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Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR Prematuridade Conceito O recém-nascido vivo tem menos de 37 semanas completas de gestação (<259 dias) contadas a partir do primeiro dia do último período menstrual. A datação da gravidez deve levar em conta a certeza da data da última menstruação (DUM) e sua concordância com a ultrassonografia obstétrica realizada até 12 semanas ou, pelo menos duas ultrassonografias compatíveis até 20 semanas. Classificação Pode ser classificada segundo a sua evolução clínica decorrente das seguintes situações: espontânea ou eletiva. →Na prematuridade espontânea em que ocorre trabalho de parto prematuro, a etiologia geralmente é multifatorial ou desconhecida. →Na prematuridade eletiva a gestação é interrompida em virtude de complicações maternas; Outra maneira de classificar a prematuridade considera a idade gestacional ao nascer: →Prematuridade precoce: quando o nascimento ocorre antes de 33 semanas e 6 dias; →Prematuridade extrema (20 ou 22 semanas a 27 semanas e 6 dias), que constitui o grupo de maior morbidade e mortalidade neonatal; →Prematuridade tardia: de 34 semanas a 36 semanas e 6 dias; A menos que haja alguma indicação de ordem médica, as interrupções eletivas da gestação devem ser realizadas a partir de 39 semanas. Importância Representam grave problema de saúde pública, sendo a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal. As complicações neonatais mais comuns incluem síndrome do desconforto respiratório, hemorragia intracraniana, enterocolite necrosante e sepse. A morbidade é elevada no grupo de recém-nascidos que sobrevivem e diretamente relacionada aos distúrbios respiratórios e às complicações infecciosas e neurológicas. Epidemiologia Fatores de risco Com frequência ocorre associação de fatores de riscos maternos e fetais que podem ser classificados em: epidemiológicos, obstétricos, ginecológicos, clínico-cirúrgicos, genéticos, iatrogênicos e desconhecidos; ➔ Fatores epidemiológicos →Socioeconômicos →Nutrição inadequada →Idade materna Os extremos etários podem estar relacionados à prematuridade. →Estresse físico e psicológicos O trabalho físico extenuante constitui fator de risco para a prematuridade. No estresse crônico, a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal materno e fetal aumenta a produção do hormônio liberador de corticotrofina (CRH). Por sua vez, a liberação de catecolaminas diante de situações de estresse agudo estimula os receptores alfa no útero e provoca hipercontratilidade uterina. →Tabagismo O risco de prematuridade relaciona-se diretamente com o número de cigarros consumidos durante a gestação e não com o tabagismo antes de engravidar. →Drogas ➔ Fatores obstétricos →Alterações hormonais Entre os diversos efeitos da progesterona. destacam-se: diminuição dos receptores de estrógenos, inibição da síntese de ocitocina, diminuição da formação de gap junctions, aumento da síntese de receptores beta, diminuição do cálcio livre Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR intracelular e aumento do cálcio nos depósitos (retículo sarcoplasmático). O estrógeno, por sua vez, ao contrário da progesterona aumenta a síntese de actina e miosina intracelular a produção das gap junctions e a síntese de receptores de ocitocina e da prostaglandina (prostaglandina F2-alfa). →Incompetência cervical A dilatação cervical precoce e indolor com a exteriorização das membranas no segundo trimestre da gestação, seguida por rotura destas e/ou infecção. →Sangramentos vaginais O sangramento no primeiro trimestre eleva o risco relativo de parto prematuro em duas vezes. Quando ocorre também no segundo trimestre o risco relativo eleva-se em três vezes. →Placenta prévia e descolamento prematuro de placenta →Polidrâmnio e gemelidade →Rotura prematura das membranas ovulares (RPMO) →Malformações fetais →Restrição do crescimento fetal As alterações isquêmicas da placenta seriam responsáveis pelo estresse fetal crônico, o que provocaria a liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol) e promoveria o aumento da contratilidade uterina. →Partos prematuros anteriores ➔ Fatores ginecológicos →Encurtamento do colo uterino A invasão de células inflamatórias locais (neutrófilos) induz a produção de colagenases, que provocam a lise do colágeno, principal componente do colo uterino. →Malformações uterinas Anomalias de implantação placentária na presença de um septo uterino podem ser causa de descolamento prematuro de placenta. →Miomas ➔ Fatores clínico-cirúrgicos →Infecções A ascensão de microrganismos à decídua, membranas fetais e líquido amnniótico podem desencadear o trabalho de parto prematuro. Diante do processo infeccioso e inflamatório do cório, da decídua ou da cérvix há liberação de interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8) e fator de necrose tumoral, os quais, por sua vez, atraem leucócitos e macrófagos, ativando-os a produzirem elastases e outras proteases que participam da degradação da matriz extracelular cervical. A frequência de infecções detectadas pela cultura de líquido amniótico é maior quanto menor a idade gestacional de nascimento, principalmente abaixo de 30 a 32 semanas. A associação entre infecção vaginal, corioamnionite e parto prematuro espontâneo é mais comum na presença de RPMO. →Doenças maternas As síndromes hipertensivas em suas formas graves são responsáveis por incidências elevadas de prematuridade eletiva. A redução do fluxo sanguíneo placentário decorrente de falhas na segunda onda de invasão trofoblástica, como ocorre na pré-eclâmpsia, é responsável pelo estresse fetal crônico, que por sua vez provoca a liberação de hormônios hipotalâmicos e adrenais, resultando no aumento da contratilidade uterina. →Procedimentos cirúrgicos na gravidez ➔ Fatores genéticos Possíveis polimorfismos genéticos maternos e/ou fetais podem estar envolvidos no desencadeamento da resposta inflamatória presente em determinadas situações. ➔ Fatores iatrogênicos Fisiopatologia Admite-se que existam quatro mecanismos fisiopatológicos para o parto prematuro: →ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (estresse); →Inflamação e infecção; →Sangramento decidual; →Distensão ou contratilidade uterina patológica. O estresse fetal ou materno pode desencadear a liberação de hormônios hipotalâmicos (CRH, ocitocina) e adrenais (cortisol, adrenalina). Os processos inflamatórios e infecciosos (corioamnionite cervicite) promovem a liberação de endotoxinas e citocinas inflamatórias, como o TNF- alfa e as interleucinas. Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR Prevenção e predição ➔ Prevenção Muitos dos fatores de risco relacionados à prematuridade já estão presentes antes da gravidez e, portanto, a abordagem pré-concepcional seria o ideal. Nos últimos anos, tem sido enfatizada a prevenção secundária baseada na identificação de gestantes dos grupos de maior risco para o parto prematuro (por exemplo, baixo peso pré-gestacional, história de parto prematuro anterior, colo curto, incompetência cervical, gestação gemelar, sangramentos vaginais de primeiro e segundo trimestres). A prevenção terciária por meio da tocólise também não é capaz de evitar o parto prematuro na maioria dos casos, embora o uso do corticosteroide e a antibioticoterapia profilática para o estreptococo do grupo B nessa situação possam diminuir a morbidade e a mortalidade neonatal. →Medidas preventivas diante do risco de trabalho de parto prematuro • Estágio 1 Gestantes com fatores de riscopara o parto prematuro. Em tais situações, o importante é a boa assistência pré-natal, que deve ser a mais completa possível, contando com a participação de profissionais da área de saúde relacionados aos problemas mais comuns. Ultrassonografia obstétrica e transvaginal Deve ser realizada o mais precocemente possível a fim de se estabelecer com precisão a idade gestacional e diagnosticar situações de risco, como a presença de malformações uterinas, miomas e gestação gemelar. No segundo trimestre preconiza-se a avaliação ultrassonográfica transvaginal em todas as gestantes (rastreamento universal) entre 20 e 24 semanas, por ocasião da ultrassonografia morfológica, com o intuito de analisar o comprimento do colo uterino. Outros sinais ultrassonográficos Ausência do eco glandular endocervical (EGE) e presença de sludge no líquido amniótico. O EGE é definido como uma área hiperecoica ao redor do canal cervical e pode ser visibilizado pela ultrassonografia transvaginal, principalmente no primeiro trimestre. Rotinas do pré-natal É importante que as gestantes de risco tenham conhecimento dos sintomas e sinais do trabalho de parto, como aparecimento de contrações uterinas regulares durante pelo menos 1 hora, mesmo que indolores, sensação de peso no baixo ventre e alteração no conteúdo vaginal. A antecipação eletiva do parto, geralmente decorrente de doenças maternas que levam à insuficiência placentária, deve ser praticada com critério após avaliação cuidadosa das provas de vitalidade fetal a fim de se evitar a prematuridade iatrogênica. Progesterona natural Pessário O pessário vaginal muda o ângulo do colo em relação ao corpo uterino, o que alivia a pressão do conteúdo uterino sobre o colo. Além disso, também promove o fechamento do orifício interno do colo uterino, o que impede a ascensão de bactérias em direção ao útero. Cerclagem cervical Deve ser praticada apenas nas gestantes com história clássica de incompetência cervical (antecedentes de abortamentos tardios, partos prematuros precoces, de segundo trimestre com dilatação cervical indolor) e nos casos de cervicodilatação, em que se indica a cirurgia de urgência. • Estágio 2 A contratilidade uterina é anormal, mas as alterações cervicais podem ser pequenas ou mesmo estar ausentes. O aparecimento de contrações uterinas sem repercussão cervical constitui-se no que se denomina Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR útero irritável, situação em que a gestante deverá ser mantida em repouso e submetida ao uso da progesterona e quando necessário, à sedação com benzodiazepínico (diazepan 5 mg/dia) por via oral. • Estágio 3 Neste estágio existem contrações rítmicas e eficientes para que ocorra a cervicodilatação. Os critérios utilizados para definir o verdadeiro trabalho de parto prematuro são: 1. Contrações uterinas regulares a cada 5 minutos; 2. Dilatação cervical de pelo menos 1cm; 3. Esvaecimento cervical; 4. Progressão das alterações cervicais. No falso trabalho de parto, não ocorre mudança progressiva do colo e as contrações cessam espontaneamente após um período de repouso. A gestante deverá ser hospitalizada e mantida em repouso no leito e as seguintes providências e avaliações deverão ser realizadas: 1. Vitalidade fetal: desde que haja viabilidade fetal, realiza-se a cardiotocografia fetal, também sendo monitoradas as contrações uterinas; 2. Ultrassonografia para confirmar a apresentação fetal, analisar o volume de líquido amniótico, estimar o peso fetal e a idade gestacional e pesquisar possíveis malformações fetais; 3. Exame bacterioscópico e cultura de conteúdo vaginal e anal para o estreptococo do grupo B, coleta do conteúdo endocervical para pesquisa de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoea; 4. Acesso venoso e coleta de hemograma. Coleta de urina para exame de urina tipo 1 e cultura de urina. • Uterolíticos Essas drogas são úteis para se adiar o nascimento em pelo menos 48 ou 72 horas, tempo suficiente para a utilização do corticosteroide antenatal e instituição da profilaxia da infecção neonatal pelo estreptococo do grupo B, diminuindo, assim, as complicações neonatais. Até o momento, apenas duas drogas foram desenvolvidas especialmente para inibir o trabalho de parto prematuro: a ritodrina e a atosibana. Beta-agonistas Ritodrina. Essas drogas atuam em receptores beta-1 e predominantemente beta-2, estimulando-os e determinando o relaxamento da fibra muscular uterina por diminuição do cálcio livre no interior das células. O mecanismo envolvido nesse efeito consiste na ativação da enzima adenilciclase que catalisa a conversão do trifosfato de adenosina da (ATP) em monofosfato de adenosina cíclico (AMP cíclico). Este último, por sua vez, diminui o cálcio livre intracelular. Caso as contrações não diminuam em 6 horas ou se a tocólise for necessária por mais de 24 horas, deve- se pesquisar a presença de corioamnionite ou insuficiência placentária. Alguns cuidados devem ser tomados por ocasião do uso dos beta-agonistas: 1. Realizar eletrocardiograma materno prévio; 2. Controlar com cuidado a frequência cardíaca e a pressão arterial, mantendo a frequência cardíaca materna abaixo de 120 bpm; 3. Auscultar periodicamente os pulmões e coração; 4. Monitorizar os batimentos cardíacos fetais; Sulfato de magnésio Compete com o cálcio impedindo a sua entrada pela membrana da célula miometrial. A paciente deve ser cuidadosamente monitorada em relação a diurese, frequência respiratória e reflexos patelares. Além disso, deve-se avaliar a magnesemia materna a cada 6 horas. • Inibidores de prostaglandinas lnibem a enzima prostaglandina sintetase (indometacina). Por atravessarem facilmente a placenta inibem a síntese de prostaglandinas nos tecidos fetais. Como consequências podem ocorrer enterocolite necrosante, fechamento precoce do ducto arterioso, hipertensão pulmonar primária, oligoâmnio e hemorragia intracraniana. Em virtude dessas intercorrências, a ecocardiografia fetal e a ultrassonografia devem ser realizadas com frequência a fim de se detectarem precocemente sinais de conscrição do ducto arterioso e oligoâmnio. • Bloqueadores dos canais de cálcio (nifedipina) Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR Inibem a entrada do cálcio extracelular através da membrana citoplasmática, impedem a liberação do cálcio intracelular do retículo sarcoplasmático e aumentam a saída do cálcio da célula miometrial. O efeito colateral materno mais comum é o enrubescimento facial, mas náuseas, cefaleia e hipotensão arterial também podem ocorrer. • Antagonistas de ocitocina O acetato de atosibana é um peptídeo sintético que age competindo com a ocitocina no seu receptor da célula miometrial e reduz os efeitos fisiológicos desse hormônio. • Corticoterapia O mecanismo de ação dos corticosteroides permanece ainda pouco conhecido. A principal teoria admite que atuem em receptores pulmonares fetais levando à produção de fosfatidilcolina, o principal componente do surfactante. Utiliza-se a betametasona na dose de 12 mg/dia por via intramuscular com intervalo de 24 horas, num total de duas aplicações. • Profilaxia da infecção neonatal pelo estreptococo do grupo B Recomenda-se que seja realizada a pesquisa do estreptococo do grupo B na vagina e no reto durante o terceiro trimestre entre 35 e 37 semanas. Os fatores de risco mais importantes para a infecção neonatal pelo estreptococo do grupo B são parto prematuro, RPMO pré-termo, RPMO por mais de 18 horas, história de recém-nascido anterior com infecção pela mesma bactéria e febre durante o trabalho departo. Diante da suspeita ou de diagnóstico de trabalho de parto prematuro, a menos que se disponha de cultura vaginal e retal negativa realizada nas 5 semanas anteriores a ele, a melhor maneira de se evitar a infecção neonatal é o tratamento profilático com antibiótico, utilizado em um dos seguintes esquemas: 1. Penicilina C cristalina: ataque com 5 milhões de UI por via intravenosa e 2,5 milhões de UI por via intravenosa a cada 4 horas até o nascimento; 2. Ampicilina: ataque com 2 g por via intravenosa e 1 g por via intravenosa a cada 4 horas até o nascimento; Neuroproteção O sulfato de magnésio, quando utilizado na mãe antes do parto prematuro, parece diminuir a incidência e a gravidade da paralisia cerebral. O mecanismo de ação ainda não foi esclarecido, mas admite-se que o sulfato de magnésio possua efeitos antioxidantes, reduza as citocinas pró-inflamatórias, bloqueie os canais de cálcio, estabilize membranas, aumente o fluxo sanguíneo cerebral e evite grandes flutuações da pressão sanguínea. ➔ Predição →Monitorização das contrações uterinas As gestantes predispostas ao trabalho de parto prematuro apresentam aumento da frequência das contrações uterinas nos dias ou semanas que antecedem o trabalho de parto. →Medida do comprimento do colo uterino pelo toque vaginal e pela ultrassonografia transvaginal Essas alterações resultam de modificações bioquímicas do tecido cervical, como a diminuição da quantidade de colágeno, o aumento do conteúdo de água e alteração na composição da matriz extracelular do colo uterino. →Marcadores bioquímicos Por estarem envolvidos diversos mecanismos fisiopatológicos, existem vários marcadores bioquímicos que podem ser utilizados: a IL-6, a IL-8, o CRH, o estriol sérico e salivar, a fibronectina fetal e mais recentemente, a proteína-1 fosforilada ligada ao fator de crescimento insulina-símile. A fibronectina fetal e a medida do comprimento do colo pela ultrassonografia transvaginal, quando utilizadas em população com risco de parto prematuro, apresentam valores preditivos equivalentes. Entretanto, quando os dois métodos são simultaneamente associados, o poder de predição toma-se maior. Atualmente a avaliação do comprimento do colo uterino pela ultrassonografia transvaginal e a fibronectina fetal têm sido os principais marcadores utilizados para a predição do parto prematuro. Assistência ao parto Ciclo Gravídico e Puerperal Mayra Cleres de Souza, UFR No acompanhamento do trabalho de parto prematuro espontâneo ou no parto prematuro eletivo há necessidade da presença de pelo menos dois obstetras experientes. O feto prematuro tem menor tolerância à acidose, maior frequência de apresentações anômalas e maior risco de traumas fetais, tomando os procedimentos obstétricos mais difíceis de serem realizados. O atendimento do parto diante da prematuridade, deve priorizar os seguintes objetivos: 1. Reconhecer e saber valorizar as alterações de vitalidade fetal intraparto; 2. Identificar qual a melhor via de parto para o feto em apresentação cefálica e pélvica. ➔ Avaliação da vitalidade fetal intraparto O prematuro pode não suportar as contrações e é mais vulnerável à asfixia perinatal, responsável por lesões neurológicas e de diversos órgãos, além de ser uma das principais causas de morte perinatal. ➔ Escolha da via de parto Os seguintes aspectos devem ser considerados para a escolha da via de parto: idade gestacional, peso estimado do feto, apresentação fetal, condições do colo uterino e integridade das membranas amnióticas. →Via de parto na apresentação cefálica A avaliação da bacia obstétrica é fundamental a fim de se evitar a desproporção cefalopélvica ou a moldagem excessiva do crânio. Dessa maneira, a via vaginal é a recomendada para o prematuro em apresentação cefálica, qualquer que seja o peso e a idade gestacional desde que a evolução espontânea do parto e as condições materno-fetais sejam boas. Em relação ao parto prematuro induzido, por indicação materna e/ou fetal, as condições devem ser ideais para a sua realização. Julga-se que a via abdominal é a preferencial para fetos com pesos estimados abaixo de 1.500g quando os riscos da indução passam a ser maiores do que seus possíveis benefícios. →Condução do parto pela via vaginal Período de dilatação A dilatação cervical que permite a passagem do maior diâmetro da cabeça fetal é inferior a 10 cm. Deve-se evitar o uso de analgésicos, tranquilizantes e sedativos, os quais deprimem a respiração do recém-nascido, e preferir a analgesia com anestesia combinada (raquiperidural). Período de expulsão Deve-se permitir sua evolução espontânea, evitando- se manobras de extração fetal. A episiotomia, quando realizada, deve possuir extensão suficiente para permitir o nascimento sem resistência perineal. Não se recomenda a aplicação profilática do fórcipe no prematuro principalmente quando o peso fetal estimado for inferior a 1.500g situações em que seu emprego pode ser danoso ao feto. Discute-se qual o tempo ideal para a ligadura do cordão umbilical. No prematuro, recomenda-se que deva ser realizada entre 45 e 60 segundos, mantendo-se o recém-nascido em nível inferior ao da placenta sem praticar a ordenha. Período de dequitação Habitualmente, no parto a termo se indica a extração manual quando há retenção placentária, ou seja, a partir de 30 minutos da ultimação do parto. No prematuro, embora não exista um limite definido para se aguardar, não se recomenda essa conduta, desde que não haja hemorragia. Devem-se estimular as contrações uterinas e, caso o obstetra decida pela extração manual, deve ter-se em mente que pode ser difícil e resultar em hemorragia. Via de parto na apresentação pélvica A via vaginal na apresentação pélvica traz maior risco de complicações perinatais do que na apresentação cefálica. As tentativas de parto vaginal na apresentação pélvica estão mais associadas a riscos de traumatismos fetais e prolapso de cordão do que na apresentação cefálica. Atualmente, a maioria dos obstetras realiza sistematicamente a cesárea nos prematuros em apresentação pélvica. →Operação cesariana no prematuro Em situações em que inadvertidamente tenha-se praticado a incisão segmentar transversa e ocorram dificuldades para a extração fetal, deve-se recorrer a uma incisão complementar longitudinal que se assemelha à letra T invertida. As manobras obstétricas devem ser cuidadosas, lentas e delicadas de preferência com o nascituro empelicado. Referências Zugaib, Obstetrícia; 3º edição, 2016, capítulo 36.
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