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1. Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida fosse neles separada das finalidades deste mundo. Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal. ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado). A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a) a) ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais. b) alienação ideológica, que justifica as ações individuais. c) cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas. d) segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos. e) enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos. 2. A linhagem dos primeiros críticos ambientais brasileiros não praticou o elogio laudatório da beleza e da grandeza do meio natural brasileiro. O meio natural foi elogiado por sua riqueza e potencial econômico, sendo sua destruição interpretada como um signo de atraso, ignorância e falta de cuidado. PADUA, J. A. Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Zahar, 2002 (adaptado). Descrevendo a posição dos críticos ambientais brasileiros dos séculos XVIII e XIX, o autor demonstra que, via de regra, eles viam o meio natural como a) ferramenta essencial para o avanço da nação. b) dádiva divina para o desenvolvimento industrial. c) paisagem privilegiada para a valorização fundiária. d) limitação topográfica para a promoção da urbanização. e) obstáculo climático para o estabelecimento da civilização. 3. Com a Lei de Terras de 1850, o acesso à terra só passou a ser possível por meio da compra com pagamento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo praticamente impedia, o acesso à terra para os trabalhadores escravos que conquistavam a liberdade. OLIVEIRA, A. U. Agricultura brasileira: transformações recentes. In: ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009. O fato legal evidenciado no texto acentuou o processo de a) reforma agrária. b) expansão mercantil. c) concentração fundiária. d) desruralização da elite. e) mecanização da produção. 4. A África Ocidental é conhecida pela dinâmica das suas mulheres comerciantes, caracterizadas pela perícia, autonomia e mobilidade. A sua presença, que fora atestada por viajantes e por missionários portugueses que visitaram a costa a partir do século XV, consta também na ampla documentação sobre a região. A literatura é rica em referências às grandes mulheres como as vendedoras ambulantes, cujo jeito para o negócio, bem como a autonomia e mobilidade, é tão típico da região. HAVIK, P. Dinâmicas e assimetrias afro-atlânticas: a agência feminina e representações em mudança na Guiné (séculos XIX e XX). In: PANTOJA. S. (Org.). Identidades, memórias e histórias em terras africanas. Brasília: LGE; Luanda: Nzila, 2006. A abordagem realizada pelo autor sobre a vida social da África Ocidental pode ser relacionada a uma característica marcante das cidades no Brasil escravista nos séculos XVIII e XIX, que se observa pela a) restrição à realização do comércio ambulante por africanos escravizados e seus descendentes. b) convivência entre homens e mulheres livres, de diversas origens, no pequeno comércio. c) presença de mulheres negras no comércio de rua de diversos produtos e alimentos. d) dissolução dos hábitos culturais trazidos do continente de origem dos escravizados. e) entrada de imigrantes portugueses nas atividades ligadas ao pequeno comércio urbano. 5. A existência em Jerusalém de um hospital voltado para o alojamento e o cuidado dos peregrinos, assim como daqueles entre eles que estavam cansados ou doentes, fortaleceu o elo entre a obra de assistência e de caridade e a Terra Santa. Ao fazer, em 1113, do Hospital de Jerusalém um estabelecimento central da ordem, Pascoal II estimulava a filiação dos hospitalários do Ocidente a ele, sobretudo daqueles que estavam ligados à peregrinação na Terra Santa ou em outro lugar. A militarização do Hospital de Jerusalém não diminuiu a vocação caritativa primitiva, mas a fortaleceu. DEMURGER, A. Os Cavaleiros de Cristo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002 (adaptado). O acontecimento descrito vincula-se ao fenômeno ocidental do (a) a) surgimento do monasticismo guerreiro, ocasionado pelas cruzadas. b) descentralização do poder eclesiástico, produzida pelo feudalismo. c) alastramento da peste bubônica, provocado pela expansão comercial. d) afirmação da fraternidade mendicante, estimulada pela reforma espiritual. e) criação das faculdades de medicina, promovida pelo renascimento urbano. 6. O encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito particular: é uma guerra – ou a Conquista –, como se dizia então. E um mistério continua: o resultado do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América eram tão superiores em número aos adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México – a mais espetacular, já que a civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré-colombiano – como explicar que Cortez, liderando centenas de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispunha de centenas de milhares de guerreiros? TODOROV. T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes. 1991 (adaptado). No contexto da conquista, conforme análise apresentada no texto, uma estratégia para superar as disparidades levantadas foi a) implantar as missões cristãs entre as comunidades submetidas. b) utilizar a superioridade física dos mercenários africanos. c) explorar as rivalidades existentes entre os povos nativos. d) introduzir vetores para a disseminação de doenças epidêmicas. e) comprar terras para o enfraquecimento das teocracias autóctones. 7. TEXTO I TEXTO II Os santos tornaram-se grandes aliados da Igreja para atrair novos devotos, pois eram obedientes a Deus e ao poder clerical. Contando e estimulando o conhecimento sobre a vida dos santos, a Igreja transmitia aos fiéis os ensinamentos que julgava corretos e que deviam ser imitados por escravos que, em geral, traziam outras crenças de suas terras de origem, muito diferentes das que preconizava a fé católica. OLIVEIRA; A. J. Negra devoção. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 20, maio 2007 (adaptado). Posteriormente ressignificados no interior de certas irmandades e no contato com outra matriz religiosa, o ícone e a prática mencionada no texto estiveram desde o século XVII relacionados a um esforço da Igreja Católica para a) reduzir o poder das confrarias. b) cristianizar a população afro-brasileira. c) espoliar recursos materiais dos cativos. d) recrutar libertos para seu corpo eclesiástico. e) atender a demanda popular por padroeiros locais. 8. Em 1935, o governo brasileiro começou a negar vistos a judeus. Posteriormente, durante o Estado Novo, uma circular secreta proibiu a concessão de vistos a “pessoas de origem semita”, inclusive turistas e negociantes, o que causou uma queda de 75% da imigração judaica ao longo daquele ano. Entretanto, mesmo com as imposições da lei, muitos judeus continuaram entrando ilegalmente no país durante a guerra e as ameaças de deportação em massa nunca foram concretizadas, apesar da extradição de alguns indivíduos por sua militância política. GRIMBERG, K. Nova línguainterior: 500 anos de história dos judeus no Brasil. In: IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000 (adaptado). Uma razão para a adoção da política de imigração mencionada no texto foi o(a) a) receio do controle sionista sobre a economia nacional. b) reserva de postos de trabalho para a mão de obra local. c) oposição do clero católico à expansão de novas religiões. d) apoio da diplomacia varguista às opiniões dos líderes árabes. e) simpatia de membros da burocracia pelo projeto totalitário alemão. 9. O regime do Apartheid adotado de 1948 a 1994 na África do Sul fundamentava-se em ações estatais de segregacionismo racial. Na imagem, fuzileiros navais fazem valer a “lei do passe” que regulamentava o(a) a) concentração fundiária, impedindo os negros de tomar posse legítima do uso da terra. b) boicote econômico, proibindo os negros de consumir produtos ingleses sem resistência armada. c) sincretismo religioso, vetando os ritos sagrados dos negros nas cerimônias oficiais do Estado. d) controle sobre a movimentação, desautorizando os negros a transitar em determinadas áreas das cidades. e) exclusão do mercado de trabalho, negando à população negra o acesso aos bens de consumo. 10. A origem da obra de arte (2002) é uma instalação seminal na obra de Marilá Dardot. Apresentada originalmente em sua primeira exposição individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, a obra constitui um convite para a interação do espectador, instigado a compor palavras e sentenças e a distribuí-las pelo campo. Cada letra tem o feitio de um vaso de cerâmica (ou será o contrário?) e, à disposição do espectador, encontram-se utensílios de plantio, terra e sementes. Para abrigar a obra e servir de ponto de partida para a criação dos textos, foi construído um pequeno galpão, evocando uma estufa ou um ateliê de jardinagem. As 1.500 letras-vaso foram produzidas pela cerâmica que funciona no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, num processo que durou vários meses e contou com a participação de dezenas de mulheres das comunidades do entorno. Plantar palavras, semear ideias é o que nos propõe o trabalho. No contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de maneira privilegiada, esta proposição se torna, de certa maneira, mais perto da possibilidade. Disponível em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado). A função da obra de arte como possibilidade de experimentação e de construção pode ser constatada no trabalho de Marilá Dardot porque a) o projeto artístico acontece ao ar livre. b) o observador da obra atua como seu criador. c) a obra integra-se ao espaço artístico e botânico. d) as letras-vaso são utilizadas para o plantio de mudas. e) as mulheres da comunidade participam na confecção das peças. Gabarito: Resposta da questão 1: [D] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] O totalitarismo e a experiência dos campos de concentração servem de mote para se perceber os efeitos perversos de uma sociedade moderna que se utiliza dos instrumentos de gestão da população e de controle dos corpos e das mentes para segregar e exterminar determinados grupos étnicos. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Os campos de concentração foram criados na Alemanha nazista para a destinação das chamadas sub-raças (judeus, ciganos e africanos, principalmente), classificação criada e difundida por Hitler. Nesse sentido, sua legitimação enquanto política de Estado nada mais é do que a legitimação da segregação humana. Resposta da questão 2: [A] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Geografia] No período colonial e imperial, a preocupação com o meio ambiente era secundária no pensamento brasileiro. Existiam preocupações com a degradação do meio natural do ponto de vista estético, com a perda de elementos da fauna e da flora, bem como críticas à falta de cuidado com o solo, que levou a graves problemas em regiões como o Vale do Paraíba (RJ/SP) durante do ciclo do café. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] Nos séculos XVIII e XIX, o pensamento político brasileiro era majoritariamente positivista. Assim sendo, o meio ambiente tinha como principal função permitir o progresso da nação. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Quando, no texto, é dito que “o meio natural foi elogiado por sua riqueza e potencial econômico” fica clara a associação entre a natureza brasileira e seu uso para o progresso econômico da Nação. Resposta da questão 3: [C] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Geografia] A alternativa [C] está correta porque a Lei de Terras surgiu como uma forma de impedir o acesso dos escravos libertos e dos imigrantes à terra, concentrado a propriedade nas mãos da elite e garantindo a mão de obra do imigrante para as fazendas de café. As alternativas incorretas são: [A] e [D], porque a Lei de Terras consolida a dificuldade de acesso à terra, portanto, não ocorre nem reforma agrária, nem desruralização da elite; [B], porque a expansão mercantil está historicamente associado à criação das colônias europeias na América; [E], porque a Lei de Terras garantia reserva de mão de obra para a cafeicultura e a mecanização da produção só ocorre a partir de meados do século XX. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] A Lei de Terras, aprovada no Brasil em 1850, determinava que as terras que não pudessem ser legalizadas mediante compra e registro deveriam ser devolvidas ao Estado brasileiro. Como a legalização era um processo caro, a referida Lei contribuiu para aumentar a concentração de terras nas mãos da elite brasileira. Resposta da questão 4: [C] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Geografia] Na África Ocidental, o papel das mulheres é destacado no comércio informal de mercadorias variadas com destaque para alimentos, roupas e artesanato. Esta característica cultural e econômica foi herdada pelo Brasil em decorrência da entrada de população negra escrava no período colonial. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] O texto retrata uma característica da cultura africana que foi trazida para o Brasil pela escravidão, e se tornou uma das maiores características escravistas brasileiras: o chamado escravismo de ganho (escravos que faziam serviços urbanos, como o comércio ambulante). O destaque do texto é que tanto na África quanto no Brasil esse trabalho era exercido de maneira significativa pelas mulheres. Resposta da questão 5: [A] As Cruzadas, guerra santa deflagrada pela Igreja Católica contra os muçulmanos pelo domínio de Jerusalém, obrigou monges de várias ordens a mesclar funções religiosas com funções militares. Dentre tais ordens podemos citar a dos Hospitalários, a dos Templários e a dos Teutônicos. Resposta da questão 6: [C] Uma das estratégias utilizadas por Hernan Cortez na conquista do Império Asteca foi instigar os povos conquistados pelos astecas e que, por isso, eram submissos a eles, a lutar contra seus dominadores, o que fortaleceu em número o exército espanhol. Resposta da questão 7: [B] Com o objetivo de impor o catolicismo aos negros africanos, a Igreja utilizou-se das imagens sacras para disseminar a religião cristã, uma vez que as imagens de santos mostravam-se fiéis e devotas a Deus e ao poder da Igreja, como descreve o texto II e mostra o texto I. Resposta da questão 8: [E] Vargas, ao dirigir a Ditadura do Estado Novo, simpatizava com os regimes totalitários então vigentes na Europa, em especial com o Nazismo. Por isso, a atitude do governo brasileiro de dificultar a entrada de judeus no Brasil. Resposta da questão 9: [D] A minoria branca que governava a África do Sul instituiu o Apartheid, um regime de segregação racial, para submeter os negros aos brancos no país.Durante a vigência de tal regime, além de não poder frequentar os mesmos lugares que os brancos, os negros eram obrigados a andar portando um passe para se deslocar pelas cidades. Resposta da questão 10: [B] Marilá Dardot, na instalação A origem da obra de arte, convida os espectadores a tornarem-se artistas. As letras-vaso ficam à disposição dos visitantes para que eles as semeiem e ordenem, formando palavras e textos, criando obras que serão observadas por outros espectadores que se tornarão artistas ao reordená-las, criando um ciclo, possivelmente infinito, que metaforiza o título da instalação. Assim, a alternativa correta é a [B], pois, para que se realize plenamente, a obra de Marilá pressupõe a atuação do observador.
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