cautela, é reconhecido por certos doutrinadores como uma atividade precatória essencial à Administração da Justiça. Princípio da Tecnicidade Sem dúvida, ao dispor no Artigo 1º da Lei nº 8935/94, sobre as Atividades Téc- nicas Notariais e Registrais, o Legislador reconhece a presteza que deve existir, no efetivo exercício dessas atividades, associando tal situação ao Princípio da Cautela. Para tanto, os Atos emanados pelos agentes delegados devem ser desempenha- dos com a devida técnica, no sentido de sedimentar a vontade das partes, ou com o propósito de criar relações jurídicas entre pessoas; o certo é que em ambas as situações, o escopo de garantir estabilidade e harmonia social: Art. 1º Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segu- rança e eficácia dos atos jurídicos (grifo nosso). Leonardo Brandelli, ao tratar da tecnicidade da Atividade Notarial, assim, reco- nhece esse princípio: A função a cargo do notário tem acentuado caráter técnico. É evidente que grande parte da atuação notarial depende de perfeição do tecnicis- mo, isto é, depende do conhecimento por parte do notário dos institutos jurídicos e dos modos de realização do direito, por meio de suas formas, fórmulas, conceitos e categorias (...) É evidente que para lograr tal intento, não bastará que o notário seja somente um conhecedor dos institutos jurí- dicos (o que deverá ser), necessitando que seja ainda um hábil manejador da arte de implementação na práxis destes institutos; precisará conhecer os meandros da materialização dos institutos jurídicos. (BRANDELLI, 2007, p. 137) Princípio Rogatório Tal princípio também é denominado, por alguns doutrinadores, Princípio da Primeira Instância. Esse princípio, no que concerne à Atividade Registral, reconhece que esta so- mente ocorre mediante provocação dos interessados, não cabendo atuação de ofí- cio por parte do Registrador. A Lei dos Registros Públicos menciona outras hipóteses, que não as de praxe, relativas à provocação das atividades desenvolvidas pelos agentes delegados. 16 17 Vejamos, então, o Artigo 13 da Lei dos Públicos (Lei nº 6015/73), quanto a tal mister: Art. 13. Salvo as anotações e as averbações obrigatórias, os atos do re- gistro serão praticados: I – por ordem judicial; II – a requerimento verbal ou escrito dos interessados; III – a requerimento do Ministério Público, quando a lei autorizar. Aquele que requer a anotação é o que detém o direito, valendo observar que o requerimento verbal não será aceito quando existir previsão legal que exija a forma escrita pública ou mesmo particular, como, por exemplo, prevê o Inciso I do Pará- grafo único do Artigo 5º do Código Civil: Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pes- soa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; Tal, posicionamento com relação ao princípio rogatório terá a mesma aplicabili- dade com os Notários, que também devem atuar quando provocados. Responsabilidades do Notários e dos Registradores Com relação ao desempenho de suas Atividades, os Notariais e os Registradores estão sujeitos à responsabilização, segundo três Ramos do Direito: • Direito Civil; • Direito Penal; • Direito Administrativo. A questão dessa sujeição está inclusive descrita tanto na Constituição Federal, quanto na própria Lei dos Serviços Notariais e Registrais. Constituição Federal: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e cri- minal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. 17 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral No tocante à Responsabilidade Civil, vejamos o que trata o Artigo 22 da Lei nº 8935/94: Art. 22 – Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direitos de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos. A doutrina e a jurisprudência, tem estabelecido que a responsabilidade civil dos notariais e dos registrais é a denominada “responsabilidade civil objetiva”, ou seja, para que haja a obrigação deles de reparar o dano, bastará ficar demonstrada a conduta (ação ou omissão), a existência do “dano” e do “nexo de causalidade”, não se faz necessária a demonstração de culpa (dolo ou culpa no sentido estrito). Já com relação aos Prepostos, aos Notariais e aos Registrais, eles poderão ingres- sar com uma ação regressiva contra eles, mas, nessa hipótese, deve ficar evidente a demonstração de culpa do preposto, pois, aqui, a responsabilidade será subjetiva. Com relação a essa responsabilidade, destacamos, que será a mesma prevista para os Agentes Públicos, de modo geral, na conformidade do § 6º do Artigo 37 da Constituição Federal: Art. 37 [...] § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado pres- tadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. O entendimento jurisprudencial consolida essa interpretação. Para tanto, deve- mos apreciar parte do relatório emanado pelo Ministro Marco Aurélio de Mello, em razão do julgamento do Recurso Extraordinário – RE 201595-SP: RESPONSABILIDADE OBJETIVA – ESTADO – RECONHECIMENTO DE FIRMA – CARTÓRIO OFICIALIZADO. Responde o Estado pelos danos causados em razão de reconhecimento de firma considerada assi- natura falsa. Em se tratando de atividade cartorária exercida à luz do arti- go 236 da Constituição Federal, a responsabilidade objetiva é do notário, no que assume posição semelhante à das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos – § 6º do artigo 37 também da Carta da República. (RE 201595-SP, Relator(a): Min. Marco Aurélio) Quanto à responsabilidade criminal dos notáriais e dos registradores, como já mencionamos, possui previsão de caráter constitucional. Vejamos, então, como se enquadra o exercício das atividades desempenhas por esses agentes delegados, com relação à responsabilidade criminal, nos termos da Lei n. 8.935/94: Art. 24. A responsabilidade criminal será individualizada, aplicando-se, no que couber, a legislação relativa aos crimes contra a administração pública. Parágrafo único. A individualização prevista no caput não exime os notá- rios e os oficiais de registro de sua responsabilidade civil. 18 19 Desse modo, os Notariais e os Registrais estarão sujeitos a serem responsabiliza- dos, pela prática de crimes, como, por exemplo, os previstos no atual Código Penal Brasileiro, descritos entre os Artigos 312 a 326, que tratam dos “crimes praticados por funcionários públicos contra a administração em geral”. Um exemplo é o tipo penal descrito no Artigo 324, do mencionado Código Penal: Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado Art. 324 – Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. No tocante à responsabilidade administrativa, esta possui previsão das condutas que se enquadram como infrações de caráter administrativo, entre os Artigos 30 e 31 da Lei n. 8.935/94: • Inobservância das prescrições legais e normativas; • Conduta atentatória às instituições notariais e de registro; • Cobrança indevida ou excessiva de emolumentos, ainda que sob a alegação de urgência; • Violação do sigilo profissional e o descumprimento de quaisquer dos deveres decorrentes da função. Com relação a essas infrações, os delegatários estarão sujeitos às seguintes penas: • Repreensão; • Multa; • Suspensão; • Perda da delegação. Em razão de a competência fiscalizatória das Atividades Notariais e Registrais ser do Poder Judiciário, o Processo Administrativo Disciplinar também se dará jun- to a esse Poder, ressaltando que a responsabilidade administrativa somente atinge a figura dos Delegatários (Notariais e Registradores) não podendo ser imputadas aos prepostos que são submetidos ao regime celetista. 19 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estado é responsável civilmente por erros cartorários http://bit.ly/2AuKW6e Serventias extrajudiciais como instrumento de pacificação social https://bit.ly/2miI7Bf Constituição Federal de 1988 http://bit.ly/2LUKnti Do princípio da publicidade notarial e registral. Aspectos doutrinários e jurisprudenciais http://bit.ly/2AquAvv 20 21 Referências ALMEIDA JUNIOR, J. M. de A. J. Órgãos da Fé Pública. 2.ed. São Paulo: Sa- raiva, 1963. AMARAL, S. do. Falsidade Documental. São Paulo: Editora Revista dos Tribu- nais, 1989. ARAUJO, L. A. D. NUNES JÚNIOR, V. S. Curso de Direito Constitucional. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2005 BASTOS, C. R. Curso de Direito Constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. BRANDELLI, L. Teoria geral do Direito Notarial. São Paulo: Saraiva, 2007. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 out. 1988. Se- nado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. ________. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. ________. Lei n. 13105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ l13105.htm>. ________. Lei n. 6015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os Registros públicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compi- lada.htm>. ________. Lei n. 8935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8935.htm>. CENEVIVA, W. Lei n. dos Notários e Registradores comentada. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 2008. ________. Lei n. dos Notários e Registradores comentada. 4.ed. São CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de Direito Administrativo. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. JUSTEN FILHO. M. Curso de Direito Administrativo. 13.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2018 (E-Book). KELSEN, H. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3.ed. Tradução de Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000. LINS, C. M. de A. A Atividade Notarial e de Registro. Companhia Mundial de Publicações, 2009. MARTINS, C. apud SANDER, T. A Atividade Notarial e sua Regulamentação. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=683>. 21 UNIDADE Desenvolvimento, Princípios e Responsabilidades da Atividade Notarial e Registral MEDAUAR, O. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016 (E-Book). Paulo: Saraiva, 2002. PUGLIESE, R. J. Direito Notarial Brasileiro. São Paulo: LEUD, 1989. REALE, M. Lições Preliminares de Direito. 24.ed. São Paulo: Saraiva. 1998. SANTOS, M. S. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1987. SILVA, De P. e. Vocabulário jurídico. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. SILVA, J. A. da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 6.ed. Malheiros: São Paulo, 2003. SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2013. 22 Sistema Notarial e Registral Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Emolumentos • Emolumentos; • Natureza Jurídica dos Emolumentos. • Entender o que são os emolumentos e sua fi nalidade como garantidores do desempenho das Atividades Notarias e Registrais; • Apreciar as características dos emolumentos, de acordo com a Constituição Federal, a Legislação, a Jurisprudência e a Doutrina; • Verifi car a real natureza jurídica atribuída aos emolumentos, bem como a inexistência de unanimidade a respeito do tema. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Emolumentos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Emolumentos Emolumentos As Serventias são os locais destinados por delegação nos quais são realizados os Serviços Notariais e Registrais. Os Agentes Delegados e seus prepostos realizam tais serviços de acordo com a forma prescrita em Lei. Quanto aos Notariais, eles firmam Atos e Negócios Jurídicos sedimentados pelas partes que os envolvem; já os Registradores promovem a inscrição ou a transcrição de atos, orientando-se pelo formalismo definido em Lei, com o fulcro de dar validade a determinado ato ou fato jurídico relevante para o direito ou dando segurança jurídica no tocante à pessoa ou às pessoas que integram tais situações de relevância jurídica. Desse modo, podemos dizer que Fatos Jurídicos relevantes são submetidos à atu- ação dos Notariais e dos Registradores, como Certidões de Nascimento, Casamen- to ou de Óbito e, ainda, a compra e a venda de imóveis ou de automóveis, sendo certo que tais serviços fornecem às partes, que de alguma forma estão envolvidas, o resguardo de seus direitos. Por exemplo, um casamento deve seguir os preceitosdescritos no atual Código Civil. Uma questão preliminar, com relação ao casamento, é que ele estabelece, propriamente dito, duas relações entre os nubentes, uma de caráter afetivo e outra de perspectiva econômica. Com relação ao caráter afetivo, trata-se de uma relação ligada a um sentimento humano, mas, no tocante às relações econômicas, elas possuem grande relevância jurídica, pois estão voltadas a questões de interesse patrimonial. A escolha de como o patrimônio dos cônjuges se comunica entre eles é um Fato Jurídico, relevante para o Direito, pois o que se decide não é somente a questão da gestão dos bens durante o casamento, mas também no findar dele, nas hipóteses de separação judicial, divórcio ou morte de um dos cônjuges. Durante o casamento, podemos adotar como exemplo, o instituto da outorga uxória ou, como outros preferem chamar, da outorga marital. Nela, alguns Atos ou Negócios Jurídicos, seguindo o impositivo legal, não po- derão ser praticados por um dos cônjuges sem a anuência do outro, como, por exemplo, o descrito no Artigo 1647 do Código Civil: Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; [...] Isto é, para alienar (vender) um bem de natureza imóvel, adquirido, por exemplo, durante a vida conjugal, será necessária a autorização de um cônjuge com relação ao outro. 8 9 Figura 1 Fonte: pixabay Tal relação econômica é estabelecida com a confirmação do enlace, pela autori- dade constituída pelo Estado para a realização do Casamento Civil, ou seja, o Juiz de Paz. Será no Registro de Casamento que ficará descrito o Regime de Bens adotados pelo casal, podendo ser: • Regime da separação parcial de bens: neste caso, comunicam-se entre os cônjuges os bens adquiridos na constância do casamento, mas não os anterio- res a ele; • Regime da comunhão universal de bens: aqui, todos os bens se comunicam, os anteriores e os adquiridos na constância do casamento; • Regime da separação total de bens: aqui, fica definido que os bens que cada um possui ou adquire mesmo na constância do casamento não se comunica ao outro. Essa relação fica reconhecida pelo Estado e por toda a Sociedade por intermé- dio de uma Certidão, que irá comprovar, quando necessário o “estado civil” das pessoas e qual o regime de bens assumido em razão do casamento. Como já exaustivamente tratado, vimos que, na conformidade do Artigo 236 de nossa Constituição Federal de 1988, os Serviços Notariais e de Registros são exercidos por particulares (concursados), sob delegação do Poder Público. Acompanha, junto com a delegação ao particular do exercício das Atividades Notariais e de Registro, a boa-fé, conferida ao Estado, que certifica a realização das atividades em estudo como cumpridoras dos exatos termos da Legislação pertinen- te ao objeto tratado: Selo de Autenticidade: http://bit.ly/2LkJqZr Ex pl or 9 UNIDADE Emolumentos O selo acima é um exemplo da natureza pública, por delegação, das Atividades Notariais e Registrais no Brasil, vez que ostenta em seu conteúdo o Tribunal que fiscaliza e acompanha as atividades desenvolvidas pelas Serventias. Notadamente, o Supremo Tribunal Federal – STF tem jurisprudência reconhe- cendo que, mesmo sendo a Atividade Notarial e Registral exercida por particular. Em razão da natureza de delegação, trata-se de um “serviço público”. Tal reconhecimento está manifesto no julgamento da Ação Direta de Inconstitu- cionalidade nº 2602/02 – MG. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO N. 055/2001 DO CORREGEDOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS. INAPLICABILIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 20/98. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EM CARÁTER PRIVADO POR DELEGAÇÃO DO PODER PÚBLICO . INAPLICABILIDADE DA APOSENTADORIA COMPULSÓRIA AOS SETENTA ANOS. INCONSTITUCIONALIDADE. [...] 2. Os serviços de registro públicos, cartorários e notoriais são exercidos em caráter privado por delegação do Poder Público – serviço público não-privativo. 3. Os notários e os registradores exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. [...] 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (STF – ADI 2002, Relator(a): Min. Joaquim Barbosa, Relator(a) p/ Acódão: Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2005). Fonte: http://bit.ly/2Ztgusc Se a atividade é de natureza jurídica de serviço público, mas desenvolvida por particular, como ele será remunerado mediante a contraprestação de seus serviços? Devemos recordar que o particular recebe a delegação mediante aprovação em Concurso Público, podendo ter prepostos que o representem (escreventes), os quais mantêm com o agente delegado uma relação firmada em Contrato de Trabalho, ocorrendo a mesma coisa no que se refere aos demais funcionários da Serventia. Além dessa relação com os funcionários, a sede, os equipamentos, ou seja, toda a estrutura da Serventia é de responsabilidade do Notarial ou Registrador que re- cebe a delegação. É evidente que os custos descritos devem ser ressarcidos ao agente delegado, a fim de garantir a efetiva continuidade dos Serviços Públicos a ele atribuídos. A Lei nº 8935/94, em seu Artigo 28, trata da contraprestação recebida pelos Notariais e Registradores como relação ao serviço prestado: Art. 28. Os notários e oficiais de registro gozam de independência no exercício de suas atribuições, têm direito à percepção dos emolumentos integrais pelos atos praticados na serventia e só perderão a delegação nas hipóteses previstas em lei. Destarte, serão os denominados “emolumentos” a forma de retribuir os Notariais e Registradores em razão do serviço público que prestam: 10 11 Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. (...) § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. Em resumo, os emolumentos podem ser entendidos como sendo o pagamento frente às despesas que o agente delegado assume, quando da prestação do serviço público do qual é competente. A Constituição, como visto, preconiza que os emolumentos terão seu regramento estabelecido por intermédio de Lei Federal específica. No tocante à Lei Federal mencionada pela Constituição trata-se, atualmente, da Lei nº 10169, de 29 de dezembro de 2000. Logo no Artigo 1º da mencionada Lei, veremos que ela delega aos Estados e ao Distrito Federal, obedecidos os termos descritos na norma em comento, os regra- mentos sobre os emolumentos: Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal fixarão o valor dos emolumentos relativos aos atos praticados pelos respectivos serviços notariais e de re- gistro, observadas as normas desta Lei. Parágrafo único. O valor fixado para os emolumentos deverá corres- ponder ao efetivo custo e à adequada e suficiente remuneração dos ser- viços prestados. Para fixação dos emolumentos, como forma remuneratória das Serventias Nota- riais e Registrais, vamos destacar os requisitos a serem observados pelos Estados e pelo Distrito Federal ao estabelecerem os valores referentes a eles: Art. 2º Para a fixação do valor dos emolumentos, a Lei dos Estados e do Distrito Federal levará em conta a natureza pública e o caráter social dos serviços notariais e de registro, atendidas ainda as seguintes regras: I – os valores dos emolumentos constarão de tabelas e serão expressos em moeda corrente do País; II – os atos comuns aos vários tipos de serviços notariais e de registro serão remunerados por emolumentos específicos, fixados para cada espécie de ato; III – os atos específicos de cada serviço serão classificados em: a) atos relativos a situações jurídicas, sem conteúdo financeiro, cujos emo- lumentos atenderão às peculiaridades socioeconômicas de
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