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Temas Contemporâneos - Garland, D. A Cultura do Controle do Crime. Notas Cap. 7 – A nova cultura do controle do crime Garland parte de uma perspectiva estrutural focada no campo do controle do crime, com o objetivo de refletir sobre o campo como um todo. Os objetivos do capítulo consistem em: a. refletir sobre a natureza do campo; b. especificar a forma como esse campo difere do previdenciarismo penal; c. comentar o impacto global das transformações descritas. O aparato de controle do crime ● Em relação à modernidade penal, não houve alterações em sua arquitetura institucional e em seu aparato estatal da justiça criminal. As mudanças se deram na sua distribuição, funcionamento estratégico e significação social. ● Houve também mudanças de tamanho e ênfase, com a elevação, desde os anos 1980, das condenações, de construção de prisões, tempo médio de encarceramento e da possibilidade de reencarceramento durante o período de liberdade vigiada. (Importante destacar que o autor se refere principalmente ao contexto norte americano e anglo-saxão) ● “Houve, pois, uma guinada no sentido do uso mais frequente e intenso da prisão.” ● Estas foram mudanças de ênfase punitiva apenas de forma no cenário institucional, as quais “causaram efeitos importantes no número de pessoas presas, no tamanho da indústria prisional, na composição racial da população carcerária e no significado político e cultural da punição.” P. 367 O terceiro setor: policiamento, punição e prevenção “O evento mais significativo no campo do controle do crime não é a transformação das instituições da justiça criminal, mas o desenvolvimento, ao lado destas instituições, de uma forma bem diferente de gerir o crime e os criminosos”. ● Surgimento, ao lado do sistema penal e da polícia, de um terceiro setor “governamental”, o novo aparato de prevenção e segurança. Este consiste principalmente em “redes de prática coordenada” (grupos de trabalho, comitês de ação, painéis de autoridades locais), ocupando uma posição intermediária entre a sociedade civil e o Estado. Garland explica que a implementação dessa nova infraestrutura expande o campo do controle do crime. ● Consequência desse movimento: agora o campo do controle do crime se expande para além do Estado e passa a envolver a sociedade civil. “O controle do crime está se tornando responsabilidade não só dos especialistas da justiça criminal, mas de todo um conjunto de atores sociais e econômicos.” ● Esse novo setor passa a se concentrar em evitar que crimes aconteçam, ou seja, na ação preventiva, mudando o equilíbrio geral do campo, que antes tinha foco no emprego do poder punitivo. A decrescente autonomia da justiça criminal ● Uma das consequências da ampliação do campo do controle do crime retratada anteriormente, é a da diminuição da autonomia da justiça criminal, agora mais sujeita a intervenções alheias. ● Surge uma nova relação entre políticos, o público e os especialistas do sistema penal. A justiça criminal está mais sensível ao humor público e à reação política. “os políticos têm mais autoridade, os especialistas têm menos influência e a opinião pública constitui o ponto de referência para determinar as posições”. Garland chama isso de “estilo populista de fazer política”. ● Tal corrente populista é uma postura adotada para obtenção de benefícios políticos de curto prazo. ● A partir desse processo (anos 90), a mídia detém papel significativo na formação de opinião pública acerca de crimes de grande repercussão e passa a haver maior demanda pública por mais controle penal efetivo. Consequência: consolidação de um estilo retaliador de elaboração de leis, as quais frequentemente desafiam a opinião especializada, no intuito de atenuar a revolta popular. A extensão e a natureza da mudança estrutural ● As mudanças ocorridas no último quarto do século XX descritas acima constituem as mudanças estruturais que ocorreram no campo do controle do crime ● Desfecho paradoxal: com as mudanças na distribuição e no redirecionamento das práticas existentes, o Estado passa por um processo no qual aumenta seu poder punitivo ao mesmo tempo em que reconhece que sua presença nunca é suficiente. A nova cultura de controle do crime ● A mudança mais significativa no campo do controle do crime se deu no nível cultural. ● Esta nova cultura contribui para mudar o pensamento e a ação dos indivíduos em relação à insegurança e ao crime. ● Ela gira em torno de três elementos centrais: 1. Da transformação do previdenciarismo penal – passa a haver maior ênfase na punição, condenação e tratamento severo aos criminosos, deslocando a ênfase em métodos de reabilitação do criminoso para a necessidade de um controle efetivo que maximize a segurança ao minimizar os custos; a reabilitação passa a ser vista como um modo de administração de riscos e não como um direito; 2. De uma criminologia do controle – no qual a prisão é concebida como um mecanismo de exclusão e controle, ou seja, um lugar no qual os criminosos são depositados e segregados em larga escala, com motivações econômicas e sociais. A prisão torna-se um espaço eliminativo, um mecanismo que segrega as populações rejeitadas 3. De um estilo econômico de pensamento – consiste no emprego de ideias econômicas para pensar o crime, empregando a relação de custo-benefício, melhor valor e responsabilidade fiscal. Calcula-se os custos do crime e da prevenção, assim como os custos de tudo que esteja relacionado ao campo do controle do crime, moldando a forma como a sociedade e o sistema pensam o crime. Consolidação da figura da vítima --> Alterou os processos da justiça criminal de diversas maneiras ● O criminoso era o principal objeto da preocupação criminológica, agora este processo de individualização é centrado na vítima ● Maior apoio e valorização das vítimas ● Nesse meio tempo, a figura do criminoso passa a ser representada de maneira cada vez mais abstrata e estereotipada, num processo que tornou cada vez menos individualizado o tratamento de criminosos Relação sociedade/criminoso ● Os interesses de vítimas e criminosos são colocados como completamente opostos: os direitos das vítimas competem com os dos criminosos, sendo os interesses destes frequentemente desconsiderados. ● Há a crença atualmente de que que não existe a figura do ex-criminoso, somente aqueles que foram apanhados antes e que cometerão novos crimes quando o momento for oportuno. ● Estigmatização assume um valor renovado: antes prejudicial à ressocialização, hoje torna-se útil novamente. “Duplamente útil, uma vez que serve simultaneamente para punir o criminoso e alertar a comunidade para o perigo que ele representa.” ● Os criminosos são despidos completamente de seus direitos e cidadania, pois a sociedade se convenceu que certos criminosos deixam de ser membros do público ao cometerem um crime; incorporação da divisão social e cultural entre nós (inocentes) e eles (indesejados, o Outro perigoso, a subclasse) ● “’Nossa’ segurança depende do controle ‘deles’”. A criminologia do controle ● Surgimento de duas novas correntes no pensamento criminológico, as quais