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Clinica pastoral

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[DIGITE TEXTO] 
 
 1 
 
CLÍNICA 
PASTORAL 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
CLÍNICA 
PASTORAL 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
3 
CONTEÚDO 
 
CAPÍTULO 01 .................................................................................................................... 6 
A IGREJA E O ACONSELHAMENTO ............................................................................ 6 
A. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 
B. A DIFÍCIL ARTE DO ACONSELHAMENTO ................................................................ 7 
C. O EXEMPLO DE JESUS NO ACONSELHAMENTO ................................................ 10 
CAPÍTULO 02 .................................................................................................................. 14 
A IGREJA COMO UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA ............................................. 14 
A. A IGREJA CUMPRINDO O SEU PAPEL TERAPÊUTICO ........................................ 14 
B. A RAZÃO DE SER DA IGREJA ................................................................................. 16 
CAPÍTULO 03 .................................................................................................................. 18 
A PSICOLOGIA PODE AJUDAR? ................................................................................ 18 
A. A PSICOLOGIA NA ÁREA DO ACONSELHAMENTO .............................................. 18 
B. A VERDADE DESCOBERTA E A VERDADE REVELADA ....................................... 20 
C. A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DE RECEITAS ............................................................. 21 
CAPÍTULO 04 .................................................................................................................. 24 
O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO ......................................................................... 24 
A. AS NECESSIDADES HUMANAS .............................................................................. 24 
B. A VIDA ABUNDANTE ................................................................................................. 26 
C. ALVOS A SER ALCANÇADOS NO ACONSELHAMENTO ...................................... 27 
CAPÍTULO 05 .................................................................................................................. 30 
QUALIFICAÇÕES DOS CONSELHEIROS EFICAZES ................................................ 30 
A. UM BOM CONSELHEIRO.......................................................................................... 30 
B. OUTRAS QUALIFICAÇÕES DE UM CONSELHEIRO EFICIENTE.......................... 31 
CAPÍTULO 06 .................................................................................................................. 34 
TÉCNICAS DE ACONSELHAMENTO .......................................................................... 34 
A. O QUE É ACONSELHAMENTO? .............................................................................. 34 
CAPÍTULO 07 .................................................................................................................. 42 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
4 
O PROCESSO DO ACONSELHAMENTO ................................................................... 42 
A. O QUE O ACONSELHAMENTO NÃO É ................................................................... 42 
B. TAREFA-DE-CASA NO ACONSELHAMENTO ......................................................... 44 
CAPÍTULO 08 .................................................................................................................. 50 
O CONSELHEIRO E O ACONSELHAMENTO ............................................................. 50 
A. O ACONSELHAMENTO É GRATIFICANTE E ARRISCADO ................................... 50 
B. A MOTIVAÇÃO E O CONSELHEIRO ........................................................................ 51 
CAPÍTULO 09 .................................................................................................................. 54 
A EFICÁCIA DO CONSELHEIRO ................................................................................ 54 
A. TODO CRISTÃO É UM BOM CONSELHEIRO? ....................................................... 54 
B. O PAPEL DO CONSELHEIRO .................................................................................. 55 
CAPÍTULO 10 .................................................................................................................. 62 
A VULNERABILIDADE DO CONSELHEIRO ................................................................ 62 
A. RAZÕES PARA A FRUSTRAÇÃO DE UM CONSELHEIRO .................................... 62 
CAPÍTULO 11 .................................................................................................................. 68 
A SEXUALIDADE DO CONSELHEIRO ........................................................................ 68 
A. A ATRAÇÃO SEXUAL ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO ...................... 68 
B. O AUTOCONTROLE DO CONSELHEIRO ................................................................ 69 
CAPÍTULO 12 .................................................................................................................. 76 
A ÉTICA DO CONSELHEIRO ...................................................................................... 76 
A. O CÓDIGO DE ÉTICA DO CONSELHEIRO CRISTÃO ............................................ 76 
B. A “QUEIMA” DO CONSELHEIRO .............................................................................. 78 
C. O CONSELHEIRO DOS CONSELHEIROS ............................................................... 80 
CAPÍTULO 13 .................................................................................................................. 84 
AS CRISES NO ACONSELHAMENTO ........................................................................ 84 
A. EXPERIMENTANDO OS ALTOS E BAIXOS ESPIRITUAIS ..................................... 84 
B. A BÍBLIA E OS TIPOS DE CRISE ............................................................................. 86 
CAPÍTULO 14 .................................................................................................................. 90 
INTERVENÇÃO NAS CRISES ..................................................................................... 90 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
5 
A. O ACONSELHAMENTO EM SITUAÇÕES CRÍTICAS TEM VÁRIOS OBJETIVOS. 90 
B. COMPREENDENDO A DIVERSIDADE NO ACONSELHAMENTO ......................... 91 
C. ENCAMINHAMENTO ................................................................................................. 98 
CAPÍTULO 15 ................................................................................................................ 102 
O FUTURO DO ACONSELHAMENTO ....................................................................... 102 
A. A DIVISÃO DO ACONSELHAMENTO ..................................................................... 102 
B. A INVERSÃO DOS PAPEIS DO ACONSELHAMENTO ......................................... 103 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 106 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
6 
CAPÍTULO 01 
 
A IGREJA E O ACONSELHAMENTO 
 
 
A. INTRODUÇÃO 
Algum tempo atrás um pastor escreveu um artigo provocante sob o 
título, "O Aconselhamento é Uma Perda de Tempo". Frustrado pelo 
seu pouco êxito no aconselhamento, o escritor queixou-se de gastar 
“horas e mais horas”... falando ad infinitum com grande número de 
pessoas que simplesmente não seguem seus “conselhos pastorais”. 
O líder da igreja foi suficientemente sincero para reconhecer que seu 
insucesso talvez resultasse do fato dele não ter as qualificações 
necessárias para aconselhar com eficácia. Concordou também que 
existe lugar para discussões doutrinárias e bíblicas entre um ministro 
e um membro, para falar sobre o casamento com os que estão se 
aproximandodo altar, ou para ministrar pessoalmente aos doentes e 
aos que sofrem. Mas concluiu que não há lugar para "o 
aconselhamento pastoral tradicional tão pouco produtivo". 
Uma conclusão semelhante foi expressa recentemente pelo 
presidente de uma faculdade quando afirmou que "a única razão dos 
pastores aconselharem é com o intuito de desempenhar o papel de 
psiquiatras e alimentar o seu ego de maneira pouco saudável". Os 
pastores devem restringir-se à pregação e evitar o aconselhamento, 
afirmou o educador em questão, sem lembrar-se aparentemente de 
que a pregação pode também incentivar o ego e que os motivos 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
7 
pouco sadios tendem a anuviar qualquer atividade, e não apenas o 
aconselhamento. Ao continuarmos nossa discussão, ele não disse 
como um pastor ou outro líder da igreja poderia ministrar às pessoas, 
cuidar de suas necessidades e mesmo assim evitar ajudá-las numa 
base individual ou em grupos pequenos. 
Em um de seus primeiros livros Wayne Oates escreveu a este 
respeito com surpreendente clareza: 
• O pastor, sem levar em conta o seu treinamento, não tem o 
privilégio de escolher se irá ou não aconselhar o seu povo. Eles 
inevitavelmente levam-lhe os seus problemas, a fim de obter 
orientação e cuidado. Não é possível evitar tal coisa caso 
permaneça no ministério pastoral. A sua escolha não é feita entre 
aconselhar ou não aconselhar, mas entre aconselhar de maneira 
disciplinada e hábil ou aconselhar de modo indisciplinado e inábil. 
 
 
B. A DIFÍCIL ARTE DO ACONSELHAMENTO 
Infelizmente, não é fácil aconselhar de forma disciplinada e hábil. 
Milhares de técnicas de aconselhamento acham-se literalmente em 
uso; livros sobre terapia e ajuda às pessoas são impressos com 
inquietante regularidade; existem quase tantas teorias e abordagens 
ao aconselhamento quanto conselheiros; e mesmo com toda esta 
informação e atividade até mesmo o conselheiro de tempo integral 
pode sentir-se confuso. 
Seria ótimo se todas essas publicações, teorias e treinamentos 
ajudassem realmente os conselheiros a serem mais eficazes, mas 
parte dos chamados "auxílios de aconselhamento" não tem na 
verdade muito valor. Até mesmo os conselheiros bem treinados e 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
8 
experimentados, que se mantêm em dia com a literatura profissional 
e aplicam as mais modernas técnicas descobrem que seus 
aconselhados nem sempre melhoram. Não é difícil de entender, 
portanto, que alguns desistam concluindo que o aconselhamento é 
realmente uma perda de tempo. 
Se todos desistissem, porém, para onde iriam as pessoas com os 
seus problemas? 
Jesus, que é o exemplo do cristão, passou muito tempo falando com 
as pessoas necessitadas, em grupos e em contato face a face. 
O apóstolo Paulo, que era muito sensível às necessidades dos 
indivíduos sofredores, escreveu: 
• "Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as debilidades dos 
fracos, e não agradar-nos a nós mesmos" (Rm 15.1). 
Paulo escrevia provavelmente aqui sobre os que tinham dúvidas e 
temores, mas seu cuidado compassivo estendeu-se a quase todas as 
áreas de problemas que poderiam ser encontradas hoje. A ajuda às 
pessoas não é apresentada na Bíblia como uma opção, mas como 
uma exigência para todo crente, inclusive o líder da igreja. O 
aconselhamento pode parecer às vezes uma perda de tempo, mas 
deve constituir uma parte importante do ministério, necessária e 
biblicamente estabelecida. 
A fim de ajudar as pessoas, o aconselhamento busca estimular o 
desenvolvimento da personalidade: 
• Ajudar os indivíduos a enfrentarem mais eficazmente os 
problemas da vida, os conflitos íntimos e as emoções prejudiciais; 
• Prover encorajamento e orientação para aqueles que tenham 
perdido alguém querido ou estejam sofrendo uma decepção; e, 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
9 
• Para assistir às pessoas cujo padrão de vida lhes cause 
frustração e infelicidade. 
Além disso, o conselheiro cristão busca levar o indivíduo a uma 
relação pessoal com Jesus Cristo e seu alvo é ajudar outros a se 
tornarem, primeiramente, discípulos de Cristo e depois discipularem 
outros. 
Para alcançar esses objetivos, é importante que os conselheiros se 
familiarizem com os problemas (como surgem e como podem ser 
resolvidos), assim como com as técnicas de aconselhamento. Se 
porém dermos crédito às pesquisas recentes, as características 
pessoais dos conselheiros parecem ter ainda maior significado. 
Depois de rever quase 100 estudos sobre a eficácia do 
aconselhamento, uma dupla de autores concluiu que as técnicas 
terapêuticas só podem atuar quando o conselheiro possui uma 
personalidade "inerentemente positiva" — isto é, caracterizada por 
cordialidade, sensibilidade, compreensão, cuidado, e a disposição de 
confrontar as pessoas em uma atitude de amor. 
Um psicológico chamado C. H. Patterson chegou a uma conclusão 
similar depois de escrever um livro profundo sobre as teorias 
contemporâneas do aconselhamento: 
• A fim de ser mais eficaz o terapeuta deve ser uma pessoa real, 
humana... Oferecendo um relacionamento genuinamente 
humano... Grande parte da atuação dos terapeutas é supérflua 
ou não tem relação com sua eficiência; de fato, muito de seu 
sucesso não tem qualquer ligação com o que fazem ou 
acontecem do que fazem desde que ofereçam a relação que os 
terapeutas de opiniões muito diferentes parecem fornecer... 
Trata-se de uma relação que não se caracteriza tanto pelas 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
10 
técnicas usadas pelo terapeuta, mas pelo que ele é; não é tanto 
pelo que ele faz, mas pela maneira como o faz. 
 
C. O EXEMPLO DE JESUS NO ACONSELHAMENTO 
Jesus é certamente o melhor exemplo que possuímos de um 
"maravilhoso conselheiro” cuja personalidade, conhecimento e 
habilidade capacitaram-no eficazmente para assistir as pessoas que 
precisavam de ajuda. 
Quando tentamos analisar o aconselhamento de Jesus, existe 
sempre a tendência, inconsciente ou deliberada, de encarar o 
ministério de Cristo de modo a reforçar nossas próprias opiniões 
sobre como as pessoas são ajudadas. 
O conselheiro diretivo-confrontacional, reconhece que Jesus tinha às 
vezes esta qualidade; o não diretivo, "centrado no cliente", encontra 
apoio para esta abordagem em outros exemplos de ajuda aos 
necessitados prestada por Jesus. 
É indiscutivelmente mais exato afirmar que Jesus fez uso de várias 
técnicas de aconselhamento, dependendo da situação, da natureza 
do aconselhado e do problema específico. Ele algumas vezes ouvia 
cuidadosamente as pessoas sem dar muita orientação, às claras, 
mas em outras ocasiões ensinava incisivamente. Ele encorajava e 
apoiava, embora também confrontasse e desafiasse. Jesus aceitava 
pessoas pecadoras e necessitadas, mas também exigia 
arrependimento, obediência e ação. 
A personalidade de Jesus era, entretanto, básica ao seu estilo de 
ajuda. Ele demonstrou em seu ensino, cuidado e aconselhamento 
naqueles traços, atitudes e valores que o tornaram eficaz como 
ajudador das pessoas e que servem de modelo para nós. Jesus era 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
11 
absolutamente honesto, profundamente compassivo, altamente 
sensível e espiritualmente amadurecido. 
Ele dedicou-se a servir seu Pai celestial e seus semelhantes (nessa 
ordem), preparou-se para sua obra mediante períodos frequentes de 
oração e meditação, conhecia profundamente as Escrituras, e buscou 
ajudar as pessoas necessitadas a se voltarem para ele, onde podiam 
encontrar paz, esperança e segurança. 
Jesus servia muitas vezes as pessoas através de sermões, mas 
também combateu os céticos, desafiou os indivíduos, curou os 
doentes, falou com os necessitados, encorajou os desanimados e 
deu exemplo de um estilo de vida santo. 
Em seus contatos com o povo, ele compartilhou exemplos tirados de 
situações reais e buscou constantemente estimular outros a 
pensarem e agirem de acordo com os princípios divinos. Ele 
aparentementeacreditava que alguns precisam de ouvido 
compreensivo que lhes dê atenção e consolo, e que discutam o 
problema, antes de poderem aprender através do confronto, desafio, 
conselhos ou pregação pública. 
De acordo com a Bíblia, os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo 
nos ordenou e ensinou. Isto inclui certamente doutrinas a respeito de 
Deus, autoridade, salvação, crescimento espiritual, oração, a igreja, o 
futuro, anjos, demônios e a natureza humana. Todavia, Jesus 
também ensinou sobre o casamento, interação entre pais e filhos, 
obediência, relação entre raças, e liberdade tanto para homens como 
para mulheres. Ele ensinou igualmente sobre assuntos pessoais 
como sexo, ansiedade, medo, solidão, dúvida, orgulho, pecado e 
desânimo. 
Todas essas são questões que levam as pessoas a procurar o 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
12 
aconselhamento hoje. Quando Jesus tratava com essas pessoas ele 
frequentemente ouvia suas perguntas e as aceitava antes de 
estimulá-las a pensar ou agir de modo diferente. Às vezes dizia o que 
deveriam fazer, mas também orientava as pessoas para que 
resolvessem os seus problemas através de indagações hábeis e 
divinamente orientadas. Tome foi ajudado em sua dúvida quando 
Jesus mostrou-lhe a evidência; Pedro aparentemente aprendeu 
melhor por refletir (com Jesus) sobre os seus erros; Maria de Betânia 
aprendeu ouvindo; e Judas parece que não aprendeu nada. 
Ensinar tudo o que Cristo ensinou, portanto, inclui instrução na 
doutrina, mas abrange também ajudar as pessoas a se entenderem 
melhor com Deus, com o próximo e consigo mesmas. Essas são 
questões que se referem a todos praticamente. Alguns aprendem 
através de palestras, sermões ou livros; outros pelo estudo pessoal 
da Bíblia ou discussões; outros ainda aprendem através de 
aconselhamento formal ou informal; e talvez a maioria de nós tenha 
aprendido mediante uma combinação dos elementos acima. 
No centro de toda ajuda cristã, particular ou pública, acha-se a 
influência do Espírito Santo. Ele é descrito como um consolador ou 
ajudador que ensina "todas as coisas", nos faz lembrar das palavras 
de Jesus, convence as pessoas do pecado, e nos guia a toda a 
verdade.8 Através da oração, meditação sobre as Escrituras e 
entrega deliberada a Cristo todos os dias, o conselheiro-professor se 
coloca à disposição como um instrumento mediante o qual o Espírito 
Santo pode operar, ajudar, ensinar, convencer ou guiar outro ser 
humano. Este deve ser o alvo de todo crente - pastor ou leigo, 
conselheiro profissional ou ajudador leigo: ser usado pelo Espírito 
Santo para tocar vidas, modificá-las e levá-las em direção à 
maturidade tanto espiritual como psicológica. 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
14 
CAPÍTULO 02 
 
A IGREJA COMO UMA COMUNIDADE 
TERAPÊUTICA 
 
 
A. A IGREJA CUMPRINDO O SEU PAPEL TERAPÊUTICO 
Como vimos, Jesus falou com frequência a indivíduos sobre as suas 
necessidades pessoais e ele se reunia muitas vezes com pequenos 
grupos. O principal entre estes era o grupinho de discípulos que ele 
preparou para "tomar seu lugar" depois da sua ascensão ao céu. Foi 
durante uma dessas ocasiões em que estava com os discípulos que 
Jesus mencionou a igreja pela primeira vez. 
Nos anos que se seguiram foi esta igreja de Jesus Cristo que 
continuou seu ministério de ensino, evangelização, serviço e 
aconselhamento. Essas atividades não foram vistas como 
responsabilidade especial de líderes eclesiásticos do tipo "superstar"; 
mas sim por crentes comuns trabalhando, compartilhando e cuidando 
uns dos outros e dos incrédulos fora do corpo. Se lermos o livro de 
Atos10 e as Epístolas torna-se aparente que igreja não era apenas 
uma comunidade de evangelização, ensino, discipulado, mas 
também uma comunidade terapêutica. 
 
1. GRUPOS TERAPEUTICOS 
Em anos recentes, profissionais de saúde mental passaram a 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
15 
apreciar o valor de grupos terapêuticos em que os membros se 
ajudam uns aos outros provendo apoio, desafio, orientação e 
encorajamento que não seria possível de outra forma. Como é 
natural, tais grupos podem ser prejudiciais, especialmente quando 
se transformam em encontros não-controlados que buscam criticar 
e embaraçar os participantes em lugar de defecá-los ou desafiá-
los à franqueza ou ação eficaz. Quando conduzidas por um líder 
sensível as sessões em grupo podem ser, porém, experiências 
terapêuticas grandemente eficazes para todos os envolvidos. 
 
2. GRUPOS DIVERSIFICADOS 
Tais grupos terapêuticos não precisam limitar-se às reuniões de 
aconselhados e um conselheiro. Famílias, grupos de estudo, 
amigos dignos de confiança, colegas de profissão, grupos de 
empregados e outros pequenos conjuntos de pessoas 
frequentemente fornecem a ajuda necessária tanto nas crises 
como quando os indivíduos enfrentam os desafios diários da vida. 
Em toda sociedade, porém, é a igreja que possui o maior potencial 
como comunidade terapêutica. Os corpos locais de crentes podem 
oferecer apoio aos membros, cura aos indivíduos perturbados e 
orientação quando as pessoas tomam decisões e seguem em 
direção à maturidade. 
 
3. O UFANISMO DA IGREJA VERSUS NECESSIDADE DE 
COMPREENDER A DOR DO PRÓXIMO 
Livros recentes sobre a igreja têm apresentado alguns títulos 
intrigantes: 
• A Comunhão dos Santos; Uma Comunhão Viva - Um 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
16 
Testemunho Dinâmico; A Comunidade Incendiaria; 0 Corpo de 
Cristo; A Companhia dos Dedicados... 
• Em contraste com este tom otimista, é provável que para muitos 
a igreja contemporânea seja mais exatamente descrita como 
Uma Reunião de Estranhos, com Bancos Cheios e Pessoas 
Solitárias. 
• O corpo de crentes, que possui potencial para ser uma 
comunidade dinâmica, produzindo crescimento, demasiada 
vezes degenera em um grupo de pessoas indiferentes que 
jamais admite ter necessidades ou problemas, assistindo aos 
cultos por simples hábito, e deixando a maior parte das ati-
vidades a cargo de um pastor sobrecarregado. Tal quadro 
talvez seja exagerado, mas para muitos a igreja local não 
representa ajuda ou não tem grande significado. Esta não foi 
seguramente a intenção de Cristo quando a igreja foi 
estabelecida no princípio. 
 
B. A RAZÃO DE SER DA IGREJA 
Por que a igreja foi iniciada? A resposta com certeza se encontra nas 
últimas palavras de Jesus e seus seguidores, quando voltou ao céu: 
• “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-
os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-
os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis 
que estou convosco até à consumação do século”. 
A igreja foi estabelecida a fim de cumprir a grande comissão de fazer 
discípulos (que inclui evangelização) e ensinar. Ela é agora 
encabeçada por Jesus Cristo que nos mostrou como evangelizar e 
ensinar, quem, pela sua vida e instrução, nos indicou os aspectos 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
17 
tanto práticos como teóricos do cristianismo e que resumiu seus 
ensinamentos em duas leis: amar a Deus e amar ao próximo. 
Tudo isto deve ter lugar dentro dos limites de um grupo de crentes, 
tendo cada um recebido os dons e habilidades necessários para 
edificar a igreja. Como um grupo, guiado por um pastor, os crentes 
dirigem sua atenção e suas atividades para o alto, através da 
adoração a Deus; para o exterior, mediante a evangelização, e para o 
interior através da fraternidade e mútua divisão das cargas. Quando 
falta um desses elementos, o grupo fica desequilibrado e os crentes 
incompletos. 
Os capítulos restantes deste livro foram escritos no sentido de assistir 
aos pastores, estudantes e outros líderes da igreja em um importante 
aspecto do trabalho da mesma: suportar as dificuldades. Os tópicos 
discutidos neste livro estão entre as áreas de problemas enfrentadas 
com maior frequência tanto por cristãos como não-cristãos: 
problemasque interferem na adoração, evangelização, ensino e 
fraternidade. 
Para cada um deles consideraremos a origem dos problemas, como 
as pessoas são afetadas por eles, como podem ser reduzidos ou 
eliminados especialmente através do aconselhamento, como 
podemos evitar sua recorrência e onde obter mais informação. Os 
capítulos irão resumir o ensino bíblico sobre esses assuntos, 
baseando-se em pesquisas e perspectivas psicológicas recentes. 
 
 
 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
18 
CAPÍTULO 03 
 
A PSICOLOGIA PODE AJUDAR? 
 
 
A. A PSICOLOGIA NA ÁREA DO ACONSELHAMENTO 
A fim de aumentar a eficácia no aconselhamento, muitos líderes de 
igreja têm procurado as opiniões de psicólogos e outros profissionais 
que cuidam da saúde mental. A psicologia é naturalmente um campo 
de estudo altamente complexo e popular hoje em dia, tratando tanto 
do comportamento animal como humano. 
O estudante universitário que faz um curso introdutório à psicologia 
geral encontra com frequência uma porção de estatísticas, termos 
técnicos e "dados científicos" sobre inúmeros tópicos aparentemente 
sem importância. 
Os cursos em nível de seminário sobre o aconselhamento pastoral 
tendem a ser mais relevantes e concentrados nas pessoas. Mesmo 
assim o estudante talvez se perca num labirinto de teorias e técnicas 
pouco proveitosas quando se depara com um ser humano confuso e 
sofrendo. 
 
1. A REJEIÇÃO DA PSICOLOGIA 
Isto levou alguns escritores a rejeitarem a psicologia, inclusive a 
área do aconselhamento e a concluir que a Bíblia é tudo que o 
cristão interessado em ajudar as pessoas precisa. Jay Adams, por 
exemplo, argumenta que os psiquiatras (e provavelmente os 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
19 
psicólogos) usurparam o lugar dos pregadores e acham-se 
perigosamente tentando modificar o comportamento das pessoas 
e seus valores de maneira ímpia. Escrevendo aos pastores, 
Adams afirma que "estudando a Palavra de Deus cuidadosamente 
e observando como os princípios bíblicos descrevem as pessoas 
que você aconselha... é possível adquirir toda a informação e 
experiência de que precisa para tomar-se um conselheiro cristão 
competente e confiante sem estudar psicologia."16 Este escritor de 
influência não vê qualquer possibilidade da psicologia ou ramos 
afins virem a auxiliar o líder de igreja a aconselhar mais 
eficazmente. 
 
2. A BÍBLIA É UM MANUAL DE ACONSELHAMENTO? 
Será, porém que a Bíblia foi realmente escrita como um manual de 
aconselhamento? Ela trata de solidão, desânimo, problemas 
conjugais, tristeza, relações entre pais e filhos, ira, medo e 
inúmeras outras situações de aconselhamento. Como a Palavra de 
Deus, ela tem grande e duradoura importância para o trabalho do 
conselheiro e as necessidades dos aconselhados, mas não 
reivindica ser (nem é esse o seu propósito) a única revelação de 
Deus sobre a ajuda às pessoas. Na medicina, no ensino e noutros 
campos de assistência "centralizados na pessoa", a humanidade 
teve permissão para aprender muito a respeito da criação de Deus 
através da ciência e estudo acadêmico. Por que a psicologia 
deveria ser então destacada como o único campo que nada tem a 
contribuir com a tarefa do conselheiro? 
 
3. PSICOLOGIA – O ESTUDO DO COMPORTAMENTO HUMANO 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
20 
Como um campo de estudo, a psicologia científica tem cerca de 
100 anos de idade. Durante o século passado, Deus permitiu que 
os psicólogos desenvolvessem instrumentos de pesquisa para o 
estudo do comportamento humano e publicações profissionais 
para apresentarem suas descobertas. Centenas de milhares de 
pessoas buscaram ajuda e os conselheiros profissionais 
aprenderam o que faz as pessoas reagirem e como podem mudar. 
Nosso conhecimento está longe de ser completo e perfeito, mas a 
pesquisa psicológica cuidadosa e a análise de dados levaram a 
um vasto reservatório de conclusões sabidamente úteis aos 
aconselhados e a quem quer que se disponha a ajudar 
eficazmente as pessoas. Até mesmo os que querem por de lado o 
campo da psicologia, usam frequentemente termos psicológicos 
em seus escritos e técnicas de origem psicológica em seu 
aconselhamento. 
 
B. A VERDADE DESCOBERTA E A VERDADE REVELADA 
Muitas vezes obras de cientistas sociais na suposição que toda 
verdade tem origem em Deus, inclusive a verdade sobre as pessoas 
por Ele criadas. Deus revelou esta verdade através da Bíblia, a sua 
Palavra escrita à humanidade, mas também permitiu-nos descobrir a 
verdade mediante a experiência e os métodos de investigação 
científica. A verdade descoberta deve estar sempre de acordo e ser 
confrontada com o padrão da verdade bíblica revelada. 
Limitamos nossa eficácia no aconselhamento quando assumimos que 
as descobertas da psicologia nada têm a contribuir para a 
compreensão e solução dos problemas. Comprometemos nossa 
integridade quando rejeitamos abertamente a psicologia, mas a 
seguir introduzimos clandestinamente os seus conceitos em nosso 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
21 
aconselhamento — algumas vezes ingenuamente e sem sequer 
perceber o que estamos fazendo. 
Vamos aceitar o fato de que a psicologia pode ser de grande ajuda 
para o conselheiro cristão. Como então atravessar o pântano de 
técnicas, teorias, e termos técnicos para descobrir os pontos 
realmente úteis? A resposta envolve nossa descoberta de um guia — 
alguma pessoa ou pessoas que sejam seguidores dedicados de 
Jesus Cristo, familiarizadas com a literatura no ramo da psicologia e 
aconselhamento, treinada neste mister e nos métodos de pesquisa (a 
fim de que a exatidão científica das conclusões dos psicólogos possa 
ser avaliada), e eficazes como conselheiros. Um ponto de crucial 
importância é os líderes aceitarem a inspiração e autoridade da Bíblia 
como o padrão contra o qual toda psicologia deve ser testada assim 
como em seu papel de Palavra escrita de Deus, com a qual todo 
conselho válido deve concordar. 
 
C. A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DE RECEITAS 
A Bíblia não é um livro de receitas infalíveis, destinado a produzir 
conselheiros geniais. Os seres humanos são demasiadamente 
complexos para poderem ser sempre mudados, mesmo mediante a 
intervenção dos mais hábeis conselheiros. Todos os que aconselham 
têm os seus insucessos, algumas vezes devido à sua própria 
inaptidão ou erro, outras, e com mais frequência, porque o 
aconselhado não pode ou não quer modificar-se. Mas as melhoras 
são mais prováveis quando o conselheiro tem algum conhecimento 
dos problemas e de como intervir. Os capítulos que se seguem foram 
escritos com o intuito de ajudar neste sentido. 
Antes, porém, de darmos início às nossas análises, vamos fazer uma 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
22 
pausa para ter uma visão geral das técnicas efetivas de 
aconselhamento. O capítulo seguinte servirá de introdução útil para o 
iniciante, e para o conselheiro experiente será apresentado como 
uma recapitulação e atualização. 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
23 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
24 
CAPÍTULO 04 
 
O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO 
 
 
A. AS NECESSIDADES HUMANAS 
A Bíblia é recheada de exemplos de necessidades humanas. Através 
de suas páginas lemos a respeito de: 
• Solidão 
• Desânimo 
• Dúvida 
• Tristeza 
• Inveja 
• Violência 
• Pobreza 
• Doença 
• Tensão interpessoal 
• Diversos outros problemas pessoais — algumas vezes 
manifestados na vida dos homens e mulheres mais 
consagrados. 
 
1. EXEMPLO DE JÓ 
Ele era um homem piedoso, conhecido, rico e grandemente 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
25 
respeitado por seus contemporâneos. De repente as coisas 
mudaram. Jó perdeu toda a sua riqueza. Sua família inteira morreu 
exceto sua mulher que, sob pressão, mostrou-se queixosa e 
implicante. Ele perdeu a saúde, os amigos pouco o ajudaram e 
Deus deve ter-lhe parecido muito remoto. 
Veio então Eliú, um jovem que deu atenção às palavras de Jó e o 
ouviu falar de suas dificuldades. Eliúcriticou os que haviam 
censurado e oferecido conselhos numa tentativa de ajuda. Ele 
mostrou aceitação e interesse, uma disposição humilde de nivelar-
se a Jó (sem uma atitude negativa de parecer "mais santo do que 
tu"), coragem para confrontar, e o desejo firme de dirigir o 
aconselhado a Deus que é o único soberano no universo. Eliú foi o 
único conselheiro que prestou auxilio. Ele teve êxito onde os três 
outros haviam falhado. 
 
2. CONSELHEIROS INEFICAZES 
Há vários anos atrás, um ex-presidente da Associação Americana 
de Psicologia calculou que ainda hoje, três entre cada quatro 
conselheiros são ineficazes. A proporção cresceu levemente 
segundo as descobertas de escritores mais recentes que 
estudaram a eficácia do aconselhamento. De acordo com esta 
pesquisa, podemos estar "bem certos" de que dois dentre cada 
três praticantes são ineficientes e até prejudiciais; desperdiçando 
energia, dedicação e cuidado. 
 
3. CONSELHEIROS EFICAZES 
Existem, porém conselheiros bem sucedidos, cujo 
aconselhamento é grandemente eficaz. Essas pessoas são 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
26 
caracterizadas por uma personalidade que irradia compreensão, 
sinceridade e aptidão para confrontar de maneira construtiva. 
Esses conselheiros são também hábeis na aplicação de técnicas 
que estimulam os aconselhados a se dirigirem para alvos 
terapêuticos específicos. Iniciaremos este capítulo com uma 
consideração desses alvos de aconselhamento, discutindo as 
qualificações de um ajudador eficaz, resumindo algumas técnicas 
básicas de aconselhamento, dando uma breve visão geral do 
processo de aconselhamento e concluindo com um exame das 
tarefas para casa ligadas ao processo em questão. 
 
B. A VIDA ABUNDANTE 
Certo dia em que ensinava a seus seguidores, Jesus contou a razão 
de sua vinda à terra: “dar-nos vida em abundância e em toda a sua 
plenitude” – Jo 10.10. Antes disso, no versículo que é hoje 
certamente o mais conhecido das Escrituras, Jesus falara sobre o 
propósito de Deus ao enviar o Filho — "para que todo o que nele crê 
não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). Jesus tinha, portanto, 
dois alvos para os indivíduos: 
• Vida abundante na terra, e 
• Vida eterna. 
O conselheiro que é um seguidor de Jesus tem o mesmo alvo ulterior 
e abrangente de mostrar às pessoas como ter uma vida abundante e 
apontar aos indivíduos a vida eterna prometida aos crentes. Note as 
palavras "ulterior" e "abrangente" na sentença anterior. Se levarmos a 
sério a grande comissão, desejaremos ansiosamente ver todos os 
nossos aconselhados se tomarem discípulos de Jesus. Se levarmos 
a sério as palavras de Jesus, provavelmente chegaremos à 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
27 
conclusão de que uma vida plena e abundante só é concedida 
àqueles que buscam viver de conformidade com os seus ensinos. 
Vamos reconhecer, porém, que existem muitos cristãos sinceros que 
terão uma vida eterna, mas não gozam de uma vida muito abundante 
na terra. Essas pessoas precisam de aconselhamento que envolva 
mais do que evangelização ou educação cristã tradicional. Tal 
aconselhamento poderia, por exemplo, ajudar os aconselhados a 
reconhecer as atitudes prejudiciais inconscientes, ensinar habilidades 
interpessoais e novos comportamentos, ou mostrar como mobilizar os 
recursos íntimos a fim de enfrentar uma crise. Tal aconselhamento 
pode às vezes, quando orientado pelo Espírito Santo, libertar o 
aconselhado de situações que o impedem de desenvolver-se até a 
maturidade cristã. No caso do incrédulo, tal aconselhamento pode 
servir como uma espécie de "pré-evangelização" para usar o termo 
de Schaeffer, que remove alguns dos obstáculos mais insidiosos à 
conversão. A evangelização e o discipulado são, portanto, os 
objetivos "ulteriores e abrangentes" do conselheiro, embora não 
sejam os únicos. 
 
C. ALVOS A SER ALCANÇADOS NO ACONSELHAMENTO 
Quais são alguns dos desses alvos? Qualquer lista pode incluir pelo 
menos os seguintes: 
 
1. AUTOCOMPREENÇÃO 
Compreender a si mesmo é, no geral, o primeiro passo para a 
cura. Muitos problemas são auto-impostos, mas a pessoa que está 
sendo ajudada talvez não reconheça que suas percepções são 
preconceituosas, suas atitudes prejudiciais e seu comportamento 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
28 
autodestrutivo. 
Considere, por exemplo, o indivíduo que se queixa: "Ninguém gos-
ta de mim", mas não percebe que sua reclamação é uma das 
razões de ser rejeitado por outros. Um dos alvos do 
aconselhamento é que um ajudador objetivo e alerta, auxilie os 
que estão sendo assistidos a obter um quadro real do que está 
passando em seu íntimo e no mundo que os rodeia. 
 
2. COMUNICAÇÃO 
É bem conhecido que muitos problemas no casamento estão 
relacionados com uma falta de comunicação entre os cônjuges. O 
mesmo se aplica a outros problemas. As pessoas são incapazes 
ou não estão dispostas a comunicar-se. O aconselhado precisa 
aprender a comunicar sentimentos, pensamentos e atitudes, 
correta e eficazmente. Tal comunicação envolve a expressão da 
pessoa e a capacidade de receber mensagens corretas por parte 
de outros. 
 
3. APRENDIZADO E MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO 
Quase todo, se não todo o nosso comportamento é aprendido. O 
aconselhamento, portanto, inclui ajuda no sentido de fazer com 
que o aconselhado desaprenda o comportamento negativo e 
aprenda meios mais eficientes de agir. Tal aprendizado vem 
através da instrução, da imitação de um conselheiro ou outro 
modelo, e da experiência e erro. O ajudador deve encorajar a 
pessoa que está auxiliando a "avançar", praticando o que 
aprendeu. Algumas vezes será também necessário analisar o que 
houve de errado quando ocorrer um fracasso e recomendar uma 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
29 
nova tentativa por parte do aconselhado. 
 
4. AUTOREALIZAÇÃO 
Escritores humanistas recentes têm enfatizado a importância de o 
indivíduo aprender a alcançar e manter o seu potencial máximo. 
Isto é chamado de "autoealização", sendo proposto por alguns 
conselheiros como o alvo de todos os seres humanos quer se 
achem ou não no ramo de aconselhamento. Para o cristão, um 
termo como "Cristo-realização" poderia ser substituído, indicando 
que o alvo na vida se completa em Cristo, desenvolvendo nosso 
mais elevado potencial mediante o poder do Espírito Santo que 
nos leva à maturidade espiritual. 
 
5. APOIO 
As pessoas com frequência conseguem alcançar cada um dos 
alvos acima e funcionar eficazmente, salvo em períodos 
temporários de tensão ou crise incomuns. Tais pessoas podem 
beneficiar-se de um período de apoio, encorajamento e "divisão de 
fardo", até que sejam capazes de remobilizar seus recursos 
pessoais e espirituais, a fim de enfrentar eficientemente os 
problemas da vida. 
Em qualquer tipo de aconselhamento é, no geral, útil quando 
conselheiro e aconselhado estabelecem alvos ou objetivos 
definidos para o aconselhamento. Esses alvos devem ser 
específicos e não vagos, realistas e (no caso de serem vários) 
organizados em alguma sequência lógica que identifique os pontos 
a serem atingidos em primeiro lugar e, talvez, por quanto tempo. 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
30 
CAPÍTULO 05 
 
QUALIFICAÇÕES DOS CONSELHEIROS EFICAZES 
 
 
 
A. UM BOM CONSELHEIRO 
O que faz de alguém um bom conselheiro? Num estudo de quatro 
anos conduzido com pacientes hospitalizados e vários conselheiros, 
foi descoberto que os pacientes melhoravam quando seus terapeutas 
mostravam um nível elevado de cordialidade, sinceridade e compre-
ensão empática correta. Quando faltavam essas qualidades ao 
conselheiro, os pacientes pioravam. Essas primeiras descobertas 
foram apoiadas por pesquisas subsequentes tanto com pacientes 
como com aconselhados não hospitalizados. As qualificações do 
conselheiro são de tal importância que vale a pena considerá-las em 
mais detalhe: 
 
1. CORDIALIDADE 
Este termo implica em cuidado, respeito ou preocupação sincera,sem excessos, pelo aconselhado — sem levar em conta seus atos 
ou atitudes. Jesus mostrou isto quando se encontrou com a mulher 
junto ao poço. As qualidades morais dela talvez deixassem a 
desejar, e ele certamente jamais aprovou o comportamento 
pecaminoso; mas, mesmo assim, Jesus respeitou a mulher e a 
tratou como pessoa de valor. Sua atitude calorosa, interessada 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
31 
deve ter sido aparente onde quer que fosse. 
 
2. SINCERIDADE 
O conselheiro sincero é "real" — uma pessoa aberta, franca, que 
evita o fingimento ou uma atitude de superioridade. A sinceridade 
implica em espontaneidade sem irreflexão e honestidade sem 
confrontação impiedosa. Isto significa que o ajudador é 
profundamente ele ou ela mesmo — não sendo do tipo que pensa 
ou sente uma coisa e diz algo diferente. 
 
3. EMPATIA 
Como o aconselhado pensa? Como ele se sente na verdade por 
dentro? Quais os valores, crenças, conflitos íntimos e mágoas do 
aconselhado? O bom conselheiro mostra-se sempre sensível a 
essas questões, capaz de entendê-las e comunicar eficazmente 
essa compreensão (por palavras ou gestos) ao aconselhado. Esta 
capacidade de "sentir com" o aconselhado é o que queremos dizer 
com compreensão empática correta. É possível ajudar as pessoas, 
mesmo quando não entendemos completamente, mas o 
conselheiro que consegue empatizar (especialmente no início do 
aconselhamento) tem mais probabilidade de tomar-se um ajudador 
eficaz de pessoas. 
 
B. OUTRAS QUALIFICAÇÕES DE UM CONSELHEIRO EFICIENTE 
Embora a cordialidade, sinceridade e empatia se achem entre os 
atributos mais frequentemente citados de um bom conselheiro, 
existem outras características importantes de ajuda. O bom 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
32 
conselheiro, por exemplo, é capaz de viver eficientemente, com 
poucos conflitos imobilizantes, desânimos, inseguranças ou 
problemas pessoais. 
O conselheiro eficiente é também compassivo, interessado nas 
pessoas, alerta em relação aos seus próprios sentimentos e motivos, 
revelando-se mais do que ocultando-se, e bem informado no setor de 
aconselhamento. O cristão poderia resumir tudo isto afirmando que o 
conselheiro deve ter amor. 
 
1. O MAIOR AGENTE TERAPÊUTICO 
O “amor” foi ressaltado há vários anos atrás num livro de Gordon 
Allport, professor da Faculdade de Harvard e ex-presidente da 
Associação Americana de Psicologia. Ele chamou o amor de 
"incomparavelmente o maior agente psicoterapêutico... algo que a 
psiquiatria profissional não pode criar por si mesma, nem focalizar, 
nem liberar." 
Allport sugeriu que o conselheiro secular muitas vezes não pode 
suprir o amor necessário ao aconselhado e é incapaz de receber o 
amor que este quer lhe dar. Será possível, sugeriu ele, que o 
cristianismo ofereça uma abordagem para a vida baseada 
inteiramente no amor e portanto possa ajudar onde o 
aconselhamento secular fracassa? Isto dá lugar a um desafio que 
leva o conselheiro cristão a refletir: um meio básico de ajudar é 
amar — pedir a Deus para amar as pessoas necessitadas através 
de nós e suplicar que nos conceda mais amor. 
 
2. O AMOR É SUFICIENTE? 
Mas, será o amor suficiente? Para algumas pessoas e em relação 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
33 
a alguns problemas, o amor basta; mas, quanto a outros mais 
ajuda é necessária. 
Há vários anos atrás um famoso psiquiatra infantil escreveu um 
livro com o título O Amor Não é Suficiente (Love Is Not Enough) e 
discutiu a importância da disciplina, da estrutura e outras 
influências terapêuticas. O ajudador cristão eficiente mostra amor. 
Isto é básico, fundamental. Mas ele ou ela também busca 
desenvolver qualificações terapêuticas e tenta tornar-se perito no 
conhecimento e uso das técnicas fundamentais de 
aconselhamento. 
 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
34 
CAPÍTULO 06 
 
TÉCNICAS DE ACONSELHAMENTO 
 
 
 
A. O QUE É ACONSELHAMENTO? 
O aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma 
pessoa, o ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas 
da vida. 
De modo diferente das discussões casuais entre amigos, a relação 
de ajuda, pelo menos para os profissionais, é caracterizada por um 
propósito claro — ajudar o aconselhado. As necessidades do 
ajudador são, na maior parte, satisfeitas em outra situação e ele não 
depende do aconselhado para receber amor, para afirmar-se ou ser 
ajudado. 
O conselheiro tenta remover seus próprios conflitos, tomar consciên-
cia das necessidades do aconselhado e comunicar tanto 
compreensão como sua vontade de ajudar. A ajuda pode ser um 
processo complicado, impossível de ser descrito em poucos pa-
rágrafos. Podemos, porém, resumir algumas das técnicas mais 
básicas utilizadas numa situação de ajuda. 
 
1. ATENÇÃO 
O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
35 
aconselhado. Isto é feito mediante: 
a. Contato de olhos — olhar sem arregalar os olhos, como um 
meio de transmitir interesse e compreensão; 
b. Postura, que deve ser relaxada e não tensa, e que geralmente 
envolve inclinar-se em direção ao aconselhado e, 
c. Gestos Naturais, mas não excessivos ou que provoquem 
distração. 
O conselheiro deve ser amável, bondoso, fortemente motivado à 
compreensão. Ele deve estar sempre vigilante quanto a algumas 
das distrações íntimas que nos impedem de oferecer atenção 
integral: fadiga, impaciência, preocupação com outros assuntos, 
devaneios e inquietação. A ajuda às pessoas é naturalmente 
difícil, sendo uma tarefa exigente que envolve sensibilidade, 
expressões genuínas de cuidado e estar sempre vigilante para 
atender a outrem tanto física como psicologicamente. 
 
2. OUVIR 
Isto abrange mais do que uma recepção passiva de mensagens. 
Segundo o psiquiatra Armand Nicholi, o ato de ouvir eficazmente 
envolve: 
a. Percepção suficiente e solução dos próprios conflitos a fim de 
evitar reagir de modo a interferir com a livre expressão dos 
pensamentos e sentimentos do aconselhado; 
b. Evitar expressões verbais ou não verbais dissimuladas de 
desprezo ou juízo com relação ao conteúdo da história do 
aconselhado, mesmo quando esse conteúdo ofenda a 
sensibilidade do conselheiro; 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
36 
c. Aguardar pacientemente durante períodos de silêncio ou 
lágrimas, enquanto o aconselhado se enche de coragem para 
aprofundar-se em assuntos penosos ou faz pausas para reunir 
seus pensamentos ou recuperar a compostura; 
d. Ouvir não apenas o que o aconselhado diz, mas aquilo que ele 
ou ela está tentando dizer ou deixou de dizer; 
e. Usar os olhos e ouvidos para captar as mensagens 
transmitidas pelo tom de voz, postura, e outras pistas não 
verbais; 
f. Analisar as próprias reações quanto ao aconselhado; 
g. Evitar desviar os olhos do aconselhado enquanto este fala; 
h. Sentar-se imóvel; 
i. Limitar o número de excursões mentais às próprias fantasias; 
j. Controlar os sentimentos em relação ao aconselhado que 
possam interferir com uma atitude de aceitação, simpatia, que 
não faz juízos antecipados; e 
k. Compreender que é possível aceitar plenamente o 
aconselhado sem aprovar ou sancionar atitudes e 
comportamento destrutivos para o aconselhado ou para outros. 
É fácil ignorar tudo isto e escorregar rapidamente para a oferta de 
conselhos e falação excessiva. Isto impede o aconselhado de 
expressar realmente suas mágoas, esclarecer um problema 
através de conversa, partilhar todos os detalhes de uma questão 
ou experimentar o alívio que vem com o desabafo. 
Os conselheiros que falam muito podem dar bons conselhos, mas 
estes raramente são ouvidos e terão ainda menos probabilidade 
de serem seguidos. Em tais situações, o aconselhado sente que 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
37 
não foi compreendido. Em contraste, ouvir é um modo de dizer-
lhe, "Eu me interesso". Quando não ouvimos, mas aconselhamos 
falando, esta é com frequência uma expressão da própria 
insegurança do conselheiroou de sua incapacidade para tratar de 
situações ambíguas, ameaçadoras ou emocionais. 
 
3. RESPONDER 
Não se deve supor, porém, que o conselheiro nada faz além de 
ouvir. Jesus era um bom ouvinte (lembre-se do seu encontro com 
os dois discípulos confusos na estrada de Emaús, por exemplo), 
mas a sua ajuda também se caracterizava pela ação e respostas 
verbais específicas. 
a. Orientar ou liderar é uma habilidade mediante a qual o 
conselheiro prevê a direção dos pensamentos do aconselhado 
e responde de maneira a redirecionar a conversação. "Você po-
de dar mais detalhes...?" "O que aconteceu então...?" "O que 
você estava querendo dizer com...'?" — todas essas são 
perguntas breves que espera-se irão orientar ao máximo a 
discussão em direções produtivas. 
b. Refletir é um modo de permitir que os aconselhados saibam 
que "estamos com eles" e podemos compreender seus 
sentimentos ou pensamentos. "Você deve sentir-se...", "Tenho 
a certeza de que isso o frustrou," "Acho que foi mesmo 
divertido" — essas frases refletem o que está acontecendo no 
aconselhamento. Tenha cuidado para não usar esse método 
depois de cada declaração (faça isso apenas periodicamente) e 
tente evitar respostas estereotipadas (e.g., repetir sempre 
sentenças começando com frases como: "Você deve pensar..." 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
38 
ou "Estou ouvindo você dizer que..."). Um breve resumo da 
entrevista pode ser também um meio de refletir e estimular 
maior exploração por parte do aconselhado. O conselheiro pode 
resumir sentimentos ("isso realmente magoa") e/ou temas 
gerais do conteúdo ("de tudo que me contou parece que teve 
uma série de decepções"), mas dê sempre ao aconselhado 
tempo e oportunidade para responder a tais reflexões — 
fazendo um sumário. 
c. Perguntar, caso seja feito com habilidade poderá extrair 
bastantes informações úteis. As melhores perguntas são 
aquelas que exigem pelo menos uma sentença ou duas do 
aconselhado (e.g., "Fale-me sobre o seu casamento") em lugar 
das que podem ser respondidas em uma palavra ("Você é 
casado?" "Qual a sua idade?"). Os conselheiros iniciantes 
fazem mais perguntas que os mais experimentados, e desde 
que um interrogatório intensivo pode sufocar a comunicação, os 
alunos são no geral instruídos a fazerem poucas perguntas. As 
perguntas que começam com "Por quê?" são quase sempre 
evitadas, desde que tendem a parecer críticas ou a estimular 
discussões intelectuais prolongadas que impedem o 
aconselhado a confrontar seus verdadeiros sentimentos ou 
mágoas. 
d. Confrontar significa apresentar alguma ideia ao aconselhado, 
a qual ele ou ela talvez não percebesse de outro modo. Os 
aconselhados podem ser confrontados com o pecado em sua 
vida, inconsistência ou comportamento derrotista, devendo ser 
encorajados a modificar seu comportamento ou atitudes. O 
confronto é mais bem aceito quando apresentado de maneira 
suave, cheia de amor, sem uma atitude de julgamento. Todavia, 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
39 
ele com frequência provoca resistência, culpa e algumas vezes 
ira por parte do aconselhado. Torna-se importante, pois, que o 
conselheiro dê tempo ao aconselhado para responder 
verbalmente ao confronto e discutir maneiras alternativas de 
comportar-se. Tal confronto leva às vezes à confissão e a uma 
experiência significativa de perdão. Alguns cristãos sugeriram 
que aconselhamento e confronto são termos sinônimos. Isto 
não tem apoio psicológico nem bíblico. O confronto é uma parte 
relevante e por vezes difícil do aconselhamento, mas não é a 
única habilidade envolvida no processo de ajudar as pessoas. 
e. Informar abrange a apresentação de fatos aos que precisam 
de informação. Isto difere da ideia do conselheiro partilhar suas 
opiniões ou dar conselhos. Informar é uma parte comum e 
aceita no aconselhamento; oferecer conselhos é bem mais 
controverso. Os que fazem isto geralmente não possuem o 
conhecimento necessário de uma situação para orientar com 
competência, seus conselhos encorajam a dependência do 
aconselhado, e se as recomendações não forem bem 
sucedidas o conselheiro irá mais tarde sentir-se responsável 
pela sua orientação negativa. Toda vez que lhe pedirem 
conselhos ou sentir-se inclinado a aconselhar, certifique-se de 
que conhece bem a situação. Você tem suficiente informação e 
perícia para aconselhar outrem? Pergunte a si mesmo quais 
poderiam ser os resultados de seus conselhos. Haveria 
possibilidade de provocar dependência no aconselhado? Você 
tem condições para enfrentar os sentimentos que talvez 
venham a surgir no caso de sua orientação ser rejeitada ou 
mostrar-se errada? Caso positivo, ofereça conselho, ofereça-o 
na forma de sugestão, dê ao aconselhado tempo para reagir e 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
40 
falar a respeito de sua sugestão, e informe-se depois para ver 
até que ponto o conselho foi proveitoso. 
f. Interpretar envolve a ideia de explicar ao aconselhado o que 
seu comportamento ou outros eventos significam. Esta é uma 
habilidade altamente técnica com grande potencial para 
capacitar os aconselhados a verem a si mesmos e suas 
circunstâncias mais claramente. Mas as interpretações podem 
ser também prejudiciais, especialmente se forem introduzidas 
antes do aconselhado poder tratar emocionalmente do material, 
ou se as interpretações forem erradas. Se você, como 
conselheiro, começar a perceber algumas explicações 
possíveis para os problemas de outra pessoa, pergunte-se se o 
aconselhado acha-se intelectual e emocionalmente preparado 
para tratar do assunto, mantenha os termos simples enquanto 
interpreta, apresente a sua explicação de modo tentativo (e.g., 
"Não será que...?") e dê tempo ao aconselhado para responder. 
Enquanto você discute a interpretação o aconselhado muitas 
vezes desenvolve maior percepção e fica capacitado a explorar 
cursos futuros de ação em conjunto com o conselheiro. 
g. Apoiar e encorajar são partes importantes de qualquer 
situação de aconselhamento, especialmente no início. Quando 
as pessoas estão sobrecarregadas por necessidades e confli-
tos, elas podem tirar proveito da estabilidade. Cuidado com 
uma pessoa empática que mostre aceitação e lhe forneça uma 
sensação de segurança. Isto, porém, é mais do que assistir aos 
oprimidos. O apoio inclui a orientação do aconselhado no 
sentido de fazer uma avaliação de seus recursos espirituais e 
psicológicos, encorajá-lo à ação e ajudar com quaisquer 
problemas ou fracassos que possam resultar desta ação. 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
41 
 
4. ENSINAR 
Todas essas técnicas são na verdade formas especializadas de 
educação psicológica. O conselheiro é um educador, ensinando 
através da instrução e orientando o aconselhado à medida que ele 
ou ela aprende a enfrentar os problemas da vida. Da mesma forma 
que outros tipos pessoais de educação, o aconselhamento é mais 
eficaz quando as discussões são específicas e não vagas, 
focalizando situações concretas ("Como posso controlar meu gê-
nio quando sou criticado por minha esposa?") em lugar de alvos 
nebulosos ("Quero ser mais feliz"). 
Um dos instrumentos de aprendizado mais poderosos é o que os 
psicólogos chamam de respostas imediatas ("immediacy 
responses"). 
Isto envolve a capacidade do conselheiro e aconselhado 
discutirem direta e abertamente o que está acontecendo no aqui e 
agora de sua relação. "Sinto-me muito frustrado com você no 
momento," alguém pode dizer, por exemplo, ou "Estou ficando 
zangado porque acho que você está me desprezando". 
Tal expressão sincera e direta de como alguém se sente numa 
situação são terapêuticas e tratam com os sentimentos antes 
destes deteriorarem e crescerem negativamente. As respostas 
imediatas também ajudam os aconselhados (e conselheiros) a 
compreenderem melhor como as suas reações afetam outros e 
como eles respondem emocionalmente aos relacionamentos 
interpessoais. Tal compreensão é um aspecto educacionalimportante do aconselhamento. 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
42 
CAPÍTULO 07 
 
O PROCESSO DO ACONSELHAMENTO 
 
 
A. O QUE O ACONSELHAMENTO NÃO É 
O Aconselhamento não é um processo tipo passo-a-passo, como 
assar um bolo, mudar um pneu, ou mesmo preparar um sermão. 
Cada aconselhado é único — com problemas, atitudes, valores, 
expectativas e experiências peculiares. 
O conselheiro (cujos problemas, atitudes, valores, expectativas e 
experiências pessoais são também parte das situações de 
aconselhamento) deve abordar cada indivíduo de modo um pouco 
diferente e descobrirá que o curso do aconselhamento irá variar de 
pessoa a pessoa. 
Em toda relação de aconselhamento, porém, existem ao que parece, 
vários estágios, e os três primeiros podem ser repetidos diversas 
vezes, à medida que os problemas são considerados e 
reconsiderados. Esses estágios incluem: 
 
1. O ESTABELECIMENTO E MANUTENÇÃO DE UM RE-
LACIONAMENTO ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO 
 
2. A EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS A FIM DE ESCLARECER 
CERTAS QUESTÕES E DETERMINAR COMO OS PROBLEMAS 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
43 
PODEM SER TRATADOS 
 
3. A DECISÃO SOBRE UM CURSO DE AÇÃO 
 
4. O ESTÍMULO DO ACONSELHADO PARA QUE TOME UMA 
ATITUDE 
 
5. A AVALIAÇÃO DO PROGRESSO E DECISÃO SOBRE AÇÕES 
SUBSEQUENTES 
 
6. Como terminar a relação sem a ajuda contínua do conselheiro 
No papel, tudo isto parece direto e simples, mas o processo de 
aconselhamento pode ser bastante complexo e exigir muito do nosso 
tempo e energia. 
Uma das razões para isto é que os estágios são raramente 
identificados com tanta clareza ou tão facilmente como os parágrafos 
anteriores talvez sugiram. 
Por exemplo, o primeiro passo de estabelecer uma relação é 
especialmente importante no início, quando os aconselhados (e 
conselheiros) talvez estejam nervosos e apreensivos. Todavia, uma 
vez que a relação tenha começado, ela deve ser mantida, a fim de 
que o conselheiro jamais perca completamente de vista o passo 
número um. No decorrer do aconselhamento surge uma vacilação 
natural entre esses estágios, de avanço e retrocesso, à medida que 
os problemas se tornam mais definidos, as soluções são encontradas 
e o aconselhamento se dirige para o seu final. 
Sem levar em conta quão eficaz possa ser a hora de 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
44 
aconselhamento, sua influência pode ser diminuída se o aconselhado 
sair da sessão e esquecer-se ou ignorar o que aprendeu. A fim de 
enfrentar este problema, muitos conselheiros dão tarefa de casa — 
projetos destinados a fortalecer, expandir e estender o processo de 
aconselhamento para além do período que o aconselhado passa com 
o conselheiro. 
 
B. TAREFA-DE-CASA NO ACONSELHAMENTO 
Em seu excelente livro sobre a ajuda, o psicólogo Paul Welter nota 
que cada pessoa tem um modo especial de aprender. 
Alguns aprendem melhor ouvindo — escutando o que outros dizem. 
Outros vendo — lendo, assistindo filmes e observando diagramas. 
Existem também indivíduos que aprendem melhor fazendo — 
completando projetos, desempenhando papéis, ou representando 
seus sentimentos. 
Embora tenha havido algumas exceções recentes (especialmente em 
certas abordagens do aconselhamento orientadas no sentido da 
experiência), a ajuda tradicional às pessoas sempre envolveu uma 
aproximação do tipo falar-ouvir. As sessões de aconselhamento 
duram aproximadamente uma hora, sendo separadas por uma 
semana ou mais de outras atividades. 
As tarefas de casa capacitam as pessoas a estenderem o seu 
aprendizado para além das sessões de aconselhamento e permitem 
ver e fazer além de ouvir. A tarefa de casa, escreve Adams, é a 
essência do bom aconselhamento. 0 conselheiro que aperfeiçoa a 
sua habilidade nesse sentido verá a diferença em sua eficácia na 
ajuda às pessoas. Aprender como passar tarefa de casa positiva, 
bíblica, concreta, que se adapte criativamente à situação, exige 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
45 
tempo e esforço, mas produzem dividendos. 
Desde que o termo "tarefa-de-casa" geralmente faz pensar em algo 
monótono imposto sobre um receptor rebelde, foi sugerido que 
"acordos-tarefa" poderia ser um termo melhor e mais exato. O 
conselheiro e aconselhado concordam a respeito de tarefas que 
podem ser realizadas nos intervalos das sessões de 
aconselhamento. Essas tarefas ajudam o aconselhado a manter-se 
cônscio dos alvos do aconselhamento, obter informação adicional 
(mediante leitura ou ouvindo fitas), desenvolver e praticar novas 
habilidades, eliminar o comportamento prejudicial, testar o que foi 
aprendido no aconselhamento, e experimentar novas maneiras de 
pensar e agir. 
Os acordos-tarefa podem ser de vários tipos e incluir 
comportamentos específicos, tais como fazer um elogio todos os 
dias, abster-se de críticas, ler um capítulo diário na Bíblia, dedicar 
tempo a um parente que considere importante, manter um registro do 
uso do tempo, ou fazer uma lista dos próprios valores e prioridades. 
No final de cada sessão de aconselhamento, o conselheiro e o 
aconselhado poderiam perguntar: "Depois deste período de acon-
selhamento, de que modos específicos o aconselhado pode praticar o 
que aprendeu hoje ou obter novos conhecimentos que serão ainda 
mais úteis?" As respostas e, portanto, os acordos-tarefa em potencial, 
são quase ilimitados. 
Apesar destas possibilidades de diversificação, cinco tipos de tarefas 
de casa têm sido quase sempre usados: 
 
1. TESTES 
Isto inclui questionários, formulários para completar sentenças, 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
46 
testes padronizados, e trabalhos escritos (tais como preparar uma 
breve biografia, fazer uma lista dos alvos na vida, fazer uma lista 
daquilo que gosta ou não gosta sobre o emprego, e assim por 
diante). Essas respostas escritas são devolvidas ao conselheiro e 
discutidas com ele. 
 
2. DISCUSSÃO E GUIAS DE ESTUDO 
Esses guias aparecem algumas vezes nos apêndices de livros, 
mas volumes inteiros têm sido dedicados à orientação dos estudos 
em casa ou discussão em pequenos grupos. Este estudo tem 
lugar algumas vezes independentemente de qualquer 
aconselhamento. Outras vezes o estudo é um acordo-tarefa a ser 
completado entre as sessões de aconselhamento e discutido 
subsequentemente no aconselhamento. 
 
3. TAREFAS COMPORTAMENTAIS 
Os aconselhados são às vezes encorajados a modificar suas 
atitudes de maneira leve, mas importante, entre as sessões de 
aconselhamento. Dizer "obrigado", fazer elogios periódicos, não 
queixar-se de certo hábito aborrecido do nosso cônjuge, chegar ao 
trabalho na hora, ler a Bíblia durante dez minutos diariamente — 
esses são os tipos de sugestões de mudança de comportamento 
dadas pelos conselheiros e depois discutidas com os 
aconselhados. 
 
4. LEITURA 
Os livros e artigos com frequência contêm informação útil que 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
47 
pode completar as sessões de aconselhamento. Existe sempre o 
perigo dos aconselhados interpretarem mal o que foi escrito ou 
que algo seja tirado de seu contexto. 
Poucos conselheiros têm o tempo necessário para examinar todos 
os livros potencialmente relevantes e será difícil encontrar 
materiais escritos com os quais o conselheiro esteja de pleno 
acordo. Apesar dessas limitações, os artigos e livros podem ser 
um suplemento proveitoso no aconselhamento, especialmente se 
a leitura for discutida subsequentemente com o aconselhado. 
 
5. TERAPIA MUSICAL 
A terapia musical — uso da música para ajudar as pessoas com 
seus problemas — é pelo menos tão antiga quanto as melodias 
calmantes que Davi tocava para serenar o perturbado rei Saul. 
Muitas pessoas relaxam ligando o seu aparelho de som depois de 
um dia pesado de trabalho. 
Mas a recente explosão de interesse pela música e a grande 
disponibilidade de equipamentos de execução pouco dispendiosos 
vem dando ao conselheiro um recurso potencialmente poderoso, 
mas ainda não pesquisado. De modo literal, milharesde CDs 
acham-se presentemente disponíveis sobre uma ampla escala de 
assuntos. A qualidade das músicas e a exatidão da informação 
nelas contida nem sempre é boa, mas elas podem ser melhoradas 
e utilizadas como um suplemento positivo no aconselhamento 
pessoal. 
Por exemplo, há vários anos atrás na Universidade de Austin, 
várias gravações foram preparadas, cada uma das quais durava 
de sete a dez minutos e continha recomendações práticas de 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
48 
aconselhamento, assim como informação sobre onde conseguir 
mais ajuda. Essas gravações tomaram-se parte de um serviço 
telefônico de 24 horas em que as pessoas podiam chamar a 
qualquer hora e ouvir a mensagem de sua escolha. A pesquisa 
inicial demonstrou que as gravações estão sendo largamente 
usadas, são úteis e quase sempre estimulam as pessoas a buscar 
mais aconselhamento. 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
49 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
50 
CAPÍTULO 08 
 
O CONSELHEIRO E O ACONSELHAMENTO 
 
 
A. O ACONSELHAMENTO É GRATIFICANTE E ARRISCADO 
Há muitas pessoas que gostariam de desempenhar o papel de 
conselheiros, muitas vezes por se tratar de uma atividade 
considerada fascinante — dar conselhos e ajudar as pessoas a 
resolverem os seus problemas. 
O aconselhamento, como é natural, pode ser um trabalho muito 
gratificante, mas não leva tempo para descobrirmos que se trata de 
uma tarefa árdua, emocionalmente exaustiva. Ele envolve 
concentração intensa e algumas vezes nos faz sofrer, ao vermos 
tantas pessoas infelizes. Quando esses indivíduos não conseguem 
melhoras, como acontece com frequência, é fácil culpar-nos, tentar 
dar mais ainda de nós mesmos e ficar imaginando o que aconteceu 
de errado. 
Enquanto mais e mais pessoas procuram aconselhamento, surge a 
tendência de aumentar nosso período de trabalho, esforçando-nos 
até o limite máximo de nossas forças. Alguns dos problemas dos 
aconselhados nos fazem lembrar-se de nossas próprias inseguranças 
e conflitos e isto pode ameaçar nossa estabilidade ou sentimentos de 
autoestima. 
Não é de admirar que o aconselhamento tenha sido considerado uma 
ocupação tanto gratificante como arriscada. Discutiremos neste 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
51 
capítulo alguns dos riscos, e consideraremos alguns dos meios que 
podem tomar a tarefa do conselheiro mais satisfatória e bem 
sucedida. 
 
B. A MOTIVAÇÃO E O CONSELHEIRO 
Por que você quer aconselhar? Alguns conselheiros cristãos, 
especialmente pastores, foram praticamente obrigados a exercer 
essa ocupação devido às pessoas que os procuraram 
espontaneamente para pedir ajuda com seus problemas. Outros 
conselheiros encorajaram as pessoas a procurá-los e talvez tenham 
feito um treinamento especial, baseados na suposição válida de que 
o aconselhamento é uma das maneiras mais eficazes de servir aos 
outros. Como vimos, a Bíblia ordena o cuidado mútuo e isto com 
certeza envolvem o aconselhamento. 
Quase nunca é fácil analisar e avaliar nossos motivos. Isto talvez se 
aplique especialmente quando examinamos nossas razões para 
praticar o aconselhamento. Um desejo sincero de auxiliar as pessoas 
a se desenvolverem é uma razão válida para tomar-se um conselhei-
ro, mas existem outras que motivam os conselheiros e que interferem 
com a eficácia de seu aconselhamento. 
 
1. CURIOSIDADE – NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO 
Ao descrever seus problemas, os aconselhados, no geral, 
oferecem certas informações que não contariam a mais ninguém 
de outra forma. Quando o conselheiro é curioso, ele ou ela 
algumas vezes esquece o aconselhado, pressiona para obter mais 
detalhes e com frequência não consegue manter segredo. Por 
essa razão, as pessoas preferem evitar os ajudadores curiosos. 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
52 
 
2. A NECESSIDADE DE MANTER RELAÇÕES 
Todos precisam de aproximação e contatos íntimos com pelo 
menos duas ou três pessoas. Para alguns aconselhados, o 
conselheiro será seu melhor amigo, pelo menos temporariamente. 
Mas, e se os conselheiros não tiverem outros amigos além dos 
aconselhados? Em tais casos a necessidade que o conselheiro 
tem de um relacionamento pode prejudicar sua ajuda. Ele na 
verdade não quer que os aconselhados melhorem e terminem o 
aconselhamento, visto que isto interromperia a relação. Se você 
procura oportunidades para prolongar o período de 
aconselhamento, para chamar o aconselhado, ou reunir-se com 
ele socialmente, a relação pode estar satisfazendo suas 
necessidades de companhia tanto quanto (ou mais do que) 
proporciona ajuda ao aconselhado. Neste ponto o envolvimento 
conselheiro-aconselhado deixa de ser uma relação de ajuda 
profissional. Isto nem sempre é negativo, mas os amigos também 
nem sempre são os melhores conselheiros. 
 
3. A NECESSIDADE DE PODER 
O conselheiro autoritário gosta de "endireitar" os outros, dar 
conselhos (mesmo quando não solicitado), e desempenhar o papel 
de "solucionador de problemas". Alguns aconselhados do tipo 
dependente podem desejar isto, mas não serão ajudados se suas 
vidas forem controladas por outra pessoa. A maioria das pessoas, 
no entanto, irá eventualmente opor resistência a um conselheiro 
autoritário. Ele ou ela não será verdadeiro ajudador. 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
53 
4. A NECESSIDADE DE SOCORRER 
O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade do aconselhado 
ao demonstrar uma atitude que diz claramente: "você não é capaz 
de resolver isso, deixe tudo comigo". Esta foi chamada de 
abordagem do messias benfeitor. Ela pode satisfazer o 
aconselhado por algum tempo, mas raramente fornece ajuda 
duradoura. Quando a técnica de socorro falha (como acontece 
muitas vezes), o conselheiro sente-se culpado e inadequado — 
como um messias incapaz de salvar os perdidos. 
É provável que todo conselheiro perspicaz experimente por vezes 
tais tendências, mas não deve ceder às mesmas. Quando a 
pessoa procura aconselhamento, está aceitando o risco de 
compartilhar informação pessoal e entregar-se aos cuidados do 
conselheiro. Este irá violar esta confiança e portanto diminuir a 
eficácia do aconselhamento se a relação de ajuda for usada 
primariamente para satisfazer as necessidades do próprio 
ajudador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
54 
CAPÍTULO 09 
 
A EFICÁCIA DO CONSELHEIRO 
 
 
A. TODO CRISTÃO É UM BOM CONSELHEIRO? 
Todos sabem que algumas pessoas dão melhores conselhos que 
outras. Isto faz surgir uma questão importante e fundamental. Todo 
cristão pode ser um bom conselheiro ou o aconselhamento é um dom 
reservado para certos membros escolhidos no corpo de Cristo? 
Segundo a Bíblia, todos os crentes devem ter um interesse 
compassivo por seus semelhantes, mas não se deduz disso, 
necessariamente, que todos os crentes sejam ou possam tomar-se 
conselheiros bem dotados. Neste respeito, o aconselhamento é como 
o ensino. Todo pai tem a responsabilidade de ensinar seus filhos, 
mas apenas alguns são professores especialmente dotados. 
Em Romanos 12.8 lemos a respeito do dom da exortação 
(paraklesis), uma palavra cujo significado é "andar ao lado para 
ajudar" e implica em atividades tais como advertir, apoiar e encorajar 
outros. Ele é mencionado entre os dons espirituais possuídos por 
algumas pessoas, mas não todas. Os que possuem este dom e o 
desenvolvem, verão resultados positivos em seu aconselhamento, à 
medida que as pessoas são ajudadas e a igreja edificada. 
Se o aconselhamento parece ser o seu dom especial, louve a Deus e 
procure aprender a exercê-lo melhor. Se o seu aconselhamento 
parece ineficaz, Deus talvez tenha concedido outro dom. Isto não 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
55 
isenta ninguém de ajudar as pessoas, mas pode estimular alguns a 
concentrarem seus esforços em outro setor e deixar o 
aconselhamento para os que são mais bem dotados nessa área. 
Parafraseando I Coríntios 12.14-18: 
• O Corpo não é um só membro, mas muitos. . . Se o conselheirodissesse, "como não sou professor, não faço parte do corpo," 
nem por isso deixa de ser parte dele. Se todo o corpo consistisse 
de conselheiros, onde ficaria o ministério de ensino formal? Se 
todos fossem mestres, quem faria o trabalho dos diáconos? Mas 
Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, 
como lhe aprouve... “O mestre não pode dizer ao conselheiro: 
Não preciso de você”, ou o evangelista ao mestre, "Não preciso 
de você". 
Nós claramente precisamos uns dos outros e o aconselhamento é 
uma parte — mas apenas uma parte — da igreja em funcionamento. 
Ajudamos as pessoas pelo aconselhamento, mas também as 
auxiliamos através da evangelização, ensino, preocupação social e 
outros aspectos do ministério. 
 
B. O PAPEL DO CONSELHEIRO 
O aconselhamento, especialmente o pastoral, toma-se às vezes 
ineficaz porque o conselheiro não tem uma ideia clara do seu papel e 
responsabilidades. Numa série inteligente de artigos publicados há 
vários anos atrás, Maurice Wagner identificou várias áreas potenciais 
de confusão de papéis. 
 
1. VISITA em LUGAR DE ACONSELHAMENTO 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
56 
A visita é uma troca mútua e amigável de informações. O 
aconselhamento é uma conversa centralizada num problema, 
dirigida para um alvo, que focaliza principalmente as necessidades 
de uma pessoa, o aconselhado. Todo aconselhamento envolve 
visitas periódicas, mas quando estas se prolongam ou é o ponto 
principal, os problemas são evitados e é reduzida a eficácia do 
aconselhamento. 
 
2. PRESSA EM LUGAR DE DELIBERAÇÃO 
As pessoas ocupadas, preocupadas com um alvo, no geral 
querem apressar o processo do aconselhamento até um término 
rápido e bem sucedido. É verdade que os conselheiros não devem 
perder tempo, mas também é certo que o aconselhamento não 
pode ser acelerado. “Grande parte do sucesso de qualquer 
conselheiro está baseada em sua atenção tranquila e refletida, 
concentrada nas palavras do aconselhado”. Seu equilíbrio é 
frequentemente um ponto de apoio para a pessoa perturbada... Se 
o conselheiro for apressado ou dividir sua atenção, seus 
comentários encorajadores irão ser provavelmente objeto de 
suspeita, julgando estar dizendo apenas aquilo que o aconselhado 
quer ouvir, a fim de passar para outro assunto. 
"Uma entrevista descontraída e deliberada também faz com que o 
aconselhado sinta que está recebendo toda a atenção do 
conselheiro... quando este se mostra apressado e impaciente, 
tende a formular julgamentos baseados em impressões 
precipitadas... A deliberação não pode ser exercida se a pessoa 
estiver com pressa em acabar com o problema." 
 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
57 
3. DESRESPEITO EM LUGAR DE SIMPATIA 
Alguns conselheiros classificam rapidamente as pessoas (por 
exemplo, como um "cristão carnal", um "divorciado", ou um "tipo 
neumático") e depois despedem os indivíduos com um confronto 
rápido ou conselho rígido. Ninguém quer ser tratado com tanto 
desrespeito e o ajudador que não ouve com simpatia pro-
vavelmente não dará conselhos eficazes. 
 
4. CONDENAÇÃO EM LUGAR DE IMPARCIALIDADE 
Há ocasiões em que os aconselhados precisam enfrentar o 
pecado ou comportamento incomum em sua vida, mas isto não é o 
mesmo que pregar e condenar na clínica de aconselhamento. 
Quando os aconselhados se sentem atacados eles ou se 
defendem (frequentemente com irritação) com uma atitude de 
indiferença resignada, ou ainda aceitam as palavras do 
conselheiro temporariamente e sob protesto. Nenhum desses tipos 
de reação contribui para o amadurecimento do aconselhado e 
todos são uma resposta a uma técnica de aconselhamento que 
geralmente reflete a ansiedade, incerteza e necessidade do 
próprio conselheiro. Jesus é descrito como alguém que "tomou 
sobre si as nossas enfermidades". Ele jamais fez vista grossa para 
o pecado, mas compreendia os pecadores e sempre manifestou 
bondade e respeito por aqueles que, como a mulher junto ao poço, 
estavam dispostos a aprender, arrepender-se e mudar seu 
comportamento. 
 
5. SOBRECARREGAR A SESSÃO EM LUGAR DE MODERAR O 
ACONSELHAMENTO 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
58 
Devido ao seu entusiasmo com a ideia de ajudar, o conselheiro 
tenta às vezes fazer demasiado numa sessão. Isto confunde o 
aconselhado, perturbando o projeto. Desde que na verdade os 
aconselhados só podem provavelmente assimilar um ou dois 
pontos principais em cada entrevista, o aconselhamento deve ser 
compassado, mesmo que isto signifique reuniões mais curtas e 
mais frequentes. 
 
6. SER DIRETIVO AO INVÉS DE INTERPRETATIVO 
Este é um erro comum e, como vimos, pode refletir a necessidade 
inconsciente de dominar do conselheiro. Quando os aconselhados 
recebem ordens quanto ao que devem fazer, eles confundem a 
opinião do conselheiro cristão com a vontade de Deus, sentem-se 
culpados e incompetentes se não seguem os conselhos e jamais 
aprendem como amadurecer espiritualmente e emocionalmente 
até o ponto em que possam tomar decisões sem o auxílio de um 
conselheiro. O conselheiro e o aconselhado devem colaborar 
como uma equipe, na qual o primeiro serve como um professor-
instrutor cujo alvo eventual é retirar-se do campo. 
 
7. ENVOLVER-SE EMOCIONALMENTE AO INVÉS DE 
PERMANECER OBJETIVO 
Existe uma linha divisória muito fina entre interessar-se e tomar-se 
muito perturbado, confuso ou lutando com um problema 
semelhante ao do próprio conselheiro. Surge então uma tendência 
para preocupar-se e permitir que os aconselhados interrompam 
nossos programas segundo a sua conveniência. Um envolvimento 
emocional desse tipo geralmente faz com que o conselheiro perca 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
59 
a sua objetividade e isto por sua vez reduz a eficácia do 
aconselhamento. As pessoas compassivas não conseguem, com 
frequência, evitar o envolvimento emocional, mas o conselheiro 
cristão pode evitar esta tendência considerando o aconselhamento 
como uma relação de ajuda profissional, claramente limitada em 
seus termos, tais como duração das entrevistas, número de 
sessões, resistência ao toque, etc. Isto não tem como propósito 
isolar o conselheiro, mas ajudá-lo a manter-se suficientemente 
objetivo para prestar auxílio. 
 
8. ATITUDE DE DEFESA EM LUGAR DE EMPATIA 
A maioria dos conselheiros sente-se às vezes ameaçada durante o 
aconselhamento. Quando somos criticados, incapazes de ajudar, 
sentimos culpa, ansiedade, ou estamos em perigo, nossa 
capacidade de ouvir com empatia é prejudicada. Quando esta 
qualidade se vai, também desaparece nossa eficácia no 
aconselhamento. 
Toda vez que surgem ameaças desse tipo é geralmente 
proveitoso perguntar-nos o porquê da situação. Se não soubermos 
a resposta, vale a pena discutir o assunto com um amigo ou outro 
conselheiro. Quanto mais conhecemos e aceitamos a nós 
mesmos, tanto menos provável será nos sentirmos ameaçados 
pelos nossos pacientes. 
O conselheiro deve manter uma atitude vigilante caso deseje evitar 
esses oito riscos. Como ajudadores cristãos honramos a Deus 
executando nossa tarefa da melhor forma possível, desculpando-
nos ao cometer erros, e usando nossos erros como situações de 
aprendizado e degraus de acesso para o nosso desenvolvimento. 
CLÍNICA PASTORAL 
 
 
 
60 
Se em nosso desejo de ajudar tivermos assumido um papel pouco 
saudável no aconselhamento, devemos reestruturar o 
relacionamento, chegando mesmo a falar às pessoas de nossa 
intenção de mudar (mediante atos tais como estabelecendo horas 
de aconselhamento mais rígidas, recusando-nos a largar tudo 
quando o aconselhado nos chama, sendo menos autoritário, e 
assim por diante). Esta reestruturação é sempre difícil em vista de 
envolver a retomada de algo que foi concedido antes. A alternativa 
é continuar numa situação confusa e ineficaz no aconselhamento. 
Os erros e confusão de papéis não são, porém, tragédias 
irreversíveis. A boa comunicação com os aconselhados pode 
cobrir uma multidão de erros

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