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DESENVOLVIMENTO E APRENDIZADO - VYGOTSKY Resumo do capítulo 4 do livro “Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento” da Marta Kohl Abordagem Genética: adotada por Vygotsky, busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual. Vygotsky não ofereceu uma interpretação completa do percurso psicológico do ser humano, mas sim reflexões e dados de pesquisa sobre vários aspectos do desenvolvimento. Para ele, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas. É o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que só ocorrem a partir do contato com certo ambiente cultural. → Ex.: uma criança que nasce em um ambiente exclusivamente formado de surdos e mudos não desenvolveria a linguagem, mesmo que tivesse todos os requisitos inatos necessários para isso. Aprendizagem: processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, meio e outras pessoas. Não é inato. Inclui aquele que aprende, quem ensina e a relação. CONCEITO DE ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL Deve se olhar também pra frente, para o que ainda não aconteceu e é aí que irá entrar a intervenção pedagógica e ação educativa. Para explicar a ZDP, ele traz mais dois conceitos: 1. Nível de desenvolvimento real: capacidade de realizar tarefas de forma independente, sem ajuda. Etapas já alcançadas. 2. Nível de desenvolvimento potencial: capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outro. A criança ainda não tem mas está próximo de acontecer. São as coisas que ela consegue fazer mas com ajuda. Importância da interação social. E entre esses dois conceitos está a zona de desenvolvimento proximal. Para ele é ali onde está ocorrendo o desenvolvimento e é onde cabe o dedo da educação. Não é um conceito instrumental por ser muito flexível e complexo, não é visível na prática. Serve para ajudar a compreender o desenvolvimento. É o caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas. PAPEL DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA É na zona de desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos é a mais transformadora. Escola: Se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, então a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico do adulto. O desempenho desse papel, porém, só se dá conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos e a escola dirigir o ensino não por etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimentos ainda não incorporados pelos alunos. → O processo de ensino terá como ponto de partida o nível de desenvolvimento real e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola levando em consideração as possibilidades individuais – nível potencial. → A interação entre os alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças, assim como recorrer aos professores e pais. → Qualquer modalidade de interação social, quando integrada num contexto voltado para a promoção de aprendizado e desenvolvimento, poderia ser utilizada não ambiente escolar. Professor: tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. Embora Vygotsky enfatize o papel da intervenção no desenvolvimento, seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos. A constante recriação da cultura por parte de cada um dos seus membros é a base do processo histórico. Imitação: não é mera cópia de um modelo, mas sim a reconstrução individual daquilo que é observado nos outros. → Ao imitar a escrita de um adulto, a criança está promovendo o amadurecimento de processos de desenvolvimento que a levarão ao aprendizado da escrita. → Só é possível a imitação de ações que estão dentro da zona de desenvolvimento proximal do sujeito. BRINQUEDO E DESENVOLVIMENTO O brinquedo também cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, tendo influência em seu desenvolvimento. O comportamento das crianças pequenas é fortemente determinado pelas características das situações concretas em que elas se encontram. Vygotsky refere-se muito à brincadeira de “faz de conta”, na qual a criança é levada a agir num mundo imaginário onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes. → A criança se relaciona com o significado e não com o objeto; representação da realidade. O brinquedo provê uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações com significados. Mesmo sendo uma situação imaginária, o brinquedo também é uma atividade regida por regras na qual não é qualquer comportamento que é aceitável. No brinquedo, a criança comporta-se de maneira mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado. A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, terão função pedagógica. A EVOLUÇÃO DA ESCRITA NA CRIANÇA Enquanto produção histórica, a escrita pode ser um sistema altamente tecnológico, desenvolvido e complexo do pensamento humano. Para Vygotsky, a escrita é muito mais que um conjunto de letras e sons, é na verdade produto da capacidade de representação simbólica dos pensamentos que transforma sons em símbolos, cuja interação materializa as palavras que poderão ser lidas por outros. O Processo de apropriação da escrita se dá: → Tentativas de grafismo → Imitação da escrita adulta → Desenhos → Mistura de desenhos → Números e letras Vygotsky critica o ensino pela repetição de sons e letras, ao fazer isso, se nega a criança a compreensão do sentido da escrita e sua importância. Ao longo da história, o cérebro humano foi adquirindo a capacidade de registrar e fazer uso da relação grafo fonêmica (letras e fonemas). O aprendizado da escrita não se dá mecanicamente, mas por uma atividade consciente de modo que não basta repetir e memorizar unidades sonoras. UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS Os estudos de Vygotsky também são muito relevantes para a construção de uma escola para todos: democrática e inclusiva. Apenas no século XIX que os profissionais da educação se interessaram pela educação de pessoas consideradas “anormais” (termo empregado na época). Os estudos de Vygotsky sobre pensamento e linguagem foram importantes para se reconhecer a importância da criação e sistematização das línguas de sinais por pessoas surdas. Sobre a deficiência intelectual, ele destaca que o desenvolvimento dessas pessoas não é inferior, mas apenas diferente. Entendia as deficiências como um estado funcional do homem passível de mudanças que dependiam da interação com outros objetos de aprendizagem, pessoas e culturas, permitindo assim o desenvolvimento das funções superiores. A partir de sua teoria, o sujeito com deficiência passa a ser visto pelas suas habilidades e potencialidades e não apenas por suas limitações e desvantagens cognitivas. Para ele, nenhuma deficiência é algo estático ou irreversível, mas o cérebro humano pode se reorganizar por meio de processos de compensação. → Plasticidade cerebral atua com um dispositivo que reestrutura os mecanismos neurológicos permitindo que esquemas neurais assumam funções que originalmente não possuíam. → A interação social seria grande mediadora nesse processo. → A deficiência não afeta igualmente todas as funções psicológicas das pessoas que possuem essas deficiências.
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