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Estudo Sócio-histórico e Neuropsicológico da Medicalização Infantil A escola como centro de práticas higiênicas e disciplinares Profa. Me. Amanda Gladyz Blásquez Figueroa Objetivo • Compreender a escola como centro de práticas higiênicas e disciplinares. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Porque... Vimos que houve um processo de discussão em nossa história, no qual haviam doenças consideradas morais, que atrapalhavam o progresso biológico e que resultaria em hábitos escusos. O Congresso Brasileiro de Hygiene realizado em 1929 havia alcançado os fundamentos da higiene moderna, criando as escolas de sanitaristas em São Paulo, considerada como o berço e modelo para o Brasil. Como modelo, São Paulo daria vários exemplos. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil A escola seria o local de possibilitar que a criança tivesse um corpo apto, e isso ocorreria pela Educação Física e pelos hábitos sadios ensinados pela escola e que refletiram na família dessa criança. Logo a escola, modelaria os corpos, por meios de inúmeros regulamentos e inspeções, tratava-se de um processo de disciplinamento. Não havia crianças, para a higiene haviam corpos, estes corpos seriam separados hierarquicamente quanto aos conteúdos que seriam aprendidos, e também como seria vigilância e quem os vigiaria. Aplicando premiações aos pelotões que atingissem os objetivos com excelência. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil O corpo docente composto por médicos e professores, avaliaria exaustivamente, por meio de exercícios práticos, detectando desvios, e reagrupando os desviados em outra ordem, com diferentes mecanismos e sanções normalizadoras. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Nesse contexto, brevemente explorado acima, quais seriam então os discursos dirigidos às crianças das escolas primárias? A educação era um dispositivo de moralização. No Brasil, nos anos finais do século XX temos reflexos dessa relação, no qual a escola é o espaço por essência do exercício do poder da medicina, não obstante o médico foi apresentado como “imprescindível e insubstituível no processo educacional” (STEPHANOU, 2000, p.6). A função da escola era pensada como um veículo de formação harmônica do corpo e do espírito, formação harmônica voltada para as faculdades físicas, intelectuais e morais, mantendo, é claro, o ideal de melhoramento da espécie humana, qual vimos na unidade anterior. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Stephanou (2000) demarca que no século XX, existiam duas concepções médicas a respeito da escola: a anatômica, em que se pretendia identificar a doença e curá-la com o tratamento correto, e a fisiológica, que este em maior consonância no início do século, almejando a correção das perturbações funcionais, com vistas a uma prática de medicina preventiva e possibilitando a ampliação da ação médica. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Sob a visão fisiológica do escolar, a classe médica recomendou uma educação ideal que envolvia: a educação física, mental e intelectual, e uma preocupação social, do indivíduo a atingir a coletividade. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Considerando a higiene escolar como sinônimo de medicina preventiva, coube-lhe a incumbência de cuidar tanto da criança sadia quanto da criança doente. Essa experiência da Higiene, atendendo à coletividade escolar, demonstrou, efetivamente, a necessidade imperiosa do exame médico preventivo, em centros bem instalados, da totalidade dos alunos, para que os males identificados fossem tratados ainda em fase suscetível de cura … (continua) A escola, assim, foi um locus fundamental de exercício de uma medicina preventiva em todos os seus aspectos, sem as dificuldades à prática da higiene existentes em outros espaços sociais, e pôde mostrar os resultados positivos da prática profilática (STEPHANOU, 2000, p.7). A partir da reflexão de Stephanou percebemos que a escola foi o alvo fundamental de medidas profiláticas e preventivas e também de sugestões de organização do ensino baseadas nos conhecimentos fisiológicos da criança, ou seja, no entendimento de fundamentos científicos a respeito do funcionamento do corpo da criança. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Pixabay O que moveu a classe médica a propor mudanças na organização do espaço escolar, seja na estrutura, seja nos métodos e conteúdos a serem ensinados, entre outras questões relativas à organização escolar, da estratégia do currículo e da divisão das disciplinas. Essa interação do médico na escola aprimorava o olhar clínico às questões pedagógicas, como por exemplo, a preocupação nos anos 1930, com a quantidade de conteúdos da escola e o esgotamento cerebral das crianças com coisas abstratas e que para eles não teriam nenhuma aplicação na vida prática. Estas reflexões fazem referência de proximidade aos princípios da Escola Nova, movimento da pedagogia que teve várias nuances, inclusive psicológicas, e que em linhas gerais, se apresentou como saída ao enciclopedismo e ao conteudismo do ensino tradicional. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Encrypted O escolanovismo foi um movimento de educadores europeus e norte-americanos, organizado em fins do século XIX, que propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e questionava a passividade na qual a criança estava condenada pela escola tradicional. O ideário da Escola Nova veio para contrapor o que era considerado tradicional, e seus defensores lutavam por diferenciar-se das práticas pedagógicas anteriores. • A educação higiênica e as afinidades entre medicina e educação se iniciam com o próprio John Dewey (1859-1952), pedagogo norte-americano, fundador desta corrente pedagógica, e que defendia a educação como instituição responsável pelo ensino da higiene e da saúde. • A presença do médico nas escolas possibilitaria uma visão mais cautelosa e científica para as crianças e, concomitantemente, para o futuro da nação, discurso defendido, como por exemplo, pelo Dr. Gonçalves Vianna, delegado da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) do Rio Grande do Sul e admirador das ideias de Renato Kehl, que como vimos anteriormente foi o fundador do movimento eugênico em nosso país. O médico além de todo o conhecimento teórico e prático da medicina, agora também se ocuparia de aprender toda a lógica do educador e de sua prática pedagógica. Os médicos, partícipes agora desse espaço e conscientes de seu papel nessa ordenação, progrediram do discurso de cunho médico e assinalaram o que precisava ser modificado na escola e não economizaram críticas aos métodos, às teorias, à formação dos professores e, às condições estruturais do meio escolar. A partir dessa convivência e interferência no meio escolar, os médicos higienistas se submergiram na escola real e colaboraram também para a inclusão de novos conteúdos, no que diz respeito à formação de professores na Escola Normal. Pixabay Desse modo, os doutores brancos, letrados e a da elite prescreveram um tratamento cuidadoso e minucioso para a escola, de modo a poder formar um indivíduo higienizado sem vícios, Um indivíduo normalizado e normalizador, equipado com a nova sensibilidade (GONDRA, 2004, p. 478). A escola clama pela medicina! Este contexto não teria advindo se a escola não tivesse, em consonância, recorrido à medicina naquele tempo, como bem sinalizou. E nesse momento trago você para a nossa realidade, pois é o que também entendemos que ocorre no tempo presente, a escola vai à medicina. Estudo sócio-histórico e neuropsicológico da medicalização infantil Wikipédia Contudoressaltamos que ao analisarmos brevemente esse movimento atual da escola, ou seja, este encontro com a medicina também temos que refletir sobre os interesses aqui embutidos, tudo está em torno de uma estimulação e projeção dos jovens do futuro suscitada nas preocupações (históricas) médicas aqui discutidas. Wikipédia
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