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Resenha A CEPAL e a substituição de importações - Capítulo do livro "Teoria da Dependência: balanços e perspectivas" - Theotônio Dos Santos

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DOS SANTOS, Theotonio. A CEPAL e a substituição de importações. In: ______. Teoria da Dependência: Balanços e perspectivas. Florianópolis: Editora Insular, 2015. p. 71-76.
Wendell da Costa Magalhães[footnoteRef:2]* [2: 	Graduando do Curso de Economia da Universidade Federal do Pará] 
Em 1948, temos a criação da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina das Nações Unidas. Liderada por Raúl Prebisch, emanada dos governos latino-americanos, propunha políticas e assessoria a governos com o intuito de viabilizar o processo de industrialização, procurando alcançar o desenvolvimento de suas nações. Contudo, de caráter reformista, não era objetivo da CEPAL ameaçar as estruturas de poder vigentes. Muito pelo contrário, Dos Santos demonstra que a CEPAL promove uma conciliação entre estas estruturas, como a rural latifundiária e a industrial burguesa, ao propor a captação dos excedentes daquela por parte desta via intervenção estatal por meio de subsídios, incentivos, mecanismos cambiais e inflacionais.
Tal política econômica passaria a vigorar para se atingir a industrialização e, consequentemente, o desenvolvimento por meio do processo de substituição das importações. Este se deu, primeiramente, por circunstâncias históricas especiais que, para Theotônio que corrobora André Gunder Frank o citando, acompanham as crises globais do capitalismo mundial. Na grande depressão de 1929, portanto, temos o primeiro grande exemplo dessa oportunidade histórica do processo de substituição de importações que se dá como consequência natural do cenário econômico armado, pois a partir da limitação do comércio mundial, a região latino-americana reduz drasticamente suas importações, lhes restando produzir dentro o que antes comprava fora.
No caso particular brasileiro, Dos Santos lembra Celso Furtado quando este demonstrou que a política de financiamento dos estoques de café conseguiu manter a renda média do país durante a crise de 1929 e, consequentemente, a renda interna do país, evidenciando a crucial importância que tal política foi para o processo de substituição de importações, ainda que não intencionalmente. Assim também serviu a Primeira e Segunda Guerra Mundial que, por meio de seus efeitos econômicos próprios, limitaram as importações, mas impulsionando as exportações da região concomitantemente. 
Objeções como as que citam as crises dos anos 30, 40, 60, 80 e 90 do século XIX como incapazes de produzir o fenômeno da substituição de importações na região latino-americana, são justificadas por Theotônio pela falta de desenvolvimento manufatureiro da região[footnoteRef:3]. Em contrapartida, pode-se considerar que as expansões econômicas mundiais das décadas de 1850 e 1860 e no período que vai de 1895 a 1914, serviram para inserir os países de nossa região na divisão internacional do trabalho como grandes fornecedores de matérias-primas e produtos agrícolas, preparando o terreno, portanto, do que viria ao mais tardar. [3: 	 Como bem fala Bambirra (2013), os fenômenos mencionados, por si só, não poderiam produzir a industrialização por substituição de importações, dado que esta requer a prévia formação de um mercado interno que, no caso da América Latina, foi produzido pelos setores exportadores e geração de setores complementares que lhes são correlatos.] 
Depois do processo de substituição das importações se dá como consequência própria dos fatos históricos, a CEPAL, já na década de 1950, se pôs a estudá-lo e teorizá-lo com o fim último de promover a industrialização e o desenvolvimento da América-Latina. Se ancorando no desempenho das exportações, a receita para isso é aplicada por meio de mecanismo cambial, que retira dos exportadores suas divisas obtidas com sua atividade, pagando-lhes em moeda nacional, o que os obrigava a fortalecer o mercado interno comprando e investindo no mesmo. Tal ação inviabiliza a possibilidade de uma revolução burguesa, já que coloca em dependência e aliança a burguesia industrial e o setor latifundiário.
Outro mecanismo fruto do pensamento cepalino utilizado nesse processo foi a inflação, permitindo uma política de preços relativos favorável ao setor industrial. E ainda, a interferência direta do estado se deu via subsídio à produção exportadora, protegendo os produtos agrícolas de consumo popular, angariando apoio das camadas urbanas mais pobres.
Por fim, cabe mencionar que a capitulação da burguesia industrial não se restringiu aos setores latifundiários e exportadores, mas também se deu perante o capital internacional. Por mais que a burguesia da região quisesse se fazer protagonista do desenvolvimento, a mesma não detinha o poder econômico, tecnológico e financeiro suficiente para isso. Os setores exportadores todos dependiam do comportamento do capital internacional. A produção de manufaturados dependia da importação de tecnologia desse mesmo capital etc. O que se fez diante disso foi se apoiar no estado para conseguir garantias políticas como as obtidas face ao setor exportador. Mesmo assim, a instalação do capital internacional em nossa região não transferia significativos recursos para cá em termos de estrutura necessária para a produção. Isso ficou a cargo da poupança interna dos países latinos garantirem.
O pensamento da CEPAL, portanto, busca fazer política econômica aproveitando o que o capital internacional tem a oferecer em termos de tecnologia e estrutura produtiva, através de políticas de estado que beneficiem a burguesia industrial e se voltem contrária ao aprofundamento do caráter primário exportador da América Latina, fruto da confluência de interesses do capital internacional e dos setores agrários exportadores da região. Theotônio, portanto, assinala que o novo debate que emerge dessa situação consiste na oposição entre uma estrutura industrial moderna e uma estrutura exportadora agrária ou mineira. Entre desenvolvimento e subdesenvolvimento.

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