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sífilis congênita

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Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR 
SÍFILIS 
DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA E 
ETIOLOGIA 
A sífilis é uma IST de caráter sistêmico, curável e 
exclusiva do ser humano. É causada pelo Treponema 
pallidum, uma bactéria Gram-negativa do grupo das 
espiroquetas, descoberta em 1905. 
A sífilis congênita (SC) é o resultado da transmissão 
da espiroqueta do Treponema pallidum da corrente 
sanguínea da gestante infectada para o concepto por 
via transplacentária ou, ocasionalmente, por contato 
direto com a lesão no momento do parto (transmissão 
vertical). A transmissão vertical é passível de 
ocorrer em qualquer fase gestacional ou estágio da 
doença materna e pode resultar em aborto, 
natimorto, prematuridade ou um amplo espectro de 
manifestações clínicas; apenas os casos muito graves 
são clinicamente aparentes ao nascimento. 
A OMS estima que a ocorrência de sífilis complique 
um milhão de gestações por ano em todo o mundo, 
levando a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais 
e colocando em risco de morte prematura mais de 
200 mil crianças. No Brasil, nos últimos cinco anos, 
foi observado um aumento constante no número de 
casos de sífilis em gestantes, sífilis congênita e 
sífilis adquirida. Esse aumento pode ser atribuído, em 
parte, à elevação nos números de testagem, 
decorrente da disseminação dos testes rápidos, mas 
também à diminuição do uso de preservativos, à 
redução na administração da penicilina na Atenção 
Básica e ao desabastecimento mundial de penicilina, 
entre outros. 
Entre mulheres com sífilis precoce não tratada, 40% 
das gestações resultam em aborto espontâneo. A 
infecção congênita tem sido diagnosticada em apenas 
1% a 2% das mulheres tratadas adequadamente 
durante a gestação, em comparação com 70% a 100% 
das gestantes não tratadas. Estima-se que, na 
ausência de tratamento eficaz, 11% das gestações 
resultarão em morte fetal a termo e 13%, em partos 
prematuros ou baixo peso ao nascer, além de pelo 
menos 20% de recém-nascidos que apresentarão 
sinais sugestivos de SC. 
Os profissionais de saúde devem estar aptos a 
ridentificar as manifestações clínicas e classificar os 
estágios da sífilis, assim como a interpretar os 
resultados dos testes que desempenham função 
importante no controle do agravo, permitindo a 
definição do diagnóstico e o monitoramento da 
resposta terapêutica. A prevenção, o diagnóstico e o 
tratamento de gestantes e parcerias sexuais com 
sífilis devem ser priorizados, principalmente, na 
Atenção Básica. 
FATORES DE RISCO 
O principal fator responsável pela elevada incidência 
da sífilis congênita em todo o mundo é a assistência 
pré-natal inadequada. Outros estudos também 
associam a doença a pobreza, infecção pelo HIV, 
abuso de drogas e subutilização do sistema de saúde. 
Os fatores de risco individuais incluem gestantes 
adolescentes, raça/cor não branca, baixa 
escolaridade, história de infecções sexualmente 
transmissíveis (IST), história de sífilis em gestações 
anteriores, múltiplos parceiros e baixa renda. 
Em relação aos antecedentes obstétricos, a maioria 
das gestantes (77,8%) tinha história de gestações 
anteriores, 72,2% contavam um ou mais filhos vivos, 
média de dois filhos por gestante, quase um terço 
delas tinha história anterior de sífilis e 31,7% 
referiam resultados adversos (aborto ou natimorto) 
de gestações anteriores. Mais da metade das 
gestantes acompanhadas (51,6%) iniciou o pré-natal 
após o primeiro trimestre; e 65,2% realizaram 6 ou 
Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR 
mais consultas, média de 7,1 consultas. Entre as 
mulheres que iniciaram o pré-natal tardiamente 
(segundo ou terceiro trimestre da gestação), 48,6% 
realizaram menos de 6 consultas e, para 63,8% das 
gestantes, a primeira consulta foi realizada por 
profissional enfermeiro. 
FORMAS DE TRANSMISSÃO E AGENTE 
CAUSAL 
A sífilis é transmitida predominantemente por via 
sexual e vertical. O risco dessa IST está 
diretamente relacionado à presença de lesões 
sifilíticas mucocutâneas, mais comuns no primeiro ano 
de infecção (fases primária e secundária). 
A transmissão vertical acontece mais 
frequentemente intraútero, embora também possa 
ocorrer durante a passagem do feto pelo canal do 
parto, se houver a presença de lesão ativa. A 
probabilidade da ocorrência de sífilis congênita é 
influenciada pelo estágio da sífilis na mãe e pela 
duração da exposição fetal. Dessa forma, a 
transmissão é maior (em torno de 70% a 100%) 
quando a gestante apresenta sífilis primária ou 
secundária. A sífilis congênita é passível de 
prevenção quando a gestante infectada por sífilis é 
tratada adequadamente. A sífilis na gestação pode 
implicar consequências como aborto, natimorto, parto 
prematuro, morte neonatal e manifestações 
congênitas precoces ou tardias. 
Não existe vacina contra sífilis e a infecção prévia 
não confere imunidade protetora. Portanto, a pessoa 
pode se reinfectar a cada vez que for exposta, o que 
justifica o rastreio mais frequente durante a 
gestação. 
O Treponema pallidum pertence à ordem 
Spirochaetales, família Spirochaetaceae e ao gênero 
Treponema. O gênero Treponema inclui duas espécies 
e três subespécies que são patógenos humanos 
agrupados por apresentarem DNA homólogo: 
Treponema carateum, causador da pinta; Treponema 
pallidum subsp. pallidum, causador da sífilis venérea; 
Treponema pallidum subsp. pertenue, causador da 
bouba; Treponema pallidum subsp. endemicum, 
causador da sífilis endêmica ou bejel. Estas espécies 
que têm o homem como hospedeiro, embora 
morfologicamente indistinguíveis, apresentam 
características clínicas e genéticas que permitem 
diferenciá-las. 
O T. pallidum é uma espiroqueta que possui filamento 
em espiral enrolado sobre o próprio eixo, com 6 a 14 
espirais regulares e iguais, medindo cerca de 0,10 a 
0,18 µm em diâmetro e 6 a 20 m de comprimento. 
Possui membrana citoplasmática, membrana externa, 
uma fina camada de peptideoglicano e um movimento 
característico repetitivo e ondulante, motilidade em 
saca-rolhas, devido à 
presença de um endoflagelo 
ou flagelo periplasmático, 
localizado entre a 
membrana citoplasmática e 
a externa. 
O genoma do T. pallidum não revela fatores de 
virulência clássicos que poderiam esclarecer sinais e 
sintomas da sífilis. Assim, estudos têm indicado que 
esta bactéria carece de lipopolissacarídeos (LPS), 
uma endotoxina encontrada na membrana externa de 
inúmeras bactérias Gram-negativas, estrutura 
responsável por febre e inflamação. 
O processo inflamatório e a resposta imunológica 
adaptativa induzida pelo T. pallidum são os prováveis 
responsáveis pelas manifestações clínicas deletérias 
observadas na sífilis, pois não foram relatados genes 
de virulência envolvidos com as manifestações 
clínicas desta infecção. 
A placenta é o ponto central na transmissão do T. 
pallidum ao feto. Durante a gestação o 
microorganismo pode ser transmitido através da 
microcirculação placentária. 
A tolerância imunológica materna ao feto, protege o 
mesmo de ser expulso, e consequentemente uma 
resposta humoral montada contra o T. pallidum não é 
eficiente em eliminá-lo da interface materno-fetal. 
SÍFILIS CONGÊNITA PRECOCE E TARDIA 
A sífilis congênita precoce pode surgir até o segundo 
ano de vida. Já a sífilis congênita tardia é definida 
como aquela em que os sinais e sintomas surgem após 
os dois anos de idade da criança. A SC precoce deve 
ser diagnosticada por meio de criteriosa avaliação 
clínica e epidemiológica da situação materna, 
associada à avaliação clínico-laboratorial e exames de 
imagem na criança. As crianças com sífilis congênita 
deverão ser investigadas ainda na maternidade 
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quanto às manifestações clínicas, exames 
complementares e resultado do teste não 
treponêmico. 
Quando a mãe não foi tratada ou foi tratada de 
forma não adequada durante o pré-natal, as crianças 
são classificadas como caso de sífilis congênita, 
independentemente dos resultados da avaliação 
clínica ou de exames complementares. 
Independentemente do histórico de tratamento 
materno, as crianças com resultado de teste não 
treponêmico maior que o da mãe em pelo menos duas 
diluições (ex.: mãe 1:4 e RN ≥1:16) são consideradas 
caso de sífilis congênita, devendo ser notificadas, 
investigadas, tratadas e acompanhadas quanto a 
aspectos clínicos e laboratoriais. As crianças com 
manifestação clínica, alteração liquórica ou 
radiológica de sífilis congênita E teste não 
treponêmico reagente preenchem critério para sífilis 
congênita, independentemente do histórico materno 
quanto ao tratamento e das titulações dos testes não 
treponêmicos. 
EXAME FÍSICO DA CRIANÇA COM SÍFILIS 
CONGÊNITA 
Nas crianças com sífilis congênita, aproximadamente 
60% a 90% dos RN vivos são assintomáticos ao 
nascimento; apenas os casos mais graves nascem com 
sinais/sintomas. As manifestações clínicas das 
crianças com sífilis congênita raramente surgem após 
três a quatro meses; dois terços desenvolvem 
sintomas em três a oito semanas. 
 A presença de sinais e sintomas ao nascimento 
depende do momento da 
infecção intrauterina e 
do tratamento durante a 
gestação. São sinais 
mais frequentes: 
 Hepatomegalia; 
 Icterícia; 
 Corrimento 
nasal (rinite 
sifilítica); 
 Rash cutâneo; 
 Linfadenopatia 
generalizada; 
 Anormalidades 
esqueléticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR 
As manifestações clínicas da sífilis congênita tardia 
estão relacionadas à inflamação cicatricial ou 
persistente da infecção precoce e se caracterizam 
pela presença de formação das gomas sifilíticas em 
diversos tecidos. Surgem em aproximadamente 40% 
das crianças nascidas de mulheres não tratadas para 
sífilis durante a gestação. Algumas manifestações 
podem ser prevenidas por meio do tratamento 
materno durante a 
gestação ou do 
tratamento da criança 
nos primeiros três 
meses de vida. Porém, 
outras manifestações, 
como a ceratite e a 
deformidade tibial, 
chamada tíbia em 
sabre, podem ocorrer e 
progredir, a despeito 
de terapêutica 
apropriada. 
A infecção do sistema nervoso central pelo T. 
pallidum, ou neurossífilis, pode ser sintomática ou 
assintomática nas crianças com sífilis congênita. A 
neurossífilis é de ocorrência mais provável em 
crianças que nascem sintomáticas do que nas 
assintomáticas; portanto, o benefício do teste deve 
ser considerado, especialmente em razão da 
necessidade de internação para administração de 
benzilpenicilina potássica/cristalina. 
Acredita-se que a neurossífilis ocorra em 60% das 
crianças com sífilis congênita, com base na presença 
de alterações no líquor, como reatividade no VDRL, 
pleocitose e aumento na proteinorraquia. No entanto, 
nenhum desses achados apresentam suficiente 
sensibilidade e especificidade. Além disso, a 
reatividade do VDRL no líquor do recém-nascido pode 
representar falso reagente relacionado a anticorpos 
maternos circulando no SNC do neonato, ou 
contaminação com sangue periférico por acidente de 
punção; podem existir, ainda, falso-negativos (recém-
nascidos com VDRL não reagente em um primeiro 
momento) que posteriormente desenvolvem sinais de 
neurossífilis. 
TRATAMENTO NA GESTAÇÃO E 
FLUXOGRAMA 
A testagem para sífilis está preconizada na gestação 
na 1ª consulta de pré-natal, idealmente no 1º 
trimestre, no início do 3º trimestre (a partir da 28ª 
semana), no momento do parto ou em caso de aborto, 
exposição de risco e violência sexual. Em todos os 
casos de gestantes, o tratamento deve ser iniciado 
com apenas um teste reagente, treponênico ou não 
treponêmico, sem aguardar o resultado do segundo 
teste. 
A penicilina benzatina é a 
única opção segura e eficaz 
para tratamento adequado 
das gestantes. Embora 
outros antibióticos (como as 
tetraciclinas orais e os 
macrolídeos) tenham sido 
utilizados para tratamento 
de sífilis em adultos, estes 
não são recomendados no 
período da gestação por 
causa da toxicidade ao feto, 
Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR 
ou por não atravessarem a barreira placentária. Há 
ainda relato de resistência do Treponema pallidum 
aos macrolídeos. 
Não existem estudos controlados em gestantes que 
tenham determinado a eficácia da ceftriaxona no 
tratamento do feto, e por isso esta não é uma 
medicação recomendada para o tratamento de sífilis 
na gravidez. Segundo protocolo da OMS, para 
gestante com sífilis latente recente, em situações 
especiais como o desabastecimento, pode-se utilizar 
ceftriaxona 1g, via 
intramuscular, por dez a 14 
dias. Mas será necessário 
notificar/investigar e 
tratar a criança para sífilis 
congênita. Para os casos de 
sífilis tardia ou de duração 
desconhecida, não existem 
outras opções terapêuticas 
na literatura. 
PROPEDÊUTICA E TERAPÊUTICA NA 
PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA SÍFILIS 
CONGÊNITA 
O medicamento para tratamento de crianças com 
sífilis congênita é a benzilpenicilina 
(potássica/cristalina, procaína ou benzatina), a 
depender do tratamento materno durante a gestação 
e/ou titulação de teste não treponêmico da criança 
comparado ao materno e/ou exames 
clínicos/laboratoriais da criança. 
Para as crianças com sífilis congênita que apresentem 
neurossífilis, a cristalina é o medicamento de escolha, 
sendo obrigatória a internação hospitalar. Na 
ausência de neurossífilis, a criança com sífilis 
congênita pode ser tratada com 
benzilpenicilina procaína fora da unidade 
hospitalar, por via intramuscular, ou com 
benzilpenicilina potássica/ cristalina, por via 
endovenosa, internada. A benzilpenicilina 
benzatina é uma opção terapêutica, mas 
restrita às crianças cuja mãe não foi tratada 
ou foi tratada de forma não adequada, e que 
apresentem exame físico normal, exames 
complementares normais e teste não 
treponêmico não reagente ao nascimento. 
A única situação em que não é necessário 
tratamento é a da criança exposta à sífilis 
(aquela nascida assintomática, cuja mãe foi 
adequadamente tratada e cujo teste não 
treponêmico é não reagente ou reagente com 
titulação menor, igual ou até uma diluição maior que o 
materno). 
O tratamento apropriado de sífilis congênita dentro 
dos primeiros três meses de vida é capaz de prevenir 
algumas manifestações clínicas (não todas). A 
ceratite intersticial e as deformidades ósseas, como 
a tíbia em “lâmina de sabre”, 
podem ocorrer ou progredir 
mesmo com terapia 
adequada. 
TRATAMENTO COM 
BENZILPENICILINA 
BENZATINA EM DOSE 
ÚNICA 
Para crianças 
assintomáticas, ou seja, com exame físico normal, 
sem alterações liquóricas, com radiografias de ossos 
longos normais e sem outras alterações viscerais, 
com teste não treponêmico não reagente, o 
tratamento com benzilpenicilina benzatina em dose 
única é eficaz para prevenção de evidência clínica de 
sífilis congênita e queda de titulação de teste não 
treponêmico. 
TRATAMENTO COM BENZILPENICILINA 
POR 10 DIAS 
Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR 
TRATAMENTO DA SÍFILIS CONGÊNITA 
NO PERÍODO PÓS-NATAL 
Crianças diagnosticadas com sífilis congênita após um 
mês de idade e aquelas com sífilis adquirida deverão 
ser tratadas com benzilpenicilina 
potássica/cristalina. 
RECÉM-NASCIDO EXPOSTO A SÍFILIS 
A avaliação inicial da criança exposta à sífilis ou com 
sífilis congênita é realizada especialmente na 
maternidade/casade parto, considerando os 
seguintes aspectos: 
 Histórico materno de sífilis quanto ao 
tratamento e seguimento na gestação; 
 Sinais e sintomas clínicos da criança (na 
maioria das vezes ausentes ou inespecíficos); 
 Teste não treponêmico periférico da criança 
comparado com o da mãe. 
Não existe uma avaliação complementar que 
determine com precisão o diagnóstico da infecção na 
criança. Assim, esse diagnóstico exige uma 
combinação de avaliação clínica, epidemiológica e 
laboratorial. 
É essencial garantir o seguimento de todas as 
crianças expostas à 
sífilis, excluída ou 
confirmada a doença 
em uma avaliação 
inicial, na 
perspectiva de que 
elas podem 
desenvolver sinais e 
sintomas mais 
tardios, 
independentemente 
da primeira avaliação 
e/ ou tratamento na 
maternidade. 
O referenciamento da criança exposta no momento 
da alta compete à maternidade ou casa de parto. 
Além disso, a equipe da Atenção Básica coordenadora 
do cuidado e ordenadora das ações e serviços 
disponibilizados na rede para essas crianças. 
EXAME FÍSICO DA CRIANÇA EXPOSTA A 
SÍFILIS 
Na criança exposta à sífilis, para exclusão da 
possibilidade de sífilis congênita, o exame físico deve 
ser completamente normal; o achado de qualquer sinal 
ou sintoma deve levar à investigação complementar, e 
a sífilis congênita será incluída no diagnóstico 
diferencial. 
Deve haver atenção específica aos sinais e sintomas 
mais clássicos, referentes às manifestações 
precoces de sífilis congênita. A presença de sinais e 
sintomas incluem a criança na classificação de SC 
sintomática, com necessidade de notificação 
compulsória e tratamento imediato. 
TESTAGEM PARA A SÍFILIS NA CRIANÇA 
EXPOSTA A SÍFILIS 
Todos os RN nascidos de mãe com diagnóstico de 
sífilis durante a gestação, independentemente do 
histórico de tratamento materno, deverão realizar 
teste não treponêmico periférico. O sangue de 
cordão umbilical não deve ser utilizado, pois esse tipo 
de amostra contém uma mistura do sangue da criança 
com o materno e pode resultar em testes falso-
reagentes. 
A testagem simultânea da mãe e da criança, no pós-
parto imediato, com o mesmo tipo de teste não 
treponêmico, 
configura o melhor 
cenário para a 
determinação do 
significado dos 
achados sorológicos 
da criança. 
No teste não 
treponêmico, um 
título maior que o 
materno em pelo 
menos duas diluições 
(ex.: materno 1:4, RN 
maior ou igual a 1:16) 
é indicativo de 
infecção congênita. No entanto, a ausência desse 
achado não exclui a possibilidade do diagnóstico de 
SC. Alguns estudos demonstraram que menos de 30% 
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das crianças com sífilis congênita têm resultado 
pareado do teste não treponêmico maior que o 
materno; portanto, é fundamental a realização do 
seguimento de todas as crianças. 
SEGUIMENTO CLÍNICO-LABORATORIAL 
DA CRIANÇA EXPOSTA A SÍFILIS 
É esperado que os testes não treponêmicos das 
crianças declinem aos três meses de idade, devendo 
ser não reagentes aos seis meses nos casos em que a 
criança não tiver sido infectada ou que tenha sido 
adequadamente tratada. A resposta pode ser mais 
lenta em crianças tratadas após um mês de idade. 
Idealmente, o exame deve ser feito pelo mesmo 
método e no mesmo laboratório. 
A falha no tratamento em prevenir a ocorrência de 
SC é indicada por: 
 Persistência da titulação reagente do teste 
não treponêmico após seis meses de idade; 
 E/ou aumento nos títulos não treponêmicos 
em duas diluições ao longo do seguimento 
(ex.: 1:2 ao nascimento e 1:8 após). 
O seguimento pode ser feito na puericultura, na 
Atenção Básica, durante as consultas de rotina, 
conforme orientação da Saúde da Criança, com 
atenção mais cuidadosa no monitoramento de sinais e 
sintomas sugestivos de sífilis congênita, além do 
monitoramento laboratorial em 1, 3, 6, 12 e 18 meses 
de idade. A partir dessa idade, se não houver achados 
clínicos e laboratoriais, exclui-se sífilis 
congênita. 
MANEJO DA CRIANÇA EXPOSTA A 
SÍFILIS E DA CRIANÇA COM 
SÍFILIS CONGÊNITA 
As crianças nascidas de mãe com cicatriz 
sorológica para sífilis antes da gestação 
não necessitam de avaliação ou tratamento 
na maternidade. No entanto, a testagem 
para sífilis deve ocorrer, conforme rotina 
preconizada no pré-natal (1º e 3º 
trimestres de gestação), idealmente por 
meio de testes não treponêmicos. 
REFERÊNCIAS 
 Protocolo Clínico e Diretrizes 
Terapêuticas para a Prevenção da 
transmissão vertical de HIV, Sífilis e 
Hepatites Virais. Ministério da Saúde 
(MS), Brasília, DF, 2019. 
 Sífilis na gestação e fatores 
associados à sífilis congênita em Belo 
Horizonte-MG, 2010-2013. Nonato. S.; 
A.; et al.; publicado na revista de 
epidemiologia e serviços de saúde, 
Brasília, 2015. 
 Aspectos Imunopatogênicos da Sífilis 
Materno-Fetal: Revisão de Literatura. 
Casal, C.; A.; D.; et al; Universidade 
Federal do Pará (UFP), 2012. 
 Atenção a Saúde do Recém-Nascido, 
Guia para os Profissionais em Saúde, 
Intervenções Comuns, Icterícia e 
Infecções. Capítulo 16, volume 2, Brasília 
(DF), 2014. 
 Tratado de Pediatria, Sociedade 
Brasileira de Pediatria (SBP), seção 14, 
capítulo 13, 4 edição 2017. 
 Princípios de Farmacologia, A Base 
Fisiopatológica da Farmacologia, Golan, 3 
edição, 2013. 
 
 
 
 
Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR

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