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1 Felipe Antônio Dal'Agnol TUMORES HEPÁTICOS Podem se originar do fígado - a partir de hepatócitos, do epitélio dos ductos biliares ou do tecido mesenquimal hepático - ou podem se implantar no parênquima hepático a partir de lesões primárias em órgãos próximos ou distantes do fígado. No geral, as metástases hepáticas são mais comuns que os tumores hepáticos malignos primários (exceções: áfrica subsaariana, grande parte do leste asiático e em crianças); Com exceção dos hemangiomas cavernosos, os tumores hepáticos benignos são raros em todas as faixas etárias, em todo o mundo. TUMORES BENIGNOS DO FÍGADO 1 - Adenoma Hepatocelular (AHC) É uma rara lesão hepática sólida identificada, principalmente, em mulheres em idade fértil; Há clara relação entre o AHC e o uso de Anticoncepcionais Orais (ACO); O maior risco ocorre em mulheres com mais de 30 anos que fazem uso de ACO por mais de cinco anos; A incidência anual em mulheres que nunca usaram é na ordem de 1 a 1,3 por milhão, ao passo que nas usuárias crônicas sobre para 3,4; Relação quantitativa com a concentração de estrógenos nos ACO; Além de estarem relacionados com uma maior incidência, os ACOs também geram tumores que tendem a ser maiores e que possuem um maior risco de sangramentos; Outras associações: diabetes mellitus, glicogenose tipo I ou III, gravidez e uso crônico de esteroides anabolizantes; 2 Felipe Antônio Dal'Agnol Adenomas múltiplos estão mais relacionados às glicogenoses que ao uso de ACO. É um tumor geralmente único, macio, bem circunscrito, com ou sem cápsula, variando entre 1 a 30 cm. Pode haver áreas centrais de necrose e hemorragia; Histologia: presença de hepatócitos discretamente atípicos (pálidos, pouco aumentados) dispostos em cordões separados por sinusoides dilatados e com finas paredes (o que pode justificar sua tendência hemorrágica). Uma característica marcante é a ausência de ductos biliares, tratos portais e, na maioria dos pacientes, das células de Kupffer; Apesar de poder ser um achado incidental, o AHC pode cursar com a seguinte sintomatologia: 1. Dor epigástrica ou em hipocôndrio direito (sintoma mais comum, em 52%, causado por sangramento ou infarto intratumoral), a qual pode ser súbita e intensa em 30% dos pacientes; 2. Massa abdominal palpável (25% a 35%); 3. Hepatomegalia; 4. Dor abdominal crônica e intermitente (20% a 25%), causada por compressão de estruturas próximas; 5. Sinais e sintomas compatíveis com ruptura subcapsular ou para peritônio livre: dor abdominal súbita, palidez cutânea, hipotensão arterial ou morte súbita. A ruptura ocorre comumente com tumores solitários e grandes, embora o principal o fator de risco é a sua localização superficial; Sangramento ocorre em 25% a 41% com uma mortalidade de 6; Sintomas agudos costumam ocorrer durante ou logo após a menstruação; Laboratório: a Alfafetoproteína (AFP) e os testes bioquímicos hepáticos encontram- se normais, exceto por eventuais elevações de FA e GGT em subgrupo de pacientes que evoluem com hemorragias intratumorais ou intraperitoneais ou ainda nos casos de adenomatose hepática; Diagnóstico É feito, basicamente, por achados à TC, US ou RNM, sendo a arteriografia hepática um procedimento de grande valia. Casos de difícil diagnóstico (especialmente para afastar CHC), pode-se fazer ressecção para diagnóstico histopatológico. Biópsias percutâneas por aspiração não são feitas (risco elevado de sangramento e baixo valor diagnóstico; Tratamento Consiste, fundamentalmente, em excisão cirúrgica, em virtude de: 1. Risco de hemorragia intratumoral ou intraperitoneal; 2. Risco - provavelmente baixo - de transformação maligna em CHC; 3 Felipe Antônio Dal'Agnol 3. Frequente dificuldade de diferenciação histológica com hepatocarcinomas bem diferenciados. Adenomas multifocais ou difusos podem requerer Transplante Ortotópico de Fígado (TOF), principalmente se a AFP estiver aumentada ou se uma transformação maligna já estiver sido diagnosticada; Se o TOF não for possível, uma USG associada à dosagem de AFP a cada seis meses; A embolização pode ser usada para controle do sangramento, para reduzir o tamanho do tumor no pré-operatório ou para aliviar os sintomas em pacientes inoperáveis; Se o AHC não for retirado, as mulheres devem ser orientadas a cessar o uso de ACO (o que pode reduzir o tumor) e a manter um método contraceptivo não hormonal, em virtude dos riscos potenciais de uma gestação. 2 - Hiperplasia Nodular Focal (HNF) Embora rara, é o tumor sólido hepático mais comum depois dos hemangiomas, com uma incidência em séries de necrópsias entre 0,31% e 0,6%; Consiste de uma lesão nodular não neoplásica encontrada em todas as idades e em ambos os sexos, embora seja mais frequente em mulheres entre 20 e 50 anos; Relação com ACOs ainda não é bem estabelecida. Não houve aumento na incidência após os ACOs, mas sabe-se é a HNF é hormônio-dependente; Os ACOs pode macentuar anormalidades vasculares (causando o aumento da lesão), maior incidência de sintomas e, muito raramente, podem levar à ruptura da lesão; Acredita-se que a HNF seria uma resposta hepatocelular hiperplásica (e não neoplásica) à hipoperfusão ou injúria vascular originada por uma preexistente artéria anômala no locas da lesão. Macroscopia: a lesão é lobulada e facilmente demarcável, mas não encapsulada. Geralmente são subcapsulares e localizadas no lobo hepático direito. Tamanho médio é inferior a 5 cm, raramente excedendo 10 cm. Frequentemente únicos, mas podem ser múltiplos (7 a 20%), pedunculados ou lobares. Possuem uma espessa cicatriz central com septos radiais que subdividem o tumor em nódulos. Microscopia: assemelha-se à cirrose inativa, com o parênquima hepático dividido por septos fibrosos contendo numerosos dúctulos, vasos sanguíneos e células inflamatórias crônicas. Lesões maiores podem mostrar focos de hemorragia ou 4 Felipe Antônio Dal'Agnol necrose, embora seja menos comum do que nos AHCs. Os septos fibrosos, por vezes, são pouco desenvolvidos e a cicatriz central pode estar ausente. Em 5-10%, a HNF associa-se a hemangiomas hepáticos. Assim, as características histológicas quase sempre proporciona a sua diferenciação em relação aos AHCs, embora isso não seja possível em alguns casos. Clínica Geralmente assintomáticos (50 a 90%). Cerca 50 a 60% das mulheres portadoras possuem história de uso de ACOs. Maioria se descobre incidentalmente; A dor abdominal (ao contrário do AHCs) não é tão comum e não é aguda; Lesões sintomáticas são mais comuns em usuárias de ACO; Exame físico normal em 83%. Nos demais, podem haver hepatomegalia, massa abdominal ou dor abdominal; Raramente se rompem. Exames complementares Provas bioquímicas hepáticas e a AFP são normais; A cintilografia com enxofre coloidal-TC é bastante útil na diferenciação com o AHC: a captação do radioisótopo só costuma ocorrer na HFN, já que os adenomas quase nunca contêm células de Kupffer; Na angiografia, a captação do contraste é central, e a captação periférica no AHC; Na TC, podem ser observadas as cicatrizes hipodensas centrais, típicas da HNF. Prognóstico das HNFs não ressecadas é excelente: a maioria permanece assintomática, assim como a maioria das lesões permanece sem alterações. Tratamento É expectante na maioria dos casos, uma vez que costumam ser assintomáticas e não se associarem com transformação maligna; Lesões volumosas ou pedunculadas raramente podem ser complicadas com torção ou infarto, requerendo tratamento cirúrgico; A cirurgia também é recomendada para pacientes com sintomas intensos ou nos raros casos de crescimento progressivo da lesão, em que a enucleação é a estratégia preferida; A embolização por angiografia e a ligadura da artériahepática são terapias alternativas para lesões irressecáveis; Acompanhamento pode ser dispensado, embora possa ser feito em 3, 6, 12 ou 24 meses após os diagnóstico. *As evidências científicas disponíveis na literatura médica mundial ainda não justificam a suspensão do uso de ACO, quando a HNF não é ressecada. Há uma minoria de autores, entretanto, que recomenda a suspensão. 5 Felipe Antônio Dal'Agnol * Também ainda não há dados definitivos que apontem para a necessidade de contracepção ou ressecção cirúrgica prévia a uma gestação. 3 - Hemangioma Cavernoso (HC) É o mais comum dos tumores hepáticos mesenquimais benignos; Quando forem maiores que 5 cm são chamados de gigantes; Encontrados em ambos os sexos e em qualquer idade. Entretanto, é mais comum em mulheres (60 a 80%), entre terceira e quinta década de vida; 6 Felipe Antônio Dal'Agnol Aumentam de volume durante a gestação ou durante o uso de estrógenos e são mais comum em multíparas; A maioria dos estudos considera como hamartomas benignos congênitos, seu crescimento ocorre mais à custa de ectasia progressiva do que hiperplasia e hipertrofia; Geralmente, são lesões solitárias, mas tumores múltiplos podem ocorrer em até 10% dos pacientes. Normalmente, localizam-se no lobo hepático direito e os tumores maiores podem ser pedunculados. Pode haver fibrose central e trombos nos espaços vasculares; A biópsia percutânea é contraindicada em virtude do grande risco de hemorragia intraperitoneal; A grande maioria dos HC é pequena e assintomática, sendo achado incidental; Lesões maiores que 4 cm e 10 cm são sintomáticas, respectivamente, em 40 e 90% dos casos; Dor em andar superior do abdome é o sintoma mais comum, sendo resultado de infartos e necrose, pressão sobre estruturas adjacentes, distensão da cápsula hepática, ou alto fluxo sanguíneo; Sintomas compressivos podem ocorrer: hiporexia, plenitude pós-prandial precoce, náuseas e vômitos; Exame físico pode identificar hepatomegalia, massa palpável, sopro sob a parede abdominal; Ruptura extremamente rara, com apenas 28 casos relatados nos últimos 100 anos. *Como é muito rara a presença de sintomas, se sintomáticos, deve-se afastar outras causas antes de atribuir os sintomas ao hemangioma. Laboratório: AFP e testes bioquímicos hepáticos sem qualquer anormalidade, exceto em raros casos de HC gigantes que podem causar icterícia obstrutiva (com aumento de FA e GGT); Em HC gigantes podem-se desenvolver coagulopatia de consumo no interior do tumor e apresentar evidências de CIVD - trombocitopenia e hipofibrogenemia, o que é conhecido como Síndrome de Kasabach-Merritt; Imaginologia: a TC com contraste dinâmico mostrará a captação do contraste apenas perifericamente na fase arterial, completando seu enchimento na fase venosa, quando o contraste atinge o centro do tumor. Dos três, até agora, só o HC capta o contraste na fase venosa. O mesmo vale para a arteriografia. A RM é particularmente sensível para a detecção de lesões inferiores a cm. Tratamento Em geral, o tratamento dos HCs é expectante, a despeito do pequeno risco potencial de ruptura. Apenas ocasionalmente, haverá crescimento do tumor ou aparecimento de sintomas, requerendo ressecção cirúrgica; 7 Felipe Antônio Dal'Agnol Cirurgia só se há muito sintoma ou em complicações, o que reflete apenas 2% dos casos (enucleação é a técnica preferida); Pode ser necessário realizar embolização ou ligadura da artéria hepática previamente à ressecção eletiva nos casos de ruptura; Há pacientes que continuam sintomáticos após a cirurgia, o que denota a suspeita de intestino irritável; Para síndrome de Kasabach-Merritt há as seguintes alternativas de tratamento: tratamento clínico específico para a diátese hemorrágica, embolização arterial, ressecção ou TOF; Não há evidência consistentes de benefício da terapia com esteroides ou radioterapia. HEPATOCARCINOMA O hepatocarcinoma, ou Carcinoma Hepatocelular (CHC), é o tumor primário mais comum do fígado e a terceira causa de morte por neoplasia no mundo; Possui como causa principal a cirrose, particularmente quando secundária à hepatite crônica pelos vírus B ou C. 1 - Epidemiologia Prevalência irregular ao redor do mundo, geralmente seguindo a prevalência de infecção crônica do VHB; Um terços dos novos casos ocorrem na China, um terço no restante da Ásia; Há baixa incidência na América do Sul, com menos de três casos relatados por 100.000 habitantes por ano; O CHC é duas a oito vezes mais frequente nos homens. 2 - Fatores de Risco Mais de 80% dos pacientes com CHC possuem cirrose hepática. O risco varia com a etiologia na cirrose: 8 Felipe Antônio Dal'Agnol 2.1 - Vírus da Hepatite B (VHB) A infecção crônica pelo VHB é a causa mais comum de CHC no mundo; A idade de aquisição do VHB possui papel importante na oncogênese do CHC: recém-nascidos e crianças mais jovens expostas ao VHB têm uma chance muito maior de desenvolver infecção crônica do que aqueles infectados na vida adulta; Na hepatite B crônica, o DNA do vírus é incorporado ao genoma do hepatócito, propiciando mutações oncogênicas; Na cirrose, há degeneração e regeneração hepatocitária (maior turn over celular), o que aumenta a chance de mutações no DNA da célula, já comprometido pelo VHB. 2.2 - Vírus da Hepatite C (VHC) Nos EUA, a maioria dos casos de CHC é secundária ao VHC; Não é capaz de integrar-se ao DNA. Assim, o mecanismo para a hepatocarcinogênese é, provavelmente, diferente; Ao contrário do VHB, que pode gerar CHC em 20% sem ter cirrose, o VHC só desenvolve CHC após o surgimento da cirrose hepática. 2.3 - Álcool É um importante fator de risco (15% dos americanos com CHC são portadores de cirrose hepática alcoólica). 2.4 - Hemocromatose Hereditária (HH) Risco de morte por CHC em pacientes com HH é de até 45%; A depleção eficaz dos estoques de ferro antes do desenvolvimento da cirrose hepática reduz a incidência de CHC, o que não ocorre se a depleção for conseguida em pacientes portadores de cirrose já estabelecida. 3 - Apresentação Clínica Há quatro formas principais: 1. Tríade clássica: dor em quadrante superior direito do abdome (QSDA) + aumento do volume abdominal + perda de peso; 2. Identificação incidental por método de imagem em paciente assintomático, com ou sem massa palpável em QSDA; 3. Piora do estado clínico ou trombose de veia porta em paciente cirrótico previamente compensado; 4. Manifestações paraneoplásicas: febre, leucocitose, caquexia, eritrocitose, hipercalcemia, síndrome carcinoide, hipoglicemia, porfiria cutânea tarda etc. As aminotransferases, bilirrubinas, fosfatase alcalina e GGT e leucometria global podem estar elevados; 9 Felipe Antônio Dal'Agnol 4 - Diagnóstico e Rastreamento Os Métodos Disponíveis 4.1 - Apresentação Clínica É o principal marcador tumoral do CHC; Trata-se de uma proteína oncofetal produzida pelo fígado e saco vitelino que diminui após o nascimento; Uma AFP > 20 ng/dl em pacientes com cirrose hepática já sugere CHC, embora uma reativação da hepatite viral (por vezes subclínica) possa elevar os níveis entre 20- 200 ng/dl; Também se encontra aumentada nas metástases hepáticas, tumores de testículos ou ovários e gravidez; Um valor > 200 (400 para alguns autores) em cirrótico tem alta especificidade. 4.2 - Ultrassonografia Transabdominal Pode identificar lesões > 2 cm, que num cirrótico costumam indicar CHC; São lesões tipicamente hipoecoicas; Com o tempo, as lesões passam a ser hiperecoicas, embora comumente produzam um halo hipoecoico; Ao Doppler, nota-se tipicamente uma vascularização arterial; USG e AFP são usadas no rastreamento do CHC (baixo custo e disponível). 4.3 - Exames ContrastadosDinâmicos A tomografia helicoidal trifásica é o exame de escolha para a confirmação diagnóstica do CHC; O CHC é vascularizado quase que exclusivamente pela artéria hepática. Logo, uma lesão sólida em um fígado cirrótico, que só aparece a fase arterial, é virtualmente diagnóstica deste tumor (principalmente se > 2 cm); 10 Felipe Antônio Dal'Agnol A visualização de nódulos satélites ou de uma massa em padrão mosaico (múltiplos pequenos nódulos separados por traves fibróticas) também sugere CHC; Outros exames de elevada acurácia são RNM, US contrastada e arteriografia; Nós três também se notará a impregnação por contraste na fase arterial e o washout na fase venosa; O uso de lipiodol (contraste com forte tropismo por células neoplásicas), seja em arteriografia ou em associação com TC, pode ser útil em casos duvidosos. Rastreamento Na prática, o rastreamento é indicado em todo cirrótico e em casos selecionados de portadores crônicos do vírus B, mesmo sem cirrose (história familiar de CHC, negros > 20 anos, asiáticos > 40 anos); Há polêmica quando a AFP no rastreamento; De modo simplificado, o rastreamento deverá ser feito a cada seis meses com US abdominal, associada ou não à alfafetoproteína. Diagnóstico Ao se detectar um nódulo na US em um cirrótico, há três possibilidades: 1. Nódulos < 1 cm: US a cada três meses. Se não crescer nos próximos dois anos, retornar à estratégia inicial. Caso cresça, agir conforme o recomendado para o novo tamanho; 2. Nódulos > 2 cm: bastará a positividade um método de imagem dinâmico ou AFP > 200 ng/dl (ou 400) para selar o diagnóstico; 3. Nódulos entre 1-2 cm: necessários dois exames contrastados dinâmicos. O diagnóstico é fechado diante na positividade de dois métodos. Se somente um ou nenhum confirmar (sem fase arterial + washout venoso), partir para biópsia guiada por TC ou US. A biópsia fecha o diagnóstico, mas, se negativa, não exclui. O paciente com nódulo > 1cm e biópsia negativa deverá manter o seguimento, repetindo a biópsia caso a lesão cresça. 5 - Estadiamento 11 Felipe Antônio Dal'Agnol 6 - Tratamento Sem tratamento, a sobrevida média é de 6-20 meses; É um tumor extremamente agressivo; Cura só pode ser obtida pela ressecção do tumor ou pelo transplante hepático ortotópico; Apenas 20% preencham os critérios para o tratamento cirúrgico; O grande problema do CHC é a sua alta taxa de recidiva e o fato de ter preferência para pacientes cirróticos que, na maioria da vezes, não toleram uma cirurgia de ressecção tumoral; O CHC em pacientes não cirróticos (o que pode ocorrer em portadores de vírus B) e em cirróticos Child A (e alguns Child B) pode ser tratado com a ressecção (hepatectomia parcial), se o tumor não for muito grande e puder ser retirado com margens de segurança de 1 cm, sem comprometer a função hepática; Invasão do pedículo vascular e metástases à distância contraindicam, não somente a ressecção, mas também o transplante curativo; Taxas de cura pós-ressecção varia entre 30-60%; A maior sobrevida em 5 anos (80%) é conseguida em pacientes Child A com tumores < 5 cm e que podem ser ressecados com boa margem de segurança. Recentemente, um grupo de pacientes com CHC e cirrose avançada (Child B ou C) apresentava uma alta sobrevida em 5 anos (em torno dde 80%) quando submetidos ao transplante, comparado às taxas em pacientes cirróticos sem CHC. Esse grupo apresenta: lesão única ≤ 5 cm ou lesão múltipla até três lesões, todas ≤ 3 cm, sem, obviamente, invasão do pedículo; Mais recentemente ainda, já diz-se de uma lesão até 6,5 cm, mas três até 4,5 cm. Para aqueles que não preenchem os critérios, existem terapias não cirúrgicas: (i) injeção tumoral de etanol, (ii) ablação tumor por radiofrequência, (iii) termoablação e (iv) quimioembolização transarterial. Injeção intratumoral de etanol: para tumores únicos menores que 5 cm de diâmetro. Cerca de 10-20 ml de etanol a 95% são injetados no interior do tumor, que sofre necrose total em 75% dos casos e parcial em mais de 20%. Em pacientes Child A, com tumor solitário < 5 cm, as taxas de sobrevida em 1, 3 e 5 anos são, respectivamente, de 98%, 80% e 45%. Ablação por radiofrequência: um eletrodo-agulha é introduzido no tumor (guiado por USG) e ligado no gerador de radiofrequência que, literalmente, "queima" o tumor. Os 12 Felipe Antônio Dal'Agnol resultados são melhores para tumores menores que 3-5 cm e são semelhantes aos do método anterior. Termoablação: reúne duas modalidades distintas: a termoablação por laser, que utiliza calor para destruir as células neoplásicas; e a crioablação, em que uma sonda é introduzida no tumor, lançando nitrogênio líquido ou gás argônio em temperaturas muito baixas. Este último método também pode ser utilizado para tumores maiores. Embolização transarterial: indicada para tumores irressecáveis grandes (> 5-10 cm) ou multifocais, não candidatos às demais terapias não cirúrgicas locais. Como o CHC se nutre quase 100% da artéria hepática, a obstrução desta vasculatura pode propiciar isquemia e necrose tumoral. Atualmente, a embolização é feita com partículas de gelfoam. A embolização de partículas ligadas a agentes quimioterápicos para efeito local (doxorrubicina, cisplatina) - a chamada quimioembolização - não mostro benefícios adicionais, mas também é utilizada. Pacientes com baixa reserva funcional hepática (Child B ou C) ou com trombose de veia porta não devem ser embolizados. Está em fase de desenvolvimento a técnica de radioembolização: microesferas impregnadas com Ítrio-90 (um isótopo radioativo) podem ser infundidas por cateterismo da artéria hepática. Até o momento, não se sabe se tal estratégia apresenta alguma vantagem em relação à quimioembolização convencional. O SORAFENIB, uma pequena molécula que pode ser ministrada por via oral e atua como "inibidor multiquinase", aumenta em 37% a sobrevida de portadores de CHC avançado (o que significa um ganho de 2-3 meses na sobrevida média). O sorafenib exerce efeitos antiproliferativos e antiangiogênicos sobre o CHC. 7 - Prevenção A prevenção da cirrose e a prevenção e tratamento das hepatites crônicas constitui a melhor estratégia preventiva para CHC; Vacinação em massa contra VHB, eliminação de procedimentos de risco para a transmissão do VHC e a detecção e tratamento precoce de HH e outras doenças metabólicas. CARCINOMA FIBROLAMELAR (CFL) Variante do CHC que pode ser encontrado em jovens (5-35 anos) em ambos os sexos; Este tumor não se relaciona ao uso de ACO, não é causado por VHB ou VHC e quase sempre surge em um fígado não cirrótico; Apresenta-se como uma massa abdominal, algumas vezes dolorosa; Histologia: amontoado de células tumorais poligonais, de volume aumentado e altamente eosinofílicas. Os grupos celulares são interpostos por faixas de tecido 13 Felipe Antônio Dal'Agnol fibroso, delimitando nódulos ou trabéculas. O citoplasma é repleto de mitocôndrias aumentadas e, em 50% dos casos, contém corpúsculos pálidos ou hialinos. Os nucléolos são proeminentes e as mitoses são raras. A AFP é normal, já que o tumor não a secreta; Pode haver pseudo-hiperparatireoidismo com hipercalcemia; USG mostra lesões hiperecoicas homogêneas; TC evidencia lesão hipodensa, a qual capta avidamente o contraste. Pode haver calcificações; RM o tumor mostra-se isointenso em T1 e hipointenso em T2. Uma cicatriz central calcificada pode ser encontrada em até 55% dos casos; entretanto, ao contrário do que ocorre na HNF, esta cicatriz mostra um hipossinal em T2 à RM. O prognóstico não é muito melhor que em outras formas de câncer hepático, e piora muito na presença de metástases para linfonodos regionais; Tratamento é cirúrgico, através de ressecção ou TOF. METÁSTASES HEPÁTICAS São mais comuns que ostumores primários do fígado; Fontes principais: CCR, pulmões, mamas e tumores malignos urogenitais; Tumores neuroendócrinos no TGI são outra fonte potencial; Muitas vezes, a diferenciação entre metástase hepática e um tumor primário é difícil. Geralmente, as metástases se apresentam como múltiplas pequenas lesões de tamanho semelhante. Por outro lado, o CHC e até mesmo o colangiocarcinoma, usualmente, possuem uma lesão dominante circundada ou não pode pequenas lesões satélites; USG, TC e RM identificam facilmente as metástases hepáticas, proporcionando confirmação por biópsia hepática guiada por um desses métodos; Na imensa maioria das vezes, a presença de metástases hepáticas representa doença avançada. O carcinoma metastático colorretal e as metástases hepáticas de tumores neuroendócrinos constituem exceções; Sobrevida em cinco anos de até 40% tem sido relatada após ressecção cirúrgica de metástases provenientes de CCR restritas ao fígado; Tumores não ressecáveis podem responder a QxT com fluoropirimidinas por via sistêmicas ou através da artéria hepática. Há, também, a possibilidade de, após um ciclo de QxT sistêmica, as lesões tornarem-se ressecáveis; Os tumores neuroendócrinos do TGI frequentemente enviam metástases hepáticas de crescimento lento, mas que podem produzir sintomas associados à síndrome carcinoide ou de Zollinger-Ellison. Pode-se realizar a ressecção cirúrgica das metástases hepáticas, com ou sem embolização arterial. TOF é outra opção.
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