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Padrão de Reprodução do Capital: uma proposta teórica - Resenha texto Jaime Osorio

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OSORIO, Jaime. Padrão de reprodução do capital: uma proposta teórica. In: FERREIRA, Carla; OSORIO, Jaime; LUCE, Mathias Seibel (Orgs.). Padrão de reprodução do capital: contribuições da Teoria Marxista da Dependência. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012.
Wendell Magalhães[footnoteRef:2]¹ [2: 	Graduando Formando de Economia na Universidade Federal do Pará – UFPA.] 
No texto referido, Jaime Osorio procura dar fundamentação teórica à noção de padrão de reprodução do capital e oferecer um caminho possível para sua análise, assumindo que no seio da teoria marxista existe uma dimensão teórica não preenchida que a noção de padrão de reprodução do capital permite enfrentar. A partir do pressuposto metodológico e epistemológico marxista da totalidade, o autor detecta uma atividade unificadora presente na vida em sociedade: a lógica do capital. Esta, segundo o autor, é a que confere sentido aos múltiplos processos que aparecem, a primeira vista, de maneira dispersa, desconectados. Assim se justifica a importância da categoria padrão de reprodução do capital.
Entendendo a existência de diferentes níveis de análise no marxismo – uns mais abstratos, outros mais concretos – Osorio diz que a noção de padrão de reprodução do capital estabelece mediações entre esses níveis. Tal categoria, segundo o autor, surge para dar conta das formas como o capital se reproduz em períodos históricos específicos e em espaços geoterritoriais determinados. Por isso, essa categoria coloca-se entre noções mais gerais como modo de produção capitalista e sistema mundial, e noções menos abstratas ou noções histórico-concretas como formação econômico-social e conjuntura. 
Quanto a essas categorias, cabe pontuar que a de modo de produção capitalista é extraída diretamente da obra de Marx, enquanto a que se refere ao sistema mundial, apesar de não dito explicitamente por Osorio, fica claro que recorre à Teoria do Sistema-Mundo para sua definição, dadas as referências que utiliza apontadas em nota de rodapé (Immanuel Wallerstein, Samir Amin, Giovanni Arrighi etc.) e os conceitos que usa para se referir ao que chama de estrutura do sistema capitalista: centro, semiperiferias e periferias. 
Cabe pontuar que a noção de formação econômico-social nos remete, segundo o autor, à constituição do capitalismo em unidades político-econômicas e territoriais limitadas, enquanto a noção de conjuntura remete a unidades político-temporais em que se produzem modificações significativas na correlação de forças entre os agrupamentos humanos em conflitos e os projetos que encabeçam, tanto no seio de formações econômico-sociais como no do capitalismo como sistema mundial.
Dadas essas premissas, a reprodução do capital, segundo Osorio, assume formas diversas em diferentes momentos históricos, o que a faz se readequar às mudanças produzidas no sistema mundial e na divisão internacional do trabalho, de forma que reorganize a produção sobre novos eixos de acumulação e/ou novos valores de uso, o que permite historicizar a reprodução do capital e diferenciar os padrões que se estabelecem.
O autor, portanto, aponta para a necessidade de perseguir as metamorfoses do capital com o fim de desvendar como o capital se reproduz em determinados momentos históricos. Tais metamorfoses se dividem em: D e D’ (capital-dinheiro); mercadorias (M) – força de trabalho (Ft) e meios de produção (Mp); capital produtivo (P) e mercadorias valorizadas (M’) (capital-mercadoria). Alerta-se que, mesmo que o capital assuma essas formas por ramos e/ou setores produtivos diferenciados, somente alguns destes atraem os maiores e mais importantes investimentos à medida que se constituem em eixos da acumulação e da reprodução do capital. Logo, conclui-se que, considerando o tempo histórico, o capital não privilegia sempre os mesmos setores ou ramos como motores de seu processo de valorização.
Nota-se até aqui, com isso, que a noção de padrão de reprodução do capital permite enfrentar o problema de se integrar a análise da valorização do capital com as formas materiais que este assume ao encarnar-se em determinados valores de uso. Ou seja, integra-se a análise teórica à análise histórico-concreta. Para isso, o autor se apoia em duas fontes retiradas da trajetória teórica de Marx, mais especificamente de seu Volume II de O capital, que elucida um caminho para a análise que se busca fazer. Tais fontes são os esquemas de reprodução e o estudo dos ciclos do capital.
 Nos primeiros, aponta o autor que Marx parte de uma série de pressupostos como uma economia capitalista pura; a existência de apenas duas classes sociais: capitalistas e proletários; uma escala de reprodução com a mesma duração e intensidade de trabalho; invariabilidade da composição orgânica do capital, do grau de exploração e da relação básica de distribuição; e da exclusão do comércio exterior. Estes pressupostos permitem a Marx estabelecer as condições de funcionamento equilibrado da produção capitalista, o que resolve a contradição, de forma simplificada, dessa mesma produção capitalista produzir valor sob a forma de valores de uso. Isso se faz através da identificação de dois grandes departamentos: um responsável pela produção de meios de produção, chamado de setor I; e outro responsável pela produção de meios de consumo, chamado de setor II. Estes, por sua vez, deveriam velar para repor o valor de seus elementos de produção tomando uma parte desses elementos do outro departamento, em uma forma material apropriada.
Como, para fazer essa análise das proporções que se intercambiam as mercadorias tomadas como unidade de valor e valor de uso, Marx parte de pressupostos que o levam a desconsiderar elementos como mudanças na produtividade ou na magnitude intensiva do trabalho, assim como no grau de exploração, o autor, corroborando Ruy Mauro Marini, aponta a limitação dos esquemas de reprodução de Marx para conformar a estrutura conceitual e metodológica para a análise da noção de padrão de reprodução do capital. Logo, emerge a necessidade de avançar-se para a análise dos ciclos do capital.
Os ciclos do capital são três: ciclo do capital-dinheiro (D-D’), ciclo do capital produtivo (P-P’) e ciclo do capital-mercadoria (M’-M’). O primeiro destaca a essência do dinheiro que funciona como capital, a de valorizar-se. O segundo permite ver não só produção, mas reprodução periódica de mais-valia, isto é, não como função realizada uma única vez, mas como função periodicamente repetida. Por fim, o ciclo do capital-mercadoria nos mostra a valorização, mas como parte de um processo em que o capital, para atingir esse objetivo, não pode desprender-se do valor de uso das mercadorias. M’ deve vender-se, pois tem uma utilidade, para realizar em dinheiro (D’) o mais-trabalho que contém.
O padrão de reprodução do capital considera todos esses aspectos historizando-os em dupla dimensão: primeiro, respondendo às razões que tornam necessário que o capital se valorize assumindo determinadas encarnações em valores de uso específicos em momentos determinados, o que gera formas capitalistas diversas; segundo, no que diz respeito aos processos que exigem a emergência, o auge e o declínio de determinado padrão de reprodução do capital, assim como as condições para a emergência e o amadurecimento de um novo, com seu ciclo de auge e posterior declínio e crise.
 Porém, no estudo dos ciclos do capital, Osorio aponta que, para além da limitação de, não incorporando o lucro, consequentemente não incorporar-se o fator crise do capitalismo decorrente da tendência de queda das taxas de lucro, apresenta-se a limitação relacionada à forma material que o capital assume na produção e na valorização. Logo, isso exige incorporar na análise do padrão de reprodução elementos como: a procedência do dinheiro que se investe (estatal, privado nacional ou privado estrangeiro); o tipo de máquinas e ferramentas que se empregam; os mercados em que se adquire; o nível de preparação requerido da força de trabalho; as formas de organização da produção (linhas de montagem, círculos de qualidade,trabalho domiciliar etc.); os valores de uso que se produzem; a quais mercados correspondem (bens-salário, bens suntuários ou bens de capital); as economias a que se dirigem os produtos; a mais-valia, o lucro e sua repartição (quanto regressa às matrizes como lucro, quanto é pago por tecnologias e patentes, quanto fica na economia local etc.); entre outros pontos relevantes. 
 Dadas as virtudes e limitações estabelecidas pelos ciclos do capital na análise do padrão de reprodução do capital, Osorio destaca o ciclo do capital-dinheiro como meio de discriminar pormenorizadamente as pegadas a seguir a fim de definir a forma de reprodução do capital e o sentido político e social ao qual responde. A opção por esse ciclo ampara-se no dito de Marx, encontrado no Volume II do capital, que identifica a forma geral do ciclo capital industrial como o ciclo do capital-dinheiro (ou monetário). Neste ciclo, tem-se a presença de duas fases de circulação intermediadas pela fase da produção. Cada uma destas requer tarefas específicas por parte do capital.
Na primeira fase da circulação, o capital em sua forma dinheiro (D) aparece comprando mercadoria que se subdivide em força de trabalho (Ft) e meios de produção (Mp). A análise histórico-concreta do padrão de reprodução do capital requer que perguntemos ao elemento ‘D’ quem investe? Quanto investe? E em que investe? Em relação a quem investe, apresentam-se as seguintes opções: capital privado, nacional ou estrangeiro, e capital público estatal (a pretexto de simplificação, o autor ignora os capitais mistos). As exigências do capital, este visto aqui como entidade, determina a proporção entre esses atores do investimento.
O autor destaca que até a década de 1970, predominou na América Latina o investimento estatal, principalmente em projetos de infraestrutura, serviços e indústria básica, como na produção de aço. Porém, já na década de 1980, há um avanço do capital privado, contendo em seu bojo o capital estrangeiro, sobre as decisões de investimento que se aliam a novas políticas econômicas para configurar um novo padrão de reprodução do capital: o padrão neoliberal.
Em relação ao questionamento de quanto se investe, o objetivo é buscar respostas a respeito de quais ramos e setores ocupam um lugar central na acumulação e na reprodução do capital. Concentrando consigo maiores somas de investimentos em um período determinado, tais ramos e setores engendram a concentração de capitais que descamba nos monopólios, o que lhes garantem lucros extraordinários, termo explicado mais a frente por Osorio, que subentende uma produção com custos abaixo da média social. Osorio ainda ressalta que se acrescenta à importância de observar quais ramos e segmentos da produção o capital, em determinado momento, privilegia, o fato de nem todos aqueles serem capazes de arrastar outros ramos e setores, convertendo-se em locomotivas que puxem a expansão destes.
A última pergunta que se faz ao elemento D, “em que se investe?”, aponta para a necessidade de saber quais valores de uso estão sendo produzidos a fim de diferenciar a produção que destina-se, especificamente, à valorização do capital daquela que busca atender necessidades genuinamente sociais. Tanques, aviões de guerra, bombas ou bens suntuários são exemplos que o autor utiliza para diferenciar bens que, como esses, atendem a necessidade do capital valorizar-se dos bens que atendem necessidades da população.
No prosseguimento da análise da primeira fase da circulação, é certo que parte do elemento D deve destinar-se à compra de meios de produção (D-Mp). Nesse sentido, cabe determinar onde são adquiridos os equipamentos, maquinário e tecnologia necessárias na produção dos bens pertencentes ao setor I (meios de produção) e ao setor II (meios de consumo), isto é, se em mercado interno ou externo. Para Osorio, a importância disso se deve à necessidade de se constatar o grau de dependência que se tem do setor externo evidenciado no débil desenvolvimento interno do setor I, e na parte substantiva remetida de D ao exterior logo que se inicia o processo produção.
Concluindo a análise da primeira fase da circulação do capital, o autor nos aponta a compra e venda da força de trabalho (D-Ft) dando destaque para a diferença entre o valor diário e o valor total da mesma, sempre partindo do pressuposto que ela é o elemento essencial no processo de valorização do capital por ser capaz de gerar um mais-valor que ultrapassa o valor básico necessário para sua produção e reprodução. Tais processos de produção e reprodução da Ft ganham destaque na análise de Osorio pela historicidade e particularidade com que atuam em cada lugar e momento histórico em específico, compondo assim a análise do padrão de reprodução do capital. Além disso, compõem essa análise outros pontos relevantes envolvendo a Ft, como: setores, ramos e indústrias que demandam Ft em determinados momentos históricos; as características diferenciadas da Ft, as condições em que se estabelece essa demanda, assim como sua localização territorial; o montante de trabalhadores contratados, sua qualificação e os tipos de contratos que prevalecem na compra e venda da Ft.
Depois de concluída a análise da primeira fase da circulação, Osorio parte para a análise da fase do capital produtivo (…P…) e das possibilidades de sua elucidação do padrão de reprodução do capital. Aqui, ressaltam-se as formas que o capital se utiliza para aumentar a exploração sobre a força de trabalho. Essas são quatro: a compra da força de trabalho abaixo de seu valor (pertencente, portanto, à primeira fase da circulação e, por isso, não detalhada nessa fase do texto); o prolongamento da jornada de trabalho como meio de aumentar mais-valia absoluta, mas detendo-se nos limites físico-mentais do trabalhador expressos, comumente, nos sucessivos acidentes de trabalho; o incremento da produtividade do trabalho que rebaixa o valor da força de trabalho por meio do investimento em tecnologia e organização da produção capaz de aumentar o montante de valor produzido em um mesmo período de tempo, isto é, em uma mesma jornada de trabalho; e a intensificação do trabalho decorrente, geralmente, do incremento de produtividade, que pode ser sintetizada como a otimização do tempo de trabalho feita com fins capitalísticos de valorização.
Passando para a segunda fase da circulação (M’-D’), o autor destaca a importância de situar o mercado a que se destina a produção de valores de uso. Se tal mercado equivale à demanda capitalista por meios de produção ou à demanda por bens necessários e suntuários dessa classe; se a produção atende o grosso da demanda peculiar da pequena burguesia e de algumas camadas altas da classe trabalhadora, ou a demanda das camadas baixas do proletariado ativo e do proletariado temporariamente inativo etc. Fazendo isso, é possível ter uma ideia do lugar que os setores e ramos da produção ocupam na economia.
Na análise do destino da produção, Osorio ainda inclui o mercado externo. A grosso modo, esse mercado distingui-se em blocos: Estados Unidos (EUA)-Canadá, União Europeia (UE), Japão e sudeste asiático, China, América Latina e outros. O autor alerta que tal distinção prévia é aproximativa e que estudos mais específicos deverão entrar em maiores detalhes, como: a que países da UE se orientam as exportações latino-americanas; para quais países da América Latina se dirige a produção estadunidense ou de algum país latino-americano em particular etc.
Por fim, quanto a essa etapa da circulação, cabe dizer que sua análise permite averiguar o tipo e a quantidade dos valores de uso lançados no mercado, o que dá ideia do nível de desenvolvimento da economia e de seus ramos ou setores-eixo da produção, além de permitir entender os problemas derivados das flutuações dos mercados em relação a determinados valores de uso. Aliás, essa etapa da circulação é caracterizada como uma das mais propensas a desencadear crises, pois evidencia a anarquia das decisões de investimento na produção capitalista em geral, fazendo com que torne-sepossível que as mercadorias não encontrem mercados e, portanto, que se interrompa o processo de realização da mais-valia.
Na análise da reprodução do capital, Osorio ainda inclui a visão do capital social que deve ser integrada com o estudo do ciclo do capital, exposto anteriormente. Na observação do capital social, despontam alguns elementos conceituais como lucro, taxa de lucro média e lucro extraordinário. Sendo o primeiro visto como forma de expressão concreta da mais-valia, a taxa de lucro média estabelece-se através dos capitais sociais em concorrência, com distintas composições orgânicas, que tendem a igualar suas taxas de lucro formando uma taxa média que, somada aos preços de custo, resulte em preços de produção diferenciados. Através desse mecanismo, os capitais com composições orgânicas maiores ganham vantagem ao se apropriarem de taxas de lucro acima daquelas que lhes correspondem efetivamente, a princípio, dado seu gasto maior em capital constante (capital este, segundo Marx, que não gera valor, pois somente o transfere na medida do custo necessário para sua própria produção) em relação ao seu capital variável. 
Conclui-se, portanto, que dessa inversão maior em capital constante é que surge o lucro extraordinário, já que tal inversão aumenta a produtividade e diminui o preço de mercado das mercadorias abaixo da média ordinária, deslocando a concorrência que não for capaz de fazer o mesmo. No que tange à categoria padrão de reprodução do capital, tais processos são vistos pelo autor como fornecedores de pistas a respeito da força diferenciada entre capitais e das vantagens em termos de mais-valia garantidas para aqueles capitais que se constituem em eixos da acumulação sob padrões determinados. 
Entretanto, a relação entre as crises do capitalismo e a análise do padrão de reprodução do capital emergirá, na digressão feita pelo autor, do próprio fenômeno da concentração de capital que converte setores e ramos da produção em principais eixos de acumulação. O processo responsável por isso será a tendência decrescente da taxa de lucro que, impossibilitando os capitais de serem investidos, dado que a valorização e, consequentemente, o lucro são os principais motores do capitalismo, inviabiliza e põe em risco o próprio funcionamento do sistema. Nesse sentido é que atuam contra tendências da queda da taxa de lucro, apontadas pelo autor, que só a confirmam como tendência. Dentre os mecanismos que agem em desfavor dessa lei, vista por Osorio como imanente ao capitalismo, tal qual por Marx, destacam-se os que favorecem o aumento da taxa de exploração sem elevar a composição orgânica do capital, como o prolongamento da jornada de trabalho, sua intensificação e a remuneração da força de trabalho abaixo de seu valor.
Porém, o mais importante de se salientar na análise de Osório a respeito das crises do capitalismo é que, para o autor, elas podem propiciar o esgotamento de um padrão de reprodução para a emergência de um novo. Antes disso, há a possibilidade da precedência de uma etapa de transição, na qual o antigo padrão não termina de morrer ou de subordinar-se e o novo, de prevalecer. Para a prevalência de um novo padrão, há a necessidade de novas condições para o capital se reproduzir. Essas condições se expressam em mudanças nos setores ou ramos que desempenharão o papel de eixos de acumulação, mudanças na organização do trabalho, nas condições técnicas, nas mercadorias produzidas, nos mercados aos quais dirigem-se a produção, nos agentes que fazem investimentos, no tipo de associação com o capital estrangeiro, enfim, no conjunto ou em alguns dos principais estágios que marcam o rumo do ciclo do capital.
Osorio dedica, ainda, parte do seu texto para analisar a relação da política econômica com o padrão de reprodução do capital. O autor aponta a política econômica como um dos mecanismos fundamentais que possibilitam o vencimento das etapas que o capital segue para valorizar-se. Citando Samuel Lichtensztejn, Osorio corrobora que toda política econômica tem quatro componentes básicos: um centro ou poder de decisão (Estado, governo etc.); práticas ou mecanismos de decisão (ações, meios, instrumentos, medidas etc.); destinatários sociais das decisões (setores, classes, grupos etc.); e propósitos das decisões (fins, objetivos, metas etc.). Disto isto, ressalta-se o aspecto político presente aqui, haja vista a tendência de privilegiar o aspecto técnico dessas medidas, esquecendo-se dos fins da política econômica que são, por excelência, políticos.
A prova do que se disse anteriormente, segundo Osorio, está no fato de que o capital precisa zelar para que seus interesses prevaleçam no aparato do Estado, a fim de que este impulsione políticas econômicas favoráveis a seus projetos de reprodução. Deduz-se, portanto, que, se a classe trabalhadora também quiser ser favorecida nesse sentido, ela necessita organizar-se para fazer pressão sobre o aparato estatal, aprovando medidas que a beneficiem. Nesse conflito, pode-se ver de forma cristalina a imbricação do econômico e do político na política econômica.
Até aqui, o destaque foi para o capital em geral. Porém, no nível de análise requerido pelo padrão de reprodução do capital, faz-se necessário distinguir frações do capital e setores. Os primeiros se subdividem em capital financeiro e/ou bancário; capital industrial, agrícola e o capital comercial. Quanto aos setores, distingui-se grande capital de médio e pequeno capital. Tais diferenciações são importantes pelo motivo da política econômica não poder resolver da mesma maneira as necessidades de reprodução de todas essas frações e setores.
Porém, cabe ressaltar que Osorio diz que não existe uma única política econômica, mas várias, dependendo das correntes econômicas das quais derivem. Não querendo ser exaustivo, o autor separa aquelas políticas econômicas com ênfase na ação estatal, as denominando keynesiana, estruturalista e neoestruturalista, daquelas com ênfase na ação do mercado, divididas em liberal, neoliberal e monetarista. Até os anos de 1970, há o predomínio das primeiras na América Latina. Já nos anos de 1980 até os tempos hodiernos, com a ascensão de um novo padrão de reprodução do capital já citado aqui (padrão neoliberal), ganham espaço o segundo grupo de políticas que tem como efeitos a redução do papel dos assalariados no consumo e de sua participação no mercado; a concentração de renda, processo que unido ao anterior, gera uma polarização social aguda; setores sociais já não são protegidos mediante tarifas de importação; a concorrência e o mercado é que passam a destinar a alocação de recursos, retirando-se subsídios e diversas formas de proteção à produção industrial; parte substantiva da produção é voltada para o mercado mundial, reorientando as políticas econômicas para o fomento das exportações; e, por fim, fomenta-se a abertura de fronteiras para as importações.
Os processos aqui citados junto das políticas que se instalam na região e que os endossam, fazem parte desse novo padrão de reprodução do capital ao qual Osorio atribuirá o nome de padrão exportador de especialização produtiva. Tal padrão, pelo fato ter vocação exportadora (apesar de requerer grandes quantidades de importações de bens de consumo, assim como de meios de produção) exige uma forte infraestrutura de portos, aeroportos e rodovias. Com a explicitação desse padrão de reprodução em específico, Osório dá um salto, em termos de complexidade, em sua análise porque assinala que a instalação dessas formas de valorização do capital ao longo da América Latina respondem às necessidades do sistema mundial capitalista em tempos de mundialização. 
Há, nesse ponto, o alerta quanto as especificidades que o padrão de reprodução do capital apresenta no uso que faz do espaço geográfico, em que o capital intervém no território de maneiras diversas, segundo as necessidades particulares que sua metamorfose exige (mesmo que cumpra a mesma função de valorizar o capital globalmente). Nesse sentido, Osório conclui que o capital acaba por desenharum mapa sobre o território, diferindo um padrão do outro, assim gerando padrões de distribuição espacial.
Quanto ao sistema mundial capitalista, apontado logo acima, Osorio o define e o relaciona diretamente à divisão internacional do trabalho (DIT). Na análise do sistema mundial, diferencia-se economias imperialistas, economias subimperialistas e economias dependentes em termos de apropriação de valor gerado pela totalidade da economia mundial, e da análise de como os encargos da geração desse valor são distribuídos entre os respectivos grupos de economias. Nesse contexto, existe transferência de valor entre regiões e economias que, se na etapa colonial era feita predominantemente por meios políticos, atualmente se dá, principalmente, por mecanismos econômicos como: deterioração nos termos de intercâmbio ou intercâmbio desigual, pagamento de royalties, transferências devido ao monopólio de conhecimentos, juros de dívidas etc.
No padrão de reprodução, seja do centro ou dos dependentes, os impactos desses mecanismos se dão nos níveis de acumulação, nas condições de exploração e superexploração da força de trabalho, nos tamanhos e modalidades de constituição dos mercados internos e externos, enfim, no conjunto de fatores que incidem na reprodução do capital. Nesse contexto, a DIT, dirá Osorio, não se restringe a uma repartição de funções no sistema capitalista, mas tem relação com a apropriação do valor, já que determinadas linhas de produção de bens e serviços são melhores recompensadas que outras.
Mais especificamente sobre o padrão de reprodução denominado por Osorio de padrão exportador de especialização produtiva, Osorio dirá que o mesmo só ganha sentido no quadro de revoluções na microeletrônica, que multiplicam e aceleram as comunicações, reduz os preços dos transportes de mercadorias e faz emergir um novo estágio do capital financeiro. Produto disso são as integrações mais intensas do mercado mundial, assim como novas possibilidades de segmentação dos processos produtivos, de relocalização de indústrias e serviços, bem como uma elevada mobilidade do capital. Todos esses processos caracterizam a noção de Osorio de mundialização, noção esta que visa substituir o termo globalização, a pretexto de lhe dar maior precisão, definindo-o como expansão extensiva e intensiva do mercado mundial.
Detendo-se no conceito de mundialização para compor a categoria padrão de reprodução do capital, Osorio apela para a noção de ondas largas que compõem o sistema mundial capitalista, utilizadas por Ernest Mandel em seu O capitalismo Tardio e em Las ondas largas del desarrollo capitalista: La interpretación marxista. Essas ondas expressam ciclos no movimento da taxa média de lucro, abarcando um período de 50 a 60 anos, incluindo uma fase de incremento para posterior descenso. O capitalismo, segundo essa noção, passou por quatro ondas largas até então, desde seu nascedouro, e a cada passagem de uma onda para outra ocorreram revoluções tecnológicas aplicadas à produção, reestruturando os processos de reprodução do capital em todas as suas dimensões.
A análise do sistema mundial capitalista por meio de ondas longas se faz importante na análise do padrão de reprodução do capital, pois, ao expressarem ciclos da taxa média de lucro no mundo central, isto é, ciclos de seus padrões de reprodução, elas expressam processos no qual intervêm elementos que extrapolam esse mundo e que se internalizam nas economias dependentes pela expansão do mercado mundial (mediante integração de novas áreas extensivamente, ou de áreas já integradas, porém com maior intensidade em sua integração), apropriação de valores gerados fora de suas fronteiras etc. Entretanto, cabe pontuar que essas ondas longas, segundo Osorio, são mais evidentes nas economias dos países mais avançados e na produção mundial em seu conjunto, do que nas economias dos países capitalistas considerados isoladamente.
O período que configura a mundialização (ou globalização, conforme se generalizou nas ciências sociais) abarca meados da década de 1970 até os dias atuais e, pela concepção de ondas longas, designa uma fase recessiva da quarta onda longa sofrida pelo capitalismo. A quarta onda se inicia mais propriamente em 1940-1945, mas seu período ascensional termina em 1966, dando lugar ao seu período de descenso. Quanto ao impactos dessa fase recessiva na América Latina, o autor cita a queda do padrão industrial diversificado que se manifesta em crise do crescimento, crise da dívida externa e na chamada década perdida, na expressão da CEPAL, que se prolonga até nossos dias.
Vale ainda pontuar que o autor situa a mundialização no âmbito da fase imperialista do capitalismo, privilegiando a expansão do sistema mundial capitalista, dada a caracterização desse fenômeno como expansão extensiva e intensiva do mercado mundial. Além disso, afirma que a mundialização, como fase descendente, evidenciou o fim de uma modalidade de reprodução do capital no centro, na semiperiferia e na periferia, assim como o fim da DIT, que acompanhou tal reprodução no sistema mundial capitalista, e das correlações de força que acompanharam esses processos, dando-se a abertura de progressivas perdas de posições do trabalho com relação ao capital. A mundialização, portanto, conclui o autor, se vê atravessada por padrões de reprodução do capital e por ciclos de ondas longas. Isso, por sua vez, proporciona elementos que nos permitem focar os processos que lhe conferem significado.

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